Como as FOOD HEALTH TECHS irão mudar o setor

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COMO AS FOOD HEALTH TECHS IRÃO MUDAR O SETOR Q&A COM ESPECIALISTAS EM 28/04

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EDITORIAL Brunno Falcão / Gerente de projeto CEO do Grupo HQ•Content / Fundador da Science Play e WE Nutrition Conference / Autor do livro “O Fim do Consultório”

Vicente Ramos / Redator Redator Publicitário e Pós-Graduado em Leitura e Produção de Textos. Já trabalhou como Social Media e Assessor no Governo de Brasília, possui experiência em agências de comunicação do DF e escreve poemas nas horas livres. Para ele, palavras são sementes que frutificam a vida.

Caroline Romeiro / Nutricionista Nutricionista e Mestre em Nutrição Humana (UnB), Doutorado em andamento em Ciências da Saúde na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Integrante do Grupo de Pesquisa em Fisiologia, Nutrição e Treinamento Desportivo aplicado ao Fitness Funcional. Docente de graduação e pós-graduação desde 2010, nas áreas de Nutrição Clínica, Nutrição Materno-Infantil e adolescente e Nutrição Esportiva.

Omar de Faria / Nutricionista Bacharelado em Nutrição pela Universidade Católica de Brasília 2011, Pós-Graduado em Nutrição Clínica e em Estética pela IPGS 2013, Pós-Graduado em Nutrição Esportiva Funcional pelo Instituto VP 2015, Pós-Graduando em Fitoterapia pela Pratiensino 2021, Sócio-Proprietário da Clínica Omar de Faria, Escritor, Palestrante na área da Nutrição desde 2017, Consultor para desenvolvimento de suplementos e produtos nutricionais.

Júlia Coutinho / Nutricionista Nutricionista especialista em vigilância sanitária, tecnologia industrial farmacêutica e regulatório de alimentos, ingredientes e bebidas – Sócia e Fundadora da Regularium.

Pedro Perim / Nutricionista Mestrando pela Faculdade de Medicina da USP, Membro do American College of Sports Medicine, Coordenador Científico da HQ Content e Science Play.

Máisa Neves / Nutricionista Nutricionista e Advogada, especialista em vigilância sanitária de alimentos, ingredientes e bebidas – Sócia e Fundadora da Regularium.

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INTRODUÇÃO A inovação começa na mesa Um novo ano, com novos desafios e novas tendências. Afinal, diariamente o mundo tem se transformado, seja nos hábitos de convívio social, seja pelos avanços tecnológicos e comportamentais. A verdade é que tudo hoje é bem diferente do que foi ontem, inclusive nossa alimentação. Acompanhando a evolução tecnológica, os consumidores também mudaram seu comportamento: além de sabor, ingredientes e variedade, buscam também por mais atitudes sustentáveis para a preservação do planeta. Assim, seus hábitos alimentares também vêm se transformando, com pessoas cada vez mais preocupadas com a origem de seus alimentos, quantidades, matérias-primas e embalagens. Enxergando essas mudanças, as Food Health Techs surgiram como um avanço da forma como nos alimentamos. Elas podem tanto ser startups do setor de alimentação, utilizando tecnologia na produção, distribuição, fornecimento e pós-consumo de alimentos, quanto empresas que buscam oferecer às pessoas alimentos mais saudáveis, acessíveis e sustentáveis, mas que sejam sempre nutritivos e frescos, sem agredir o meio ambiente. Nas últimas décadas, o Brasil passou por diversas mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais que evidenciaram transformações no modo de vida da população, trazendo como consequência 4

uma rápida transição nutricional. As principais doenças que atualmente acometem os brasileiros são crônicas, decorrentes do sobrepeso e da obesidade, em todas as faixas etárias, sendo essas doenças a principal causa de morte entre adultos. O excesso de peso acomete um a cada dois adultos e uma a cada três crianças brasileiras.

Os últimos dois anos foram especialmente desafiadores na vida dos brasileiros devido às consequências da pandemia, que acarretou alterações nos sistemas alimentares e limitou o acesso a comida, com aumento dos preços dos alimentos.


A alimentação adequada e saudável é um direito humano básico, que envolve: - A garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais do indivíduo; - Deve estar em acordo com as necessidades alimentares especiais; - Ser referenciada pela cultura alimentar e pelas dimensões de gênero, raça e etnia; - Ser acessível do ponto de vista físico e financeiro; - Ser harmônica em quantidade e qualidade, atendendo aos princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer; - E ser baseada em práticas produtivas adequadas e sustentáveis.

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A realização do Direito Humano à Alimentação Adequada requer a adoção de políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição, acesso, consumo de alimentos seguros e de qualidade, promoção da saúde e da alimentação adequada e saudável para todos os brasileiros. Os sistemas alimentares têm o potencial de nutrir a saúde humana e apoiar a sustentabilidade ambiental, mas para isso precisam melhorar o modo como estão sendo conduzidos hoje. Por isso, proporcionar um crescimento global associado a um padrão alimentar saudável e sustentável é um desafio imediato. Embora a oferta de calorias por meio de alimentos industrializados tenha acompanhado o ritmo de crescimento da população, ainda temos mais de 820 milhões de pessoas no mundo com acesso limitado a comida ou que consomem alimentos de baixa qualidade nutricional, ocasionando deficiências de micronutrientes e contribuindo para o aumento na prevalência de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis.


A REVOLUÇÃO DAS FOOD TECHS Uma Food Tech tem o foco na utilização da tecnologia para aprimorar o setor de alimentação desde a agricultura, processos de desenvolvimento, produção, até a distribuição de alimentos, através do estudo e aplicação de novos modelos e processos. A verdade é que podemos considerar as Food Techs como aquelas empresas que repensam a forma de se alimentar. Nos anos mais recentes, elas alteram nossas rotinas, e como compramos, estocamos e cozinhamos nossa comida. Afinal, o mundo está em crescimento e sempre evoluindo, e o consumidor final demandando cada vez mais novas ofertas, produtos e inovações.

