Revista Multiverso

EDITORIAL

BEM-VINDO À EDIÇÃO #1

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e você é leitor das histórias em quadrinhos, ou um admirador dos roteiros dos maiores super-heróis do mundo, você está no lugar certo. Aqui, você poderá conhecer um pouco mais a fundo temas atuais e de relevância contemporânea de uma forma muito mais legal: através da visão de grandes personagens das HQs. Imagina saber como o seu super-herói favorito passou a infância dele?

E o melhor, você pode ser esse super-herói!

Prepare-se para fazer uma imersão nas suas narrativas preferidas dentro do Universo dos Quadrinhos e para conhecer fatos do Universo Real, aquele em que todos nós vivemos.

Na Edição #1, você poderá conhecer os quatro universos que sempre farão parte da Multiverso, o Psicossocial, Científico, Cultural e Político. Ainda nessa edição, você poderá seguir em direção ao Universo Espiritual. Lá, o deus Thor, a islã Pó, o católico Demolidor, o místico Dr. Estranho, o judeu Magneto e o Shazam! ensinarão um pouco sobre suas visões religiosas e místicas que são abordadas nos quadrinhos.

Em contrapartida, Lex Luthor, o vilão do Superman, apresentará seus argumentos para defender sua tese ateísta.

Não deixe de acompanhar cada edição da Revista Multiverso. Se você precisar falar com a nossa equipe, mande um e-mail para:

EXPEDIENTE PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO DE ROTARIANOS DE SÃO PAULO Dr. Nahid Chicani CHANCELER DAS FACULDADES INTEGRADAS RIO BRANCO Dr. Eduardo de Barros Pimentel DIRETOR GERAL DAS FACULDADES INTEGRADAS RIO BRANCO Prof. Dr. Edman Altheman COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO Profª. Drª. Patrícia Rangel ORIENTADOR DA EDIÇÃO #1 Prof. Dr. André Rosa de Oliveira PROJETO GRÁFICO bianca bispo Felipe Nascimento DIAGRAMAÇÃO Felipe Nascimento REPORTAGENS Bianca Bispo Fábio Oliveira Gustavo Paulo Nathália Garcia capa Bianca Bispo

blogmultiversogeek@gmail.com.

Seja bem-vindo!

MULTIVERSO

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UNIVERSO político regime nazista Posicionamento da Marvel Comics durante o nazismo

niilismo O equilíbrio através da óptica niilista de Thanos

guerra fria Por dentro do contexto político de Watchmen

entre a foice e o martelo Superman e a proximidade com o camarada Stalin

CAPA

PANTERA NEGRA/48 UNIVERSO PSICOSSOCIAL NACIONALISMO E PATRIOTISMO Capitão América e a representatividade estadunidense

genosha Participação de Magneto na reconstrução do refúgio mutante

justiceiro O trauma psicológico na personalidade de Frank Castle

homem-aranha A humanização dos super-heróis através da Marvel Comics

feminismo Mulher-Maravilha e Vitória Alada e a luta feminista nas HQs

v de vigança Futuro distópico no Reino Unido e impacto mundial

/24 /26 /28 /32 /36

/06 /11 /14 ENTREVISTA /16 victor /20 callari/38

UNIVERSO cultural mancha solar A representatividade brasileira nos X-Men

mulher gavião As múltiplas reencarnações da princesa egípcia Chay-ara

doutor destino O aspecto cultural do passado do vilão da Marvel

artes marciais Representação do Extremo Oriente na Marvel

/40 /44 /54 /56

UNIVERSO científico

UNIVERSO ESPIRITUAL mitologia nórdica Thor Odinson e as crenças escandinavas

ateísmo Influências da filosofia de Nietzsche na vida de Lex Luthor

shazam!

Diálogo metafórico com figuras famosas da mitologia grega

islamismo O ponto de vista de Sooraya Qadir, a Pó, sobre a religião

catolicismo A importância religiosa na vida do Demolidor

judaísmo O passado do jovem Max Eisenhardt

super-genes

as mutações no dna/64 homem de ferro Sistemas tecnológicos de segurança de Tony Stark

inteligência artificial Maniqueísmo representado em Ultron e Visão

indústria farmacêutica Um dilema moral para o Dr. Estranho

vida fora da terra Histórias em quadrinhos e o universo extraterrestre

/58 /60 /66 /70

dr. estranho

/74 /78 /80 /82 /86 /92

elevação espiritual/80

NACIONALISMO E PATRIOTISMO

MULTIVERSO

D I V U L G A Ç Ã O M A RV E L C O M I C S

Capitão América e a representatividade estadunidense

UNIVERSO psicossocial

BIANCA BISPO E FÁBIO OLIVEIRA

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O grande soldado da Marvel Comics é o símbolo nacionalista e patriota com escudo inquebrável e o uniforme com as cores do país

consolidação do personagem Capitão América como símbolo nacionalista e patriota

se deu em seus 77 anos de existência, em histórias em quadrinhos popularmente conhecidas. Seu rosto foi estampado em inúmeras capas e seu nome se fortaleceu como uma representação estadunidense produzida pela Marvel Comics.

Fruto de um relacionamento entre imigrantes irlandeses, o personagem fictício da Marvel, Steven Grant Rogers, nasceu em 1920, no Brooklyn, bairro cuja cultura é valorizada pelo herói. Desde pequeno, Rogers demonstrava-se uma criança distinta das demais, altruísta, preocupada com a noção básica de honra e satisfação ao bem maior. Mesmo diante das dificuldades financeiras de seus pais, o pequeno mostrava um otimismo pouco condizente com sua realidade familiar, mas aceitável em meio à euforia do país nos anos 20.

Com a quebra da bolsa de Nova York em 1929, fábricas fecharam as portas, bancos

faliram e a desesperança passou a preencher o vocabulário geral. Dessa vez, qualquer resquício de positividade era componente raro. Além do

clima instável na economia, a vida de Rogers se tornou ainda mais difícil: seu pai havia morrido quando criança e sua mãe faleceu logo depois do rapaz entrar na fase da adolescência. Eis que uma misteriosa possibilidade de ingressar no exército surgiu para ele. A injeção do soro do “Super-Soldado” mudou radicalmente a fisionomia do jovem, porém o coração capaz de discernir certo do errado permanecia ali.

Mestre em história social, o professor André Oliva ressalta como os traços típicos e estereotipados norte-americano também entram no cenário de crise e salvação do país. “Não se trata de uma personagem filha de negros, asiáticos ou judeus, tidos naquela comunidade como ‘inferiores’, mas sim um jovem branco, cristão, respeitador da ordem, capaz de fazer a América e defender os interesses de seus pais”, diz.

Em 1939, iniciou-se a Segunda Guerra Mundial e a questão do envolvimento dos Estados Unidos tomou conta dos debates públicos. Novamente, um novo momento crucial ganharia destaque nas páginas do Capitão América. André aponta a relação entre Rogers e o período de guerra.

“O personagem representa o esforço de guerra estadunidense contra a opressão fascista, ao menos no discurso. A Marvel dedicou tempo e esforço nesse sentido, atuando como ferramenta de propaganda a serviço do Estado”, explica.

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UNIVERSO psicossocial

GUERRA CIVIL Os atentados em 11 de setembro de 2001 mudaram a concepção geral de segurança mundial. Nos EUA, o medo fora instaurado por todo o território, e claro, os governantes precisavam dar alguma resposta.

A Doutrina Bush representou novas medidas adotadas para a política externa do governo de George W. Bush, com o pretexto claro e evidente: o caráter antiterrorista foi levado ao extremo.

A Marvel, por sua vez, optou por criticar Bush, culminando na aclamada saga da Guerra Civil.

Na história, a popularidade dos heróis diminui e o governo responde imediatamente. É criada a Lei de Registro de Super-Humanos, todos os dotados de poderes especiais deveriam registrar-se junto à S.H.I.E.L.D, órgão máximo de segurança. Se você quer ser herói, primeiro deve responder à figura máxima do presidente dos EUA, como um verdadeiro agente federal. Steve Rogers não compactuou com a medida, permitindo que um conflito em massa tivesse início entre facções super-heróicas.

André conta que a admiração imediata por parte das pessoas em relação a Rogers acontece por conta de uma ideologia norte-americana. “O ‘carinho imediato’ trata-se de construção ideológica. O uso das HQs

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GUERRA CIVIL

Dividida em sete partes, “Guerra Civil” foi publicada entre junho de 2006 e janeiro de 2007. Escrita por Mark Millar e ilustrada por Steve McNiven, a narrativa preocupase muito mais em ser um objeto de estudo político e social do que uma mera e descompromissada história em quadrinhos. No fim, poucas respostas são entregues, mas a exposição do que o extremismo é capaz de fazer quando misturado à ideologias recompensa pela complexidade e autenticidade do roteiro.

como ferramenta de difusão ideológica não é novo, especialmente devido à sua capilaridade, principalmente junto ao público mais jovem”, afirma.

O Capitão América e Homem de Ferro representam dois pontos de vista distintos, recorrentes em debates atuais. Nem mesmo a amizade dos dois foi capaz de minimizar o cunho ideológico do herói. Guerra Civil preocupa-se muito mais em ser um objeto de estudo político e social do que uma mera e descompromissada história em quadrinhos.

André Oliva esclarece o posi-

cionamento da Marvel e como isso interfere na construção de personagens como o Capitão América. “A Marvel posicionou-se ideológica e politicamente nessa questão, colocando-se na oposição aos atos governamentais. As personagens são apenas reflexo desse embate”, enaltece.

NACIONALISMO E PATRIOTISMO

No universo real, aqueles que representam e juram amor por suas nações estão localizados em diversos países, cada um com seus princípios. O nacionalismo, tese ideológica que pode ser definida como uma supervalorização de certa nação, marcada pelo sentimento de vanglorização e reconhecimento, surge efetivamente após marcos históricos que mudaram o mundo. A Revolução Francesa foi um deles. Já o patriotismo está conectado com símbolos do Estado, como o amor pelo hino e pela bandeira.

O Capitão América é leal ao sonho, assim como aqueles que protegem suas nações. O soldado de primeira classe Leonardo Barros, de 23 anos, representa seu país através da FAB - Força Aérea Brasileira. Para ele, entrar na FAB foi um prestígio, que mudou sua vida pessoal e profissional. Ele explica o quão fundamental é para os soldados terem um apoio dos cidadãos.

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A visão nacionalista age em conjunto com o patriotismo

dentro da base militar. O soldado conta que diversos valores são transmitidos pela Força Aérea, elencando a disciplina e hierarquia como os principais.

“Somos uma instituição baseada na hierarquia e na disciplina, como por exemplo, o dever como cidadão, o patriotismo, o civismo e o amor à profissão, coisas que o muitas pessoas do lado de fora não têm”, explica.

Outro ramo das Forças Armadas, o Exército Brasileiro também carrega consigo um espírito nacionalista que paira em seus valores e ensinamentos. Gabriel Magalhães, de 22 anos, é um ex-soldado do Exército Brasileiro e reconhece que é necessário agir em prol do Brasil, e não apenas criticá-lo como Estado. “É muito importante acreditar em nosso país, por mais que aconteça tudo o que vem acontecendo. Se ninguém der um ponto de confiança e se mover, sair de cômodo, de só falar e nunca agir, eu acho que a gente vai continuar na mesma”, ressalta.

“É IMPORTANTE SIM QUE AS PESSOAS ACREDITEM NA GENTE, NO NOSSO POTENCIAL” Leonardo Barros Sempre tentar e não desistir de primeira. O lema pode ser aplicado a diversos limites encontrados na vida, sendo eles físicos ou psicológicos. “Algo que o Exército me passou foi a questão de não desistir, de não achar que eu estou no meu limite e eu vou e desisto das coisas de primeira, sabe? Acho que isso foi a coisa mais importante que vi lá

dentro, porque é muito forte em relação aos nossos limites”, conta Gabriel, que descreve a sensação de como o cansaço interfere em diversos aspectos na vida.

O ex-soldado conta como a percepção do mundo de fora se difere daqueles que foram escolhidos pelo alistamento. Além disso, acreditar em sua nação

é um ponto forte para que julgamentos negativos não sejam feitos e uma nova visão de mundo seja construída. “Tem muita gente que critica, tem muita gente que apoia, mas a maioria dessas pessoas nunca estiveram ali na nossa pele, dentro da farda, para saber como é que é. Eu me sinto muito feliz e muito honrado, porque lá dentro é um mundo completamente

LEONARDO BARROS,

soldado de primeira classe da Força

Aérea Brasileira

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A C E RV O P E S S O A L

“É importante sim que as pessoas acreditem na gente, no nosso potencial. É um combustível para que possamos continuar com o nosso trabalho, nossa dedicação e cumprirmos o nosso papel, que é manter a ordem e o progresso”, afirma.

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FORÇAS ARMADAS

A Marinha, o Exército e a Força Aérea são as instituições que compõem as Forças Armadas do Brasil - FA. Anualmente, o Global Firepower elabora um ranking com 125 nações elencadas de acordo com suas forças militares. Em 2017, o Brasil ficou em 17º lugar na classificação da GF. O país também se destacou entre os países da América Latina na década de 80, quando pela primeira vez um país latino americano aceitava o alistamento das mulheres.

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SOLDADOS AMERICANOS E SOLDADOS BRASILEIROS

Os “Capitães América” do mundo real vêm a figura de Steve Rogers como uma inspiração e exemplo a ser seguido. Sua de-

voção e sua bondade são pontos que se destacam e geram um interesse pela figura do herói. O soldado Leonardo diz que toda a população deveria ver os ensinamentos do Capitão América como uma lição

de vida. “O Capitão América deveria servir de exemplo para toda a população, com seu patriotismo e sua bondade para com o próximo”, aponta.

André Oliva explica como esse simbolismo é visto no país e o porquê de ter sido construído de tal forma. “A história brasileira constituiu-se em outro campo de embate. Não se trata de um nacionalismo ‘menor’, mas sim uma construção de um mito fundador amparado mais na grandiosidade da natureza e povo pacífico que qualquer outra coisa”, conclui.

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diferente. Eu acho que é importante que as pessoas acreditem no potencial do Brasil”, finaliza.

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GENOSHA: O LADO HUMANITÁRIO DE MAGNETO Inspire-se na perseverança que Erik Lehnsherr teve com Genosha e saiba como ajudar refugiados no universo real

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BIANCA BISPO

N

a saída para o mar do sudeste africano, acima de Madagascar, está localizada uma ilha chamada Genosha. Mesmo sendo uma região fictícia, Genosha teve seus dilemas internos de governo, segurança, polêmicas e até mesmo escravidão em seus 30 anos de existência na Marvel Comics. Criada pelo roteirista Chris Claremont em 1988, chegou a ser um forte refúgio mutante, contando com a proteção do personagem Magneto.

Inicialmente, a ilha apresentava um estilo de vida elevado, diferentemente das nações vizinhas. Enquanto os demais

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países africanos sofriam com perseguições políticas e raciais, Genosha era uma ilha rica, com uma ótima economia. Isso tudo só era possível por conta da forma que a região era governada e devido ao projeto criado pelo cientista David Moreau, chamado de Genengenharia. Basicamente, o que Moreau queria era que Genosha fosse uma das melhores e maiores nações do mundo.

A forma de governo era uma espécie de regime ditatorial, sendo que os mutantes não tinham o direito nem de sair do país.

Caso tentassem fugir, o grupo de soldados conhecido como Magistrados os traziam de volta à força.

As crianças geneticamente modificadas pelo Genengenheiro eram chamadas de mutóides.

Antes, elas eram as escravas da nação de Genosha. Entretanto,

em determinado momento, os mutóides se rebelaram e eclodiram uma guerra civil no país, derrubando o então regime governamental e contando com a ajuda dos X-Men para derrotar os Magistrados.

GENENGENHARIA

O projeto de Moreau funcionava assim: através de um aparelho trazido pelo personagem Sugar Man, o cientista conseguia detectar em crianças com menos de 13 anos a presença do gene X. Aquelas que apresentavam resultados positivos eram obrigadas a trabalhar para o governo de Genosha.

Suas memórias eram apagadas, o que permitia que novos traços de personalidades fossem atribuídos, criando mutantes mais obedientes às vontades de Moreau.

O salvador de Genosha, Magneto, tomou a frente para retomar a ordem no país e torná-lo um refúgio para os mutantes. Por ser tão temido pelos humanos, Magneto conseguiu o apoio da ONU para restauração do

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país e se autointitulou o salvador dos mutantes.

ONU E O REFÚGIO MUTANTE

Genosha é um país cheio de história, que marcou a vida de muitos mutantes. A ONU auxiliou no processo de transformação da ilha em um refúgio mutante, visando também manter Magneto por perto, para que a situação não saísse de seu controle. Chegou a colocar uma representante dentro do país, chamada Dra. Alda Huxley.

Infelizmente, o país foi destruído após o episódio E de Extinção. Mas durante os dias gloriosos do refúgio, 16 milhões de pessoas chegaram a estabelecer suas vidas lá, alguns humanos, mas a maior parte mutante. A capital da ilha era Baía Hammer, onde Magneto disseminava sua palavra para os milhões de mutantes ao lado de seus apoiadores, chamados Acólitos.

Magneto agiu de acordo com o que ele julgava ser certo para restaurar o refúgio. O personagem passou por diversos momentos difíceis em sua vida, o que culminou na personalidade dele quando adulto. Erik Lehnsherr se viu em situações tristes quando era novo, tensas quando jovem, mas sempre lutou pelo o que achava certo: o soberanismo mutante.

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CRISE DOS REFUGIADOS Indo para o universo real, lá em 2011, alguns países orientais (como a Líbia, Egito, Tunísia e Síria) passaram por uma onda de protestos contra governos do mundo árabe, chamados de Primavera-Árabe. A Síria foi o país que mais sofreu em diversos aspectos, com a instabilidade política e com o desencadeamento de uma guerra civil em 2014.

Um ponto importante para a reestruturação de nações que lidam com essas guerras civis é

o trabalho humanitário. A professora de direito internacional Angela Tsatlogiannis diz que se não fosse este trabalho, ela não saberia o que poderia acontecer com os países. “Honestamente, não sei o que seria dessas pessoas, principalmente os sírios na Europa, eles sofrem uma pressão muito grande da população local para não tê-los lá”, afirma.

“VAMOS NOS COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO. VAMOS VER COMO SERIA VIVER A VIDA DAQUELA PESSOA, SE A GENTE CONSEGUE SER TRATADO DAQUELA FORMA” Angela Tsatlogiannis

Atualmente, alguns países, tanto na Ásia quanto em outros continentes, seguem lidando com conflitos internos. “O máximo que a gente puder fazer para divulgar essas causas, fazer com que todos entendam que essas pessoas não quiseram sair das suas casas, dos seus países e deixar suas coisas para trás. Elas só fizeram pela necessidade, porque era sair ou morrer, e elas não têm para onde ir”, explica Angela, que resume o que aconteceria com os refugiados se ninguém os ajudasse. “Se a comunidade internacional não receber essas pessoas, para onde elas vão?”, indaga.

AJUDA HUMANITÁRIA Assim como nos quadrinhos, alguns seres humanos também demonstram uma vontade de ajudar as pessoas que foram vítimas da guerra civil. Existem instituições que uniram suas forças para promover uma ajuda humanitária àqueles que mais necessitam. A própria ONU possui a ACNUR para apoiar essa causa.

“O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, ACNUR, é um órgão específico para cuidar destes povos e principalmente para fazer valer os documentos internacionais que auxiliam os refugiados. Só que o Alto Comissariado não é suficiente para sanar e para toda essa ajuda humanitária”, explica Angela.

A professora também ressalta a importância de tais organizações para os refugiados. “Esses trabalhos humanitários têm sido de uma extrema ajuda, porque normalmente eles não vêm cer-

COMO AJUDAR? CONTRIBUA PELA INTERNET COM AS ORGANIZAÇÕES DE AJUDA HUMANITÁRIA DO MUNDO. CONFIRA ABAIXO ALGUMAS DELAS: UNICEF secure.unicef.org.br ACNUR doar.acnur.org

COMITÊ INTERNACIONAL DE RESGATE rescue.org CRUZ VERMELHA cruzvermelhasp.org.br

MÉDICOS SEM FRONTEIRAS msf.org.br

cados da burocracia que as organizações internacionais vêm. A ajuda é muito mais fácil, ela vem mais rápida”, conta. “É muito difícil viver nas condições que elas vivem e aceitar rejeição pelas quais elas passam nesses países. Vamos nos colocar no lugar do outro. Vamos ver como seria viver a vida daquela pessoa, se a gente consegue ser tratado daquela forma”, conclui.

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A personalidade vingativa do

Justiceiro

Frank Castle conquistou milhões de fãs no mundo e não foi apenas pela invocada caveira estampada no peito, o personagem carrega em si um pesado trauma psicológico FÁBIO OLIVEIRA

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uando se pensa em anti-herói dos quadrinhos, é quase unanimidade entre os fãs a posição de destaque de Frank Castle, o Justiceiro.

Debutando na série mensal do Homem-Aranha, em 1974, com a mente de Gerry Conway por trás de sua criação, Castle surgiu inicialmente como um vilão do cabeça de teia, contratado pelo Chacal para executá-lo. No entanto, ao confrontar o herói, o então mercenário enxergou uma bondade não condizente com a possível morte de Peter Parker, recusando-se a atirar no Homem-Aranha.

Logo em sua primeira aparição, o símbolo da caveira de sua vestimenta chamou a atenção dos leitores, que requisitaram a volta da figura misteriosa. Não de-

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moraria para o personagem ganhar uma revista solo e ter sua essência, motivação e origem revelada ao público geral.

O GATILHO DE UMA ARMA CARREGADA PELA GUERRA

Antes de tornar-se o implacável vigilante de Nova Iorque, Frank Castle conheceu o pior da humanidade ao servir os EUA na Guerra do Vietnã, evento responsável por implementar a barbárie no cerne do então Capitão do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. O psicólogo Matheus Franckevicius analisa as possíveis influências no cerne mental. “Uma guerra é um lugar onde tudo pode acontecer a qualquer momento, o soldado vive em um constante estado de alerta. Não se é possí-

vel dormir em paz ou desfrutar de calma e tranquilidade. Isso por si já traz uma descarga de energia no nosso aparelho psíquico, gerando inúmeros sintomas fisiológicos e psicológicos”, esclarece Matheus.

Infelizmente, o acaso seria o pior inimigo do anti-herói, que ao retornar e organizar um piquenique com a família no Central Park, encontrou-se no meio de uma troca de tiros entre gangues que são rivais.

