O Crowdsourcing com Foco no Mobiliário Urbano para Comunidades

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CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DO DESIGN

FERNANDA TOSTA MARTINS

O CROWDSOURCING COM FOCO NO MOBILIÁRIO URBANO PARA COMUNIDADES

SÃO PAULO 2013


FERNANDA TOSTA MARTINS

O CROWDSOURCING COM FOCO NO MOBILIÁRIO URBANO PARA COMUNIDADES

Artigo Científico apresentado à Disciplina Metodologia da Pesquisa, orientado pelo Prof. Me. Dario Caldas no Curso de Pós-Graduação em Gestão do Design no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

São Paulo 2013


RESUMO Este artigo enfoca o design urbano a partir do crowdsourcing, que aplica conhecimentos em gestão do design para identificar o problema específico de uma comunidade e desenvolver uma proposta de mobiliário que ajude em determinados aspectos do dia a dia de seus moradores, por meio de plataformas colaborativas. O artigo objetiva demonstrar a importância do olhar sobre as comunidades formadas pela internet, e como o design pode ajudar na discussão sobre o ambiente e a vida das pessoas, possibilitando que discussões do cotidiano dos moradores de uma cidade possam vir à tona, podendo ser solucionadas e viabilizadas. O objetivo último é valorizar as ideias de participação e trabalho coletivo, por meio da gestão do design. Palavras-chave: Gestão. Design Urbano. Mobiliário. Crowdsourcing. Comunidade.


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Abstract This article focused on urban design from crowdsourcing which applies knowledge in design management to identify the specific problem of community and develop a proposal for a urban furniture that helps in certain aspects in day after day of its residents through collaborative platforms. Aims to demonstrate the importance of looking on the internet communities formed and how design can help in the discussion on the environment and people's lives, enabling discussions of everyday life of inhabitants of a city can come to fore and can be resolved and feasible. The ultimate goal is to value the ideas of participation and collective work through the design management. Keywords: Management. Urban Design. Furniture. Crowdsourcing. Community.


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Análise SWOT da plataforma Cidade Democrática

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Tabela 2 – Posicionamento do gestor em diferentes padrões de gestão da plataforma

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Tabela 3 - Análise SWOT da plataforma metodologia Crowdstorm

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Tabela 4 - Mecânica do funcionamento do desafio no site Cidade Democrática

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

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2. TEMA

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3. METODOLOGIA

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3.1. Descrição da proposta hipotética 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 4.1. O futuro do ativismo, colaboração e discussões 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1) INTRODUÇÃO

Nos últimos cinco anos, expressões como “inovação aberta”, “cocriação”, “webcidadania”, “crowdsourcing” e “crowdfunding” ficaram cada vez mais presentes e necessárias nas discussões acadêmicas de economistas, designers, publicitários e pessoas atentas, que se interessam por temas contemporâneos. Assim como a arte urbana de grafiteiros não passa despercebida por quem transita na cidade, estes temas são cada vez mais vivenciados pela comunidade que mora e interage na grande urbe. Um exemplo que abraça muitos dos conceitos citados foi o lançamento, no dia 15 de janeiro de 2001, da Wikipédia, enciclopédia livre que reúne conhecimento compartilhado por pessoas de diversos países em 260 idiomas (WIKIPEDIA, 2013a). Em um ano de existência, a Wikipedia já possuía 10 mil artigos na língua inglesa criados por centenas de colaboradores. Hoje a plataforma possui mais de 14 milhões de artigos e mudou nossa maneira de pesquisar, estudar e ter acesso ao conhecimento. Todo este trabalho foi feito graças à força motriz da colaboração gratuita de centenas de pessoas que se dispuseram a doar parte de seu tempo a uma causa pelo bem comum, por meio da internet. Este exemplo nos dá a ideia da dimensão em que o crowdsourcing pode ser trabalhado e dos resultados que uma comunidade bem desenvolvida pode ter. O termo crowdsourcing foi cunhado por Jeff Howe, editor da Wired Magazine no artigo publicado em junho de 2006: Simplesmente definido, crowdsourcing representa o ato de uma empresa ou instituição a tomar uma função, uma vez realizada por funcionários e terceirização para uma rede indefinida (e geralmente grande) de pessoas na forma de um convite aberto. Isso pode assumir a forma de produção entre pares (quando a tarefa é executada de forma colaborativa), mas também é frequentemente praticada por indivíduos únicos. O pré-requisito crucial é a utilização do formato de chamada aberta e uma vasta rede de potenciais trabalhadores (WIKIPEDIA, 2013b).

Outro dado bastante interessante está na cena do crowdfunding no Brasil, sistema que consiste em ferramentas de financiamento colaborativo que vêm levantando projetos com temas urbanos, como por exemplo os projetos: Simplicidades, uma chamada criativa para o Rio, Festival Baixo Centro, A Pompeia que se quer, Cidades para as Pessoas, a revista Efêmero Concreto, entre outros temas de gestão urbana colaborativa.


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São tantos projetos apoiados pelo financiamento colaborativo que novas plataformas, voltadas apenas para temas e questões urbanas, foram criadas pelo mundo. Um destes exemplos é a plataforma brasileira de crowdsourcing chamada Cidade Democrática, que foi lançada em novembro de 2009 e em sete meses de atuação contava com 2.700 integrantes, sendo que em 2013 conta com mais de 13.600 pessoas dentre cidadãos, políticos e entidades, unindo pessoas às causas que mais são noticiadas e levantadas pelos usuários (GUIMARÃES, 2010). Por mais que estes números apontem uma tendência que vem sendo reportada na mídia, ainda estamos falando de um pequeno grupo de pessoas com acesso à internet e uma postura crítica em relação aos fatos que acontecem a seu redor. Todavia, já consideramos este grupo uma amostra significativa para a observação de como as pessoas estão tomando consciência de seu papel e atuação em suas comunidades. Além disso, acreditamos que este grupo também possui consciência de que este é um movimento crescente, fundamentado na simples ideia de que cada um fazendo sua parte pode construir algo maior e significante, podendo influenciar muitas pessoas pela capacidade de divulgação rápida nas redes sociais . Esta mudança de valores e consciência em relação ao que consumimos e compartilhamos aconteceu por um processo que se aprofundou com a crise que o sistema capitalista sofreu em 2008, trazendo novos modelos à tona, como o movimento contrário ao comportamento consumista que tínhamos anteriormente. Bandeira, diretor executivo do Cidade Democrática, disse em entrevista "achar que a crise economia e institucional é uma crise sistêmica, e o crowdsourcing é um dos caminhos possíveis na criação de uma nova ética, de um novo jeito de funcionar, de um novo sistema” (BANDEIRA, 2013). O crowdsourcing, por trabalhar os conhecimentos coletivos e voluntários no desenvolvimento de conteúdo e soluções, tem sido usado por empresas brasileiras em plataformas desenvolvidas para coletar ideias de usuários, como uma ferramenta de inovação aberta para a busca de insights e análise de propostas de soluções para problemas de produtos. A definição de Inovação Aberta é a seguinte: O uso de fontes fora da entidade ou grupo para gerar, desenvolver e implementar ideias. Em um mundo de conhecimento amplamente distribuído, onde as fronteiras entre uma empresa e seu ambiente tornaramse mais permeáveis, as empresas não podem dar ao luxo de confiar


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inteiramente em suas próprias pesquisas e ideias para manter uma vantagem competitiva (CROWDSOURCING, 201).

