Todas as coisas têm uma história: o comércio justo no 1º ciclo do ensino básico

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Todas as coisas têm uma história O COMÉRCIO JUSTO NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO


Índice I - O COMÉRCIO JUSTO É... II - A TEMÁTICA DO COMÉRCIO JUSTO NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO A - EXPERIÊNCIAS DE APRENDIZAGENS COM ALUNOS DO 1º E 3º ANOS DA ESCOLA BÁSICA DO ALTO DE RODES B - POSSÍVEIS ABORDAGENS EDUCATIVAS DO TEMA A PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS REALIZADAS

Ficha Técnica Título: Todas as coisas têm uma história Autoria: CIDAC e Ana Castanheira, Ana Isabel Ferreira, Isabel Campos, Luísa Teotónio Pereira, Madalena Cavaco Manuela Fernandes Edição: FEC - Fundação Fé e Cooperação Design: Câmara Municipal de Faro Impressão: ISBN: Depósito Legal: Faro, agosto de 2011


O COMÉRCIO JUSTO NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO



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O Comércio Justo é uma forma diferente de pensar e de praticar o comércio. A atividade comercial nas nossas sociedades foi construída na base da concorrência. Cada vez mais a ideia genericamente aceite é que “quanto mais concorrência, melhor”. Apesar de, na realidade dos factos, as coisas não se passarem bem assim – as grandes empresas tendem a capturar, às vezes mesmo a aniquilar, as empresas mais pequenas ou mais frágeis e vão ficando cada vez maiores e com mais poder. Nalguns setores, a concentração empresarial é mesmo muito grande, com 2 ou 3 empresas a dominarem praticamente todo o mercado. Esta teoria está alicerçada numa outra: “quem tem unhas toca guitarra”, quer dizer, é natural vencerem os mais fortes e ficarem a perder os mais fracos. Esta explicação permite enfrentar o que é uma óbvia contradição: como é que se conjuga a máxima “quanto mais concorrência, melhor” com a aceitação e o louvor da concentração empresarial? Funcionando assim, a atividade comercial deixa de lado, em todo o mundo, muitos pequenos produtores e produtoras, cuja vida se torna cada vez mais difícil ou mesmo impossível. O Comércio Justo nasceu desta constatação e da vontade de procurar alternativas. Já lá vai meio século e muitas coisas têm acontecido. Hoje o Comércio Justo é um movimento internacional, embora seja mais forte nuns países do que noutros e também com várias expressões.

Para nós e outras organizações com as quais trabalhamos, o Comércio Justo é baseado na cooperação, em alianças que se estabelecem entre os vários atores da cadeia comercial: os produtores e produtoras, os que transformam os produtos (de preferência, na região onde são produzidos), os que transportam os produtos (de preferência, para não muito longe), os importadores (no caso do comércio internacional), os lojistas e os consumidores/as. No entanto, há uma questão fundamental: para poderem cooperar, estes atores têm de partilhar algo mais do que a vida dedicada estritamente ao comércio. Têm de partilhar ideias, por exemplo, acreditar que faz sentido construir uma cadeia comercial na base da cooperação e não da concorrência. Por isso, nem todos podem integrar esta cadeia solidária, sob pena de se contradizerem e de se descredibilizar o movimento. Não é fácil acreditar e praticar algo que contraria o que a maior parte das pessoas e instituições pensam. O caminho do Comércio Justo tem sido lento, embora com momentos de aceleração aqui e ali, como é natural. E dele faz parte uma atividade tão importante quanto a compra e venda de produtos ou serviços: a sensibilização ou educação. Esta implica alterar a nossa maneira de ver as coisas e fomentar o nosso desejo de procurar outras formas de as fazer - formas mais solidárias, mais equitativas. Implica animar-nos a experimentá-las na prática e depois a enfrentar as incertezas e desafios que isso provoca.