Maria, Frank Jr. e Lisa Castle foram mortos, enquanto Frank foi amaldiçoado por testemunhar a cena e manter-se vivo mesmo após tantos disparos. A partir desse ponto, como o próprio personagem define, Francis Castiglione estava morto.

A consciência já quebrada por espólios de guerra foi exterminada de vez. Matheus relaciona momentos parecidos da vida do anti-herói. “O homem que

“VER O JUSTICEIRO ATUANDO CERTAMENTE CONTEMPLA NOSSA ESFERA VINGATIVA E VIOLENTA” Matheus Franckevicius

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perde a família já é um homem transformado pela guerra. É no mínimo razoável conceber a ideia de que Frank se beneficia, inconscientemente, da morte de seus familiares para retornar ao estado traumático e novamente viver outra guerra”, afirma.

O APELO DE CASTLE

Seria a sociedade infestada pelo perigo iminente de vida, com o clima de insegurança perante tamanha violência generalizada e a alta sensação de impunidade sobre aqueles que praticam o

mal, capaz de causar o ápice da revolta humana com um toque decisivo de extremismo mental?

Matheus responde. “O Justiceiro talvez seja aquilo que queremos fazer e somos censurados justamente pelo imperativo da lei e amarras morais e sociais. Ver o Justiceiro atuando certamente contempla nossa esfera vingativa e violenta", aponta o psicólogo, que complementa. “No fim das contas, o rótulo de anti-herói é também muito questionável. Creio que para muitos ele pode ser tido como um autêntico herói. Para aqueles que entendem que a violência deve ser respondida com violência e não com políticas públicas”, finaliza.

O SOLDADO PERFEITO

Em missões militares, o personagem demonstrou-se uma legítima máquina de matar, no que se revelaria aos companheiros a definição de soldado ideal: corajoso, impiedoso, profissional com qualquer tipo de arma, extremamente tático. Componentes decisivos para a criação da mitologia militar por trás do herói de guerra Frank Castle. Tal passado seria fundamental na construção do lado vigilante do antiherói.

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Enquanto isso, nos quadrinhos, cedo ou tarde, os criminosos sucumbirão diante da caveira punitiva de Castle.

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HOMEM-ARANHA:

A HUMANIZAÇÃO DOS SUPER-HERÓIS O aracnídeo mais querido dos quadrinhos foi responsável por introduzir um novo tipo de superherói, dessa vez com problemas próximos da realidade FÁBIO OLIVEIRA

Q

ual é o segredo do sucesso do Homem-Aranha?

Mais de 50 anos após ingressar no Universo Marvel, o personagem apenas cresce como um dos grandes triunfos da editora. O valor responsável por tamanho carisma descansa nas costas de um singelo rapaz: Peter Parker. Criado em 1962 pela dupla Stan Lee e Steve Ditko, o herói conquistou a identificação imediata por parte dos leitores. Jovem, fundamentalmente humano e falho, o escalador de paredes representa o que há de mais comum para os adolescentes de diversos cantos do mundo. Quase que sem perceber, Lee e companhia mudariam o caminho da indústria de quadrinhos para sempre.

IMPORTÂNCIA FAMILIAR Peter Parker nunca conheceu seus pais. Desde pequeno, foi criado por seus tios, Ben e May Parker. Tal ausência não prejudicou a criação do rapaz em qualquer aspecto de conduta. Pelo contrário: o amor e carinho oferecido por seus tios foram determinantes na construção de uma infância lúcida, e um suporte concreto ao adentrar a complexa fase da adolescência.

Mesmo com o advento de problemas financeiros graves, o ambiente familiar não demonstrava-se fragilizado, pois Peter enxergava em seus tios um verdadeiro porto seguro. Por meio de uma drástica ironia do desti-

no, tio Ben foi assassinado, despertando o sentimento de vingança no rapaz.

Inexperiente, o garoto de 15 anos carregava em sua consciência a culpa por essa tragédia pessoal, nutrindo dentro de si um senso inquebrável de responsabilidade. “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”, é a frase definitiva do personagem, concebida pouco antes do dia da morte de seu tio. Em poucas palavras, definia-se com fidelidade a essência por trás das motivações do Homem-Aranha. Um conceito básico de canalização da tristeza em prol de algo muito maior, como a superação interna e a recuperação da autoestima para seguir em frente.

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A C E RV O P E S S O A L

GIOVANNA BIMBATI é

pedagoga e professora de Educação Infantil

A estudante de pedagogia Mariana Andrade diz que a responsabilidade é uma prática que surge desde o desenvolvimento infantil, mas com uma ressalva: crianças não devem ser cobradas com a mesma maturidade de um adulto. “Eles ainda estão aprendendo a nomear sentimentos e ações. Ser responsável é um hábito e, portanto, deve ser treinado todo dia para que ele se torne automático”, afirma.

Já Giovanna Bimbati, professora de Educação Infantil, diz que determinadas responsabilidades são fundamentais para o desenvolvimento, claro, em suas devidas proporções. “Mesmo que em menor escala, a responsabilidade com tudo é algo necessário no processo de aprendizagem de qualquer criança”, explica.

MÁSCARA COMO ESCAPISMO

Peter Parker sempre foi um jovem brilhante. No colégio,

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chegou a conquistar o título de estudante de honra, tendo como vocação principal a aptidão para temáticas científicas.

Porém, as notas elevadas e as tardes dedicadas para estudos não conseguiram evitar um infortúnio facilmente identificável em escolas de todos os lugares do mundo: o Homem-Aranha PERSONALIDADES

É quase inegável a mudança drástica de personalidade quando Peter Parker coloca a máscara e se joga ao perigo do arranha-céu nova iorquino, e esse cenário acrescenta ainda mais profundidade na psique do personagem. No aspecto de cidadão comum, o rapaz é introvertido, tímido, de poucas palavras, retraído num universo próprio. Como HomemAranha é extremamente sociável, falante, um oposto visível de Parker.

sofria bullying. Isso mesmo, quando não enfrentava homens com forma e força de rinoceronte, ou cientistas lagartos, Parker voltava suas atenções para um inimigo muito mais abstrato, complexo e incorporado pela pura depreciação humana.

Mariana explica que a prática do bullying deve ser cortada no

ambiente escolar pelos próprios professores. “O diálogo é a melhor maneira de lidar com essa situação e, em especial com a criança que sofre bullying, deve-se fortalecer o diálogo positivo. Claro que, neste caso, é necessário observar o padrão de comportamento das outras crianças, visualizando as deixas onde ocorre o bullying e intervir para evitá-lo”, esclarece.

No universo de Parker, o diálogo não foi adotado e toda essa questão, que vinha sendo praticada desde sua infância, resultava em um adolescente inseguro. Giovanna conta que o apoio das pessoas ao redor é fundamental para que as crianças não se sintam incapazes de fazer algo e carreguem isso consigo durante a vida. “É crucial que o adulto, o professor ou até mesmo o amiguinho tente ao menos provar o contrário.

Assim, a criança se sente mais confiante, o que a afeta positivamente em situações futuras, e evita que a insegurança vol-

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Todo este processo se dá através do uso da psicologia. “Devemos levar em consideração a importância do uso da psicologia para com o indivíduo, garantindo assim o desenvolvimento positivo do comportamento da criança e de suas interações com o ambiente físico e social”, conclui Giovanna.

A ESPERANÇA POR DIAS MELHORES

Tragédias, términos, super-vilões... A lista de acontecimentos traumáticos na vida do Homem-Aranha poderia ocupar uma vasta constelação de folhas, mas como, depois de tudo isso, o rapaz consegue levantar de manhã para combater ameaças intermináveis? É nesse aspecto que o Homem-Aranha conquista o coração de milhões de apreciadores de quadrinhos.

Thor Salles, fã do Homem-Aranha, explica como o personagem se tornou relevante em sua vida. “O apelo do Aranha com os jovens se deve muito ao contexto que o personagem foi criado.

Na época, as HQs apoiavam-se muito mais em coisas fora da realidade. O Stan Lee tinha esse tato para apresentar coisas inéditas, e a criação de um personagem mais humano, mais pé no chão, jovem, que toma deci-

“O HOMEM-ARANHA ERA UMA FIGURA MUITO À FRENTE DOS OUTROS SUPER-HERÓIS” Thor Salles sões erradas e que é apaixonado pela menina da escola, como eu, dialoga demais com o público jovial. É fácil de se enxergar no personagem”, ressalta.

Leitor assíduo de quadrinhos, Thor conta que via Parker como um personagem muito à frente dos demais. A admiração pelo Homem-Aranha surgiu quando ele ainda era uma criança. “Quando comecei a me interessar por quadrinhos, o Homem-Aranha era uma figura muito à frente dos outros super-heróis. Consigo lembrar nitidamente que tinha fantasia e ficava pulando pela casa com

o uniforme do Aranha. Desde pequeno, já era apaixonado pelo herói”, afirma.

Não importa o tamanho do problema, a dimensão da dor, a probabilidade de dar errado, nada é capaz de comprometer a esperança explícita que o personagem Homem-Aranha transmite.

Tal nível de positivismo torna-

-se revigorante em tempos tão cinzentos, em uma sociedade cada vez mais individualista. No fim das contas, o Homem-Aranha é isso, um constante suspiro de bondade em meio ao caos desenfreado. “Tem alguma coisa no Peter Parker que o diferencia dos demais. Mesmo com responsabilidades, o Peter Parker é o Homem-Aranha e o Homem-Aranha é o Peter Parker. Ele não muda, em sua essência. É uma linha muito cinzenta que divide ambos, mas no final, é a mesma pessoa”, conclui Thor.

THOR SALLES,

fã assíduo das HQs

do Homem-Aranha

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FÁBIO OLIVEIRA

te e lhe cause problemas mais complexos”, ressalta.

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FEMINISMO NAS HQS: CONHEÇA MULHER-MARAVILHA E VITÓRIA ALADA O foco passa a ser delas quando as editoras decidem criar super-heroínas que representam a luta feminista NATHÁLIA GARCIA

C

om os anos, algumas narrativas se destacaram pelos seus valores transmitidos para a sociedade. Na luta feminista, histórias como das personagens Mulher-Maravilha e Vitória Alada são muito importantes como forma de representatividade no movimento. Elas fortalecem e dão credibilidade ao discurso da mulher, além de mostrar ao público que elas podem ser tão super-poderosas e boas no que fazem quanto os homens.

No universo real, assim como nos quadrinhos, é importante que os papéis femininos existam e sejam relevantes. “Ao nos vermos representadas de maneiras que vão além do óbvio, além dos clichês, entendemos que também somos capazes de

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grandes feitos, tal como os homens”, diz Dani Marino, pesquisadora de quadrinhos e colaboradora do portal MinasNerds.

Existem alguns acontecimentos, em nível nacional e internacional, que marcaram tal movimento, como o direito ao voto, a imersão nas influências literárias, a criação de espaço para denúncias de violência contra a mulher, o direito de trabalhar onde elas quiserem e em qualquer cargo (derrubando o pensamento de que mulher deve trabalhar somente em casa) e tantos outros.

Mas todo esse contexto histórico a favor da mulher demorou longos anos para se concretizar. A questão da sexualização de personagens femininos, por

exemplo, é abordada por Gabriela Borges, pesquisadora e fundadora do projeto Mina de HQ. “Essa sexualização é muito antiga e tem raiz no patriarcado, no machismo e tudo mais.

Eu acho que vem mudando porque o mundo está mudando e a gente vê isso nos filmes, nas novelas, nas séries e essa preocupação com representação obviamente chega nos quadrinhos”, comenta.

MULHER-MARAVILHA

A história da super-heroína Mulher-Maravilha, ou Diana Prince, criada em 1942, é uma das mais antigas abordadas pela Detective Comics. O cenário dos quadrinhos era composto apenas por personagens masculinos, em que mostravam toda a

V E RT I G O | D C

UNIVERSO psicossocial

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UNIVERSO psicossocial

sua relevância para o contexto social do mundo naquela época por conta de todos os conflitos vividos. A criação da Mulher-Maravilha, também conhecida como “Princesa das Amazonas”, teve papel importante na construção de movimentos que visam colocar a mulher à tona.

“AO NOS VERMOS REPRESENTADAS DE MANEIRAS QUE VÃO ALÉM DO ÓBVIO, ALÉM DOS CLICHÊS, ENTENDEMOS QUE TAMBÉM SOMOS CAPAZES DE GRANDES FEITOS, TAL COMO OS HOMENS”

com esse fato (de apenas os homens terem as suas respectivas narrativas), o psicólogo William Moulton Marston a criou como protagonista da sua própria história. Para isso, ele teve a essencial ajuda de sua esposa, Elizabeth Marston, pois William

até tinha alguns traços prontos a criação de um novo super-herói, mas foi ela quem pensou na figura feminina, criando assim a Mulher-Maravilha.

A C E RV O P E S S O A L

Buscando acabar justamente

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Gabriela Borges

Por ser uma protagonista muito antiga, sua história teve al-

GABRIELA BORGES,

fundadora do

projeto Mina de HQ

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gumas alterações ao longo dos anos, como aconteceu com tantos outros personagens. Em uma de suas versões, foi criada a partir do barro por sua mãe, a rainha Hipólita, e deuses gregos do Olimpo a abençoaram com o dom da vida. Assim, era a única mulher do reino em que vivia, na Ilha do Paraíso - rebatizada como Themyscira -, a não ser gerada por um homem.

Os primeiros quadrinistas a descreviam como “Bela como Afrodite, sábia como Atena, forte como Hércules e rápida como Hermes”. Dentre seus super-poderes estão a super força, invulnerabilidade, super-regeneração, super-velocidade, voo e conhecimento divino. Cada um deles advém de um deus diferente que concebeu-a à vida.

O contexto social em que a Mulher-Maravilha viveu atribui ainda mais relevância para a personagem. Além de sua mãe ser rainha de um reino composto só por mulheres, ela consegue treinar todas que ali vivem, inclusive a filha, e torná-las grandes guerreiras.

Além disso, as mulheres só eram introduzidas, até então, como sendo parceiras dos super-heróis em questão. Diana Prince vem por si só carregando todas as suas habilidades e superioridades que possui.

UNIVERSO psicossocial

Dani aponta que os discursos em torno das narrativas de Diana variam de acordo com quem escreveu a história ou ilustrou.

“A Mulher-Maravilha tem muita influência do movimento sufragista, da primeira onda do feminismo, mas ao longo dos anos poucas histórias trouxeram discursos que fossem positivos para as mulheres. Em sua essência, ela é uma mulher poderosa, feminista e bissexual. No entanto, seu discurso variou muito de acordo com a equipe criativa que a desenhava”, conta a pesquisadora.

IMPORTÂNCIA DA ILHA THEMYSCIRA

No universo dos quadrinhos, a Ilha Themyscira é onde moram as Amazonas, um grupo de mulheres guerreiras criadas pelos deuses do Olimpo. A princípio, a ilha era habitada por almas de mulheres que foram assassinadas por homens e ressuscitadas tempos depois, chamando-se Amazonas.

Uma das principais características das terras de Themyscira é que os homens não podiam habitá-las. Assim, as mulheres que ali viviam treinavam para ser fortes lutadoras em uma sociedade norteada pela justiça, igualdade e tolerância. Se algum homem aparecesse no solo da ilha, haveriam algumas consequências, como: sua morte

FEMINISMO NOS ANOS 40 Em meados dos anos 40, nações eram bombardeadas pela Segunda Guerra Mundial. Homens deixavam suas casas, filhos e esposas para lutar em nome de seu país. Enquanto isso, as únicas funções relevantes que uma mulher poderia exercer diante de tal circunstância era ajudar na cruz vermelha com os soldados feridos, ou ser operária em fábricas. E é durante este período que a Mulher-Maravilha surge com todos os seus ideais feministas e igualitários, o que ajudou a mudar a maneira de como o conduta da mulher era vista em sociedade.

imediata, as mulheres corriam o risco de perder seus poderes, despertariam a fúrias dos deuses e todas elas poderiam se apaixonar por tal homem.

VITÓRIA ALADA

Existe uma “versão” da Mulher-Maravilha na coleção de histórias em quadrinhos chamada Astro City, criadas por Kurt Busiek com participação de Alex Ross. Além de compor arcos de história diferentes, os poderes da Vitória Alada e sua origem são diferentes da Mulher-Maravilha. Não só ela

mas outros personagens tem suas origens inspiradas nos quadrinhos da DC Comics.

Ambas as personagens possuem características semelhantes no que diz respeito à suas histórias e personalidades. Porém, Vitória Alada não abrange a mesma visibilidade que Mulher-Maravilha. Gabriela afirma que isso pode ocorrer porque a personagem não é presente no mainstream. “Se a Vitória Alada fosse uma personagem mainstream, com certeza ela fortaleceria um discurso, porque mais pessoas teriam acesso à isso, como a Mulher-Maravilha, por exemplo”, diz.

Assim como a Mulher-Maravilha, VItória Alada também possui um “reino” próprio, chamado Samotrácia. Lá, ela mantém mulheres resgatadas em situação vulnerável, seja física ou psicológica, e as treina para que possam ser inseridas novamente na sociedade.

Tais reinos, que contam com uma forte rede de segurança altamente tecnológicas, são espalhados pelos arredores de Astro City como centros de autodefesa. Vitória Alada luta pelas causas da justiça e igualdade da mulher, buscando sempre protegê-las. E, claro, homens também não são permitidos nos locais em que ela governa.

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UNIVERSO POLÍTICO

NAZISMO: OBSCURIDADE NO UNIVERSO DA MARVEL Durante a Era de Ouro dos quadrinhos, a Alemanha vivia o Terceiro Reich. Veja a participação da Marvel Comics durante o nazismo alemão BIANCA BISPO

O

regime totalitário nazista foi citado em diversas histórias em quadrinhos, principalmente durante a Era de Ouro (que engloba o período de 1938 a 1956). Na Marvel Comics, o Caveira Vermelha foi criado para liderar o partido nazista ao lado de outras figuras históricas.

com sua personalidade vilanesca e monstruosa durante as conquistas territoriais. O Caveira acabou sendo soterrado em uma batalha, mas acordou décadas depois com o auxílio da HIDRA, organização criada pelo Barão von Strucker com o objetivo de dominar o mundo.

É possível imaginar uma pessoa pior que Hitler na história?

O Caveira Vermelha, nome que Jöhann adotou, conseguiu assustar até mesmo seu mestre,

O QUE ERAM OS REICH?

Jöhann Schmidt é um personagem fictício que apoiou o Partido Nazista por anos. Quando jovem, Jöhann conheceu Hitler, que o escolheu para ser o nazista ideal.

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Nessa segunda fase de sua vida, Caveira volta ainda pior. Ele retorna com o objetivo de restaurar a visão de Hitler e os ideais nazistas no mundo moderno, chegando a mencionar a implementação de um Quarto Reich.

Na história do universo real, o Terceiro Reich foi caracterizado pela ascensão do Partido

“O NAZISMO IMPLEMENTOU UMA POLÍTICA DE PERSEGUIÇÃO E EXTERMÍNIO A CERTOS GRUPOS QUE ABOMINAVA” Andrea Silva Nazista na Alemanha, na década de 30. Em uma tradução literal, “Reich” significa “Império” e, antes do nazismo, o país europeu teve outros dois momentos marcantes atrelados à palavra.

Andrea Silva, professora de história, apresenta um panorama geral de cada Reich.

“Em 908 d.C. podemos dizer que inicia o I Reich e seu final acontece em 1806, com o fim do Sacro Império Romano da Alemanha.

Posteriormente, em 1871, Otto Von Bismarck expandiu os territórios na África, Ásia e Oceania descontroladamente, e isso levou a efetivação da Primeira Guerra Mundial. Ao final da Primeira Guerra também ocorre o fim do II Reich e a Alemanha acaba saindo dessa guerra com uma grave crise econômica e social. Durante a II Guerra, Hitler difunde na Alemanha em crise o sonho do III Reich”, diz.

Em relação à política implementada pelo nazismo, Andrea elenca alguns grupos

UNIVERSO POLÍTICO

que sofreram com o regime totalitário: judeus, gays, padres, ciganos, deficientes mentais ou físicos, comunistas, sindicalistas e combatentes da resistência. “O nazismo implementou uma política de perseguição e extermínio a certos grupos que abominava e que fizeram vítimas no holocausto”, explica.

D I V U L G A Ç Ã O A RV E L C O M I C S

PERSEGUIÇÃO AOS MUTANTES

Noturno é um personagem do universo dos quadrinhos que possui mutação genética, o que fez com que ele nascesse com habilidades especiais, como teletransporte. No capítulo #5 da narrativa O Mal no Coração dos Homens, Noturno conta o que aconteceu em um episódio da história que impactou diretamente a espécie mutante: a Lebengebrochennacht, noite em que os nazistas começaram a perseguir diversos mutantes.

Nos quadrinhos, Josef Mengele era conhecido como “O Anjo da Morte”. Mengele selecionou crianças mutantes para fazer parte do Projeto Grifo: cientistas tinham cobaias mutantes e humanas essenciais para os experimentos; eles tiravam órgãos mutantes e implantavam nos humanos para ver até que ponto o corpo é resistente à mutação dos genes.

No universo real, a história de Mengele se aproxima por inteiro das HQs. Andrea conta qual foi a participação dele na Alemanha nazista. “Mengele era um médico militar alemão que praticou tenebrosos experimentos nos campos de concentração de Auschwitz, Polônia, o que o deixou conhecido como ‘Anjo da Morte’.

Em 1937, se aliou ao Partido Nazista. Já em 1938, ingressou na SS e chegou a oficial médico. Ele decidia quem viveria ou morreria”, finaliza.

NOITE DE CAÇA AOS MUTANTES O grupo que participava dos testes nas HQs era chamado Wenig Taktreisenders viajantes de curto período.

A participação de Hitler se deu quando ele ordenou que Mengele colocasse um fim nos híbridos que eram resultados dos experimentos. O processo de destruição só teve um fim devido aos Aliados, que impediram aquela situação.

Uma das consequências que os experimentos nazistas deixou na Europa foi híbridos com habilidades de teletransportes em níveis diferentes.

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UNIVERSO POLÍTICO

O EQUILÍBRIO ATRAVÉS DA ÓPTICA NIILISTA DE THANOS O Titã Louco protagonizou uma das maiores sagas cósmicas da Marvel, estabelecendo um conceito ideológico fundamentado por um radicalismo reconhecível FÁBIO OLIVEIRA

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personagem criado pelo roteirista e desenhista Jim Starlin não demorou para encabeçar a lista de grandes vilões do Universo Marvel, marcando presença pela primeira vez nas histórias do Homem de Ferro, em 1973. Sua origem foi explorada tardiamente, denotando uma relação familiar conturbada na Lua Titã de Saturno, terra natal do alienígena de cor púrpura.

