Produção Científica Ciências & Saberes - segunda edição

Page 1


ORGANIZADORES FRANCISCO DAS CHAGAS ARAÚJO SOUSA MARCOS AURÉLIO DE ARAÚJO ALVES VALDENIA GUIMARÃES E SILVA MENEGON

Ciência& Saberes

SÉRIE CIENTÍFICA

Sociedade, Saúde e Conhecimento

2ª Edição

Caxias‐MA 2012



Ciência& Saberes

SÉRIE CIENTÍFICA

Sociedade, Saúde e Conhecimento

2ª Edição

Caxias‐MA 2012


Ciência& Saberes SÉRIE CIENTÍFICA

Ano 2, Número 2, Abril de 2012 Publicação em Série Tiragem: 200 exemplares Coordenação, Distribuição e Informações: Coordenação de Pós‐Graduação, Pesquisa e Extensão ‐ COPEX Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão FACEMA Rua Aarão Reis, 1000 Centro ‐ CEP: 65606‐020 Caxias‐MA Tel.: (99)3422‐6800 Home Page: www.facema.edu.br Supervisão Geral: Marcos Aurélio de Araújo Alves Revisores: Profª. Ana Elizabeth Araújo da Silva Félix Coordenação Editorial:

Valdenia Guimarães e Silva Menegon Projeto Gráfico/ Diagramação: Q Ideia Marketing e Publicidade

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


CONSELHO EDITORIAL ANA ELIZABETH ARAÚJO DA SILVA FÉLIX CARLOS AUGUSTO SILVA DE AZEVÊDO CARLOS ANTONIO DA LUZ FILHO FRANCISCO DAS CHAGAS ARAÚJO SOUSA JACQUES IRANDI MEDEIROS LEANDRO DE SOUSA SANT'ANNA MARCOS AURÉLIO DE ARAÚJO ALVES VALDENIA GUIMARÃES E SILVA MENEGON TELMA MOURA DE OLIVEIRA

ORGANIZADORES FRANCISCO DAS CHAGAS ARAÚJO SOUSA MARCOS AURÉLIO DE ARAÚJO ALVES VALDENIA GUIMARÃES E SILVA MENEGON COLABORADORES ANA ELIZABETH ARAÚJO DA SILVA FÉLIX ANDRÊSSA KEYTY DOS SANTOS ANTONIA PATRÍCIA DA SILVA CARVALHO BENIGNA MARIA DE ASSUNÇÃO COUTO BRUNA BORGES LIMA CACILDA FIGUEIREDO NERI DE AGUIAR CLÉA MARIA MACHADO DE ALENCAR CLEIRE MARIA DO AMARAL RODRIGUES CLEONILMA DOS SANTOS COELHO CRISTIANO DOS SANTOS COUTINHO EDILEUZA SILVA ABREU ELESSANDRO PINHEIRO DE FREITAS ERLINDA MARIA BITTENCOURT FRANCISCO DAS CHAGAS ARAUJO SOUSA FRANCISLÉIA FALCÃO FRANÇA HÁLMISSON D'ÁRLEY SANTOS SIQUEIRA JÂNIO OLIVEIRA LIMA JOELSON DE SOUSA MORAIS JORDANIA DOS SANTOS SILVA JOSÉ EDUARDO ADÃO KLEBER MONTEZUMA FAGUNDES DOS SANTOS LEANDRO FERRAZ LUÍS CARLOS SALES MARIA DE FÁTIMA TAVARES DOS SANTOS MARIANA DE OLIVEIRASANCHEZ MARIANGELA SANTANA GUIMARÃES SANTOS MARLON JEFFERSON DA SILVA SANTOS RAYANE SOUSA DA SILVA VALDENIA GUIMARÃES E SILVA MENEGON VALDIRENE FERREIRA DOS SANTOS


FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DO MARANHÃO ‐ FACEMA DIRETORA GERAL Aryzaltina Silva Penha DIRETORA ADMINISTRATIVO‐FINANCEIRA Maria Aparecida Barrôso Coutinho DIRETOR ACADÊMICO Prof. Msc. Marcos Aurélio de Araújo Alves COORDENAÇÃO DE PÓS‐GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO ‐ COPEX Profª. Msc. Valdenia Guimarães e Silva Menegon SECRETÁRIA ACADÊMICA Profª. Esp. Dayane Leitão Machado Castro BIBLIOTECÁRIO Leandro de Sousa Sant`anna COORDENADORA DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO Profª. Msc. Cléa Maria Machado Alencar COORDENADOR DO CURSO DE DIREITO Profº. Msc. Giorge André Lando COORDENADORA DO CURSO DE ENFERMAGEM Profª. Msc. Joelma Maria Costa COORDENADORA DO CURSO DE FISIOTERAPIA Profª. Msc. Mariana de Oliveira Sanchez COORDENADORA DO CURSO DE PEDAGOGIA Profª. Msc. Francisca Maria de Sousa COORDENADORA DO CURSO DE NUTRIÇÃO Profª. Esp. Magnólia de Jesus Sousa Magalhães COORDENADORA DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL Profª. Msc. Vânia de Santana Leão COORDENADOR DO CURSO DE TECNOLOGIA EM ANÁLISE E DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS Profº. Msc. Raimundo Pereira da Cunha Neto


Sumário Sociedade, Saúde e Conhecimento 13

POSSÍVEIS ALTERAÇÕES POSTURAIS NOS ESCOLARES DECORRENTE DO MAU USO DE MOCHILAS

23

ANÁLISE DO TRANSPORTE INTRA‐HOSPITALAR EM PACIENTES NEUROCRÍTICOS ADULTOS

35

O CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS DO TIPO ANFETAMINA POR CAMINHONEIROS NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO

45

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DA SAÚDE DA FAMÍLIA NA PREVEVENÇÃO E CONTROLE DE COMPLICAÇÕES NEUROPÁTICAS DISTAIS EM PORTADORES DE DIABETES TIPO II

Formação, Saberes e Práticas Docentes 51

TIRO QUEBRANTO*: REFLEXÃO ACERCA DA ARTICULAÇÃO ENTRE O SABER FORMAL E OS SABERES DA CULTURA POPULAR AFRO‐BRASILEIRA

63

A “TEORIA” PODE CONTRIBUIR PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS?

75

GÊNERO E POLÍTICA: A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO LEGISLATIVO MUNICIPAL DE CAXIASMA

O CONHECIMENTO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS PELO ALUNO SURDO CAXIENSE E RESPECTIVAS DIALETOLOGIAS, NO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA 85 PÚBLICA 95

OS ESTEREÓTIPOS E O APRENDENTE COM LIMITAÇÕES

109A

FORMAÇÃO BÁSICA DO SURDO: NO MEIO DESSE CAMINHO, A LÍNGUA PORTUGUESA, O LETRAMENTO E A LÍNGUA DE SINAIS

123

O DESVELAR DA PRÁTICA DOCENTE DO LICENCIADO EM LETRAS: ENTRE O ENSINO DA GRAMÁTICA E A FORMAÇÃO DO SUJEITTO LEITOR REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFESSORES DE ESCOLAS PRIVADAS DE TERESINA

135 SOBRE ESCOLA DE QUALIDADE


145 REPRESENTAÇÕES

SOCIAIS DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE TERESINA ACERCA DA SUPERVISÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA

161

RUPTURAS E CONTINUIDADES NA DOCÊNCIA: REFLEXÕES ACERCA DO FAZER PEDAGÓGICO NA ESCOLA FUNDAMENTAL

173 DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO

DO PROFESSOR 185 A PRÁTICA DOCENTE DO FISIOTERAPEUTA:

UMA REVISÃO DA LITERATURA

193 AVALIAR: UM ATO QUE EXIGE MUDANÇAS

Empreendedorismo, Tecnologias e Inovação 203 EMPREENDEDORISMO:

O CAMINHO DA INOVAÇÃO E DO SUCESSO DAS ORGANIZAÇÕES MODERNAS

213

A LOGÍSTICA EMPRESARIAL E A SATISFAÇÃO DOS CLIENTES DA PREDIAL: ADMINISTRADORA DE CONDOMÍNOS LTDA NO ESTADO DO PIAUÍ


Editorial Em seu segundo volume, a Revista Ciências & Saberes, publicação anual da Facema, traz consigo um grande número de artigos, resumos expandidos e ensaios sobre diversos temas, recheando, em seu inteiro teor, as suas três linhas editoriais, que são: Sociedade Saúde e Conhecimento, Formação, Saberes e Práticas Docentes e Empreendedorismo, Tecnologias e Inovação. Passeando na cientificidade da academia, os mais diversos colaboradores, apresentam textos que tratam desde as posturas dos alunos mediante usos de mochilas ao se deslocarem para escola, enfocando o referido problema postural como um caso de saúde pública até o uso de anfetaminas por caminhoneiros que, desconhecendo os riscos que correm, com o uso dessas substâncias, cruzam esse país, proporcionando e transportando o desenvolvimento nacional em detrimento ao definhamento de sua saúde com os riscos que sofre em relação ainda aos acidentes de trânsito que pode sofrer ou provocar, em consequência deste uso, e buscando o sustento familiar. No âmbito ainda da saúde, tem‐se um resumo expandido que discorre sobre a atuação do profissional de enfermagem inserido no programa de Saúde da Família, frente à prevenção e controle das complicações neuro‐práticas distais em portadores de diabetes tipo II. Nesta mesma grande área, evidencia‐se um artigo que discute o transporte intra‐hospitalar de pacientes neurocríticos adultos, mostrando, a partir de uma revisão de literatura, a repercussão deste transporte e o papel do fisioterapeuta intensivista na equipe de transporte, sugerindo alguns cuidados para a transferência do paciente. Não só ficando por aqui, este número traz consigo uma gama de textos que evidenciam atuais temas discutidos hoje dentro e fora das academias, mostrando assim a conexão que a referida obra tem com o mundo contemporâneo. Folheando a referida revista, você encontrará artigos que questionam a relação direitos humanos versus teorização do Direito, sendo mostrado, a necessidade de se analisar o pragmatismo da filosofia americana frente ao desenvolvimento da cultura global de direitos humanos, em ideias como realidade, verdade, natureza humana e teoria. Não ficando neste ponto fixo, apresenta‐se também uma outra produção que mostra a reflexão acerca da articulação entre o saber formal e os saberes da cultura popular afro‐brasileira, como direito a ser respeitado no mundo da diversidade atual e tendo a escola um papel importante frente a esta discussão, em suas práticas educativas formais. Fazendo um “link” aqui, Ciência & Saberes, também traz em seu corpo um artigo que versa sobre a escola de qualidade, com o objetivo de conhecer as Representações Sociais de professores de escolas privadas sobre a qualidade, sendo possível evidenciar que escolas de qualidade são as que têm bons professores, bom espaço físico, boa disciplina e mecanismos de valorização dos professores. Anexo a isso, destaca‐se, também, o texto que traz em seu corpo a discussão sobre as representações sociais de professores de matemática da rede pública acerca da supervisão pedagógica na escola. Contemporânea que é, Ciência & Saberes oportuniza o leitor a se apropriar, nesta edição, de artigos e ensaios que resultam de estudos e pesquisas que giram em torno das questões de gênero, uma vez que discute, de forma acadêmica, em um dos seus textos, a participação feminina no legislativo de Caxias(MA), tecendo críticas às assimetrias ocasionadas a partir dos papeis socialmente atribuídos a homens e mulheres de forma distinta. Não ficando por aqui, outro tema da atualidade que vem apresentado muito bem neste segundo volume é a pesquisa sobre a nossa segunda língua: Libras – Língua Brasileira de Sinais. Acerca desta temática, tem‐se artigos que mostram o conhecimento de Libras pelo aluno surdo da Educação Básica, da rede pública de Caxias(MA), o letramento e a Língua de Sinais na formação básica do surdo frente ao estudo de


