Revista Saberes em Ação

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“Por um conceito de teologia” é o primeiro item. O que podemos entender por teologia? Vamos começar pela palavra “teologia”. Se tomarem em mãos um dicionário como este que eu tenho aqui, de teologia, vocês encontrarão coisas do seguinte teor: o termo teologia não foi criado pela teologia, no sentido que o estudo das revelações da fé tenha construído o termo composto por duas palavras gregas para indicar seu objeto ou tarefa. Teologia, palavra ou conceito, originou-se do pensamento grego e só com certa hesitação, oposições e modificações, é que foi assumida dentro do cristianismo, para indicar suas proposições e formulações. Teologia-conceito aparece pela primeira vez no pensamento grego em Platão (Político 379a). Por teologia ele entende os mitos, as lendas, as histórias dos deuses. Platão vai realmente usar esse termo pouquíssimas vezes. Aparece em Político, e uma vez em A república, sinal de que não era termo de uso corrente. É quase um neologismo de Platão, não neologismo como palavra, mas no uso do discurso filosófico. Platão em geral usa esse termo aplicando-o a tradições religiosas, que chamam teologia. Tradições religiosas porque no fundo elas falam de deuses, do Divino, desde antes de Anaxágoras, de Heráclito, Parmênides. Já existe uma tensão muito grande entre as tradições da mitologia e a reflexão dos círculos mais ilustrados da Grécia. Uma tensão muito grande entre aquelas narrativas e o pensamento que se forma. Essas narrativas parecem em parte inverossímeis, em parte inadmissíveis e, com mais cautela, em muitos aspectos, falsas. O Divino tem de ser algo mais e Platão é muito claro. A crítica de Platão, perto da crítica do racionalismo moderno, feita mais diretamente ao cristianismo, seja sob a forma católica seja sob a forma evangélica, e ainda a crítica de Nietzsche ao cristianismo são pesadas, mas não são tão pesadas quanto a crítica de Platão à teologia grega, histórica e tradicional. Platão propõe simplesmente a rejeição de tudo aquilo. Nietzsche personaliza sua crítica. Platão coloca essa crítica nos lábios de Sócrates, já que se trata de um teólogo, daqueles que estão erigindo a filosofia, dos que dialogam com Sócrates, principalmente Sócrates. Ele não tinha problema, quando a escreveu. Sócrates já havia sido executado mesmo. Então, Sócrates não corria mais risco e ele podia lhe atribuir o que melhor lhe aprouvesse e, assim, procede a uma crítica pesadíssima, propondo uma rejeição aos deuses. Nós precisamos refazer tudo isso.

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