Vox 69

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CHARME INTERIORANO - APÓS ANOS DE LUTA, ENFIM, BAIRRO DE SANTA TEREZA É TOMBADO

Abril/15 • Edição 69 • Ano VII • Distribuição gratuita

PESSACH A páscoa judaica em Belo Horizonte

Padrão alimentar

ativismo político?

As concepções ideológicas de quem milita cotidianamente pela causa animal


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oZ


EDITORIAL Não há mais tempo para novos erros Na visita que fez ao Senado para defender o ajuste fiscal, o ministro da economia, Joaquim Levy, expôs com clareza e simplicidade a situação em que estão as contas do país. Levy, que se tornou de longe a voz mais equilibrada e sensata do atual governo, deixou claro que não temos mais tempo para erros nem aventuras ideológicas “progressistas”, como as que marcaram o primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)

O dinheiro acabou. O contexto mundial mudou. As regras internacionais e a riqueza são diferentes a cada década. Ao contrário de nos adaptar e nos modernizar para os desafios que as futuras gerações vão enfrentar, nós nos acomodamos a uma mentalidade ‘terceiro-mundista’ de fazer política e culpar sempre um “inimigo invisível” que ameaça nossa soberania. A fala de Joaquim Levy para os senadores mostrou que a presidente Dilma percebeu os sinais de perigo. É urgente reconstruir o caminho da credibilidade internacional. Precisamos mostrar ao mundo que somos capazes de perceber erros e tomar decisões acertadas. Expressando os mesmos sentimentos de urgência e ansiedade vividos por milhões de pessoas que acompanham diariamente as notícias, o ministro deixou claro que o caminho não é fácil. Exige sacrifício de todos, inclusive perda na qualidade de vida dos brasileiros. Esse é um preço que não teríamos de pagar, se tivéssemos aprendido com o passado e, ao que tudo indica, não será suficiente para convencer algumas alas internas do PT. Mesmo com todo o desagaste na imagem do partido diante dos eleitores, são muitos os militantes que defendem o retrocesso do populismo estatal e do controle da mídia. O momento ruim do Brasil é resultado, única e exclusivamente, de nossas escolhas ruins. Optamos por políticas econômicas que representam ideais de esquerda, sobreviventes apenas nas universidades, mas vencidos pela história dos povos.

A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060

Se não aprendermos com o momento delicado que vivemos, na próxima campanha eleitoral à presidência, podemos colocar mais uma vez tudo a perder. De pouco adiantará o aumento na carga tributária e os ajustes neoliberais, se, ao final, não praticarmos a responsabilidade fiscal e a política sem exceções. Precisamos resgatar a noção de responsabilidade em governar. Os índices nos mostram que já perdemos oito preciosos anos de desenvolvimento. Será melhor para todos que não coloquemos mais uma década em risco.

Editor adjunto: André Martins l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Shutterstock l Reportagem: André Martins, Bárbara Caldeira, Haydêe Sant’Ana, Tati Barros, Thalvanes Guimarães, Wander Veroni | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 25140990 | Revisão: Versão Final Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br

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OLHAR BH

Prenúncio das águas Foto: Felipe Pereira

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SUMÁRIO 8

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Felipe Pereira

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Weber Pádua

Ricardo Barros

VERBO

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HENRIQUE PORTUGAL Tecladista do Skank rememora história repleta de canções com temáticas sociais

SALUTARIS

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METROPOLIS

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SALVE SANTÊ

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A VOZ DO POVO

Depois de 20 anos de luta, bairro Santa Tereza é oficialmente preservado O que as recentes manifestações no país simbolizam para a jovem democracia brasileira?

MUDANÇA DE HÁBITO A ideologia por trás das escolhas alimentares de vegetarianos e veganos

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Pesquisadores americanos desenvolvem molécula capaz de bloquear vírus da Aids

HORIZONTES

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MAMMA MIA! Conheça os melhores lugares para comer bem na capital da Toscana, Florença

PODIUM

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CAPA

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ESPERANÇA

LIBERTADORES As ambições de Atlético e Cruzeiro no maior torneio de futebol das Américas

ARTERIS

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PRECIOSISMO MINEIRO Trabalhos manuais ganham as ruas


Reprodução

Vinnicius Silva

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24

Tatá Barreto

Reprodução

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Cidade Olimpica/Divulgação

KULTUR

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TRADIÇÃO A celebração do Pessach, a páscoa judaica, na capital mineira

DOIS DIAS, UMA NOITE Irmãos Dardenne pintam quadro humano sobre a crise econômica no bloco europeu com filme estrelado por Marion Cotillard

BOICOTE ”Babilônia” estreia levantando temas polêmicos, sofrendo boicote e sendo alvo de análises por parte do público nas redes sociais

ARTIGOS

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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira Lojistas são lesados pelos shoppings

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JUSTIÇA • Robson Sávio A mídia e a (de)formação da opinião pública

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METEOROLOGIA • Ruibran dos Reis

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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci

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O outono em Minas

Jogando junto

CRÔNICA • Joanita Gontijo Racionamento de mágoas

GASTRONOMIA

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RECEITA – Chef Carlos Pita

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VINHOS – Diocélio Goulart

Lombo de bacalhau a Vinces Vinho e os benefícios para a saúde

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VERBO

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VERBO

Engajamento musical Henrique Portugal relembra início da trajetória do Skank e comenta a razão de política e crítica social serem temas recorrentes nas composições do grupo André Martins Fotos de Weber Pádua

p

or volta de 1991, um som diferente começou a ecoar da capital mineira. O surgimento do Skank de Samuel Rosa, Henrique Portugal, Lelo Zaneti e Haroldo Ferretti pode ser considerado um ‘evento’ musical, comparado apenas ao nascimento do Clube da Esquina e da banda 14 Bis nas décadas de 60 e 70. Desde o primeiro disco da banda, “Skank” (1993), ficou a impressão de que não havia grupo que tratasse dessa variedade de elementos. O mesmo álbum falava de amor, cotidiano, futebol e política. Tudo envolto pelo dancehall jamaicano. De tão diversa, a combinação acabou por conquistar o país. Assim o Skank foi se estabelecendo como uma das bandas mais populares do Brasil. Depois de “Skank”, seguiram-se 11 discos, além de trabalhos especiais, como “Rock in Rio Ao Vivo - Skank” (2011) e “Multishow Ao Vivo - Skank no Mineirão” (2010). Muitas faixas desses trabalhos compuseram trilhas de novelas e embalaram e continuam a dar o tom à vida de muita gente. Em entrevista à Vox Objetiva, o tecladista do Skank, Henrique Portugal, fala um pouco sobre a história do grupo e analisa “Velocia”, CD que refaz a trajetória de sucesso do grupo. O músico comenta também sobre o engajamento político nas canções da banda, algo que se destaca na maioria dos CDs do Skank. Quando atingem o sucesso, artistas que não são do eixo Rio - São Paulo tendem a se estabelecer nessas

cidades, onde a cultura pulsa com mais intensidade. O Skank chama a atenção por ir na contramão dessa tendência. O que Belo Horizonte tem que cidades como Rio e Sampa não têm? Belo Horizonte fica quase na mesma distância do Rio e de São Paulo. Isso facilitou muito não mudarmos de Beagá. Mas o que contribuiu mesmo foi o fato de que tocávamos pelo estado de Minas e conseguíamos viver de música antes de termos um reconhecimento nacional. O Skank nasce a partir do encontro entre o Henrique Portugal e o Samuel Rosa, lá no início da década de 80. Mas a história de amizade de vocês começa mesmo quando e em quais circunstâncias? Fui apresentado ao Samuel por um amigo em comum. Acabei entrando para a banda que eu e ele fazíamos parte por saber tocar músicas dos Beatles. Mas faz muito tempo. Qual era o momento da música mineira naquele tempo? Existia um respeito muito grande pelo Clube da Esquina e pelo 14 Bis. Mas a distância entre o que eles faziam e o que pensávamos era muito grande. Durante muito tempo, a música em Belo Horizonte esteve atrelada (ainda está, mas hoje menos) ao Clube da Esquina - um marco na

história da MPB. Vocês foram beneficiados com a “fama” de a cidade ter revelado o Clube da Esquina ou prejudicados pela possibilidade de serem comparados e terem que corresponder a expectativas, digamos, tão elevadas por parte da crítica? Na verdade nunca fomos comparados pelo fato de o estilo ser muito diferente. Mas existiu um hiato muito grande entre a época do Clube da Esquina até o aparecimento do Skank. A sofisticação harmônica deles pode ser escutada em algumas parcerias do Samuel com o Lô Borges, como em “Resposta” e “Dois Rios”. No início de sua carreira, você chegou a tocar na banda Sepultura. Comparada à Pouso Alto (banda precursora do Skank) e ao Skank, é outra pegada: o rock. Como foi essa transição? Foram apenas participações em álbuns. Era a necessidade do mercado independente em que uma banda ajudava a outra. O Max Cavalera bateu à porta da minha casa e perguntou se eu não poderia gravar uns teclados no álbum “Schizofrenia”. Depois acabei participando de mais dois álbuns. O Skank começou sua história com forte inspiração na música jamaicana. Esse estilo foi sofrendo mutações e se aproximando do rock. “Velocia”, o mais recente trabalho da banda, é o mais plu|9


VERBO ral de vocês em relação a sonoridades e temáticas?

Você acha que falta engajamento político na música brasileira?

O “Velocia” talvez seja uma síntese de várias referências que são verdades pra nós e fizeram parte de outros álbuns da nossa carreira. Isso tudo foi acontecendo de forma natural. Não pensamos antes de gravar o que deveríamos fazer ou misturar.

Só existe engajamento na música se o povo estiver engajado em alguma coisa. Tivemos uma geração recente em que a última coisa com que ela se preocupava era com política. As preocupações eram outras. A consequência desse distanciamento, estamos vendo agora. Político só se preocupa com o povo se for cobrado. Mas acho que agora a população está mais atenta.

O que se tem dito a respeito de “Velocia” é que o CD é capaz de resgatar a história desses 24 anos de banda. Você concorda? O disco é uma colcha de retalhos que conta a história do conjunto? O álbum é a síntese das referências, mas não considero uma colcha de retalhos. Todas as misturas fazem sentido dentro do contexto de músicos que começaram tocando música jamaicana, que se desenvolveu na Inglaterra, sendo influenciados por culturas regionais brasileiras. Além das baladas românticas, “Velocia” tem uma característica bem marcante da banda, que é o engajamento político. Vocês nunca se eximiram de mostrar isso em algumas músicas... É verdade. Em vários álbuns do Skank existem músicas com temas sociais.“Sem-Terra”,“Rebelião”, “Multidão”, “Indignação” sempre mostraram a nossa visão sobre os problemas que aconteceram ou acontecem com o povo brasileiro. Nós fazemos a nossa parte, que é transformar a nossa visão sobre esses momentos em música. Acredito que no Brasil estejamos num momento de transição em que os valores morais estejam sendo questionados. Isso não muda de uma hora pra outra. Não chegamos a este momento de um dia para o outro nem sairemos dele rapidamente. Temos é que voltar a pensar politicamente para que as nossas escolhas realmente façam sentido. 10 | www.voxobjetiva.com.br

O Skank teve um hiato de seis anos de “Estandarte” a “Velocia”. Claro que o grupo não ficou inativo ao longo desse tempo. “Velocia” foi um álbum muito aguardado. Os fãs devem esperar novamente quatro ou seis anos pelo próximo projeto ou vocês já estão trabalhando com outro disco? No momento, estamos trabalhando na trilha do novo espetáculo de dança do Grupo Corpo. É a última experiência nova, muito sedutora e trabalhosa. Estamos adorando. Deve ficar pronta no final deste primeiro semestre.