Língua Portuguesa. Não parando aqui, o leitor encontrará, ainda, em meio aos textos publicados, uma produção que desvela a prática docente do profissional de Letras frente ao ensino de gramática e a formação de leitores. Outra grande área contemplada em seus escritos, desta edição, é a formação de professores. Nesta seara, Ciências & Saberes traz artigos e ensaios que reflexionam a ruptura e a continuidade do discurso docente frente ao fazer pedagógico na escola da Educação Básica, mostrando, neste texto, a necessidade da mutabilidade do discurso frente ao fazer pedagógico, o que torna o artigo bastante instigante. Sobre formação de professores, ainda se tem alguns textos que tratam da docência na universidade e a prática pedagógica de formação de professores, resultado de um estudo bibliográfico, a luz de Campos (2007), Ericone (2004), Beherns (2005), Freire (1997), Pimenta (2002), Giesta (2001), Tardif (2002) e Masetto (2003). Não findando aqui, tem‐se ainda um artigo que mostra a prática docente dos professores dos cursos de fisioterapia, uma vez que os fisioterapeutas não têm formação para o magistério. Vale ressaltar que o texto mostra a necessidade do profissional de fisioterapia, ao ir para a sala de aula, deva estar consciente da necessidade de adquirir saberes para aprimorar uma prática pedagógica, nos cursos de fisioterapia, que favoreçam o alcance dos objetivos educacionais. Nesta temática ainda se destaca um ensaio que traz uma reflexão da avaliação na prática docente e pedagógica como um ato que exige mudanças. Nesta produção a autora enfoca em tons conclusivos que “[...]o professor precisa abandonar para sempre a prática unilateral de avaliação que conduz a um autoritarismo com lamentáveis consequências sociais e pessoais para a formação do seu aluno[...]” Ciências & Saberes não esquece do empreendedorismo, Tecnologia e Inovação. A revista acadêmica traz um artigo que mostra a ação de empreender como um caminho de inovação e sucesso nas organizações modernas. A autora mostra que o empreendedorismo tem suas raízes na Sociologia, uma vez que alcança a sociedade pelo viés do homem, na Economia, uma vez que se processa através do investimento de capital, com riscos e vantagens e na Administração, onde acontece o centro do pensar, as negociações e os gerenciamentos. Far‐se‐á também, neste item, a leitura de um artigo onde os autores escrevem sobre a logística empresarial e a satisfação dos clientes frente a um negócio, ressaltando a especificidade dos clientes e a necessidade de segmentação dos negócios com base nas expectativas da clientela e na melhoria dos serviços como diferencial. Neste diapasão, a segunda edição da revista Ciências & Saberes traz uma miscelânea de produções que são capazes de despertar e gerar novas reflexões e novos conhecimentos em seus leitores intra e extra comunidade acadêmica, concretizando assim a sua missão de contribuir, como IES, com o seu entorno, no tocante a produção, transmissão e reprodução do conhecimento científico, ao fazer ensino, pesquisa e extensão.

Prof. Msc. Marcos Aurélio de Araújo Alves Diretor Acadêmico ‐ FACEMA Porto Alegre/Outono‐2012


Sociedade, SaĂşde& Conhecimento


12


Artigo POSSÍVEIS ALTERAÇÕES POSTURAIS NOS ESCOLARES DECORRENTES DO MAU USO INCORRETO DE MOCHILAS Andrêssa Keyty dos Santos¹ Bruna Borges Lima²

RESUMO Os problemas posturais podem, no período atual, ser considerados como um grave problema de saúde pública, tendo em vista que atingem uma grande parcela da população mundial, tornando-a incapacitada temporária ou definitivamente. Considerando a infância como um período em que geralmente começam a ser observadas as alterações posturais, torna-se necessário utilizar meios de orientação e intervenção como profilaxia. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo estabelecer a fundamentação teórica sobre os principais fatores que interferem na postura corporal da criança e do adolescente, e fornecer orientações sobre educação postural. Procurou-se com base na literatura existente realizar uma reflexão sobre as bases biológicas, ergonômicas e pedagógicas para a elaboração de programas de prevenção de problemas posturais decorrentes do uso incorreto de mochilas. Palavras-Chave: Alterações posturais. Adolescente. Mochilas. ABSTRACT The postural problems in the current period can be considered a serious public health problem in order to reach a large portion of world population, making it temporarily or permanently incapacitated. Considering the childhood as a period in which generally begin to be observed postural changes, it becomes necessary to use means of guidance and intervention as prophylaxis. Therefore, this study aimed to establish the theoretical foundation of the main factors that affect the posture of children and adolescents, and provide guidance on postural education. Was sought based on the existing literature examining the question in the biological bases, ergonomic and educational for the development of prevention programs postural problems arising from the use of backpacks. Keywords: Postural changes. Adolescent. Backpacks.

¹ Graduada em Fisioterapia. Fisioterapia Intensiva. Terapia intensiva. Docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão FACEMA. ² Acadêmica de Fisioterapia da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão - FACEMA.

13


INTRODUÇÃO A postura pode ser definida como a posição que nosso corpo adota no espaço, bem como a relação direta de suas partes com a linha do centro de gravidade. Para ter uma boa postura, é necessário uma harmonia e equilíbrio do sistema neuromusculoesquelético (VERDERI, 2003). Nesse contexto, a saúde da criança no período escolar é muito importante e deve ser observada precocemente. Ao observar as crianças e adolescentes na escola, pode-se identificar detalhes tais como: joelhos valgos, braços em abdução e ante versão da pelve, além de uma leve inclinação do tronco para frente, provocando várias alterações posturais como a hiperlordose (KNOPLICH, 1996). Essas alterações podem ocorrer principalmente pelo uso incorreto da mochila escolar, acarretando problemas na coluna vertebral decorrentes de hábitos prejudiciais e que desencadeiam prejuízos significativos das estruturas musculoesqueléticas no qual há uma adaptação da postura de forma compensatória e a distribuição assimétrica de cargas (PAULA et al., 2009). Esse estudo, portanto, teve por objetivo verificar quais são as alterações posturais mais comuns em escolares pelo uso incorreto da mochila na literatura existente, ressaltando a importância do profissional fisioterapeuta na construção de hábitos posturais preventivos e saudáveis, evitando futuras deformidades. METODOLOGIA Esta pesquisa é um estudo de revisão bibliográfica, realizada em livros e em artigos publicados no período de 1988 a 2009 na base de dados do Lilacs, Mediline e Scielo, utilizando os descritores postura em adolescente, mochilas e saúde escolar. DESENVOLVIMENTO Alterações posturais e principais anormalidades da coluna A coluna vertebral tem duas funções básicas. A primeira indica que serve como eixo de sustentação da estrutura corporal e, para agilizar os movimentos, o corpo realiza complexos movimentos no sentido ânteroposteiror (flexão e extensão) como no sentido lateral e rotacional. Para que esses movimentos se realizem, verifica-se um deslocamento menor na porção anterior e um deslocamento intervertebral mais amplo na região posterior, onde localizam-se as apófises articulares, apófises transversas e posteriores. A segunda função da coluna vertebral está relacionada com a condução das estruturas nervosas através do canal vertebral e dos foramens intervertebrais. A estrutura medular nervosa como tal, estende-se desde C1 (primeira vértebra cervical) até L1 (primeira vértebra lombar). A partir desta, temos o “filum” terminal, que compõe-se do final da medula e estende-se com a cauda equina composta pelas raízes nervosas lombares e sacras. (VERDERI, 2003). Nossa postura pode ser definida como a posição que nosso corpo adota no espaço, bem como a relação direta de suas partes com a linha do centro de gravidade. Para que possamos estar em boa postura, é necessário uma harmonia/equilíbrio do sistema neuromusculoesquelético. Cada indivíduo apresenta características individuais de postura que podem vir a ser influenciadas por vários fatores: anomalias congênitas e/ou adquiridas, má 14


postura, obesidade, alimentação inadequada, atividades físicas sem orientação e/ou inadequadas, distúrbios respiratórios, desequilíbrios musculares, frouxidão ligamentar e doenças psicossomáticas. (VERDERI, 2003). A boa postura é aquela que melhor ajusta nosso sistema musculoesquelético, equilibrando e distribuindo todo o esforço de nossas atividades diárias, favorecendo a menor sobrecarga em cada uma de suas partes. (VERDERI, 2003). Há três tipos de desvios posturais na coluna vertebral, uma dessas é a escoliose, se define como uma curvatura lateral da coluna. A coluna possui curvatura no sentido ântero-posterior, sendo que uma curvatura no sentido lateral é considerada anormal. Como a coluna vertebral não pode inclinar-se lateralmente sem também fazer rotação, a escoliose envolve tanto a flexão lateral quanto a rotação. Algumas das causas da escoliose, envolvem mudanças na estrutura óssea, problemas neuromusculares que afetam a musculatura do tronco ou encurtamento de membro, como a perna, ou comprometimento da visão ou audição. (CARNEIRO et al., 2005). A hiperlordose, é uma curvatura com concavidade posterior, anormal pela sua intensidade, podendo ser causada por má formação óssea; posturas viciadas negligentes; falta de exercício físico; desgaste do tecido; mecanismo de compensação; reações de defesa antálgica; rigidez e contratilidade, tais fatores levam a consequências biomecânicas como: insuficiência dos músculos dos extensores por paralisia dos espinhais lombares; insuficiência dos músculos flexores, particularmente dos retos; insuficiência dos músculos do glúteo; retração do íliopsoas e peso das vísceras. (CARNEIRO et al., 2005). A hipercifose, uma curva torácica cifótica é considerada fisiológica quando é móvel e quando sua curvatura é comprimida em 20º e os 40º. Não há dados precisos quanto à amplitude da curva e o valor varia com relação a idade, ao sexo e a raça. Quando tal valor é excessivo, atribui-se a deformidade como hipercifose, sendo assim a curvatura é considerada patológica quando estão presentes características estruturais em nível ósseo. (CARNEIRO et al., 2005). É importante ressaltar a importância do cuidado com a postura desde a infância, como ato primordial: A postura corporal que um indivíduo terá na idade adulta está intimamente relacionada com os estímulos e com as experiências a que foi exposto durante todo seu passado. É o resultado da adaptação da espécie durante todo o processo evolutivo e das adaptações individuais que ocorrem durante o desenvolvimento neuropsicomotor para aquisição da posição ereta, contrapondo-se à ação da força da gravidade (DELOROSO, 1999, p.).