Segundo estimativa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2050 a produção mundial de alimentos deve crescer até 70% para acompanhar o crescimento populacional, que deve atingir 10 bilhões de pessoas. 6

Uma pesquisa do PitchBook Data mostra que os investimentos em Food Techs superaram a casa dos US$ 28 bilhões em 2021, com uma alta de 85% em comparação com 2020.

Não é exagero então afirmarmos que as Food Techs propõem uma mudança na forma como os alimentos são produzidos e consumidos. Essas mudanças acompanham grandes investimentos, principalmente com o desejo das empresas de se adequarem e inovarem no setor, conquistando mais consumidores e fidelizando os atuais. É importante que uma empresa esteja alinhada com o desejo do seu consumidor. Em todo o mundo, é crescente o investimento por parte de investidores nas Food Techs, considerando que sua relevância também cresce em conjunto. No âmbito mundial, elas já são realidade, além de tema de palestras, eventos, notícias e reportagens.


Ainda de acordo com o PitchBook, até maio de 2018, já havia sido investido mais de US$ 1,3 bilhão por fundos de Venture Capital, igualando o valor investido no ano inteiro de 2017. Grandes nomes também acompanham estes investimentos desde então, como Bill Gates. O cofundador e ex-CEO da Microsoft enxergava já em 2013 um ambiente favorável para inovação no mercado de alimentação. Seguindo a estimativa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), ele se preocupou com o desafio de alimentar quase 9 bilhões de pessoas até 2050 e viu nisso novas oportunidades para ideias e negócios que facilitem o acesso à comida para pessoas em situação mais vulnerável, principalmente quando falamos sobre proteínas. Em um artigo publicado em 2013 no Mashable, Bill Gates cita que “existe uma parte muito interessante relacionada à física, química e biologia, que envolve as questões de sabor. Os cientistas de alimentos estão criando alternativas com sabor e textura extremamente similares aos da carne tradicional”. É interessante observarmos que, mesmo quase 10 anos atrás, ele já enxergava um mercado que hoje está em crescimento e pode cumprir uma função social, além de gerar lucros. O desenvolvimento de produtos por parte das Food Techs envolve não apenas praticidade, mas se relaciona com a saúde das pessoas, do meio ambiente e do planeta, focando também em alimentos mais nutritivos, menos gordurosos e com menos impacto na saúde e na natureza. Interessante observarmos que Bill Gates realizou investimentos em Food Techs como a Beyond Meat, Impossible Foods e Motif Ingredients, considerando-as promissoras. No Brasil, A Liga Insights Food Techs nos fornece um panorama das startups brasileiras na cadeia da Alimentação, em parceria de Derraik & Menezes, IGC Partners, 7

Ambev e Cargill. O estudo é bastante interessante, pois fornece um mapa com 332 startups brasileiras e ajuda a compreender melhor a divisão das categorias de atuação. Por exemplo, a categoria Alimentação em Casa e no Trabalho se refere às startups que oferecem serviços e produtos disponibilizados com mais conveniência para as pessoas em suas casas ou trabalho. Já a Farm-to-table engloba as startups que trazem soluções que conectam a produção diretamente ao consumidor final. Existem também as startups focadas em Delivery e Entrega, Marketplace e Novos Alimentos e Bebidas, estas últimas focadas em desenvolver novos produtos se baseando em tecnologias mais modernas. Outra categoria que merece destaque é a de Reaproveitamento de Resíduos e Descartes, com empresas que apresentam soluções e tecnologias para uma melhor gestão de resíduos alimentares e seu descarte.

Segundo a The Food Tech Matters, espera-se que, em 2022, o setor de Food Techs atinja um valor global de cerca de R$ 980 bilhões.

O crescimento das Food Techs também reflete na sua relevância no mercado. Algumas startups estão listadas inclusive no índice Nasdaq (a Bolsa tecnológica dos Estados Unidos). Podemos citar como exemplo a Beyond Meat, que possui como produto mais famoso o hambúrguer vegetal de laboratório, financiado por Bill Gates e


pelo ator Leonardo DiCaprio, dentre outros investidores.

áreas de atuação: saudáveis, fast foods, entregas, produção e outros.

Em outra pesquisa, a Research and Markets, aponta em seu estudo Global Food Tech Market Analysis & Forecast 2016-2022 que atualmente o setor de Food Techs possui um valor total de mais de 250 bilhões de dólares, considerando todas as

Esse valor se dá em grande parte devido ao crescimento da presença online dos consumidores, conectados na internet, consumindo pelos seus computadores e smartphones.

AS FOOD TECHS NO MERCADO BRASILEIRO

Com o crescimento das Food Techs em todo o mundo, o cenário no Brasil não seria diferente. Os consumidores brasileiros também demandam cada vez mais por produtos similares, com novas tecnologias e preocupados com a sustentabilidade. Os novos hábitos e demandas impulsionam o mercado da alimentação em direção a novas oportunidades.

Um país imenso como o Brasil também aporta uma imensidão de oportunidades. Por isso, em um mapeamento feito pela Liga Ventures, foram identificadas 332 startups com atividades voltadas para o setor de alimentos e bebidas, oferecendo soluções na produção, distribuição, sustentabilidade, entre outros, sendo que 11 são consideradas unicórnios, como o Ifood, por exemplo. Essas empresas acompanham o ritmo de vida do consumidor moderno, com sua alimentação mais prática, conveniente e saudável.

Segundo a ABIA (Associação Brasileira de Indústria e Alimentos), mais de R$600 bilhões são movimentados por ano no segmento de alimentos.

