Dancituras da diferença na escola de dança de paracuru thais gonçalves

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estéticas, éticas, tal como uma obra-de-arte, que ora adquire uma dada configuração, mas que em outros agenciamentos pode ter inusitados contornos, outros mosaicos, outras figuras estéticas com outros agregados sensíveis a instaurar blocos de sensação a girar no caleidoscópio. Por isso o artigo indefinido uma antecipando política é de fundamental importância para o que se anuncia. Barbalho acredita que há várias possibilidades de políticas públicas de cultura. Possibilidades pautadas pelas condições econômicas, políticas sociais e culturais de cada local específico. Fica difícil, assim, pensar em uma ou várias fórmulas aplicáveis sem discriminação. Se assim fizesse, estaria recorrendo àquele saber instrumental do qual quero me afastar. No entanto, o artigo indefinido não significa que algumas coisas não possam ser definidas como ponto de partida. Ao contrário, precisamos fazer previamente uma análise de conjuntura para traçarmos uma política de cultura, qualquer que seja ela (BARBALHO, 2008, p. 124).

O que estou propondo não é um modo de perceber a dança que servirá como um instrumento para a política cultural, para a política pública, em que através da dança se organizem objetivos (metas, finalidades) a serem atingidos. Concordando com Barbalho, recorro ainda ao pensamento de Guattari (GUATTARI & Rolnik 2005), para quem o mundo não é divido em esferas semióticas, da qual a dança poderia ser uma delas a estar inter-relacionada a outras. Dança é atravessamento como a vida, portanto sua relação com outras dimensões é por transversalização, por contaminação, por contágio, por mistura de corpos, uma dança-mundo. É nesse sentido que minha proposta é apontar a potência da dança como uma política, pois ela já é uma ação política em si, uma política na dança e uma dança na política, conectadas, enredadas num mesmo jogo de forças, afetando-se mutuamente. Tratase de perceber essa política com a/na dança, como um modo de vida que pode justapor-se à política cultural. Que contornos essa política artística adquire a partir desta análise? Este é o deslizamento conceitual que estou denominando micropolítica dançarina. Antes, porém, de me demorar mais nos sentidos dessa ordenação de pensamento transversalizado com a dança, gostaria de degustar ainda mais as relações entre dança e projetos sociais e de observar essas relações a partir das experiências da Escola de Dança de Paracuru, em sua singularidade.


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