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A pouco e pouco, foram-se identificando critérios para construir as cadeias de Comércio Justo. Entre outros: não ao trabalho infantil; iguais oportunidades para homens e mulheres; condições de pagamento e contratos dignos em todos os elos da cadeia (produtores e produtoras, trabalhadores das lojas); transparência em toda a cadeia (visibilidade da parte do rendimento que fica para cada elemento da cadeia no final de um processo de produção, transformação e venda final); condições de trabalho dignas e respeito pelos direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras; apoio técnico à produção quando é necessário.

Por isso, no quadro do Comércio Justo, a questão da Soberania Alimentar é um ponto fulcral. Isto quer dizer que todos os povos devem ter a capacidade de decidir o que querem produzir, em que condições e como comercializar o que produzem. Reconhecer este direito significa transformar as nossas sociedades, nas quais estão a desaparecer as pequenas explorações, dando lugar à agroindústria, à utilização intensiva dos solos e de produtos químicos, à precarização do trabalho. Consome-se cada vez mais o que vem de fora e de muito longe e deixa-se apodrecer ou despreza-se o que se produz à beira de casa.

Uma grande parte dos produtos transacionados no âmbito do Comércio Justo é alimentar. Uma outra parte é constituída por artesanato e outra ainda por um conjunto que inclui vestuário, utensílios para a casa, cosméticos e produtos de limpeza. Em relação aos serviços, os principais são o turismo e os serviços financeiros (a banca ética está neste grupo).

Há muito para fazer e muito para pensar. Um bom ponto de partida é compreender bem como funcionam atualmente os circuitos comerciais convencionais, para tornar mais claro o que é preciso mudar. E, é evidente, não ficar por aí: ir mudando, nas opções de compra individuais (que têm uma repercussão global, já que somos milhões de consumidores), mas também nas opções de compra de grupo (a família, os amigos) e institucionais (a escola, os governos a qualquer nível, todas as organizações); ir procurando e divulgando informação fundamentada, ir sensibilizando. Para provocar maiores mudanças, mais de fundo, com mais impacto.

O comércio de alimentos é de uma enorme responsabilidade, porque dele depende a humanidade. Longínquo ou de proximidade, é uma das bases da vida. Nem sempre nos lembramos de que uma série de alimentos básicos (entre os quais os cereais, o feijão, a soja, o açucar, o café, o cacau, a banana, a laranja...) são produtos cotados em bolsa (bolsa de mercadorias, neste caso). São assim sujeitos à especulação, por vezes a mais desenfreada, o que dá direito a subidas ou descidas de preços artificiais, prejudicando tanto agricultores, como consumidores. Neste contexto, há muitas perspetivas e práticas a mudar.

Foi assim que decidimos começar com os mais pequenos, numa escola de Faro... Vamos seguir esses passos e franquear as portas que deixaram abertas. Para saber mais: www.cidac.pt


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A temática do Comércio Justo no 1º ciclo do ensino básico Para iniciarmos a compreensão da temática do Comércio Justo, um primeiro passo essencial é o de compreendermos o funcionamento da cadeia do comércio convencional, de modo a verificarmos os seus efeitos e o que deveria ser mudado. Neste caso, tratando-se de crianças na faixa etária dos 6 aos 10 anos de idade, existe a necessidade de simplificar os conceitos e de conduzir a aprendizagem através do aspeto lúdico-pedagógico do jogo. Por isso optámos pela descoberta das fases de vida de dois produtos e dos seus principais intervenientes (os atores da cadeia comercial).

O CIDAC – Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral (uma Organização Não-Governamental portuguesa com 37 anos de vida e mais de 10 a trabalhar sobre o Comércio Justo) foi convidado a desenvolver oficinas sobre a temática do Comércio Justo para crianças de 2 turmas do 1ª ano e 2 turmas do 3º ano do Ensino Básico da Escola EB 1 do Alto de Rodes. Esta iniciativa inseriu-se no Projeto Enlaces II que a ONGD portuguesa FEC - Fundação Fé e Cooperação promoveu em parceria com vários municípios portugueses, entre os quais a Câmara Municipal de Faro, através da sua Divisão de Educação.

