Feeling This

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melissa moura



feeling THIS



PREFÁCIO O rock desperta sentimentos. Você não apenas ouve, sente. É uma relação com a música que extrapola o mero ato de ouvir algo que considera agradável. Traz lembranças, transforma-se em atitude, em modos de se expressar. Representar o rock de certa forma é uma tentativa sempre falha. Tem coisa que fica nas entrelinhas, a fotografia não pega. Tem coisa que em palavras não é possível descrever. A entrevista é uma forma de se infiltrar no mundo do entrevistado, de invadir sua vida com uma câmera fotográfica em busca do bom jornalismo, de fazer algo diferente no espaço acadêmico. Apesar do desafio de representar

pessoas diferentes de Ponta Grossa, uma cidade do interior, e da dificuldade de mostrar em cada uma delas suas particularidades, a experiência é sempre válida. Este livro conta a história de quatro pessoas. Duas delas destacamse por seu exotismo na relação com o rock. Para outras duas, a relação afetiva forte com a música é marcada pela cúmplice experiência familiar. A música os une. Em comum, todas têm relação com o projeto cultural que apresenta bandas locais de rock na cidade. Não basta escutar, é preciso sentir. MELISSA MOURA


ISABEL CRISTINA, 50 E

ra preciso 30 minutos de ônibus desde o Terminal Central para chegar à antiga casa da Bel em Oficinas - essa é a forma como Isabel Cristina gosta de ser chamada. Ao me aproximar, de longe, era possível ouvir uma música, mas não dava para identificar o que tocava. Sua casa parecia um santuário do rock, com referências de bandas e da história de seu filho por todas as paredes. Bel começou a ouvir rock ainda criança, por influência da família. Quando completou 18 anos, ela foi uma das 1.380 mil pessoas que foram à primeira edição do Rock in Rio. - Eu digo vô! Eu preciso ir. – insistia Bel. A line-up da primeira edição do Rock in Rio teve Queen, Rod Stewart, Iron Maiden, Ozzy Osbourne e AC/DC. – Cara, quando abre aquele portão, parece que tá abrindo o portão do inferno. Aquele povo correndo, porque todo mundo quer ficar na frente, é sensacional. Seu filho, Kawe Kallai, só foi ao Rock in Rio em 2013, mas foi a todos os shows internacionais entre 2011 e 2013. Paul McCartney, Eric Clapton, Ringo Starr, B. B. King, Foo Fighters, Red Hot Chilli Peppers, Festival Lollapalooza.

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A grana não permitia que os dois fossem juntos, mas Kawe sempre ligava para a mãe ouvir o show. Uma vez, Bel cantou Cocaine junto com Eric Clapton às 2 horas da madrugada, na sala de sua casa. Bel é dessas que gosta de barulho, festa e risada. Sempre teve por hábito ter algo tocando enquanto trabalha no ateliê, nos fundos de casa. É preciso barulho para poder criar. Até 2011, o que tocava no som eram as rádios comerciais da cidade, com músicas que estavam na moda. Bel não sabia mexer no som, ligava só para fazer uma “barulhera”. - Kawe disse “mãe, vamos fazer o favor de mudar essa rádio. Eu vou pôr uma rádio aqui, você vai deixar estacionado, você não tire” – lembra. Era a 107.7 FM, a rádio Cescage, que só toca músicas antigas. Se você tivesse conhecido Kawe com seus 17

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anos, diria que ele tinha uns 60 anos, pois só ouvia a velha guarda. Kawe gostava de Beatles, Pink Floyd e Eric Clapton, tudo o que a mãe ouvia. Seu samba era Martinho da Vila, seu MPB era Elis Regina. - Ele era todo velho, todo careta, tinha o gosto musical parecido com o meu e acabou passando a mão em todos os meus CDs. Kawe deixou três promessas sem cumprir com sua mãe: ir ao show do Rolling Stones com ela, customizar a parede da garagem de casa e tirar uma foto na Abbey Road. Em 2006, Kawe tinha 12 anos quando os Rolling Stones vieram ao Brasil para um show gratuito na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Bel não achou transporte, nem hotel, mas prometeu que quando a banda viesse novamente ao Brasil, eles iriam juntos.


