Os Orixas

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consagrado a Òrì ànlá só interessa atualmente a pouca gente. Exatamente um pequeno núcleo de seis sacerdotes, os Ìwèfà m fà (Aáj , Aáwa, Olúwin, Gb gb , Aláta e Ajíbódù) ligados ao culto de Òrì à Olúf n e uns vinte olóyè, os dignitários portadores de títulos, que fazem parte da corte do rei local, bà Olúf n. A cerimônia de saudação ao rei de dezesseis em dezesseis dias pelos Ìw fà e pelos Olóyè é impressionante pela calma, simplicidade e dignidade. O rei, Olúf n, espera sentado a porta do palácio reservada só para ele e que dá para o pátio. Ele estava vestido com um pano e um gorro brancos. Os Olóyè avançam, vestidos de tecido branco amarrado no ombro esquerdo, e seguram um grande cajado. Aproximam-se do rei, param diante dele, colocam o cajado no chão, tiram o gorro, ficam descalços, desatam o tecido e amarram-no à cintura. Com o torso nu em sinal de respeito, ajoelha-se e prostra-se vária vez, ritmando, com uma voz respeitosa, um pouco grave e abafada, uma série de votos de longa vida, de calma, felicidade, fecundidade para suas mulheres, de prosperidade e proteção contra os elementos adversos e contra as pessoas ruins. Tudo isso é expresso em uma linguagem enfeitada de provérbios e de fórmulas tradicionais. Em seguida, os Olóyè e os Ìwèfà vão sentar-se de cada lado do rei, trocando saudações, cumprimentos e comentários sobre acontecimentos recentes que interessam à comunidade. A seguir, o rei manda servir-lhes alimentos, dos quais uma parte foi colocada diante do altar de Ò àlúf n, para uma refeição comunitária com o deus. Oxaguiã (Òrì à Ògiyán) Òrì à Ògiyán é um orixá funfun jovem e guerreiro, cujo templo principal encontra-se no Ejigbô. Foi a esse local que este orixá chegou, depois de uma viagem que o fez passar por vários lugares; num deles, Ikiré deixou um de seus companheiros que se tornou o opulento Òrì à-Ìkìrè. Chegando ao ponto final de sua viagem, tomou o título de Eléèjìgbó, rei de Ejigbô. Porém, uma característica desse orixá era o gosto descontrolado que tinha pelo inhame pilado, chamado iyán, que lhe valeu o apelido de “ Orixá-Comedor-de-Inhame-Pilado” , o que se exprime em ioruba pela frase Òì à-j -iyán e pela contração Òrì àjiyán ou Òrì àgiyán. Comia inhame dia e noite; de fato, o inhame era-lhe necessário a todas as horas. Dizem que ele foi o inventor do pilão para facilitar a preparação de seu prato predileto. Também, quando um elégùn desse orixá é possuído por ele, traz sempre na mão, ostensivamente, um pilão com alusão a sua preferência alimentar. Esse detalhe é conhecido no Brasil pelas pessoas consagradas a Oxaguiã que, quando estão em transe durante suas danças, agitam com a mão, infalivelmente, o pilão simbólico. Além disso, a festa que lhe oferecem todos os anos chama-se “ o Pilão de Oxaguiã” . Por ocasião das cerimônias anuais em Ejigbô, a tradição exige que os habitantes de dois bairros da cidade, Oxolô e Oke Mapô, lutem uns contra os outros a golpes de varas durante várias horas. Uma história de Ifá explica a origem desse costume com a seguinte lenda: “ Um certo Awoléjé, babalaô companheiro e amigo de Eléèjìgbò, havia-lhe indicado o que deveria fazer para transformar a aldeia de Ejigbô, recentemente fundada, em uma cidade florescente. Em seguida, dirigiu-se para outro lugar. Em alguns anos, a aglomeração tornou-se uma grande cidade, cercada de muralhas e fossos, com portas fortificadas, guardas, um palácio para Eléèjìgbò, numerosas casas, um grande mercado para onde vinham de muito longe, compradores e vendedores de mercadorias diversas e escravos. Eléèjìgbò vivia em grande estilo e era costume, quando se falava de sua pessoa, disigná-lo pelo termo bajulador Kábiyèsi (‘Sua Majestade Real’ ). Ao cabo de vários anos, Awoléjé voltou e, embora babalaô, nada sabia da grandeza de seu amigo, o ‘Comedor-de-InhamePilado’ . Chegando ao posto da guarda, na porta da cidade, pediu familiarmente notícias do Ojiyán. Os guardas surpresos e indignados com a insolência do viajante para com o soberano do lugar agarraram Awoléjé, bateram-lhe” . cruelmente e o prenderam. O babalaô ferido vingou-se utilizando seus poderes. Ejigbô conheceu então anos difíceis: não chovia mais, as mulheres ficaram estéreis, os


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