Portanto, na dinâmica do crowdsourcing tanto em empresas privadas quanto em discussões públicas, é necessário flexibilizar processos e somar a diversidade de conhecimento e a criatividade do grupo de pessoas participantes para romper com padrões e obter resultados inovadores. Por meio deste tipo de colaboração nos diversos processos, a cada dia encontramos novas soluções, serviços autoorganizados que vão sendo absorvidos globalmente, tais como hortas urbanas coletivas, agenda de caronas criada por um grupo de pessoas do mesmo bairro , ou organização de microcreches por moradores de um bairro para seus próprios filhos, dentre outras ações. Todos estas ações fazem parte da chamada inovação social, transcorrida quando todos trabalham por um bem comum com uma perspectiva sustentável. O termo inovação social refere-se a mudanças no modo como indivíduos ou comunidades agem para resolver seus problemas ou criar novas oportunidades. Tais inovações são guiadas mais por mudanças de comportamento do que por mudanças tecnológicas ou de mercado, geralmente emergindo através de processos organizacionais “de baixo para cima” em vez daqueles “de cima para baixo” (MANZINI, 2008, p. 61).

Ainda no mesmo capítulo citado, Manzini explica que “a experiência nos indica que períodos particularmente intensos de inovação social tendem a ocorrer quando novas tecnologias penetram nas sociedades ou quando problemas particularmente urgentes ou difusos devem ser enfrentados”1. Com o aumento do número de pessoas com o acesso à internet no Brasil, que já alcançou a marca de 100 milhões de conexões de banda larga entre acessos móveis e fixos (DARAYA, 2013), o Brasil foi levado ao terceiro país mais conectado do mundo, de acordo com o Instituto Ibope (2013). E com a interação crescente dos internautas nas redes sociais proporciona-se o cenário para o desenvolvimento da chamada webcidadania, que possibilita a participação politica da população nos assuntos públicos pela web. Webcidadania é a reunião de várias plataformas com a mesma intenção de transformar a realidade social, possibilitando a comunicação, a articulação, o diálogo, e o monitoramento dos assuntos, bem como a mobilização da população (PARRA, 2013). Atualmente 1

Ibdem, p. 62


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existem 20 plataformas com temas relativos a questões públicas, associadas ao site http://webcidadania.org.br/. Por meio destas plataformas de crowdsourcing o usuário

pode realizar

cobrança e fiscalização de políticos, além de poder dar sua opinião acerca de propostas feitas por Organizações Não Governamentais (ONGs), entidades públicas ou dar sua própria sugestão de projeto. A comunidade neste contexto é designada pela reciprocidade entre a pessoa e o grupo que recebe as informações enviadas de forma espontânea, sendo reconhecida pela participação voluntária e tendo prestígio equivalente ao grau de qualidade que suas informações possuírem (SPYER, 2007). Uma citação de Kollock sobre as motivações que pessoas tem para contribuir em redes, presente no livro de Juliano Spyer, nos diz: O vínculo a um determinado grupo leva pessoas a oferecerem voluntariamente ajuda e informações. Isso vale, por exemplo, para alunos e ex-alunos de uma escola ou universidade, torcedores de um time, frequentadores de um estabelecimento comercial, entre várias possibilidades. Uma possível contrapartida para isso é a expansão dos vínculos sociais dessa pessoa dentro do grupo. Um programador respeitado por suas contribuições ao sistema operacional Linux, por exemplo, se torna conhecido entre seus pares e aumenta sua rede de contatos (KOLLOCK, 1999 apud SPYER, 2007, p. 36).

Portanto, este artigo se baseia na pesquisa literária do material acadêmico e não acadêmico, como, por exemplo, a entrevista com um dos idealizadores da plataforma Cidade Democrática, para a análise dos temas de crowdsourcing, mobiliário urbano e comunidade. Baseamo-nos ainda, num curso feito com a professora Marina Miranda, sobre o tema crowdsourcing aplicado para estratégias de empresas privadas ligadas a propostas públicas. Após a pesquisa, leitura e análise, foi desenvolvido um gráfico resultante de todos os dados e possibilidades de ações presentes numa proposta de desafio, a ser solucionado por uma comunidade de maneira genérica. Nos estudos a seguir discutiremos questões levantadas por usuários da plataforma Cidade Democrática, para questões públicas, a temática do mobiliário urbano e metodologias utilizadas por empresas privadas para obtenção de resultados pelo uso do crowdsourcing.


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2) TEMA

Existem inúmeras plataformas colaborativas cujos temas são voltados para a discussão pública no mundo, visando a participações comunitárias que podem variar de ações para o meio ambiente, segurança, lixo, ocupação dos espaços públicos, vizinhança, direitos humanos, à justiça restaurativa e mediação dos conflitos na cidade. Em comum, estas plataformas almejam a participação e ação daqueles que acreditam na gestão participativa, e na conscientização da população inativa, pois quando entendemos que a obrigação da prefeitura não é só recolher nosso lixo corretamente, entendemos como a culpa do problema de recolhimento do lixo também é do morador que produz e descarta. Em entrevista a Vinícius Bopprê, do site Porvir, Bruno Aracaty um dos fundadores da plataforma Colab.re, explica: Existe o conceito de smart-city (cidade inteligente), mas a gente defende o smart-citizen (cidadão inteligente). Cidades inteligentes não são nada sem a inteligência dos cidadãos, que participam, colaboram e fazem, eles próprios, a cidade ficar melhor (BOPPRÊ, 2013).

Esta é uma realidade que todos os governos deveriam encarar como um ideal, pois: Cidades mais inteligentes no Brasil são também a incorporação dos inovadores e promissores instrumentos de tecnologia da informação e comunicação na promoção de melhores e mais otimizados territórios informais, tão extensos e populosos nas nossas cidades, e cujo desafio de inserção a rede urbana “formal” – e não a sua exclusão – é dotá-lo de adequadas infraestruturas (LEITE, 2012. pág.132).

Dentre os assuntos de destaque com os quais a sociedade vem se deparando está o mobiliário urbano, ou seja, todo tipo de equipamentos públicos que dão assistência para a cidade, tais como postes, bancos, lixeiras, orelhões entre outros aparelhos que atendem ao sistema urbano e à população, bem como chamam a atenção pela sua importância ao atingir milhares de pessoas que passam e utilizam estes todos os dias, sendo eles eficientes ou não. Desde fevereiro deste ano, a população de São Paulo se deparou com a instalação de quatro modelos de ponto de ônibus, determinados de acordo com o perfil da via em que foram inseridos. Contudo, o que foi noticiado em vários meios