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Fazia quase dois anos que o filho tinha perdido o controle de Layla – seu New Beetle – quando os Rolling Stones voltaram ao Brasil. Hot Rocks, dos Stones, era o álbum que ele estava ouvindo quando tudo aconteceu. Bel cumpriu todas as promessas. Primeiro colocou diversos murais com fotos de seus ídolos, com fotos do Kawe e a camiseta de sua antiga banda – Smoke Sigarettes. Em uma reunião com os amigos do Kawe, inaugurou o desenho dele na Abbey Road na parede dos fundos da casa. Por último, Bel e seu marido foram ao show de Rolling Stones, no começo de 2016, com uma camiseta que criou com um desenho do seu

filho na frente, e atrás o selo da banda - o desenho da boca do Mick Jagger. - Eu disse “bom, filho, faltou eu ir a um show com você, mas eu vou e vou te levar junto comigo. Vou cantar e vou berrar junto com você. De onde estiver, você estará me vendo” – contou. Quando Bel sente saudades, coloca algo para tocar. While My Guitar Gently Weeps, dos Beatles, e Layla, do Eric Clapton, são as músicas que mais a fazem lembrar dele. A primeira foi o som que tocou antes de Kawe ser enterrado, a segunda, o nome do carro dele. A rádio estava ligada o tempo todo.

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ANDRÉ BASSANI, 20 T

udo começou quando André Bassani tinha 6 anos e queria aprender a andar de skate. Seu babá, Maicon Chem Banik, o levava pelo bairro Santa Luzia para se encontrar com seus amigos de infância, que eram os responsáveis pela playlist. O som variava de Charlie Brown Jr a Racionais. A lembrança mais forte foi de quando ouviu, entre as músicas, o trecho “Algumas vezes eu pensei em coisas passadas”. - Eu fiquei loucão, não parava de ouvir. Era a música 60 segundos, inclusa no álbum A Alguns Quilômetros de Lugar Nenhum do CPM22, que o babá Maicon tinha levado. Demorou quatro anos para que a banda aterrissasse em Ponta Grossa para a München Fest com a turnê da MTV ao vivo, em 2006. Era a oportunidade que faltava para André finalmente conhecer a banda. Não havia nenhuma pretensão além de ver o show, mas inesperadamente um conhecido de sua mãe providenciou pulseiras para entrar no camarim. André colocou no braço e foi. Demorou um pouco para a banda chegar, mas a primeira pessoa que André queria encontrar, ele sabia: o ex-guitarrista Wally.

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- Eles entraram por uns lugares secretos do Centro de Eventos e, na hora que eles passaram em fileira eu gritei “Wally”, ele deu ré e autografou meu crachá. André lembra que Badauí, o cantor, perguntou se ele tinha passado de ano na escola. Ele estava passando para a quinta série e o baterista, Japinha, riu dizendo que não tinha feito mais do que a obrigação. A piada se transformou em um parabéns, um refrigerante e uma camiseta da banda, que André usa até hoje para dormir. Após o show, a descoberta da música Anteontem o deixou intrigado – ele queria saber quem era o outro vocalista que cantava a música. - Eu pedi pra minha mãe pesquisar quem era e ela descobriu que era um

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cara chamado Rodrigo Alves Lima que canta no Deadfish, aí eu desandei. Fui parar em comunidades do Orkut e conheci bandas como Noção de Nada, Plastic Fire, Reffer. A proximidade com a música veio da família. Sua mãe, Saray Bassani, trabalhou por dez anos em uma loja de instrumentos musicais, o que permitiu o contato de André com vários estilos de som diferentes. Sua avó, Maria Conceição Bassani, participava do coral da Apadevi, Associação de Pais e Amigos do Deficiente Visual. Para aprender a tocar um instrumento, chegou a trocar o celular pelo violão velho do vizinho. - Até então, minha mãe achava que eu seria mais um sem dotes musicais na família – ri.


