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Bibliófalo: Kake
from Falo Magazine #14
The complete Kake Comics de Tom of Finland
Taschen (2019)
Como vocês leram na seção Falo de História desta edição, Tom of Finland foi de grande importância para a afirmação gay e para a liberação sexual no pós-guerra. Talvez, ao ver uma coletânea como essa – maravilhosamente trabalhada pela Taschen, como sempre – isso fique ainda mais claro.
É importante dizer que sim, Tom of Finland criou um estereótipo que tem sido combatido nos dias de hoje: o sarado pauzudo. Os ideais de diversidade de corpos e body positivity do seculo 21 talvez fizessem Tom repensar a imagem corporal que criou, mas ele jamais alteraria a felicidade, o orgulho e o acolhimento das expressões dos personagens. Dito isso, por mais que as imagens falem por elas mesmas, é preciso contextualizar. Por isso, realmente sugiro que seja lida a história de Tom nesta revista.
Em 1965, ele começou a pensar em um personagem recorrente para suas histórias: seu “homem definitivo”. Experimentou um loiro chamada Vicky (nome masculino comum na Finlândia, mas que foi rebatizado de Mike para o mercado americano). Somente em 1968, Tom estabeleceu Kake*, um homem de bigode e cabelos escuros, hipermasculinizado, usuário de couro e botas altas, que costumava usar uma justa camiseta branca justa escrita “Fucker” – o que de fato ele era, uma vez que suas histórias narravam suas aventuras de motocicleta para liberar o sexo gay. O primeiro episódio de Kake com 20 páginas (O Intruso) foi publicado na Dinamarca no mesmo ano. A Tom of Finland Foundation conseguiu encontrar e preservar a maioria das histórias originais e esta coletanêa possui TODAS as 26 aventuras de Kake, desde o primeiro episódio até as 30 páginas finais “Escritório com excesso de sexo”, lançado em 1986.
* Pronuncia-se Cocky, termo inglês para convencido e vem da palavra cock, que significa galo ou pênis.
Tom sempre disse que seu objetivo era mostrar homens orgulhosos de fazerem sexo com outros homens. Seus personagens foram os primeiros a quebrar a barreira do afeto, beijando e acariciando, numa época pós- Stonewall de sexo despreocupado.
Ao entender a necessidade que Tom tinha de libertar seus próprios desejos, as histórias de Kake ficam claras. A liberdade está em todos os quadros, seja na relação amorosa (mesmo em atos de BDSM) ou na verstatilidade sexual, e transborda pra fora do desenho. Sem qualquer diálogo textual, as ações e os olhares levam você para um cinema mudo, onde sua imaginação – que se liberta de vez já na segunda história – cria conversas, sons e, porque não, trilha sonora.
É impossível não ser afetado por isso e também pelos fetiches desse tímido finlandês: até que não tem tesão por couro ou uniformes acaba de perna bamba! Aliás, o mundo fetichista o recebeu (e ainda o abraça) de braços abertos.
A Taschen já é conhecida por suas belas coletâneas de arte e design com imagens exclusivas. Essa não é diferente. 8=D