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de comunicação foi que a insatisfação da população em relação aos abrigos havia se dado por conta do teto de vidro que não protegia do sol e deixava a sensação de estar mais quente e abafado, bem como por causa da elevada altura da cobertura não proteger o usuário durante uma chuva mais forte (DUARTE; MACHADO, 2013). A partir deste fato subentende-se tanto uma ausência de pesquisa da opinião do público usuário, quanto de pesquisa sobre a desinformação deste mesmo sobre a mudança, haja vista que muitos dos usuários não sabiam das alterações ocorridas. Uma questão levantada no âmbito do presente trabalho é se o mobiliário instalado pela prefeitura de São Paulo foi desenvolvido com foco em necessidades reais. Raquel Rolnik, arquiteta e urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e relatora especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU, questionou em seu blog se foi garantida no projeto em questão a necessidade de dar abrigo e apoio às pessoas que utilizam o transporte público, mediante o fato de que o espaço previsto para a exploração de anúncios publicitários pelo consorcio durante 25 anos se destaca melhor em uma estrutura envolta em vidro. Como ressaltado por Raquel Rolnik em texto publicado em seu blog: [...] Mas a discussão sobre este tema na Câmara Municipal e na imprensa girou em torno principalmente dos valores envolvidos, das condições da licitação e de outras questões diretamente ligadas ao negócio da publicidade no espaço público. Nos acalorados debates que aconteceram entre 2009 e 2011, com idas e vindas do texto que regula a questão, o tema do mobiliário em si ficou ausente…Onde estão, por exemplo, os banheiros públicos bons e limpos; os bancos confortáveis em nossos parques e praças; as lixeiras bem cuidadas e em quantidade suficiente; a iluminação voltada não para o leito carroçável, como ocorre hoje em grande parte da cidade, mas para as calçadas, que pedem postes mais baixos…?[...]

(ROLNIK, 2013). Além dos abrigos, 14 relógios dos novos modelos implantados começaram a funcionar no mês de maio deste ano, com previsão de mais de 700 relógios distribuídos por toda São Paulo. A previsão para os abrigos até o final do ano é de 1.400 unidades instaladas. Durante estes 25 anos em que durará a licitação, a Prefeitura de São Paulo vai receber um valor estimado em, no mínimo, R$ 130 milhões pelos abrigos e R$ 60 milhões pelos relógios digitais (SANTIAGO, 2013). Esta realidade não acontece apenas em São Paulo, notícias assim repercutem em outras capitais brasileiras onde há registros deste descaso com o espaço público e seus equipamentos, sem contar as outras tantas cidades que não noticiam isto mas possuem as mesmas lacunas ou outras até piores.


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Em resposta ao desacordo entre sociedade e poder público, a criatividade de alguns grupos consegue ajudar uma maioria, como é o caso do “Que Ônibus Passa Aqui?”, projeto de Porto Alegre que seria custeado pela plataforma de financiamento colaborativo Catarse, mas que chamou a atenção da prefeitura e foi por ela financiado, imprimindo adesivos que são colados nos pontos de ônibus e onde os próprios usuários informam que linhas passam pelo mesmo. Casos noticiados, como o do professor Ahmed Atia El Dash residente no distrito de Barão Geraldo, em Campinas-SP, que reformou por conta própria um abrigo público fazendo deste uma espécie de sala de espera para os funcionários que pegassem ônibus ali (AZEVEDO, 2013), e do florista Seu Chagas do bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, que cuida da praça pública local tirando do seu tempo útil de trabalho (FLORISTA revitaliza..., 2013), são exemplos de que existem pessoas preocupadas com sua própria qualidade de vida, mas também com a qualidade de vida da comunidade que os cerca, o que acaba passando as outras pessoas esta motivação em fazer o bem ao próximo. Outro exemplo que se espalha é o da jornalista e agricultora urbana Claudia Visoni que organiza, pelo Facebook, um grupo chamado Hortelões Urbanos que possui 3.381 inscritos, com a ideia de fazer plantação de hortas públicas em locais como praças e canteiros sem uso. Já foram plantadas cinco hortas públicas com a ajuda de moradores da região central de São Paulo, nas quais qualquer um que esteja passando na rua pode colher a qualquer hora. É mais uma ação que demonstra que, por vários motivos, um número crescente de pessoas, sozinhas ou em grupo, estão saindo às ruas e pelas ruas para ocupá-las de maneira mais humana e eficiente. Por ter-se demonstrado um tema atualmente relevante e do interesse da população, foi tomado a exemplo dele o mobiliário urbano a fim de demonstrar a utilização de metodologias com base em crowdsourcing para solucionar problemas da comunidade. No entanto, como se verá, faz-se necessário que essas metodologias tenham uma boa gestão do design como princípio orientador pois, do contrário, boas intenções podem se perder no vazio da ineficiência.


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3) METODOLOGIA

O ambiente de troca possibilitado pela internet permite diferentes formas de discussões públicas, onde pessoas podem expor seus problemas, suas visões e ideias, de maneira espontânea, sobre qualquer assunto. A motivação para isto acontece por formas de identificação entre indivíduos num contexto comum. Este processo colaborativo se baseia na economia da colaboração, pois como cita Juliano Spyer (2007, p. 29), para compreendermos como a internet favoreceu esta cultura colaborativa precisamos procurar “um sistema econômico que explique o fato de pessoas oferecerem gratuitamente online informações que custam caro fora da rede”. Esta dinâmica da economia de doação pode acontecer entre dois indivíduos e em grupos quando toda informação também possuí um valor de troca: [...] O que acontece nos fóruns e listas de discussão, é que os frequentadores de comunidades online geralmente não se conhecem e, depois que uma pessoa ajuda a outra, é possível que nunca mais se encontrem online. Portanto, a reciprocidade entre dois indivíduos específicos é difícil ou impossível de acontecer no ciberespaço. A diferença é que nos ambientes virtuais, presentes “informacionais” e aconselhamentos não são oferecidos a indivíduos, mas a um grupo. Uma pessoa que ajuda outra pode sentir que o grupo tem uma dívida com ela e acreditar que no futuro algum outro participante irá ajuda-la quando surgir uma necessidade (SPYER, 2007, p.32).

Exemplo semelhante acontece com o modelo de plataforma colaborativa elaborado a partir de uma análise da plataforma Cidade Democrática e da entrevista com o diretor executivo desta plataforma Rodrigo Bandeira, que possibilitou levantar os pontos relevantes da estrutura a serem incorporados e os que devem ser melhorados para um resultado otimizado. A referida plataforma funciona a partir da colaboração de cidadãos, gestores públicos, parlamentares e entidades como ONGs, empresas, movimentos, representantes de escolas, igrejas, poder público e conferências. Todos os integrantes atuam apontando um problema ou criando uma proposta pra determinado local, como está previsto na própria definição dos usos que se pode fazer entre outras ações descritas no site, nos seguintes tópicos: • Criar e divulgar propostas e problemas e iniciar uma conversa com outros atores sociais;


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• Receber apoios para suas propostas e problemas; • Apontar e compartilhar questões públicas; • Conhecer o cenário e ter acesso a informações sobre os temas e localidades de interesse; • Reconhecer comunidades de colaboração e formar redes de pessoas e entidades que atuam em certos temas e locais; • Apoiar propostas e problemas apontados por outros usuários e entidades; • Fazer comentários e perguntas de interesse público; • Dar ideias e fornecer informações sobre propostas e problemas; • Criar o seu “observatório” para seguir e participar de discussões sobre os assuntos e as localidades que lhe interessam (CIDADE democrática, 2013a).