As novas oportunidades podem ser aproveitadas quando observamos as tendências que o mercado de alimentação saudável nos apresenta. A Innova Marketing Insights divulgou recentemente um relatório com as principais tendências do mercado nutricional em 2022. Nele, podemos destacar as Tech to table, com o conceito de reinvenção e inovação através de novas tecnologias que tornem os produtos e alimentos mais práticos e sustentáveis, diretamente para a mesa do consumidor. Outra tendência é a de identificação. Os consumidores desejam saber o que

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estão consumindo, a origem, produção e o impacto que aquele produto tem sobre o meio ambiente. Essa é uma tendência que ficou mais forte em 2021 e seguirá neste ano. Quando um consumidor se identifica com a marca, ele sente que está sendo compreendido e se aproxima, com troca de ideias e inovações que se assemelham ao seu pensamento e rotina.

Entender o consumidor e pensar em soluções que se adaptem ao que ele deseja e precisa é uma grande oportunidade aproveitada pelas Food Techs.

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Outra grande tendência para este ano, que vem desde o início de 2020, é a preocupação com o bem-estar, especialmente o intestinal. Uma boa saúde intestinal é associada ao bem-estar e qualidade de vida, contribuindo com a rotina das pessoas. No mercado brasileiro, o perfil das Food Techs é variado, com grande destaque para as entregas de refeições e necessidades do consumidor, principalmente na região sudeste:


ROTULAGEM DE ALIMENTOS E O DIREITO À INFORMAÇÃO Hoje em dia, ao chegar em qualquer estabelecimento que venda alimentos, nos deparamos com inúmeras marcas, variedades e informações de rotulagem. Temos desde as famosas “letras miúdas” até as mais “gritantes” ou símbolos em destaque num rótulo de produtos. Porém, nos perguntamos o que de fato é preciso entender sobre as funções do alimento? Quais as informações mais importantes no qual deveríamos nos atentar quanto a sua composição? Aqueles que necessitam de algum alimento especial teriam conhecimento técnico para decifrar tantas informações e encontrar um posicionamento que o assegure de consumir algo e que não lhe faça mal? Podemos considerar esse tema como um possível “hot topic” (tópico principal) dentre vários outros assuntos em pauta apresentados para órgãos reguladores como a ANVISA, com a finalidade de se analisar a aprovação do direito da informação dos constituintes alimentares ao público: os benefícios, malefícios e concentração. É importante ressaltar primeiro que, todo cidadão tem o direito à informação, sendo respaldado pela legislação brasileira, propriamente dito pela Constituição Federal/88, em seu artigo 5°, incisos XIV e XXXIII, sendo um direito fundamental. Isto 10

se aplica nas relações de consumo, onde há o direito à informação previsto no artigo 6°, inciso III da Lei n°8.078/90 – CDC, sendo um direito básico do cidadão, ter clareza quanto às alegações presentes nos rótulos de alimentos para sua informação e defesa, devido à vulnerabilidade de não portar conhecimento técnico sobre a composição dos constituintes alimentares ou de produtos.

Um exemplo claro sobre a obrigação de tais alegações nos rótulos alimentares, foi a elaboração da Lei 10.674/03, determinando se “contém glúten” ou “não contém glúten” na embalagem de um alimento.

Fica claro que, o portador de doença celíaca (alergia ao glúten), pode se proteger de danos à saúde sobre o consumo do mesmo. Já a Resolução DC/ANVISA N° 136 de 08/02/2017, estabelece requisitos obrigatórios para declaração de rotulagem se o alimento possui lactose. Logo, o consumidor que porta intolerância à lactose pode se precaver de consequências à sua saúde.


O QUE É POSSÍVEL SER FEITO PARA MELHORAR A ROTULAGEM A RDC Nº 429, de 8 de outubro de 2020, dispõe sobre a rotulagem nutricional frontal que tem como sua maior inovação um símbolo informativo na parte da frente do produto. A ideia é esclarecer o consumidor, de forma clara e simples, sobre o alto conteúdo de nutrientes que têm relevância para a saúde. Essa obrigatoriedade identifica o alto teor de três nutrientes: açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio. Porém, entende-se que seria necessário estender esta obrigatoriedade nos rótulos de produtos para outros compostos encontrados nos alimentos, principalmente ultraprocessados, incluindo corantes, edulcorantes, conservantes, realçadores de sabor, tipos de açúcares, origem de gorduras e outros. Atualmente, existe apenas a obrigatoriedade de informação sobre corantes e aromas artificiais no painel principal do rótulo, conforme indica o Decreto-Lei 986/69. Alimentos produzidos com corantes e aromas naturais ou que não possuam aditivos alimentares como conservantes e outras funções não podem ressaltar essas características na rotulagem. Indo mais além, quando vemos um produto light na prateleira de qualquer estabelecimento, logo pensamos que é um produto menos calórico. Pode até ser que sim, pois é previsto em Lei, mas talvez 11

não esteja claro para o consumidor que a terminologia light (que quer dizer “leve”) pode ser a redução de 25% a 100% de qualquer nutriente presente na formulação convencional de um alimento, como sódio, gordura, carboidrato, colesterol, entre outros, e não quer dizer obrigatoriamente que tenha o seu valor calórico ou energético reduzido. Muitas vezes, o produto precisa desta informação e o consumidor poderá sofrer com a omissão do fabricante sobre os fatos. O mais preocupante é, quando o alimento tem uma redução drástica de açúcar, por exemplo, tendo estampado “light” em destaque no seu rótulo, mas o fabricante pode aumentar a quantidade de gordura daquele produto para conseguir manter as características físico/químicas, não precisando informar que houve a adição de outro nutriente. A quem isso beneficia: a indústria ou o consumidor?

O ideal seria onde os dois possam ter vantagens: o fabricante, comercialmente, e o consumidor, nos cuidados com a sua saúde.