A dinâmica foi construída a partir de histórias reais do ciclo de vida de um alimento produzido localmente (uma laranja) e de um alimento produzido noutro continente (uma banana), contadas através da participação dos próprios alunos e alunas. A partir das duas histórias distintas, foi possível, no final, identificar as diferenças mais importantes entre o comércio de proximidade e o comércio longínquo, os seus principais intervenientes e os processos de comercialização. Esta abordagem só tem significado, no quadro do Comércio Justo, se constituir uma introdução ao tema, a desenvolver posteriormente com as mesmas crianças através de outras atividades e dinâmicas, dentro e fora da sala de aula. Por isso apresentamos, em primeiro lugar, as experiências realizadas na Escola EB 1 do Alto de Rodes e, a seguir, algumas ideias de como continuar a trabalhar sobre o Comércio Justo ao longo de todo o ano letivo, ou nos anos letivos seguintes.


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Experiências de aprendizagens com alunos do 1º e 3º anos da Escola Básica do Alto de Rodes A atividade desenvolvida pelo CIDAC para o projeto Enlaces II chamou-se:

“TODAS AS COISAS TÊM UMA HISTÓRIA”

Consistiu no seguinte: Objetivos: Introdução ao tema do Comércio Justo, através do conhecimento da cadeia do comércio convencional e da identificação de duas modalidades de comércio existentes: de proximidade e longínquo. Escolhas dos cidadãos e das cidadãs: importância e impacto dos diferentes modos de comércio na vida de todos os dias. Palavras–chave: Comércio Justo, Consumo Responsável, cadeia comercial, comércio de proximidade, comércio longínquo. Nº de Participantes: máximo, 25. Faixa Etária: 3º ano com possibilidades de aplicação a outros anos do ensino básico. Duração aproximada: 50 min. Materiais: uma peça de fruta de origem do comércio local; uma peça de fruta de origem do comércio longínquo; papel de flip-chart e marcadores; etiquetas dos personagens/intervenientes da história (Agricultores, Transportadores, Vendedores, Consumidores); recortes de imagens exemplificativas dos diferentes intervenientes em ação (agricultores, transportadores, vendedores e consumidores) para ambos os circuitos comerciais focados na atividade; mapa de Peters*. Instruções: Para realizar a atividade é importante começar por escolher um espaço amplo onde as e os participantes possam sentar-se em círculo, mas também mexerem-se, assim permitindo o desenvolvimento da ação dos diferentes intervenientes nas histórias que são contadas. *A Projeção de Gall-Peters é um tipo de projeção cartográfica dita cilíndrica e equivalente. Surgiu em 1973 e constitui uma visão mais exata do mundo atual.


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Passos: 1. Preparação: dispor os participantes em círculo. . 2. Relatos das histórias A história da laranja representou o comércio de proximidade, tendo sido para o efeito escolhida uma laranja de produção local do Algarve. A história da banana representou o comércio longínquo, tendo sido escolhida uma banana da Costa Rica. A - A primeira história: ERA UMA VEZ UMA LARANJA Guião: Todas as coisas têm uma história, com principio, meio e fim, com passado, presente e futuro. Todas as coisas, como por exemplo: uma peça de fruta . O/a educador/a conta a história começando pela semente do fruto, como nasce, cresce, quanto tempo leva a crescer e a dar fruto, quem cultiva, que tarefas são necessárias para o tratamento e bom crescimento da árvore e do fruto até estar bom para colher, as formas de produção em pequena escala e em larga escala e como em cada caso é processada em termos de manutenção da cultura (por exemplo, tendência para o uso de químicos nocivos à saúde e maior poluição da Natureza na cultura de larga escala...).