Existem também os concursos com a proposta de transformar os projetos em resultados permitindo que “grupos de pessoas interajam para desenvolver soluções inovadoras para temas que as interessam” (CIDADE democrática, 2013a). Estes concursos são compostos por 5 etapas, citados em continuação:

• Inspiração: os usuários são convidados a enviar imagens para inspirar os participantes do concurso. • Propostas: momento em que as propostas e problemas são enviados para responder ao tema do Concurso e quando também é possível comentar propostas de outros para ajudar a melhorar. • Aplausos: os participantes podem escolher as melhores ideias e dar o seu apoio para quantas quiser. • União: para ganhar força e visibilidade, as ideias que forem semelhantes podem ser unidas em uma só, somando também seus comentários e apoios. • Ganhadores: acontece quando ficamos sabendo quais foram as ideias e os ganhadores em cada categoria de premiação (CIDADE democrática, 2013a)

Cada etapa tem duração determinada dentro de cada desafio. Este desafio é de responsabilidade do integrante que o cria, devendo possuir uma identidade, descrição, categorias de premiação, as etapas da colaboração e o recorte que delimita o território abrangido. Como está na descrição do site “os desafios são assim uma poderosa forma de agregação de propostas e problemas” (CIDADE democrática, 2013a). A plataforma Cidade Democrática conta com apoio jurídico especializado ligado a questões de cidadania, conta ainda com a ajuda e a colaboração de profissionais, entidades, empresas e especialistas. A administração da plataforma é realizada pelo Instituto Seva, que é uma entidade sem fins lucrativos que se reserva o “direito de organizar, alterar, incluir ou retirar informações” a fim de promover um espaço democrático para o desenvolvimento das soluções pro bem comum. Direito este que não é necessariamente utilizado, visto que a plataforma acaba por fazer


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uma auto regulação avisando sobre qualquer inconveniente de algum usuário, o que também está descrito nas regras de participação, quais sejam: Aderir ao princípio primordial da ferramenta que é o da colaboração. Assim, as intervenções em propostas e problemas inseridos por outros usuários somente poderão ser no sentido de aperfeiçoar, melhorar, aconselhar, fortalecer etc. e nunca visando desprestigiar, desrespeitar, desvalorizar etc. Se não concordar com alguma proposta, o usuário deve criar outra proposta que esteja mais alinhada com a sua opinião pessoal (CIDADE, democrática, 2013a).

Caso exista qualquer informação falsa, incorreta, desatualizada ou incompleta fornecida por um usuário e for identificado isso por algum outro integrante que delate ou por gestores da comunidade a plataforma tem o direito de excluir o conteúdo e mesmo o perfil do usuário se for interpretado contrário às regras de conteúdo ou às normas legais em vigor. O Cidade Democrática (2013a) não pode garantir que: • Determinados serviços à disposição atenderão às necessidades do usuário • O serviço será prestado de forma ininterrupta, tempestiva, segura ou livre de erros • O resultado obtido pelo uso do serviço será exato ou confiável • A qualidade de qualquer produto, serviço, informações ou outro material adquirido ou obtido pelo usuário por meio do serviço, atenderá todas às suas expectativas • Quaisquer erros serão corrigidos

A partir destes critérios a plataforma é alimentada pelos usuários, que iniciam discussões sobre temas que, em média, podem durar de dois a três meses, chegando até dois anos (fora os concursos que tem duração definida). Período em que a possibilidade de alguém se interessar pelo tema e fizer uma proposta de solução é valida e pode retomar discussões que estavam sem movimentação. Neste caso, cabe ao usuário procurar pessoas que se interessem e que possam ajudar tanto com ideias quanto na prática. Em uma entrevista com o diretor executivo da plataforma em questão, Rodrigo Bandeira, ele ressaltou que a mobilização das pessoas é decorrente aos problemas que elas vivenciam em suas comunidades sendo o motivo maior que leva às discussões, mais do que em função das soluções, criatividade ou participação. Sobre as principais discussões diz o seguinte: O que a gente percebe é que as pessoas se mobilizam muito em função de cidadania, participação, educação, meio ambiente, destas questões eu acho que ainda a mobilidade urbana são os temas principais (BANDEIRA, 2013).


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Sobre a relevância dos temas, esta é dada justamente pelo tema estar sendo proposto e comentado, e por estar sendo cada vez mais apoiado e discutido, aparecendo maior num ranking de temas em discussão na página inicial. Deste modo, de acordo com que as propostas vão surgindo, caso existam temas semelhantes é possível fazer a junção de diferentes propostas em uma só e unir mais pessoas em uma discussão: Existem várias camadas de relevância em uma proposta que acaba envolvendo atividades relacionadas a ela, o acúmulo das atividades quanto também da velocidade com que essas atividades entram, [...] essa proposta rapidamente vai pro topo da relevância. [...] (BANDEIRA, 2013).

Analisando a plataforma com as informações fornecidas pelo site, observando a dinâmica das propostas e somando às descrições realizadas por Rodrigo Bandeira, pudemos identificar, a partir da análise SWOT considerando a) ambiente interno; b) a equipe que regula a plataforma em si e o ambiente externo; c) a plataforma com seus participantes, os seguintes pontos: Tabela 1: Análise SWOT da plataforma Cidade Democrática Ambiente interno / Ajuda / Força

Ambiente interno Fraquezas

• O Instituto Seva, que regula a plataforma, é composto por profissionais especialistas em questões como juventude, novos modelos de negócios sustentáveis, saúde, cultura, empreendedorismo social e meio ambiente; • O Instituto Seva possui parcerias com grandes empresas que desenvolvem em conjunto projetos ligados ao engajamento e mobilização social; • A atuação do grupo começou em outubro de 2008, a partir do desenvolvimento de novas políticas públicas com foco no atendimento integral às necessidades dos cidadãos, o que lhes dá reconhecimento.

• A plataforma não pode garantir que determinados serviços à disposição atenderão às necessidades do usuário; • A plataforma não garante que o serviço será prestado de forma ininterrupta, tempestiva, segura ou livre de erros; • Não há garantia de que o resultado obtido pelo uso do serviço será exato ou confiável; • Não há garantida de que a qualidade de qualquer produto, serviço, informações ou outro material adquirido ou obtido pelo usuário por meio do serviço, atenderá todas às suas expectativas • Não há garantida de que quaisquer erros serão corrigidos

Ambiente externo Oportunidades

/

Ajuda/ Ambiente Ameaças

/

externo/

Atrapalha

/

Atrapalha/


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• A plataforma Cidade Democrática já • Por ser uma plataforma online, pode conta com mais de 13.800 inscritos e existir a sensação da parte do usuário é composta por 13.500 cidadãos, 156 de que ele não precisa fazer mais gestores públicos, 55 ONGs, 37 nada já que está participando parlamentares, 21 movimentos, 18 virtualmente em algum tema público. conferências (reuniões, fóruns etc.), 5 Da mesma forma pode ser gerada a poderes públicos e uma igreja. expectativa de que algo vá acontecer pela contribuição que o usuário deu • Como a plataforma é focada em virtualmente, o que não acontece, assuntos públicos e coletivos, as pois é necessário outro nível de pessoas que se inscrevem ali são empenho dentro e fora da plataforma interessadas essencialmente pelos para um projeto acontecer. temas e podem participar de qualquer proposta, sendo esta no seu bairro, • Propostas feitas por usuários que por cidade ou não. falta de interação em algumas discussões não chegam em projetos • De certa forma, a internet impede o factíveis. efeito “maria-vai-com-as-outras”, pois como as pessoas estão em suas casas compartilhando informações, estão relativamente protegidas para expor sua opinião. Fonte: Tabela produzida pela autora.