Fonte: Ministério da Saúde

Em outubro deste ano entram em vigor as novas regras de rotulagem para alimentos, incluindo a obrigatoriedade de rotulagem frontal. Trata-se de uma declaração padronizada simplificada do alto conteúdo de nutrientes específicos no painel principal do rótulo do alimento. A declaração da rotulagem nutricional frontal é obrigatória nos alimentos embalados na ausência do consumidor, cujas quantidades de açúcares adicionados, gorduras saturadas ou sódio sejam iguais, ou superiores aos seguintes limites:

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A ideia é chamar a atenção do consumidor para os alimentos com quantidade elevada desses nutrientes, proporcionando uma escolha mais consciente para seu consumo. O modelo de rotulagem frontal é esse abaixo:

A maneira mais democrática de se resolver estas questões seria levar os pontos supracitados para os órgãos que aprovam marcos regulatórios voltados para os alimentos, de modo que sejam elaboradas resoluções, portarias, leis e outros, que possam proteger o consumidor, alertando sobre alimentos que possuem em sua composição constituintes nocivos à saúde humana e que não são de conhecimento geral. Ainda que isso ocorra, existirá a liberdade e o direito da escolha em adquirir quaisquer alimentos que não sejam saudáveis. Abaixo, citaremos alguns exemplos de compostos alimentares que são nocivos à saúde do ser humano e o quanto seria de extrema importância as alegações em rótulos de sua presença:

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Realçadores de sabor Ácido Guanílico: Utilizado em alimentos industrializados e pode ter efeito indesejável para a saúde humana como aumentar os níveis de ácido úrico. Glutamato monossódico: Um dos realçadores de sabor mais utilizados no âmbito industrial alimentício. A literatura científica já demonstra inúmeras alterações no metabolismo humano quando se consome tal nutriente Está correlacionado com obesidade, alterações hepáticas, infertilidade, toxicidade para os genes, alterações do sistema nervoso e outros.


Pesquisas mais recentes mostram que este componente químico provoca alterações intestinais, modificando a microbiota e gerando também lesão renal.

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Edulcorantes (Adoçantes) Aspartame: O uso deste adoçante pode gerar alteração do comportamento e saúde do sistema nervoso central. Estudos mostram a possibilidade do quadro de depressão, dores de cabeça e redução cognitiva após o consumo do ingrediente.

tumorais humanas, podendo beneficiar as complicações clínicas do câncer. Um dos grandes efeitos adversos verificados sobre o consumo deste adoçante no ser humano foi o aumento do estresse oxidativo, gerando alterações mitocondriais, tendo em vista que temos esta estrutura celular em todos os tecidos do nosso corpo.

Recentemente, publicações científicas apontaram que o aspartame favorece o processo de angiogênese em células

Sucralose: O consumo excessivo deste adoçante eleva o nível da produção de insulina e glicose no corpo humano, podendo gerar riscos para o desenvolvimento de doenças como a diabetes.

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Corantes Amarelo tartrazina: Pode ser um corante com potencial alergênico. Além disso, estudos mostram uma íntima correlação do consumo deste corante artificial com transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, assim como, estímulo de receptores estrogênicos no organismo. A literatura começa apontar uma possível associação entre o corante supracitado com o câncer. Transtorno na saúde do cérebro já são constatadas, dentre elas: falta de concentração e impulsividade. Dióxido de titânio: O dióxido de titânio (E171 ou INS 171) é utilizado como corante alimentar e se apresenta na forma de um pigmento branco inorgânico em pó. Tem sido muito utilizado por apresentar baixo custo e por não interferir no sabor dos alimentos, além de garantir cor branca e brilhosa a diversos produtos. No Brasil, o dióxido de titânio (TiO2) é usado frequentemente em produtos como laticínios, molhos, cremes, bebidas, doces, sorvetes, coberturas e produtos de confeitaria. De acordo com especialistas da Agência de Segurança de Alimentos da Comunidade Europeia, o dióxido de titânio contém até 50% das partículas em escala nanométrica, com capacidade de se acumular no organismo humano, expondo o consumidor ao risco aumentado de mutações ou alterações em seu DNA, o que pode levar ao desenvolvimento de alguns

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tipos de câncer e diversas outras doenças. Desde 2020 essa substância já é proibida na França, e a Comissão Europeia já estipulou que o uso do E171 se tornará proibido nos países da União Europeia em junho deste ano, depois de um período de transição de seis meses. Azul Brilhante: Pode ser sintetizado a partir de hidrocarbonetos derivados do petróleo. Deve ser evitado por pessoas sensíveis às purinas (aumento do ácido úrico), alterações na saúde do sistema respiratório e alergias. Pode ser depositado em vasos linfáticos e tecidos renais. Em animais, já foi visto que poderia gerar alterações do DNA e câncer. Vermelho Bordeaux: O seu consumo está associado a quadros irritação, asma, renite, hiperatividades em crianças e carcinogênese. Caramelo IV: Redução da atividade de células do sistema imunológico, estudos mostram sua relação com a genotoxicidade, câncer, redução de apetite, alteração da microbiota, enjoos, cólicas e outros.

Tipos de açúcares Xarope de Frutose: Alto teor de frutose, permitindo gerar alterações da microbiota intestinal, trazendo uma série de desordens a saúde humana. Além disso, aumento na glicemia e na produção da insulina, favorecendo a doença do fígado gorduroso não alcoólica.


Açúcar invertido: Também conhecido como xarope de glicose. A sacarose é derretida em meio aquoso onde há a polimerização do composto. Sabemos que o açúcar é um dos grandes vilões da saúde humana, afinal, pode favorecer inúmeras desordens metabólicas. A desordem mais comum é a Diabetes e a resistência à insulina, mas podemos classificar as alterações hepáticas, comportamentais, intestinais, pancreáticas, inflamatórias e até sobre as questões tumorais.

