Princípios, seu papel na filosofia e nas ciências

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Noeli Ramme

sem espécies, ordem, movimento ou padrão é um mundo pelo qual não valeria a pena lutar nem contra nem a favor. Na prática, traçamos limites entre os mundos de acordo com nossa conveniência e nossos propósitos, os mesmos critérios que usamos para agrupar mundos. Podíamos, contudo, assumir que o mundo real fosse o mundo de algumas das versões alternativas corretas (ou grupos delas ligadas conjuntamente por algum princípio de redutibilidade ou tradutibiüdade) e todas as outras como versões do mesmo mundo diferindo da versão padrão de modos explicáveis. O fisico considera o seu mundo como o mundo real, atribuindo as supressões, adições, irregularidades, ênfases das outras versões às imperfeições da percepção, às urgências da prática, ou à liberdade poética. O fenomcnista considera o mundo perceptivo e fundamental , e as excisões, abstrações, simplificações e distorções das outras versões como resultantes das preocupações científicas, práticas ou artísticas. Para o homem da rua, a maioria das versões da ciência , da arte e da percepção afastam-se de várias maneiras do mundo útil e familiar que ele construiu a partir dos fragmentos da tradição científica c artística, e afastam-se também da sua própria Juta pela sobrevivência. Este mundo, na verdade, é aquele que mais freqüentemente se considera como real; porque a realidade num mundo, como o realismo num quadro, é largamente uma questão de hábito. (Goodman 1978, p. 20)

Assim, a realidade do mundo é preservada. A mudança que Goodman introduz é que não podemos falar da realidade como algo externo, como aquele mundo do qual falamos e que poderia existir independentemente de nossas descrições. O mundo real é o mundo construído dentro da nossa experiência. Mas o fato de que podemos satisfazer nossa necessidade de um mundo de diferentes modos não impede a distinção entre mundos corretos e incorretos. Os múltiplos mundos de Goodman não são apenas possíveis, mas reais, e um mundo real deve ser adequado a algum propósito. O que tentamos mostrar é que, inicialmente, Goodman rejeita a idéia realista de que nossas versões falem de um mundo neutro subjacente à todas as versões. Ele propõe que passemos a falar de múltiplas versões de mundo e que cada versão é um mundo-versão. Apesar de se aproximar do realismo interno de Putnam dizendo que a realidade é relativa


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