Não chegamos a este momento de um dia para o outro e não sairemos dele rapidamente. Temos que voltar a pensar politicamente para que as nossas escolhas realmente façam sentido

Henrique Portugal, tecladista


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ARTIGO

Kênio Pereira Imobiliário

Lojistas são lesados pelos shoppings Pelo visto, os donos de shopping centers não têm sentido a inflação. Pelo contrário. Eles têm ficado mais ricos. Conforme pesquisa da Associação dos Lojistas de Shopping Centers de Minas Gerais, o custo do condomínio cobrado dos lojistas aumentou até 104% entre 2009 e 2014. O percentual corresponde a três vezes o índice da inflação (IPCA), que foi de 33,67%. O aumento foi de 72% no Pátio Savassi, enquanto no Diamond Mall foi de 64,71%. Em alguns casos, esse rateio tem gerado lucro. Por falta de conhecimento, os lojistas não sabem que estão pagando despesas de forma ilegal. Muitos acabam não suportando a cobrança e entregam a loja, perdendo os investimentos feitos e as luvas que pagaram.

pela melhoria do patrimônio do empreendedor, o qual se enriquece à custa dos lojistas. Essa situação implica enriquecimento sem causa, como ficou comprovado numa perícia judicial realizada há poucos anos em um shopping, em uma região nobre de BH. Lojistas teriam pagado mais de R$30 milhões em “despesas estranhas” de condomínio, dentre elas, tapetes persas e um automóvel doado ao gerente do shopping.

“Por falta de conhecimento, os lojistas não sabem que estão pagando despesas de forma ilegal”

Nos shoppings existe uma grande rotatividade nas lojas por causa de taxas indevidas cobradas com reformas, trocas de pisos, de decoração e de paisagismo. A Lei do Inquilinato determina que essas despesas devem ser pagas pelo proprietário. Dessa forma, é ilegal a cobrança de pintura de fachadas, instalação de equipamentos, salários e indenizações trabalhistas dos empregados em período em que o lojista não ocupava o shopping, dentre outras.

A falta de respeito à Lei não tem limite. Além de cobrar as despesas citadas, alguns shoppings acrescentam aos gastos com obras o percentual de 20% a título de “taxa de administração”. Em muitos casos, os inquilinos pagam

A lei prevê que quaisquer valores que componham o rateio de despesas do condomínio devam ser previstos em orçamento e comprovados pelo shop-ping. E o mall deve prestar contas a cada 60 dias. Sem a prévia comprovação, não pode ser cobrada, mas os lojistas mal-assessorados juridicamente desconhecem esse direito.

Os reajustes aplicados pelos shop-pings de forma exagerada decorrem da postura ingênua dos lojistas, que ignoram seus direitos, pois a lei lhes oferece meios para coibir cobranças irregulares. Muitas dessas cobranças têm origem em obras que valorizam e agregam somente o patrimônio dos proprietários desses centros de compras.

Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br | 13


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METROPOLIS

Eterno Santê Após anos de luta pela preservação do bairro, 288 imóveis de Santa Tereza passam a ser protegidos e considerados patrimônios do município Haydêe Sant’Ana Fotos de Felipe Pereira

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le está localizado em uma das capitais mais jovens e modernas do Brasil, mas os ares são de uma típica e pacata cidade do Interior de Minas. No dia 12 de março, o tradicional bairro de Santa Tereza, situado na Região Leste, finalmente foi declarado Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte. O Conselho Deliberativo do Município fez um estudo sobre as características do bairro e decidiu pelo tombamento de 288 imóveis. A Praça Duque de Caxias, uma das principais praças do bairro, palco de muitos eventos, foi tombada, assim como muitos outros imóveis, como a Igreja de Santa Tereza e o Mercado Distrital. Por ser um bairro essencialmente residencial, a maioria dos bens protegidos são casas e sobrados históricos. Além do tombamento, alguns bens culturais foram indicados para o registro documental. A luta pela preservação do bairro começou ainda nos anos 90, com a criação do movimento “Salve Santa Tereza”, idealizado pelos próprios moradores, em 1996. O movimento defendia a aprovação da Lei de Criação da Área de Diretrizes Especiais (ADE) de Santa Tereza. A ADE define parâmetros específicos para a ocupação e o uso do solo urbano. O objetivo era a preservação das características e da paisagem re-

sidencial do bairro. No último ano, o movimento do bairro começou a se rearticular diante de medidas de intervenções pretendidas pela prefeitura, como a abertura da Rua Conselheiro Rocha, a implantação da escola automotiva do Sistema Federação das In-

Desde o início, a reivindicação era a de não permitir que casas e imóveis das décadas de 20, 30 e 40 se perdessem Luís Góes, jornalista

dústrias de Minas Gerais (Sistema Fiemg) no espaço do antigo Mercado Distrital e a Operação Urbana Consorciada Nova BH. A abertura da Rua Conselheiro Rocha, entre a Avenida Silviano Brandão e a Contorno, visa

a criação de uma grande via ligando os bairros da Região Leste. Já o projeto Nova BH, propõe reestruturar cerca de 25 quilômetros quadrados ao longo das avenidas Antônio Carlos, Pedro I, dos Andradas, Tereza Cristina e da Via Expressa, alterando o trânsito e afetando consideravelmente a vida dos moradores do bairro Santa Tereza. Presidente da Associação de Amigos do Bairro de Santa Tereza, Luís Góes explica que o movimento do bairro estava adormecido após a conquista da ADE. “Isso aconteceu porque tínhamos alcançado o nosso objetivo. Mas aquela antiga turma mudou, outro grupo assumiu e mobilizou o abaixo-assinado pedindo o tombamento do bairro”, relembra. O abaixo-assinado teve a assinatura de 3 mil famílias que deram a prefeitura o aval para o tombamento. Os estudos tiveram início em 2008, mas há muitos anos os moradores aguardavam uma medida de proteção. Por ser um bairro de características interioranas, com casas e imóveis que datam das décadas de 20, 30 e 40, Santê, como é carinhosamente chamado por seus moradores, encanta por ser um espaço único no conturbado cenário urbano da capital. A artista plástica e ceramista Erli Fantini é moradora do bairro há 20 anos. Ela conta que decidiu mudar para o bair| 15


METROPOLIS

ro devido às características e peculiaridades do espaço. “O bairro sempre me atraiu muito. Parece interiorano, as casas, o jeito de ele se conformar. Eu saí do bairro Santo Antônio e vim para cá”. Morador do bairro há 68 anos e profundo conhecedor e pesquisador da história do local, Luís Góes acredita que a construção do bairro data da inauguração da cidade. “Pelo meu levantamento, Santa Tereza seria um ou dois anos mais novo que Belo Horizonte. Calculo que o bairro tenha 117, 116 anos, já que BH vai completar 118 anos em 2015”, especula. Com ocupação inicial de origem italiana, Santa Tereza tem casas e imóveis com caracte16 | www.voxobjetiva.com.br

rísticas e estilos arquitetônicos variados, como art déco, art nouveau, entre outros. Para Góes, a importância do tombamento está na preservação da história e da arquitetura local. “A indicação de tombamento de 288 imóveis vem coroar esse processo de 20 anos que sempre objetivou a preservação do bairro. Desde o início, a reivindicação era a de não permitir que casas e imóveis das décadas de 20, 30 e 40 se perdessem”, ressalta. O presidente da Fundação Municipal de Cultura, Leônidas Oliveira, lembra que o tombamento representa a consolidação do movimento iniciado pelos moradores: o Salve Santa Tereza. “A proteção por tombamento é uma medida complementar à

proteção já estabelecida pela ADE Santa Tereza. Trata-se de um instrumento para a preservação da memória da ocupação do bairro por meio da proteção das edificações e do estabelecimento de diretrizes que garantam a fruição da ambiência local”, aponta. Com o tombamento, os proprietários dos imóveis devem seguir as diretrizes para mudanças determinadas pelo Conselho do Município. Oliveira esclarece que os projetos de intervenção devem considerar alguns parâmetros, como “a utilização de gradis que permitam a permeabilidade visual da edificação e preceitos especiais para os afastamentos laterais e de fundos”, explica. Ele afirma também que mantém uma


METROPOLIS equipe técnica para orientar os moradores sobre as alterações permitidas nos imóveis. Um dos benefícios para os moradores que tiveram os imóveis tombados é a isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o apoio das leis de incentivo para a realização de reformas. Moradora da rua Quimberlita, Erli teve a casa em que mora tombada. Mesmo com os incentivos, ela não pretende reformar o espaço, apenas ga-

rantir a manutenção. “Ajustes são necessários. Sempre preciso fazer alguma coisa. A minha casa é muito antiga. Só fiz algumas alterações na parte de baixo. O segundo piso é fiel ao que o antigo dono deixou. Eu sempre gostei de valorizar a época de cada coisa”, revela. Em processos de tombamento, é comum que imóveis sofram desvalorização. Mas no caso de Santa Tereza, a história será diferente. É o que garante Oliveira.

Esse processo tende a valorizar o bairro porque passa a ser mais difícil construir aqui Erli Fantini, artista plástica

“Os estudos que fundamentaram a proteção do bairro Santa Tereza indicam que as características do bairro propiciaram uma valorização dos imóveis na região. A proteção do bairro vai ao encontro da manutenção dessas características e, nesse sentido, não se vislumbra um processo de desvalorização advindo do processo de proteção”, enfatiza. A opinião de Oliveira corrobora a de Erli. Para a artista plástica, o bairro tende a se tornar ainda mais valorizado com a oficialização do tombamento. “Esse processo tende a valorizar o bairro porque passa a ser mais difícil construir aqui. O pouco espaço disponível vai passar a ser mais disputado”, observa. A mistura da boemia noturna com a paz e a tranquilidade de uma vila interiorana durante o dia continua sendo o grande charme que atrai turistas e cidadãos belo-horizontinos para o Santa Tereza. A qualidade de vida proporcionada pela estrutura que o bairro oferece leva quem vive em Santê a querer se manter no bairro. “Saber onde vivo, perto de quem, manter essas árvores, essas praças,... isso para mim é muito importante”, arremata Erli. | 17


ARTIGO

Robson Sávio Justiça

A mídia e a (de)formação da opinião pública Observamos um enorme esforço da mídia para transformar a opinião publicada em opinião pública. Os meios de comunicação de massa, que representam os interesses de grupos de elite com imenso poder na sociedade da informação, pretendem que uma visão de mundo prevaleça em detrimento de consensos sociais. À medida que o poder econômico exerce um domínio sobre a mídia, presenciamos uma incestuosa relação na comunicação. Parte do jornalismo submetido às conveniências do grande capital, conformado com os interesses dos oligopólios midiáticos, determina o que será pautado e o que será publicado. É melhor dizer ‘o que será publicizado’ - dado que o jornalismo transforma-se ora em mercadoria, ora em produto de entretenimento.

“Não se contente com pouco; não se deixe manipular; diversifique suas fontes de informação”

Assim, parte da cobertura jornalística dos veículos tornou-se um espetáculo, muitas vezes, grotesco. E esse show é vendido de forma sensacionalista para o deleite do cidadão consumidor.

As redes de comunicação, as agências noticiosas e os conglomerados da imprensa determinam o que será divulgado e sob qual ótica os fatos serão apresentados à opinião pública. Denunciam veementemente qualquer tipo de censura, mas, paradoxalmente, praticam-na nos produtos midiáticos ao publicarem somente o que lhes interessa. Assim eles eliminam as vozes que tentam ecoar na sociedade. 18 | www.voxobjetiva.com.br

O preconceito, a luta pela igualdade racial, a discriminação religiosa e sexual e outros dilemas sociais geralmente não estão em pauta na mídia. Por outro lado, a superexposição midiática de vários tipos de crimes associada a preconceitos, sentimentos de vingança e desinformação acerca dos fenômenos da violência provocam uma banalização dos valores humanos. A TV é o meio de comunicação com maior alcance social. E as emissoras funcionam por meio de concessões públicas, com obrigação constitucional de priorizar a informação, a cultura, as artes, a educação e os direitos humanos. Mesmo assim, a maioria dos canais ignora esses temas.

É preciso conhecer a história da imprensa, os mecanismos, as relações e os jogos de interesses que permeiam a comunicação para, dessa forma, desenvolvermos um senso crítico diante da mídia. Também é importante conhecer os agentes que dominam a história e os interesses daqueles que detêm a imprensa. Afinal, a mídia não é neutra, e o que é veiculado, seja pela imprensa oficial, seja por outros meios de comunicação, está cercado por interesses dos produtores da informação e dos agentes políticos e econômicos.