Em um curso de três dias oferecido por Marina Miranda, cofundadora da Mutopo - empresa especializada em desenvolver metodologias de trabalho para ajudar organizações a projetar e implantar projetos de produção social utilizando o crowdsourcing - apresentou, entre outros exemplos e desafios, o conteúdo do livro no

qual colaborou chamado “Crowdstorm: The Future of Innovation, Ideas, and

Problem Solving” (2013). Dentre vários tópicos colocados em pauta, foi ressaltado o entendimento das questões corretas a serem aplicadas em um desafio, sempre pensando em definir o problema antes de definir a plataforma onde vai ser realizado o desafio para que o desenvolvimento seja adequado, com a preocupação de não direcionar a opinião das pessoas, podendo assim gerar um resultado medíocre. Também foi destacado no referido curso o papel do community manager (gerente da comunidade em tradução livre) que administra as diretrizes e monitora as informações para que um desafio de crowdsourcing aconteça. A partir desta metodologia aplicada às empresas e marcas com obtenção de resultado adequado, parte da análise será construída em cima do processo utilizado pela Mutopo que, por sua vez, é descrito no livro Crowdstorm (ABRAHAMSON, Shaun; RYDER, Peter; UNTERBERG, 2013). A seguir a descrição de todas etapas de maneira resumida


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para a elaboração de um desafio, presente no referido livro e apresentado por Mariana Miranda durante o curso2: 1 - Formular a pergunta/Briefing 2 - Incentivos e motivadores 3 - Planejar coalisão 4 - Recrutar participantes 5 - Facilitando resultados certos - Manager/ Gerenciar comunidades 6 - Monitoramento dos Participantes 7 - Time/forma de seleção das ideias 8 - Escolher o espaço on line 1 – Pergunta certa / Briefing A formulação de um desafio começa pela chamada certa, a pergunta que define se o que se quer como resposta é uma ideia, ou protótipo. Fazer a pergunta certa facilita determinar o nível de maturidade que se deseja e torna as respostas mais claras3, e define o foco as perguntas seguintes que se deve fazer e como perguntar. Para chegar na pergunta certa é preciso definir o problema da empresa, ou da comunidade, do bairro ou cidade. Esta pergunta certa deve ser ligada a algo importante para a empresa que propõe o desafio, e aos cidadãos de um bairro, relativamente a algo que não se consiga fazer ou que não esteja sendo feito pela prefeitura. Construir um briefing com uma história que demonstra o contexto da pergunta do desafio pode ajudar no entendimento dos participantes, ela pode inspirar, divertir e instruir o participante. A história criada deve transmitir valores da empresa, ou no caso, do público do local onde vai ser feito o projeto.

2 – Tipos de motivação A classificação para motivação do livro Crowdstorm (ABRAHAMSON, Shaun; RYDER; Peter UNTERBERG, 2013, p.1570) usa a expressão “GAME” (Good/ Attention/ Money/ Experience), sendo descrita a seguir: 2

Cada um dos itens citados corresponde a um capítulo do livro Crowdstorm (ABRAHAMSON, Shaun; RYDER, Peter; UNTERBERG, Bastian. Crowdstorm: The Future of Innovation, Ideas, and Problem Solving. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc., 2013). 3 ABRAHAMSON, Shaun; RYDER, Peter; UNTERBERG, 2013, passim.


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• GOOD – Bem: Muitas premiações podem ser feitas com o próprio resultado beneficiando a população, ou um determinado grupo como uma escola que ganha uma sala de computadores para jovens, ou ajuda a uma comunidade carente com cestas básica entre outros. o Sustentabilidade o Saúde o Educação o Sociedade • ATTENTION – Atenção: Premiações voltadas para o público universitário podem utilizar contatos, divulgação do nome e do portfólio, ou um troféu como prêmio. o Prêmio o Mídia o Contatos • MONEY – Dinheiro: Um tipo de premiação bastante utilizada, dependendo de como foi definido o nível de maturidade do desafio pode atrair pessoas que não possuem interesse no tema. o Prêmios o Contratos e parcerias o Participação de receita e licenciamento o Investimento em ações • EXPERIENCE – Experiência: Alguns desafios podem dar prêmios como bolsa de estudos, viagem internacional, visita a determinada empresa entre outros. o Experiência de aprendizado o Experiência social o Experiência de jogar

É preciso definir se haverá a participação do público interno da empresa que promove o desafio, ou apenas do público externo. Caso seja delimitado para participação, o público externo deve ser recompensado com incentivos extrínsecos e intrínsecos. Para participantes internos as recompensas intrínsecas são mais importantes: As pessoas são motivadas pela oportunidade de trabalhar em algo que eles acreditam que contribui para o bem social, mesmo sem a perspectiva de ganho monetário (ABRAHAMSON, Shaun; RYDER; Peter UNTERBERG, 2013, p.1572).

É importante deixar os termos e condições para recompensa claros, comunicar com transparência e entregar as promessas para não comprometer a imagem de empresas relacionadas ao desafio. 3 - Construir a Coalisão


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Para a execução do desafio é necessário montar uma equipe de administração, suporte e divulgação para obter importância, atenção e participação no âmbito do mesmo. É necessário fazer parcerias com pessoas e empresas com poder de mobilização, como por exemplo diversos tipos de mídia relacionadas ao tema (revistas especializadas, canais de, programas de televisão), experts da área que o desafio aborda, financiadores (empresas interessadas em estar ligadas ao tema ou no resultado dele), com a plataforma que irá executar o desafio, a organização responsável (community manager) e um produtor do desafio. 4 – Recrutando os participantes desejados Para construir comunidades criativas para o projeto é necessário recrutar os participantes desejados. Em toda dinâmica online é possível encontrar pessoas que se destacam mais, participantes mais envolvidos que dedicam mais tempo às discussões

levantando

novos

questionamentos,

comentando,

criticando.

É

interessante para o gestor da comunidade identificar estas pessoas e usá-las como inspiração para outras. Durante o monitoramento dos participantes é provável que exista uma média em que 10% dos usuários contribuem enquanto 90% observam e, por isso, é preciso ter meios de identificar esses 10%4 que, neste momento de análise, não são apenas compostos por quem dá ideias, mas por quem produz feedback, comentários e “curte”5 as propostas. 5 – Gestão - Facilitando grandes resultados O gestor da comunidade tem o objetivo de apoia-la nas suas propostas, deve também observar o interesse da comunidade em relação ao desafio e ativa-los, se for necessário. A gestão da plataforma implica em quatro frentes: a gestão de processos; a gestão da comunidade; o foco no resultado; e o papel dentro da comunidade. 4

Princípio do 1;9;90. Citado por Marina Miranda durante o curso de Crowdsourcing sobre participação na internet. http://pt.wikipedia.org/wiki/Regra_do_1%25_(Cultura_na_Internet) 5 Curtir (like em inglês) é uma expressão que se refere a uma ferramenta difundida pelo Facebook, que é um tipo de botão que assinala a opção de gostar do usuário em relação a algum conteúdo postado. Em determinadas redes sociais é possível ter a opção de demonstrar apreciação ou de desgosto (discutir).


