Fernando Cunha Krum - Práticas transversais em artemídia: uma análise da colaboração...

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2. MULTI, INTER, TRANSDISCIPLINARIDADE E SEUS DESDOBRAMENTOS EM ARTEMÍDIA O presente capítulo analisará as definições de multi, inter e transdisciplinaridade e suas relações com o contexto das produções coletivas em artemídia. Com a disseminação atual do conhecimento através das interconexões possíveis das redes de comunicação, estas práticas encontraram uma via livre para progressão, dando início a novas experimentações de criação coletiva. Associada a estas práticas, abordaremos a ideia dos hacklabs, medialabs e hackerspaces como espaços para encontros livre-associativos, nos quais troca-se conhecimento, principalmente, em torno da tecnologia, linguagens de programação, ciência e arte digital, mas, também, com relação à utilização do espaço público, meio-ambiente e políticas públicas. Estes espaços constituem ambientes de permutas multidisciplinares desde sua gênese, quando os envolvidos nas atividades colaboram voluntariamente, assumindo, muitas vezes, a própria manutenção destes espaços. 2.1 Identificando os prefixos multi, inter e trans nas disciplinas Antes de chegarmos aos conceitos de multi, inter e trans relacionados às disciplinas, é importante traçarmos um breve histórico da evolução do conhecimento até sua estratificação em áreas com a multiplicação das especialidades separadas em disciplinas de fato. Conforme aponta o filósofo brasileiro Ivan Domingues, na introdução de seu livro “Conhecimento e transdisciplinaridade II: aspectos metodológicos” (2005), na Antiguidade, o conhecimento era único, enciclopédico, numa época em que a quantidade de livros existente chegava a algumas centenas de exemplares somente. O intelectual de então era representado por Aristóteles que “dominava virtualmente todo o saber de sua época” (DOMINGUES, 2005, p. 27), quando ele próprio era dono da maior biblioteca existente naquele período. Deve-se notar aqui que o autor adota uma perspectiva ocidental, eurocêntrica, que descarta qualquer outro conhecimento não ortodoxo, como aquele repassado através da oralidade, por exemplo. O conhecimento estava armazenado em um montante palpável e humanamente “digerível” por uma única pessoa. Aristóteles, já nessa época, empregava uma organização do


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