reconhecida visualmente. A história continua à medida que os intervenientes são descobertos AGRICULTORES, TRANSPORTADORES, VENDEDORES, CONSUMIDORES - e se vão exemplificando as suas funções a partir de situações que as e os participantes relatam sobre a sua experiência direta. Ao mesmo tempo vãose particularizando as diferenças entre o modo, a distância e as energias dispendidas pelos transportes necessários nesta modalidade de comércio, assim como os diferentes tipos de pontos de venda, a troca comercial feita em moeda/dinheiro, a retribuição do trabalho e o que significa vender, comprar e consumir.

A história vai aparecendo em função do diálogo com as crianças: o/a educador/a pode ir fazendo perguntas de modo a ir obtendo os elementos necessários à progressão da história. Quando se refere à origem geográfica dos alimentos, deve localizá-la (ou sugerir que os/as alunos/as o façam) no mapa, para que seja

Finaliza-se com a chamada de atenção para o fecho do ciclo de vida de uma peça de fruta, indicando os possíveis desfechos (reciclagem, compostagem, lixo), referindo como o mais completo aquele que permite a volta à terra, fazendo com que todo o ciclo se reinicie – e a história de uma nova árvore de fruto recomece.


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B - A segunda história: ERA UMA VEZ UMA BANANA A história é idêntica, com todos os detalhes específicos sobre a produção e intervenientes no processo de comercialização da banana, que vem da América Central (não esquecer de indicar no mapa de Peters a origem do fruto).

Uma vez todos os cartões distribuídos, organiza-se o circuito com as próprias crianças: no espaço fisico, as crianças deslocam-se, agrupando-se por atores e compondo a sequência da cadeia comercial. 3. Comparação das histórias e análise das suas diferenças No final, o/a educador/a, pede que sejam indicadas questões relacionadas com tópicos como: Ÿ Distinção entre produção local e produção internacional; Ÿ Observação dos transportes de longo curso e de proximidade (gastos de energias diferentes, impacto para o ambiente diferentes, preços diferentes); Ÿ Saber como vivem as pessoas que produzem os alimentos em questão; Ÿ Pensar sobre as escolhas que fazemos quando consumimos e que critérios lhes estão associados.

Variação da dinâmica 1 – usada com as alunas e os alunos do 1º ano À medida que o grupo vai descobrindo as fases, o/a educador/a vai desenhando a cadeia comercial descrita no papel cenário com o auxílio das imagens previamente selecionadas e, simultaneamente, vai formando os grupos ao distribuir as etiquetas dos personagens pelos participantes. A cadeia da primeira história é formada por metade da turma, a cadeia da segunda história é formada pelos restantes alunos/as.

O/A educador/a vai registando no quadro as respostas dadas individualmente ou por grupos.

Variação da dinâmica 2 - usada com as alunas e alunos do 3º ano Para contar a história apresentam-se previamente os respetivos personagens (Agricultores, Transportadores, Vendedores, Consumidores) e distribuem-se os cartões aleatoriamente, perguntando: - O que podem dizer sobre estes personagens? Conhecem alguém que tenha esta atividade?

Variações: O modo como a identificação das diferenças e das questões é feita pode variar, requerendo as respostas espontanea e individualmente (usado com os e as alunos/as do 1º ano) ou atribuir 5 minutos para que as respostas sejam pensadas nos grupos de personagens formados ao longo das histórias, seguidos de partilha com a turma (usado com os e as alunos/as do 3ª ano).

No final faz um resumo sobre as diferenças encontradas e a ponte com a realidade e a importância das escolhas e decisões de cada um/a.


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4. Conclusão Em fase final é feita a conclusão da atividade questionando as crianças sobre: a) Que aprendizagens foram feitas? b) O que ficou para descobrir sobre as histórias contadas?