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Tabela 2) Posicionamento do gestor em diferentes padrões de gestão da plataforma Gestão do processo Padrão de Busca

Pouco contato com a comunidade

Padrão de Colaboração

Monitorar e interagir com a comunidade

Padrão Integrado

A comunidade tem mais poder

Modo de gestão da comunidade Foco em encontrar designers p/ o desafio de design Prover mais oportunidades para designer e engenheiros para participar

Permitir à comunidade trabalhar junto em projetos próprios

Foco no resultado Adquirir ideias - Objetivo primário é recolher ideias Adquirir, filtrar e ranquear ideias. Foco na solução do problema pela submissão comparação e avaliação de ideias Mais auto direcionamento Permite á comunidade escolher no que quer trabalhar

Papel da gestão da comunidade Advogar pela marca

Fazer o processo funcionar, entender motivação

Facilitador /Suporte

Fonte: Tabela produzida pela autora.

6 – Monitorando Participantes É possível monitorar e mensurar contribuições dos participantes dependendo de cada plataforma. O feedback dos participantes é importante para saber quais contribuições são importantes ou não. O cuidado com os participantes deve ser permanente,

reconhecendo

a

participação

constantemente

e

fazendo

um

acompanhamento das ações para entender a atividade das comunidades. O community manager deve acompanhar os comentários, as novas ideias, os resultados de votações, além de disponibilizar informações para os participantes sobre os processos utilizando, para tanto, a ferramenta de social feeds que serve como forma de transparência do processo. O Feed é uma importante ferramenta para que o community manager possa decidir o que é mais relevante para a


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comunidade, oferecendo a opção de acompanhar participantes que precisam de ajuda, monitorando twitter e os social feeds, ou disponibilizando uma área ou fórum para perguntas mais longas.

7 – Selecionando Melhores Ideias É possível fazer uma meta quantitativa e estabelecer prêmio para o melhor desempenho, criando alguma ferramenta de controle da evolução da proposta apresentada. Este tipo de acompanhamento encarece a proposta e requer funcionamento, e acaba não servindo para muitos projetos de crowdsourcing. Muitos exemplos usam um grupo de especialistas – de professores a líderes da indústria - montando uma diretoria criativa para avaliar as ideias. Essa abordagem funciona para além de projetos de engenharia ou ciências, servindo ainda para propaganda e investimento. Especialistas devem ser usados para encontrar a melhor alternativa em conhecimento. De modo que, em alguns casos, estes especialista são beneficies, pois a comunidade tem dificuldade em achar a melhor alternativa com poucas informações. Os modelos híbridos de seleção funcionam mesclando participação do público e de especialistas na decisão de um desafio. Neste modelo de decisão podem ser convidados 4 grupos: participantes; especialistas; Empregados; e fãs da marca, podendo ser feitas várias rodadas de votação, apresentando primeiro as ideias individuais, dentre as quais as melhores serão selecionadas por especialistas. Depois, na 2ª rodada, empregados da companhia que propõe o desafio são convidados a participar na melhoria das ideias e, por fim, toda empresa juntamente com os fãs do Facebook são convidados a votar na melhor ideia. 8 – Escolha do espaço online Por último, é feita a escolha do espaço online onde será realizado o desafio. Em muitos - embora específicos - casos é necessário o desenvolvimento de uma plataforma que se adeque às exigências estabelecidas para participação. Contudo, já existem modelos de plataformas que se adaptam a cada caso.


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Verificando por meio da análise SWOT o modelo apresentado, e considerando novamente a) ambiente interno; b) a equipe que regula a plataforma em si e ambiente externo; c) a plataforma com seus participantes, concluímos que:

Tabela 3) Análise SWOT da plataforma metodologia Crowdstorm Ambiente interno / Ajuda / Força

Ambiente interno Fraquezas

/

Atrapalha

/

• Fundado em 2007, o escritório Jovoto • A plataforma é bastante flexível para que desenvolveu a metodologia do cada caso de desafio que as Crowdstorm, possui uma equipe empresas proponham, mas existe um formada por especialistas nos temas custo para todo o processo. relacionados aos desafios corporativos. • Estes especialistas já fizeram mais de 200 projetos ao redor do mundo para marcas como Starbucks, CocaCola, WWF, Greenpeace, etc. • A empresa é considerada líder global no espaço de cocriação, possui sua própria plataforma e equipe que faz a gestão dos desafios.

Ambiente externo / Ajuda/ Oportunidades

Ambiente Ameaças

externo/

Atrapalha/

• Possui a colaboração de mais de 100 • Como o alcance pode ser muito mil participantes contribuindo nos maior, por ser internacional, a análise desafios. das propostas pode ser mais demorada, podendo gerar uma • Os participantes podem se inscrever grande diversidade de respostas se em um ou mais desafios que a não for devidamente pontuada. plataforma executa, podem formar um network seguindo as melhores ideias e ainda visualizar todos os vencedores e as premiações. • Por ter uma plataforma internacional a Jovoto consegue atingir altos níveis de projeto de produto, elaborados por profissionais de diversas instituições e outros independentes. Fonte: Tabela produzida pela autora.


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3.1) DESCRIÇÃO DA PROPOSTA HIPOTÉTICA

Após a análise das duas metodologias de crowdsourcing: da Cidade Democrática e do Crowdstorm (2013), e observando os resultados apresentados por cada uma delas, foi concluído que para soluções públicas em ambas plataformas as melhores soluções vieram das propostas que delimitavam melhor seu espaço de atuação. Um exemplo apresentado na plataforma Cidade Democrática foi o concurso “Qual Seu Sonho Para a Vila Pompeia?”, que gerou uma grande repercussão, com um numero de 117 propostas e 241 participantes ativos ao longo de sua realização. A intenção do presente artigo é otimizar as propostas para que alcancem com mais precisão resultados de qualidade, que sejam executáveis. Como no caso de todos os desafios realizados pela Jovoto, empresas lucram com o investimento dessas ações, pois além de conseguirem absorver a necessidade que as pessoas estão almejando em seus produtos no determinado momento, também conseguem conquistar novos seguidores e consumidores que ficaram atentos para as novidades e disseminaram valores da marca em sua rede. Para uma proposta de desafio público envolvendo a vida de pessoas que não necessariamente atuaram no projeto, foi definido o fechamento da abrangência em um bairro de São Paulo em que houvesse a necessária densidade residencial, comercial e institucional para que a interação acontecesse de forma orgânica. A delimitação da região da Vila Mariana se deu com estudo de seu mapa, por meio do qual percebemos que mais da metade do bairro, (São Paulo, São Paulo, Brasil) é composto por zonas mistas de baixa, média e grande densidade, o que engloba residências, instituições e estabelecimentos comerciais. Neste bairro, a necessidade por espaços com mobiliário adequado e planejado para a população local é latente, mas nossa escolha se deu também pelo zoneamento urbano ser rico em escolas, universidades e empresas que possam se interessar em participar do desafio. A seguir descrevemos as etapas da proposta hipotética de um desafio para mobiliário urbano na Vila Mariana.


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1- Descritivo de projeto:

A definição do problema foi feita em torno da a falta de equipamento urbano nos espaços públicos no bairro da Vila Mariana, o que é algo importante para os moradores e trabalhadores da região. Para formular a pergunta principal era preciso levantar um tema que tocasse na vida de todos os moradores e trabalhadores do bairro de Vila Mariana. Assim, a chamada definida foi: “tinha um banco e uma sobra no meio do caminho”; com o texto seguinte: “você não habita apenas a sua casa, mas todo o lugar por onde percorre”; texto este inspirado na colocação da arquiteta Luciana Sabóia, que afirmou: Nós habitamos não apenas nossas casas. As ruas, a velocidade e os acessos ao território passam a ser formas de habitar a cidade contemporânea (MIRAGLIA, 2013).