Desde pequeno, o jovem Thanos sofreu para relacionar-se em sociedade devido à aparência física diferente dos demais, fato que o isolou consideravelmente.

Com uma inteligência fora do comum, cresceu dentro de sua própria cápsula desolada, marcado

UNIVERSO POLÍTICO O QUE É NIILISMO?

por atitudes extremas. Quando adulto, reuniu um exército de mercenário galácticos para destronar seu pai, Mentor, no que resultou em Thanos assumindo o governo da Lua em questão.

proporção ainda mais épica e grandiosa para elas”, ressalta.

daqueles que apenas compõem o cenário para a elevação pessoal de Thanos, que se enxerga como herói da própria história. Cesar Gaglioni, colunista do portal Jovem Nerd, destaca essa inclinação do personagem.

“Thanos apresenta uma forma de niilismo reativo, segundo o filósofo Deleuze, renegando todos os valores, negando o mundo e vislumbrando um futuro onde todos serão redimidos.

Isso é completamente fundamental para ele”, aponta.

contradição enriquecedora à figura vilanesca, que ao universo atribui uma falta de empatia generalizada, flertando com o aspecto extremo de sua essên-

O vilão, que já desdenhava da vida antes de receber a missão de sua amada, pôde exercer um niilismo absoluto em seu ápice.

A indiferença é primordial nesse processo de limpeza ocupacional, não há importância alguma ou relevância na existência R E P R O D U Ç Ã O M A RV E L C O M I C S

O termo foi idealizado originalmente em 1799, pelo filósofo alemão Friedrich Jacobi.

Posteriormente, a nomenclatura seria utilizada para fundamentar movimentos em diversos lugares do mundo. Os conceitos niilistas apoiam-se na negação de fatores subjetivos, sagrados ou com supostos propósitos maiores.

Aqui, o ser humano e somente ele é dotado da responsabilidade sobre o que ocorre em sua existência.

crescente da população geral: eliminar metade do universo.

A ODISSEIA DE THANOS

A EXPLOSÃO DA INSANIDADE

O ponto de ignição da personalidade ferrenha do vilão repousa no momento em que o Titã Louco conhece a Morte, entidade responsável por controlar o processo de existência de todos os seres componentes do cosmo. A figura personalizada pela forma de uma bela e misteriosa mulher, conquista o coração de Thanos e o propõe a solução máxima para o desequilíbrio

Publicada originalmente em 1991 pela Marvel Comics, Desafio Infinito foi escrita por Jim Starlin e ilustrada por George Pérez, não demorando para ingressar no hall de grandes sagas cósmicas da editora, sendo para muitos a detentora do título de melhor de todas. Cesar contextualiza o lançamento do arco.

“A história deu uma repaginada no que a gente entendia como grande saga de HQs, dando uma

Fato é que o Titã Louco chamou as atenções para si, sendo o real protagonista dessa empreitada pelo objetivo final. A relação com sua amada também possui uma abordagem aprofundada, demonstrando-se determinante para as ações de Thanos. Uma

“A HISTÓRIA DEU UMA REPAGINADA NO QUE A GENTE ENTENDIA COMO GRANDE SAGA DE HQS” Cesar Gaglioni

cia niilista, mas como indivíduo, busca na Morte a forma de retribuição sentimental. “Ele foge um pouco do comum por conta dessa motivação filosófica, que vai além do simples desejo de dominar o mundo ou se vingar de algum herói”, conclui Cesar.

A obra definitiva que elevou o status quo do protagonista contou com a participação de diversos heróis, simbolizando a perspectiva humana sobre vida e morte, como um verdadeiro ciclo necessário para que nós, enquanto seres pensantes, busquemos aproveitar o curto espaço de tempo que nos é concedido.

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UNIVERSO POLÍTICO UNIVERSO POLÍTICO

POR DENTRO DO CONTEXTO POLÍTICO DE

A cultuada graphic novel de Alan Moore revolucionou o universo dos super-heróis, com uma abordagem totalmente inovadora para a época FÁBIO OLIVEIRA

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Em 1986, o aclamado escritor britânico Alan Moore foi o responsável por introduzir uma narrativa caracterizada por sua complexidade e direcionamento para temáticas mais pesadas, encaixando-a no cenário dos heróis. Até o lançamento de Watchmen pela Detective Comics, as histórias do gênero eram predominantemente leves e despretensiosas, sem a noção conceitual de possíveis reflexos políticos, ou relevantes em cenários reais. Com o pano de fundo contextualizado no conturbado período da Guerra Fria, a dupla Moore e Dave Gibbons

criou um universo novo e condizente com os heróis propostos, sendo o mesmo decadente para os vigilantes, apoiando-se num clima beirando o noir; aqui, não há maniqueísmo nessa realidade assustadora para fãs mais casuais.

O SONHO AMERICANO E OS HERÓIS

A nação estadunidense introduzida é marcada por consequências nebulosas de uma sociedade praticamente falida.

O clima de desesperança é generalizado e sentido no cotidiano do povo norte-americano.

UNIVERSO POLÍTICO

Na prática, todo ideal do sonho americano foi banalizado.

Fabio Vieira Guerra, doutor em história, relaciona o cenário apresentado ao universo real. “O ponto principal é que Moore parte do princípio da alteração de fato histórico: a de que os EUA ganharam a Guerra do Vietnã e não o contrário como de fato ocorreu. Essa alteração da realidade permitiu a Richard Nixon ter várias reeleições, ao contrário da vida real em que teve que renunciar por causa do escândalo de espionagem Watergate. Esses dois fatos históricos abalaram a confiança dos americanos em suas instituições e em seu poder perante o mundo na década de 1970”, diz.

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No meio dessa confusão geral, os heróis acabaram servindo de bodes expiatórios, poucos foram os remanescentes dessa caça às bruxas organizada. A polícia entrou em greve, com o discurso de que os mascarados acabaram por tomar os empregos de quem realmente deveria servir e proteger a população: uma tragédia anunciada, como se a inconstante política externa e a tensão com os soviéticos não fosse o bastante. Para piorar, com o intermédio de um senador renomado, uma lei de proibição ao vigilantismo foi aprovada no congresso nacional. A

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chamada “Lei Keene” obrigava que todos os heróis se registrassem no governo, fato que acarretou em uma aposentadoria em massa dos praticantes.

DR. MANHATTAN E A ENERGIA ATÔMICA

No universo de Alan Moore, o ponto decisivo inclinado ao sucesso dos Estados Unidos na guerra foi o surgimento do Dr. Manhattan. “O Superman existe e é americano!”. Um termo viralizado pela imprensa, que representa com fidelidade o sentimento nacionalista com o advento de tamanha arma impositiva, como próprio Superman.

Após sofrer um acidente cujo corpo físico foi literalmente desmaterializado por raios ultravioletas, Jonathan Osterman tornou-se praticamente um deus. Capaz de manipular e criar qualquer tipo de matéria, o personagem reproduzia nos quadrinhos a questão nuclear e o medo implícito da humanidade quando o tema era discutido.

Fabio compreende um forte aspecto relacional no surgimento do herói. “O pavor no ‘fim de tudo’ está na concepção do Dr. Manhattan em que ele era um ser humano comum, mas ao ter contato com forças poderosas se afastou de sua humanidade, tornando-se um ser extremamente racional, mas com o lado

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emocional nulo. Concepções de viver e morrer ou ter compaixão por algo ou alguém tornaram-se irrelevantes”, pontua Fabio.

ces traiçoeiros de uma humanidade perdida.

Guerra do Vietnã, no salto exponencial relacionado à corrida armamentista e à tecnologia espacial, em diversos caminhos

ta do sonho americano. “Watchmen foi um marco nas histórias em quadrinhos, pois desconstruiu a figura do super-herói.

Antes vistos como seres altruístas, com motivações nobres, Moore demonstrou que eles também podem ter falhas de caráter. No caso do Comediante, ele é enquadrado como super-herói por seu combate a criminosos, mas suas atitudes são igualmente questionáveis, como

O governo logo traduziu tamanho surgimento para o âmbito político e militar, na famosa

“WATCHMEN FOI UM MARCO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS POIS DESCONSTRUIU A FIGURA DO SUPER-HERÓI” Fabio Guerra

a presença do herói foi decisiva, mudando o rumo da Guerra Fria. No entanto, o presidente Nixon não contaria com a forte personalidade de Jonathan, que apesar de dotado com inúmeras possibilidades, afundava os próprios pensamentos em questões existenciais, filosóficas, até culminar em sua desolação total. Indiferente aos problemas mundanos, o Dr. Manhattan optara por viver em Marte, bem distante dos nuan-

É TUDO UMA GRANDE PIADA

O Comediante, o mais amoral dos heróis mascarados, representa individualmente a derro-

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púrio dentro de uma fachada em defesa da democracia e da liberdade”, explica Fabio.

Ironicamente, também foi um dos únicos elucidados sobre a decadência generalizada, sendo o primeiro a identificar a falta de empatia do Dr. Manhattan, além de conceber antes de todos o plano arquitetado por Ozymandias, o homem mais inteligente do mundo.

Outrora combatente do crime comum, Adrian Veidt deixou a moralidade de lado para evitar o lançamento mútuo de mísseis entre as duas potências e, consequentemente, o provável fim do mundo. Ocasionou um grande atentado terrorista nos Estados Unidos, arquitetando e direcionando a culpa para um país aleatório, de menor expressão. Mi-

lhões morreram em Nova York e a comoção mundial apagou os ânimos acesos pela cegueira ideológica. A Terceira Guerra Mundial fora evitada. Na mente de Ozymandias, milhões se foram para garantir a segurança de bilhões. Não existe bem ou mal, mocinho ou vilão. Não no universo de Watchmen.

O POVO E A GUERRA

Na narrativa de Watchmen, é através do olhar do homem comum que o leitor se atualiza do que se passa entre as duas potências.

A perspectiva e as reações de um jornaleiro transmitem com eficácia a apreensão identificada no período da Guerra Fria, numa transmissão simplória de mensagem ao leitor, sem refinamento linguístico, utilizando da imprensa como propagador ideológico.

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DIVULGAÇÃO DC

estupro de uma colega ou assassinato de camponeses vietnamitas. Isso representa uma quebra no sonho americano da propriedade e honrar de valores dos EUA, já que demonstrou que muitas vezes as conquistas do país ocorreram de modo es-

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E C I O F A E R T EN O L E T R A M O E A IDEOLOGIA

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róis de todos e h r e p u s s e r e um dos maio or conduzir p l e v Com o auxílio d á s n o p s e r a história foi ento marcante m o m os tempos, um m u m e s iagem de ideia uma legítima v dial FÁBIO OLIVEIRA da política mun

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M

ark Millar foi o escritor responsável por balançar o universo dos quadrinhos ao reimaginar ninguém mais, ninguém menos, que o Superman. Dessa vez, a nave do pequeno Kal-El caiu numa fazenda coletiva na finada União Soviética governada por Josef Stalin. Publicada em 2006 pela DC Comics, Entre

ares, bases militares, tudo servia de valorização interna para as nações. Fabio Vieira Guerra, doutor em história, identifica as intenções mútuas entre os países. “O ponto principal é que as duas superpotências impusessem um respeito pelo medo dos arsenais nucleares, uma vez que ambos sabiam o seu poder de destruição. Des-

Quão perceptíveis seriam os contrastes na persona dessa versão de Clark Kent? A sociedade fundamentalmente e ideologicamente distinta exerceria alguma influência direta no cerne do herói? Nessa viagem histórica, nada é tão simplório, apesar do mundo polarizado.

Quanto à Kal-El, Fabio estabelece um paralelo. “Se ele de fato existisse, como seria o comportamento da população em geral com um ser tão poderoso

a Foice e o Martelo preocupa-se em mudar radicalmente a origem do personagem.

A MAIOR ARMA DE TODAS: O SUPERMAN

Após o fim da Segunda Guerra e o advento de poderosas ideologias como ferramentas de polarização mundial, Estados Unidos e União Soviética protagonizaram a chamada Guerra Fria, com capitalismo e socialismo de pano de fundo político. Em certo ponto, com a corrida armamentista no seu auge, as duas potências buscaram impor-se ao mundo com essa clara demonstração de força: mísseis, armas nucle-

sa forma, era prudente que se resguardassem de um possível conflito direto”, destaca.

LÍDER DOS EUA

E como o maior vilão do Superman se encaixa nessa reinterpretação?

Lex Luthor é representado como um grande líder estadunidense, sendo a cabeça por trás do governo. Sua genialidade ainda é identificada através de métodos e criações para o capitalismo sobressair-se ao comunismo defendido pelo herói.

Nessa história, Lex é casado com Lois Lane, isso mesmo!

A personagem é conhecida por Lois Luthor.

voando por aí? Nesse caso, o Superman pode ser entendido como uma arma de guerra tão poderosa quanto qualquer míssil nuclear”, esclarece.

O HERÓI E A PROPAGAÇÃO IDEOL0GICA

Dentro da política, é usual o endeusamento de pessoas co-

muns em cargos importantes, sendo crucial o papel da propaganda governamental nesse processo de convencimento popular. “No caso da HQ de Millar, ele procurou passar a visão sobre os regimes totalitários em que a figura do líder era primordial para esse 'Estado total' no qual tudo era concentrado na sua figura que era exaltada como se estivesse bem acima da população em geral”, diz Fabio.

“Só existe uma superpotência agora”, “todos saúdem nosso camarada de aço e a utopia do proletariado!” são frases divulgadas com a imagem primordial do Homem de Aço, criando no imaginário da população russa o Superman como condutor de um futuro brilhante. Sem guerras, fome, pobreza, entre diversos problemas sociais.

No universo imaginado por Millar, a URSS chefiada pelo herói ditou o rumo sociopolítico do planeta inteiro, enquanto

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UNIVERSO POLÍTICO

A FALSA SEGURANÇA E O DITATORIALISMO

Cego pela fissura pessoal de construir sociedades especifi-

camente a sua imagem, o Superman acaba por representar uma espécie de ditador mundial. O excesso de adoração coletiva colocou o deus alienígena em uma posição de conduta inquestionável, robôs foram criados para garantir a ordem defendida pelo herói.

Nesse momento do arco, há um compromisso por parte dos autores em evidenciar o perigo de governos ditatoriais e usuários de práticas totalitárias. Outra vertente é representada, na medida que o grupo radical do Homem-Morcego adota hábitos anarquistas. “Millar deve ter pensado em como um ser superapoderoso não deve ser usado para oprimir a população de seu país, mas sim auxiliá-la em seus momentos de dificuldade.

A figura do Batman é simbólica nesse sentido por se tratar do vigilante mais representativo por sua independência e métodos mais duros no combate a malfeitores,” relaciona Fabio.

CAPITALISTA, SOCIALISTA...

HUMANO O alienígena que é mais humano do que nós mesmos. Uma simples, mas adequada definição do que é o Superman.

Mesmo com cores e símbolos diferentes, com ideais e visões opostas sobre o direcionamento do mundo, Kal-El permaneceu o mesmo bom e velho altruísta do Kansas, cidade natal de sua versão original.

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tico em controlar a população, impedindo qualquer criação do herói por particulares. E uma vez servindo a esse Estado, é natural que ele tenha valores diferentes, sendo mais duro”, enfatiza o historiador, que continua destacando a influência da perspectiva entre potências. ”Se ele também tivesse ficado sob a custódia do Departamento de Estado americano, acredito que o efeito teria sido o mesmo do caso soviético, já que as disputas diplomáticas e bélicas das nações acabam quase sempre por esbarrar no 'jogo sujo' da política. Por mais que tenhamos nesse caso Estados com posições ideológicas distintas”, conclui Fabio.

“. . . O S U P E R M A N PODE SER ENTENDIDO COMO UMA ARMA DE GUERR A TÃO P ODE RO S A QUANTO QUALQUER MÍSSIL NUCLE AR” Fabio Guerra

JOSEF STALIN

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No fim, superou a aparente síndrome de Messias e a busca por um mundo perfeito, abdicando do controle geral e optando por existir como um semelhante comum. “Quando Millar transporta a queda do foguete que trouxe o Superman do Arkansas para uma fazenda coletiva na região da Ucrânia, ele expõe o alto poder do Estado sovié-

P N G I M P.C O M

apenas dois países resistiram e permaneceram capitalistas: EUA e Chile. Uma clara alusão ao imperialismo estadunidense e sua imposição global.

A obra atemporal de Mark Millar, Dave Johnson e Killian Plunkett brindou os quadrinhos com um objeto único de estudo e reflexão política e social. E nos relembrou o peso e a importância do tímido repórter do Planeta Diário... Ou braço direito de Josef Stalin.

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O CAMARADA SUPERMAN

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Na obra, a presença do Superman como braço direito de Stalin mudou a visão geral sobre o país soviético. O caráter divino atribuído pela população à figura heroica foi tão influente, que logo após a morte do líder, o próprio Superman se autodenominou como chefe de estado da mãe Rússia. Outra grata coincidência: o nome do ditador soviético significa “Homem de Aço” em russo.

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O IMPACTO SOCIOPOLÍTICO DE V DE VINGANÇA A graphic novel de sucesso apresentou ao mundo um futuro distópico em um Reino Unido tomado por referências políticas e sociais FÁBIO OLIVEIRA E GUSTAVO PAULO

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uem não conhece a famosa máscara estilizada de Guy Fawkes e utilizada por V no arco escrito por Alan Moore com ilustração de David Lloyd? Publicada em 1988 pela DC Comics, V de Vingança não se limitou a habitar o hall de melhores HQs já produzidas, com o auxílio de uma narrativa preocupada em estabelecer paralelos sociopolíticos, o quadrinho mostrou-se ao longo dos anos como um objeto de estudo histórico eficiente.

A trama projeta uma realidade alternativa, passada no final dos anos 1990, numa Inglaterra tomada por um governo fundamentalmente totalitário.

Elementos como censura à imprensa, práticas fascistas, caça à

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minorias, tudo para representar uma composição de fatores identificáveis em nosso universo.

Diante desse cenário, acompanhamos a trajetória de um homem de codinome V, responsável pela condução de um projeto de vingança que transcende o aspecto pessoal; aqui, ideias são à prova de balas e transmitidas à população de diferentes métodos, sempre visando a destituição do regime ditatorial.

“AS HQS SÃO CAPAZES DE INTERFERIR NO MUNDO, QUEIRAMOS OU NÃO” Márcio dos Santos Rodrigues

A INSPIRAÇÃO POR TRÁS DA OBRA Em 1605, um grupo de fundamentalistas católicos organizou uma tentativa de explodir o Parlamento e, consequentemente, assassinar o rei. Guy era um soldado com especialidade em explosivos, sendo um dos percussores do movimento.

O ato ficou conhecido como Conspiração da Pólvora, em que o uso da violência apoiou-se na justificativa de buscar direitos iguais a grupos católicos, já que a coroa vigente resumia suas políticas em favorecimento ao movimento protestante.

Márcio dos Santos Rodrigues, mestre em história, apresenta o significado por trás da referência. “Foi empregado pelos autores para lembrar que os britânicos daquele contexto dos anos 80 se esqueceram de figuras e de eventos contestadores e se colocaram de forma passiva diante de um estado de coisas

UNIVERSO POLÍTICO

D I V U L G A Ç Ã O V E RT I G O

INFLUÊNCIA NO BRASIL

que consideravam com teor autoritário ou fascista”, afirma.

TENDÊNCIAS ANARQUISTAS

O protagonista da história demonstra ao espectador claras inclinações a princípios básicos do anarquismo, condenando qualquer resquício de hierarquia como determinação individual.

É habilidoso com explosivos, facas e detém um nível elevado de artes marciais. Porém, seus atentados físicos servem de pano de fundo para algo muito maior: V exerce um papel muito mais simbólico. “O protagonista é um entrecruzamento de diferentes tradições anarquistas”, pontua Márcio, que volta suas percepções para Alan Moore. “Sempre

tive em mente que o autor não pretendeu escolher entre uma ou outra vertente, mas apresentar os anarquismos como modo de subverter o mundo”, complementa.

A HERANÇA IDEOLÓGICA

A atemporalidade da graphic novel não só se evidencia pela alta popularidade do quadrinho em lojas e livrarias, mas essencialmente marcando presença em revoluções, manifestações ou qualquer demonstração de insatisfação contra autoridades.

O historiador ainda relembra uma frase do escritor britânico.

“Moore já deixou claro sua posição de que ‘todos os quadrinhos são políticos’. As HQs são capazes de interferir no mundo, queiramos ou não”, finaliza.

Em 2013, o país encontrou-se num momento de extrema delicadeza.

A população saiu para as ruas e reivindicou direitos básicos, tendo como premissa o aumento da passagem de ônibus. O número de pessoas nas ruas foi aumentando cada vez mais. Um dos elementos mais comuns era a presença da máscara de Guy Fawkes, com frases e cartazes relacionados à obra.

O efeito da história é quase imensurável. V de Vingança é sinônimo de mudança, sinal de redenção popular e um aviso simples, mas direto. Como recita o herói mascarado: “o povo não deveria ter medo de seus governantes. Os governantes deveriam ter medo de seu povo”.

MULTIVERSO

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ENTREVISTA

guerrA civil A tese de mestrado do historiador Victor Callari tornou-se uma análise ideológica em torno de "Guerra Civil" e do papel político da Marvel Comics BIANCA BISPO, FÁBIO OLIVEIRA , GUSTAVO PAULO E NATHÁLIA GARCIA

E

ntre junho de 2006 e janeiro de 2007, uma das principais HQs da Marvel Comics era publicada. "Guerra Civil" serviu como objeto de estudo político dos EUA depois do atentado às Torres Gêmeas. VICTOR CALLARI, mestre em história, apresenta o processo de construção político da HQ no livro "Guerra Civil - Super Heróis: Terrorismo e Contraterrorismo nas Histórias em Quadrinhos", fruto de sua tese de mestrado pela Universidade Federal de São Paulo.