Robson Sávio Reis Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br


METROPOLIS

Bala na agulha O Brasil volta a ser sacudido por manifestações. Especialistas analisam o poder dos atos de rua e o que eles representam para a democracia brasileira André Martins

Q

uase dois anos após as históricas manifestações de junho de 2013, as ruas brasileiras - em praticamente todas as capitais e grandes cidades do país - voltam a ser palco de atos que reuniram centenas de milhares de pessoas. Tão representativas e dignas de análises quanto às manifestações ocorridas ao longo da Copa das Confederações, os movimentos dos dias 13 e 15 de março de 2015 - assim como os programados para os dias 15 de abril e 1º de maio – representam marcos históricos como acontecimentos que significam um passo a mais para o aperfeiçoamento da jovem democracia brasileira. O ato político de manifestar é antigo. Desde a queda da monarquia, um grande contingente de brasileiros foi às ruas em atos de resistência, indignação e até mesmo comoção. Na história republicana brasileira, sobressaem a Revolta da Vacina, em 1904; as movimentações operárias, a partir da década de 20; o suicídio de Getúlio Vargas, que gerou grande comoção em 1954; e a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em 1964, ato que tinha a intenção de afastar uma suposta ameaça comunista do país. Ao longo

do período militar, jovens se opuseram ao regime. A Marcha dos 100 mil foi o ato popular mais representativo até o enrijecimento do sistema, com a decretação dos cinco Atos Institucionais da ditadura militar. Na primeira metade da década de 80, com o desgaste dos militares, as vozes populares romperam um silêncio imposto por 21 anos. Uma massa de brasileiros exige o direito de escolher representantes políticos por meio de eleições diretas: as “Diretas Já”. Outro grande evento que levou centenas de milhares às ruas foram os atos que pediam o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. Vinte anos depois, em 2013, os brasileiros foram às ruas e hastearam bandeiras diversas pedindo, dentre outras coisas, a redução das tarifas do transporte coletivo, a queda da PEC 37, mais saúde e educação e o combate irrestrito à corrupção. Além disso, expuseram o descontentamento com os vultosos gastos para a realização da Copa do Mundo. A existência de bandeiras muito bem definidas é justamente o que | 19


METROPOLIS opõe as manifestações de junho de 2013 e as de 2015. Os recentes atos populares têm o que os movimentos de dois anos atrás não tinham: pautas específicas. Promovidos pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), os atos do dia 13 de março defendiam a manutenção dos direitos trabalhistas, a Petrobras e o respeito às regras do jogo político - e a consequente manutenção da presidente Dilma Rousseff no poder. Já os atos do dia 15, orquestrados pelo Movimento Brasil Livre, pediam o fim da corrupção e o impeachment da presidente. Para o doutor em Sociologia e Política e professor de Ciência Política da Fumec Eduardo Martins de Lima, os movimentos, não importa de que natureza sejam, são sinais de vitalidade. “É importante que a sociedade civil esO ato do dia 15, em São Paulo, foi o que reuniu o maior número de pessoas. Mais de 1 milhão de manifestantes teriam protestado na Avenida Paulista Ricardo Barros

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teja atenta, mobilizada e faça valer os seus direitos constitucionais, de livre organização, manifestação e que signifique apresentar os pleitos, reforçando esse ou aquele governo ou, ao contrário, manifestando o descontentamento com políticas setoriais localizadas ou as que anunciam mudanças que podem não ser, momentaneamente, boas para a população de modo geral, em especial para o trabalhador”, entende. Embora os movimentos que reúnem um maior número de pessoas sejam os que naturalmente geram maior repercussão, o cientista político do Instituto Ver, Malco Camargos chama a atenção para o fato de que pequenos grupos têm a capacidade de pressionar todo e qualquer governo. Ele vê com bons olhos as manifestações de rua, mas defende prudência em relação ao que é requisitado. “É perigoso e arriscado manifestar raiva ou a indignação contra todas as instituições. Seria muito

mais importante nós pensarmos em reformas pontuais que podem, sim, provocar melhores práticas de governança, ou seja, mais transparência e mais proximidade entre representantes e representados somados à maior eficiência do nosso sistema político, eleitoral e tributário e que regula o judiciário”, entende. NAS URNAS Mas qual é o poder de fogo de uma massa de descontentes nas ruas? Em 2013, logo após os atos, a presidente Dilma fez um pronunciamento na TV e propôs um pacto baseado em cinco vertentes: reforma política, responsabilidade fiscal, mobilidade urbana, saúde e educação. De lá para cá, nenhuma dessas pautas teve desenvolvimento significativo. A política econômica adotada em 2015, para lidar com o descontrole de gastos públicos, forçou o governo a fazer ajustes em programas sociais, o que causou grande indignação popular.


METROPOLIS

Embora tenham o poder de pressionar os governos estabelecidos, as manifestações populares de rua não se igualam ao peso da maior e mais efetiva manifestação popular que, segundo Camargos, é o processo eleitoral, cujo desfecho ocorre nas urnas. “O maior poder de fogo das massas, a maior arma que a população tem é o seu voto. E mesmo com toda a crítica que foi feita em relação aos governos em 2013, na eleição de 2014, os canhões apontaram para a continuidade. Quando o brasileiro teve condição de atirar na direção das mudanças, atirou na direção contrária pela continuidade. E logo depois que ele começa a vivenciar essa continuidade, volta a pedir mudanças. Então é importante nós sabermos que para mudarmos as estruturas vigentes,... A insatisfação tem que ser canalizada das ruas para as

urnas. E é nas urnas que nós temos a oportunidade de resolver a maior parte dos nossos problemas”, aponta. JOVEM OU FALHA? A presença de multidões nas ruas suscita algo que requer análise. Democracia dialoga apenas com o direito à livre manifestação? Passados 30 anos do fim da ditadura e 26 anos da promulgação da Constituinte de 1988, é natural que o brasileiro se questione em que grau o país é realmente democrático e em quais termos essa democracia vem se desenvolvendo desde 1985. Um levantamento feito pela Economist Intelligence Unit (EUI), divulgado recentemente, coloca o Brasil como o 44º país mais democrático do mundo, com pontuação de 7,12. A título de comparação, a Noruega, com 9,93 pontos, encabeça a lista e comanda o pelotão das 25 democracias consideradas plenas pela EUI.

(...) a maior arma que a população tem é o seu voto (...) É nas urnas que nós temos a oportunidade de resolver a maior parte dos nossos problemas Malco Camargos, cientista político

Segundo o grupo inglês, o Brasil integra o conjunto de “democracias com falhas” por apresentar deficiências relacionadas à participação e à cultura política do povo. “Eleições livres e justas e liberdades civis são condições necessárias para a democracia. Mas provavelArquivo pessoal

É preciso lembrar, no entanto, que nem tudo foi em vão. Algumas demandas de 2013 tiveram sucesso. A momentânea revogação do aumento das tarifas do transporte público e a queda da PEC 37, que tirava o poder de investigação do Ministério Público, são exemplos. Para Camargos, há outro reflexo deixado por junho de 2013: a necessidade de reinvenção dos políticos no contato com o povo. “Os governos estabelecidos tiveram de mudar a lógica de relacionamento entre junho de 2013 e a campanha eleitoral de 2014. Dilma teve que enfrentar uma eleição muito mais disputada, que quase a levou à derrota. Isso valeu também no nível estadual e na campanha de alguns deputados que tiveram que reinventar a forma de se relacionar. Então todo e qualquer movimento de rua provoca alterações na maneira de os políticos se relacionarem e isso é bom para a democracia”, analisa.

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METROPOLIS Reprodução

No congresso Nacional, a Constituinte de 1988 é promulgada com festa

das mais altas. Mas se a gente pergunta sobre experiência direta da situação de subornar alguém, de ser de fato extorquido ou achacado, o Brasil aproxima-se dos lugares menos corruptos”, aposta.

mente não serão suficientes para uma democracia plena e consolidada, caso venham desacompanhadas de transparência e de um governo minimamente eficiente, com participação política suficiente e uma cultura política de apoio”, diz o estudo. Para o doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bruno Pinheiro Wanderley Reis, idealizações tomadas como referência fazem com que todas as democracias sejam,

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em algum grau, falhas. “A desilusão na Europa é hoje enorme, e a apatia nos EUA, alta e crescente”, cita. De acordo com o docente, a corrupção é um dos pontos que requerem maior atenção para a solidificação de um estado cada vez mais democrático. “Medir corrupção é um desafio que ainda não sabemos equacionar. Eu apostaria que a do Brasil não é maior que a média por aí afora. Quando a gente pergunta sobre percepção da população, se acha que o país é corrupto, a do Brasil é uma

Com 27 anos e apenas uma geração pós-Constituinte, a democracia brasileira apresenta falhas naturais, segundo Lima. Ainda assim, o docente acredita que o processo democrático brasileiro esteja se desenvolvendo de maneira adequada. Ele defende também que o processo democrático se torne mais forte, caso as suspeitas que recaem sobre a presidente Dilma sejam improcedentes e ela mantenha-se no cargo. “O processo democrático vive-se culturalmente, efetivamente na reorganização social e na mentalidade. Então eu acho que, de fato, nós estamos vivendo outro patamar do processo democrático, no qual nós temos uma geração completa pós-Constituinte que passa a agir também diferentemente. A forma de a sociedade se organizar é distinta. E a maneira de a política também se organizar tem mostrado novos caminhos”, entende.


ARTIGOS

Ruibran dos Reis Meteorologia

O outono em Minas O planeta Terra tem quatro estações no ano: verão, outono, inverno e primavera. As estações são fenômenos que ocorrem pelo fato de o plano do equador da Terra não ser paralelo ao plano do equador do sol. Há uma angulação de 23º27” entre eles. Outro fator que contribui para a existência das estações é o movimento elíptico da Terra em torno do sol. Quando é verão no hemisfério Sul, a Terra se encontra a 149 milhões de quilômetros do sol. No inverno, a distância passa para 151 milhões de quilômetros do astro-rei.

te do oceano. Nas regiões do Triângulo e Noroeste, o índice de umidade cai para níveis de alerta, chegando a valores entre 12% e 20% no período da tarde. A possibilidade de ocorrência de chuvas no outono é maior nos primeiros dias do mês de abril, quando ainda há umidade. Nas regiões de serras intercaladas por vales é muito comum a formação de nevoeiros pela manhã. Na Região Metropolitana de BH, o fenômeno é outro. Devido à inversão térmica, o ar fica mais poluído nas primeiras horas da manhã.

“À medida que o inverno se aproxima, as noites duram mais e a incidência de raios solares por aqui diminui”

A diminuição da quantidade de radiação solar que chega ao hemisfério Sul no outono gera um clima mais agradável em determinas regiões do Brasil. No Sudeste, especialmente em Minas Gerais, as noites têm temperaturas amenas e os dias são ensolarados. À medida que o inverno se aproxima, as noites duram mais e a incidência de raios solares por aqui diminui. Em 2015, a estação mais fria do ano começa no dia 21 de junho, às 13h38. As frentes frias que passam pela Região Sudeste normalmente causam nebulosidade e chuvas de fraca intensidade somente no litoral brasileiro. Devido ao efeito da continentalidade, em Minas a umidade relativa do ar cai à medida que o local esteja mais distan-

A título de curiosidade, os modelos de previsões climáticas para o outono deste 2015 mostram que a tendência é de as temperaturas ficarem ligeiramente acima da média histórica.

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com | 23


CAPA

MAIS QUE UMA ESCOLHA ALIMENTAR Vegetarianismo e veganismo se apresentam como maneiras de resistir ao consumo inconsciente e refletir sobre a relação entre o homem e o mundo Bárbara Caldeira Fotos de Felipe Pereira

“o

homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o suficiente para pegar uma lebre. Mesmo assim, é o senhor de todos os animais”. Mesmo escrito em 1945, a marcante obra “Animal Farm” (“A Revolução dos Bichos”) de George Orwell permanece atual. O livro lança uma provocação ao abordar a exploração dos animais pelo homem. Essa questão é o ponto-chave para explicar o crescimento dos adeptos do vegetarianismo e do veganismo. Enquanto o primeiro é uma opção alimentar na qual não há consumo de carne, o segundo é uma filosofia de vida baseada em convicções éticas que defendem os direitos dos animais, condenando a exploração ou o abuso dos mesmos. Dessa forma, os adeptos do veganismo não consomem carne nem nenhum produto de origem animal, incluindo ovos e laticínios.

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Entre os veganos famosos estão Natalie Portman, Olivia Wilde, Alicia Silverstone, Joaquin Phoenix e Thom Yorke, vocalista da banda Radiohead. O time dos vegetarianos conta com Anne Hathaway, a cantora Alanis Morisette e ninguém menos que Paul McCartney. O ex-beatle é engajado na campanha Meat Free Monday, que desafia pessoas do mundo inteiro a não consumir carne ao menos às segundas-feiras. Entre as personalidades nacionais vegetarianas, Rita Lee, Patricya Travassos e Rodrigo Santoro se destacam.