A pergunta a ser feita é: “se existisse um banco no meio do seu caminho como você gostaria que ele fosse?” O desafio seria então a escolha do projeto mais adequado de banco para ser construído e implementado nos espaços públicos delimitados do bairro. E deste modo, ficou determinado que o produto da resposta seria uma ideia descrita em um projeto simples, que justifique as soluções em algumas descrições e detalhamentos para resolver o problema de mobilidade e vivencia nas áreas públicas. Os critérios definidos para avaliação são: a) a pesquisa de campo feita com os moradores do bairro; b) a viabilidade da produção do banco; c) a segurança e durabilidade; d) a acessibilidade e sustentabilidade; e) questões estéticas e de criatividade. 2 – Incentivos e motivadores Para a motivação dos participantes haverá uma premiação, individual ou em grupo, para os que apresentarem o projeto vencedor. Esta premiação será acordada com os financiadores, podendo ser bolsas para cursos, material acadêmico e até uma quantia no valor de R$5 mil, além de o vencedor ter seu nome veiculado na mídia juntamente com o produto que será construído em local público. Mas o que fica, principalmente, é o legado do produto em si pra comunidade local, o que será evidenciado durante toda a campanha.


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3 – Planejar coalisão Para a construção da coalisão que ajudará na estrutura do desafio em si, será chamada a mídia, principalmente online, por meio de blogs relacionados ao tema e redes sociais que iram alimentar o público interessado e possíveis participantes. Para a avaliação dos trabalhos serão chamados professores dos cursos de Design e Arquitetura e Urbanismo das universidades do bairro. Dentre os possíveis parceiros e financiadores locais estão: -

Instituto de Engenharia (IE) Associação Brasileira de Empresas e Eventos (ABEOC) IBM Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae SP) Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (Belas Artes) Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Centro Universitário Assunção (UNIFAI) Faculdade de informática e Administração Paulista (FIAP) Escritórios de arquitetura e urbanismo Escritórios de engenharia Escritórios de design

A gestão da comunidade fica sob a responsabilidade de uma equipe ou de uma pessoa encarregada pelas tarefas diárias, sendo esta contratada ou de dentro da empresa que irá propor o desafio. O produtor do desafio pode ser a própria prefeitura ou subprefeitura da Vila Mariana, ou uma ONG do bairro - como é o caso do bairro de Pompeia - ou ainda uma empresa ou instituição, como a Universidade Belas Artes, com interesses em se promover neste desafio. 4 – Recrutar participantes Para a chamada dos participantes deverá ser feita uma divulgação com cartazes nas empresas e instituições locais relacionadas ao tema, além de um site contendo todas as informações do desafio e fazendo um link para rede sociais e blogs onde será postado conteúdo. Importante nesse momento é buscar pessoas para comentar, inspirar e criticar propostas que serão apresentadas na plataforma. Nas faculdades haverá uma apresentação em cada turma de áreas relacionadas ao desafio. Assim a chamada se torna interessante para os participantes que devem


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atuar ativamente no desenvolvimento das ideias, encontrando os talentos com conhecimento necessário para otimizar o resultado do concurso. 5 - Facilitando resultados certos - Manager/ Gerenciar comunidades Para gerir todo o processo fica definida uma equipe com as responsabilidades de: informar os participantes, ajudar quando necessário, monitorar a participação durante todo o desafio – para o caso de alguma irregularidade fora do que está determinado pelas normas -, e principalmente dar feedback quando for postado algo novo pelos participantes. Também é da parte da gestão ativar os participantes quando estiverem tendo um interesse baixo, e divulgar textos e material inspirador pra ajudar na pesquisa e desenvolvimento das ideias. 6 - Monitoramento dos Participantes Para o monitoramento haverá uma equipe que fará o rastreamento pelos históricos, chamando a atenção de quais são as necessidades que devem ser atendidas, vídeos e referencias inspiradoras para os participantes. 7 - Time/forma de seleção das ideias A escolha do vencedor acontecerá em 3 etapas, num modelo híbrido de seleção. No primeiro momento a escolha acontecerá com a participação de especialistas, professores e profissionais convidados para analisar os projetos apresentados e que farão a primeira seleção. Depois será aberta a votação para estudantes das universidades e trabalhadores das empresas próximas ao local que receberá o mobiliário. E, por último, os fãs do Facebook e participantes atuantes na plataforma poderão votar pela escolha do principal projeto entre os últimos colocados. 8 - Escolher o espaço online


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Nesta suposição de desafio, adaptando a metodologia do livro Crowdstorm (2013), será proposto o uso da plataforma Cidade Democrática, que possui os mecanismos necessários para o concurso, sendo também gratuita. Tabela 4) Mecânica do funcionamento do desafio no site Cidade Democrática Chamada para o desafio

Primeira ativação da comunidade, depois de já ter fechado as parcerias com empresas. Durante duas semanas segue um grupo divulgando para alunos de faculdades e para funcionários de empresas relacionadas a projeto de produtos. Ativação da comunidade virtual por meio de blogs, sites e afins, bem como na própria plataforma Cidade Democrática. Definição dos grupos Após lerem o briefing do desafio, os participantes e participantes terão 30 dias para formarem um grupo e ou apresentarem uma ideia solo na plataforma para abertura das discussões. Quanto antes o grupo der inicio ao processo melhor. Pesquisa de campo Durante esta primeira etapa deverá ser feito um (obrigatório) questionário que será fornecido no site como um modelo para pesquisa de campo com os moradores da região. Esse formulário de perguntas, que pode ser modificado de acordo com cada grupo, deve ser entregue obrigatoriamente caso a ideia seja selecionada. O intuito da pesquisa de campo é entender o que os moradores acham sobre o projeto e o que é necessário para um bom projeto de mobiliário, com observação dos atuais problemas da região. Elaboração da ideia Concluída a pesquisa de campo, os participantes usam os insights para melhorar suas ideias e levá-las ao público online novamente. Contribuição dos Durante todo o processo a interação entre participantes da participantes proponentes e os que apenas votam plataforma acontece para enriquecer e validar as propostas apresentadas para a população. Seleção das Ao fim dos 30 dias, a plataforma será fechada para melhores ideias submissão de projetos e um grupo de especialistas pelos especialistas analisará aqueles que fazem mais sentido dentro da proposta e que vão continuar nas próximas etapas. Os projetos escolhidos serão disponibilizados para votação dos outros participantes. Seleção por Após a seleção dos especialistas, os projetos moradores e finalistas serão apresentados novamente para os trabalhadores da moradores e trabalhadores da região. As equipes região podem divulgar seus projetos nas empresas e


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Votação dos fãs do facebook Vencedores e entrega de prêmios

incentivar que moradores entrem na plataforma e votem online. Depois da segunda seleção, que reunirá os projetos que contemplam mais as necessidades dos moradores, serão abertas as votações para fãs do Facebook que “curtem” a página do desafio. Depois dos 20 dias do processo de votação será anunciado o vencedor (ou os vencedores) que receberá a premiação correspondente que pode variar de 2 a R$5 mil, sendo custeadas pelos organizadores, mais a divulgação do projeto em revistas especializadas, além da execução do projeto que será custeada pela prefeitura/ ou entidades que incentivaram o desafio. Fonte: Tabela produzida pela autora.

