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Juízes e Judiciário: História, Casos, Vidas
a defesa do oficial judeu, assinalando o que mais tarde seria comprovado: Dreyfus estava sendo condenado por ser judeu num país em que o antissemitismo estava florescendo. Seu artigo foi publicado no Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro. O próprio Dreyfus, em suas Memórias denominadas “Cinco Anos de Minha Vida”14, refere ter recebido uma carta de Ruy, em maio de 1900, com seu artigo traduzido para o francês. Afirma ainda na obra citada, que Ruy foi a primeira voz a levantarse no mundo em seu favor, e chama-o de o “grande estadista brasileiro”. Na verdade, outros em França já o haviam defendido, mas o que se ressalta na defesa de Rui foi que ele redigiu o documento morando em Londres e apenas com base em jornais ingleses e franceses, estes últimos sabidamente contra Dreyfus. Rui dizia em seu artigo: “Não me cabe descrever a cerimônia atroz da degradação militar, prelúdio feroz da expiação sobrehumana que se abriu ontem para o malfadado”15. Sobre o julgamento: “Este homem estava condenado pela intuição geral dos seus compatriotas, antes de sê-lo pelo tribunal secreto que o julgou” 16. Disse mais: “Dificilmente se conceberia, ainda em tribunais civis, o vigor de ânimo preciso, para julgar com calma, em França, a causa de um francês suspeito de pactuar com os alemães. Que não será, nos tribunais militares, em pleito de antemão sentenciado pela “opinião pública”, e tratando-se, por cúmulo, de um acusado, em cujas veias circula sangue judaico”? 17 14
Ver Diários Completos do Capitão Dreyfus, org. e apr. Alberto Dines. Trad. Bernardo Ajzemberg. Rio: Edit IMAGO, 1995, p. 280.
15
Zola, Émile/ Barbosa, Rui. Eu Acuso! O Processo do Capitão Dreyfus. Org. e Trad. Ricardo Lísias. SP: Hedra, 2007, p. 58. 16
Idem , p. 74.
17
Idem, p. 76.