As doenças nas costas, mais especificadamente as dores na região lombar (lombalgia), são muito prevalentes na população adulta e também na população adolescente. Muitas vezes, a ocorrência da lombalgia precede ou é concomitante às alterações da postura corporal. Essa associação pode ser explicada pelo fato de que muitas posturas corporais adotadas no dia-a-dia são inadequadas para as estruturas anatômicas, pois aumentam o estresse total sobre os elementos do corpo, especialmente sobre a coluna vertebral, podendo gerar desconfortos, dores ou incapacidades funcionais. Muitos problemas posturais, em especial aqueles relacionados com a coluna vertebral, têm sua origem no período de crescimento e desenvolvimento corporais, ou seja, na infância e na adolescência. (CAMPOS; SILVA; FISBERG, 2002). Além disso, durante essas fases, os indivíduos estão sujeitos a 15


comportamentos de risco para a coluna, principalmente aqueles relacionados à utilização de mochilas e à postura sentada (para assistir à televisão e utilizar o computador, por exemplo). Tais comportamentos podem acarretar alterações posturais tanto laterais como ântero-posteriores.(CAMPOS; SILVA; FISBERG, 2002). Entendendo que a identificação precoce das alterações da postura corporal pode ser uma ação preventiva na área da saúde coletiva, justifica-se a inclusão de rotinas de avaliação postural na escola, uma vez que isso pode fornecer um diagnóstico inicial de alterações da coluna vertebral, que, se não identificadas precocemente, podem resultar em patologias da coluna vertebral, sendo hoje um problema de saúde pública e uma das principais causas de afastamento do trabalho. O sistema musculoesquelético, além de fatores genéticos e hereditários, sofre influência de fatores externos, principalmente durante a infância. As alterações posturais, até chegarem a uma estruturação óssea prejudicial, são passíveis de correção, exceto se manifestadas ou diagnosticadas após o término do crescimento ósseo. Cada indivíduo apresenta particularidades influenciadas pelo seu biotipo e a coluna vertebral sofre alterações quando submetida a vícios posturais, sobrepeso corporal, deficiências nutricionais, atividades físicas insuficientes ou incorretas, alterações respiratórias e musculares, distúrbios psicológicos ou anomalias congênitas e adquiridas. (CAMPOS; SILVA; FISBERG, 2002). É essencial que os profissionais ligados à saúde (principalmente professores de educação física, fisioterapeutas, por estarem diretamente relacionados às questões corporais de seus alunos e, muitas vezes, por serem os únicos a quem os adolescentes têm acesso) façam uma avaliação completa da postura dos adolescentes. Considerando que essas posturas avaliadas são mantidas por longos períodos de tempo, entende-se ser necessário um trabalho educativo no âmbito escolar para conscientizar os estudantes sobre a importância da manutenção de uma postura correta na posição sentada. Avaliar um programa de educação sobre a postura correta de sentar e identificaram que o professor treinado é um importante elemento para transferir e reforçar informações sobre as situações de risco do ambiente escolar, pois o contato diário dele com o aluno favorece o ensino aprendizagem, principalmente se o educador utilizar exercícios posturais que possibilitem aos escolares relacionarem a teoria com a prática. Assim, pesquisas que avaliem a saúde de crianças e adolescentes são importantes tanto para o diagnóstico precoce de possíveis patologias quanto para a criação de programas de educação em saúde, principalmente nas escolas. (CAMPOS; SILVA; FISBERG, 2002). Desta forma, considera-se importante que os profissionais da área de saúde estejam aptos a realizarem avaliações da postura, e que essas avaliações comecem a fazer parte do cronograma escolar. Com a inserção desse procedimento no âmbito escolar, alterações e patologias da coluna vertebral poderão ser identificadas precocemente. Ambiente escolar e postura A educação postural tem como finalidade possibilitar à pessoa ser capaz de proteger ativamente seus segmentos móveis de lesões dentro das condições de vida diária e profissional, seja no plano estático ou dinâmico. A educação postural não tem como objetivo limitar as atividades, mas ao 16


contrário, permitir sua realização dentro de um espaço de segurança gestual. (SIMON et al., 1988). Conforme relatos de Weeks (1989), os músculos esqueléticos dos vertebrados apresentam uma extraordinária capacidade para adaptarem-se às condições extrínsecas. Ocorrem modificações no perfil molecular e estrutural das fibras musculares dependendo da alteração na demanda funcional, portanto, a propriedade de um músculo se altera devido ao aumento ou decréscimo da atividade muscular. O aumento da atividade muscular tem sido comprovado por meio de estimulação elétrica crônica, em músculos submetidos a cargas, no treinamento físico ou durante o desenvolvimento normal. (ASTRAND, 1992). Souchard (1996) lembra que o homem, na tentativa de manter-se ereto, submete os músculos da estática, que são responsáveis pela diminuição da flexibilidade do sistema locomotor humano, a um estado de tensão constante. Os músculos da dinâmica, após a contração inicial, retornam completamente a um estado de relaxamento, sendo responsáveis pelos movimentos de grande amplitude. Souchard (1996) o autor enfatiza ainda, que o importante papel desempenhado pela respiração na manutenção da postura, tendo em conta que os músculos responsáveis pela inspiração são considerados da estática, pois desempenham função na manutenção do tórax, e que os músculos abdominais, os quais tracionam o tórax para baixo, exercem um papel dinâmico. Geralmente, os indivíduos adotam posturas inadequadas, as quais mantêm os músculos inspiratórios constantemente tensos. O não-relaxamento da musculatura inspiratória acaba provocando o seu encurtamento, o que dificulta o movimento de descida do tórax. Consequentemente, a expiração torna-se insuficiente e limita a ventilação pulmonar. Desta forma, acredita-se ser essencial em qualquer atividade física enfatizar a realização adequada do movimento expiratório, favorecendo o relaxamento da musculatura inspiratória. Conforme relatos de Nachemson (1975), a posição sentada é considerada a mais danosa para a coluna, pior até mesmo que a posição em pé. Este autor relata que a pressão no disco intervertebral em L3 é consideravelmente menor em pé do que na postura sentada. Analisando as diferentes posições sentadas, verificou-se que a pressão intradiscal é diminuída quando o indivíduo senta sem apoio de tronco, mas mantém as costas retas, havendo, ainda, uma diminuição adicional desta pressão quando os braços são apoiados nas coxas. O autor afirma, também, que o sentar com apoio de tronco é menos lesivo, pois a pressão no disco diminui. Verificou-se uma relação entre pressão discal e inclinação do encosto, pois, quando se aumenta a inclinação do encosto, a pressão diminui. No mesmo trabalho verificou-se que, quando se utiliza apoio na região torácica ocorre um aumento na pressão intradiscal, enquanto a utilização de um apoio lombar diminui a pressão no disco. Lelong, Drevet e Chevallier (1988), realizaram um estudo comparativo entre diferentes estações de trabalho sentado. Eles constataram a necessidade de adaptações ergonômicas nas estações de trabalho com a finalidade de permitir uma diminuição da pressão intradiscal na postura sentada. Os autores concluíram que a inclinação anterior do assento de 0º para 15º em relação à horizontal, adequação da altura da cadeira, inclinação em 10º da prancha de trabalho em relação à horizontal, posicionamento dos olhos a 40 cm da prancha de trabalho sem impor a flexão da coluna lombar, permitiram uma 17


diminuição em 50% na pressão intradiscal nas três últimas vértebras lombares, quando comparado com uma estação de trabalho habitual. Hira (1980) ressalta a importância da adequação do espaço livre existente entre a cadeira e a mesa escolar, sugerindo que este espaço deva ser adequado de maneira que permita ao estudante posicionar-se ereto e possibilite o entrar e sair da carteira. Contudo, este espaço não pode ser demasiadamente grande, o que levaria à inclinação anterior do tronco durante as atividades de escrita. Após a realização de um experimento com 40 estudantes, com altura entre 157,5 cm e 185,5 cm, recomendou a utilização de um espaço de 16 cm entre a cadeira e mesa escolar.Apesar de ser visível a necessidade de mobília adequada (cadeiras e mesas), tem-se observado que na vida diária, do ambiente escolar esta necessidade não é atendida, o que acaba se transformando num fator predisponente à deficiências da coluna. Alterações posturais decorrentes do uso indevido da mochila Segundo Sacco et al. (2003), a assimetria do ombro está relacionada ao suporte de mochilas escolares de maneira inadequada, lembrando que ajustes posturais e ações compensatórias surgem diante da aplicação dessas cargas assimétricas. O modo como cada indivíduo carrega a sua carga pode ser determinado por fatores como o peso, o tamanho e a forma do utensílio escolar, o tempo de transporte, o terreno, o clima, a característica e a constituição física do indivíduo. Os desequilíbrios posturais gerados nessas situações são agravados pelo fato de o peso carregado ser frequentemente desproporcional ao peso do próprio corpo e pelo uso inadequado da mochila, como no caso do apoio em um único ombro. Weis e Muller (1994), afirmam que o alto índice de crianças com alterações na coluna cervical indica que muitos alunos em idade escolar não apresentam postura adequada da cabeça durante as atividades, principalmente em sala de aula, o que promove acentuada curva na região cervical, prejudicando o equilíbrio corporal. Rosa Neto (1991) refere que a avaliação postural feita nas escolas, quando realizada por profissionais interessados em melhorar a saúde escolar, pode contribuir para a sociedade, evitando enfermidades futuras na coluna vertebral, melhorando o rendimento do aluno e promovendo o seu bem-estar físico e emocional. Este estudo epidemiológico atingiu o objetivo de identificar alterações posturais presentes em escolares do ensino público, sejam essas fisiológicas, como o desnível e a protrusão de ombro, a escápula alada, a hiperlordose lombar e a hiperextensão de joelho, ou alterações compensatórias, como a inclinação e a protrusão cervical, a rotação medial de fêmur e a cifose torácica. As compensações merecem atenção especial e precoce pela possibilidade de instalação, progressão e agravamento durante a adolescência e a vida adulta, assim como a persistência das alterações fisiológicas pode comprometer a postura nessas fases. Importância do profissional fisioterapeuta A Fisioterapia, como profissão de nível superior reconhecida e habilitada a prevenção de doenças, promoção e recuperação da Saúde, tem na sua formação as diretrizes curriculares cujo parâmetro e formar o profissional voltado a realidade social. Nesse sentido, ha destaque para o campo de conhecimento chamado Saúde Coletiva, ofertado como disciplina nos cursos 18


da área, e que possui, dentre outras tarefas, a articulação da Saúde com outras áreas de conhecimento, como as Ciências Sociais, o que de sobremaneira amplia o debate sobre essa problemática. (REBELATTO; BOTOME, 1999). A Fisioterapia, como subdivisão da Medicina, advém de aplicações médicas no campo da reabilitação, com consequente submissão a essa categoria profissional desde o reconhecimento dos cursos de Fisioterapia existentes, com o Parecer n. 388, de 1963, definindo o fisioterapeuta como auxiliar médico. Cabia a esse profissional as tarefas de caráter terapêutico, realizadas sob a supervisão médica. Contudo, o parecer citado afirma que o profissional e um técnico em Fisioterapia, mas que deveria ter uma formação de nível superior. Mesmo aparecendo como membro da equipe de reabilitação, ao fisioterapeuta não se atribui a incumbência do diagnóstico da doença ou da deficiência, podendo, naquele momento atuar somente quando seus serviços forem solicitados por um médico. Em 13 de outubro de 1969 foi emitido o Decreto-Lei no., 938, que prove sobre a atividade profissional do Fisioterapeuta, como profissão de nível superior, e a regulamentação profissional data de 1975 (REBELATTO; BOTOME, 1999). No Brasil, a Fisioterapia surge como possibilidade de cura ou de reabilitação das vítimas de acidentes de trabalho, reintegrando-as ao sistema produtivo ou atenuando seu sofrimento (REBELATTO;BOTOME, 1999). Além das características históricas da profissão, para Ragasson (2003), perpetua-se o profissional reabilitador devido a priorização das ações curativas pelos cursos de Fisioterapia existentes no Brasil. As dificuldades na condução do trabalho do fisioterapeuta, para Messias (1999), são os problemas na conduta de outros profissionais de saúde e as dificuldades de relacionamento com colegas da profissão. Segundo Trelha e col. (2002), o desenvolvimento de politicas de Saúde que insiram e valorizem o trabalho do fisioterapeuta dentro da equipe são necessárias para promover a integração do profissional na comunidade O Fisioterapeuta encontra-se, atualmente, reorientando a sua formação, com ética, competência técnica e maturidade social para o atendimento as demandas prioritárias em saúde da nossa população. As armas deste profissional são as próprias mãos, a inteligência, a emoção e a natureza, que se completam e se apoiam em estratégias técnico-cientificas de educação, par ticipação popular, prevenção, tratamento, desenvolvimento e recuperação da saúde através de diagnósticos funcionais, diagnósticos coletivos e sociais, abordagens corporais entre outras (BARROS, 2002, p. 9).