A última pesquisa sobre hábitos alimentares dos brasileiros realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (Ibope) revelou que 15,2 milhões de brasileiros são vegetarianos. Isso corresponde a 8% da população. A capital com maior índice de adeptos é Fortaleza, no Ceará, onde 14% da população não come carne.


CAPA A professora de Literatura Comparada Giovanna Soalheiro Chadid parou de comer carne há oito anos, inicialmente para melhorar a saúde. “Desde criança meu organismo já tinha restrições a alguns tipos de carne, como a de porco e o camarão. Primeiro cortei a carne vermelha, Pouco tempo depois, eliminei todos os tipos”, relata. A decisão veio acompanhada de uma nova consciência sobre os hábitos de consumo. Hoje Giovanna entende o produto como fruto de uma exploração cruel. “Os animais são abatidos como se não tivessem sistema nervoso; como se fossem objetos inanimados a serviço do homem e, claro, do acúmulo de capital”, argumenta. Com a mudança, Giovanna conta que percebeu melhoras no organismo, inclusive o desaparecimento de doenças. Para ela, o não consumo de carne leva os adeptos a adotarem medidas mais

saudáveis, como uma ingestão maior de frutas, grãos e legumes, o que traz benefícios para o organismo. Mesmo com esses pontos positivos para a saúde, o vegetarianismo ainda é visto com muito estranhamento pela sociedade. “As pessoas não conseguem entender nossas motivações nem compreendem que comer carne é um vício do organismo, uma forma de agressão aos animais e à natureza”, defende Giovanna. Ela ressalta que a naturalização do consumo de carne é uma questão cultural. “O Brasil é um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo. Então o país não tem interesse de fazer campanhas a favor do vegetarianismo”. Outro ponto enfatizado pela professora é o esgotamento dos recursos naturais no processo de produção. “Para produzir um quilo de carne bovina são consumidos 15 mil litros de água, fora outros processos agressivos”afirma.

UMA FORMA DE RESISTÊNCIA A partir de reflexões semelhantes às de Giovanna, o designer gráfico Sillas Maciel optou, há nove anos, pelo veganismo. Ele compreende a escolha como uma forma de resistência que ultrapassa as questões alimentares. Para ele, trata-se de uma postura ética na forma de consumir. “A partir do momento em que uma vida se torna um produto, um meio de faturamento de determinada marca ou de empresa, independentemente do porte, está errado”. Para ele, o veganismo é, acima de tudo, um boicote ao sistema. “A minha escolha alterou a forma como aceito o que me é imposto direta ou indiretamente por uma lógica que visa o lucro a qualquer custo”, afirma. Ao adotar um modo de vida vegano, o indivíduo abre mão de produtos alimentícios e de muitos itens, que vão desde roupas até remédios. O empresário Geraldo Eugênio de Assis, vegano há três anos, conta que, desde criança, era contra o abate de animais para consumo. “Há cerca de 30 anos, meu pai me pediu para matar uma galinha. Eu nem sabia o que era veganismo nem vegetarianismo, mas pensei: ‘Se não tenho coragem para matar, não posso comer’”. Como consequência dos novos hábitos, Assis notou melhorias na pele, na aparência e na resistência, mesmo não praticando atividades físicas regularmente.

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CAPA Para Giovanna, o vegetarianismo contribuiu para uma vida mais saudável

são bem conscientes da minha escolha. Prefiro folhas verdes, legumes e, pelo menos, três porções de frutas por dia”, relata. Lentilha, grão de bico, soja e arroz integral fazem parte do cardápio semanal e, à noite, as opções alternam entre sopas, saladas e sanduíches de pão integral. “Para lanches rápidos, costumo parar no Carro de Lanches Vegetarianos, que fica próximo à Praça da Liberdade. Lá eles fazem lasanhas veganas, tropeiros vegetarianos e outros pratos sob encomenda”, conta. Morador de Betim, Geraldo afirma que encontrar opções de estabelecimentos vegetarianos ou veganos fora de Belo Horizonte é uma tarefa complicada. “Almoço em locais onde servem salada e só tomo café em casa ou no escritório. Gostaria de preparar minha comida, mas a rotina não permite”, lamenta. MUDANÇA DE HÁBITOS

PREPARAR A PRÓPRIA REFEIÇÃO OU COMER FORA DE CASA? Para Sillas, o maior desafio — além de explicar para as pessoas a decisão de ser vegan — é se alimentar bem fora de casa. Desde que adaptou o estúdio na sua casa, todos os dias o designer prepara a própria comida. Ele sente prazer em cozinhar. 26 | www.voxobjetiva.com.br

“É meu costume, mas considero totalmente possível se alimentar bem, sem nada de origem animal, em um self-service tradicional, por exemplo”, defende.

A empresária Sílvia Martins Guerra é dona de uma loja especializada em cupcakes (bolinhos confeitados). Ela sentiu a necessidade de mudar de negócio quando deixou de ser vegetariana e se tornou vegana. “Não se trata apenas da alimentação e do que se consome, mas de ser coerente com o que você acredita. Para a produção dos cupcakes tradicionais, eram necessários muitos ovos e leite, o que não está de acordo com o veganismo”, expõe.

Giovanna tenta conciliar o preparo dos alimentos com a rotina atribulada. “Sempre que posso, produzo a minha comida ou almoço na casa dos meus pais, que

Assim, há aproximadamente um ano, nasceu o Com Gentileza, restaurante localizado no bairro Funcionários que serve apenas comidas veganas e oferece ser-


CAPA viço de buffet por encomenda. Unindo o espaço que já possuía e o know-how de seu principal fornecedor, Quituts, além do apoio da chef Luiza Oliveira, Sílvia apostou na proposta e hoje serve almoço, sanduíches, tapioca, sorvetes e outros lanches em seu estabelecimento. Além do prato do dia, que varia constantemente e é comercializado pelo preço de R$ 13, o Com Gentileza tem no cardápio um yakisoba vegano, que atrai até mesmo os amantes de carne mais convictos. É possível comprar produtos congelados no empório da loja, como pratos prontos e salgados. “Fazemos cerca de 60 atendimentos por dia. O público vegano acolhe muito bem negócios especializados e torce pelo sucesso de quem se engaja”, entende.

late que utilizo para a produção tem maior percentual de cacau e não contém leite. Substituo por suco natural de frutas, e o resultado é muito saboroso”, atesta. Para suprir a carne nos pratos salgados, a jaca é o ingrediente principal de receitas elaboradas, como o fricassé. “A maioria das pessoas não faz questão do prato ter um alimento que ‘imite’ a carne no cardápio, exceto as que gostavam muito de carne antes da mudança. O que é o paladar humano diante do sofrimento de um animal que vai para o abate?”, indaga.

O que é o paladar humano diante do sofrimento de um animal que vai para o abate? Sílvia Martins, empresária

A credibilidade e a confiança são um diferencial do estabelecimento, já que muitos restaurantes que declaram ser veganos utilizam alimentos de origem animal no preparo das refeições. “Aqui as pessoas podem ficar tranquilas porque sabem que realmente vão comer alimentos sem nenhum componente de origem animal”, observa. A empresária destaca que um dos maiores obstáculos da adaptação de um vegetariano ou vegano não é a alimentação, mas o aspecto social. Muitas vezes, o círculo de amigos e a família não entendem a escolha. Nesse caso, estabelecimentos e restaurantes que demonstram partilhar de convicções semelhantes atraem a atenção do público porque oferecem um sentimento de pertencimento. Dentre as sobremesas que mais fazem sucesso no Com Gentileza, estão os cupcakes nos sabores belga, floresta negra e laranja com amêndoas, além do cheesecake de frutas vermelhas e o naked cake. “O choco| 27


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SALUTARIS

Imunidade artificial Molécula eCD4-Ig garante imunidade temporária na luta contra o HIV Haydêe Sant’Ana

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ma equipe de pesquisadores americanos desenvolveu uma substância capaz de inibir o HIV. Os cientistas pertencem ao Scripps Research Institute, centro de pesquisa sem fins lucrativos localizado na Flórida, nos Estados Unidos. Inicialmente testado em macacos, o medicamento apresentou resultados promissores. Segundo Michel Farzan, um dos coordenadores, o medicamento é muito potente. “Desenvolvemos um inibidor muito poderoso e de espectro muito amplo que atua sobre o HIV-1, o principal vírus da Aids presente no mundo”, revela. O vírus da Imunodeficiência humana ataca o sistema imunológico infectando as células de defesa do organismo, os linfócitos T CD4+. O contágio se dá a partir da conexão entre a proteína gp120 e o receptor da célula, o CD4+. O vírus se conecta ao CCR5, um tipo de proteína, in28 | www.voxobjetiva.com.br

vadindo a célula e nela começa a se multiplicar indiscriminadamente. A molécula desenvolvida pelos pesquisadores, o eCD4-Ig, combinada com um tipo de vírus adenoassociado (AAV) oferece proteção contra o vírus HIV. “A nova molécula combina sequências da proteína CD4 com parte de CCR5, formando a molécula modificada eCD4-Ig. Ela tem a capacidade de ‘burlar’ o vírus HIV, fazendo com que ele se ligue a esse anticorpo em vez de se conectar às proteínas de superfície da célula TCD4 do hospedeiro. Assim o vírus permanece neutralizado”, explica o médico Eduardo Batista Cândido, diretor de Ensino e Residência Médica da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais. O contato da eCD4-Ig com o hospedeiro ocorre por meio da inserção dessa molécula através do vírus ade-

noassociado (AAV). Esse tipo de vírus age no corpo humano e em primatas. Ele tem o poder de infectar células divisórias, mas não se dividir, e pode inserir o material genético na célula hospedeira. Cândido ressalta que o AAV é utilizado porque não é patogênico e não desenvolve uma resposta imune contra o vírus nem contra as células que foram tratadas. No teste, os macacos foram infectados com um vírus inofensivo com um gene produtor da molécula eCD4-Ig. Dessa forma, as células dos animais foram forçadas a produzir uma nova substância. O CD4-Ig, injetado apenas uma vez, garantiu proteção contra o vírus HIV de oito meses no sistema imunológico dos macacos. O professor titular do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e infectologista Dirceu Greco Romano


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SALUTARIS acredita que a pesquisa represente um avanço na luta contra a Aids, mas faz uma ponderação: “Ainda não se sabe sobre os efeitos que esse tipo de tratamento pode causar. Pode ser que você iniba o vírus, mas que isso tenha algum efeito colateral na produção de linfócitos no ser humano”, alerta. A equipe responsável pela pesquisa tem expectativa que ensaios e testes com humanos comecem daqui há um ano, após a realização de mais experimentos em animais, o que já está em curso. Enquanto os testes em humanos ainda não são feitos, Greco alerta para a importância do diagnóstico e da prevenção da doença. “Atualmente 28% das pessoas chegam ao diagnóstico tardiamente. A gente não ouve mais falar em HIV. Parece que a doença desapareceu, embora morram milhares de pessoas com Aids por ano”. De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), aproximadamente 35 milhões de pessoas vivem com HIV em todo o mundo. No Brasil, estima-se que cerca de 734 mil pessoas estejam infectadas. Desse total, 589 mil (80% dos doentes) estão diagnosticadas. Os dados são de 2013. Entre os diagnosticados, 404 mil pessoas (49 mil delas somente no ano passado) aderiram ao tratamento com antirretrovirais. Dentre os pacientes tratados, 338 mil estavam com a carga viral indetectável (45 mil deles somente em 2014). Conforme o Ministério da Saúde, desde o início da epidemia, em 1980, até junho de 2011, foram registrados 608.230 casos de Aids (condição em que a doença se manifestou). Nos últimos anos, tem-se observado um registro de 38 mil novos casos a cada ano, o que representa uma incidência de 20 casos por 100 mil habitantes. A doença apresenta maior incidência nos homens. No entanto, a diferença com as mulheres vem diminuindo ao longo dos anos. Em 1989, a razão entre os sexos era de cerca de seis 30 | www.voxobjetiva.com.br

