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Roda de Tereré

Caminho Longo

No caminho para ser área livre de aftosa sem vacinação, Mato Grosso do Sul contou com o empenho de várias instituições do setor privado, do poder público e da parceria com os produtores rurais das mais diversas cadeias produtivas.

A Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) sempre esteve presente nas fiscalizações, autuações e atividades contra a doença. O diretor-presidente, Daniel Ingold, tem claramente os planos e ações desenvolvidas até a conquista do novo status. Um dos passos mais importantes foi dado em 2017, quando o estado, junto com o governo federal, criou o Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PE-PNEFA).

“A partir dele, partimos em um planejamento de ações, melhorias e estudos com as agências nos estados. Em Mato Grosso do Sul foi com a Iagro. Evoluímos muito nas ações de vigilância. Foi durante este processo que o estado atingiu a pontuação para que fosse suspensa a vacinação. A Iagro vem se adequando e, hoje, temos uma vigilância mais ativa”.

Também foi preciso atuar na estrutura sanitária de Mato Grosso do Sul. As situações nas décadas de 1980 e 1990 são lem- bradas pelo superintendente federal de Agricultura e Pecuária (SFP-MS), Celso Martins. Mesmo com os altos e baixos no processo de erradicação do vírus, um fator positivo foi o principal: a adesão dos produtores rurais.

“O caminho foi muito desafiador. As campanhas de vacinação começaram na década de 1980 e 1990. Daquela época, houve a possibilidade de estruturação do serviço estadual. Vivemos a evolução da capacidade para trabalhar sem a vacinação. O que tínhamos de conhecimento e instrumento na década de 1990, é completamente diferente hoje. Reconhecemos áreas, testamos perímetros de estudo e estamos em uma situação superior do que há duas décadas”, pontua.

A Famasul esteve presente durante as ações educativas e com diálogos importantes na construção do novo patamar. Cursos, rodas de conversa e debates foram realizados. O empenho entre os vários setores fez com que as etapas do PNEFA fossem cumpridas e concluídas com êxito.

“Enquanto Famasul, com toda a sua representatividade, nos coube cumprir algumas etapas para que chegássemos, juntos à Iagro, SFA e outras entidades, a essa grande transformação. A instituição atuou na formulação dos fóruns de discussões, na oferta de conhecimento, boletins técnicos e capacitação na área de saúde animal e educação sanitária”, detalha o diretor-tesoureiro, Frederico Stella.

Aten O Redobrada

Atualmente, a atenção deve ser redobrada. Todo e qualquer sinal de uma possível infecção viral, deve ser imediatamente comunicada pelo produtor rural aos órgãos competentes, ressalta Celso. Ele explica que, sem a vacinação, o rebanho busca conviver com a imunidade viral de uma outra forma.

“Quando você retira a vacinação, é preciso trabalhar com outros instrumentos, já que não temos a capacidade do rebanho conviver com aquele vírus naquela estratégia. Temos metas para cumprir nos próximos anos, manter a segurança sanitária; consolidar a área livre do vírus sem vacinação é uma delas”.

Até então, a vacina era a principal ferramenta para o rebanho. Celso comenta que os parâmetros são mudados com essa retirada. A atenção plena ao gado e a comunicação rápida e eficaz vão garantir ações pontuais e com efeitos mais certeiros, segundo o superintendente.

“Quando você trabalha com vacina, a principal ferramenta era o rebanho não sensível à entrada da doença. Agora, na medida que tira a imunização, temos que trabalhar com outros dois parâmetros: impedir que o vírus entre nesse território ou circule; e vigilância no sentido de rapidamente reconhecer o vírus e tomar as medidas necessárias para que o vírus não se espalhe”, completa Celso.

Daniel Ingold também faz coro à necessidade da vigilância sanitária com os rebanhos. “Vamos continuar com a vigilância de forma contínua. Precisamos cada vez mais do envolvimento do produtor no estabelecimento de uma relação de confiança e aproximação com o órgão”.

Celso explica que as notificações de uma possível situação anormal poderão ser solucionadas rapidamente. “Temos que estimular as campanhas para a notificação de qualquer irregularidade. Isso envolve o sistema produtivo, produtores e a sociedade. Temos de estruturar esses órgãos de fiscalização para que em 24 horas de notificação consigam agir com prontidão. Temos que evoluir para a troca de informações de qualquer anormalidade”.

Pensando em todas as possibilidades, a Famasul atuou de forma vanguardista na criação de um Fundo de Defesa para ajuda ao produtor, como comenta Frede rico Stella. “Foi uma medida essencial para que avançássemos. O Fundefesa possibilita que, no caso da aparição de algum foco ou suspeita, se aja rapidamente e se debele a situação, assim como haja recursos para possíveis indenizações”.

NOVO STATUS, NOVAS OPORTUNIDADES

Celso, Frederico e Daniel. Todos são unânimes ao apresentar o futuro econômico promissor e robusto para o estado com a nova condição sanitária. O status traz possibilidade de novas negociações, ampliação de mercados e benefícios a outras cadeias produtivas.

“Vamos incrementar a oferta de produtos aos países que já compram nossa mercadoria. Para o consumidor internacional, que é mais exigente em sanidade, ofereceremos um produto com selo de qualidade, comprovando o que já defendemos há muitos anos: nossa pecuária é de primeiro mundo”, comemora Frederico Stella.

Daniel Ingold vislumbra um cenário amplo, onde as exportações de carne bovina produzida em Mato Grosso do Sul sejam ampliadas a outros países, para além da China, principal comprador. O diretor-presidente da Iagro também menciona que o novo status é positivo também para outras cadeias produtivas, além da bovinocultura de corte.

“Não podemos ficar dependentes de um mercado só. Temos que procurar outros. Para a suinocultura, por exemplo, automaticamente com a retirada da vacinação, todos os mercados mundiais ficam abertos. Ou seja, os suinocultores se beneficiarão. Importante que todos do setor produtivo tenham convicção disso”.

Países que antes não compravam de Mato Grosso do Sul agora poderão olhar mais atentos à vitrine do gado de excelência produzido no estado. “Na hora que ganhamos este status, alguns países que têm este anteparo à vacinação, se abrirão, independentemente do preço. É reconhecimento e ampliação de mercados exteriores. O mercado mundial da carne suína é influenciado pela vacinação da febre aftosa, mesmo não sendo necessária à vacinação. Há uma valorização grande quando a área atinge esse novo status sanitários”, finaliza.

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