Um passo crítico para o futuro da profissão de fisioterapeuta é o desenvolvimento de estratégias diagnósticas condizentes com sua prática clínica. O profissional deve ser capaz de identificar as discrepâncias que existem entre o nível de função desejado pelo paciente e sua capacidade de alcançá-lo. Uma premissa importante é a de que o tratamento deve ser baseado no perfil funcional identificado pelo fisioterapeuta, pois o diagnóstico médico não provê informações suficientes acerca das consequências das doenças e de seus impactos em todas as dimensões da funcionalidade humana. Segundo Baron e Kenny (1986), uma variável moderadora é aquela que interfere e modifica a relação entre outras variáveis, podendo afetar a direção e a força da relação entre elas. No presente estudo, embora a dor do paciente aparentemente possa ser vista como fator que se relaciona diretamente com a satisfação, essa relação precisa ser explorada com a complexidade adequada. 19


Uma abordagem terapêutica abrangente permite que as necessidades dos indivíduos com doenças crônicas sejam completamente consideradas. Uma disparidade entre os problemas levantados por um indivíduo e os fatores objetivos avaliados pelos profissionais da reabilitação pode levar a estratégias inapropriadas de intervenção, dificuldades na comunicação e diminuição da adesão ao tratamento. Portanto, uma avaliação centrada no paciente permite aos profissionais da saúde a formulação dos problemas relevantes e dos objetivos específicos, o discernimento dos fatores que causam ou contribuem para esses problemas e o planejamento de intervenções mais apropriadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O período que compreende o crescimento do indivíduo é maior na infância e tende a desacelerar na adolescência até atingir o tamanho ideal na fase adulta. Durante essa primeira fase, a criança encontra-se no auge da vida escolar e costuma transportar o seu material escolar em mochilas, que geralmente têm um peso que ultrapassa a média de peso recomendada, o que tende a acarretar anormalidades posturais que combinadas com o mau hábito postural, aceleram tais alterações do músculo-esquelético, o que pode trazer uma predisposição às afecções da coluna vertebral no adulto, manifestadas por quadros álgicos. As alterações capazes de levar a compensações patológicas, como a escoliose, a cifose e a hiperlordose lombar, têm grande incidência em alunos da Educação Básica, pelo grande peso decorrente dos materiais escolares e da falta de conhecimento quanto a forma correta de transportá-los. Padrões posturais inadequados assumidos durante a fase escolar podem se tornar permanentes na idade adulta, caso não haja intervenção durante a fase de crescimento e estruturação óssea. Faz-se necessário a ocorrência de futuros estudos que graduem as variações consideradas normais durante o desenvolvimento da criança e do adolescente, principalmente no ambiente escolar, para que possa ser feita precocemente a identificação e a necessária intervenção diante do diagnóstico de uma alteração fora dos padrões de normalidade. REFERÊNCIAS ANDRADE et al. Mecanismo de lesão cerebral no trauma cranioencefálico. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 55, n. 1, p. 75-81, 2009. ASTRAND, P. O. Why exercise? Medicine and Science in Sports and Exercise, v. 24, n. 2, p. 153-62, 1992. BARON, R. M; KENNY, D. A. The moderatormediator variable distinction in social psychological research: conceptual, strategicand statistical considerations. Journal of Personality and Social Psychology, n. 51, p. 1173-1182, 1986. 20

BARROS, Fabio Batalha M. (Org.). O fisioterapeuta na saúde da população: atuacao transformadora. Rio de Janeiro: Fisiobrasil, 2002. CAMPOS, F. de S.; SILVA, A. S. da; FISBERG, F. Descrição fisioterapêutica das alterações posturais de adolescentes obesos. Disponível em: <http://www.brazilpednews.org.br/junh.2002/bnp0 6021.htm >. Acesso em: 12 maio 2011. CARNEIRO et al. Predominância de desvios posturais em estudantes de educação física da universidade estadual do sudoeste da Bahia. Disponível em: <http://www.uesb.br/revista/rsc/v1/v1n2a5.pdf>. Acesso em: 12 maio 2011.


CECIL, Russell L. Tratado de medicina Interna. 22. Elsevier: Rio de Janeiro, 2005. SIMON et al. Biomécanique du rachis lombaire et éducation posturale. Revue du Rhumatisme, v. 55, HIRA, D. S. An ergonomic appraisal of educational n. 5, p. 415-20, 1988. desks. Ergonomics, v. 23, n. 3, p. 213-21, 1980. SOUCHARD, E. Reeducação postural global: KNOPLICH, J. Enfermidades da coluna método do campo fechado. São Paulo: Ícone, 1990. vertebral. 2. ed. São Paulo: Panamed Editorial, 1986. O STRETCHING global ativo: a reeducação postural global a serviço do esporte. São Paulo, LELONG et al. X Biomécanique rachidienne et Manole, 1996. station assise. Revue du Rhumatisme, v. 55, n. 5, p. 375-80, 1988. TRELHA et al. O processo de trabalho do profissional fisioterapeuta. Revista Espaço para MESSIAS, I. A. O ambiente de trabalho e sintomas Saúde, Londrina, v. 4, n. 1, p. 15-21, dez. 2002. de um grupo de fisioterapeutas da cidade de São Disponível em: <http://www.ccs.uel.br/ Paulo. 1999. Dissertação (Mestrado em Saúde espacoparasaude>. Acessado em: 12 maio 2011. Publica) – Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999. VALENÇA, T. D. C. Anatomia e fisiologia da coluna vertebral. 2003. Disponível em: NACHEMSON, A. Towards a better <http://www.portalsaudebrasil.com/artigospsb/reu understanding of low-back pain: a review of mato134.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2011. the mechanics of the lumbar disc. Rheumatology and Rehabilitation, v. 14, p. VERDERI, E. A importância da avaliação postural. 129-43, 1975. Revista Digital, Buenos Aires, ano 8, n. 57, fev. 2003. PAULA et al. Análise ergonômica de carga <http://www.efdeportes.com/efd57/postura.htm>. transportada pelos estudantes no ensino Acesso em: 12 jun. 2011. fundamental e médio. São Paulo: Brasil, 2009. WEEKS, O. I. Vertebrate skeletal muscle: power RAGASSON, et al. Atribuições do fisioterapeuta source for locomotion. BioScience, v. 39, n. 11, no programa de saúde de família: reflexoes a partir p. 791-7, 1989. da pratica profissional. 2003. Disponível em: <http://www.abenfisio.com.br/arquivos.php>. WEIS, G. F.; MÜLLER, U. Dinamizando a prática Acesso em: 1 jun. 2011. do exame biométrico: cuidados necessários a uma postura correta. Reverend Professor, n. 40, p. 36REBELATTO, J. R.; BOTOME, S. P. Fisioterapia 44. 1994. no Brasil: fundamentos para uma ação preventiva e perspectivas profissionais. 2. ed. SãoPaulo: Manole, 1999. ROSA, N. F. Avaliação postural em escolares de 1ª a 4ª Série do 1° grau. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Brasília, n. 5, p. 7-11, 1991. SACCO et al. Biomechanical and kinesiological study of postures trough digital photographs: cases report. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, n. 11, p. 25-33, 2003. SCHETTINO et al. Paciente crítico-diagnóstico e tratamento. Manole: São Paulo, 2006. 21


22


Artigo ANÁLISE DO TRANSPORTE INTRAHOSPITALAR EM PACIENTES NEUROCRÍTICOS ADULTOS Andrêssa Keyty dos Santos¹ José Eduardo Adão²

RESUMO A monitorização neurológica intensiva se utiliza de vários procedimentos diagnósticos para avaliar as funções cerebrais e para que isso ocorra é necessário optar pelo transporte intra-hospitalar do paciente neurocrítico. No entanto, a transferência do paciente neurológico pode ocasionar dano cerebral maior do que já existe. Por esse motivo, o transporte intrahospitalar é uma ação que provoca instabilidade e pode gerar alterações ventilatórias e hemodinâmicas no paciente. Neste artigo, portanto, faz-se uma revisão da literatura sobre essas alterações e repercussões do transporte intra-hospitalar e o papel do fisioterapeuta intensivista na equipe de transporte, além de sugerir alguns cuidados para que a transferência do paciente possa ocorrer com maior segurança. Palavras-chave: Monitorização neurológica. Transporte intra-hospitalar. Fisioterapia intensiva. ABSTRACT The intensive neurological monitoring is used for many diagnostic procedures to assess brain function and for this to occur it is necessary to opt for intrahospital transportation of neuro-critical patients. However, the transfer of the patient can cause neurological brain damage greater than what already exists. Therefore the intra-hospital transport turns into a period of great instability and can lead to ventilation and hemodynamic changes in the patient. Therefore, in this article a review of the literature on these changes and effects of intra-hospital transport and the role of physiotherapists in intensive care transport team is done and also it is suggested that some care about the patient's transference may occur with greater security. Keywords: Neurological monitoring. Intra-hospital transport. Intensive physiotherapy.

¹Graduada em Fisioterapia. Pós-graduada em Fisoterapia Intensiva. Mestre em Terapia Intensiva. Docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão - FACEMA. ²Graduado em Fisioterapia. Mestre em Terapia Intensiva. Fisioterapeuta Orientador. 23


INTRODUÇÃO Muitos pacientes necessitam diariamente de um tratamento intensivo, principalmente quando ocorre a disfunção ou falência de um ou mais sistemas. Esses pacientes admitidos nas unidades de terapia intensiva são provenientes de várias unidades. Embora alguns sejam admitidos, algumas vezes, para simples monitorização, a maioria dos pacientes de terapia intensiva é gravemente enferma, e, geralmente, apresenta a insuficiência de um ou mais sistemas, o qual pode ser chamado, quando atinge o sistema neurológico, de paciente neurocrítico (CECIL, 2005; MAZARRO, 2004). O paciente neurocrítico internado apresenta frequentemente, nível de consciência e exame neurológico alterados e a melhora ou piora da doença de base determina alterações na condição neurológica. Portanto, a avaliação minuciosa e repetida fornece dados importantes na conduta terapêutica, ressaltando-se que o objetivo principal deve ser a prevenção da ocorrência de lesões secundárias ao sistema nervoso cerebral (CECIL, 2005; SCHETTINO et al., 2006). Nesse contexto, os pacientes acometidos gravemente necessitam, constantemente, de transferências para centros de maior complexidade ou mesmo de transporte intra-hospitalar para a realização de exames diagnósticos e cirurgias. Alguns destes métodos diagnósticos são realizados à beira-leito, porém nem todos podem ser levados ao paciente. É nesse momento que se faz necessário optar pelo transporte do paciente, adaptando-se equipamentos de suporte e monitorização. O transporte intra-hospitalar é um período de instabilidade e grandes riscos ao paciente, sobretudo em relação à ventilação e hemodinâmica (JAPIASSÚ et al., 2005). Logo, a decisão de transportar o paciente grave deve ser baseada na avaliação e ponderação dos benefícios e riscos potenciais (PEREIRA et al., 2007). Devido a tudo isso, torna-se imprescindível um bom planejamento, equipe bem treinada e multiprofissional, além de equipamentos confiáveis para submeter o paciente ao transporte intra-hospitalar e consequente riscos de instabilidade inerentes à doença de base (CHIAVIONE; ZUCHUELO, 2008). Além disso, vale ressaltar o importante papel do fisioterapeuta intensivista na equipe multidisciplinar durante o transporte intra-hospitalar, conceituado segundo Ferrari e col.(2005) e Ultra (2008) como sendo o profissional que se dedica ao paciente crítico, efetuando diagnósticos e terapias cinesiofuncionais. No transporte intra-hospitalar, o fisioterapeuta atua principalmente junto à equipe multidisciplinar na assistência ventilatória, monitorização hemodinâmica, respiratória e neurológica, assegurando um transporte mais efetivo (CHEST, 2000). O interesse pelo tema desta pesquisa 24