Ainda não se sabe sobre os efeitos que esse tipo de tratamento pode causar. Pode ser que iniba o vírus, mas que isso tenha algum efeito colateral na produção de linfócitos no ser humano Dirceu Greco, infectologista

homens para cada mulher infectada. Em 2010, a relação caiu para 1,7 homem para cada mulher. Na faixa etária entre 13 e 19 anos, há mais casos de Aids entre mulheres do que em homens. Para Cândido, o aumento nas taxas de infecção se deve ao fato de que, após os 13 anos de idade, a maioria das pessoas contrai o vírus por contato sexual devido a três fatores: falta de conhecimento sobre a doença, descaso e falsa sensação de segurança ocasionada pela utilização de drogas potentes. Quando são usadas em associação, essas drogas conseguem promover o processo de replicação do vírus. Cerca de 85% da transmissão do vírus nas mulheres ocorre por relação heterossexual. Já nos ho-

mens, corresponde a 50% dos casos. Greco analisa que antes existia o chamado “grupo de risco” caracterizado por pessoas infectadas com o vírus. De certa forma, esse grupo era considerado uma “ameaça” para a população. Mas, segundo o infectologista, com a liberdade sexual, a igualdade dos gêneros e o consumo excessivo de bebidas e de outras drogas, o que existe é o que ele chama de “situação de risco”. “Toda pessoa que tem relação sexual com um parceiro fixo também corre risco, por mais que exista confiança. A pessoa não sabe sobre a vida sexual do outro. Portanto, ela não pode ter total segurança. Com a igualdade dos gêneros, isso acontece dos dois lados”, evidencia. Enquanto ainda não se sabe sobre os efeitos da molécula desenvolvida pelos pesquisadores americanos no tratamento em humanos, a medida mais eficaz para lidar com a Aids continua sendo a cautela. Para combater a doença, a Unaids tem adotado medidas de prevenção combinada no Brasil desde 2013. Além do uso da camisinha, a prevenção combinada inclui o tratamento antirretroviral, a testagem regular do HIV, a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP Sexual), o exame de HIV no pré-natal, medidas de redução de danos entre pessoas que usam álcool e outras drogas e o tratamento de outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). De acordo com a meta assumida com a Organização das Nações Unidas (ONU) e adotada recentemente por diversos países, o Brasil tem até 2020 para alcançar os 90-90-90. Esse número prevê que daqui a cinco anos, 90% das pessoas que vivem com o HIV saibam que têm o vírus; 90% dos doentes diagnosticados recebam terapia antirretroviral; e 90% das pessoas em tratamento têm carga viral indetectável, tornando-se incapazes de transmitir o vírus.


ARTIGO

Maria Angélica Falci Psicologia

Jogando junto As diferenças que definem homens e mulheres são um tema sempre presente nas rodas de conversa. Por meio da vivência cotidiana e da observação, é possível citar várias características que, ao mesmo tempo que são significativas, podem ser cômicas ou motivos de muito estresse e nervosismo.

mais corriqueiras deles é a de não entenderem o que elas falam. O motivo é muito simples: quando mulheres dizem que está tudo bem, a dica é desconfiar, pois geralmente não está. Isso produz muita confusão mental nos homens, uma vez que eles sentem dificuldades de compreender o que está nas entrelinhas.

O mecanismo de funcionamento cerebral de homens e de mulheres é semelhante, embora haja constatações científicas que evidenciem diferenças anatômicas em áreas específicas e que variam conforme o gênero.

Os homens executam as ações de forma mais planejada e cautelosa, pois lidam com menos ansiedade e não gostam de sofrer os sintomas desse sentimento. As mulheres, por sua vez, fazem muitas atividades ao mesmo tempo, lidam com a ansiedade a ponto de convertê-la em combustível para impulsionar seus atos. Um exemplo: se uma mulher insiste em chamar a atenção do companheiro enquanto ele faz a barba, a probabilidade que ele se machuque ao tentar se dividir em dois é grande.

Algumas considerações populares sobre as diferenças entre gêneros são consideradas mitos. Dentre muitas impressões equivocadas, podemos citar a ideia de que homens sejam insensíveis. Acontece que eles não tendem a fixar acontecimentos na memória afetiva. O fato de não lembrarem com precisão detalhes e datas importantes não faz deles seres desprovidos de sensibilidade. Outro equívoco está em pensar que mulheres sejam mais “tagarelas” que os homens. Falar muito ou pouco está relacionado com a personalidade. Isso independe de gênero. É verdade que os homens são práticos e objetivos, enquanto as mulheres são mais atentas aos detalhes e têm uma memória afetiva de dar inveja. Uma mulher é capaz de lembrar da negligência de um companheiro em defendê-la em determinada ocasião, mesmo tendo se passado 20 anos. As mulheres são experts em decifrar a linguagem não verbal. Incluem-se aí olhares e gestos. Já os homens prestam mais atenção à fala. Uma das reclamações

Não adianta resolver algum conflito quando o homem não está pronto e aberto para conversar. O mais adequado é tentar controlar a ansiedade e aguardar o momento oportuno para aquela “DR”. Homens precisam de tempo para organizar o ritmo. As mulheres conseguem misturar o pensar, falar, ou seja, fazer tudo ao mesmo tempo. Ah se as mulheres aprendessem um terço da praticidade e da objetividade dos homens!... E ah se eles ficassem mais atentos e soubessem lidar com ansiedade e estresse como elas!... Cada um pode aprender com o outro, servindo como complemento de muitos ganhos e trocas.

Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com | 31


SAPORI

Lombo de Bacalhau a Vinces Chef Carlos Pita, Restaurante Vinces Wine & Coffee

INGREDIENTES

MODO DE PREPARO

1 corte de 330 g de lombo de bacalhau dessalgado 300 ml de água 200 ml de leite 1 g de pimenta-do-reino 5 g de sal 1 colher de café de alecrim 1 colher de sopa de uvas-passas 1 colher de sopa de alcaparras lavadas 50 ml de vinho branco seco 100 ml de azeite 1 dente de alho fatiado 1 batata grande cozida e cortada em rodelas 1 cebola pequena fatiada 1 tomate fatiado

Aqueça a água e o leite em uma panela e cozinhe o lombo de bacalhau por dois a três minutos. Escorra e reserve.

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Coloque o azeite em outra panela e doure o alho e a cebola. Adicione as uvas-passas e as alcaparras. Depois acrescente as rodelas de tomate, o vinho e deixe cozinhar sem desmanchar. Coloque o alecrim e tempere com o sal e a pimenta-do-reino. Reserve. Na montagem do prato, faça uma cama com as rodelas de batata aquecidas e coloque o lombo de bacalhau por cima. Distribua a mistura preparada. Sirva bem quente.


SAPORI

bactérias que causam uma série de doenças, como úlceras, gastrites, infecções e diversos tipos de câncer, de acordo com pesquisas da Sociedade Europeia de Cardiologia. O vinho também pode prevenir efeitos do sedentarismo, ajudar no controle do peso e proteger mulheres da osteoporose.

Harmonização Lombo de bacalhau a Vinces Nelton Fagundes, Enoteca Decanter

O álcool e os polifenóis são os componentes responsáveis pela boa fama do vinho. O álcool aumenta os níveis de colesterol bom (HDL), reduz o risco de formação de coágulos e tem efeito anti-inflamatório. Já os polifenóis, em especial os flavonoides, contribuem para a aceleração do metabolismo, auxiliando no controle do peso. Os mesmos componentes atuam prevenindo doenças neurodegenerativas, como a demência.

Para escoltar o prato com muita salinidade, média condimentação, notas de peixe e delicado toque agridoce pela adição de passas, a indicação é um vinho branco mais sério, toques amanteigados e muita mineralidade, média passagem por madeira e boa estrutura. Com esse perfil, nada melhor do que um Chardonnay Gran Reserva Legado 2012, de Martino, Limarí, Chile, que sai por R$ 93,74.

Diocélio Goulart Diretor do Vinces Wine & Coffee

Os flavonoides também sobressaem na prevenção de alguns tipos de câncer. Uma pesquisa publicada no American Journal of Clinical Nutrition revelou que o composto orgânico encontrado no vinho ajuda a prevenir o câncer de ovário. Os cientistas das universidades de Harvard e East Anglia, no Reino Unido, analisaram aproximadamente 172 mil mulheres com idades entre 25 e 55 anos, durante cerca de 20 anos. As que consumiram as doses mais altas de flavonoides apresentaram menores chances de desenvolver câncer de ovário.

Nada se iguala ao prazer de um bom vinho. O fato de a bebida trazer benefícios à saúde faz do ato de degustar um bom rótulo ainda mais especial. O vinho tem muitas propriedades úteis para o corpo humano, prevenindo doenças cardiovasculares, que são a maior causa de mortes no mundo. A presença dos procionídeos (compostos fenólicos)

Para que o consumo de vinho não seja danoso, é importante atentar para a dosagem. Atualmente defende-se a ideia de que os benefícios já podem ser garantidos com o consumo de uma taça (aproximadamente 100 ml) duas vezes ao dia, sempre com as refeições. Integrado num estilo de vida saudável, o vinho pode ser sinônimo de saúde em todos os aspectos.

Vinho e os benefícios para a saúde contribui para que o vinho seja eficaz no retardamento da ocorrência de doenças neurológicas degenerativas, como Alzheimer e Parkinson. A bebida tem muitas características que vão além do sabor. Ela contribui para o bom funcionamento do organismo e diminui, em pelo menos 11%, o risco de infecção por

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HORIZONTES

Florença é mais que um deslumbre visual. A cidade encanta também pelo prazer que provoca no paladar. Conheça alguns dos lugares imperdíveis para quem viaja por uma das mais belas regiões da Itália Texto e fotos de Tati Barros

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ão há exagero nem medo de equívoco ao afirmar categoricamente que a Itália é um dos roteiros mais encantadores do mundo. O ar bucólico das pequenas cidades, os monumentos que ajudam a contar um pouco da história da humanidade, o povo caloroso que tanto se assemelha ao brasileiro: cada um desses elementos é responsável por tornar esse país um destino dos sonhos.

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Ao falar da Itália, um ingrediente merece menção especial: a culinária. Para quem está planejando uma viagem ao país, é preciso reservar tempo para descobrir as maravilhas gastronômicas desse celeiro histórico do mundo. A região da Toscana é um dos principais recantos que encantam os amantes da boa mesa. Além da culinária única, que casa perfeitamente com os melhores vinhos produzidos na região, essa porção da Itália tam-

bém impressiona pelas paisagens deslumbrantes. Para quem elegeu a Toscana como destino, a bela Florença, ou Firenze, é parada obrigatória. A cidade oferece uma variedade gastronômica de agradar aos mais exigentes paladares e pode ser a cidade-base de quem passeia pela região. Pensando nisso, a Vox Objetiva preparou um roteiro que reúne alguns dos locais que merecem ser visitados e apreciados.


HORIZONTES

MERCATO CENTRALE DI SAN LORENZO Muitos turistas defendem a ideia de que não há melhor forma de conhecer a cultura de um local do que ir ao mercado central da cidade visitada. O Mercato Centrale di Firenze reforça essa visão. O local fica no centro histórico, coração de Florença, e reúne o melhor da gastronomia regional. Por lá, você encontra restaurantes, barracas de produtos como carnes, vinhos, queijos e frutas, bodegas e lojas de artesanatos. O ambiente é moderno e agradável e conta com uma lojinha da Eataly, centro gastronômico especializado em produtos italianos. Vale a pena reservar uma tarde para o delicioso passeio!

Restaurantes localizados em centros turísticos não costumam ser boas opções, principalmente por causa dos preços elevados. Essa é uma afirmação que não se refere ao Caffé Donnini. O estabelecimento está localizado na charmosa Piazza Della Repubblica, bem em frente ao charmoso carrossel da cidade. Um prato em especial torna o local ponto de parada certa para quem estiver de passagem por Firenze: o gnocchi de gorgonzolla com pera. A combinação parece inusitada, mas se mostra irresistível logo na primeira garfada.

Endereço:

Endereço:

Piazza del Mercato Centrale

Piazza della Repubblica, 15/R

CAFFÈ DONNINI 1894

TRATTORIA NERONE A bistecca alla fiorentina é a carne típica da região da Toscana. Por isso, é um dos pratos mais procurados pelos turistas. Para quem deseja apreciar o filé, a sugestão é a agradável Trattoria Nerone. Um pouco fora do circuito turístico, o local está próximo à estação Santa Maria Novella e conta com uma decoração caprichada, atendimento simpático e um cardápio que agrada a todos os paladares. Para os dias mais quentes, a opção é se sentar às mesas dispostas nas calçadas e observar o movimento, na companhia de um vinho rosé. Um bom local onde se come bem e se paga um preço justo.