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É importante ressaltar que o excesso de glicose pode favorecer a compulsão alimentar, uma vez que ocorre resistência do hormônio leptina, responsável pelo quadro de saciedade. Todas essas complicações poderão gerar uma grande produção de mediadores inflamatórios em nosso metabolismo, que consequentemente também haverá uma grande liberação de glicocorticóides. Também podemos observar que as leis que amparam o consumidor a ter conhecimento destes compostos e seus efeitos não podem dar “brechas” para que o fabricante use seus sinônimos na composição dos alimentos, evitando a obrigatoriedade

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das alegações de malefícios de consumo. Seria importante ainda revisar a quantidade permitida da utilização de todas esses ingredientes e aditivos, a fim de estabelecer quantidades seguras ou não para nossa saúde. Novos ingredientes já estão presentes no mercado, desde vários tipos de açúcares não nocivos à saúde, assim como corantes naturais e que são estáveis para a formulação de produtos alimentícios. Isso poderá trazer alimentos nutricionalmente mais “limpos” e uma grande segurança sanitária ao consumidor.


SAÚDE INTESTINAL - UM TEMA DE GRANDE ATENÇÃO A grande importância que a ciência tem dado à saúde intestinal atualmente está acima do critério de “ser o segundo cérebro do corpo humano”, mas sim, por ser um órgão regulador de todas as nossas reações bioquímicas e metabólicas.

Todo o comportamento das nossas reações fisiológicas, desde a formação do corpo até a fase adulta, será programado durante a gestação, tendo como grande participação desse mistério da vida, o intestino e seus habitantes.

Durante alguns anos, a ciência nos trouxe a informação de que o intestino seria o nosso segundo cérebro, logo, não teria como ter uma explicação melhor sobre esta temática conforme ilustração acima.

interação e direcionamento de como o nosso metabolismo deve se comportar diante de quadros inflamatórios ou não, variando em conformidade do que comemos.

Fica bem claro que há uma conexão direta entre nosso sistema nervoso e o intestino. Através de um nervo chamado vago, temos uma comunicação direta entre os dois órgãos, permitindo então uma 19

Se nos alimentamos de forma saudável, informamos ao cérebro, através do intestino, de que coisas boas estão chegando ao nosso corpo e que ajudarão nos processos de desinflamação, detoxificação, imunidade e outros.


Ao mesmo tempo, quando temos contato com alimentos de baixa qualidade nutricional, portando corantes, ingredientes químicos, açúcares, gorduras saturadas, adoçantes químicos e outros, chegará uma mensagem ao Sistema Nervoso Central de que deveremos nos preparar para combater compostos nocivos à saúde.

Logo, todo controle e comportamento metabólico do corpo humano vai ser basicamente modulado através da saúde intestinal, principalmente a resposta do nosso sistema imunológico.

Quando nos alimentamos de maneira inadequada, principalmente com excesso de alimentos industrializados, podemos gerar um supercrescimento de bactérias no intestino – alteração conhecida como SIBO (Super proliferação de bactérias no intestino delgado) –, onde se dá início a outra alteração metabólica conhecida como disbiose.

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Esta condição permite a desregulação entre a população de bactérias boas e ruins, onde as bactérias Gram-negativas (microrganismos patogênicos) estarão em maior número quando comparado as bactérias Gram-positivas (microrganismos que controlam nosso metabolismo no intestino e mantém o equilíbrio metabólico, dito, as bactérias do bem). Esse desequilíbrio bacteriano poderá nos expor a inúmeros fatores negativos como: Neuro inflamação, alteração no metabolismo da glicose (propriamente dito resistência à insulina), redução da produção de neurotransmissores importantes como a serotonina, aumento do risco cardiovascular, suscetibilidade a doenças autoimunes, doenças do fígado gorduroso não alcoólica, síndrome do intestino irritável, câncer, hipertensão e entre outras patologias.


As paredes das bactérias Gram-negativas (lipopolissacarídeos), ao entrarem em contato com seu receptor TLR4 (Toll-Like Receptor-4), promovem inflamação e excitabilidade do sistema imunológico, iniciando uma reação em cadeia de produção de sinalizadores inflamatórios. Por sua vez, o cérebro estimula a produção de cortisol, glicocorticoide endógeno, que tentará ajudar a manter o equilíbrio metabólico e tentará contornar a situação caótica presente. Por certas questões metabólicas, este corticoide pode agravar o quadro de toda a inflamação presente e, se a desordem alimentar continuar a acontecer, propiciará

Quanto mais natural e saudável for o padrão alimentar, possivelmente, menores serão as chances de ocorrer todos esses desequilíbrios metabólicos. Ao contrário das bactérias Gramnegativas, as bactérias Gram-positivas, conhecidas como “boas”, precisam de fibras, antioxidantes, alimentos integrais e boas gorduras como o ômega 3, para ter um ambiente favorável à sua permanência e

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um quadro clínico mais sério posteriormente chamado de Leaky Gut (Síndrome do Intestino Permeável). Isso ocorre pelo rompimento das tight junctions, junções que mantém as células intestinas agrupadas, evitando que corpos estranhos sejam absorvidos. Ao absorver ingredientes alimentares e compostos químicos presentes em alimentos sem qualidade nutricional, criamos uma inflamação sistêmica em nosso corpo, gerando risco a todas as alterações e doenças que foram citadas ao longo do texto.

sobrevida. Quando temos nossa microbiota equilibrada, podemos ter efeitos benéficos para todo o nosso sistema metabólico, principalmente porque essas bactérias, ao se ligarem aos seus receptores TLR2 (TollLike Repector 2), desencadeiam respostas anti-inflamatórias para todos os sistemas corpóreos, melhorando principalmente a resposta imunológica.