justifica-se na observação de que, apesar de toda a sofisticação das unidades de terapias intensivas, nem todos os cuidados e exames necessários ao paciente podem ser oferecidos à beira-leito, o que torna o transporte intra-hospitalar um momento de risco em potencial e muitas vezes, é negligenciado por muitos profissionais de saúde. Portanto, faz-se necessário um estudo direcionado que contribua para um bom planejamento do transporte intra-hospitalar e para que se possa evitar ou minimizar alterações hemodinâmicas e respiratórias graves inerentes ao transporte intra-hospitalar. A pesquisa tem a finalidade de identificar riscos potenciais e alterações possíveis ao paciente neurocrítico adulto durante o transporte intra-hospitalar e como a transferência pode ser realizada em segurança, otimizando a assistência ao paciente, além de ressaltar o importante papel do fisioterapeuta intensivista na equipe de transporte intrahospitalar. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado através de pesquisa em livros e em artigos publicados no período de 1998 a 2009, período em que se observaram maior ênfase sobre o tema, em periódicos indexados nas bases de dados Lilacs, Medline e Scielo, publicados em inglês, português e espanhol utilizando os descritores: transporte intra-hospitalar, monitorização neurológica, transferência. MONITORIZAÇÃO NEUROLÓGICA DURANTE TRANSPORTE A monitorização neurológica na UTI tem como principais objetivos promover o fluxo sanguíneo cerebral fisiológico, a oxigenação cerebral adequada, reduzir danos neurológicos secundários e manter o mecanismo de auto-regulação cerebral (CECIL, 2005). Para tanto, a oferta de oxigênio requer uma avaliação do fluxo sanguíneo cerebral (FSC) relacionado diretamente com a velocidade e pressão intracraniana (PIC) (SOCIETY OF CRITICAL CARE SUPPORT, 2004). A PIC é a pressão exercida por área da superfície interna da caixa craniana pelo conteúdo desse compartimento. Esse conteúdo é determinado pelo volume do parênquima encefálico, volume sanguíneo cerebral e volume liquórico. Portanto, o aumento de qualquer componente desses poderá ocasionar a hipertensão intracraniana (HIC). A pressão de perfusão cerebral (PPC) é calculada través da pressão arterial média (PAM) e da pressão intracraniana (PIC), descrito pelo seguinte cáuculo: PPC=PAM-PIC. Ela é um 25


dos determinantes do fluxo sanguíneo cerebral e dependente também da resistência vascular cerebral (RVC). A PPC deve ser monitorizada continuamente em todo paciente neurológico com HIC. A PPC precisa ser mantida acima de 60 mmHg segundo Schettino (2004) ou 70 mmHg de acordo com Knobel (2003), principalmente em pacientes com traumas de crânio, já o FSC (PPC /RVC), deve ser mantido entre 70-90 ml/100g/min (GUYTON et al., 2002;SCHETTINO et al., 2004). A monitorização neurológica intensiva, para tanto, utiliza recurso que avalia as funções, fluxo sanguíneo cerebral e pressões intracranianas, sabendo que o Doppler transcraniano e a tomografia computadorizada são procedimentos diagnósticos muito utilizados, além de outros, os quais levam muitas vezes a equipe a optar pelo transporte intra-hospitalar do paciente crítico para realização de tais exames (SCHETTINO et al., 2004; SOCIETY OF CRITICAL CARE SUPPORT, 2004). A monitorização contínua deve ser realizada pelo ECG, oximetria de pulso; monitorização intermitente da pressão arterial, frequência cardíaca, respiratória, capnografia, do fluxo e pressão da artéria pulmonar, pressão intracraniana e pressão venosa cerebral (PVC), além da pressão da via aérea, se o paciente estiver intubado (ALCÂNTARA et al., 2009; ANDRADE et al., 2009; MAZARRO et al., 2004). O paciente neurocrítico internado apresenta, geralmente, nível de consciência e exame neurológico alterados e a melhora ou piora da doença de base determina alterações na condição neurológica. Logo, a avaliação neurológica minuciosa e repetida fornece dados que podem determinar a tomada de conduta terapêutica (SCHETTINO et al., 2004; SOCIETY OF CRITICAL CARE SUPPORT, 2004). A avaliação neurológica deve ser periódica, avaliando-se através da Escala de coma de Glasgow, avaliação das pupilas, posturas anormais e déficts motores, além dos principais reflexos motores: reflexo fotomotor (II e III pares cranianos); reflexo corneopalpebral (V e VII pares cranianos); reflexo óculo-vestibular (VI e VIII) e reflexo faríngeo e o da tosse (IX e X pares cranianos) (KNOBEL et al., 2003). Portanto, o transporte de um paciente neurológico pode ocasionar dano cerebral maior do que o já existente e contribuir ou prolongar os possíveis deficts neurológicos futuros. São as lesões neurológicas secundárias que afetam de forma negativa o final da lesão encefálica e elas são bastante comuns durante o transporte do paciente grave. A intensidade e duração de episódios de hipoxemia, hipotensão arterial e febre são os fatores mais preditivos de mortalidade. Portanto, devem-se ter os seguintes cuidados: manter cabeceira elevada (até 30°);imobilizar cervical, se houver suspeitas de lesões medulares;evitar torções cervicais;proteger vias aéreas;oferecer oxigênio e 26


evitar hipercapnia;Evitar hipotensões, mantendo estabilidade do paciente;manter o paciente sem febre, anemia, glicemia e distúrbios do sódio plasmático e levar droga anticonvulsivante;monitorar PIC, se possível (JAPIASSÚ et al., 2005). FISIOTERAPEUTA INTENSIVISTA NO TRANSPORTE INTRAHOSPITALAR O fisioterapeuta intensivista tem sido cada vez mais solicitado nas Unidades de Terapia Intensiva, visto que seus conhecimentos e as técnicas fisioterapêuticas tem participação importante na implantação e supervisão de ventilação invasiva ou não-invasiva, no processo de desmame, na monitorização hemodinâmica e neurológica, além da reabilitação pneumofuncional e musculoesquelética (AFIB, 2005). Entende-se que essa especialidade foi criada a partir do crescimento da complexidade da área, aliado ao desenvolvimento tecnológico na atenção do paciente crítico (ULTRA, 2008). De acordo com a recomendação da Sociedade de Terapia Intensiva Brasileira (SOBRATI) entregue à ANVISA (Associação Nacional de Vigilância Sanitária), deve haver a presença do fisioterapeuta responsável intensivista durante 24 horas na UTI, sendo este exclusivo em unidade para cada 10 leitos, definindo alguns aspectos da atuação fisioterapêutica intensivista: oxigenoterapia e assistência ventilatória; manobras de higiene brônquica;desmame ventilatório; manobras intensivistas e diagnóstico fisioterapêutico intensivo (ULTRA, 2008). Segundo a Chest (2000),o fisioterapeuta na UTI deve realizar o correto posicionamento do paciente , realizar a mobilização, hiperinsuf lação manual, percussão, vibração,palpação,aspiração,monitorização hemodinâmicas, reapiratórias e neurológicas favorecendo a segurança e a reabilitação do paciente no leito e em situações que o paciente necessite de maiores cuidados (STILLER et al., 2000). A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é definida como área de atendimento ao paciente crítico, onde se necessita de atendimento intensivo realizado por uma equipe multiprofissional (AFIB, 2005), inclusive o fisioterapeuta. Essa equipe precisa ser bem definida, experiente e com suas competências bem definidas. Logo, o fisioterapeuta intensivista, como membro integrante desta equipe, realiza o tratamento de pacientes graves portadores de várias complicações sistêmicas e o transportes intra-hospitalar provocam risco, necessitando de uma suporte ventilatório manual ou não, podendo minimizar as suas intercorrências e até o risco de óbito durante o transporte (ASSOBRAFIR, 27


2006). Portanto, tendo em vista o devido conhecimento das alterações que levam ao aumento da gravidade dos pacientes da UTI, o fisioterapeuta intensivista é essencial na equipe de transporte, ou seja, na realização da remoção do paciente (MAZARRO et al., 2004). FASES DO TRANSPORTE INTRA-HOSPITALAR O transporte intra-hospitalar do doente crítico é um procedimento frequente que representa um risco adicional, devido à incapacidade de manter o mesmo grau de vigilância, o mesmo nível de intervenção e equipamento especializado disponível na unidade de cuidados intensivos. Por isso, deve-se dar atenção especial ao pessoal especializado, ao equipamento e tipo de monitorização utilizados no transporte intra-hospitalar. Alguns estudos revelam uma incidência de 6 a 70% de intercorrências durante transporte interno, sendo que 8% destes são situações agudas ou ameaçam diretamente a vida do paciente, necessitando de uma intervenção mais imediata (MARTINS; SIMÕES, 2000). O transporte intra-hospitalar é composto da fase preparatória, fase de transferência e pós-tranferência. A fase preparatória avalia a gravidade e condição atual do paciente para promover maior estabilidade hemodinâmica, certifica-se se há mesmo a necessidade de optar pelo transporte e de que o local de destino esteja pronto e adequado para recebê-lo. Nesta fase, devem-se verificar os equipamentos necessários para o transporte tais como: tubo endotraqueal, dispositivos de ventilação, drogas, monitor de transporte, bombas de infusão, drenos, cateteres e sondas (SCHETTINO et al., 2006; SEYMOUR et al., 2008; PEREIRA et al., 2007). A fase de transferência, porém, tem o objetivo de manter as condições fisiológicas do paciente mediante a monitorização contínua dos sinais vitais, com registro eletrocardiográfico, pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória e oximetria de pulso. Deve haver, nesta fase, um nível mínimo de monitorização para o transporte do paciente como o eletrocardiograma, freqüência cardíaca e respiratória, oximtria de pulso, e pressões arteriais, além de capnografia, pressão da artéria pulmonar, pressão intracraniana, pressão venosa central, pressão capilar pulmonar e débito cardíaco. Em pacientes intubados deve certificar-se do posicionamento da cânula e se o ventilador mecânico está devidamente programado e com alarmes ligados. Na fase pós-transferência, o centro deve ser informado pela equipe de transporte sobre as condições do paciente durante transporte e também das intercorrências, nesta fase, portanto, deve-se ter maior atenção nos parâmetros hemodinâmicos e respiratórios (LACERDA et al., 2001; SCHETTINO et al., 28


2006; SEYMOUR et al., 2008; PEREIRA et al., 2007). RISCOS E ALTERAÇÕES RESPIRATÓRIAS E HEMODINÂMICAS NO TRANSPORTE INTRA-HOSPITALAR O transporte intra-hospitalar é necessário para a realização de testes diagnósticos, incluído tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética, angiografia, entre outros para intervenção terapêutica (CHIAVONE; ZUCHELO, 2008). O mesmo envolve uma série de riscos, sendo o problema mais frequente a falha no controle das funções cardiorrespiratórias, resultando em instabilidade fisiológica com prejuízo da oxigenação tecidual(PEREIRA et al., 2007). Transportar o paciente na UTI é um desafio, porque a severidade das doenças neurológicas e a continuidade da terapia, em particular a ventilação mecânica, está associado com alta incidência de complicações e mais relacionado com a condução do paciente ou problemas na equipe (MAZA, 2008). Porém, o risco do paciente durante o transporte pode ser minimizado por meio de um planejamento cuidadoso, qualificação do pessoal e da equipe e seleção de equipamentos adequados (PEREIRA et al., 2007; CHIAVONE; ZUCHELO, 2008). A predição de risco para um grupo específico de pacientes não é bem determinado, ou seja, não se sabe qual o grupo de pacientes que temos maior deteriorização fisiológica durante o transporte. Contudo, o grupo de pacientes com maior deteriorização do quadro clínico pode ser a falência respiratória e baixa complacência pulmonar, identificados por necessitarem de elevada pressão positiva durante a ventilação mecânica invasiva (CARVALHO et al., 2000; PEREIRA et al., 2007). Existe também a possibilidade de eventos de menor relevância, porém, potencialmente fatais: como a desconexão da leitura do eletrocardiograma, falha no monitor, infiltração do tecido subcutâneo pela perda do acesso venoso e desconexão de drogas vasoativas e sedação. Além disso, o desenvolvimento de métodos diagnósticos portáteis pode ainda diminuir a necessidade de transporte dos pacientes críticos (PEREIRA et al., 2007). Em 1998, Bekar et al. avaliou prospectivamente sete pacientes neurocríticos, com lesões secundárias, durante transporte no hospital para realização de exames computadorizados, no qual foram monitorados a pressão intracraniana, pressão arterial e gasometria arterial. Vários estudos tem demonstrado que o transporte, em geral, causa insultos cerebrais isquêmicos em muitos pacientes. Esse estudo investigou os efeitos do transporte dentro do hospital sobre a pressão intracraniana em pacientes com escala de coma de Glasgow abaixo de 8. A idade média dos pacientes foi 29