área de aprendizagem, desde a matemática ao conhecimento e estudo do meio, para abordar temas mais específicos como:

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B - Possíveis abordagens educativas do tema a partir das experiências realizadas

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Ocupando as relações comerciais um lugar central na vida do nosso século, tomando consciência de como há vidas plenas de abundância e consumo e outras plenas de carência e dificuldades de acesso a bens essenciais, é pertinente pararmos para nos questionarmos. Mas afinal de onde vem este ou aquele objeto, como chegou até aqui, quem foi responsável pela sua produção, em que condições vivem as pessoas que trabalharam para que esse objeto chegasse às nossas mãos?

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O modo como os preços dos produtos são elaborados, como são feitas as retribuições das pessoas que trabalham nas diferentes fases da cadeia comercial; Em que condições trabalham os diferentes intervenientes do processo; As transformações da matéria-prima até ao produto final, desde a extração até ao tratamento de resíduos; A perceção das características do comércio convencional; A perceção das consequências do comércio convencional para a Natureza e para as pessoas; O questionamento sobre a realidade do processo; O conhecimento das alternativas, como o Consumo Responsável, o Comércio Justo, a Soberania Alimentar e a Economia Solidária.

Ao iniciar esta reflexão facilmente percebemos como tudo está interligado e interdependente, qualquer objeto dos nossos dias pode revelar histórias de elos desconhecidos, omitidos ou desvalorizados. Qualquer objeto pode servir como ponto de partida para um entendimento mais profundo do modo como vivemos, e dos valores que estamos a apoiar em cada compra / escolha informada ou desinformada, pensada ou impensada que fazemos.

A condução dos conhecimentos para um entendimento mais profundo sobre o Comércio Justo é assim gerida à medida, consoante a idade das crianças. As pontes entre os temas e a sua ligação à vida real e a um conceito de um modo de vida mais justo e solidário é uma estratégia que reforça a validade do estudo deste tema para percebermos melhor em que mundo vivemos.

O tema complexo do Comércio Justo, para a faixa etária em questão, pode partir de uma atividade de sensibilização inicial simples em que a cadeia comercial é apresentada de modo simplificado. Esta abordagem serve como base para desenvolver e dar continuidade ao estudo do tema. A introdução gradual de diferentes tópicos pode ser feita a partir de qualquer

A experiência de realização da atividade “TODAS AS COISAS TÊM UMA HISTÓRIA”, foi um desafio novo e interessante, principalmente por tratar-se de uma faixa etária tão jovem. Na opinião de alunos e alunas, professoras, animadora e responsáveis pelos organismos envolvidos, os objetivos de sensibilização iniciais foram alcançados.


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Questionando as professores participantes nesta atividade, obtivémos as suas perspetivas relativamente à importância do tema para crianças desta idade, ao impacto sentido nos alunos e alunas, e a um descortinar de possíveis caminhos educativos a seguir a partir das experiências realizadas.

1. Que importância pode ter o tema do Comércio Justo para crianças desta idade? “O tema torna-se pertinente e assume um papel importante no desenvolvimento global das crianças onde a sua relação com o mundo deve ser aberta e permitir uma reflexão sobre estas questões, tornando-as assim, crianças mais interventivas, mais informadas que colaborarão na construção de uma sociedade mais justa e solidária.” Professora Manuela Fernandes, 1ºA

“Embora a turma seja de muito tenra idade, 6 anos, e frequentem o 1º ano de escolaridade é sempre bom começar por tentar explicar-lhes alguns conceitos, mesmo que estes sejam de difícil explicação.” Professora Isabel Campos, 1ºB

“Desenvolver nas crianças a consciência de justiça, pelo que a temática do Comércio Justo pode ser uma estratégia de caráter ético para as escolas, pois incentiva à utilização de alimentos orgânicos, promove a redução da pobreza e o desenvolvimento sustentável.” Professora Madalena Cavaco, 3ºD

