Juízes e Judiciário: História, Casos, Vidas

Page 102

102

Juízes e Judiciário: História, Casos, Vidas

nem qual um urubu parou naquela porta do outro lado da fila onde eu estava aguardando a mocinha do Cartório e começou a gritar: - Ribamar... Ribamar... Eu ouvi a primeira e a segunda. Na terceira eu pensei: - ué, meu nome é esse, será que é comigo? Aí eu vim na porta para perguntar se era comigo. Fiz a pergunta e vosmicê foi logo me ordenando que eu tirasse o chapéu, sentasse, ficasse calado, e ainda brigou comigo por que eu atrasava a senhora. Aí a doutora juíza leu umas coisas esquisitas sobre a empresa dos homens que fazem buraco na terra. O moço aí do lado disse que eu trabalhei pouco lá, e eu ia dizer que nunca abandonei o mar para furar buraco na terra, mas fiquei com medo da senhora. Aliás, sou pescador desde criancinha, mas como eu aprendi que a gente não interrompe quem usa saia - padre, juiz e mulher - e a senhora é os dois, eu fiquei calado. Depois de a senhora dizer umas coisas aí, me perguntou se eu queria cem para ir embora. Aí eu fiquei pensando se aceitava ou não, pois o dinheiro não devia ser para mim, mas a senhora deu um berro e perguntou novamente: Quer cem para ir embora? Aí eu disse que queria, e fiz até rápido, pois a doutora ameaçou me prender se eu falasse novamente. Aí eu voltei para a fila do cartório, até este urubu ir lá me pegar e me trazer carregado com esse meganha com cara de cachorro brabo. Não fiz nada de errado, né? Foi a única vez que o auditório ouviu a voz do Promotor. Na verdade, nem mesmo a voz, mas uma irretorquível e sonora gargalhada!


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.