de quarenta e seis anos. A pressão intracraniana, pressão arterial invasiva, pressão venosa central e eletrocardiograma foram monitorados continuamente e a saturação foi realizada por oximetria de pulso, durante o transporte, a posição da cabeça do paciente foi mantida entre 25 e 30 graus. A distância percorrida foi de 300 metros e a duração do transporte foi de 45 minutos. Foram observados um aumento de 27% da PIC, embora a redução média da PaCO2 tenha sido de 16%, os níveis da mesma aumentaram 42% em determinados momentos. A variação da PA e gasometria não tiveram significância estatística. O principal problema relacionado ao transporte do paciente neucrítico tem origem na sua instabilidade cardiovascular e parâmetros respiratórios. As variações hemodinâmicas podem estar relacionadas com a hipertensão intracraniana. Em suma, apesar da sedação e analgesia adequada, o aumento da PaO2 e diminuição da PaCO2 podem ser explicados pela ventilação manual irregular. Logo, os parâmetros tais como a PIC, ECG, PAI (pressão arterial invasiva) e saturação periférica devem ser monitorados durante o transporte intra-hospitalar de pacientes neurocríticos cirugiados internados na UTI. Em um estudo prospectivo realizado por Martins e Simões (2000), foram monitorizados os seguintes parâmetros hemodinâmicos e ventilatórios antes e depois do transporte de pacientes internados na UTI: arterial média, frequência respiratóra, ph, pressão parcial de oxigênio no sangue arterial, saturação arterial de oxigênio e bicarbonato, assim como as intercorrências durante o mesmo. Sabendo-se que foram monitorizados e mantida toda terapêutica em perfusão por bombas infusoras durante o transporte, e suporte vetilatório realizado pelo ventilador portátil ou em respiração espontânea com suplemento de O2. Foram analisados 46 transportes, 24 homens e 22 mulheres, com idade média de 52, sendo 12 politraumatizados, 12 respiratórios, 11 cirúrgicos, 7 neurológicos, dentre outros. Em sua análise, não houve diferenças estatísticas significativas nas variáveis estudadas. No entanto, verificou-se intercorrências em 37% dos transportados, com alterações ventilatórias em 50 % dos transportados, e alterações no equipamento(18%), ao contrário da literatura, que refere a falha com equipamentos de suporte por cerca de 1/3 de todas as intercorrências. Em outro estudo observacional prospectivo não randomizado em UTI mais recente, Chiavone e Zuchelo (2008), analisaram 58 transportes, nos períodos pré- transporte e pós-transporte, foram avaliados a pressão arterial, frequência respiratória, pressão sistólica e diastólica, pressão arterial média, saturação, parâmetros no ventilador mecânico, cálculo da relação PaO2/FiO2, duração do transporte, distância percorrida, profissionais envolvidos e intercorrências. Neste estudo, o grupo diagnóstico predominante foi da área de 30


neurologia, num total de 38 transportes (65,5%), seguidos por pneumologia (10,3%). Dos pacientes transportados, 39 (67,2%) apresentaram pelo menos um episódio de alteração cardiorrespiratória relevante. Todos os transportes contaram com ajuda de 2 médicos, auxiliares em todos os transportes, estando o fisioterapeuta em 22 transportes e o enfermeiro em 8. A duração média foi de 52 min e a distância percorrida foi de 325 m. Foram observados eventos adversos em 44 transportes, num total de 112 episódios, com a natureza dos eventos estando na falha de equipamento, falha da equipe e eventos adversos relacionado diretamente com o paciente. Através deste estudo puderam-se perceber as alterações cardiorrespiratórias em mais de 67% dos pacientes, o que preocupa não só pelas alterações, mas também pela precariedade de monitorização, a qual, muitas vezes, contava-se apenas com um oxímetro portátil. Alguns autores relatam a tendência à diminuição da oxigenação durante o transporte, mas neste estudo, não foram encontradas alterações significativas na PaO2 e SaO2, provavelmente porque eles geralmente aumentam previamente a FiO2. Porém, na relação PaO2/FiO2, quase metade (44,8%) apresentou diminuição da ralação. Não houve diferenças estatísticas significativas entre a ventilação portátil e a manual. Neste trabalho, dos 112 eventos adversos, 16 foram relacionados a falha do equipamento e falha da equipe, principalmente com relação à comunicação. Em outros estudos da Intensive cate med, alguns autores relataram 191 episódios, sendo dos 61% relacionados a falha de equipe. Um outro estudo de coorte, prospectivo, realizado por Mazza et al. (2008) foram realizados 37 trasnsferências realizadas em 26 pacientes com idade média de 46,6 anos, sendo que as principais causas de internação na UTI foram trauma (42,4%) e neurocirurgia eletiva(24, 2%) e doença pulmonar foram 42,4% de todas as transferências. A duração média da transferência foi de 43,4 minutos e os parâmetros ventilatórios e gasométricos antes e depois dos transportes foram medidos. Houve um aumento de CO2 e da relação PaCO2 /FiO2 significativos. Em 33% dos casos, o uso de drogas vasoativas foi realizado antes e durante o transporte. Além disso, houve uma tendência de aumento da frequência cardíaca, sem alterações significativas na PAM, as complicações ocorreram em apenas 32,4% de todas as transferências, consistindo principalmente de agitação. SEGURANÇA NO TRANSPORTE INTRA-HOSPITAR Estudos de Maza et al (2007) demonstram que o transporte intrahospitalar pode ser feito de forma segura, desde que com parâmetros hemodinâmicos e respiratórios fidedignos. Neste estudo, em particular, o 31


baixo índice de complicações foi possível devido a uma equipe multidisciplinar treinada e equipamentos próprios. A Critical care em 2004 (WARREM et al.) propôs ainda um guia (protocolo) de transporte intra-hospitalar para transportar o paciente crítico, no qual mensura e assegura ao paciente segurança intensiva, baseado na comunicação pré-tranporte, equipamento de transporte próprios, equipe multidisciplinar de qualidade e bem treinada. Nesse estudo, somado a outros não menos importantes, efeitos adversos ocorreram em 70% dos transportes incluindo parada cardíaca, hipertensão arterial, aumento da pressão intracraniana, arritmias e problemas respiratórios. A prevenção desses problemas no transporte intra-hospitalar, uso de protocolos e organização do transporte, pessoal, equipamento e monitorização garantem um transporte seguro (WAYDHAS et al., 1999; WARREN et al., 2004). Para Waydhas et al. (1999) e Warren et al. (2004) a coordenação e comunicação pré-transporte, antes do transporte, deve confirmar o local de recebimento se está pronto para receber o paciente, e, outros membros do transporte, como o fisioterapeuta respiratório deve assegurar e dar todo o apoio necessário para que a transferência ocorra. Outra vertente não menos importante é a aparelhagem, os equipamentos em anexos devem conter: monitor de pressão arterial, oxímetro de pulso, monitor cardíaco e desfibrlilador, equipamentos para manutenção de vias aéreas, ventiladores mecânicos e portáteis, fonte de reserva de O2, drogas de reanimação e todos os equipamentos precisam estar com suas baterias totalmente recarregadas. O acompanhamento durante transporte deve constar de monitoração contínua de eletrocardiograma, oximetria de pulso contínua, medição periódica de pressão arterial, pulso, frequência respiratória, capnografia, se possível e necessário a monitorização por catéter de PIC. Para que o transporte intra-hospitalar torne-se seguro, um plano de transferência global pode ser desenvolvido baseado em uma equipe multidisciplinar formanda por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e o serviço de emergência e transporte. Além disso, a equipe tem que se comunicar de forma eficiente (LACERDA et al., 2001). Logo, o transporte intrahospitalar basea-se na necessidade de cuidados de especialistas e tecnologia não-disponíveis no local, requerendo uma avaliação de vários fatores para minimizar ao máximo os riscos que envolvem desde a indicação para transporte e gravidade do doente, condições próprias do meio de transporte, distância percorrida, tempo gasto, relação custo benefício, equipe multidisciplinar e monitorização das condições respiratórias até condições neurológicas(SCHETTINO et al., 2006).

32


CONSIDERAÇÕES FINAIS Através da análise do transporte intra-hospitalar em pacientes neurocríticos pôde-se perceber que a referida ação propicia riscos adicionais ao paciente, principalmente devido à possíveis danos neuronais secundários impostos ao transporte e suas repercussões hemodinâmicas e respiratórias. As alterações hemodinâmicas e respiratórias mais comuns encontradas foram alterações na PaCO2, aumento de frequêcia cardíaca e respiratória, alterações na relação PaO2/FiO2, na pressão intracraniana, quando era possível mensurar, e de forma menos siginificativa as alterações na pressão arterial e gasometria, lembrando que não houve alterações na ventilação manual ou portátil. Além disso, a incidência de ocorrência é ainda alta, e, muitas vezes ligadas à falha de equipamento ou falta de comunicação na equipe de transporte. Vale ressaltar que o fisioterapeuta exerce um importante papel na remoção do paciente, tornando o transporte mais seguro. Quanto à segurança do transporte intra-hospitalar, a literatura recomenda algumas medidas para tornar o transporte intra-hospitalar com menores riscos de complicações tais como alguns guias hospitalares de transporte, ressaltando a importância da checagem da aparelhagem, incluindo todos os aparatos necessários para se monitorizar o paciente neurocrítico, além de uma equipe multidisciplinar bem treinada e harmonizada. REFERÊNCIAS

98-101, 1998.

CARVALHO, Carlos R. R. Ventilação mecância. ALCÂNTARA, et al. Avanços na Monitorização Atheneu: Rio de Janeiro, 2000. v. 1. neurológica intensiva: implicações para enfermagem. Revista Brasileira de enfermagem, CECIL, Russell L. Tratado de medicina interna. Brasília, v. 62, n. 6, p. 894-900, 2009. 22. ed. Elsevier: Rio de Janeiro, 2005. ANDRADE et al. Mecanismo de lesão cerebral no CHIAVONE, Paulo; ZUCHELO, Léa. Transporte trauma cranioencefálico. Revista da Associação intra hospitalar de pacientes sob ventilação Médica Brasileira, São Paulo, v. 55, n. 1, p. 75-81, invasiva: repercussões cardiorrespiratórias e eventos 2009. adversos. São Paulo: Faculdade de ciências médicas da Santa Casa de São Paulo, 2008. ASSOCIAÇÃO Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em terapia FISIOTERAPIA intensiva: nova especialidade e intensiva (ASSOBRAFIR). Relatório final do modelo educacional. Revista Intensiva, 2005. v.1. levantamento sobre o perfil dos isioterapeutas que atuam nas unidades de Terapia Intensiva GUYTON, Arthur; HALL, John. Tratado de do Brasil, 2006. fisiologia médica. 10. ed. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2002. BEKAR et al. Secondary insults during intrahospital tranport of neurosurgical intensive care patients. Neurosurg Rev, New York, v. 21, p. JAPIASSÚ, André Miguel. Transporte Intra33


hospitalar de pacientes graves. Rio de janeiro, RJ, Revista Brasileira de Terapia Intensiva, São Paulo, v. 17, n. 3, 2005. KNOBEL, Elias et al. Terapia intensiva: neurologia-monitorização neurológica intensiva. Atheneu: São Paulo, 2003. LACERDA et al. Transporte de pacientes: intrahospitalar e inter-hospitalar: curso de educação à distância em anestesiologia. Ribeirão Preto, 2001. Disponível em: <http://sba.com.br>. Acesso em: 02 jul. 2010. MAZA et al. Safety in intrahospital transportation: evaluation of respiratory and hemodynamic parameters: a prospective cohort study. Med J, São Paulo, v. 126, n. 6, p. 319-22, 2008. MAZARRO, Celiandro. Fisioterapia intensiva no transporte intra-hospitalar hospital Santa Cruz. Disponível em: <http: //www.Sobrati.com.br/trabalho4-jan-2004.htm>. Acesso em: 25 jun. 2010. NOGUEIRA et al. Transporte intra-hospitalar do paciente crítico adulto: elaboração de um website e de um protocolo de condutas. ConScientiae Saúde, São Paulo v.3, p. 103-111, 2004. PEREIRA et al. Transporte intra-hospitalar do paciente crítico. Simpósio de cirurgia de urgência e trauma. v. 40, n .4, p. 500-8, 2007. cap. 2. SEYMOUR et al. Adverse events during rotary-ing transport of mechanically ventilated pacients: a retrospective cohort study. Critical care, Philadelfhia, v. 12, n. 71, p. 1-10, 2008. SCHETTINO et al. Paciente crítico-diagnóstico e tratamento. Manole: São Paulo, 2006. SIMÕES, Cheila; MARTINS, Sandra. Alterações hemodinâmicas e ventilatórias do transporte intra-hospitalar do doente crítico: unidade de cuidado intensivos- hospital garcia de orta almada.,2000. SOCIETY of critical care medicine. Fundamental Critical care support couser yext-trird edition 1998. 1ª edição em português. São Paulo, 2003. 34

STILLER, K. Physiotherapy in Intensive Care. Chest. v. 6, p. 1801-18013, 2000. ULTRA, Rogério Brito. Fisioterapia intensiva. Cultura Médica: Rio de janeiro, 2008. WAYDHAS, Chistian. Intrahospital transport of critically ill patients. Crit care, v. 3, p. 83-89, 1999.


