Da Diáspora

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nao da decodificacao. For que ele esta la? Bern, esta la porque nao quero um modelo de circuito que exclua a ideia de poder. Nao quero um modelo determinista, mas nao quero um modelo sem determinacao. For conseguinte, nao creio que as audiencias ocupem as mesmas posicoes de poder daqueles que dao significado ao mundo para elas.^Leitura preferencial £_simpiesmente urn modo de dizer que, se voce "3et6m o controle^cjos aparatos de sjgnjficagagjdo mundo_.edo controle dos meios de comunicacao^entao^voce escreve os textos — ate certo ponto, ajeitura_.pi:efexericiai tem uma forma determmante. As decodificacoes que voce faz se dao dentro do universe da codificacao. Um tenta englobar o outro. A transparencia entre o momento da codificacao e a decodificacao e o que eu chamaria de momento da hegemonia. Ser perfeitamente hegemononico e fazer com que cada significado que voce quer comunicar seja compreendido pela audiencia somente daquela maneira pretendida. Trata-se de um tipo de sonho de poder — nenhum chuvisco na tela, apenas a audiencia totalmente passiva. Ora, o problema para mim e que nao creio que a mensagem tenha somente urn significado. For isso, desejo apostar em uma nocao de poder e de estruturacao no momento de codificacao que todavia nao apague todos os outros possiveis sentidos. Tudo o que quero dizer e que uma afirmacao da BBC sobre a Guerra das Malvinas nao e inteiramente aberta. Ela quer que voce leia essa mensagem de uma forma determinada. O elemento da leitura preferencial se situa no ponto onde o poder atravessa o discurso, esta dentro e fora da mensagem. Assim, nao se pode dizer que eles sao poderosos so porque controlam os meios de producao; eles tentam se infiltrar dentro da propria mensagem, para nos dar uma pista: "leia-me desta forma". Isso e o que quero dizer comjeitura^refergncial. Trata-se de urr^Jaojativa dejTjggernpnizar a audiencia que nunca e^Htef" rarn£nt^efic^ze,usualmente, nao o e_. For que? Porque a BBC nao consegue center todas as leituras possiveis do texto. O proprio texto que codifica escapa de suas maos. • Sempre se consegue le-Io de uma outra forma. Logo, uma leitura preferencial nunca € completamente bem-sucedida: e apenas o exercicio do poder na tentativa de , hegemonizar a leitura da audiencia. Isso e tudo o que ela e. 366

So nao quero sugerir que o texto e infinitamente aberto, sem elementos internes. Deixem-me tomar um texto que nao provem da midia, os textos muito complexes de uma peca de Shakespeare. Nos sabemos, hoje, 300 ou 400 anos depois, que uma peca desse autor pode ser produzida e lida da forma que se quiser. Existem centenas de leituras de Rei Lear. Entretanto, Shakespeare nao estaria satisfeito com isso. Shakespeare quer que voce veja Lear de um modo particular; ele quer fazer com que voce nao consiga ler essa peca de outra forma; voce tem de ver Lear como o pai assediado. Se voce escolhe le-lo como um velho estupido, que nao tolera o fato de suas filhas trazerem muita gente para dentro de casa, essa e uma leitura aberrante. Shakespeare nao quer que voce o leia desse jeito. Portanto, penso que nao somente existe uma vontade de poder na pratica de significacao, de codificacao, mas creio que 6 possivel ver esses elementos alojados no proprio texto. Sutjhatty. Nesse sentido, voce diz que a leitura preferencial e a intencao do produtor no local da codificacao? Stuart Hall. Nao quero reduzir tudo isso a intencao do pxodutoi,__^orgue_aa_BBC o produtor e constrangido pelo ccontexto institacj^jil^^ Justin Lewis: Obviamente, como voce diz, os programas de televisao nao sao como o "grao" que Roland Barthes descreve no comeco de S/Z: um grao que, com sua ambigiiidade fisica, pode, em ultima instancia, significar o mundo todo. Os programas contem sentidos preferenciais, formados pelas estruturas de poder; e, invariavelmente, dentro das instituicoes de comunicacao, essas estruturas de poder estao relacionadas com os significados dominantes dentro da sociedade. Nao obstante, como e que essa concepcao de sentido preferencial funciona para textos que nao trabalham dentro desse sistema de significados dominantes mas, sim, contra ele? Como funcionam as mensagens da televisao que tem uma leitura preferencial, do ponto de vista textual, que se opoe a um sentido preferencial dominante, na sociedade como um todo? Como esse tipo de mensagem trabalha em termos do modelo? Parece-me, tambem, que isso tem conseqiiencias em termos das tres respostas: a dominante, a de oposicao ou contestataria e a negociada. 367


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