“Apesar das crianças, nesta idade, terem um conceito de justiça muito interiorizado este está, de certa forma, relacionado com as suas vivências/necessidades individuais. O conceito de comércio parece menos interiorizado e está intrinsecamente

ligado aos seus interesses. Nós, professores, apercebemo-nos que para uma criança, desta faixa etária, fica difícil desligarem-se da sua realidade para perspetivarem sobre Comércio Justo, um assunto que lhes é distante. Muitas vezes o conceito Justo aparece, nas crianças, ligado ao conceito de injustiça e fazê-los refletir sobre os conceitos em separado e desligados dos seus interesses diretos é um trabalho demorado.” Professora Ana Isabel Ferreira, 3ºC

2. Sabendo que a atividade sobre Comércio Justo realizada foi apenas o lançamento do tema junto das crianças, que impacto ela teve na turma? “Sensibilizou-as para a origem dos alimentos/produtos, despertando-as para a importância de ao comprarmos sabermos de onde vem o produto que temos na mão, quem o produziu e em que condições… levando-as a passarem esta mensagem aos pais.” Professora Madalena Cavaco, 3ºD

“Até ao momento, não notei qualquer diferença, pois apenas lançámos umas pequenas “sementinhas”, no entanto deu para perceber que alguns destes alunos conseguiram assimilar e até já tinham algum conhecimento das diferentes partes/atividades que compunham a história abordada.” Professora Isabel Campos, 1ºB

“Contribuiu, em traços gerais, para uma reflexão sobre como ser um consumidor mais justo e mais amigo do planeta”. Professora Manuela Fernandes, 1ºA

“A atividade abriu mais uma porta para a reflexão sobre o tema e sobre o que está por detrás da ação que eles tão bem conhecem que é o comprar.


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De facto poucos tinham a noção do que era preciso fazer, antes, de comprar. Alguns alunos têm familiares a trabalharem no comércio, no entanto, para muitos deles, tudo se resumia ao local da compra. Ver que existe um mundo composto de gente, de produtos e de trocas para que eles possam ir comprar, foi o mais significativo.” Professora Ana Isabel Ferreira, 3ºC

3. Como poderia o tema ser desenvolvido ao longo do ano letivo, a partir desta primeira abordagem? “Uma vez que já estamos no final do ano letivo e é uma turma de 1º ano julgo que poderiamos começar por desenhar em bandas desenhadas toda a história que foi abordada. Posteriormente passariamos para dramatizações, conhecimento de outros povos e respetivas culturas.“

mas, tendo sempre presente a idade das crianças com sessões curtas, motivadoras com recurso a materiais diversificados” Professora Manuela…Fernandes...., 1º A

“A partir desta primeira abordagem, as crianças deveriam ter oportunidade de espreitar o que se passa por detrás dos estabelecimentos comerciais que eles tão bem conhecem. Para isso a visita e o contacto com as pessoas que trabalham com os produtos (produtores e comerciantes) talvez fosse uma forma de dar continuidade ao trabalho. Elaborar com eles mapas de conceitos que lhes permitissem perceber as interligações, ou seja, quem é que está ligado a quem e o que acontece quando se interrompe alguma dessas ligações, seria outro caminho a traçar ao longo do ano letivo”. Professora Ana Isabel Ferreira, 3ºC

Professora Isabel Campos, 1ºB

“Poderiam ser desenvolvidas junto das crianças outras sessões semelhantes à que foi realizada, serem desenvolvidas também oficinas de Comércio Justo onde poderiam ser realizadas atividades várias com produtos do Comércio Justo e realizar sessões informativas com os encarregados de educação.” Professora Madalena Cavaco, 3ºD

“Tal como a reflexão feita após a realização da atividade, o tema merecerá ser desenvolvido em vários aspetos: Ÿ pesquisa sobre preço de produtos e sua origem; Ÿ reflexão sobre pesquisas realizadas: descobrir qual a razão de alguns produtos serem mais baratos e virem de mais longe, condições de vida das pessoas que os produzem/ fabricam; Ÿ tomada de atitude sobre quais as melhores opções a fazer como consumidor;