Endereço: Via Faenza 95/97 R | Centro storico

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HORIZONTES

ALL’ANTICO VINAIOT Um local apertado, com filas grandes, em que você tem que comer em pé ou sentado na calçada. Pouco atraente? Pois essas são as características do pitoresco lugar que é um dos principais tesouros gastronômicos de Firenze. Próximo à galeria Uffizi, o All’Antico Vinaio é responsável pelo melhor panino da cidade. Por lá, você pode escolher os ingredientes do seu generoso sanduíche, que sai por meros £5. A casa também conta com uma enorme seleção de vinhos e um atendimento dos mais agradáveis.

Endereço: Via dei Neri, 74

GELATERIA LA CARRAIA É uma missão impossível ir à Itália e não saborear os incomparáveis gelatos. O sorvete italiano é diferente de todos os outros. Acredite! Entre tantos endereços conceituados, é normal que cada um eleja uma gelateria como favorita. Dentre as que vão entrar em sua lista, a La Carraia certamente vai estar entre as mais bem colocadas, se não vier a ocupar o primeiríssimo lugar. Localizada ao lado da Ponte alla Carraia, um pouco afastada da rota dos turistas, a gelateria oferece produtos 100% artesanais e de sabores indescritíveis. Entre os favoritos estão o de pistacchio e de mousse de cioccolato. A bela paisagem do rio Arno torna a experiência gastronômica ainda mais especial.

Endereço: Piazza Nazario Sauro, 25

CASTELLO DI VERRAZZANO Para finalizar, um local fora de Firenze, mas que precisa ser visitado especialmente pelos apreciadores de um bom vinho. A região de Chianti, localizada entre Firenze e Siena, é responsável pela produção do vinho mais famoso da Toscana. E entre as diversas vinícolas existentes por lá, nossa sugestão é o famoso Castello di Verrazzano. Lá, o visitante pode conhecer a produção da bebida e participar de uma deliciosa degustação do vinho Chianti Classico DOCG. Um típico e encantador passeio toscano!

Endereço: Via di Citille, 32A Località Greti

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PODIUM

Minas quer ser o Brasil na Libertadores Após dominarem futebol brasileiro por dois anos consecutivos, times mineiros agora sonham com a conquista da América Thalvanes Guimarães

e

m 2014, Minas Gerais tornouse o centro das atenções em todo o Brasil. Por ser terra natal dos dois candidatos à presidência e o segundo maior colégio eleitoral do país, o estado foi tema recorrente nos embates. No âmbito esportivo, o Mineirão foi o palco do maior vexame da história do futebol nacional. O Cruzeiro foi campeão brasileiro,

e o Atlético conquistou a Copa do Brasil numa inédita dobradinha mineira. Se no início do ano passado era difícil prever um 2014 tão positivo para o futebol de Minas, hoje não surpreenderia se um dos dois grandes clubes do estado conquistasse o sonhado título da Libertadores. A dinamicidade

e o alto nível do torneio mais importante das Américas tornam a possibilidade de uma final mineira improvável, mas o desempenho recente de Cruzeiro e Atlético os credenciam a, pelo menos, sonhar. Para dar uma ideia do sucesso do Galo e da Raposa no fim da temporada passada, a soma do valor dos dois elencos era de quase meio

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PODIUM

O Atlético perdeu sua maior referência entre os jogadores de linha. Atacante titular da seleção brasileira, Tardelli foi para a China, seguindo o destino de Ricardo Goulart, principal destaque do Cruzeiro e Éverton Ribeiro, que seguiu para a Arábia. Outra importante peça do meio-campo celeste, Lucas Silva saiu para o bilionário time do Real Madrid e já foi escalado como titular. Com as saídas, as direções dos clubes não pouparam esforços para manter o nível e buscar o título mais sonhado da América. O Galo trouxe o melhor jogador do futebol argentino, o atacante Lucas Pratto. E o meia colombiano Cárdenas, fruto de disputa entre vários clubes brasileiros. A raposa buscou o atacante Damião, a grande promessa uruguaia De Arrascaeta, o campeoníssimo zagueiro Paulo André e outros jogadores promissores. No entanto, para o blogueiro e comentarista da ESPN, André Rocha, o início ruim do Atlético na Libertadores o descredencia a ser o favorito. Enquanto o Cruzeiro ainda é uma incógnita. “Vemos o Corinthians como um time muito forte coletivamente, e o São Paulo, individualmente. Cito também o Emelec, o Racing, o Boca, o Colo-Colo e o Atlético de Medellín como entre os principais postulantes ao título. Mas é óbvio que um time como River pode chegar; os mineiros também” analisa.

Depois de duas derrotas seguidas, para Colo-Colo e Atlas (foto), o Atlético ganhou ânimo com o triunfo sobre o Santa Fé 38 | www.voxobjetiva.com.br

O grande dinamismo da Libertadores é o que faz a competição ser uma das mais charmosas do mundo. Sem o requinte dos estádios da Europa, a vibração das torcidas faz toda a diferença, sem contar os obstáculos como a altitude e as grandes distâncias a serem percorridas. Todos esses fatores tornam a disputa ainda mais imprevisível. Atlético e Cruzeiro terão vida distinta, ao menos na teoria, na primeira fase. No grupo atleticano, Atlas, Colo-Colo e Independente Santa Fé tendem a ser adversários bem duros. No jogo fora de casa contra o Atlas, a distância de quase 8 mil quilômetros é um entrave. O Colo-Colo, um dos favoritos ao título, é o time com maior torcida no Chile e foi campeão com vantagem do Clausura no ano passado. Já o Santa Fé, além de ter bom time, tem a seu favor no jogo em casa o fator caldeirão: a torcida pressiona muito. O início ruim do Atlético no torneio remete às recentes conquistas do

time, que demonstrou uma capacidade de reação impressionante e uma enorme sintonia com a torcida em jogos decisivos. O versátil meia argentino Dátolo, que se tornou o maior artilheiro estrangeiro da história do Galo, foi peça imprescindível na engrenagem da equipe, que bateu tantos adversários de peso na Copa do Brasil. O meia, que já foi campeão da América jogando pelo Boca Juniors, em 2007, continua com boas expectativas, mas rechaça facilidades. “Temos um grande time e praticamente mantivemos o grupo, com algumas contratações importantes. Mas nada é tranquilo. Além da dificuldade natural da competição e dos adversários complicados, ainda estamos no início da temporada. Entrar no ritmo das outras equipes será o mais complicado,” observa. O zagueiro Jemerson, presente no elenco que foi campeão em 2013 pelo Atlético, agora assume uma responsabilidade maior: ser titular absoluto. Para ele, a capaci-

Bruno Cantini

bilhão de reais. O Cruzeiro tinha o elenco mais valioso do continente, enquanto o Atlético, o terceiro. Mas os times mudaram com a chegada de jogadores e a saída de alguns destaques.


PODIUM O início fraco do Cruzeiro no torneio não deve prejudicar a classificação do time celeste, que encabeça o grupo 3

Vinnicius Silva

O time pode se inspirar na campanha de superação de 97, quando o clube celeste fugiu de ser eliminado ainda na primeira fase com três derrotas seguidas e, arduamente, venceu as três últimas, classificando-se para as oitavas e sendo bicampeão contra o Sporting Cristal.

dade de reação do time atleticano já foi mais que comprovada. “Fomos campeões da Copa do Brasil e da Libertadores fazendo o inacreditável. Isso mostra que temos um grupo forte, que acredita até o fim no próprio potencial. Agora é preciso dedicarmos ainda mais para alcançarmos nossos objetivos na temporada”, comenta. O Cruzeiro teve a sorte de entrar num grupo com times menos “cascudos”. A equipe venezuelana Mineros tem um histórico ruim nas participações na Libertadores. O Universitário Sucre está indo para a segunda edição do torneio. Na primeira vez, em 2009, o time também estava no grupo do Cruzeiro. O Sucre foi derrotado nas duas partidas. O outro adversário

é o argentino Huracán, que é o menor entre os que disputam a competição neste ano representando o país e único dos argentinos que não conquistou a taça. O treinador Marcelo Oliveira está trabalhando dobrado para fazer com que os novos jogadores se adaptem ao estilo do Cruzeiro. Quanto ao nível de experiência do time atual e o que foi eliminado nas quartas de final em 2014, ele acredita que exista um equilíbrio. “Ambos se igualam nesse quesito. O importante é mesclar experiência e juventude, pois os jovens dão velocidade ao time. Podemos ter alguma dificuldade no entrosamento, mas certamente vamos ter uma equipe comprometida e competitiva,” afirma.

Marcelo Ramos, segundo jogador com mais títulos na história do clube, dá a receita para ser campeão da Libertadores: acreditar até o fim. Naquele ano, ele chegou ao Cruzeiro já nas oitavas da competição e viu um time guerreiro com vontade de vencer. Ramos aprova as contratações celestes e diz que ambos clubes mineiros têm boas chances de vencer a competição novamente. “O Cruzeiro teve muitas mudanças, mas é copeiro: está acostumado a ganhar. Tem que acreditar, ter vontade porque, às vezes, não vai na técnica. Claro que a saída de grandes nomes gera desconfiança, mas chegaram jogadores de muita qualidade, e o clube tem tudo para ser campeão,” afirmou. Após quatro anos ganhando consecutivamente a Copa Libertadores, os brasileiros querem recuperar o prestígio do ano passado, no qual não tiveram nenhum representante nas semifinais. A diferença entre o poder financeiro dos clubes brasileiros para os adversários é imensa, mas isso ainda não se refletiu em campo. A dificuldade continua sendo muito grande. “Os times devem jogar a Libertadores de forma natural, sem essa de querer forçar o clima de guerra e pancadaria e sem querer colocar pressão no árbitro. Não podem entrar pilhados complicando ainda mais os jogos,” comenta André Rocha. | 39


ARTERIS

PRECIOSISMO MINEIRO Grifes apostam em aplicações para o look do dia a dia Tati Barros

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uando o assunto é trabalho handmade, a excelência de Minas já é conhecida. A arte do bordado foi responsável por fazer da moda mineira sinônimo de preciosismo e requinte, tornando-se referência em moda-festa. Mas foi-se o tempo em que esse trabalho, com brilhos e pedrarias, ficou restrito ao look de festa. Os minuciosos trabalhos manuais ultrapassaram os limites da formalidade de ocasiões que exigem um dress code sofisticado e ganhou as ruas. As aplicações conferem um ar glam ao visual do dia

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a dia, provando que uma produção casual não precisa ser, necessariamente, básica. A estilista Denise Valadares é um dos jovens e promissores talentos que soube unir, com excelência, o melhor dos dois universos fashion. Ela é designer da grife de moda-festa Kalandra, reconhecida por seus modelos que trazem o DNA maximalista da moda feita entre nossas montanhas. Há dois meses, Denise lançou marca própria, que carrega o próprio nome e traz a proposta de apresen-

A estilista Denise Valadares propõe sofisticação a partir de peças típicas do look do dia a dia

tar peças típicas do look cotidiano, como o moletom e a t-shirt, de maneira muito sofisticada. “Eu sempre desejei criar uma moda casual chic e acabei caindo na moda-festa. Essa experiência que adquiri foi o que me deu todo o know-how para trabalhar com o bordado presente na minha marca hoje”, explica. Mais do que uma peça de roupa, as criações de Denise podem ser con-


ARTERIS De pedras, metais, bordados e misturas são feitas as despojadas bolsas da marca Hayla Bags, da designer Marcela Santiago