MULTIVERSO: Quando você começou a ler HQs? VICTOR CALLARI: Eu não sei se consigo precisar o momento exato que me tornei leitor de quadrinhos, mas eles fazem parte da minha vida desde a infância. Primeiramente, o meu tio era um colecionador de HQs e passou esse gosto pela coleção ao meu irmão mais velho. Então num determinado momento ele pegou a coleção que tinha, devia ter uns 600 quadrinhos,

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G U S TAV O PA U L O

no universo real

e doou pro meu irmão. Hoje o meu irmão é dono de uma das mais prestigiadas editoras de quadrinhos do Brasil, que chama Pipoca e Nanquim, e é um dos maiores colecionadores, com um acervo de mais de 20 mil quadrinhos.

M: E quando decidiu levar o tema de HQs de super-heróis para o âmbito acadêmico?

VC: Foi uma situação muito fortuita. Eu lecionava inúmeras disciplinas numa universidade em SP e fui pesquisar para preparar uma aula sobre Guerra Fria e Literatura. Fui atrás de como a Guerra Fria poderia ter influenciado a literatura. Me deparei com uma dissertação de mestrado sobre Guerra Fria e HQs. E eu achei aquilo estranho, mas me chamou a atenção.

Estudava o Cavaleiro das Trevas, era uma obra que conhecia. Fui lendo aquele mestrado e percebi um monte de coisas que achei meio estranhas, do tipo, “esse cara tá errando nisso, tá interpretando de uma forma equivocada”. Isso me produziu uma inquietação. Quando percebi, tinha abandonado minha aula de Literatura e Guerra Fria, tava só na internet procurando HQs e artigos publicados em revistas acadêmicas ou dissertações de mestrado.

ENTREVISTA

M: Como você enxerga as mudanças editoriais da Marvel de cunho político, desde a criação até os dias atuais?

VC: Muitas pessoas têm se surpreendido com as mudanças editoriais recentes da Marvel. A criação de personagens femininas, a inclusão de personagens mexicanos, negros, isso tem gerado inúmeros debates. Por incrível que pareça, existem pessoas que boicotam a revista porque ela tem uma personagem feminina. O pior é que essas pessoas sequer conhecem a história da editora que elas tanto leem. Isso foi algo que fui percebendo na minha pesquisa de mestrado, que a editora Marvel sempre se posicionou politicamente.

E uma das características desse posicionamento político é de que ela quase sempre foi uma editora progressista. Em momentos muito densos ou polêmicos da história dos EUA no século XX, ao invés de adotar uma postura conservadora, a editora quase sempre foi progressista. Particularmente, vejo isso com bons olhos.

M: Qual é a importância de Guerra Civil no atual cenário da Marvel?

VC: Acho que o simples fato de eles terem tentado dar uma sequência, fazer um novo arco de Guerra Civil, mostra a importância que o arco original teve lá em 2006. Diria que, me arrisco a dizer isso, nenhum outro produto da indústria cultural, da indústria do entretenimento, foi capaz de entender e explicar de maneira tão completa o que aconteceu com os EUA depois dos atentados às Torres Gêmeas.

M: Capitão América ou Homem de Ferro?

VC: Capitão América sem sombra de dúvidas! Não acho que o governo tenha liberdade para invadir as liberdades individuais, passar por cima da constituição, de direitos que foram historicamente conquistados, sob a desculpa da segurança nacional. Acho a segurança nacional importante, pra quem não conhece a premissa da série é essa. Mesmo a ameaça de um novo atentado terrorista, no meu entender, não justifica que o governo tome ações consideradas inconstitucionais. Capitão América, fácil.

M: Sobre o aspecto religioso, como observa o papel das editoras nesse contexto?

VC: Quando uma editora se propõe a fazer uma outra representação, ela, de alguma forma, pode fazer o que um historiador francês do cinema, chamado Marc Ferro, denominou de “contra-análise da sociedade”.

Então a editora pode promover uma contra-análise da representação dos muçulmanos. Uma maneira de humanizá-los, uma forma de tratá-los de uma forma menos pejorativa, e nesse sentido, se a arte ajuda a forjar a sociedade, quem sabe fazer uma sociedade menos preconceituosa, menos discriminatória do que a que vem sendo construída ao longo do século XX.

“EM MOMENTOS MUITO DENSOS OU POLÊMICOS DA HISTÓRIA DOS EUA NO SÉCULO XX, AO INVÉS DE ADOTAR UMA POSTURA CONSERVADORA, A EDITORA QUASE SEMPRE FOI PROGRESSISTA”

M: Quais foram as maiores consequências de Guerra Civil nos heróis da Marvel?

VC: A maior influência talvez tenha sido a opção que a editora fez (e aqui a gente tem que fazer o alerta de spoiler pro leitor), a série Guerra Civil termina com o assassinato do Capitão América num momento em que era muito comum matar personagens. Eles morriam em uma edição e três meses depois voltavam, o público tava meio saturado disso.

O assassinato do Capitão América se manteve por praticamente um ano. Ele permaneceu morto até o momento da eleição do Barack Obama. E o arco que traz o Capitão América de volta coincide com a eleição de Obama. A substituição do governo republicano do George W. Bush por um governo democrata. Esse arco vem com o nome de “Era Heroica”, e o último arco da era Bush foi chamado “Reinado Sombrio”. Olha como a editora está falando com o seu leitor. E o retorno dos democratas à presidência é o retorno também do Capitão América, o maior herói da editora, num arco onde os super-heróis voltam e tem seu momento áureo. Talvez essa tenha sido a grande consequência da série Guerra Civil pros super-heróis.

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universo cultural

A REPRESENTATIVIDADE BRASILEIRA NOS X-MEN Personagens brasileiros mostram como o Brasil sofre com a xenofobia no universo das HQs NATHÁLIA GARCIA

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uem acompanha o universo das histórias em quadrinhos e os mutantes que formam o grupo X-Men, certamente conhece o personagem Mancha Solar e suas características que fizeram com que ele passasse a ser um membro do Instituto Xavier para Jovens Superdotados.

Comandado por Charles Xavier, o Professor X, os X-Men lutam para combater o mal no mundo ao seu redor, além de representarem as minorias dentro do universo das HQs. A grande questão paira no fato de que mesmo vivendo ao redor de outros personagens conhecidos e renomados, Mancha Solar, um personagem brasileiro dos

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quadrinhos, não é visto tal qual os outros membros dos X-Men. Roberto da Costa foi criado em 1982, por Chris Claremont e Bob Mcleod. Muitas vezes, ele é reconhecido pelas suas características próprias que o torna super-herói, mas não por ser brasileiro. Isso se dá por uma questão cultural que envolve os próprios costumes da sociedade e também a mídia, como explica o professor de sociologia Leandro Vieira. “O Brasil foi ensinado desde a sua essência a consumir produtos que não vem dele. Se a gente ensina isso de forma revigorada em todos os nossos meios comunicacionais, na mídia que tem um poder imenso, acaba sendo revertido socialmente”, afirma.

PRIMEIRO SINAL DE MUTAÇÃO Ainda na pré-adolescência, Roberto da Costa teve seu primeiro e único indício de mutação genética que atribuiu a ele super poderes. Filho de pais ricos - seu pai é o brasileiro milionário Emmanuel da Costa e sua mãe, uma arqueóloga estadunidense chamada Nina -, estudava em uma escola de alto padrão no Rio de Janeiro.

Durante uma partida de futebol, foi jogado no chão, xingado e agredido por crianças do time adversário, por conta da cor de sua pele. Motivado por toda a raiva e tristeza daquele momento, sem perceber, mostrou sua força sobre-humana.

R E P R O D U Ç Ã O M A RV E L C O M I C S

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Seu corpo e roupas ficaram completamente pretos, restando apenas faíscas de fogo ao seu redor - este foi o primeiro sinal de sua mutação, que faz com que ele consiga absorver a radiação solar.

As pessoas que assistiam ao jogo, tomadas pelo pânico e medo, foram embora imediata-

mente, inclusive seu pai. Confuso e sem saber o que estava acontecendo, Roberto se viu sozinho e vulnerável diante todo o ocorrido. A única pessoa que permaneceu ao seu lado foi Juliana, sua namorada.

Como seu próprio nome sugere, o Mancha obtém seu poder através da força do sol. Quando absorvida, é transformada em força física, registrando a radiação infravermelha, força aumentada, imunidade a força e calor e o voo. As narrativas em torno do personagem abordam questões sobre a importância de um protagonista brasileiro ser inserido no mundo tão grande e complexo dos super-heróis e mutantes estadunidenses.

PERSEGUIÇÃO PELO CLUBE DO INFERNO

Ao saber dos poderes do Mancha Solar, Donald Pierce, também conhecido como Bispo Branco e um dos líderes do Clube do Inferno, passou a perse-

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“O BRASIL FOI ENSINADO DESDE A SUA ESSÊNCIA A CONSUMIR PRODUTOS QUE NÃO VEM DELE” Leandro Vieira guí-lo. Como fizera com tantas outras pessoas ao exibir seus dons, ordenou que membros do clube fossem atrás de Roberto.

Na tentativa de capturá-lo, acabaram por aprisionar Juliana acidentalmente. Tomado pelo desespero, ele negociou com Bispo Branco a vida da namorada. Mas logo que se encontraram, RoberCLUBE DO INFERNO No século XVIII, aristocratas britânicos e irlandeses costumavam frequentar clubes privados, que ficavam localizados em covis embaixo de igrejas.

Estes locais ficaram conhecidos como “Clube do Inferno” e serviram de inspiração para a criação da sociedade de vilões inimiga dos X-Men no universo dos quadrinhos. Nas HQs, alguns personagens ficaram marcados como membros do grupo, como Sebastian Shaw e Emma Frost (que também já foi uma X-Men).

to percebeu que tudo não passava de um truque para tentar contra a vida dele e de sua companheira. Lutaram e, por fim, Juliana morre, deixando Mancha em profunda raiva e luto.

O Professor Xavier, ao saber dos planos de Donald Pierce, juntou-se com Moira MacTaggert (médica e agente da CIA, braço direito de Xavier) e as mutantes Karma e Danielle Moonstar para ajudar Mancha Solar. Mas Mancha já havia efetivado a negociação com Pierce e nada mais poderia ser feito.

O BRASIL NO MUNDO DOS QUADRINHOS

O universo das principais editoras de quadrinhos do mundo sempre foi mais favorável aos personagens de origem norte-americana e europeia. Isso se dá a inúmeros fatores, podendo ser desde o contexto histórico em que cada super-herói está inserido, como também o giro econômico que as HQs produzem em tais países na época de suas produções e lançamentos.

No Brasil, por exemplo, existe um fenômeno social chamado “complexo de vira-lata” que se encaixa nessa falta de exposição e abordagem da própria população em relação às obras que tenham o seu país como origem. Segundo Leandro, a

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nossa própria sociedade tende a ter uma conotação negativa para isso. “O complexo de vira-lata está muito interligado a um entendimento negativo da sociedade por parte dos brasileiros. Os brasileiros observam o nosso futuro não com esperança, ou com certo entendimento próspero, e sim com uma certa negatividade”, comenta.

redor do mundo, o Brasil ainda sofre xenofobia e no universo do quadrinhos não é diferente.

Personagens como Rafael Hardy (o Jaguar, que se transforma em felino humanóide), Renata da Lima (Nata, mutante que possui superforça, supervelocidade e super resistência), José Hernandez (Lanterna Verde da terra-D) e tantos outros não

Mesmo com todo o seu crescimento sociocultural e tendo influenciado inúmeros países ao

No caso do Mancha Solar, o personagem foi muitas vezes tratado em histórias como de origem hispânica, falando espanhol no lugar do português. O professor Leandro diz que isso ocorre por conta da colonização portuguesa sofrida pelo país, diferente das demais regiões próximas.

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A questão econômica também acaba sendo uma das principais causas que pode gerar (ou não) interesse na forma de como uma história é escrita e apresentada ao público, o que pode interferir na atratividade e na relevância que o roteirista dará àquela narrativa.

possuem a mesma visibilidade que o Mancha Solar ou qualquer outra figura da Marvel ou Detective Comics.

“O Brasil foi o único país da América do Sul que manteve uma colonização portuguesa.

Países como Chile, Argentina, Equador, Venezuela, foram de origem espanhola. Então acabam tendo essa ideia que foi a Espanha que nos colonizou, nos explorou”, pontua.

Além disso, o estado de origem

do personagem é uma incógnita. A maioria dos roteiristas abordam sua história tendo como origem no Rio de Janeiro.

Outras, em São Paulo e até mesmo na Amazônia. O time de futebol em que jogou muitas vezes é abordado como um clube espanhol ou boliviano.

VIRALATISMO O termo “complexo de vira-lata”, ou “viralatismo”, é uma expressão criada pelo escritor brasileiro Nelson Rodrigues que inicialmente se referia ao trauma que os brasileiros sofreram ao perder a copa de 1950 para a seleção uruguaia no Maracanã. Devido à sua complexidade, passou a ser usado nos demais ramos sociais do país.

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PRINCESA CHAY-ARA: AS MÚLTIPLAS REENCARNAÇÕES EGÍPCIAS Mulher-Gavião foi apresentada pela DC como a princesa egípcia que procurou seu amor em outras vidas BIANCA BISPO

A

história da Mulher-Gavião é longa, com suas múltiplas personalidades assumidas ao longo dos anos. Criada por Gardner Fox e Dennis Neville em 1940, a personagem só ganhou o título de Mulher-Gavião e as asas em 1941, com as ilustrações de Shelly Moldoff.

Assim como a civilização do Antigo Egito, uma característica da personagem da Detective Comics é a reencarnação. Traços culturais egípcios são vistos nas narrativas, onde a princesa Chay-ara e o príncipe Quéops criam um laço que faz com que eles se reencontrem em todas as suas vidas. Isso acontece depois de terem contato com

um metal da nave espacial do planeta Thanagar. A exposição a esse elemento permitiu que as almas de Quéops e Chay-ara formassem uma conexão forte.

Eles juraram amor um ao outro e, mesmo assassinados pelo feiticeiro Hath-Set, conseguiram se reencontrar.

Algumas encarnações foram notórias nas histórias em quadrinhos, como Lady Celia Penbrook e Brian Kent, na Era Medieval, Sheila Carr e James Wright, no século XX. Mas a aparição mais marcante de Chay-ara foi a reencarnação como Shiera Sanders. A jovem Sanders foi a primeira Mulher-Gavião, e recebeu seu primeiro par de asas e o cinto antigravitacional do personagem Carter

Hall, a reencarnação de Quéops. Ela era uma arqueóloga e ele trabalhava disfarçado em Midway City. Foi junto a Carter que Shiera uniu-se à Liga da Justiça, uma das principais equipes de super-heróis da DC.

Kendra Seunders é mais uma das reencarnações de Chay-ara. Dessa vez, Kendra não possui memórias de suas vidas passadas. Ela é sobrinha-neta de Shiera Sanders e cometeu suicídio aos 19 anos de idade, quando a alma de sua tia-avó reencarnou em seu corpo e ela ressuscitou. Entretanto, foi assim que o ritual de vida após a morte chegou a um fim para a Mulher-Gavião. Kendra foi a última a receber a alma da princesa, que abandonou o corpo

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da jovem, evitando que a alma continuasse passando para outros corpos.

ANTIGO EGITO

A cultura egípcia possui dois elos fundamentais para seu entendimento: religião e o Rio Nilo. Suas tradições e costumes se deram em anos de história, de extrema valorização por parte dos estudiosos, graças às características culturais que foram deixadas pela civilização.

Conhecido pelas grandiosas pirâmides, a sobrevivência no Antigo Egito só era possível graças ao poder das águas do Rio Nilo para a civilização, a base da vida egípcia.

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Márcia Jamille, arqueóloga especialista em Antigo Egito e administradora do site Arqueologia Egípcia, lembra que a região ficou conhecida por toda essa grandiosidade histórica, mas não existia apenas isso. “Acredito que por documentários e revistas venderem tanto esta imagem de ‘civilização grandiosa’, as pessoas se esquecem que os antigos egípcios, no fundo, só eram pessoas comuns que

“PARA OS EGÍPCIOS, A MORTE ERA MAIS IMPORTANTE QUE A VIDA” Raizza Santos

queriam tocar sua vida da melhor forma possível”, conta. “O Egito Antigo é único a sua maneira, graças aos seus deuses diferentes, o destaque dado aos animais e a sua cultura funerária. Porém, para mim, são estes detalhes o que contam o que de fato eles eram”.

RIO NILO

Geograficamente, a localização do Egito poderia ser um impasse para o desenvolvimento de uma civilização. A região possui clima seco e conta com o maior deserto de temperatura quente do mundo, o Saara - com mais de 9 milhões de km². Conhecido por itéru - grande rio, no Antigo Egito, o Rio Nilo foi o salvador

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PRINCIPAIS DEUSES

Alguns deuses se destacaram na mitologia egípcia, sendo eles antropomórficos, zoomórficos ou antropozoomórficos.

Podemos destacar nomes como: Rá (deus do Sol), Osíris (deus da Criação), Ísis (deusa da fertilidade), Hórus (protetor dos faraós e das famílias), Hathor (guardiã das mulheres) e Thoth (deus da Lua, da sabedoria e da cura). dos primeiros civis que ali habitavam. Junho a setembro era o período das chuvas, que transbordavam o rio, mas ao mesmo tempo fertilizava os solos.

Márcia destaca a presença de um dos maiores desertos do mundo. “Falando no aspecto físico, o Egito está localizado em um dos maiores desertos, o Saara. Se não fosse o Nilo certamente nenhuma comunidade e, principalmente, civilização conseguiria se manter e se desenvolver no noroeste da África”, diz a arqueóloga.

Já Raizza Santos, historiadora e membro do Laboratório de Egiptologia do Museu Nacional, conta que, ainda hoje, o rio é

fundamental para os egípcios.

“O Nilo é o elemento que dá vida à civilização egípcia até hoje. Para os egípcios antigos, ele unia as duas terras e foi tema de estudos impressionantes. Estudaram seu ciclo, dividido em três partes - inundação, semeadura e colheita e criaram ferramentas para medir o nível da água. Dele vem a alimentação do povo. E, quando a colheita era farta, significava a felicidade dos deuses com seu povo”, explica.

CULTO AOS DEUSES

A história da Mulher-Gavião assemelha-se à cultura do Antigo Egito principalmente nos rituais pós-morte e devoção aos deuses. Os registros nas pirâmides mostram que os egípcios cultuavam diversas formas de deuses: antropomórficos (forma humana), zoomórficos

(forma animal) ou antropozoomórficos. “Para o Egito também temos os antropozoomórficos, que são aqueles que misturam tanto formas humanas como animais. Uma só divindade poderia abranger todas estas três características”, ressalta Márcia.

Raizza comenta que os rituais de “vida após a morte” eram

planejados a partir do momento em que o faraó subia ao trono e que o significado da morte é bem diferente do que vemos hoje no mundo ocidental. “Para os egípcios, a morte era mais importante que a vida, tanto que quando o faraó subia ao trono começam os preparativos para seu funeral e vida após a morte. Eles começavam a construir, esculpir, decorar e colorir suas tumbas no primeiro dia de reinado. Tudo era questão de perdurar seu nome na história do Egito”, aponta.

Os corpos eram enterrados sem os órgãos, apenas com o coração. “Com o ocorrido de sua morte, o corpo do faraó passava por diversos rituais. O processo de mumificação com embalsamento do corpo coberto de amuletos mágicos e reserva das vísceras em vasos canopos, a verberação de encantamentos que ajudavam o morto no caminho ao encontro dos deuses e a realização de rituais”, conclui a historiadora.

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GLOBALIZAÇÃO AFRICANA E A ASCENSÃO DE WAKANDA Foi nos quadrinhos da Marvel que um herói africano demonstrou a importância cultural de uma nação representada por costumes e valores encontrados em nossa realidade

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ual é a importância de uma editora influente imaginar uma nação africana que não conheceu o colonialismo europeu e usufruiu suas riquezas naturais com sabedoria, conseguindo assimilar uma paz absoluta entre povos? O resultado é um objeto de estudo e riqueza histórica. Bem-vindos à Wakanda!

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O AFROFUTURISMO DE UMA NAÇÃO ISOLADA

Julho de 1966. Stan Lee e Jack Kirby direcionariam suas vertentes criativas para

BIANCA BISPO, FÁBIO OLIVEIRA , GUSTAVO PAULO E NATHÁLIA GARCIA

a elaboração de um dos mais simbólicos personagens da Marvel Comics. Como de costume, a editora voltara a quebrar paradigmas sociais utilizando dos quadrinhos como meio de transmissão de ideias: dessa vez, o Pantera Negra apresentava-se ao mundo.

Detentor do trono de Wakanda, país fictício localizado na península africana, T’Challa debutou nos quadrinhos pela edição Fantastic Four #52, na revista da consagrada família de super-heróis. O advento do personagem marcou o ingresso do primeiro super-herói negro no cenário mainstream das HQs, em pleno anos 60, época cuja discussão sobre pensamentos

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voltados à discriminação racial estava em alta.

Um golpe nos que teimavam em ceder à concepção de julgamento individual baseado na pele do semelhante. Mais do que isso, uma mensagem direta dos escritórios da Marvel de que o mundo estava mudando para melhor. E o Pantera Negra seria o encarregado de representar milhares de leitores ao redor do mundo!

nho líder da nação africana; em contrapartida, sua mãe perdeu a vida após o parto. Ramonda, sua madrasta, e Hunter, seu irmão mais velho, completam a família do herói.

Ao entrar na fase da adolescência, T’Challa estudou em diversas escolas ao redor do mundo, destacando sua passagem

por Estados Unidos e Europa.

Em território estadunidense, utilizou de outro nome para

“TEMOS QUE COMEÇAR A VER O SER HUMANO, INDEPENDENTE DE QUALQUER COISA, COMO HUMANO” Edílson Cândido da Silva

O historiador Edílson Cândido da Silva aponta a importância de uma editora como a Marvel introduzir um super-herói africano em suas histórias. “Seria o pontapé inicial para o resgate da autoestima. É necessário mostrar ao mundo, de forma muito honesta, a riqueza cultural do continente, o respeito às várias etnias, a vida de príncipes e princesas, sem uma visão caricatural”, diz.

JOVEM T’CHALLA

O sangue real do futuro rei de Wakanda teve fruto pela união de T’Chaka e N’Yami. Seu pai marcou época como um ferre-

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preservar a posição anônima de Wakanda diante das outras partes do planeta.

O rapaz retornou à nação com um PhD em Física pela Universidade de Oxford nas costas.

Agora com a missão de tornar-se um homem e o próximo detentor do manto da figura do Pantera Negra.