Portanto, podemos alegar que grande parte da energia necessária para o bom funcionamento das nossas mitocôndrias, estrutura responsável por manter nossos tecidos vivos, é gerada pelas boas bactérias em nosso intestino quando usam a fibra alimentar como alimento. Hoje temos bastante embasamento científico para afirmar que, basicamente, a maioria das doenças nos quais o ser humano é acometido, possui sua gênese através dos desequilíbrios intestinais. Diante dessas alegações, a indústria alimentícia e de suplementos alimentares podem ter uma grande oportunidade de gerar saúde na criação de produtos saudáveis, trabalhando desde a modulação

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do nosso sistema imunológico, que nunca se fez tão necessário diante do quadro da pandemia existente, assim como prevenir quadros de doenças graves que acometem a nossa saúde. A seguir, veremos como a utilização de compostos nocivos à saúde pode acarretar alterações comportamentais, distúrbios e outros problemas relacionados ao desequilíbrio do intestino.

Alterações comportamentais Alterações da microbiota e estruturais no intestino, poderiam levar o ser humano a possuir inúmeros distúrbios da saúde neural.


Alterações no comportamento da alimentação e saciedade As modificações metabólicas por disbiose/ leaky gut no intestino, podem favorecer na alteração do comportamento alimentar do ser humano, reduzindo a saciedade e aumentando drasticamente o apetite.

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A redução da produção de neurotransmissores como dopamina, colina e serotonina, podem ser possíveis causas da má saúde intestinal. Esses neurotransmissores são essenciais para o bom funcionamento cerebral.


Alteração Intestinal e Doença do Fígado Gorduroso Não Alcoólica Alterações intestinais podem ser responsáveis pelo aumento de depósito de gordura no fígado, gerando inflamação e doenças secundárias como diabetes e hipercolesterolemia.

Alteração da Microbiota e Resposta Imunológica ao Covid Ter uma microbiota íntegra nunca se fez tão necessário para a resposta imunológica humana. Pacientes que portam um desequilíbrio intestinal podem apresentar repercussões mais graves ao portar a covid-19.

Alteração Intestinal e Saúde Cardíaca Os metabólitos produzidos pelas bactérias Gram-negativas no intestino podem favorecer a formação de doenças cardíacas e renais. A longo prazo, poderia causar falência cardíaca, hipertensão e doenças renais crônicas. 24


A substituição dos tipos de açúcares presentes nos alimentos, corantes artificiais, substâncias químicas e pesticidas poderiam ser o passo inicial para evitarmos tantas alterações no metabolismo intestinal. O aviso da presença destas substâncias nos produtos alimentícios poderia evitar o consumo deliberado de aditivos maléficos à saúde. Esta seria uma oportunidade para a indústria poderia favorecer o acréscimo de nutrientes saudáveis aos alimentos, como adoçantes provenientes de vegetais, corantes naturais, ou até mesmo corantes que podem ser ao mesmo antioxidantes, como betacaroteno, licopeno e luteína.

Essa mudança cultural na fabricação de novos alimentos e suplementos poderia colocar o Brasil no ranking de países que mais fornecem alimentos inovadores e com propriedades funcionais para a saúde humana. 25

Um segmento que tem ganhado destaque recentemente são as Frozen Foods, ou comidas congeladas. Seja pela sua praticidade, ou pela sua rápida preparação, diversos produtos ganharam espaço, principalmente com a pandemia. Porém, é preciso estarmos atentos quanto a qualidade destes produtos, como veremos em seguida.


FROZEN FOODS, GRANDE CONSUMO, MAS COM GRANDES RESPONSABILIDADES Estes produtos ganharam mais espaços em supermercados e lojas de conveniência em todo mundo, principalmente durante a pandemia. Fácil, prático e de preparação rápida, os alimentos congelados foram um dos produtos mais consumidos neste período.

Uma pesquisa realizada pela Mintel, com 1500 pessoas, mostrou que 16% dos entrevistados consumiram algum tipo de produto congelado ao menos uma vez durante a pandemia. O estudo revelou ainda o ranking dos produtos congelados mais consumidos pela população brasileira: 1 – Salgados

Segundo o estudo da Consumer Watch Express Shopper da Kantar Worldpanel, o Brasil é o país com maior número de consumidores de alimentos congelados. Entre 2013 e 2019, o crescimento no consumo de produtos congelados no país aumentou aproximadamente 83%, ainda ocupando no ranking mundial a posição de 20° em relação ao consumo de massas congeladas, por exemplo. 26

2 – Massas 3 – Refeições Completas 4 – Comida Fitness 5 – Espetinhos A grande questão sobre os produtos congelados seria a qualidade desses alimentos, principalmente quando se fala nos quesitos nutricionais, onde sabe-se que a maioria dos alimentos processados e congelados poderiam conter ingredientes que são nocivos à saúde, dentes eles: excesso de gordura (podendo ser trans saturada), sódio, conservantes e açúcar. Ao mesmo tempo que se torna uma tendência de mercado o consumo destes alimentos a nível global, também cresce a exigência pela qualidade. O consumidor está atento aos ingredientes dos produtos e aos rótulos nutricionais. Além da composição dos ingredientes, se são naturais ou na maioria são químicos,


também chama atenção do consumidor como o alimento foi preparado, se foi congelado de forma correta, por exemplo. Uma técnica de preparo que garante uma ótima qualidade aos produtos congelados é o Ultracongelamento, que poderia estar mais barata no Brasil hoje. Nesta técnica é permitida manter as características organolépticas dos alimentos, que envolvem cor, sabor e odor, além de garantir o controle microbiológico da preparação, evitando riscos de contaminação.

A velocidade ultracongelamento é altamente superior quando comparada a um freezer comum, transformando a água presente no alimento em cristais em poucos segundos. Assim, ocorre a inativação de enzimas que favorecem a deterioração da comida e reduz as atividades microbiológicas ali presentes (microorganismos). Em até duas horas, a temperatura no freezer de ultracongelamento pode chegar em -40°C enquanto um freezer comum chegaria no máximo a -18°C.