Artigo O CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS DO TIPO ANFETAMINA POR CAMINHONEIROS NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO Cristiano dos Santos Coutinho¹ Hálmisson D'árley Santos Siqueira² Francisléia Falcão França Cleonilma dos Santos Coelho4 Francisco das Chagas Araujo Sousa 5

RESUMO O estudo objetivou analisar o consumo de substâncias do tipo anfetamina por caminhoneiros no exercício da profissão, apresenta metodologia quantitativa de caráter descritivo-exploratório, aplicada através de um questionário com perguntas abertas e fechadas, com amostra de 100 caminhoneiros na cidade de CaxiasMA. Constatou-se, 93% utilizam anfetaminas com a finalidade de evitar o sono e o mais consumido é Femproporex com 68%, e os postos de combustíveis é o local onde mais adquirem essas substâncias Quanto ao tempo de uso 35% dos caminhoneiros afirmaram fazê-lo de 10 e 15 anos. Portanto, os caminhoneiros tem pouco conhecimento sobre anfetaminas, favorecendo consumo elevado da droga citada. Palavras-chave: Anfetamina. Caminhoneiros. Saúde.

ABSTRACT The study aimed to analyze the consumption of amphetamine-type substances by truckers in the profession, quantitative methodology was a descriptive and exploratory, using a questionnaire with open and closed with a sample of 100 truckers in the city of Caxias-MA. It was noted, 93% used amphetamines in order to prevent sleep and is more consumed with femproporex 68%, and gas stations is the most popular place to get these substances As the time of use 35% of truckers admitted to such 10 and 15 years. So truckers have little knowledge about amphetamines, favoring high consumption of amphetamines Keywords: Amphetamine. Truck drivers. Health.

¹Graduado em Enfermagem. Especialista da Rede Municipal de Saúde. ²Professor substituto do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. ³Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. 4 Acadêmica do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. 5 Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão - FACEMA.

35


INTRODUÇÃO Brody et al. (1997) aponta que as anfetaminas são compostos sintéticos estruturalmente relacionados aos neurotransmissores do grupo das catecolaminas e aos alucinógenos substituídos das fenetilaminas e são mais comumente objeto de abuso. Freitas e Silva (2002) sustentam que, a anfetamina surgiu no século XIX, onde foi produzida na Alemanha em 1887. Cerca de 40 anos mais tarde este fármaco começou a ser utilizado pelos médicos para aliviar o cansaço, alargar as passagens nasais e bronquiais e estimular o sistema nervoso central. Durante a segunda guerra mundial, tanto os aliados como as potências do eixo utilizaram sistematicamente as anfetaminas para aumentar o moral e a resistência das tropas e eliminar a fadiga de combate de suas forças militares. O consumo destes medicamentos ocorre em grande escala, principalmente porque são medicamentos que, apesar de serem comercializados apenas sob prescrição médica, são conseguidos facilmente na maioria dos estabelecimentos farmacêuticos sem apresentação de qualquer documentação especifica. O interesse em realizar este estudo se deu devido à convivência com profissionais condutores de caminhão e a ouvir destes relatos da alta incidência no consumo por parte de colegas de profissão de substâncias do tipo anfetamina de forma indiscriminada, sem apresentar nenhuma preocupação com as consequências desse uso. O objetivo deste trabalho é analisar o consumo de substâncias do tipo anfetamina por caminhoneiros no exercício da profissão, verificando seu conhecimento acerca dessas substâncias, identificando uma possível dependência dos usuários, verificando os principais efeitos decorrentes do uso, identificando as substâncias mais utilizadas, assim, como sua utilização em associação com outras substâncias e ou medicamentos. Neste contexto, encontrar meios de diminuir o consumo desordenado dessas substâncias, minimizando seus danos e gerando maior qualidade de vida é de fundamental importância. REFERENCIAL TEÓRICO Anfetaminas De acordo com Brody et al. (1997), as anfetaminas são compostos sintéticos que são estruturalmente relacionados aos neurotransmissores do 36


grupo das catecolaminas e aos alucinógenos substituídos das fenetilaminas. O surgimento da anfetamina ocorreu no século XIX, onde foi produzida pela primeira vez na Alemanha, em 1887. Os médicos passaram a utilizá-lá, 40 anos mais tarde com intuito de diminuir a fadiga, alargar as passagens nasais e bronquiais e estimular o sistema nervoso central. Segundo Oga (1996 apud SILVA, 2002), as anfetaminas formam um grupo de compostos derivados da β-fenitilamina, sendo estes apresentados: Anfetaminas, Clorfentermina, Dietilpropiona, Efedrina, Fenfluramina, Fenilefrina, Femiprazina, Femproporex, Fentermina, Metanfetamina. Esta classificação é de acordo com a estrutura química das substâncias, portanto deixa de lado outras substâncias que aparecem como anfetaminas ou substâncias correlatas. Farmacologia das anfetaminas Farmacocinética As anfetaminas são rapidamente absorvidas do trato gastrointestinal e distribuídas na maior parte dos tecidos, atingindo elevadas concentrações no sistema nervoso central e no liquor. Apesar de serem metabolizadas por diversas vias metabólicas, uma considerável parte das anfetaminas é excretada na urina em forma inalterada. (SILVA, 2002, p. 422).

Conforme demonstrado, a rápida absorção pelo trato gastrintestinal, que transfere os fármacos dos locais onde estes foram inseridos para os líquidos que circulam no corpo, principalmente o sangue aumenta a eficácia de distribuição para os tecidos que irão ser afetados pelas ações das substâncias administradas. Farmacodinâmica Katzung (2005) relata que, as anfetaminas provavelmente atuam em sua grande maioria ao aumentar a liberação de neurotransmissores catecolaminérgicos, incluindo a dopamina, ao reverter o transportador vesicular, atuam provocando a liberação de dopamina dentro da célula no interior da terminação e modifica a direção do transportador, de tal forma que a dopamina passa a ser liberada na sinapse mais por transporte reverso que por exocitose comum, as anfetaminas ainda impedem o metabolismo intracelular 37


da dopamina pela monoaminaoxidase (MAO) aumentando a concentração de dopamina na sinapse. Conforme observado acima, devido sua facilidade de penetrar no sistema nervoso central, as anfetaminas atuam na liberação de neurotransmissores (que são substâncias responsáveis pelas transmissões ou comunicações entre os neurônios) das vesículas sinápticas, principalmente a dopamina e a norepinefrina, os quais se acumulam nas sinapses, também em decorrência da inibição da monoaminaoxidase (MAO). Como corrobora Oga (1996), os anfetamínicos são inibidores da monoaminaoxidase (MAO), uma enzima responsável pela oxidação da norepinefrina e serotonina. Efeitos adversos das substâncias do tipo anfetamina Como afirma Silva (2002), para qualquer substância farmacologicamente ativa, na faixa de sensibilidade da estrutura afetada pelo fármaco, a intensidade do efeito é diretamente proporcional à sua concentração no local de ação (que são as estruturas acometidas pelo fármaco). Sendo assim todas as substâncias farmacológicas com poder de atuação preservado e atuando dentro dos limites da aceitabilidade do organismo, terá seu efeito aumentado conforme aumentar sua dose de consumo. Uso indiscriminado das substâncias do tipo anfetamina por caminhoneiros A utilização de substâncias para fins farmacêuticos é comum em nossa sociedade, fato esse que vem ocorrendo há milênios, seja por leigos ou por profissionais capacitados ajudando a combater várias patologias e melhorando a qualidade de vida das pessoas. Para Laporte et al.(2006 apud MELO et al., 2006), no inicio do século XIX a maioria dos medicamentos possuiam origem natural, com sua estrutura química e natureza desconhecidos. Segundo Melo et al. (2006), depois de 1940 aconteceu uma introdução de novos fármacos, com possibilidades de cura para patologias até então fatais, principalmente às doenças infecciosas. Dentre a produção de vários fármacos, principalmente devido ao desenvolvimento das ciências biológicas, está a sintetização das anfetaminas e consequentemente sua utilização, essas drogas são bastante utilizadas pelos 38


caminhoneiros (por inibir o sono), estudantes (devido ao aumento do poder de concentração), frequentadores de raives (por gerar mais energia ao organismo), adolescentes obcecados por emagrecer (devido ocasionar perda de apetite e consequentemente de peso) e por pessoas que necessitam de criatividade em seu trabalho (devido a sua ação de estimular as ideias). Para Brasil (2003 apud SOUZA; PAIVA; REIMÃO, 2008), nas estatísticas de acidentes de trânsito nas rodovias federais do país, em 2003, ocorreram 104.863 acidentes, envolvendo 45.796 caminhões (43,7%), o total de vitimas fatais foi 5.780. Quanto às causas presumíveis de acidentes fatais, em 2.372 casos o motivo foi falta de atenção, em 80, adormecimento ao volante. Os condutores de caminhão sob efeito de estimulantes do tipo anfetamina estão susceptíveis ao adormecimento após o efeito agudo do estimulante assim como a causa de déficit de atenção prejudicando seu serviço. A utilização de substâncias do tipo anfetamina por caminhoneiros é um grave problema tanto para os usuários como para sociedade em geral, que fica exposta às consequências dessa atitude. MATERIAL E MÉTODOS Estudo descritivo-exploratório de natureza quantitativa, com o objetivo de analisar o consumo de substâncias do tipo anfetamina por caminhoneiros no seu ambiente de trabalho. A pesquisa foi desenvolvida em um posto de combustíveis (Posto Frazão) o qual foi escolhido devido ser localizado em um trecho da BR-316 que corta a cidade de Caxias-MA. A amostra da pesquisa incluiu 100 condutores de caminhão em atividade nas rodovias brasileiras escolhidos de forma aleatória. O critério de inclusão para participação da pesquisa foi de ser usuário de substâncias do tipo anfetamina no exercício de sua profissão. A entrevista foi realizada quando os caminhoneiros pararam no citado posto de combustíveis para abastecer, descansar, alimentar-se, entre outras atividades. Cada entrevista durou em média 25 minutos, sendo que os sujeitos foram entrevistados individualmente, foi utilizado como instrumento de coleta de dados foi aplicado um questionário composto de 16 questões e o período de coleta de dados ocorreu de 15 de junho a 15 de julho de 2009 nos turnos matutino, vespertino e noturno. A análise dos resultados foi processada por intermédio de cálculos matemáticos simples, colocados em números absolutos e percentuais, da forma que melhor demonstrou a quantidade amostral. Os dados foram dispostos em tabelas e/ou gráficos para melhor representar os resultados 39


obtidos. Na realização deste trabalho foram respeitados os princípios da resolução nº. 196/1996 sobre pesquisa que, individual ou coletivamente, envolva o ser humano, de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de informações ou materiais, e, portanto com prévia orientação a respeito do conteúdo e entrega de um termo de consentimento livre e esclarecido ao participante, sendo necessária a assinatura do mesmo, onde será mantido o sigilo sobre as informações prestadas, o trabalho foi submetido à análise de uma banca examinadora da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA e encaminhado um ofício para o representante legal do posto de combustíveis (POSTO FRAZÃO), na cidade de Caxias-MA, e então enviado para a apreciação do Código de Ética e Pesquisa (CEP), da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí – NOVAFAPI. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nesta análise dos resultados, a primeira tabela demonstra a caracterização dos sujeitos e os demais resultados do estudo propriamente dito, em que os caminhoneiros tiveram oportunidade de optar por mais de uma alternativa em algumas questões. Tabela 1: Distribuição da frequência segundo a identificação do pesquisado.