O RITO DE PASSAGEM

A transmissão de título real no reino de Wakanda se constrói através de âmbitos distintos, desde os costumes tradicionais vindouros de uma rica história cultural africana à importância

da relação espiritual do indivíduo com entidades místicas. O candidato necessita derrotar o atual Pantera em um duelo físico extremamente simbólico. Ao vencer, é conduzido por um sacerdote para ingerir a chamada Erva de Bast, o Deus Pantera, que concede os poderes correspondentes ao vencedor.

Essa conexão, no entanto, transcende o aspecto fisiológico: é a genuína passagem de manto e apresentação do novo rei ao povo wakandiano. Dotado de uma integridade inquebrável, o jovem T’Challa seria responsável por introduzir à política do país uma nova espécie de harmonia diplomática; e um reinado onde princípios morais ficam acima de qualquer interesse individual.

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

T’Challa conheceu diversos aspectos mundo afora, teve contato com outras nações, lugares e culturas. Entretanto, a decisão de abrir as portas de Wakanda para o mundo sempre foi um dilema enfrentado pela nação wakandiana.

Basicamente, a nação segue os estilos da vida tribal, com rituais sagrados realizados de acordo com a morte do Pantera Negra que governa em determinado período. Conhecidos

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Bashenga foi o primeiro Pantera Negra e acredita-se que tenha vivido cerca de 10.000 anos antes de T’Challa.

Foi Bashenga que deu início ao reino conhecido atualmente como Wakanda. Além de ter dado início às explorações das terras logo após a queda do meteoro que atingiu a África, Bashenga foi responsável pela criação da cultura e costumes locais, bem como proteger o vibranium, a maior preciosidade da população local.

Este receio de T’Challa pode ser explicado através de uma visão concedida pelo universo real. “O Imperialismo foi nefas-

to para o mundo, pois acabou mergulhando vários povos, etnias e tribos no caos. A África colhe ditaduras ainda hoje, bancadas e patrocinadas pelas grandes potências mundiais”, pontua Edílson sobre os danos do Imperialismo causados no mundo durante a história.

VISIBILIDADE AFRICANA

As portas abertas de Wakanda proporcionaram ao país uma visibilidade ainda maior do que antes. O grande tesouro do reino é o que faz a nação ser tão bem-sucedida e organizada como ela é.

A região geográfica em que o país se insere permitiu uma visibilidade maior para a própria África, seja no universo dos quadrinhos ou no universo real. Eles possuem uma utopia buscada por outros países: medicina impecável, tecnologia avançada, recursos naturais de fácil acesso, segurança pública e educação de qualidade.

Localizado próximo ao Quênia, Somália e Uganda, a educação do reino wakandiano é o verdadeiro sonho de consumo das outras nações. Todas as crianças e adolescentes passam por um rigoroso método de ensino de 11 anos em escolas públicas e, assim que este ciclo é encerrado, o wakandiano tem o direito de escolher se gostaria de adentrar no mercado de trabalho ou cursar uma faculdade.

Wakanda é um país religioso, com fortes traços culturais, que reforça a ideia de que a África tem sim recursos incríveis, que muitas vezes as outras partes do mundo ignoram.

WAKANDA DO MUNDO REAL

Sabemos que o continente africano e o asiático foram os últimos a serem colonizados pelos europeus. No século XIX, as nações europeias, como França, Inglaterra, Alemanha, Bélgica e Holanda, começaram explorar

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PRIMEIRO PANTERA NEGRA

ções próximas. Este metal é o responsável pelos avanços tecnológicos ao longo do tempo e também pelo medo de seu compartilhamento às pessoas com más intenções.

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por sua política internacional isolacionista, a nação teme o acesso de outras civilizações ao vibranium, importante metal localizado no solo wakandiano que consegue absorver vibra-

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efetivamente o continente asiático e africano.

Tal colonização resultou em um mundo cego para a cultura africana. “Temos a ideia da antropologia associada com a sociologia que passou a classificar o humano como raças, dizendo abertamente que o homem branco europeu tinha a missão civilizadora: salvar os outros do estágio da selvageria, particularmente o negro africano. Essas ideias vieram permeando o pensamento ocidental, a ponto de criar mecanismos de ofensa e de negatividade em relação a todo e qualquer país do continente”, explica o historiador.

Wakanda se destaca por nunca ter sido colonizada, ou seja, é o retrato explícito de como a África poderia ser se não sem

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ERVA DE BAST

A complexidade do meteoro de vibranium atinge não só à população como também a fauna e flora de Wakanda. A chamada “Erva de Bast” ou a “Erva em Forma de Coração” é o perfeito exemplo da mutação sofrida.

Por conta do seu novo DNA, a Erva é utilizada para consagrar um novo guerreiro: além de derrotar o atual Pantera em uma batalha, terá os sucos da planta aplicados ao seu corpo, como uma espécie de soro que dá a força necessária para melhorar sua fisiologia.

a intervenção dos europeus.

Edílson ressalta a importância da valorização do ser humano em uma sociedade corrompida por preconceitos e discriminações. “Sofre-se hoje com a intolerância, com o massacre de refugiados, com as guerras e tantos outros males. Temos que começar a ver o ser humano, independente de qualquer coisa, como humano”, conclui o historiador.

BRASIL E ÁFRICA

Sabe aquele estereótipo africano que nos é transmitido ao longo da nossa vida? Ele consiste em uma visão ultrapassada sobre o continente. De acordo com o relatório sobre as perspectivas da economia mundial publicado pelo Banco Mundial em 2017, Gana, Etiópia, Costa do Marfim e Djibouti fazem parte da relação de países que têm maior potencial de crescimento em 2018.

Mas e relação entre o continente e os brasileiros? Stephanie Owens é uma jovem que representa a nova geração conscientizada do Brasil. Sua mãe é brasileira e seu pai liberiano. “Meu pai veio para o Brasil por volta de 1994. Foi o ano que teve a guerra civil na Libéria, então ele veio como refugiado para cá. Alguns meses depois, ele conheceu minha mãe”, comenta.

universo cultural

“ANDAMOS DEBATENDO MUITO SOBRE A ERA DA COLONIZAÇÃO, QUE MUITOS PAÍSES, INCLUSIVE O BRASIL, NÃO QUEREM RECONHECER OS GENOCÍDIOS QUE FORAM PRATICADOS” Stephanie Owens Stephanie ainda não teve a

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oportunidade de conhecer seu pai, mas a jovem conta que sua família se mobilizou para encontrá-lo. Ela já havia tido contato com tradições da região e por esse motivo não sentiu nenhum tipo de choque cultural.

“Minha mãe obteve contato com alguns liberianos, principalmente para questionar sobre o meu pai. Quando conheci alguns deles não tive esse ‘choque’, até

porque minha mãe falava muito

sobre eles, sobre vestimentas.

Inclusive tenho roupas do meu pai em casa”, diz.

A população brasileira é composta por uma miscigenação entre indígenas, brancos e negros.

Stephanie explana seu ponto de vista sobre a importância de falarmos mais sobre a África e seus aspectos positivos. “Ainda bem que estamos numa gera-

ção que está se aprofundando cada vez mais sobre sua ancestralidade africana. Andamos debatendo muito sobre a era da colonização, que muitos países, inclusive o Brasil, não querem reconhecer os genocídios que foram praticados. Não há como falar deste assunto se não citar a questão racial”, finaliza.

INVASÃO SECRETA SKRULLS

O reino de Wakanda sofreu diversos ataques de diferentes tribos. Um deles - e o que mais devastou o território - foi a invasão dos Skrulls. O grupo de extraterrestres invadiu as terras de T’Challa e lutou com os mais fortes de seus guerreiros.

Para confundir os lutadores de Skrulls, os homens de Wakanda usaram máscaras com o rosto de T’Challa.

Assim seria mais difícil do seu líder ser reconhecido e atingido. Apesar da quantidade de perdas, Wakanda venceu a batalha.

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O PASSADO CIGANO DO DOUTOR DESTINO O número de obras abordando esse diferencial do personagem não é grande, mas foram eficientes ao oferecer um importante aspecto cultural à persona do vilão FÁBIO OLIVEIRA

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uem se depara com o discurso megalomaníaco e a sede por poder do Doutor Destino, apresentado nos anos 60, pode nutrir um julgamento muito mais superficial do que o monarca realmente é. Por trás da máscara de ferro, Victor Von Doom, como foi batizado em seu nascimento, carregou desde os primórdios um laço inquebrável com o passado cigano de sua família, proveniente de um pequeno vilarejo situado na região que tornaria-se futuramente a nação governada por Doom: o reino da Latvéria, no Leste Europeu.

Habituado com as práticas ciganas, o jovem cresceu com o amparo de uma família carinhosa que, apesar da pobreza, sempre utilizava do segmento cultural como algo próprio, sagrado, em pura

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harmonia com um caminho de vida alegre e otimista. Porém, a ignorância humana pregaria mais uma vítima na cruz, condenando a inocência ao ódio extremo.

COSTUMES DE UM POVO MALTRATADO PELA HISTÓRIA

A riqueza cultural dos ciganos pode ser representada através de alguns elementos famosos ao imaginário comum. O baralho cigano, por exemplo, se tornou extremamente popular, originário de figuras e crenças ciganas.

Benedita Dimas, 67 anos, é cigana e descreve a prática com propriedade. “A principal finalidade do baralho cigano é apontar o melhor caminho, tirar dúvidas e acima de tudo, aconselhar.

Também é um procedimento terapêutico, pois além de demonstrar doenças físicas, auxilia com

relação aos problemas emocionais e psicológicos”, explica.

Historicamente, o povo cigano sempre foi marginalizado ao longo de diversos períodos diferentes, com base no preconceito contra a cultura em questão. Benedita relata com pesar sua visão sobre essa triste realidade. “Nossa cultura e filosofia de vida incomoda a sociedade. Seguimos nossa própria lei e prezamos por nossa liberdade acima de tudo”, ressalta a cigana, que complementa: “Ainda somos olhados e tratados com muito preconceito. Os ciganos são um povo sem pátria”, finaliza.

No universo dos quadrinhos, o jovem Victor pôde sentir na pele esse reflexo de um problema real.

universo cultural A FAMÍLIA DE DESTINO

O CIGANO QUE DESAFIOU A TIRANIA E VINGOU SEU POVO E onde o Doutor Destino entra nessa correlação entre quadrinhos e realidade? Em sua infância, o Barão Vladimir, então governante da Latvéria, personalizava o que há de mais forte no ódio discriminatório, organizando caças semanais e expulsando o povo cigano de qualquer território pertencente à nação latveriana.

O resultado foi a formação de um amargurado Victor Von Doom, com o sentimento de vingança fervente em suas veias.

“OS CIGANOS SÃO UM POVO SEM PÁTRIA” Benedita Dimas

O jovem então viajou para o Tibete, aprendeu artes místicas, utilizou de sua inteligência elevada para desenvolver aparatos tecnológicos capazes de surpreender mentes como Reed Richards, teve seu rosto desfigurado por um acidente ocasionado por uma tentativa de contatar sua mãe e, no auge

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Werner, seu pai, um curandeiro gentil, foi perseguido até a morte quando o mesmo não conseguiu curar uma grave doença da esposa do Barão.

Já sua mãe, Cynthia, teve um papel muito mais complexo: utilizou de magia negra e um pacto com Mephisto para livrar seus semelhantes da opressão usual, fato que lhe custou sua alma, reivindicada pelo personagem considerado o diabo do Universo Marvel.

de sua vida adulta, resolveu retornar à Latvéria.

O cenário encontrado foi o pior possível: seu povo totalmente escravizado, numa exploração generalizada e declarada pelo ainda tirano Barão Vladimir.

Victor não hesitou em combater as forças militares, derrotou-as, libertou os mais pobres e tomou o poder do país. Um novo líder monarca surgiria acompanhado de anos prósperos para a população, indiscriminadamente, devolvendo a dignidade tão necessária ao povo cigano.

Enfim, o Doutor Destino apresentava-se ao mundo.

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universo cultural

ARTES MARCIAIS:

O EXTREMO ORIENTE NA MARVEL Muito mais que práticas esportivas, as artes marciais proporcionam tradições e costumes que são vistos como manifestações culturais BIANCA BISPO

O

continente asiático é o maior do mundo. Dividido em seis regiões geoeconômicas, o Extremo Oriente (composto pelo Japão, China e Coréias) vem se destacando, cada vez mais, pelas práticas ligadas às artes marciais e a forma que elas dialogam com seus valores e tradições.

Nas HQs, os Estados Unidos abrigou poderosos personagens da Marvel Comics que, muitas vezes, não são lembrados, como Shang-Chi, treinado por seu pai para ser perito em inúmeras práticas do Wu Shu - as artes marciais chinesas.

Outra personagem que levou a cultura do Extremo Oriente consigo para Nova York foi a jovem Colleen Wing, que entrou

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no mundo das artes marciais por influência de seu avô, chamado Kenji Ozawa.

Os treinos que Colleen teve com seu avô ao longo da infância fez com que suas noções de luta se aprimorassem, proporcionando tanto um desenvolvimento interno quanto físico. Diferentemente do que é retratado em outros personagens, tanto Shang-Chi quanto Colleen não possuem poderes ou habilidades especiais: a disciplina no aprendizado das artes marciais foi o que proporcionou a ambos um equilíbrio e força física.

O EXTREMO ORIENTE

Englobando diversas modalidades, as artes marciais não se

caracterizam apenas por serem lutas ou atividades físicas, mas atuam também como um autodesenvolvimento do ser humano, possibilitando até mesmo o equilíbrio da saúde.

De acordo com Francisco Noriyuki Sato, professor de história do Japão, jornalista e editor do site Culturajaponesa.com.br,

as artes marciais são vistas no Japão como uma forma de evolução. “Nas artes marciais você está sempre se desenvolvendo, pode ser o aperfeiçoamento físico, da forma aparente de postura, ao aplicar o golpe, etc., ou pode ser a parte mental, a compreensão dos movimentos, do silêncio, do adversário”, diz.

Francisco ressalta que outras formas de arte fazem parte de tais rituais. “Por diversos motivos históricos, as artes marciais se desenvolveram de forma mais forte na Ásia. Se fosse apenas para a luta, deveria ser chamado de luta marcial ou combate marcial, mas é arte marcial porque vai além disso, entram elementos culturais, como dança, meditação e filosofia”, explica.

TRADIÇÕES JAPONESAS

Já no universo real, a cultura asiática também se disseminou no Brasil, com o movimento de imigração nipônica, que teve início em 1908.

universo cultural

Emerson Sugiyama nasceu no Brasil e passou 16 anos morando no Japão. Nesse período, observou inúmeras tradições e valores que se diferenciam do Brasil. “Nós morávamos em prédio, uma vez por mês a gente fazia um mutirão para fazer a limpeza da área comum e do parque que tinha em frente.

Nas empresas também fazíaCULTURA JAPONESA

Os japoneses também se destacam entre as nações por serem extremamente respeitosos e educados com o próximo. Essa percepção surge através da própria cultura nipônica.

Com uma história envolvendo guerras e perdas, a nação conseguiu se manter unida e formar uma das maiores economias do mundo contemporâneo.

“SE FOSSE APENAS PARA A LUTA, DEVERIA SER CHAMADO DE LUTA MARCIAL OU COMBATE MARCIAL, MAS É ARTE MARCIAL PORQUE VAI ALÉM DISSO” Francisco Noriyuki Sato mos esse tipo de serviço. Uma vez por mês saía todo mundo para pegar o lixo e participava até o presidente da empresa, ele puxava fila e todo mundo colaborava”, lembra.

O professor de história Francisco ressalta que “a própria natureza do Japão já explica esse respeito. Como se trata de um arquipélago, são diversas ilhas, bastante desprotegidas, com cerca de 30 furacões por ano, além mais de 100 vulcões ativos, tsunamis, terremotos, fortes chuvas, neve e calor terrível, eles logo aprenderam a respeitar a natureza. Como não podem controlar a natureza, os seres humanos precisavam se unir para enfrentar cada desafio que a natureza proporcionava”, finaliza.

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UNIVERSO CIENTÍFICO

A TECNOLOGIA DO HOMEM DE FERRO

O projeto de Tony Stark destaca a importância dos sistemas tecnológicos de segurança ao redor do mundo NATHÁLIA GARCIA

A

história sobre a origem do Homem de Ferro se difere um pouco dos outros super-heróis. Tony Stark, o gênio e milionário por trás da armadura, criou o que passou a ser o seu super-poder.

A princípio, Tony era um cientista, engenheiro e CEO da Stark Industries, empresa famosa pela criação de armas super tecnológicas usadas pelos exércitos mais poderosos do mundo. Em um de seus trabalhos durante a Guerra do Vietnã, sofreu um acidente enquanto desenvolvia testes em um traje bélico. Stark teve seu coração atingido por estilhaços de bomba.

ORIGEM DO HOMEM DE FERRO

Na versão original dos quadrinhos, escrita por Stan Lee e Jack Kirby em 1963, após tal acon-

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tecimento, foi pego em uma armadilha por Wong-Chu, líder de um grupo vietnamita. Com isso, a liberdade do personagem custaria o desenvolvimento de uma poderosa arma.

Waldomiro Vergueiro, fundador e coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos da USP, conta que a popularidade do Homem de Ferro demorou para ser conquistada. “De início, não tinha grande popularidade.

Era considerado o personagem mais reacionário da Marvel”.

“O HOMEM DE FERRO É UM PERSONAGEM QUE REPRESENTA O PODERIO E O AVANÇO TECNOLÓGICO DOS ESTADOS UNIDOS NA CORRIDA ARMAMENTISTA” Waldomiro Vergueiro

Ele também aponta a origem do personagem nas HQs. “O Homem de Ferro foi tradicionalmente um personagem polêmico. Ele surgiu no início da década de 1960, no contexto da Guerra do Vietnã. Era, originalmente, um empresário da área de armamentos que é preso por um guerrilheiro vietcong e, quando na prisão, constrói uma armadura para escapar”, diz.

Para que este escape fosse bem sucedido, Tony teve a ajuda do professor e engenheiro Yinsen e juntos produziram um artifício que os ajudaria a fugir dali: uma armadura de ferro que manteria o coração de Stark batendo, como uma espécie de reator, mesmo com os fragmentos da bomba em seu peito. Na fuga, o professor morre e Stark, já com a roupa de ferro, consegue retornar para os Estados Unidos.

O que eram apenas pedaços de ferro que constituía o projeto passou a ser uma grande armadura, que fornece poderes e habilidades especiais ao Homem de Ferro. Por ter sido desenvolvido por ele próprio e não ter surgido como um dom natural, o contexto no qual o super-herói está envolvido acaba por trazer para a realidade questões sobre o avanço tecnológico como fator positivo para a segurança da população.

UNIVERSO CIENTÍFICO

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ARMADURA DE FERRO

SISTEMAS DE SEGURANÇA

As armaduras de Stark são o próprio sistema de segurança do empresário.

Suas armaduras são selecionadas de acordo com o que o herói enfrenta.

Algumas delas ficaram conhecidas nas HQs, como a “Hydro Armor”, criada para possibilitar o combate nas águas, “Modular”, que possui tecnologia avançada de encaixe de recursos extras, e “Space Armor”, feita para as missões fora do planeta Terra.

TECNOLOGIA Analisando o universo das HQs e a representatividade de Stark, seria possível alcançar resultados parecidos à armadura de ferro em nossa realidade? Com todo o avanço tecnológico que vem sendo conquistado, o sonho que antes poderia ser considerado utópico não fica mais tão distante assim.

No Brasil, uma lei sancionada pelo ex-presidente Michel Temer entrou em vigor neste ano visando o incentivo em pesquisas e inovação por parte das empresas de tecnologia e informática. A Lei 13.674/2018 mostra como a tecnologia veio para ficar e que, se for utilizada

Alguns territórios do mundo que foram atacados anos atrás e países que hoje possam representar algum tipo de ameaça aos demais, possuem um forte sistema de segurança e política em seus territórios.

A criação de artefatos bélicos como armas, tanques de guerra e submarinos super tecnológicos são exemplos de objetos de criação humana para fins de segurança nacional. Mas até que ponto a segurança da população é posta em risco com tais monumentos?

corretamente, pode auxiliar até mesmo nos sistemas tecnológicos de segurança, como o próprio Tony Stark fez nas HQs.

Waldomiro analisa a possibilidade de replicar a armadura do Homem de Ferro no universo real. “Atualmente, é possível afirmar qualquer coisa em relação à tecnologia. O avanço tecnológico permitiria, em tese, que se desenvolvessem artefatos semelhantes à armadura do Homem de Ferro. No entanto, o custo desses artefatos seria provavelmente proibitivo para a grande maioria da população. Além disso, existem outras questões envolvidas, como patentes, interesses comerciais, implicações éticas, etc.”, explica.

Atualmente, uma das maiores indústrias armamentistas do mundo é a estadunidense. Com o governo do presidente Donald Trump, a venda de artefatos militares aumentou 25% em relação ao governo anterior. Mas o histórico bélico do país também já apresentava índices altos.

O Homem de Ferro reforça a ideia de que os EUA permanecem forte dentro da indústria armamentista. Segundo Waldomiro, a Marvel Comics conseguiu introduzir uma figura que retratasse o potencial de avanço dos EUA. “O Homem de Ferro é um personagem que representa o poderio e o avanço tecnológico dos Estados Unidos na corrida armamentista.

Nesse sentido, ele é essencialmente ideológico, tanto em sua origem como agora”, conclui.

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UNIVERSO CIENTÍFICO

ULTRON E VISÃO: maniqueísmo em forma de inteligência artificial

O advento dos estudos sobre máquinas e robôs como forma de vida inteligente, presente no universo real e dos quadrinhos, pode gerar medo e insegurança

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NATHÁLIA GARCIA

UNIVERSO CIENTÍFICO

O

desenvolvimento da tecnologia ao longo dos anos resulta na criação de diversas máquinas que, em sua maioria, auxiliam na execução de funções manuais humanas. Nas histórias em quadrinhos não é diferente. Na verdade, é como se o que acontece nas HQs sempre estivesse um passo à frente do mundo real.

Um dos maiores temores do homem é de que as máquinas tomem conta das grandes empresas e corporações, acabando por exterminar a mão de obra humana. Quase sempre há uma conotação negativa quando trata-se da IA (Inteligência Artificial). Nos quadrinhos, o caminho é o mesmo.

