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Leandersson
from Falo Magazine #19
por Filipe Chagas
Leandersson é a assinatura do artista autodidata Leandro Cunha, nascido em Caçapava, interior de São Paulo. Vanguardista (“até na hora de ressuscitar coisas antigas”), fascinado por questões de gênero, música eletrônica, pornografia e culturas ancestrais, utiliza técnicas de ilustração manual e digital em vários formatos para referenciar – e reverenciar – os seus mestres multimidiáticos:
Seja pelos traços fortes e hachuras – que podem remeter à estética da xilogravura e dos quadrinhos como fez Roy Lichtenstein –, seja pelas cores fortes e repetição de imagens – bem características das obras mais famosas de Andy Warhol – é possível enxergar algumas relações da produção de Leandersson com a Pop Art, inclusive utilizando sua arte em propagandas de blocos de carnaval, eventos e coletivos artísticos. Suas composições criam provocações xamânicas entre o sagrado e profano, entre a simetria e o desequilíbrio, através de figuras híbridas de artifícios criados pelo homem e elementos da natureza que condizem com a forma como se entende no mundo:
Diz que já há alguns anos que consegue viver uma vida plenamente assumida como artista LGBT+, mas desde a infância seu desejo e libido se dirigiram para a nudez masculina como fonte de principal interesse. Em uma leitura da antiga Enciclopédia Delta Júnior, viu desenhos de deuses gregos seminus e o pequeno Leandro ficava se enrolando em toalhas do jeito que tinha visto na publicação (“Criança viada estilista SIM!”). Então, quando começou a desenhar, naturalmente incorporou aos corpos masculinos algo que pudesse dialogar, por exemplo, com a arte das antigas civilizações.
Leandersson prefere usar fotos para desenhar, pois necessita de tempo e espaço (“acho um pouco... íntimo demais ter um modelo ao natural”) em seu processo criativo. Como parte constitutiva normal do corpo-retrato, o pênis pode aparecer, mas não constitui exata prioridade, pois, para ele todo o corpo é importante. Mãos e pés são o que atraem seu olhar tanto pelo nível de dificuldade artístico quanto pela sensualidade (“é muito sensual um homem com mãos e pés bonitos”).
O artista reflete sobre o movimento cíclico da arte no que tange à nudez masculina. Sabe que a aceitação dessa temática já ocorreu em outros séculos, mas ela está sujeita às marés da História em constantes movimentos ora pró ora contra. Entende, assim, o papel do artista de gerar o maior número possível de discussões construtivas sobre o assunto.
É também toda essa transitoriedade, que Leandersson mantém o respeito a todas as identidades e quer aproveitar o que a vida lhe oferece. Segue como artista independente e analisa com cuidado e carinho todas as oportunidades que o levem a realizar seus objetivos pessoais, como, por exemplo, ter ilustrações na capa e nas páginas da segunda Antologia Poética da Revista Cult (2019). 8=D