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André só tocava alguns solos do Nirvana e Deep Purple, nenhuma música inteira. Sua avó tinha o ouvido apurado, aprendeu a tocar de ouvido violão, acordeão e flauta doce. Foi por causa dela que aprendeu a tocar sua primeira música. Um dia, Maria Bassani levou a cifra de House of the Rising Sun do The Animals para ele. - Fui tentando pegar a cifra até que eu consegui. Eu tocava, ela cantava. Desde então, nunca mais parei. O tempo passou e, entre 2011 e 2012, aprendeu a tocar guitarra, conheceu novas bandas. CPM22 já não era mais o seu fascínio. As bandas internacionais que agora conhece são o que o inspiram a criar uma banda na cidade, que está em processo

de construção – ainda sem nome. - O legal é que as bandas de hardcore e emocore internacional são sempre muito unidas, como o Mat, do Citizen, divulgando o som dele em um clipe do State Champs ou fazendo shows com uma camiseta do Turnover, banda que sempre leva o Title Fight pra tocar junto. Os amigos de André que escutam o gênero musical, a galera do rolê hardcore, quer unir as bandas e músicos em Ponta Grossa. Ensaiar junto, conviver junto, tocar junto. - Em Curitiba, o guitarrista toca em outra banda na parceria, as cenas meio que se completam. Em PG isso nem existe, tem poucas bandas unidas. É por coisas assim que a cena daqui não anda.

Trocar bandas e músicas entre os amigos é a exigência do rolê. Se duvidar, André tem mais playlists que matérias no caderno. Seu maior orgulho é a playlist “Um som de cada banda”, que tem até agora 262 músicas. - Playlist é sempre uma construção eterna de memórias, né?! Essa é, para caso eu enjoe, ser só de uma música e não da banda. Toda vez que conhece uma banda nova, ele adiciona a que considera a melhor música na playlist. - É tão bom conhecer um som novo e se apaixonar, sério, parece que a tua vida ganha um sentido a cada banda que conhece. Música é o sentido da vida.

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JÉSSIKA ZIARESKI, 20 S

eu quarto é uma mistura de preto e vermelho. Entre as roupas que veste e os acessórios espalhados pelo quarto, encontram-se coturnos enfileirados pelo chão e morcegos pintados pela parede. A cortina, a roupa de cama e as rosas: vermelhas. Às vezes, Jéssika usa uma camisa branca, desde que tenha o estilo gótico, mas o preto predomina no guarda-roupa. Suas roupas, boa parte ela mesma customizou. Desde os 15 anos de idade já se incomodava com as roupas que ganhava, não se enxergava nelas. Cortava a saia comprida que ganhava da tia, colocava rebites que tirava do cinto. - Não sei por que as pessoas adoram pensar que o pessoal que anda de preto é do mal, que não presta. Algumas vezes ela já sofreu preconceito por usar o estilo gótico. Para além dos costumeiros olhares estranhos na rua, ela se recorda das duas vezes que mais ficaram marcadas em sua memória - foram duas abordagens que partiram de pessoas religiosas. - Já faz seis ou sete anos que uso o visual porque gosto. Se você não se vestir assim as pessoas te tratam normalmente.