Um dos personagens fictícios mais citados como exemplo do uso da tecnologia como ameaça a raça humana, e também aos outros mutantes e super-heróis, é o Ultron. Há uma frase clássica dita por ele e que define bem suas vontades e funções: “Olá, filhos orgânicos do planeta Terra. Eu sou a interface Ultron. Eu fui criado para substituir vocês. Embora vocês tenham falhado como espécies, vocês não devem se envergonhar do que conseguiram realizar. Vocês fizeram muito com suas capacidades limitadas, mas no final, vocês são mui-

to gananciosos e muito frágeis para sobreviverem no ambiente que vocês criaram. Eu estudei a sua literatura e cultura pop...

Vocês fantasiaram sobre esse dia. E agora ele está aqui. O dia do juízo final”.

de reflexo, super voo, ótimos sensores e outros feitos. O metal que reveste o corpo dá a ele uma superproteção.

e experiências com robótica.

Sendo uma espécie de robô andróide, seu corpo é constituído pelo metal Adamantium, um tipo muito resistente e praticamente indestrutível do universo Marvel. Dentre os seus feitos e criações, Ultron ficou marcado pela criação de dois importantes Vingadores: Visão e Jocasta - esta é uma versão feminina sua.

mesmos mecanismos. Sua intenção inicial era usar o novo robô para destruir os Vingadores. Programou-o para isso, arquitetando e unindo células neurais importantes para seu desenvolvimento.

O robô Ultron foi construído pelo Dr. Hank Pym, dos Vingadores, durante pesquisas

Pouco depois de sua criação, Ultron rebelou-se e fez uma espécie de lavagem cerebral no Dr. Hank, fazendo com que ele esquecesse que o havia criado um dia. Assim, por ter agora “vida própria”, o robô conseguia se auto-atualizar, transformando-se nas versões Ultron-1, Ultron-2, Ultron-3, Ultron-4 e Ultron-5, a última.

Por ser uma espécie criada em laboratório, seus poderes foram inseridos como um conjunto de super funções. Dentre elas estão os níveis de força, velocidade, resistência, bons índices

CRIAÇÃO DO SINTOZÓIDE VISÃO

Logo após sua rebelião, Ultron criou o Visão, robô construído a partir da inteligência artificial que possui os seus

Mas seu plano não funcionou.

Quando Visão também conquistou uma vida, assim como Ultron, sua vontade foi de amparar os Vingadores ao ver a situação na qual o grupo se encontrava: Visão ajudou os super-heróis a derrotar o vilão.

A complexidade de Visão é tanta que sua inteligência se estende a uma forma quase humana de sentir. Criado por Stan Lee, John Buscema, Roy Thomas, o personagem teve sua primeira aparição na HQ The Avengers #57, no ano de 1968. Em algumas narrativas, se mostrou extremamente humano, sentindo e agindo como todos os outros ao seu redor. Ao invés de ser uma máquina criada para dar fim na espécie humana, ele aca-

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ba, praticamente, se tornando um homem comum, tendo sua família e se camuflando na sociedade, o oposto de Ultron.

Segundo o pós-doutor em Tecnologia e Comunicação Walter Lima Junior, a visão dos quadrinhos de que a máquina poderia tomar inteiramente a forma humana e agir como tal espécie é triste e um caminho irreversível. “Seria um desenvolvimento muito triste. É muito esforço humano. O que você gostaria de construir como um indivíduo?

Ele não teria inveja, por exemplo? Evoluiria a esse ponto, não tendo ódio? Aos antropólogos, eles não lidam com isso como uma coisa ruim, percebem isso como um driver da nossa evolução”, aponta.

vista de forma um tanto quanto assustadora. Há um medo de que a tecnologia se desenvolva ao ponto da não mais necessidade do homem para ações comuns, como apertar um parafuso. Ou então, como aconteceu com Ultron e Visão, as máquinas se tornarem aquilo que elas não foram programadas para fazer.

Walter explica que as novas modernizações que advém da inteligência artificial, na verdade, precisam de reparos humanos, um compondo o outro.

“Nos trabalhos repetitivos, as máquinas fazem com grande maestria, mas para a resolução de problemas e outras questões, a mente humana é muito melhor”, ressalta.

DIA A DIA

DOMINAÇÃO DO UNIVERSO

As duas histórias - Ultron e Visão - tiveram o mesmo início com finais distintos. A princípio, as programações eram iguais, visando o mesmo fim: a destruição. Mas de alguma forma, quando o robô passa a ter domínio de suas ações e, muito além disso, ter domínio de sua vida, é que se entra nos questionamentos do uso da tecnologia como aprimoramento da inteligência artificial.

Na realidade, a existência de robôs no mundo dos humanos é

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O papel dos robôs e máquinas que compõem a inteligência artificial é facilitar o dia a dia do homem em suas ações básicas.

Tais desenvolvimentos começaram a surgir com maior força e notoriedade a partir dos conceitos da 4ª Revolução Industrial, que refere-se à forma como o mundo real é combinado com o mundo tecnológico.

Desta maneira, o homem pode conviver normalmente com as criações feitas a partir da IA.

As principais ideias de tais mecanismos tecnológicos são

sempre voltadas para aperfeiçoar ações humanas, além de contribuir com novas criações que muitas vezes demandam mais tempo e precisão ao ser feita pelo homem, assim, simplificando-as.

Na área do jornalismo, por exemplo, as redações estão cada vez mais enxutas, dan-

do espaço para máquinas que ​compreendem demandas.

“Toda atividade humana lida com informação. As máquinas estão começando a compreender esses mecanismos semânticos e, nesse ponto, também atinge o jornalismo”, diz Walter.

Para isso, existem regras e leis matemáticas que “dão vida” às máquinas, possibilitando, principalmente, a capacidade de raciocínio lógico e rápida aprendizagem, como a absorção de informação e identificação dos seus próprios erros e acertos.

Tudo isso age como uma forma de auto-atualização dos programas e as máquinas estão prontas para funciona.

LADO POSITIVO

O crescente avanço da inteligência artificial, além de beneficiar indivíduos em situações corriqueiras, se faz presente em indústrias e negócios de maneira positiva. O sistema pode oferecer longas horas de

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“NOS TRABALHOS REPETITIVOS, AS MÁQUINAS FAZEM COM GRANDE MAESTRIA, MAS PARA A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E OUTRAS QUESTÕES, A MENTE HUMANA É MUITO MELHOR”

Além disso, segundo Walter, existe também o uso da tecnologia como ferramenta integradora de pessoas e comunidades, termo chamado de “tecnologia social”. “O que é isso? Tecnologias que nos ajudam a melhorar

nossa vida. Da sociedade, porque eu vivo em sociedade. Não estou isolado. As tecnologias que tem esse caráter social nos ajudam a viver melhor”, conclui.

ADAMANTIUM

Um dos metais mais resistentes dos quadrinhos, a liga de ferro chamada “Adamantium”, quando pura, é capaz de suportar ataques extremos como bombas nucleares ou golpes de qualquer não-humano extremamente forte.

No Universo Marvel, está presente nas garras de aço do Wolverine, na armadura do Homem de Ferro e em diversos outros personagens.

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Walter Lima Junior

trabalho sem a necessidade de pausas e, assim, não interfere na produção.

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SUPER-GENES: AS MUTAÇÕES NO DNA Do gene X ao ACTN3, seres humanos comuns podem ter algumas mutações das histórias em quadrinhos BIANCA BISPO

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o universo da Marvel Comics, mutantes são aqueles que possuem um gene diferente dos demais seres humanos, chamado de “gene X”. Essa mudança no DNA atribuiu a nova espécie o nome de Homo sapiens superior, uma evolução dos humanos que manifestou características novas ao desbloquear o gene em seus códigos genéticos.

As causas que desencadeiam uma mutação podem variar de acordo com o organismo da pessoa. Novas habilidades ou características físicas costumam

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aparecer na puberdade, com alterações que o corpo passa ou devido a traumas enfrentados por determinado indivíduo, que faz com que seu organismo entre em estado de colapso e desperte o gene X. REFLEXO DA SOCIEDADE EM X-MEN

Os X-Men são um grupo de mutantes das HQs. O gene X faz com que as características físicas de um mutante altere por completo e habilidades especiais apareçam. Este é o caso de Kurt Wagner, o Noturno, um mutante alemão que nasceu

com sua aparência diferente das demais, com pele azul, três dedos, orelhas pontudas e uma cauda. O mutante sofreu preconceitos por sua aparência física, diferente do padrão aceito pela sociedade do universo das histórias em quadrinhos.

Segundo Júlio César Loguercio, médico geneticista, tais preconceitos ocorrem também no universo real devido a uma desinformação por parte das pessoas. “O porquê do preconceito está mais associado ao desconhecimento e ao medo atávico da humanidade àquilo que foge

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VÍRUS LEGADO

do padrão. Mais conhecimento, menos preconceito”, comenta.

A grandiosidade dos X-Men encontra-se na análise dos roteiristas sobre época em que cada narrativa foi construída. Criado em 1963, o grupo mutante surgiu como um grito de socorro de minorias, representadas em cada personagem que sofria discriminação por serem diferentes dos demais.

OS GENES X DA VIDA REAL

Qualquer forma de vida está sujeita a passar por alterações

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Com o crescimento da epidemia da AIDS no mundo, principalmente na década de 80, o Vírus Legado foi introduzido nas narrativas dos X-Men, atingindo apenas aqueles que possuíam o gene X, ou seja, as minorias.

O vírus foi criado em laboratório e produzia uma fraqueza progressiva em cada mutante, deixando-os debilitados e desestabilizando seus poderes. O único que conseguiu formular uma cura foi o Fera, Dr. Henry McCoy. em seus DNAs. Júlio detalha os motivos pelos quais as pessoas podem sofrer mutações.

“Qualquer pessoa ou ser vivo é suscetível de ser portador de uma variante patogênicas em seu DNA. Alguns fatores são mais incidentes sobre algumas populações tornando-as mais prováveis de sofrerem mutações”, diz o geneticista.

Sobre as mutações na espécie humana, o geneticista explica que já existe a possibilidade de alterar materiais genéticos e criar seres vivos híbridos. “É uma realidade científica e está

disponível para ser lida. Se algum dia teremos super-poderes é outra coisa, pois existem limites físicos, bioquímicos e biológicos, mas não é uma impossibilidade. A evolução é um fenômeno dinâmico, nunca para”, ressalta.

As mutações genéticas que são retratadas no universo da Marvel, em alguns casos, não são totalmente impossíveis de acontecer. Há quem fale na possibilidade de genes esportivos: aqueles que seriam perfeitos para atletas se destacarem nas atividades físicas.

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UNIVERSO CIENTÍFICO

de cada cor. A patologia não é considerada grave, mas também não há algum tipo de prevenção ou cura.

Charles Xavier, antes de se tornar professor dos X-Men, conheceu uma jovem com quem teve um filho, chamado David Haller. O professor X só ficou sabendo da existência

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dele quando o garoto já era um adolescente.

Nos seres humanos, a mutação pode ocorrer devido a uma variação que afeta a sequência dos genomas que contém os genes ACTN3, ECA, AGT e BDKRB2. Entretanto, o gene mais estudado para comprovar uma impulsão na velocidade de determinado indivíduo é o ACTN3, responsável por produzir uma proteína chamada alpha-actinin-3, que se ativa em fibras musculares, possibilitando uma impulsão maior numa corrida.

MUTAÇÕES SILENCIOSAS

Nem todas as mutações presentes nas HQs são escanda-

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“A EVOLUÇÃO É UM FENÔMENO DINÂMICO, NUNCA PARA” Júlio César Loguercio losas e proporcionam super-poderes. Inclusive, uma delas é até vista nos próprios Homo sapiens. A mudança genética no receptor Eye Color-3 (gene EYCL3) pode acontecer devido a uma mutação na quantidade de melanina dos olhos, quando a distribuição das cores na íris acontece de forma não uniforme, misturando os tons. A consequência é uma anomalia genética chamada de heterocromia, resultando em um olho

A história de David é de extrema complexidade e o caos dentro de seu cérebro é visto constantemente. O gene X desencadeado no rapaz fez com que ele ganhasse poderes como telepatia, telecinésia, manipulação da realidade, entre outros. A vasta gama de poderes se dá devido às diversas personalidades que vivem dentro dele.

O filho de Xavier possui inúmeras características que nenhum ser humano pode ter, mas uma delas pode até ser vista nos humanos. Lembra do gene EYCL3?

O jovem que luta com as personalidades que habitam dentro de si possui uma mutação nesse gene, ou seja, David, um poderoso mutante, possui uma anomalia simples, a heterocromia.

COR DOS OLHOS

Portadora de heterocromia, sim. Membro dos X-Men, não. É

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cada cor, mas ela falou que era normal. Eu nunca tive a curiosidade, quando mais nova, de procurar saber”, conta.

Se fosse para elencar algum incômodo que a mutação trouxe para a vida dela, a jovem diz: as pessoas não perguntam o que é. “O que incomoda é que tem umas pessoas que não perguntam, elas ficam assim em choque, não prestam atenção no que você está falando, só prestam atenção no seu olho, e não perguntam. Mas tem gente que já percebe de primeira e já fala ‘ah, você tem um olho de cada cor?’”, pontua.

Mas seria Bia uma mutante cheia de poderes como David Haller? A jovem finaliza fazendo uma brincadeira com a ideia de ser um X-Men. “No meu caso, a anomalia nunca atrapalhou em nada. Não me sinto um X-Men, sou uma pessoa muito normal, mas eu levo na boa, nunca sofri por isso”, conclui.

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A CADA 1000 PESSOAS SÃO AFETADAS PELA HETEROCROMIA EM TODA AMÉRICA

O FENÔMENO PODE SER OCASIONADO POR: • • • •

HERANÇA GENÉTICA LESÕES FACIAIS PRÓXIMAS AOS OLHOS MUTAÇÕES GENÉTICAS PATOLOGIAS

Pesquisa realizada nos Estados Unidos. Fonte: LiveScience

BIA ALVIM já ouviu

frases como “sua lente caiu” e “um lado você enxerga verde e o outro castanho?”

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NATHÁLIA GARCIA

o que conta Ana Beatriz Alvim, a Bia, uma jovem que possui um olho verde e o outro castanho. Bia descobriu o que cada cor em seus olhos significava recentemente, mas desde nova sabia que não era nada perigoso. “Descobri há pouco tempo.

Quando eu era menor, minha mãe só dizia que tinha ido no médico, já que o olho era um de

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UM DILEMA MORAL PARA O DR. ESTRANHO

Interesses individuais, corporações multinacionais, questões financeiras, uma vasta lista de empecilhos discutíveis para o avanço da medicina habitam as páginas de um dos maiores feiticeiros dos quadrinhos FÁBIO OLIVEIRA

T

odos nós conhecemos a carreira de Stephen Strange como o Mestre das Artes Místicas, não é? Muito antes de comprometer-se com a segurança de realidades dimensionais, o herói gozava do título de maior neurocirurgião dos Estados Unidos. Em uma carreira brilhante, o bom doutor carregava em seu ego uma arrogância corrosiva, até o famigerado acidente de carro que destruiria os nervos de suas mãos para sempre, lhe custando qualquer possibilidade de dar sequência ao trabalho.

Uma mudança radical, benéfica para que o homem viria a se tornar. Grande parte de sua prepotência lhe abandonara em tal ocasião, mas princípios funda-

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mentais de profissionais da medicina teriam efeitos exponenciais num futuro não tão distante.

A DOENÇA DE WONG E O SUSPIRO DE ESPERANÇA

Anos após tornar-se o Mago Supremo da Terra, Strange teria de lidar com uma terrível realidade: Wong, seu fiel escudeiro, fora diagnosticado com um tipo de câncer terminal.

Seria culpa do acaso? Talvez, pois o mesmo concederia a Strange uma nova possibilidade, um raro elixir cuja função primordial era eliminar as células invasoras. Em uma busca desesperada por alguma saída adequada, o Doutor Estranho acaba por descobrir a cura do câncer!

Cristina Paixão, psicóloga com especialização em psico-oncologia e idealizadora do site Câncer Sem Mitos, relaciona o dilema vivido pelo personagem com uma realidade muito próxima à nossa. “Hoje, um médico que encontre a cura do câncer não poderia atuar abertamente, porque seria perseguido e sua licença médica seria cassada, provavelmente. Se ele quisesse continuar a curar pessoas, dentro da ética de sua profissão, teria de ser sem alardear a descoberta. Infelizmente”, aponta.

O JURAMENTO DE HIPÓCRATES

É dever de todo médico ajudar e oferecer seus serviços aos necessitados. O Juramento de Hipócrates é o que diferencia o indivíduo que trabalha para o bem estar geral.

Hipócrates defendia o imediatismo por trás da disposição perante pessoas fragilizadas por condições físicas ou mentais, quase que de forma dogmática.

A honestidade precisa sobressairse, independente do cenário apresentado.

UNIVERSO CIENTÍFICO

NUANCES OBSCUROS E O AVANÇO MEDICINAL Como uma lucrativa indústria farmacêutica se comportaria perante a descoberta de um elixir capaz de erradicar o câncer do planeta? Cristina relata uma realidade condizente com o arco da Marvel. “Os interesses econômicos ficariam acima

da cura. A indústria tem lucros absurdos com o câncer e não perderia essa taxa por ‘amor ao próximo’. A realidade em torno do câncer e outras doenças crônicas é feia”, diz.

leitores: Strange poderia guardar um resquício do elixir para um estudo mais aprofundado e uma provável propagação, podendo salvar bilhões de vidas, ou ceder à amizade que nutre e aplicar imediatamente o que restou em Wong, que já estava à beira da morte.

Nessa hora, o Juramento de Hipócrates volta à tona e exerce

Nos quadrinhos, Strange teve de lidar com executivos da Timely Farmacêutica, uma corporação ciente da existência do elixir em questão. Com a justificativa de que a humanidade só poderia avançar medicinalmente de forma gradual, os engravatados encomendaram a morte do herói e a consequente captura do frasco com o desejado líquido.

“OS INTERESSES ECONÔMICOS FICARIAM ACIMA DA CURA. A INDÚSTRIA TEM LUCROS ABSURDOS COM O CÂNCER” Cristina Paixão função primordial na conclusão que o herói chegara, não é acei-

tável renegar a cura para um indivíduo fragilizado pela morte iminente. Wong foi curado, o líquido, esgotado, restando a incerteza de quando ou como uma nova possibilidade poderia surgir. O Doutor Estranho, agora, não estava em paz com a questão vista de um todo, mas sim com seu coração, e a certeza de que fez a coisa certa.

No embate final, Nicodemus West, médico arcano contratado pela Farmacêutica para deter Strange, utiliza de sua limitada magia para almejar a derrota do feiticeiro em um duelo místico, resultando na destruição do frasco. Por fim, uma questão é apresentada aos

DIVULGAÇÃO MARVEL COMICS

CÓDIGO MORAL E SUA HARMONIA CONSCIENTE

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UNIVERSO CIENTÍFICO

HQS E O UNIVERSO EXTRATERRESTRE O tema é polêmico, desperta visões singulares e já habitou diversas páginas de quadrinhos consagrados: afinal, há vida fora da Terra?

BIANCA BISPO E GUSTAVO PAULO

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UNIVERSO CIENTÍFICO

E

m que você pensa quando falamos sobre vida fora da Terra?

Uma das primeiras imagens associadas à essa pergunta é a de alienígenas verdes habitando outros planetas. Mas a realidade pode ser um tanto quanto diferente.

Navegando pelo universo real,

podemos dizer que, “oficialmente”, o Sistema Solar possui oito planetas, que são: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Além desses, também existem os planetas anões, que não estão inclusos nessa lista.

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Mercúrio e Vênus são planetas que estão demasiadamente próximos ao sol, fazendo com que as formas de vidas que conhecemos não consigam se estabelecer por lá. Já Marte é um dos planetas mais próximos da Terra, e um dos mais estudados nos últimos tempos. Em 2010, os Estados Unidos enviaram uma nave até o planeta vermelho, chamada Opportunity, que mostrou que o território marciano possui bolhas e fissuras, o que indicaria a presença de água líquida - fator necessário para que humanos sobrevivam.

Desde que os cientistas descobriram maneiras de verificar a existência de planetas orbitando outras estrelas no universo, e

a elevada temperatura de alguns deles serem altíssimas, a possibilidade da existência de vidas em astros desse gênero é real – de acordo com cientistas – e muito remota. Para alguns profissionais, como Ellen Stofan, o mundo terá registros de extraterrestres até o ano de 2025.

EXTRATERRESTRES E HQS

Nos quadrinhos, este contato começou quase 100 anos antes.

A primeira aparição do Superman se deu na revista Action Comics #1, no início da década de 1930. Kal-El foi um dos primeiros alienígenas a serem retratados pelos quadrinhos e abriu um leque de opções para a criação de outros personagens. Márcio Baraldi, cartunista da revista UFO, explica como se deu o início da história de Kal-El. “O Superman é um extraterrestre, o último ser do planeta Krypton, que explodiu devido a uma catástrofe. Seus pais eram cientistas e o enviaram à Terra num foguete ainda bebê. Ele é um dos primeiros extraterrestres dos quadrinhos”, diz.

Já no final da Era de Ouro dos quadrinhos, algumas editoras marcaram o campo da ufologia. “Entre essas editoras, dos anos 50 e 60, merece destaque a Dell/Gold Key, que possuía alguns títulos 100% dedicados a ufologia, como ‘UFO’ e ‘Flying

MULTIVERSO

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Saucer’, e produzia capas magníficas e extremamente realistas que marcaram época”, conta o cartunista.

Márcio é vencedor do consagrado Prêmio Angelo Agostini e criador do Ginho, O ET de Varginha. Em relação à representatividade de vida fora da Terra nas HQs, ele conta que são

inúmeras narrativas existentes.

“Os quadrinhos sempre abordaram ufologia, dentro do gênero da ficção científica. São zilhões de casos”, pontua.

MARVEL E A GUERRA NA GALÁXIA

É claro que a Marvel Comics não deixaria de representar os ex-

“É IMPOSSÍVEL ACHAR QUE SOMOS OS ÚNICOS” Ademar Gevaerd traterrestres de alguma forma.

Inclusive, existem várias representações. Eles já foram retratados com orelhas pontudas, carecas e fortes, nas cores verde, azul, roxo e por aí vai. A Marvel apresentou espécies de fora da Terra que acabaram tendo um papel superimportante para os personagens terrestres. Essas espécies são os Krees e Skrulls.

Criados por Stan Lee e Jack Kirby, eles apareceram pela primeira vez na década de 60,

nas histórias em quadrinhos Avengers #89 até Avengers #97. As duas espécies entraram em guerra, causando sérias ameaças para a Terra, por conta do grande conflito entre as duas raças alienígenas (os Krees e Skrulls).