OUTRAS ALTERNATIVAS MAIS SAUDÁVEIS

Existem temperos e compostos bastante utilizados que podem ser alternativas mais saudáveis no preparo, produção e longevidade dos alimentos. Alguns deles são:

Sal Rosa O sal rosa é um possível aliado para substituir o sal comum nos produtos seria o sal rosa. Contendo menor teor sódio, poderia ser uma alternativa para amenizar a problemática quanto ao consumo de sódio nos produtos industrializados. Além disso, poderia trazer a oportunidade da ingestão de minerais benéficos para a saúde humana como: magnésio, potássio, manganês e cobre.

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Corantes Naturais Os corantes naturais são uma alternativa para substituição de corantes artificiais em produtos alimentícios. Além de reduzir a carga química, poderia favorecer o aumento do poder antioxidante do alimento, com benefícios funcionais para a saúde humana.

Cúrcuma longa (Açafrão-daterra) A Cúrcuma longa, ou açafrão-da-terra, é a única espécie de Cúrcuma amplamente cultivada e comercializada no mundo. Taxonomicamente, pertence ao gênero Cúrcuma da família Zingiberaceae, sendo distribuído principalmente na Ásia. De cor amarelada bem marcante, foram relatados vários efeitos benéficos para a saúde, como prevenção da doença de Alzheimer, efeitos anti-inflamatórios, inibição da protease do HIV-1, além de ser um poderoso antifúngico e com efeitos antidiabéticos.

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COMO AS FOOD HEALTH TECHS MUDARÃO O SETOR DE ALIMENTOS? Muito além de unir tecnologia com praticidade e sustentabilidade, é importante que as empresas consigam entender o desejo dos consumidores. O público também deve entender como as inovações podem impactar nos produtos consumidos e para isso as empresas precisam ser transparentes sobre as novidades e os benefícios oferecidos. As Food Techs existem para unir os desejos e necessidades dos consumidores com soluções tecnológicas, saudáveis e sustentáveis. Essas necessidades abrem espaço para novos

produtos ou inovações dos produtos já existentes, se adequando à nova rotina e ao desejo por praticidade na alimentação. Um exemplo disso são os alimentos do futuro. Na imagem abaixo, retirada do IBERDROLA, com informações da WWF, percebemos que existem alternativas que já podem ser utilizadas na alimentação diária, ricas em nutrientes, de fácil cultivo, resistentes e saborosas. Algas, legumes, Funghis, Cogumelos, Cactos e Raízes são algumas delas:

Fonte: IBERDROLA e WWF

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Além dos alimentos do futuro, que já são bastante consumidos atualmente, há uma possibilidade de democratização da alimentação saudável através de diversos paladares. Podemos encontrar produtos elaborados com ingredientes plant based, distribuídas para o consumidor em cafés, lojas de conveniência e restaurantes. A startup norte-americana Perfect Day, por exemplo, produz proteínas lácteas, como caseína e soro, a partir do processo de fermentação, e aplica em produtos como sorvetes, com a promessa de possuir características iguais às encontradas no leite.

A PitchBook Data destaca em seu relatório que há previsão do crescimento de financiamento dessa tecnologia em 2022, visando ainda mais a produção de alimentos e produtos lácteos que não sejam de origem animal.

Essa possibilidade deve ser encarada com otimismo, pois o mercado de proteínas alternativas tem crescido consideravelmente, com as lojas online de produtos frescos e marketplaces de comida pronta e saudável. As carnes de laboratório, também conhecidas como carnes do futuro, estão 30

se consolidando cada vez mais na rotina dos consumidores. As startups pioneiras neste setor conseguiram mais investimentos e novas empresas iniciam neste segmento. Segundo a revista Food Technology, o setor de proteínas alternativas de base vegetal e animal deve se manter ainda mais aquecido e se consolidar em 2022. Algumas marcas que se destacam no setor são as Food Techs líderes em proteínas vegetais (plant-based) Impossible Foods e Beyond Meat, que movimentam bastante capital com suas inovações. Em contrapartida, empresas tradicionais como Tyson Foods e Cargill também investem neste mercado, apostando em startups que produzem carne de laboratório. Neste mesmo ramo de carne cultivada está a startup israelense Aleph Farms, fundada em 2017 a partir da criação da empresa de alimentos tradicionais, Strauss Group, e do biólogo Didier Toubia.

Como está a regulação das carnes de laboratório? Atualmente, a carne de laboratório só foi aprovada em Cingapura, na Ásia. Nos Estados Unidos, precisa passar pelo crivo do Departamento de Agricultura (USDA) e do FDA (Anvisa norte-americana) para chegar às gôndolas. De qualquer forma, o governo americano está apoiando a causa destinou um subsídio de cinco anos no valor de US$ 10 milhões para a Tufts University estabelecer o Instituto Nacional de Agricultura Celular no país. No Brasil, a BRF anunciou em julho do ano passado um investimento de 2,5 milhões de dólares na startup israelense Aleph Farms para vender carne cultivada em 2024. Assim como a BRF, outras empresas brasileiras aguardam a regulação da Anvisa e do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para comercializar a carne de laboratório.


Kits de refeições Com o desejo de mais praticidade e comodidade, mas sem perder o sabor e qualidade, muitas pessoas apostam nas “Meal kit” ou “Kits de refeição”. Esse conceito começou há alguns anos com a venda de ingredientes selecionados, que vêm na porção certa e com instruções de preparo das receitas.

Abaixo, podemos conferir os principais investimentos em Food Techs de meal kits mundialmente no primeiro semestre de 2021:

Com a pandemia, mais empresas e até restaurantes e confeitarias aderiram ao kit de refeição. Hoje, esses kits contêm os mais variados produtos, refeições pré-preparadas, congeladas, opções para montar festas, sobremesas, entre outras ideias para facilitar a vida de quem precisa cozinhar em casa. As empresas de congelados também cresceram durante a pandemia e criaram kits de refeições, mas ao invés de a pessoa preparar ou finalizar em casa, ela adquire pratos prontos congelados para a semana toda. No Brasil, uma empresa que se destaca neste setor é a Liv Up. A Food Tech oferece desde carnes até produtos agrícolas frescos e já captou US$ 32 milhões em investimentos do seu setor em 2021.