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sideradas primorosos acessórios que esbanjam personalidade e têm o poder de valorizar as produções mais básicas. “O bordado transforma e confere riqueza a qualquer peça. Gosto de mesclar chatons e pedrarias, o que resulta em algo único”, detalha. E para quem acredita que modelos como os desenvolvidos pela designer são destinados a apenas um público, ela esclarece: “Minhas clientes têm os mais diferentes estilos, e a faixa etária varia de 18 a 70 anos. O que elas têm em comum é o fato de serem mulheres exigentes, que apreciam peças elaboradas, com uma diferenciação, e que buscam exclusividade”. Para atender a esse público, Denise aposta também na variação de matéria-prima. “Estou fazendo um piloto de jeans bordado, além do trabalho na linha e no crochê, sempre com as aplicações. A busca constante é por novidades que criem desejo no outro e por dar toques de glamour a peças curingas do closet feminino”, define. E para quem pensou que o bordado no moletom era o máximo da união entre o despojamento e o luxo, vai se encantar igualmente pela Hayla Bags. A marca da designer Marcela Santiago tem personalidade. As bolsas com pegada boho são o resultado de um trabalho autoral de uma mente que não para. Marcela é formada em moda, já fez trabalhos como produtora, morou dois anos em São Paulo, onde trabalhou como fashion shopper de um e-commerc e, desde outubro, dedica-se à própria grife. Atenta ao mercado, a designer percebeu um espaço para o trabalho com acessórios e investiu no segmento que há tempos se identifica. “Sempre tive dificuldade de achar bolsas diferentes. Além disso, os

acessórios permitem que você brinque, dá uma liberdade de criação e têm um valor agregado”, conta. A identidade da Hayla é reflexo do estilo de sua criadora. Aliás, basta um rápido encontro com Marcela para entender como a grife é praticamente uma extensão dela mesma. O misticismo, grande referência da artista, está representado em bordados, pedras, metais e texturas que, misturados, compõem o DNA da marca. “Acredito que as peças com pedras carreguem uma energia. Podem ser um amuleto da sorte”, entende. Apesar de dar origem a modelos que fogem do clássico, Marcela acredita que seja mais fácil do que se imagina inserir as peças no look cotidiano. “Elas são muito versáteis e podem ser usadas em todas as ocasiões. Eu mesma uso até na praia. Quero fazer um produto atemporal e versátil. É muito bacana quando você pega uma bolsa cheia de informação, mas vê que combina com quase tudo”. O bordado também chegou aos pés das fashionistas em modelos que, há pouco tempo, representavam apenas

conforto e praticidade, como a sapatilha e o slipper. Para Marcela Santiago, o sucesso desse tipo de trabalho pode ser explicado pelo resultado único que o trabalho handmade confere. “As pessoas tendem a valorizar cada vez mais o trabalho autoral. Isso porque, de certa forma, todo mundo busca uma peça exclusiva que cause desejo no outro. Por isso, faço, no máximo, dez unidades de cada modelo e não trabalho com reposição. Quero sempre apresentar as novidades que a própria cliente exige”. Para quem ainda acha que inserir esses elementos elaborados no “look nosso de cada dia” é um verdadeiro desafio, fica a sugestão da estilista Denise Valadares. “Não há mistério. A dica é balancear! Durante o dia, aposte em uma produção mais básica, com pouca informação e deixe que a peça bordada seja o destaque. Para uma ocasião durante a noite, é possível investir em uma combinação de bordados e até em um mix de texturas que torna o visual muito mais interessante. Para o inverno, dá para usar e abusar dos complementos, como o chapéu. O importante é não ter medo de ousar”, sugere. | 41


KULTUR

Pessach, a páscoa judaica Narrada no livro de Êxodo, a celebração revive a libertação dos hebreus escravizados pelos egípcios por 210 anos Bárbara Caldeira Foto de Felipe Pereira

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os lares cristãos, a páscoa celebra a ressurreição de Jesus e a primeira aparição de Cristo entre os discípulos após a crucificação. O significado da data, no entanto, é bem diferente para o povo judeu, presente em todos os cantos do mundo. No Brasil, eles são aproximadamente 110 mil, segundo dados da Federação Israelita do Estado de São Paulo. 42 | www.voxobjetiva.com.br

No judaísmo, a comemoração de Pessach - a Páscoa Judaica recorda a libertação dos filhos de Israel da escravidão no Egito, após 210 anos de trabalhos forçados. No calendário judaico, a celebração acontece no dia 15 do mês de Nissan. Em 2015, a data corresponde ao dia 3 de abril na contagem romana – próxima à

Páscoa Cristã, celebrada no dia 5 do mesmo mês. O rabino ortodoxo Nissim Katri, da Sociedade dos Amigos de Beit Chabad, em Belo Horizonte, explica que a palavra ‘pessach’ remete à ideia de salto. “A décima praga do Egito foi a morte dos primogênitos. Deus ordenou ao nosso povo


KULTUR que sacrificasse um carneiro para marcar, com sangue, os umbrais das portas. Quando o anjo da morte passou, ele saltou nossas casas, poupando os primogênitos judeus e matando os egípcios”, conta. Com duração de sete dias em Israel e oito no Brasil, a Pessach é um importante período para reflexão de valores, como a humildade e o respeito, conforme explica o rabino. “Pessach nos convida à reflexão e relembra como nossos antepassados deixaram a submissão terrestre, representada pela figura do faraó, para firmarem um compromisso com a submissão divina”, relata. SÊDER: A ABERTURA DA CELEBRAÇÃO O início da Páscoa judaica é marcado pelo Sêder, um tipo de ceia que relembra a história do Êxodo e a libertação do povo de Israel. Como a fuga do Egito aconteceu apressadamente, os pães que seriam levados para viagem não foram fermentados. Por esse motivo, a proibição do consumo de alimentos com cereais fermentados é um costume rigorosamente seguido durante o período. “Há uma metáfora no processo de fermentação relacionado ao instinto do mal que existe no homem: o ego. Comer o pão ázimo, aquele sem fermentação, também chamado de matzá, é uma forma de relembrar que não devemos deixar nosso ego inflar, pois ele nos impede de olhar para nossos semelhantes”, esclarece o rabino. Antes da celebração de Pessach, os judeus limpam as casas, retirando todos os produtos fermentados a partir de grãos, ação chamada de Bedicat Chametz. A prática é baseada nos ensinamentos do livro do Êxodo, que afirma, no capítulo 12, versículo 15: “Sete dias comereis pães asmos. Logo ao primeiro dia, tirareis o fermento das vossas

casas, pois qualquer que comer coisa levedada, desde o primeiro dia até ao sétimo dia, essa pessoa será eliminada de Israel”. O trecho também é encontrado nas Bíblias Cristãs, já que Êxodo é uma escritura comum dos livros sagrados das duas religiões, assim como Gênesis, Levítico, Números e Deuteronômio — conjunto que forma o Pentateuco, cuja autoria é atribuída a Moisés. No Sêder há uma ordem específica de ingestão de alimentos que simboliza a passagem bíblica. Também há uma indicação para a leitura da Hagadá, texto que narra a história de libertação de Israel. Além da matzá, alguns itens são trazidos à mesa na ceia. “Há uma mistura de raiz forte e de ervas amargas. Apesar de serem distintas, ambas simbolizam a amargura da escravidão”, relata Katri. A primeira é o maror e a segunda, o chazeret. Uma pasta de frutas marrom, em geral feita com maçãs, peras e nozes raladas, misturadas a uma pequena quantidade de vinho tinto, também é consumida: “A charosset se assemelha, tanto na cor quanto na consistência, à argamassa utilizada pelos escravos hebreus para a fabricação de tijolos utilizados na construção das cidades egípcias”, afirma. Um osso chamuscado, chamado zerôa, é uma lembrança do sacrifício, assim como beitzá, o ovo, que também remete à destruição do tempo. “Os legumes e os vegetais são mergulhados em água salgada, ato que faz alusão às lagrimas derramadas pelos judeus em sinal de sofrimento no Egito”, comenta o rabino. Ao longo do ritual, quatro copos de vinho tinto são tomados em etapas específicas do Sêder. O Pessach é uma das mais importantes celebrações do calendário

judaico, assim como o Yom Kipur, o Dia do Perdão, e da Sucot, a Festa dos Tabernáculos e das Cabanas. O Yom Kipur comemora a outorga da Torá no Monte Sinai sete semanas após a saída do Egito. Enquanto o Sucot celebra a proteção divina aos filhos de Israel durante os 40 anos de peregrinação no deserto. Um paralelo interessante traçado entre a Páscoa cristã e a judaica é o fato de que a Última Ceia de Jesus com seus apóstolos, na quintafeira Santa, foi um tradicional Sêder de Pessach. Para a realização da cerimônia não é necessário um número mínimo de participantes.

Pessach nos convida à reflexão e relembra como nossos antepassados deixaram a submissão terrestre, representada pela figura do faraó, para firmarem um compromisso com a submissão divina Nissim Katri, rabino

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KULTUR Integrante da comunicade judaica em Belo Horizonte, Beny celebra o Pessach para preservar a cultura do povo judeu espalhado pelo mundo

No judaísmo ortodoxo, porém, a celebração da data é restrita aos judeus, “uma vez que todos os rituais foram pensados e direcionados aos praticantes da religião”, de acordo com Katri. Outras vertentes judaicas não restringem a comemoração apenas ao público judeu. Em Belo Horizonte, a Congregação Israelita Mineira, praticante do judaísmo progressista, oferece duas ceias na data: a tradicional e uma aberta para os cristãos e membros de outras religiões, chamada de Sêder Fraterno. O PESSACH MINEIRO Nem mesmo o tempo atrapalha a renovação dos costumes da doutrina. O rabino Nissim Katri acredita que as famílias judaicas da capital mineira mantenham a tradição de Pessach, mas é preciso sempre reforçar o hábito. “Meu trabalho e o da Sociedade dos Amigos de Beit Chabad são justamente o de fortalecer a prática das celebrações, auxiliando e orientando os judeus nos rituais. Na sede da Sociedade, inclusive, comercializamos todos os produtos necessários para a realização do Sêder de Pessach”, ressalta. A instituição, que tem como objetivo a difusão do judaísmo, conta também com uma sinagoga. Judeu reformista, o professor de Krav Magá da União Israelita de Belo Horizonte Beny Schickler conta que sua família celebra a data de acordo com os preceitos da religião, mas os rituais foram simplificados. “Quando meus avós ainda estavam vivos, minha família realizava uma comemoração muito mais completa, com todas as rezas, seguindo a Hagadá. Hoje reunimos cerca de 20 pessoas na casa de um parente para o momento”, relata. 44 | www.voxobjetiva.com.br

De acordo com Beny, as crianças participam das atividades com seriedade, mas, também, com leveza e diversão. “Nós geralmente escondemos um pedaço da matzá pela casa e quem encontra ganha um prêmio, geralmente na forma de dinheiro”. Ele considera, no entanto, que o hábito se deve muito mais à tradição do que especificamente à religião. “Acredito que a família judaica não seja tão conservadora e religiosa e que as celebrações ocorrem mais por costume. É um momento para reunir todos e passar para as novas gerações um pouco do judaísmo”, afirma.

Além da tradição religiosa, Beny destaca que as famílias judaicas usam formas para preservar as memórias e raízes da história dos filhos de Israel, como o Krav Magá. Criada na década de 40 por Imi Lichtenfeld, conhecido como Mestre Imi, O Krav Magá é a única luta reconhecida mundialmente como arte de defesa pessoal. Entre datas comemorativas, tradições seculares e hábitos contemporâneos, em sintonia, os judeus encontram maneiras de fortalecer a identidade e manter vivo um dos valores que mais representam a Pessach: a liberdade.


KULTUR - CRÍTICA Divulgação

DOIS DIAS, UMA NOITE Filme narra peregrinação de personagem na luta contra um dos mais perversos reflexos da crise econômica no bloco europeu: o desemprego galopante André Martins No auge da crise econômica no bloco europeu, em 2007, as altas taxas de desemprego eram fantasmas que não respeitavam fronteiras. Parecia uma praga a se espalhar pelo Velho Continente. Em países, como Espanha e Grécia, o percentual de desocupação chegou a ultrapassar os 20%. Para quem não vivenciou esse período na Europa, os índices, vistos de longe, pareciam, sim, alarmantes, embora não fossem capazes de esboçar de forma plástica o que a situação representava para os principais países afetados. Com “Dois dias, uma noite”, os irmãos e diretores Luc e Jean-Pierre Dardenne dão formas e feições humanas aos números. A história gira em torno de Sandra (Marion Cotillard, em estado de graça), uma mulher que tenta, em um final de semana, convencer os colegas de trabalho a desistirem de um bônus salarial para que a empresa consiga continuar a arcar com o salário dela.

