Revista Cidade Nova - Abril 2018

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Exemplar 624 Ano LX Nยบ 4 Abril de 2018 www.cidadenova.org.br

F R AT E R N I D A D E E M R E V I S TA


Toda vida tem esperança | revista@cidadenova.org.br Vida do Evangelho

Misericórdia, caminho da esperança Por Iraci da Silva Leite

A autora é uma das fundadoras da Fazenda da Esperança

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DESDE QUANDO FREI HANS STAPEL chegou à minha paróquia, em Guaratinguetá (SP), ele falava do amor de Deus. E o amor de Deus por excelência é a misericórdia. Com o tempo, foi nascendo entre nós da paróquia o desejo de amar com a medida desse amor. Alguns de nós começamos a fazer essa experiência em casa. Essa experiência passou a refletir uma mudança no nosso comportamento. Porque, quando damos os passos para viver com misericórdia, isso se torna visível na nossa forma de agir. Eu me lembro de, no início, visitarmos os doentes para lhes levar consolo; levávamos alimentos para quem tinha essa necessidade. Íamos ao encontro das pessoas e participávamos das dificuldades que eles viviam. Nós doávamos as roupas, mas não o fazíamos de qualquer jeito: arrumávamos cada peça antes de doá-la. Essas pequenas obras de misericórdia fizeram surgir outras. Deus mesmo fez nascer muitas dessas obras como, por exemplo, quando uma senhora doou toda a estrutura de uma creche e ali começamos a acolher as crianças. E mais e mais pessoas passaram a se envolver. Essa vida de misericórdia e amor que existia na paróquia atraiu também Nelson, que começou a vivê-la conosco na comunidade. Mais tarde, numa esquina da cidade, ele pôde viver essa mesma experiência ao se aproximar daquelas pessoas que viviam em dificuldade, em função do consumo das drogas. A Fazenda da Esperança nasceu dessa experiência. Com efeito, a misericórdia foi realmente o caminho da esperança, da conversão de cada um de nós. Deus fez comigo um caminho de misericórdia; isso, hoje, me ajuda a fazê-lo com os outros. E o que levou a Fazenda da Esperança para tão longe? Foi também a misericórdia. A experiência feita pelos primeiros foi levada a outros lugares. O primeiro passo foi sempre aceitar a misericórdia para consigo mesmo. Quantas vezes agimos de determinada maneira a ponto de nos cansarmos de nós mesmos? Mas o amor de Deus nunca se cansa. O amor de Deus é uma ternura derramada sobre nós: nunca considera o que é ruim, o que é

Cidade Nova | Abril 2018

fraqueza em nós, mas nos olha segundo aquele projeto divino existente para nossa vida. E quando aceitamos essa misericórdia, somos naturalmente impelidos a agir com essa mesma misericórdia. Naturalmente, vivendo a misericórdia, nasceu no nosso coração o desejo de rezar mais, de pedir a Deus que nos ajudasse a superar os nossos limites e nos ajudasse a ajudar outras pessoas. Por isso, a oração faz parte desse caminho da misericórdia. Quando o nosso coração se endurece, devemos pedir pela misericórdia de Deus. Porque daí em diante não somos nós que agimos, mas é Ele em nós.

“O amor de Deus é uma ternura derramada sobre nós: nunca considera o que é ruim, o que é fraqueza em nós, mas nos olha segundo aquele projeto divino existente para nossa vida” Vale a pena viver essa experiência. Não importa o que nós perderemos com isso. A misericórdia de Deus é sempre maior do que qualquer coisa. O amor de Deus toca o coração e, transbordante, supera tudo. Mesmo em uma situação absurda, se conseguimos assumi-la, Deus se manifesta ali. Por fim, a misericórdia vai nos garantir que a vida valerá a pena. Antes, diante da morte, eu tinha medo de não merecer a vida eterna. Mas um dia um padre me ajudou a entender: no final da nossa história, quando nos encontrarmos com Deus, será o encontro com a misericórdia infinita. Para compreender isso, é preciso aceitar e viver essa experiência, desde as situações mais simples. E isso não depende do momento da vida que estamos vivendo. A hora de começar é agora!


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