Feneis Revista 35

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ESPAÇO ACADÊMICO

A COMPLEMENTARIDADE DOS GESTOS NAS LÍNGUAS DE SINAIS Rosemeri Bernieri de Souza Correa

interesse pelo estudo dos gestos tem início ainda na antigüidade românica quando Quintiliano os estudava como articuladores performáticos adicionais à prática da retórica (Fuselier-Souza, 2004; McNeill, 2000). Segundo Rector e Trinta (1985, p. 28), um dos primeiros estudos sobre a linguagem dos gestos – realizado em 1870 por W. Wundt – conserva o dualismo ou a separação entre gesto (símbolo) e idéia, assim como entre processo sensório e conteúdo psíquico. Em 1941, Efron estudou os gestos espontâneos que ocorriam com discurso, mas, segundo McNeill, (2000 pp. 8-9), os gestos, como objeto de estudo, tiveram investigação vigorosa somente a partir de Kendon em 1972. Desde o remoto início, privilegiou-se o estudo dos gestos na interação humana usados nos discursos das línguas orais. Atualmente, os estudos dos gestos têm ampliado seu escopo a partir das pesquisas das Línguas de Sinais, iniciadas há mais ou menos quarenta anos por Stokoe. Se Eco (1978) está correto quando diz que signo é tudo aquilo quanto possa ser assumido como um substituto significante de outra coisa qualquer, defendemos que os gestos são signos, pois carregam em si valores semânticos capazes de trazer significação, sejam eles dependentes do contexto narrativo, sejam eles componentes lingüísticos. Se um processo de significação só se verifica na existência de um código enquanto sistema de significação que une entidades presentes e entidades ausentes, nossa análise confirmou que o sistema gestual é um código que permite

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a correlação entre significado e significante. Os signos modificam-se e entrecruzam-se para veicular a comunicação.

Estudos Cinésicos Para classificar a modalidade das línguas de sinais, foi utilizado o termo cinésico-visual. O emprego desse termo é justificado pela possibilidade de descrever todos os níveis envolvidos na recepção, canal e produção, na simultaneidade de sua realização. Assim, para abranger o modo de produção dos elementos lingüísticos das LSs ou dos elementos do sistema gestual, pareceu coerente adotar a abordagem dos estudos cinésicos que, segundo Eco (1976), é entendido como o estudo dos gestos e dos movimentos corporais de valor significante convencional. Poyatos (1977) define a cinésica mais detalhadamente como “o estudo sistemático de movimentos corporais baseados psicomuscularmente e/ou as suas posições resultantes, quer aprendidas ou somatogênicas, de percepção visual, visual-acústica e táctil ou cinestésica que, isolados ou combinados com as estruturas lingüístico-paralingüísticas e com o contexto situacional, possuem valor comunicativo, seja consciente ou inconscientemente.” (Rector; Trinta, 1985 p. 56). Os estudos sobre cinésica foram iniciados em 1952, por Birdwhistell. Essa data marcou o começo de uma série de pesquisas sistemáticas dos gestos corporais, como uma ciência que trata dos aspectos comunicativos do comportamento aprendido e estruturado do corpo em movimento.


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