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Em meados de 2008, Jéssika começou a usar o visual mais pesado voltado ao metal “extremo”. Ela já se considerava ateia quando um testemunha de Jeová bateu em sua casa e disse que queria rezar para ela. - Eu falei “você pode rezar para mim, eu não vou te impedir de nada”. Eu estava com a mão no portão e ele segurou com todas as forças, começou a rezar. Estava começando a machucar quando apareceram umas velhas com camisetas de santas para rezar junto. Uma hora largaram e saíram. Eu saí e dei risada. O dia da entrevista ficou marcado, foi quando aconteceu o outro caso. Era 27 de setembro de 2016 quando um estranho grudou

a mão em seu rosto, falou “Jesus te ama” e saiu. Ela riu. Não liga, gosta mesmo é das histórias que as religiões contam. Usa crucifixos na orelha e no pescoço porque gosta do simbolismo, respeita o significado de sacrifício por amor. - O cara fala esse tipo de coisa como se eu fosse uma criatura do demônio. Às vezes, a letra das músicas que ouço é muito mais bonita do que uma música de Deus. Quando estava na 5ª série, as pessoas perguntavam se ela era gótica e ela dizia que não. Não sabia o que era. De tanto perguntarem ela pesquisou e descobriu que o gótico não tinha a ver com o metal, mas se interessou pelo que hoje gosta.

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O que lhe interessa mesmo é o conteúdo, saber o que tem por trás das coisas, do visual, do simbolismo, da música. Os detalhes. A expressão melancólica, mais triste e expressiva que se traduz em literatura, arquitetura, cinema, dança, música e roupa. O ar sombrio. - Amo admirar a arquitetura cemiterial e, na maioria das vezes, costumo desenhar lá, minhas ideias fluem bem. O destino é o Cemitério Municipal São José. O local traz paz e sossego. Em 2012 sua professora substituta de espanhol não sabia o que dar na aula e pediu para que ela desenhasse seu lugar favorito - ela

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rabiscou o cemitério. Dois dias após a entrevista que fiz ela rasgou o papel, mas disse que faria um melhor. Na família Ziareski, esse tipo de coisa não tem problema, todo mundo é muito parecido nos gostos. Foi enquanto brincava de carrinho e boneca ao mesmo tempo, com 5 ou 6 anos, que lembra de ouvir a banda Shaman pela primeira vez com seu irmão Pitter. Os dois e mais um amigo dele, que tinha estilo meio gótico, cantaram, juntos e em inglês, Ritual. Tudo errado, mas foi o suficiente. - O amigo do meu irmão disse “olha o bom exemplo, desde sempre” – lembra sorrindo. E foi assim que tudo começou.


JOHN OZZY, 30 N

ews of the World, do Queen, foi o primeiro álbum de rock que John Ozzy ouviu. Ganhou vinte anos atrás, quando seu pai, que mesmo não gostando de rock, percebeu o quanto ele gostava de um som mais pesado. John o guarda até hoje. - Ele falou “vamos ver se você gosta disso aqui” e me deu o CD. No início, eu achei meio estranho. É um som bem melódico, não é heavy metal, mas eu comecei a gostar – lembra. Quando conheceu novas pessoas que também curtiam rock, John Ozzy começou a gostar de outros tipos de música. O tempo trouxe AC/DC, Sepultura, Iron Maiden, Black Sabbath, Immortal e Mental Horror, suas bandas favoritas. Da sua maior influência, Ozzy Osbourne, duas músicas estão entre as preferidas. Bark at the Moon, do álbum de mesmo nome da carreira solo de Ozzy Osbourne, e Children of the Grave, do álbum Master of Reality, do Black Sabbath. Com 15 anos, começou a se vestir como roqueiro. John normalmente se veste assim na noite ponta-grossense. De dia, John Ozzy não é o Príncipe das Trevas local. - No dia a dia, sou como qualquer pessoa. Não vou dizer que sou “normal” porque todos nós somos normais. Anormal é o que acontece no nosso país.