A proposta representada acima tem como objetivo valorizar as ideias dos participantes no trabalho coletivo, aumentando a participação das pessoas que estão envolvidas direta ou indiretamente no desafio. Como serão recrutadas concorrentes com instrução acadêmica para este tipo de desafio, que envolve conhecimentos em construção, design e adequação ao público alvo, podemos inserir novas etapas tais como a “Pesquisa de campo”, e uma etapa de elaboração de ideias flexível, em que a ideia submetida permaneça alterável, a fim de considerar informações que colaboradores possam acrescentar ao longo do caminho. Outra mudança em relação ao processo apresentado pela plataforma Cidade Democrática é a eliminação da etapa “União”, que compara e uni ideias parecidas para ganharem mais força convergindo os apoios de cada. Esta opção poderia reduzir a concorrência de certas equipes favorecendo um projeto, bem como poderia prejudicar o desempenho de um grupo já bem entrosado. Esta dinâmica hipotética visa propiciar a discussão de uma comunidade formada pela internet, sem perder o foco na discussão sobre o espaço e o impacto que um mobiliário urbano pode causar na vida das pessoas. E para tanto, a proposta se apropria de processos de investigação do design juntamente a etapas metodológicas e ferramentas que funcionam, comprovadamente, nos diversos resultados de projetos de plataformas que utilizam o crowdsourcing.


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4) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esta pesquisa pude levantar estratégias de gestão e aplicação em projetos públicos cujo objetivo é levar à solução de problemas com maior agilidade, eficiência e precisão, a partir dos recursos que o crowdsourcing contém. Para atingir o melhor resultado da dinâmica é necessário ter foco na delimitação da comunidade que participa e na solução que será gerada para ela, envolvendo assim atores pertencentes ao local, tais como comerciantes, moradores, empresas, escolas, dentre outras entidades de interesse comum pelo espaço escolhido. Para demonstração do resultado deste artigo foi gerado um gráfico que identifica formas de mobilizar pessoas para discussão de um tema proposto, bem como as articulações de gestão da plataforma e da comunidade envolvidas. Para tanto, utilizamos como tema o mobiliário urbano, as formas de contribuição que a população pode dar, e as maneiras pelas quais ela pode ser recompensada, a exemplo do bairro de Vila Mariana. A maneira como o crowdsourcing vem sendo aplicado por empresas de grande porte para solucionar problemas de produtos para seus consumidores nos mostra que é possível engajar uma parcela de pessoas dispostas a pensar nos problemas que abrangem muitos, por meio destas estratégias. Entendemos que o governo também deva utilizar destas plataformas para oferecer soluções mais adequadas às necessidades da população, tendo assim chance de errar menos e agir com maior inovação. No caso da plataforma Cidade Democrática e sua atuação na cidade de Jundiaí (SP), a parceria está tendo bons resultados, e a população atuante conseguiu várias conquistas. Entre elas a criação de um plano diretor cicloviário, para o qual foi prometido um investimento de 200 mil reais por um deputado da cidade. Além disso, a população de Jundiaí (SP) conseguiu ainda o estudo da mudança no horário das audiências públicas da Câmara para que a população consiga acompanhar, bem como o projeto, que já está em vigor, que tornou obrigatório o voto aberto em caso de vetos apresentados pelo prefeito tornando a atuação dos vereadores mais transparente.


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Como sinal de que os governos já estão absorvendo esta mudança da participação da população nos assuntos públicos foi criada uma plataforma lançada este

ano

pela

prefeitura

de

São

Paulo.

Chamada

http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/ que permite que as pessoas participem e entendam mais sobre o planejamento urbano de São Paulo. Também faz parte desta

plataforma

um

mapa

de

gestão

urbana

http://mapa.gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/ onde as pessoas podem marcar pontos nos bairros de São Paulo e apontar uma solução ou um problema pro local. Abrir estes canais para a população opinar também abre um caminho que pode avançar em melhorarias para a cidade, estabelecendo os necessários diálogos entre população e governo.

4.2) O FUTURO DO ATIVISMO, COLABORAÇÃO E DISCUSSÕES Acredito que muito do que se falava sobre o ativismo virtual está sendo comprovado com as manifestações populares ocorridas no mês de junho de 2013 que reivindicam diversos direitos da população. O ativismo virtual, feito na cadeira, não está sendo suficiente e, mais do que nunca, as pessoas estão se movimentando para mudar este quadro. Na entrevista com Rodrigo Bandeira, quando questionado sobre as oportunidades em mudança de valores sociais que a plataforma visa, ele diz: Acho que oportunidade número um, de participar das mudanças, de ser protagonistas dessa mudança que está acontecendo, e oportunidade também de emprego, que é pensando em soluções para o espaço público também consegue pensar em soluções para seu papel profissional (BANDEIRA, 2013).

Muito mais do que dizer nossa opinião sobre os fatos é importante entender qual o nosso papel na tomada de decisões públicas e o quanto conseguimos mudar essas decisões quando trabalhamos de maneira coletiva, o que exige uma mudança de comportamento em relação aos fatos cotidianos. O ativismo individual, da pessoa que compartilha e dá a sua opinião sobre temas coletivos, em nossa interpretação, será visto quase como uma obrigação. Isso porque quem não é formador de opinião se destaca menos, e não ter uma opinião sobre temas de tamanha relevância faz com que a pessoa esteja fora dos acontecimentos mundialmente importantes.


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A indignação e revolta que acontece nas cidades hoje, envolvem inúmeras questões mas, principalmente, envolvem a crítica ao controle privado de governos sobre nossos espaços públicos, o que reduz gradativamente a nossa qualidade de vida. A Revista Trip trouxe em abril deste ano o tema do “O Novo Ativismo”, relatando diversas manifestações que começaram virtuais e depois foram para as ruas. No contexto da publicação da revista ainda não se esperava as manifestações acontecidas em Junho do mesmo ano, relacionadas ao aumento das tarifas de ônibus, e que levaram 1 milhão de pessoas para as ruas em todo o Brasil. Um exemplo que a Revista Time trás em 2011 foi eleger como personalidade do ano uma pessoa mascarada, com título de O Protestante, presente na Primavera Árabe ao Ocuppy do Wall Street. Naquele período, manifestações aconteciam simultaneamente em vários lugares do mundo, todos com indignações em comum. Este ano, no dia 27 de maio, um grupo de manifestantes pacíficos tentou evitar a demolição do Parque Taksim Gezi, na Turquia, para a construção de um shopping center. A permanência destes manifestantes por mais de um mês na praça daquele parque demonstra que espaços públicos são importantes para a população de uma cidade, e que uma parte do povo está cansada de ser subserviente e passiva em relação ao poder do Estado. Portanto, acreditamos que plataformas de crowdfunding são uma solução pacífica para a articulação de cidadãos a fim de solucionar parte dos problemas públicos. Acreditamos ainda que cada vez mais pessoas vão procurar participar destas chamadas colaborativas para ocupação e manutenção dos espaços públicos e sociais.


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