Livro Por uma Economia Politica Criativa Vol 1

Page 67

de tarefas e produtos. A isso Marx criticava, dizendo que se trata de uma sociedade na qual o dinheiro, uma coisa, controla a vida das pessoas, ao invés delas serem controladas pelos indivíduos, refletindo sobre o que é mais adequado. Apesar de considerar criticável a forma como a sociedade depende do dinheiro, e do seu papel sancionando os trabalhos realizados e validando-os, ou não, socialmente, pela venda das mercadorias, Marx destacava, nesse raciocínio, o poder que o dinheiro tinha na lógica capitalista. Dizia ele que, no capitalismo, o poder de todo indivíduo, “seu poder social assim como sua conexão com a sociedade, ele carrega consigo, no seu bolso” (MARX, 1980, p. 92). É esse poder social que o dinheiro tem que faz com que Marx perceba razões para que ele seja entesourado. E, em particular, segundo ele, é nas crises que esse entesouramento aparece principalmente, porque, quando as coisas não vão bem, as pessoas querem a segurança que o dinheiro dá nesse tipo de sociedade.

A crítica à lei de Say Como é possível concluir, se há a possibilidade do dinheiro ser entesourado como poder social para apropriação privada, a lei de Say, como já vimos, não funciona. Mas Marx explica a impossibilidade da lei de Say de forma mais forte, mostrando que a lógica de lucro e a forma de geração de lucro são responsáveis por outros problemas, como as tendências às crises e à desigualdade no capitalismo. Como já vimos, o lucro sai da mais-valia ou do mais-valor, que é fruto de exploração do trabalhador. O capitalista só se mantém enquanto tal se tem lucro, e não basta qualquer lucro para se manter, porque a concorrência entre os capitalistas se faz usando o lucro para inovar e ganhar mais mercado. Como não se sabe quanto, nem como o concorrente gastará seu lucro nesse processo, cada capitalista, para se manter como tal, maximiza lucro e investe cada vez mais com esse objetivo. Para maximizar lucro, é necessário aumentar a mais-valia de onde ele sai. Ela pode ser aumentada de forma absoluta, aumentando, por exemplo, a jornada de trabalho. Vimos que a mais-valia é o excedente de produto além do que o trabalhador precisa, em termos sociais médios, para se manter e se (re)produzir como capacidade de trabalho. Se ele trabalha por dia 8 horas, e gera um excedente, isso significa que gera, em produto, mais do que precisa para se manter e (re)produzir durante aquele dia de 24 horas. Se a quantidade de horas trabalhadas aumenta, isso significa que ele poderá produzir mais, sem aumentar o que precisa para viver e se (re)produzir durante aquele dia. Assim, a mais-valia aumenta.

M A RI A DE LOURDES ROLLEMBERG MOLLO

65


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.