instrumentos digitais de captação de imagem, aumentou o tempo de gravação, ao passo que a utilidade do formato preencheu o abismo entre câmera e mundo. A facilidade com que podemos manipular ou alterar imagens digitais tende a facilitar abordagens cinematográficas mais subjetivas. Além do uso feito por Sokurov de técnicas especiais de captação (lentes, filtros, etc.), tais inovações fazem frente à tendência do meio à reprodução mecânica. Em uma entrevista, Sokurov defendeu este princípio artístico de deformar imagens fílmicas: “Não estou filmando uma imagem concreta da natureza, estou criando uma. (...) Eu destruo a natureza real e crio a minha própria”.14 Desta forma, um aspecto notável de Vida humilde é a exploração empreendida por Sokurov do potencial estético da câmera de vídeo. O filme, que enfoca uma idosa fabricante de quimonos japonesa, talvez seja o seu retrato mais íntimo e pessoal. A maneira como a câmera aborda a fabricante de quimonos e a casa onde reside é gentil. A câmera move-se cuidadosamente por esse microcosmo e o explora a uma distância respeitosa, mesmo durante os closes mais extremos do filme. Em vez de tentar penetrar este microcosmo intelectualmente, a câmera de Sokurov explora as texturas de suas várias superfícies: as rachaduras nas paredes de madeira, a superfície mal-acabada do chão, a fibra rude dos tapetes, a luz que vem do lado de fora e o jogo de sombras sobre o chão e as paredes. No coração do filme encontra-se a presença física de um corpo. Sokurov comunica esta presença através de imagens que mostram a fabricante de quimonos cumprindo tarefas do dia a dia, por exemplo, penteando e colocando alfinetes do cabelo, acendendo uma lareira, bebendo uma xícara de chá quente e trabalhando com tesouras, alfinetes e linhas. Mas seu corpo está presente também como uma entidade física real – trata-se de um corpo envelhecido, conforme evidencia o close-up. A qualidade das imagens coloridas é reduzida, limitando-se ostensivamente a tons amarronzados e esverdeados. Ao reduzir a intensidade das cores e fazer uso de crossfades entre imagens, Sokurov borra a fronteira entre primeiro e segundo plano. Assim como a casa e seus arredores naturais formam uma só entidade, também a costureira e sua casa formam um todo harmonioso. O interior da casa é transparente e nosso olhar é constantemente direcionado para o lado de fora, pelas portas abertas. Em vez de explorar os arredores, os exteriores oferecem-nos visões de uma paisagem encantada e folhosa, oculta em meio a brumas redemoinhantes. Ao longo destas sequências, torna-se claro que estas imagens são as visões internas do narrador. Elegia oriental [1996], também realizado no Japão, compõe-se inteiramente de tais visões internas, o que torna necessária uma intervenção artística ainda maior nos processos técnicos.
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Eva Binder
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