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John Ozzy não se lembra quando começaram a chamá-lo assim ou quando começou a se vestir intencionalmente como seu ídolo. Deixou o cabelo crescer, há cerca de dez anos, e foi isso. A identificação com o co-fundador do Black Sabbath, Ozzy Osbourne, surgiu naturalmente com seu estilo. - Quem conhece pouco o Ozzy fala “cruz credo”, mas não é, né? O cara é bastante família. A carreira dele decaiu por causa das drogas e da bebida, mas quando conheceu a esposa dele, Sharon, a vida dele mudou. Se não fosse ela, ele não seria o roqueiro que é hoje. Embora reconheça que haja pessoas mais parecidas com o Ozzy Osbourne, se vestir como o ídolo faz ele

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se sentir feliz. Ele gosta do personagem que o Ozzy é, se inspirou nele. John Ozzy tinha 6 anos quando o Black Sabbath veio pela primeira vez ao Brasil, em 1992. Dois anos depois, quando a banda retornou, ainda faltavam mais dois anos para que o seu pai lhe desse o CD do Queen que marcou o início da sua paixão pelo rock. Hoje, adulto, trabalha com o comércio varejista, profissão que dificulta as viagens para ver os shows dos caras que o inspiraram. Além dos primeiros shows do Black Sabbath no Brasil em 1992 e 1994, quando ele ainda não conhecia o rock, John também perdeu a volta da banda em 2013 e a despedida da banda com a turnê The End em 2016.


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O co-fundador do Black Sabbath veio ao Brasil outras vezes, em turnê solo, começando pelo Rock in Rio em 1985. Em 2008, passou apenas pelas duas maiores cidades do país. Três anos depois, Ozzy Osbourne bateu o record de apresentações por ano no Brasil, passou por cinco cidades. Depois de tantos shows, foi apenas em 2015 que Ozzy esteve mais perto de Ponta Grossa, em Curitiba, no Festival Monsters Tour. - Às vezes, tenho que abrir mão de coisas que gosto muito por causa de compromissos que eu assumi. Trabalho a semana toda e tenho folga de apenas um domingo por mês. Aí fica difícil ir até Curitiba, virar a noite e voltar correndo para trabalhar. Embora tenha perdido muitas apresentações, John Ozzy teve a oportunidade de ver eles ao vivo.

Em 2009, foi ao show do Heaven & Hell, banda criada com alguns dos exmembros do Black Sabbath. Ronnie James Dio, Tony Iommi, Geezer Butler e Vinny Appice formaram a reunião dos membros e tocaram alguns dos sucessos da antiga banda, além do álbum que lançaram um mês antes do show. A experiência foi totalmente diferente de ouvir os CDs. John Ozzy se misturava entre os metaleiros que foram ao show. Seu estilo e a relação com o Ozzy Osbourne fazem parte do que John acredita ser o rock - não basta só ouvir, é preciso vestir o rock. - Se você representa aquilo que você ouve e aquilo que você gosta, isso vale tudo. Isso é o rock. Não basta pôr um CD ou um disco pra rolar, você tem que viver a coisa.

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SEXTA ÀS SEIS, 28 G

arrafas de vinho barato e latas de cerveja se escondiam dentro de mochilas enquanto poucas pessoas se misturavam espalhadas pelo chão. Cenário clássico de uma sexta às seis em Ponta Grossa. Algumas pessoas apenas conversavam, outras jogavam cartas e a maioria mirava o olhar fixamente para o palco. Bate-volta costumeiro que não se resume apenas ao mosh. Não tem idade, nem requisitos. Tem espaço para o punk, o metaleiro, o gótico, o hard, o clássico, quem quiser. Espaço musical para o artista local. O cheiro de cigarro no ar não parece incomodar. O importante é a música. Entre as pausas dos shows que reuniam os ponta-grossenses desde 1989, na Concha Acústica, até os encontros a partir de 2014, na Estação Saudade, muita gente girou por ali. John Ozzy frequentou muito. Fazia questão de ir a todos os shows da Fire Hunter, sempre com seu cálice de spikes e seu cajado de caveira. A aranha de borracha que coloca dentro do cálice também é imprescindível.