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Fonte: AgFunder


QUAL O FUTURO E DESAFIOS DAS FOOD TECHS COM UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL?

Com o crescimento das Food Techs e da cadeia alimentícia, o setor de Food Service (que envolve os segmentos de produção, desenvolvimento e distribuição de alimentos) também sentiu o aumento da procura por alimentos nutritivos e dos serviços de entrega, onde se destaca o iFood. Os grandes desafios que cercam o mercado, enquanto também trazem novas oportunidades, devem ser encarados com a intenção de tornar a alimentação ainda mais acessível, rentável e sustentável, tanto na produção de alimentos quanto na diminuição do desperdício. Para se ter uma ideia, desperdiça-se um terço de tudo o que é produzido no mundo em alimentação. Se essa mercadoria desperdiçada fosse um país, seria o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa (GEE) no mundo, responsável por 8% a 10% das emissões — perdendo apenas para Estados Unidos e China, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). No Brasil, não há muitos dados sobre a perda de alimentos pela cadeia de produção. Contudo, um estudo recente da Embrapa aponta que cada consumidor brasileiro desperdiça até 41 kg de alimentos em um ano. Evitar o desperdício e investir em acesso à alimentação saudável são ações que 32

podem ser tomadas para acompanhar o crescimento do segmento, e, ao mesmo tempo, impactar positivamente os consumidores. Se enxergarmos um cenário em que anualmente temos cerca de 1,8 bilhão de toneladas de alimentos desperdiçados, é preciso solucionar essa questão com transparência e ações que ajudem na preservação do planeta. Muitas empresas já seguem a filosofia de produzir mais com menos (menos impacto no meio-ambiente, menos desperdício de matéria-prima e materiais), reutilização de produtos que antes eram descartados e também com a otimização do que é produzido. Se o desafio é alimentar um maior número de pessoas nos próximos anos, isso requer novas ideias e o empenho de todo o setor. É interessante analisarmos também como o consumo de alimentos saudáveis entre os brasileiros acelerou durante a pandemia. Em 2020, as vendas desses produtos – inclusive os sem glúten ou com menor teor de sódio –, atingiram R$ 100 bilhões, conforme dados da Euromonitor Internacional.


A expectativa é de que os produtos orgânicos se tornem mais baratos e acessíveis com os avanços das Food Techs, mesmo que encare desafios na questão da produção, tempo e distribuição, segundo Fernanda Vasconcelos, fundadora e CEO da startup portuguesa Nolita, em fala na live “A importância das Food Techs para o futuro da alimentação saudável” do Grupo Voitto.

Por fim, enxergamos possibilidades no presente e no futuro. Afinal, temos a tecnologia avançada a nosso favor e devemos utilizá-la com boas ideias, boas ações e fazendo parte da transformação do mundo. Se os hábitos estão mudando, também está mudando o jeito de produzir os alimentos, sempre com responsabilidade com a saúde, com a natureza e com o consumidor.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. 156 p. : il. ISBN 978-85-334-2176-9 O direito humano à alimentação adequada e o sistema nacional de segurança alimentar e nutricional / organizadora, Marília Leão. – Brasília: ABRANDH, 2013. 263 p. : il. ISBN 978-85-6336406-7 Chattopadhyay I, Shankar EM. SARS-CoV-2-Indigenous Microbiota Nexus: Does Gut Microbiota Contribute to Inflammation and Disease Severity in COVID-19?. Front Cell Infect Microbiol. 2021;11:590874. Published 2021 Mar 11. doi:10.3389/fcimb.2021.590874 Lau E, Carvalho D, Freitas P. Gut Microbiota: Association with NAFLD and Metabolic Disturbances. Biomed Res Int. 2015;2015:979515. doi:10.1155/2015/979515 Banerjee A, Mukherjee S, Maji BK. Worldwide flavor enhancer monosodium glutamate combined with high lipid diet provokes metabolic alterations and systemic anomalies: An overview. Toxicol Rep. 2021;8:938-961. Published 2021 Apr 29. doi:10.1016/j.toxrep.2021.04.009 Stewart DJ, Langlois V, Noone D. Hyperuricemia and Hypertension: Links and Risks. Integr Blood Press Control. 2019;12:43-62. Published 2019 Dec 24. doi:10.2147/IBPC.S184685 Pongking, Thatsanapong et al. “A combination of monosodium glutamate and high-fat and high-fructose diets increases the risk of kidney injury, gut dysbiosis and host-microbial cometabolism.” PloS one vol. 15,4 e0231237. 8 Apr. 2020, doi:10.1371/journal.pone.0231237 Lindseth GN, Coolahan SE, Petros TV, Lindseth PD. Neurobehavioral effects of aspartame consumption. Res Nurs Health. 2014;37(3):185-193. doi:10.1002/nur.21595 Maghiari AL, Coricovac D, Pinzaru IA, et al. High Concentrations of Aspartame Induce ProAngiogenic Effects in Ovo and Cytotoxic Effects in HT-29 Human Colorectal Carcinoma Cells. Nutrients. 2020;12(12):3600. Published 2020 Nov 24. doi:10.3390/nu12123600 Qu D, Jiang M, Huang D, et al. Synergistic Effects of The Enhancements to Mitochondrial ROS, p53 Activation and Apoptosis Generated by Aspartame and Potassium Sorbate in HepG2 Cells. Molecules. 2019;24(3):457. Published 2019 Jan 28. doi:10.3390/molecules24030457 Bueno-Hernández N, Esquivel-Velázquez M, Alcántara-Suárez R, et al. Chronic sucralose consumption induces elevation of serum insulin in young healthy adults: a randomized, double blind, controlled trial. Nutr J. 2020;19(1):32. Published 2020 Apr 13. doi:10.1186/s12937-020-00549-5 35


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