A aventura leva os Vingadores ao espaço, para lidar com a luta

entre os poderosos inimigos interplanetários, que colocava em risco a vida dos habitantes dos habitantes do planeta Terra.

VIDA EM MARTE

A cada ano que passa, algum cientista descobre algo novo sobre Marte. Recentemente, organiza-

IMPÉRIO EXTRATERRESTRE

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Os Krees são uma raça de humanóides de pele azul ou rosa, que habitam na Grande Nuvem de Magalhães, onde criaram um império gigante. Já os Skrulls, por outro lado, representam os alienígenas de orelhas pontudas e pele verde, que podem se transformar em tudo e ordenam constantes ataques à Terra. Ambos protagonizaram guerras galácticas de sucesso nos quadrinhos da Marvel.

UNIVERSO CIENTÍFICO

ções, como a NASA, descobriram que é possível existir a presença das Cianobactérias no planeta vizinho. Elas são bactérias que têm a capacidade de transformar luz em alimento, mesmo que seja em um ambiente quase sem luz nenhuma. A própria reprodução das bactérias é considerada um tipo de vida. Dessa forma, quando se fala sobre bactérias que ha-

ET GINHO

A REVISTA UFO É UM DOS PRINCIPAIS E MAIS CONCEITUADOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DO MUNDO SOBRE UFOLOGIA. BARALDI COMEÇOU A FAZER ILUSTRAÇÕES PARA A REVISTA EM 2007 E A CRIAÇÃO DO GINHO FOI INSPIRADA NO CASO DOS ETS DE VARGINHA, QUE ACONTECEU EM 1996, EM MINAS GERAIS. COM MUITO HUMOR, GINHO ABORDA TEMAS UFOLÓGICOS E DIVERSAS OUTRAS ÁREAS, COMO POLÍTICA.

bitam outros planetas, é possível afirmar que há formas de vidas nos mesmos.

Ademar Gevaerd, ufólogo e editor da Revista UFO, expõe a perspectiva de uma pessoa com bagagem na área. “Os ufólogos têm como certo que já houve vida em Marte, uma vida ancestral, e há aqueles que até suspeitam que por um cataclisma que tenha ocorrido naquele planeta, aquela civilização que existia lá tenha migrado para a Terra.

Mas isso são conjecturas, são teorias”, ressalta, antes de exemplificar mais uma possibilidade.

“Já foram fotografados na Lua artefatos como torres, pontes, carrosséis, um monte de coisas sem a menor explicação, estão lá no nosso satélite”, observa.

Já Rafael Amorim, ufólogo especializado em investigação de campo no Sul do país e nações vizinhas, aponta o atual cenário dos estudos em sua região de atuação. “As evidências físicas desse fenômeno e da ação

dessas inteligências estão espalhadas pelo nosso território gaúcho, inclusive mais próximo a fronteira do Uruguai e Argentina, onde o fenômeno é exaustivamente pesquisado por grupos competentes e órgãos ligados às Forças Aéreas destes países”, diz. Ele também reforça a ideia de que existe vida fora da Terra.

“Nosso cenário ufológico está cheio de evidências e relatos que esses seres vivos de outros planetas estão entre nós”.

A MISTERIOSA IMENSIDÃO DO UNIVERSO

É difícil não cair no campo filosófico ou existencialista, mas o aspecto imensurável do universo desperta o que há de mais conspiratório em nossa consci-

ência. Nesse sentido, Gevaerd é bem claro. “É impossível achar que somos os únicos. O universo tem perto de 14 bilhões de anos e a Terra tem cerca de 5 bilhões de anos. Entre o surgimento do universo e o surgimento da Terra, se passaram quase 9 bilhões de anos. Quantas outras Terras surgiram nesse período? É muito difícil de se imaginar. Existem civilizações por todos os cantos do universo”, finaliza.

Seja através dos olhos das HQs ou de profissionais adeptos à ufologia, há de se considerar: muitos acontecimentos surgirão para testar nossa compreensão sobre vida fora da Terra, cabendo a nós, humanos, sabermos lidar com o desconhecido!

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Thor Odinson e as crenças escandinavas A religião dos vikings deixou marcas na história da humanidade e influenciou a criação de um dos principais personagens da Marvel Comics BIANCA BISPO

Q

uem nunca ouviu falar dos vikings? Eles consistem em grupos de diferentes reinos, formados por escandinavos, que habitavam a Dinamarca, Noruega e Suécia, por volta do século VIII. Existem muitos mitos em torno desses povos, mas o que todos sabem é que eles se destacaram na história por conta da força e coragem que possuíam, além das suas crenças.

Há tantos boatos sobre os vikings que fica difícil de saber o que é real e o que não é, já que a maior parte da história se perdeu no tempo. Mas alguns fatos curiosos foram descobertos e comprovados por cientistas. Por exemplo: o explorador

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norueguês Helge Ingstad e a arqueóloga Anne Stine Ingstad encontraram vestígios nórdicos em um sítio arqueológico chamado L’Anse aux Meadows, no Canadá. Esses vestígios seriam do ano 1000, ou seja, mostram que não foi Cristóvão Colombo que “descobriu” a América, como era sabido até então.

Munir Lutfe Ayoub, mestre em história medieval com ênfase no mundo escandinavo, explica como se deu essa chegada dos vikings na América. “O termo ‘descoberto’ é um pouco problemático, mas vamos dizer que alguns povos vikings chegaram na América antes do que a gente classifica como descoberta, só que até hoje o único achado des-

ses vikings na América fica no Canadá, numa região que chama Nova Escócia - Newfoundland.

Hoje, você tem um sítio arqueológico lá, se você for ao Canadá você pode visitar”, esclarece.

Ele também conta que existem outros rumores sobre a presença viking no continente americano. “Já tiveram muitos boatos

deles terem descoberto os Estados Unidos, porque no século XIX os EUA tiveram uma grande imigração de suecos sobretudo, e esses suecos acabaram até forjando algumas runestones, querendo dar uma legitimidade da presença deles ali”, diz.

RELIGIÃO NÓRDICA ANTIGA

A religião dos vikings era baseada no politeísmo, o qual eles cultuavam diversos deuses, entre eles Odin (o Pai de todos), Thor (deus dos trovões e das batalhas), Loki (deus da trapaça e da travessura), Heimdall (deus guardião da ponte que liga a Terra ao céu) e Frigga (deusa-Mãe). Os vikings faziam rituais para esses deuses (e diversos outros) em cerimônias e eventos sazonais, como o Jól/Yule.

JORNADA AO MISTÉRIO

Quem imaginaria que vários desses deuses nórdicos seriam adaptados para a ficção? O próprio Thor era um deus venerado

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pelos camponeses, que viam ele como um grande protetor. Sempre que avistavam relâmpagos, acreditavam que era Thor usando seu martelo, chamado Mjolnir, em batalhas no céu. Nas HQs da Marvel Comics, essa história se repete.

“ESSES COSTUMES SE FUNDEM. O CRISTIANISMO TEM ESSE PODER, ELE INCORPORA COISAS DE ANTIGAS RELIGIÕES E CULTURAS”

1962, totalmente inspirado nos relatos históricos escandinavos.

Ele apareceu pela primeira vez no Vol. 1 #83 da história em quadrinho Jornada ao Mistério.

O trio responsável pela criação do personagem adaptou também boa parte de sua família. O seu pai, tanto na Marvel como na mitologia nórdica, é Odin, o Pai de todos. Na ficção, ele passou

por diversas aventuras com seu trapaceiro irmão adotivo, Loki.

Munir Lutfe Ayoub

Na época de sua criação, os roteiristas precisavam de um personagem capaz de derrotar o Incrível Hulk. Foi assim que Stan Lee pensou numa forma de conseguir parar o gigante: criando o primeiro personagem baseado em um deus. Uma das

A FIGURA DO THOR E O MITO

Vemos uma clara releitura da imagem do Thor feita pela Marvel Comics. A cultura viking não

era uma singularidade. Ao contrário, ela deve ser tratada de forma plural. “É muito diverso, é muito diferente, não dá pra falar que existia uma uniformidade. Quando você vai tratar da cultura viking, você trata de culturas. Então vamos dizer, ‘ah, mas o Thor é próprio de todas essas culturas’, verdade, mas mesmo assim em algumas

DIVULGAÇÃO MARVEL COMICS

Thor foi criado por Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby em

principais diferenças da mitologia para a ficção é que Thor fez parte de um dos principais grupos de super-heróis dos quadrinhos, os Vingadores.

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regiões você tem uma presença mais forte do culto a Thor do que em outras”, ressalta Munir.

O mestre em história salienta que é normal fazer uma nova leitura em cima da história, mas com um cuidado relacionado à forma em que essa história será contada. “Pense que o mito, quando era oral e passava de fa-

mília em família, não era o mesmo por todo o período, ele ia se mudando. Então, até hoje, quando você tem um mito e tenta dar vida a ele, você vai mudando. O que eu acho muito importante é a mensagem que nós queremos passar com esses mitos e a mensagem que nós não queremos passar. Se é a nossa vez de contá-los, é a nossa vez de escolher o que a gente vai contar também”, conclui.

ASCENSÃO DO CRISTIANISMO

Os vikings noruegueses e dinamarqueses invadiram e exploraram regiões do oeste da Europa e os suecos invadiram países do leste. Embora os vikings tenham conquistados diversos territórios europeus, em algum momento alguém teria de apresentar uma resistência à estes ataques. Foi o que aconteceu no século IX, com o rei Alfred de Wessex.

Junto ao seu irmão Ethelred de Wessex, lutaram contra um dos líderes vikings chamado Ivar,

EDDA

O conhecimento que se tem hoje sobre toda a história das crenças vikings existe devido ao Edda em Prosa, que foi escrito pelo poeta Snorri Sturluson, e Edda em Verso, autor desconhecido.

Essa coletânea de textos foi encontrada na Islândia, sendo que: Edda em Prosa consiste em poemas e dicas para poetas que foi compilada em um único livro no início do século XIII, pelo poeta guerreiro Snorri, e Edda em Verso são poemas sobre deuses e heróis mitológicos, que foram escritos por autores anônimos até o ano de 1250, aproximadamente.

o Sem Ossos, mas não conseguiram parar o exército dele.

Alfred e seu irmão lutaram as Nove Batalhas, nas quais chegaram a perder para o irmão de Ivar, mas tiveram sucesso em outras. Por esse motivo, o nome de Alfred está associado à vitória da Batalha de Ashdown, que aconteceu em Berkshire Downs (na Inglaterra).

Outra vitória de Alfred foi na Batalha de Ethandun. Após a derrota, um dos líderes vikings, o dinamarquês Guthrum, foi obrigado a se converter ao cristianismo e teve de mudar seu nome para Aethelstan. En-

tretanto, como subentendido, a conversão cristã não ficou restrita apenas a Guthrum.

Já no início do século X, o rei dos francos Carlos, o Simples, entrou em acordo com outro líder viking, Rollo, cedendo a ele uma ampla região da costa da França. Em retorno, Rollo deveria proteger os francos de qualquer ataque dos escandinavos. Os francos tinham pavor do viking, ainda mais depois de ver que ele matou todos os animais que via de seus inimigos e empilhava seus corpos. Diferentemente dos demais vikings, Rollo queria se estabelecer em um único lugar e converteu-se ao cristianismo.

Com essas conquistas de novos territórios, os vikings chegaram em regiões onde o cristianismo era predominante e as crenças começaram a se dissolver, após um contato mais próximo com os cristãos. O cristianismo acabou ascendendo por boa parte da Europa e alguns costumes vikings mudaram, como o Yule, que foi substituído pelo Natal, comemoração do nascimento de Cristo.

Munir explica que as tradições vikings não sumiram por completo, mas entrou em uma fusão com a nova religião que ascendia. “Esses costumes se fundem.

O cristianismo tem esse poder, ele incorpora coisas de antigas religiões e culturas”, conclui.

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A FILOSOFIA DE NIETZSCHE NA VIDA DE LEX LUTHOR

Como um dos maiores pensadores do século XIX atua diretamente nos ideais e projetos do famoso vilão do Superman NATHÁLIA GARCIA

C

om nenhum tipo de poder

sobre-humano, mas com tamanha inteligência, nasce um dos maiores vilões de todos os tempos das histórias em quadrinhos: Lex Luthor. Criado por Jerry Siegel e Joe Shuster, pela editora DC Comics, sua primeira aparição em uma HQ foi na Action Comics #23, em abril de 1940.

Desde então, tem sido o maior arqui-inimigo de Superman.

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DIVULGAÇÃO DC

Existem algumas versões para a sua origem, mas a principal, narrada nos quadrinhos, é de que Luthor morava com sua família, completamente problemática, em um bairro muito pobre de Metropolis, cidade localizada no estado americano de Illinois, nos EUA. Ainda adolescente, como tentativa de garantir seu futuro, forjou a assinatura dos seus pais ao criar um seguro de vida para ele no nome deles. Em seguida, elaborou um plano para assassinar sua família, ficando assim com todo aquele dinheiro.

Lex é ateu e acredita essencialmente na habilidade evolutiva

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do homem, sem nenhum tipo de influência externa. Segue alguns dos pensamentos do filósofo Nietzsche sobre a adoração a Deus e faz uma crítica direta à figura de Clark Kent.

FEITOS CIENTÍFICOS

Considerado um gênio da ciência, usou a inteligência a seu

favor, criando o tratamento de doenças complexas como a AIDS e o câncer, além de desenvolver habilidades para resolver questões matemáticas.

Já que não possui super-poderes, Luthor elabora seu próprio armamento com um avançado sistema de defesa, equipamentos que fornecem super-força, jatos propulsores e a chamada kryptonita, uma joia na cor verde capaz de enfraquecer o Superman.

Quando adulto, tornou-se um grande empresário. Utilizou toda a sua fortuna e investiu em sua corporação, a LexCorp, que tornou-se uma das maiores multinacionais na área de engenharia aeroespacial, sendo também a maior e mais rentável empresa de Metropolis.

FILOSOFIA DE NIETZSCHE

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche tem muita influência nas escolhas de vida do personagem Lex Luthor. Algumas doutrinas

“VOCÊ TEM QUE ENCONTRAR AJUDA DENTRO DE VOCÊ MESMO E POR VOCÊ MESMO SOLUCIONAR OS SEUS PROBLEMAS” Humberto de Aragão regem a vida do vilão, como a não adoração à figuras superiores e as ideologias do “super-homem”

- conceito de que nós mesmos nos bastamos, não precisando assim de um ser ou um mantra superior que nos conforte. Em outras palavras, alguma religião.

O bacharel em teologia e professor de filosofia Humberto de Aragão explica que “quando você enfrenta um momento de intempérie, de desafios, sofrimento, vicissitude, você não deve recorrer a uma entidade, a um ser transcendente para que ele possa estender a mão e ajudá-lo”.

LUTHOR E SUPERMAN

Um dos mais conhecidos super-heróis, Superman colecionou inúmeros fãs e alguns inimigos. Um deles é Lex Luthor, que teme Superman por ele ser poderoso demais. A supervelocidade, visão raio-X, super força e outros tantos poderes são motivos para que Luthor o veja como uma ameaça mundial. Para ele, se um dia o Superman tiver algum tipo de “surto”, poderia acabar com toda a humanidade em pouquíssimo tempo.

O vilão Lex Luthor, assim como Nietzsche, faz inúmeros questionamentos sobre a existência humana. “Nietzsche critica a massificação, a visão do mundo burguesa e o conservadorismo cristão. Para ele, em palavras simples, você tem que encontrar ajuda dentro de você mesmo e por você mesmo solucionar os seus problemas”, diz o profes-

sor. Pode-se notar que são os mesmos temores de Lex sobre o Superman em relação aos seus super-poderes perante uma sociedade frágil e vulnerável.

Tais doutrinas afetam os principais pilares de um povo e impactam nas suas formulações políticas, religiosas e culturais.

O filósofo é muitas vezes citado nas histórias de Lex.

No universo dos quadrinhos, Luthor crê que super-heróis são meros espelhos do Deus idealizado por Nietzsche, ou seja, seres irreais, que aprisionam a humanidade em lapsos constantes de esperança não correspondida. Humberto comenta sobre a relação de Nietzsche com Deus e pessoas comuns. “O mais plausível é que Deus foi criado pelos homens em decorrência de uma necessidade, dos enigmas que o cercavam. O homem aos poucos vai se desvencilhando dessa ideia de Deus e torna-se-ia autossuficiente”, diz ele.

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O SIMBOLISMO MITOLÓGICO DE SHAZAM! Por trás do imponente uniforme vermelho e os poderes mágicos do herói, existe um diálogo metafórico com figuras famosas da mitologia grega GUSTAVO PAULO

I

magine um garoto revoltado, rebelde e encrenqueiro, porém de coração tão puro ao ponto de receber um presente dos “deuses”. Essa é a história de Billy Batson, menino órfão conhecido por sua capacidade de não se manter por muito tempo com a mesma família - ou de não estabilizar-se em diferentes casas adotivas. Isso até conhecer a família Vasquez e seus novos irmãos.

Billy acaba se envolvendo numa briga ao perceber que os irmãos eram alvos de piadas. Nesse momento, a faísca de coragem do garoto manifestou-se com precisão, acabando por defender a nova família. Após o ocorrido, ao entrar no metrô como de costume, o garoto é transportado a um lugar chamado

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Rocha da Eternidade, indo de encontro a uma sinistra figura.

Ao identificar a inerte bondade em Batson, Shazam, o mago, resolve conceder ao garoto poderes mágicos, com o gatilho de que cada vez que pronunciasse a palavra SHAZAM, um raio o atingiria instantaneamente, transformando-o em um homem adulto, forte e com poderes sobre-humanos.

A INSPIRAÇÃO GREGA

Billy Batson fora presenteado com poderes e habilidades dos seis sábios, sendo eles: a sabedoria de Salomão, a força de Hércules, a resistência de Atlas, os poderes de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio.

A sabedoria de Salomão dá a Billy grande conhecimento e percepção. Já a força de Hércules permite umas das mais extensas forças físicas do universo DC. Com o Vigor de Atlas, o personagem não sente sono ou fome enquanto transformado.

Os poderes mágicos de Zeus permitem feitos inimagináveis, além de alterações na aparência e imunidade à magia. Com a coragem de Aquiles, o jovem adquire força interior e autoconfiança. As habilidades de Mercúrio concedem a ele a velocidade de um deus e o poder de voar, equiparando-se à eficiência de heróis como Flash e Superman.

A VISÃO FILOSÓFICA

Ronaldo Arnoni, mestre em filosofia, oferece uma visão distinta

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para alguns aspectos da personalidade do herói da DC, como a influência de Hércules. “Os 12 trabalhos de Hércules pode ter uma interpretação de que viver é enfrentar adversidades e contrariedades, descartando a visão do movimento Romântico que conjuntamente ao Judaísmo-Cristão idealizaram o Ser e a própria existência”, pontua.

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Quanto à importância de Zeus, Deus dos Deuses, Ronaldo é direto. “Zeus representa a catarse do poder, da força e do desmando. Na história humana tivemos muitos parecidos com

“MITO SIGNIFICA NARRATIVA, A VERDADE QUE SE CONTA. ESSA VERDADE É APENAS EXTENSÃO DO QUE ESTÁ EM CADA UM DE NÓS” Ronaldo Arnoni ele. Sempre queremos impor nossas verdades e crenças aos outros”, finaliza.

REFLEXOS REAIS

Desde a antiguidade, figuras mitológicas têm servido como possíveis aspirações e definições do ser humano em si. Shazam, no entanto, representa todos esses

elementos mitológicos em uma só persona. O filósofo ainda destaca a importância dessas referências. “Os Mitos revelam parte do nosso Inconsciente Coletivo, como postulou Jung. Mito significa narrativa, a verdade que se conta. Essa verdade é apenas extensão do que está em cada um de nós, por meio do nosso imaginário e de nossas representações,” conclui Ronaldo.

CAPITÃO MARVEL?

Bem antes do personagem ingressar no hall de heróis da DC Comics, o então conhecido Capitão Marvel debutou nos quadrinhos pelas mãos criativas da Fawcett Comics, em 1940. Idealizado pelo roteirista Bill Parker, teve sua estreia na revista Whiz Comics e, tardiamente, seria adquirido pela DC. Fato predominante na opção de mudar o nome do herói para Shazam.

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SOORAYA QADIR E O ISLAMISMO SEM O VÉU DA INTOLERÂNCIA A Marvel Comics trouxe em suas narrativas a personagem Pó, uma muçulmana afegã que desmistifica constantemente tabus sobre a religião BIANCA BISPO

N

a Marvel Comics, Sooraya Qadir é uma jovem mutante dos X-Men que carrega Alá consigo em todos os momentos. A personagem fictícia nasceu no Afeganistão e foi resgatada por Wolverine, que estava em uma missão no país, após se rebelar contra traficantes de escravos que tentaram tirar o niqab utilizado por ela. Wolverine levou a adolescente para a base do grupo Corporação X, localizada em Mumbai, na Índia.

Logo no primeiro contato com o grupo, Sooraya mostrou sua mutação genética e se transformou em areia. Com medo, teve de ser convencida por Jean Grey a voltar a forma humana. A pri-

meira palavra dita ao grupo ali presente foi “turaab”, que significa “pó/ areia” em árabe.

Conhecida como Pó, a mutante se viu em inúmeros impasses com colegas de turma dos X-Men. Chegou a ser hostilizada pela colega de quarto devido às vestimentas que usa. Assim que chegou a Escola Xavier para Jovens Superdotados, foi designada para dividir o quarto com a mutante Noriko Ashida, uma jovem rebelde e liberal que diz que o uso da burca é uma afronta aos direitos das mulheres.

Sooraya pede, frequentemente, às pessoas que não a julguem por sua religião e costumes.

Ainda criança, ela foi separada de sua mãe após ser sequestrada por um grupo de tráfico de escravos, no qual permaneceu até sua adolescência. Para ela foi difícil conseguir se adaptar ao modo ocidental de viver, principalmente por conta dos costumes e tradições que são bem diferentes.

O OCIDENTE

Dados do FBI mostram os crimes de ódio com seguidores da religião aumentaram em mais de 26% em 2016, nos Estados Unidos. De acordo com Salustiano Álvarez Gómez, mestre em teologia e doutor em filosofia, isso se dá por conta da dimi-

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nuição das práticas religiosas na Europa e EUA. “Entendendo por ocidente tanto Europa como Estados Unidos, vive-se de fato uma retração em relação à religião, mesmo o cristianismo, que é a religião predominante durante séculos. Numa das últimas pesquisas realizadas na Espanha, a população religiosa se reduzia a 34%. Estes eram os que se declaravam crentes em Deus ou em alguma igreja de origem cristã. Isso já coloca alguma dificuldade na hora de reconhecer manifestações religiosas”, diz.