O filme faz de uma Bélgica em frangalhos, uma alegoria de grande parte da Europa. São pessoas amedrontadas pela possibilidade da perda de seus postos de trabalho e se desdobrando em trabalhos ilegais para sobreviverem com um mínimo de dignidade. Ao longo de sua peregrinação de porta em porta, Sandra encontra suporte e rejeição à ideia de cada um dos colegas se colocar na posição dela para, assim, tomarem, juntos, uma decisão coerente. Mas, diante de um cenário tão temeroso e restritivo, quem poderia dizer que negativas não são justificáveis? Apesar de o filme, em quase sua totalidade, torturar o espectador diante do drama da personagem, ele nos recompensa com um final satisfatório, capaz de arrancar um sorriso meio amarelado e fazer com que acreditemos que o mundo não esteja totalmente desprovido de virtuosismo e bondade. | 45


Amor e ódio Especialistas analisam reação popular ao principal produto da Rede Globo, a novela das 9 Wander Veroni Fotos de Alex Carvalho

a

té pouco tempo, quando telespectadores não demonstravam grande interesse por um programa de televisão ou se frustravam com o final insatisfatório de uma novela, o máximo que se podia fazer era mudar de canal ou desligar o aparelho de TV. Mas, de uns tempos para cá, as coisas mudaram. Atualmente, nada é mais natural do que compartilhar na internet opiniões que antes ficavam restritas a salas e quartos. A “resposta” do público é rápida. Acontece em tempo real. 46 | www.voxobjetiva.com.br

Na era da força das redes sociais, pouco ou nada adianta uma atração registrar bons índices de audiência se ela não é abraçada pelo público internauta. Os bordões e as expressões usadas nas novelas geralmente se transformam em hashtags ou memes. Tudo é criado minuto a minuto para criticar ou brincar com o que é exibido na TV. Foi justamente isso que pôde ser observado tanto com o fim de “Império” quanto com o início de “Babilônia”, ambas novelas globais.

Enquanto “Império” desagradou ao público com um final trágico, em que filho mata o próprio pai pelas costas, “Babilônia” causou grande repercussão pelo excesso de personagens sem um pingo de escrúpulo ou de caráter. Os mais moralistas se indignaram ainda mais com as demonstrações de afeto entre duas octogenárias, Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. Na novela, as duas formam um casal homossexual com núcleo familiar sólido e respeitado. A desaprovação com o enredo das no-


KULTUR velas levou muitas pessoas às redes sociais. Grupos religiosos e conservadores chegaram a organizar um boicote nas redes à “Babilônia”. “É inerente ao ser humano a necessidade de pertencimento, de aceitação, de compartilhamento de ideias. Isso não é novo. A diferença é que as pessoas descobriram nas redes sociais virtuais uma chance de não apenas se relacionar, mas conseguir uma aceitação pública de grandes proporções. Acontece que os debates que ocorriam no boca a boca agora são amplificados pela internet”, explica a social media, Ayala Melgaço, sócia-fundadora da Mafalda Comunica, em Belo Horizonte. As questões relativas à orientação sexual e uma nova configuração de família não são as únicas temáticas que cercam “Babilônia” de polêmica. A novela aborda temas complexos como o aborto, a prostituição e a corrupção na política. O principal chamarisco do folhetim, entretanto, é o embate entre as duas vilãs, Beatriz e Inês, interpretadas pelas atrizes

Glória Pires e Adriana Esteves. Enquanto uma é empresária rica, bem-sucedida e casada com um milionário, a outra é uma mulher invejosa que não mede esforços para ter o que quer. Após ser chantageada por Inês, Beatriz resolve se unir à suposta amiga para que seus crimes não venham à tona.

ícones da nossa cultura, tem um peso político muito importante. Acredito que as queixas sejam reações de uma minoria. Todos têm direito de se expressar, mas é lamentável ver que, em pleno século XXI, a motivação seja por conta da intolerância. O mundo mudou, e a diversidade faz parte da vida”, ressalta.

Apesar de o público vir demonstrando preferência pelas vilãs nas últimas novelas globais, “Babilônia” - que tem duas algozes da pior espécie - ainda não decolou. Em baixa, o folhetim escrito por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga viu a audiência da estreia de 33 pontos cair para 25 pontos, mesmo índice de uma novela das seis. Mas será que a pressão na internet pode ter interferido no desempenho do principal produto do horário nobre da Globo?

De acordo com o psicanalista Fabrício Ribeiro, professor do curso de psicologia da Faculdade Newton Paiva, os internautas tendem a demonstrar, com muita ênfase, as próprias emoções quando amam ou odeiam um programa de TV. “Antes se escreviam as angústias no diário como depositário secreto das palavras mais íntimas. Hoje nosso diário passou a ser as redes sociais. Não é secreto mais; agora é para todo mundo testemunhar. Isso cumpre uma função na vida de quem o faz, seja pra se promover, seja para parecer feliz ou simplesmente para aparecer na vida do outro”, comenta.

Para um dos autores de Babilônia, o roteirista Ricardo Linhares, as queixas fazem parte de um determinado grupo e não de um todo. “Claro que o beijo de duas atrizes consagradas,

A funcionária pública e telespectadora Susan Aun, de 42 anos, acredita que o assunto vá muito mais além do que gostar ou não de determinada novela. Para ela, muitas pessoas sentem necessidade de expor uma opinião na internet com o objetivo de se “inserir”, “ser aceito” ou mesmo” se “posicionar” diante daquilo que acredita ou imagina ser o correto. Muitas vezes, isso acontece sem a pessoa fazer o exercício de se colocar no lugar da outra e praticar a compaixão. “Não acho que o público esteja mais conservador, mas sinto que as opiniões se dividem, o que é muito natural. Precisamos saber discernir o certo do errado, principalmente orientando as crianças. Proibir assuntos polêmicos nas novelas? Não é a solução. Se a obra não agrada, é só parar de assistir. O que não falta hoje é opção de entretenimento”, acredita. Em grande fase, Glória Pires é a inescrupulosa Beatriz na novela escrita por Gilberto Braga | 47


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TERRA BRASILIS • AGENDA

No tom do Tom

Vanessa da Mata

Ele é um dos comediantes mais queridos e respeitado do Brasil, responsável pela criação de mais de 200 personagens. Tom Cavalcante percorre as principais cidades e capitais do país para apresentações do espetáculo sucesso de público “No tom do Tom”. Dentre os muitos personagens hilários do artista, o espectador vai se divertir com a presença do “pinguço” João Canabrava e da doméstica Jarilene. As imitações de grandes personalidades da música também prometem levar o público a um histérico ataque de risos.

Após grande sucesso com um tributo a Tom Jobim, Vanessa da Mata volta as atenções para a divulgação do novo disco, “Segue o Som”. Vencedora do Grammy Latino em 2008, a cantora matogrossense sobe ao palco do Chevrolet Hall para mostrar canções com uma pegada mais pop e moderna. O novo trabalho é marcado pela diversidade. Além das canções inéditas, Vanessa apresenta sucessos que pontuaram esses 12 anos de carreira, como “Amado”, “Ai, ai, ai”, “Boa Sorte/ Good Luck”, dentre outros.

Teatro Bradesco 10 e 11 de abril, às 21h R$ 100 (inteira) teatrobradescobh.com.br

Chevrolet Hall 11 de abril, às 22h A partir de R$ 70 (inteira) chevrolethallbh.com.br

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Ana Carolina Dona de uma das vozes femininas mais fortes e marcantes dentre as das cantoras da nova geração da MPB, a mineira Ana Carolina volta a Beagá, cidade que a revelou para o Brasil, para apresentação única no Chevrolet Hall. No setlist do show, sucessos do álbum “#AC ao Vivo” gravado em São Paulo, em outubro de 2014, e outras canções que ficaram conhecidas na voz da cantora. O público também vai conferir algumas inserções de vídeo dirigidas por Ana e criadas exclusivamente para o show.

Chevrolet Hall 25 de abril, às 22h chevrolethallbh.com.br


TERRA BRASILIS • AGENDA

Decole mais rápido. Conexão Aeroporto BH e Betim. Agora, pela pista rápida e exclusiva do MOVE.

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BH 23,

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Por trecho.

Kiss 40 Anos O ano mal começou, mas é certo que os shows da banda Kiss no Brasil é um dos mais aguardados e marcantes de 2015. O conjunto volta ao país após 22 anos. A apresentação marca os 40 anos de uma das mais icônicas e cultuadas bandas de hard rock de todos os tempos. Para uma data tão especial, o espetáculo conta com uma produção robusta, que inclui o que são marcas do conjunto: pirotecnismo, maquiagem e figurinos impecáveis. Vai ser um show imperdível e, certamente, memorável! Arena Independência 23 de abril, às 19h A partir de R$ 200 (inteira) noderosa.com.br

Citibank Hall RJ 16 de abril, às 22h Variados preços ticketsforfun.com.br

(HORÁRIOS ESPECIAIS VIA FIAT)

WI-FI TEL. Divulgação

Imagine Dragons

BETIM R$36,05

Originário de Las Vegas, no estado americano de Nevada, o Imagine Dragons tem pouco tempo de estrada - apenas sete anos -, mas já é considerado um dos conjuntos preferidos pelos apreciadores de um bom rock indie. A banda volta ao Brasil para apresentações no Citibank Hall, no Rio de Janeiro, no dia 16 de abril, e na Arena Anhembi, em São Paulo, no dia 18 de abril. No setlist, canções contagiantes, como “It’s Time” e “Demons”, dois dos grandes sucessos do grupo.

Por trecho.

AR

3224 1002

www.conexaoaeroporto.com.br

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CRÔNICA

Joanita Gontijo Comportamento

Racionamento de mágoas Ele fez de novo. Havia prometido mudar, jurou reduzir o consumo da bebida e chegar mais cedo em casa para fazer as crianças dormirem. Quando a porta da sala bateu avisando da volta do marido, os primeiros raios de sol iluminavam a penumbra do quarto do casal. Daniel tentou não acordar Laura, mas ela sequer tinha fechado os olhos. A raiva a fez bradar impropérios. Daniel reconheceu os excessos, pediu desculpas e prometeu não ser tão displicente com a família. Laura se levantou para tomar um gole do líquido que guardava no armário, perdoou o marido e renovou as esperanças de ter um companheiro mais presente.

virou-a na boca seca, mas percebeu que não havia mais nenhuma gota. Esgotaram-se o perdão e o encantamento. Perdoar é fundamental para manter qualquer relação. Não há pessoas perfeitas e a cada um cabe a disposição de relevar e seguir em frente. Mas pedir desculpas não pode ser um ato banal. Isso porque assim como a água e o óleo podem ficar no mesmo copo sem se misturarem, o perdão e o encantamento também ocupam o mesmo espaço, apesar de viverem apartados. O encantamento pelo outro é a água, pura, refrescante, vital e fica na parte mais profunda do copo. Acima está o perdão. Menos denso e mais viscoso, ele protege o amor da decepção.

Três semanas depois, no aniversário do caçula, outra decepção. Daniel quase perdeu o momento de soprar as velinhas ao ficar por mais de uma hora num telefonema de trabalho. Laura reprovou a atitude com um olhar nada amistoso, sorriram para as fotos, distribuíram lembrancinhas e, antes de dormir, Daniel pediu desculpas novamente. De agora em diante, “iria priorizar os momentos em família”. Não era a primeira vez que Laura ouvia esse juramento, mas ela esticou o braço e pegou, no criado mudo, a garrafa onde guardava o líquido reservado para esses momentos. Tomou mais um gole, desculpou o egoísmo do companheiro e acreditou que dali pra frente ele seria mais atencioso.

Quando alguém nos magoa, viramos na alma nosso copo de perdão e a cada gole, consumimos também parte do encantamento. É assim se bebermos a mistura água - óleo. Fenômenos físicos à parte, a comparação vale para alertar os reincidentes na arte de “errar e pedir desculpas”. Controle a intensidade dos tropeços para economizar a necessidade de clemência. Confira se não há vazamentos de mal-entendidos. De gota em gota, você desperdiça grandes sentimentos. Quem raciona hoje, tem água garantida para matar a sede por mais tempo... E, por último, aproveite os bons tempos para fazer chover nos reservatórios!

A febre de Laura já durava quase uma semana, e ela achou melhor cancelar a viagem para o sítio no feriado. Daniel não se conformou com a decisão e passou três dias longe da mulher enferma. Na volta, diante do olhar decepcionado de Laura, reconheceu que havia pensado apenas nos seus interesses, justificou seu desleixo com cansaço e pediu perdão. Laura já estava com a garrafa nas mãos, 50 | www.voxobjetiva.com.br

Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela” joanitagontijo@yahoo.com.br


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