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O primeiro Sexta de Bel tinha um propósito. Era a apresentação da banda que homenageava seu filho. Astrid, nome da fotógrafa alemã que namorou Stuart Sutcliffe, baixista dos Beatles em 1960, tinha cabelo curto e loiro, como a cor da guitarra Les Paul vintage V100 dourada de Kawe Kallai. Quando os membros da antiga Smoke Sigarettes estavam criando uma nova banda, o atual guitarrista, Alexandre Cosati, pediu para que Bel guardasse a Astrid até que ele juntasse dinheiro para comprar. Cosati ia vender a sua guitarra, fazia questão de ficar com a guitarra de

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Kawe. Quando soube, Bel o chamou para ir a sua casa. - Então quer dizer que você quer comprar a guitarra do Kawe? Sim. O presente foi recebido com lágrimas, com a única condição de que a guitarra nunca ficasse guardada em um canto. Foi com a Astrid que Cosati se apresentou no Sexta às Seis em 2015. Foi mágico. Para André, a história vem de mais cedo. Quando tinha 10 anos ele frequentava, com sua mãe, a Concha Acústica, pois ela trabalhava ali perto. Hoje em dia não vai mais, acredita que o projeto não valoriza subgêneros do rock não tão conhecidos.


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Das bandas que ele gosta na cidade, acredita que a banda Protect the Honor, que toca metal/hardcore, só foi selecionada por ter conseguido boa visualização na internet. No entanto, acredita que o Sexta evoluiu muito e mostra que tem coisa boa na cidade. O que ficou marcado na memória de Jéssika foi dançar Can Can com os amigos durante o show do Ursos Caipiras. Divertia-se com os cabeludos e barbudos que dançavam juntos. Eram tantas pessoas felizes que o projeto lhe dava energia. Totalmente diferente da outra banda, também curtia muito assistir a Fire Hunter

tocar Helloween, o bom e velho heavy metal. Ela só conseguiu ir ao Sexta em 2011, pois seus pais não permitiam antes. Nesses dias ela encontrava o pessoal do Regente Feijó, do curso de desenho e do curso de inglês. Todo mundo se dispersava, mas ela nunca se sentia sozinha, sempre encontrava um conhecido para dançar Can Can junto. André, Bel, Jéssika e John Ozzy nunca realmente se conheceram, mas o Sexta às Seis os unia. Em comum estava o rock que todos ouviam. Não basta sentir, é preciso escutar.

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Trabalho de Conclusão de Curso Bacharelado em Jornalismo Universidade Estadual de Ponta Grossa Reportagem, Produção Gráfica e Fotografia: Melissa Moura Revisão e Orientação: Angela de Aguiar Araújo Foto da autora: Cássio Murilo E-mail: melissarmoura@gmail.com Flickr: https://www.flickr.com/melissarmoura

Dimensões: 30x22 cm Equipamento: Nikon D3100 Lente 50 mm f/ 1.8 Lente 18-55 mm f/ 3.5-5.6 Adobe Lightroom e Adobe InDesign


A AUTORA

Formanda em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, conheceu o rock desde cedo por influĂŞncia do pai. JĂĄ tentou tocar bateria, mas acabou virando fotojornalista.


Em 2003, a MTV noticiou em seu site o lançamento de um novo álbum da banda norte-americana Blink 182, que já possuía uma música com o nome Action. Os versos do single, que teve o nome corrigido para Feeling This, falavam de um relacionamento que falhou, mas não de uma forma juvenil – a música era sobre desejo, ambivalência e arrependimento. Ambivalente também é o nome deste livro, não no sentido de oposição, mas de ter dois significados. Assim como é inspirado na música do Blink 182, que foi parte do que iniciou o gosto por rock de Melissa Moura, ele representa também o desejo por retratar o sentimento dentro da música. Esse sentimento originou o livro de fotorreportagem sobre quatro pessoas que moram em Ponta Grossa e gostam de diferentes tipos de rock.


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