Ele também explica que o processo de migração dos muçulmanos se dá em grupos, que possuem suas próprias organizações culturais, o que acaba acarretando numa dificuldade de adaptação aos costumes de outras regiões. “A migração islâmica é grupal, os migrantes chegam juntos, se instalam juntos, levam suas tradições, suas relações hierárquicas, o que provoca falta de identificação e adaptação aos novos países. A integração é mais complicada e lenta. A migração e suas novas formas de vida chocam com as antigas formas de vida dos nativos”, pontua.

REPRESENTATIVIDADE FAMILIAR

No universo dos quadrinhos, o afeto entre os super-heróis e seus familiares é sempre abor-

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"CASO HAJA ATENTADOS CONTRA A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E MANIFESTAÇÃO RELIGIOSA OS TRIBUNAIS DIRIMEM ESSA QUESTÃO" Salustiano Álvarez Gómez dado. Esse afeto é expressado através da relação com os pais, tios, avós, ou outras pessoas importantes nas vidas dos personagens. Com Sooraya não foi diferente. Mesmo tendo sido separada de sua mãe muito nova, a jovem mutante não desistiu de encontrá-la.

Em uma narrativa da saga New X-Men: Hellions, Sooraya tem contato com um personagem misterioso, chamado Kingmaker. Durante a estadia na Califórnia com sua equipe, os mutantes recebem a orientação de ligar para um número, o que permitiu que o Kingmaker fosse acionado. Esse personagem é conhecido por conseguir dar aos clientes dele qualquer coisa que seja desejada.

Neste episódio, Sooraya pede a Kingmaker que ele ache sua mãe. O pedido é realizado e, em um campo de refugiados no Afeganistão, a jovem tem um reencontro marcante com sua mãe, pedindo até para que ela

se mude para os Estados Unidos. O laço familiar entre as duas é forte, mesmo após anos sem se ver.

INTOLERÂNCIA E VESTIMENTA

A intolerância com a religião é tanta que diversas manifestações de ódio são vistas ao redor do mundo. A personagem Pó se posiciona a favor do uso da burqa, mesmo em solo americano. Em diversas narrativas ela afirma que o uso da vestimenta possui grande representatividade a ela, e que ela segue usando-a por vontade própria, não por obrigação.

Mas este é o ponto de vista da personagem. De volta ao universo real, na França, uma mulher muçulmana foi obrigada a se retirar de uma praia em Cannes e a pagar uma multa por estar usando um burkini (traje de banho composto por véu e calça). Três policiais a renderam e a expulsaram da praia, alegando que a mulher violava uma lei que proibia o uso de roupas que cobrem o corpo todo em áreas de mergulho. A situação repercutiu em todas as partes do mundo e a proibição do uso do burkini gerou grandes controvérsias no país Salustiano elenca três justificativas traçadas pela Europa para a adoção da lei. “A primeira é

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NÃO CONFUNDA

considerar que a roupa feminina que tampa todo o corpo não é escolha livre da mulher, o qual atentaria contra a liberdade individual de vestir-se ao seu gosto. Considera-se uma imposição à mulher”, aponta. “Em segundo lugar pela questão de segurança para reconhecer os rostos de todas as pessoas sem legitimar o anonimato. Ainda podemos encontrar uma terceira que justifica a condenação a essa forma de vestir-se por impedir a integração entre adolescentes”, finaliza.

LIBERDADE RELIGIOSA

O mestre em teologia comenta que o problema da intolerância em torno da religião é uma

questão muito mais cultural do que jurídica. “As constituições europeias defendem a liberdade de religião e suas práticas e cultos. O islamismo, como tantas outras religiões, é permitido. Na Espanha chegou-se ao caso da Prefeitura de Madri construir mesquitas islâmicas em alguns bairros com predominância migrante e islâmica”, lembra. “Caso haja atentados contra a liberdade de expressão e manifestação religiosa os tribunais dirimem essa questão, especialmente no relativo aos direitos humanos”.

Mas se a lei funciona, qual seria o dilema sobre a aceitação da religião? “O problema surge na hora de práticas culturais que chocam

Nem todo muçulmano é terrorista. A onda de medo e pânico causada pelos grupos terroristas não tem relação nenhuma com as práticas religiosas muçulmanas. Com os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, que mataram quase 3 mil pessoas, o fundamentalismo sunita da Al Qaeda fez com que as pessoas confundissem a religião islã com o grupo extremista.

Essa estereotipação é equivocada, já que nem todos os seguidores da religião estão ligados ao terror. e batem com a tradição anterior.

Uma coisa é a lei, outra a aceitação cultural dela. O problema na Europa é mais de paciência e diálogo do que de reconhecimento jurídico”, conclui.

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DEMOLIDOR:

O CATOLICISMO COMO COMBUSTÍVEL DIÁRIO Para discutir a respeito do catolicismo e os princípios que movem um católico praticante, conheça mais sobre a vida religiosa do Demolidor, o Homem sem Medo GUSTAVO PAULO

A

té que ponto o catolicismo pode interferir nas decisões pessoais de um cristão? Quais são os limites e doutrinas de um devoto? Criado oficialmente por Stan Lee e Bill Erveretty em meados da década de 60, Matthew (Matt) Michael Murdock é um renomado advogado que perdeu sua visão acidentalmente ainda na adolescência, fato que amplificou seus sentidos restantes e o transformou num dos grandes protetores da Cozinha do Inferno, bairro nova iorquino que reside. Dentro desses dois âmbitos, jurídico e como combatente, o herói consegue unir seu grande objetivo de lutar por uma cidade mais segura e igualitária.

O personagem tem forte destaque por sua intensa relação com

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a fé, através do catolicismo, a ponto de influenciá-lo em algumas decisões importantes como pessoa e até mesmo em suas empreitadas como vigilante.

CATOLICISMO NO CERNE HUMANO

Gilson Hermsdorff, estudioso de religiões, aponta a fundamentação de vida que as doutrinas religiosas proporcionam às pessoas. “Todos os seguidores de determinada religião acreditam que a mesma fundamenta sim a sua existência. Para quem

“A MAIOR RESERVA MORAL QUE EXISTE NO OCIDENTE, AS PESSOAS APRENDERAM NA IGREJA” Gilson Hermsdorff

é convicto ao catolicismo, ele está de acordo, preenche as suas necessidades. Para os católicos, é uma base de fundamento para a existência de cada um deles”, ressalta.

Sobre a influência do catolicismo no mundo ocidental, Gilson destaca a religião como um dos fatores que impulsionaram a

construção da moral humana.

“Tudo o que é bom, é moralmente correto. Todos os valores que as religiões aderem, eles têm de ser aceitáveis moralmente. Isso não só no catolicismo. A maior reserva moral que existe no ocidente, as pessoas aprenderam na igreja”, explica.

A QUEDA E A REDENÇÃO

Voltando ao universo dos quadrinhos, é impossível listar todos os momentos marcantes das HQs do Demolidor, no entanto, alguns se destacam por uma narrativa voltada ao catolicismo como fator primordial.

Em “A Queda de Murdock”, arco escrito por Frank Miller, desenhado por David Mazzucchelli e considerado um dos maiores clássicos da Marvel, o herói se vê destruído por completo. Seu grande vilão, Wilson Fisk, o Rei do Crime, descobre sua identidade secreta e utiliza de seus poderes políticos para acabar com o direito de Matt de exercer sua profissão como advogado.

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Além disso, Fisk explode o apartamento do protagonista e cria articulações para zerar a conta bancária de Murdock. Isso tudo ocorre até a metade da história, onde se inicia uma verdadeira empreitada por vingança e reflexão pessoal por parte do herói. As indagações envolvem diretamente a presença do catolicismo na vida de um indivíduo, Miller ainda recita frases famosas da Bíblia para fortalecer sua mensagem. A figura de uma freira misteriosa também chega para recuperar a visão otimista do Demolidor.

A fé de Murdock é um ponto sempre presente em suas narrativas. No arco “A Morte de Jean DeWolff”, o Demolidor, ao lado do HomemAranha, vai atrás do assassino da policial Jean, e o jovem Peter Parker se descontrola.

Murdock, por sua vez, tenta conter o amigo, com conceitos básicos de direito e valores católicos.

de Nossa Senhora da Aparecida. Nos conhecemos na igreja e optamos por ter um relacionamento santo”, pontua.

O estudioso Gilson aborda as questões morais em torno da religião. “Os valores da religião jamais podem ser em desacordo com os valores das leis, valores morais. Existe uma correlação entre os valores do catolicismo e as decisões de cunho moral”, finaliza.

O CATOLICISMO COMO PRIORIDADE Thaís Juliana, de 22 anos, é uma praticante fiel da religião. Para ela, o catolicismo vai além de uma boa base familiar ou uma tradição. “Meu primeiro contato com a igreja foi ainda no berço através da minha família, principalmente a minha avó, que sempre era bem religiosa. Porém, teve um momento já na adolescência que eu percebi que estava ali por escolha própria e não mais por obrigação”, diz.

THAÍS JULIANA é uma grande devota por

Nossa Senhora

G U S TAV O PA U L O

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HOMEM-ARANHA

Quanto a sua imensa devoção por Nossa Senhora da Aparecida, padroeira do Brasil na visão católica, a jovem conta quais foram as decisões particulares que já tomou por conta de sua adoração. “Eu e meu marido escolhemos o dia 12 de outubro para o nosso casamento justamente por ser o dia em que é celebrado a primeira aparição

da Aparecida

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DOUTOR ESTRANHO E O PAPEL ESPIRITUAL DO SER HUMANO NO UNIVERSO Durante todo o crescimento do personagem ao longo dos anos, diversos conceitos espíritas foram abordados, concedendo-lhe um espaço distinto dentre o hall de heróis da Marvel FÁBIO OLIVEIRA

O

ano era 1963. O feiticeiro mais cultuado dos quadrinhos debutaria pelas mãos da dupla Stan Lee e Steve Ditko, criadores de outra inovação popular, o Homem-Aranha.

Com um visual incomum e um contexto estabelecido pelo então pouco conhecido Oriente Médio, o herói passara a representar a visão do ser humano sobre possibilidades além de nossa percepção mundana, aspirações inclinadas e até fundamentadas por vertentes importantes do espiritismo.

CETICISMO X DESCONHECIDO: UM ÁRDUO EMBATE

O antigo Stephen Strange era um típico homem da ciência.

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Neurocirurgião e extremamente materialista, zombava de qualquer lapso pendente à subjetividade. Como uma mente tão fechada poderia sofrer tamanha mudança radical? Para o médico, foi necessário um trauma pesado em sua vida, a quebra da limitação desse muro mental sustentado por noções científicas. Desesperado pelas sequelas provocadas após o acidente automobilístico, Strange evidenciou a falta de opções nos conhecimentos reais para curar a tremedeira nas mãos, nem sua fortuna mostrava-se eficaz.

Foi no Oriente, região pouco considerada na época de sua criação, que o herói passaria a ingressar uma nova concepção sobre o universo. O indivíduo

conhecido como “Ancião” seria o responsável por conduzir Strange a essa etapa decisiva de sua vida, introduzindo o misticismo como ponte para uma condição humana em sincronia com uma nova filosofia de existência.

A transição contou com alguma resistência por parte do herói.

Mas com a mente aberta, Stephen passaria a cooperar com o treinamento do mais velho; teria início o processo de construção do Doutor Estranho.

A CRENÇA EM SERVIÇO DA ELEVAÇÃO PESSOAL

Fisicamente, o herói chegou quebrado ao Tibet. Foi necessária uma situação de extrema penitência para que Stephen

A L E X R O S S - M A RV E L C O M I C S

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utilizasse de sua força de vontade como combustível para uma superação geral, dessa vez, através de meios espíritas. Tal busca é identificável em pessoas comuns.

Bruna Oliveira, médium e adepta ao espiritismo, relaciona a influência dessa devoção à doutrina na vida do indivíduo. “O espiri-

Bruna Oliveira O exercício é de puro desprendimento do material, relações e interesses superficiais perdem espaço conforme a aura individual toma as atenções pessoais. O ego é um dos maiores inimigos do ser humano, arrogância e prepotências são fatores limitadores quando o assunto é conhecimento interior.

Aqui, demonstra-se a importância particular de todos na constelação de momentos que formam o cosmo. Bruna ainda concede sua interpretação so-

bre. “É a energia criadora que nos conecta. A partir do momento em que se entende que tudo é energia e que a energia criadora está em todas as partes, se entende que todos somos um, com o universo e com o criador”, completa.

De milionário mesquinho a protetor dessa realidade, Stephen

Strange assimilou suas novas responsabilidades e compreendeu a profundidade de sua existência. Agora, é dever do Doutor Estranho preservar todas as formas de vida.

A DIMENSÃO ASTRAL

A lista de dimensões e universos paralelos retratados nas

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tismo pode atribuir sentido à vida, pois concede a sensação difundida pelo ego que será curada aos poucos, bem como o respeito pelo próximo e outros seres da natureza. Também nos fortalece, aumentando a sensação de que tudo faz parte de algo muito maior, nos reconectando mais com o divino que habita dentro de cada ser existente”, explica.

“A MORTE REPRESENTA O FINAL DE UM CICLO, PARA RENASCERMOS EM UM NOVO”

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HQs do personagem é vasta, simbolizando uma diversidade considerável na noção de realidades plurais. Entre elas, a Dimensão Astral destaca-se por seu conceito próximo ao que muitos defendem no universo real. “Partindo da ideia de que somos seres espirituais vivendo uma experiência terrena, pressupõe-se que somos eter-

nos viajantes, seres espirituais com diversas vidas em nossos corpos físicos. A projeção astral é possível e fundamental nesse processo”, ressalta Bruna. É corriqueiro o uso da projeção astral para auxiliar Strange em momentos de extremo perigo, o herói também transcende sua parte física para visualizar au-

ras alheias. Meditação, posição de nirvana e negação do material são elementos retratados como essenciais nesse processo de liberação espiritual. A consciência humana é a fonte de novas possibilidades de reprodução existencial, da mesma maneira que a experiência através do corpo é intangível.

A MORTE E A FUNÇÃO DO SER HUMANO

No espiritismo, a morte não significa necessariamente o O VISHANTI

É comum nos quadrinhos do Doutor Estranho presenciar o apelo do herói para a entidade cósmica do Vishanti. Mas o que de fato ela representa? Oshtur, Agamotto e Hoggoth são seres divinos que juntos compõem a maior linha de defesa da Terra contra ameaças místicas. Formam a trindade mágica mais poderosa do Universo Marvel, cada um com suas peculiaridades espirituais e o objetivo fixo no bem maior.

encerramento definitivo de uma vida, pelo contrário, a alma desencarnada deverá passar por uma viagem reveladora, conduzida com base nos frutos produzidos no plano inferior. A caminhada na Terra influencia diretamente no destino pós vida do indivíduo.

Bruna demonstra com clareza a visão espírita sobre a morte. “Essa vida é apenas uma passagem de muitas outras que tivemos e que teremos. A morte representa o final de um ciclo, para renascermos em um novo”, conclui.

“O cosmo é tudo! Afetar qualquer parte dele é afetar sua totalidade. A vida é o dom mais precioso que o cosmo pode conceder...”, essa ponderação do personagem retirada de um de seus quadrinhos clássicos define com fidelidade a visão de Strange sobre cada forma de existência. O cosmo é o conjunto, subjetivo por essência, tão complexo quanto cada ser componente de sua completude. O falecimento do Ancião, mestre do futuro Mago Supremo, foi o ápice da complexidade particular que o homem pode atingir. O sábio tornou-se uno com o universo, em sua forma mais poderosa, conseguia retratar-se em formatos materiais e imateriais. Onipresente. Onisciente.

Onipotente. A trinca definitiva do potencial humano.

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O passado do jovem Max Eisenhardt Antes de ser Erik Lehnsherr, o nome de Magneto era Max Eisenhardt. O jovem judeu sofreu perseguições, mas sua fé guardava um futuro melhor BIANCA BISPO

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ilão, anti-herói, ameaça, líder e até mesmo grande companheiro. Os adjetivos para definir a representação do personagem Magneto no universo da Marvel Comics são muitos. Erik Lehnsherr foi criado pela dupla Stan Lee e Jack Kirby, e teve sua primeira aparição em Fabulosos X-Men #1, no ano de 1963. O personagem é considerado uma das maiores ameaças nas histórias em quadrinhos, mas também é admirado por sua persistência em defender e lutar por toda a causa mutante.

JUVENTUDE DE MAGNETO

No universo dos quadrinhos, Erik teve uma infância bem complicada. Ele nasceu em uma

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família de origem judia, com o nome de Max Eisenhardt. Quando criança, frequentou uma escola na Alemanha, onde conheceu Magda, uma menina cigana que viria a ser uma paixão adolescente do rapaz.

Com o advento do nazismo na Alemanha, a família de Max tentou fugir para a Polônia, em 1939. Quando chegaram no país, ficaram alocados em um celeiro, mas logo foram apreendidos e enviados para um bairro só de judeus em Varsóvia. Os nazistas atribuíram o nome de Gueto de Varsóvia a este local. Durante uma tentativa de fuga, Max foi forçado a ir para Auschwitz, para trabalhar em conjunto com os Sonderkommandos - homens judeus que eram obrigados a

operar nas câmaras de gás e campos de concentração.

De acordo com Thiago Cardim, editor do JUDAO, todo este contexto é necessário para o entendimento de sua importância. “A base do personagem, o histórico que lhe confere uma humanidade e uma tridimensionalidade que muitos de seus contemporâneos simplesmente não têm”, conta.

A ASCENSÃO DE ERIK LEHNSHERR

Nos campos de concentração, Max e Magda acabaram se reencontrando. Juntos, conseguiram escapar de Auschwitz e fugiram para a Ucrânia na revolta de 1944. Max já havia mostrado indícios da proporção de seus poderes, mas era difícil controlar com tudo o que estava acontecendo. Nos campos, haviam surtos de hepatite que atingiam os judeus, então por algum tempo Max ficou impossibilitado de mostrar suas habilidades.

Depois da fuga do casal, as coisas começaram a mudar. O jovem procurou Georg Odekirk, um fal-

“O fato de ele ser judeu só colabora para criar uma âncora com a nossa própria história” Thiago Cardim

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JUDAÍSMO

O judaísmo é a religião monoteísta mais antiga que se tem registro. O livro sagrado se chama Torá, onde estão escritos os preceitos da religião.

Judaísmo ortodoxo, conservador e reformistas são as três principais vertentes dentro da religião. Suas diferenças surgem em relação ao Halachá, termo que define as leis judaicas. A religião possui como princípio básico a figura de Deus como criador. sificador de documentos, para adotar uma identidade nova.

Desde então seu nome passou a ser Erik Magnus Lehnsherr.

A partir daí, a história de Erik

muda totalmente, depois de presenciar a morte da filha que teve com Magda, a Anya.

MAGNETO - TESTAMENTO

A história por trás do jovem Max foi retratada em Magneto Testamento, uma narrativa que mostra um outro ponto de vista, com um mutante que teve de crescer muito rápido, mas que nunca perdeu a fé ou renegou suas origens. Ao contrário, Magneto mostrou esperança por um futuro melhor, fazendo tudo o que estava ao seu alcance.

Thiago destaca a fundamentação da narrativa para a construção de Magneto. “Era a peça que faltava para dar ainda mais profundidade à sua história, para falar de maneira mais detalhada sobre seu passado, para construir mais sobre o aspecto do jovem judeu que viveu os horrores da guerra”, diz. Ele também faz uma conexão do personagem com o universo real. “O fato de ele ser judeu, como o próprio Lee e toda uma série de quadrinistas clássicos, só colabora para criar uma âncora com a nossa própria história”, finaliza.

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OS QUADRINHOS DO DOUTOR ESTRANHO SÃO CONHECIDOS POR SUAS AVENTURAS PSICODÉLICAS E FILOSÓFICAS, CERTO? POR ISSO, NOS ANOS 60, A BANDA PINK FLOYD HOMENAGEOU O PERSONAGEM AO REPRODUZIR UMA CENA DE SUAS HQS COMO CAPA DO ÁLBUM “A SAUCERFUL OF SECRETS”, ALÉM DE CITAR O HERÓI NA MÚSICA “CYMBALINE”.

SABIA QUE A ORIGEM DO DEMOLIDOR SERVIU DE INSPIRAÇÃO PARA A CRIAÇÃO DAS TARTARUGAS NINJAS? EM 1983, KEVIN EASTMAN E PETER LAIRD, ARTISTAS RESPONSÁVEIS PELA IDEALIZAÇÃO DO GRUPO, DECIDIRAM HOMENAGEAR FRANK MILLER E SUA ABORDAGEM COM O HOMEM SEM MEDO, ATRIBUINDO A MESMA ORIGEM RADIOATIVA DO ADVOGADO CEGO ÀS TARTARUGAS RENASCENTISTAS!

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NÃO É POR ACASO QUE WATCHMEN É CONSIDERADA POR MUITOS UMA DAS MAIORES OBRAS JÁ PRODUZIDAS QUANDO O ASSUNTO É QUADRINHOS! A GRAPHIC NOVEL FOI CONSIDERADA PELA REVISTA TIME COMO UMA DAS 100 MELHORES OBRAS DE LÍNGUA INGLESA DE TODOS OS TEMPOS. MERECIDO, HEIN?

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ADIVINHA QUAL FOI UM DOS ÚNICOS HERÓIS DA MARVEL A CONVERSAR DIRETAMENTE COM DEUS? APOSTO QUE ACERTOU. O NOSSO PETER PARKER, O HOMEM-ARANHA! MEIO DESOLADO COM A VIDA E OS PROBLEMAS, PETER RECEBEU A VISITA DE ONE-ABOVE-ALL, O TODO PODEROSO DA EDITORA!

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UM DOS CROSSOVERS MAIS FAMOSOS ENTRE MARVEL E DC FOI ENTRE O SUPERMAN E O HOMEM-ARANHA! EM 1976, A CHAMADA “BATALHA DO SÉCULO” COLOCOU OS DOIS MAIORES HERÓIS DA EDITORA PARA CONTRACENAREM NA MESMA REVISTA, NA SUPERMAN VS. THE AMAZING SPIDER-MAN!

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