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Dedo de Prosa
O senhor já foi presidente de Sindicato Rural, da Famasul e diretor da CNA. Como essa experiência de liderança no agro ajudou na sua preparação para ser governador?
Riedel - O agro sempre foi fundamental na minha vida. É uma vocação latente que foi florescendo e se transformando no curso do tempo, já a partir da minha formação como biólogo, da especialização em genética, zootecnia, e depois o intenso aprendizado na área de administração e gestão. Mas a primeira grande e definitiva conexão com o mundo do agro aconteceu em casa, nos longos anos de férias inesquecíveis na fazenda. Depois, o destino se cumpriu: ainda muito jovens, eu e Mônica acabamos nos mudamos para a Sapé, que há mais de 100 anos é tocada pela nossa família. Naquele momento, imagine você, não tinha nenhum maquinário, nem sequer energia! Começamos assim e foi um grande aprendizado, até que chegássemos a um empreendimento hoje considerado modelo, altamente tecnológico e que vem dando muito certo. No curso dessa trajetória, acrescentei à minha trajetória pessoal as causas coletivas. À frente do Sindicato Rural foi o primeiro momento que entendi a importância de defendê-las – no nosso caso, o chão da produção. De lá, fui para Famasul e ampliei essa visão e essa fronteira, que depois me levaram à CNA. Foi um momento muito decisivo, do qual me orgulho muito, pois foi ali que começamos um trabalho obstinado para buscar o necessário reconhecimento a um setor que há muito tempo vinha e vem carregando o PIB brasileiro nas costas. O país demorou a entender que o agro, de fato, está em quase tudo... e é a base das riquezas do Brasil. É uma autêntica vocação nacional, que durante muito tempo foi incompreendida, e por isso subestimada, quando há muito tempo é a verdadeira alavanca do crescimento nacional. Esta visão felizmente hoje mudou e o setor alcançou o seu devido lugar de relevância que sempre teve. Do ponto de vista pessoal, na lida do dia a dia, guardei comigo lições que ficaram para sempre e me ajudaram a formar uma visão de mundo – o valor inestimável do trabalho dedicado, bem-feito, determinado; o apreço à inovação, à pesquisa e as novas tecnologias, que melhoram a nossa capacidade de produzir e dar resultado. A força das parcerias, para fazer mais e melhor, somando recursos, esforços. Enfim… O agro é parte da gente, da nossa alma, está no DNA do sul-mato-grossense.
Na sua gestão, a Semagro ganhou uma nova estrutura e um novo nome, Semadesc, mas também houve outras mudanças. Como vai funcionar a pas - ta que atua diretamente com o setor produtivo do estado?
Riedel – Somos um estado fortemente produtor e é nesta posição e com esta relevância que vamos tratar o setor. Fizemos mudanças na Secretaria, porque a natureza dos desafios também está mudando e em uma velocidade muito grande. Sempre venho alertando para isso: os governos, de maneira geral, precisam estar atentos a estas transformações, para não ficarem muito aquém delas, atrasados, sempre correndo atrás do tempo perdido e dos prejuízos, quando não gerando problemas e atrapalhando o processo de desenvolvimento. Nesta direção mexemos na interface do estado com a produção, para ganhar mais eficiência, capacidade de entregas e foco determinado nos nossos grandes desafios. O nosso guia será sempre o plano de governo, que carrega compromissos ousados e uma visão moderna sobre a evolução, já em curso, do nosso modelo de produção. Vamos trabalhar junto com o setor, ouvindo, dialogando respeitosamente, debatendo novas soluções e saídas para os problemas, os antigos e os novos desafios.
MS é referência mundial em produção sustentável no agro. Como o governo do estado pode dinamizar ainda mais esse processo?
Riedel – Como disse, estamos vivendo um momento de transição do nosso modelo econômico, agregando valor à produção a partir de um forte processo de industrialização, já em curso, que vai gerar muitos empregos de melhores salários, renda, mais riquezas e dinâmica econômica para os nossos municípios. A diversificação está aí, acontecendo, no processamento de grãos e proteína animal, na piscicultura em escala, a indústria da celulose, a de produtos florestais derivados, o novo ciclo de expansão da mineração; uma ponderosa retomada do turismo… tudo isso é potencial enorme de desenvolvimento. Agora, temos que acrescentar a este cenário promissor os desafios do clima, que no nosso programa se concretiza no Estado Carbono Zero, já em 2030, ou seja, 20 anos à frente de grande parte dos demais estados. Ousamos assumir esse compromisso porque já temos projeto e uma base inicial sólida implantada nos últimos anos. Nem todo mundo sabe, por exemplo, que acabamos de concluir o inventário sobre os gases de efeito estufa no estado, passo inicial para que se organizem os diferentes projetos de mitigação e descarbonização da economia. Já somos a maior área integrada de lavoura, pecuária e floresta do País. Um grande polo de florestas plantadas; temos programas exemplares em sustentabilidade, como, por exemplo, o Ilumina Pantanal, que levou energia solar, limpa, a mais de 3 mil comunidades daquela extensa região, inclusive as mais isoladas. E uma série de programas já maduros neste campo, como o Carne Orgânica do Pantanal; o Precoce; O Pagamento por Serviços Ambientais; o ICMS Ecológico; a Logística Reversa de Embalagens, e um promissor mercado de crédito de carbono, entre tantos outros. Importante lembrar que somos o destino de R$ 60 bilhões em novos investimentos acontecendo agora, todos incentivados e já portadores de compromissos com processos de produção limpos e sustentáveis. Em resumo, este é um caminho sem volta, em função dos gigantescos desafios do clima.
O estado adquire oficialmente a partir de 2023 o status de área livre de aftosa sem vacinação. Uma grande conquista. Como será o trabalho por parte do governo para manter esse patamar?
Riedel - De fato, uma conquista muito importante e paradigmática. Sem ela, não há como conquistar novos e potenciais mercados para a nossa produção de proteína animal e seus derivados. Estaremos atentos, vigilantes, cumprindo rigorosamente nossas tarefas, em parceria com o produtor, para não permitir nenhum risco de retrocesso. Temos uma das melhores carnes do mundo, mas isso não basta — é preciso investir e garantir as condições sanitárias necessárias para abrir novos mercados.
Mato Grosso do Sul passa por um processo de mudança em sua economia. Indústrias de transformação estão agregando valor à produção do agro. Assim é na soja, na carne, na cana-de-açúcar, nas florestas plantadas e na piscicultura. Em sua gestão o senhor pretende acelerar esse processo?
Riedel – Este processo de aceleração está acontecendo naturalmente, porque é característico deste novo ciclo de industrialização do agro, que já está em pleno curso. Um empreendimento que chega, gera oportunidades de emprego e renda, mas também atrai novas iniciativas e empreendimentos prestadores de serviço na cadeia produtiva. Esta aceleração acontece porque um volume enorme de investimentos privados está entrando no
