Revista Cidade Nova - Fevereiro de 2018

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Exemplar 622 Ano LX Nยบ 2 Fevereiro de 2018 www.cidadenova.org.br

F R AT E R N I D A D E E M R E V I S TA


Toda vida tem esperança | revista@cidadenova.org.br Vida do Evangelho

A grande esperança Por Nelson Giovanelli

O autor é cofundador da Fazenda da Esperança, uma comunidade terapêutica com mais de 30 anos de experiência na recuperação de jovens dependentes químicos, atuante em 128 unidades espalhadas por 19 países de todo o mundo

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A VERDADEIRA ESPERANÇA NÃO DECEPCIONA. Se entendermos isso, nada nos fará sentir derrotados. Todos nós temos, ao longo da vida, esperança em muita coisa. É o que podemos chamar de “esperanças pequenas”. Mas, porque “pequenas”, elas podem nos decepcionar. Aqueles que vivem da “esperança grande”, ao contrário, não se decepcionam. Porque esta é Deus, é Jesus. Desde pequeno, eu alimentava a esperança de não ver mais meu pai chegar alcoolizado em casa, de ver meus pais se entenderem. Mas, diante de decepções em relação a essas minhas esperanças, sempre ficava triste. Vivi minha adolescência sempre na expectativa de que algo mudasse. Estava convencido de que seríamos felizes quando meu pai parasse de beber. Pensava assim até que um dia alguém me falou da “grande esperança”. Era o frei Hans Stapel. Ele não falava da esperança em si, mas de uma vida em paz. Ele falava na missa e, depois da celebração, muita gente o procurava para conversar. E uma dessas pessoas era eu. Tinha 17 anos de idade. Fui até o frei e contei sobre tudo o que acontecia em casa. E ele apenas me escutava. Disse-lhe que a culpa de todos os problemas que tinha no coração, de todos os problemas que tínhamos em casa, era do meu pai. No final, ele me disse simplesmente: “Nelson, o problema não está em seu pai. O problema está em você que ainda não viu Jesus nele”. E me perguntou: “Você já experimentou?”. “Como? Mesmo quando ele chega alcoolizado em casa, ele é Jesus?”, questionei. “Sim”, respondeu o frei. Eu não sabia, mas, naquele dia, a esperança entrou no meu coração. Voltei decidido para casa. Na minha frente, surgiu um caminho de esperança: eu não preciso mais esperar que meu pai pare de beber. Eu preciso somente amá-lo. Cheguei em casa e vi meu pai na sala, lendo jornal. Fui direto até a cozinha para fazer o café. Eu sabia que meu pai gostava de café forte. Caprichei! Era a primeira vez que fazia o café para ele. Quan-

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do viu o que eu tinha feito, ele parou de ler o jornal e me olhou surpreso. Naquele momento, senti algo mudar dentro de mim. E continuei! Eu sabia que meu pai gostava muito de caminhar. Tomei coragem e um dia lhe perguntei se podia caminhar com ele. Nessa caminhada, iniciamos um diálogo. Eu vi o amor que esse homem tinha no seu coração. Amor que o meu julgamento, o meu desejo de que ele mudasse, não me permitia ver. Eu

“Se a pessoa encontra em Deus a razão de sua esperança, será capaz de sorrir sempre, como uma criança, mesmo sem saber explicar por quê” estava fixo na ideia daquela esperança pequena de que meu pai tinha que parar de beber. Eu tinha, pois, encontrado em Deus a grande esperança da minha vida! Aos poucos, entre mim e meu pai começou a crescer essa esperança grande. Por isso, cada pessoa deve se perguntar: onde está a minha esperança? Se a sua esperança está em realizar os sonhos humanos (as esperanças pequenas), mesmo se legítimas, é certo que você não conseguirá superar aquela tristeza, aquela angústia que experimenta, muitas vezes, assim que acorda. Mas se a pessoa encontra em Deus a razão de sua esperança, será capaz de sorrir sempre, como uma criança, mesmo sem saber explicar por quê. No coração dessa pessoa já reside a esperança grande, a única capaz de resgatar o encanto pela vida.


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