Só foi possível concretizar esta atividade devido ao grande empenho das Divisões de Educação e de Ação Social da Câmara Municipal de Faro que contaram com o apoio e a orientação da Coordenadora do Projecto Enlaces II em Faro, Eng.ª Natacha Alentejano (Chefe do Gabinete de Apoio à Presidência) e da Escola EB 1 do Alto de Rodes, através sobretudo da sua Coordenadora, Professora Maria Fernanda Ferreira, e das professoras Ana Isabel Ferreira, Isabel Campos, Madalena Cavaco e Manuela Fernandes. Nada disto teria existido, claro, se não fosse a atividade da FEC na área da Educação para o Desenvolvimento (ED) e o esforço e entusiasmo do Tiago Tavares, nem a intervenção de anos do CIDAC nos campos da ED e do Comércio Justo, reforçada pela experiência e dedicação da animadora Ana Castanheira. Cruzar vontades, ideias e saberes vale a pena!



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UMA ESCOLA NO ROTEIRO DA EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO

Bibliografia aconselhada: “ À descoberta da banana” CIDAC e Lina Afonso Ÿ“ À descoberta do cacau” CIDAC e Lina Afonso Ÿ

(filme em DVD e caderno pedagógico) Ÿ“Tiago, Tiaguito: uma viagem pelo Comércio Justo”

CIDAC e Mário Furtado

Videografia aconselhada: “A História das Coisas”

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www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k

“A revolução do consumo”

Ÿ

www.youtube.com/watch?v=jWZP997S7TE

“Uma outra saída”

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www.facebook.com/video/video.php?v=103084569751307

Páginas de internet: www.cidac.pt

A Câmara Municipal de Faro abraçou o desafio do Enlaces II, um projeto de Educação para o Desenvolvimento com 5 municípios, promovido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação e cofinanciado pelo IPAD - Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento. Depois de participar numa formação inicial organizada pela FEC, a equipa da Câmara de Faro promoveu várias ações de sensibilização durante o ano letivo 2010/2011, em articulação com as Escolas EB 1 do Alto de Rodes, Penha, Areal Gordo e Ferradeira, e a Escola EB 2,3 Dr. Joaquim de Magalhães, envolvendo no total 842 alunos. O culminar das ações desenvolvidas durante o ano 2010/11 concretizou-se com a exposição temática “Projeto Enlaces II” que esteve patente nos Claustros do Museu Municipal, de 7 a 30 de junho, com os objetivos de: Ÿ valorizar a criatividade das crianças; Ÿ dar visibilidade e projeção ao trabalho desenvolvido pelos docentes e alunos; Ÿ assegurar a visita das escolas envolvidas para conhecerem os diferentes trabalhos desenvolvidos; Ÿ dar oportunidade aos pais/encarregados de educação de visitarem a exposição. Um dos temas mais abordados nestas ações foi o Comércio Justo. Dada a idade das crianças, optámos por fazer uma ligação a alguns produtos de consumo básico, comparando o percurso de uma laranja (típica do nosso Algarve) e de uma banana (proveniente da América Central). O objetivo é que este seja o ponto de partida para se aprofundar uma reflexão sobre as desigualdades nas trocas comerciais, não só entre países pobres e países ricos, mas também ao nível do comércio local, entre pequenos produtores e grandes superfícies. Nesta brochura, partilhamos a experiência realizada na Escola EB 1 do Alto de Rodes e as pistas que nos deixou, para que outras escolas possam iniciar um caminho sobre o Comércio Justo com os seus alunas e alunos, tornando-os assim cidadãs e cidadãos mais conscientes e responsáveis.


O COMÉRCIO JUSTO NO 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO


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