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

De acordo com Penteado et al. (2008), em pesquisa sobre trabalho e saúde do motorista de caminhão foi encontrada a maioria entre 30 e 49 anos (61%) de 400 caminhoneiros. Ao se avaliar os dados encontrados nesta pesquisa percebe-se que a renda, o estado civil, a escolaridade e o estado de origem influenciam de 40


maneira direta ou indireta independentemente da idade no consumo de substâncias do tipo anfetamina. Gráfico 1: Distribuição da frequência segundo finalidade de utilização. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

93%

7%

0% Evitar o sono

0%

Diminuir o Aumentar a apetite disposição

Outros

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

O gráfico 1 mostra que a maior parte dos caminhoneiros (93%) utiliza as substâncias do tipo anfetamina com a finalidade de evitar o sono, e a menor parte (7%) utiliza com a finalidade de aumentar a disposição. Os achados conferem com dados encontrados em outros trabalhos, como corrobora Wendler, Busato e Miyoshi (2003), em pesquisa realizada com 318 motoristas onde, 96,88% (308) dos entrevistados afirmaram ter feito uso ou usar rotineiramente a anfetamina com a finalidade de aumentar o tempo de vigília. Ao consumir as anfetaminas o caminhoneiro procura cumprir horários estabelecidos pelas empresas ou fazer uma hora extra para. Ficando em alerta durante vários dias, assim aumenta sua jornada de trabalho e consequentemente sua renda. Gráfico 2: Distribuição da frequência segundo o tipo de anfetaminas industrializadas mais consumidas. 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

68%

24% 8% 0%

0%

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

O gráfico 2 revela que as anfetaminas industrializadas de maior uso foram: com 68% o Femproporex, 24% Dietilpropiona e 8% Mazindol, todos são anoréxigenos. As substâncias industrializadas são facilmente adquiridas, principalmente os anorexígenos como o Femproporex e a Dietilpropiona, os mais consumidos pelos caminhoneiros entrevistados. 41


Segundo Wendler, Busato e Migoshi (2003), em pesquisa realizada com 318 caminhoneiros, 96,89% (308) usavam anfetaminas; destes, 175 admitiram utilizar o Dietilpropiona e 89 admitiram utilizar o Femproporex. Vale ressaltar que esses medicamentos são todos anorexígenos e só podem ser vendidos com retenção da receita médica. Esse consumo coloca em risco a saúde do usuário podendo levar a um quadro de intoxicação medicamentosa evoluindo para morte, caso não tratada adequadamente. Gráfico 3: Distribuição da frequência segundo o local onde adquiriram as anfetaminas.

60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

51% 32% 17% 0%

0%

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

De acordo com o gráfico 3, os locais onde os caminhoneiros mais adquirem as substâncias do tipo anfetamina são: com 51%, os postos de combustíveis; 32% as farmácias e 17% os dormitórios. Os postos de combustíveis ao longo das rodovias brasileiras são apontados como o principal local onde se adquirem as anfetaminas. As farmácias/drogarias são outros locais de bastante distribuição, atuando de forma direta ao vender para o caminhoneiro e de forma indireta abastecendo os vendedores dos postos de combustíveis. Em pesquisa realizada com 91 caminhoneiros, a anfetamina era conseguida em postos de combustíveis por 54% e em farmácia/drogaria por 38% destes (NASCIMENTO, 2007, p.291). Os dados acima nos apontam à realidade na qual os medicamentos saem das farmácias por intermédio de pessoas interessadas em lucrar com sua venda e vão ao encontro desses profissionais nos principais pontos de aglomeração dessa categoria que são os postos de combustíveis. Gráfico 4: Distribuição da frequência segundo o tempo de uso de anfetaminas. 40% 35% 35% 30% 23%

25%

21%

20% 15%

11%

10% 10% 5% 0%

0%

0% Menos de 1 ano

Etre 1 e 5 anos

Entre 5 e 10 anos

Fonte: Pesquisa de campo, 2009.

42

Entre 10 e Entre 15 e Entre 20 e 15 anos 20 anos 25 anos

Mais que 25 anos


De acordo com o gráfico 4, 35% dos caminhoneiros utilizam as substâncias do tipo anfetamina, entre 10 e 15 anos, 23% entre 5 e 10 anos, 21% entre 15 e 20 anos, 11% entre 20 e 25 anos e 10% entre 1 e 5 anos. Conforme apresentação dos dados desta pesquisa, a maioria dos caminhoneiros utiliza anfetaminas há mais de 8 anos; vale ressaltar os 11% que consomem entre 18 e 25 anos, apresentando como resultados a tolerância evidenciada pela necessidade de aumentar a dose usual conforme apresentado no gráfico 4. Como afirma Zeferino (2004), o consumo de substâncias do tipo anfetamina pode ser considerado como uma ferramenta de trabalho, visto que alguns caminhoneiros afirmam que usam para vencer grandes percursos dirigindo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho foi realizado com o objetivo de analisar o consumo de substâncias do tipo anfetaminas por caminhoneiros no exercício da profissão, buscando uma abordagem do tema problema da maneira que melhor represente o impacto que a utilização destes fármacos ocasiona na vida dos usuários e também da sociedade. No desenvolvimento da pesquisa foi possível perceber que a maioria dos caminhoneiros utiliza anfetaminas há mais de 8 anos e além disso, não possuem conhecimento acerca dos principais efeitos decorrentes da ação do medicamento, mostrando a necessidade de se trabalhar em busca de esclarecer quanto aos perigos dessa utilização. Em relação às substâncias mais utilizadas, todos eles utilizam os anoréxigenos industrializados, revelando que em grande parte os conseguiam em postos de combustíveis, ensejando a necessidade de uma intensa fiscalização e punição no combate ao uso e comercialização ilegal destas drogas. Pode-se intervir nessa problemática através de campanhas educativas, de combate à venda de derivados anfetaminícos em postos de combustíveis, sendo necessária uma ação conjunta entre poder público e sociedade em geral. A criação de postos de saúde especializados que funcionem como pontos estratégicos de atendimento a esses profissionais, disponibilizando assistência médica e orientações básicas para manutenção da sua saúde. Associado a isso, é de suma importância contribuir no 43


desenvolvimento de ações como: atuar junto às empresas na regulação da jornada de trabalho; orientar quanto à criação de uma legislação com estabelecimento de uma carga horária para realização de seu serviço; desenvolver medidas que venha melhorar a segurança e dar agilidade ao transporte de cargas nas rodovias. A implantação dessas medidas vem contribuir para um melhor estado geral da saúde desses profissionais.

REFERÊNCIAS BRODY, Theodore. M. et al. Farmacologia humana: da molecular à clínica. 2. ed. Rio de janeiro: Gaunabara Koogan, 1997. FREITAS, B. M. de; SILVA, F. A. Anfetaminas: suas promessas e seus riscos: um estudo de caso na cidade de Luziânia - Goiás. Revista Virtual, 2006. Disponível em: <http;//www.senaaires.com.br/revistavirtual/ artigos/ArtCient/ArtCient13.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2009.

v. 17, n. 4, p. 35-45. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v17n4/05.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2009. SILVA, P. Farmacologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. SOUZA, J. C.; PAIVA, T.; REIMÂO, R. Qualidade de vida de caminhoneiros. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. Rio de Janeiro, 2006, v.55, n. 3, p. 184189. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v55n3/v55n3a02 .pdf>. Acesso em: 14 jun. 2009.

KATZUNG, B. G. Farmacologia: básica e clinica. WENDLER, E. A.; BUSATO, C. R.; MIYOSHI, E. 9. ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2005. Uso de anfetaminas por motoristas de caminhão para reduzir o sono. 2003. Disponível em: MELO, D. O. et al. A importância e a história dos <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/biologica estudos de utilização de medicamentos. Revista /article/viewFile/364/372>. Acesso em: 14 jun. Brasileira de Ciências Farmacêuticas, São Paulo, 2009. 2006, v. 42, n. 4, p. 475-485. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/rbcf/v42n4/a02v42n4. ZEFERINO, M. T. Acidentes de trânsito e os pdf>. Acesso em: 14 jun. 2009. estimulantes do tipo anfetaminas: estudo de caso junto às empresas de transporte rodoviário NASCIMENTO, E. C. et al. Uso de álcool e de cargas no estado de Santa Catarina. 2004. 143 anfetaminas entre caminhoneiros de estrada. f. Dissertação de Mestrado (Pós-Graduação em Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 41, n. 2, Engenharia Civil) – Universidade Federal de Santa abr. 2007. Disponível em: Catarina, Florianópolis, 2004. <http://www.scielo.br/scielo.php?script>. Acesso em: 16 jan. 2009. OGA, S. Fundamentos de toxicologia. São Paulo: Atheneu, 1996. PENTEADO, R. Z.; GONÇALVES, C. G. O.; COSTA, D. D.; MARQUES, J. M. Trabalho e saúde em motoristas de caminhão no interior de São Paulo. Saúde e Sociedade, São Paulo, 2008,

44


Resumo Expandido ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DA SAÚDE DA FA M Í L I A NA P R E V E N Ç Ã O E CONTROLE DE COMPLICAÇÕES N E U R O P Á T I C A S D I S TA I S E M PORTADORES DE DIABETES TIPO II Antonia patrícia da silva carvalho¹ Elessandro pinheiro de freitas² Rayane sousa da silva³

RESUMO O envelhecimento da população, a urbanização crescente e a adoção de estilos de vida pouco saudável como sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são os grandes responsáveis pelo aumento da incidência e prevalência do diabetes em todo o mundo. Esta pesquisa é de caráter quantitativo que privilegia a perspectiva dos enfermeiros no plano micro das práticas em saúde no que concerne à descrição e análise das atividades voltadas para prevenção e controle de complicações neuropáticas distais do diabetes tipo II. Onde resultados benéficos podem ser alcançados mediante a atuação direta do enfermeiro na prestação de assistência. Palavras-chave: Enfermeiro, Prevenção, Diabetes.

¹ Graduanda em Enfermagem. ² Graduado em Enfermagem. Especialista em Saúde Materno Infantil. Enfermeiro Obstetra. ³ Graduanda em Enfermagem. 45


INTRODUÇÃO No Brasil, o diabetes junto com a hipertensão arterial, é responsável pela primeira causa de mortalidade e de hospitalizações, de amputações de membros inferiores e representa ainda 62,1% dos diagnósticos primários em pacientes com insuficiência renal crônica submetido à diálise (BRASIL, 2007). Segundo a Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS 01/2001) as responsabilidades e ações estratégicas mínimas de atenção básica ao diabetes incluem: diagnóstico de casos, pela investigação de usuários com fatores de risco; cadastramento dos portadores; busca ativa de casos; tratamento dos casos, no acompanhamento ambulatorial e domiciliar e na educação terapêutica; fornecimento de medicamentos e curativos; monitoramento dos níveis de glicose dos pacientes; diagnóstico precoce de complicações; primeiro atendimento de urgência; encaminhamento de casos graves; medidas preventivas e de promoção da saúde (BRASIL, 2001). No entanto, o controle metabólico de indivíduos com a doença em evolução consiste num dos maiores desafios dos serviços de saúde. O desenvolvimento de rotinas para a prevenção primária do diabetes em população de risco é necessário tanto para a prevenção do surgimento de novos casos quanto para a prevenção de complicações. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa é de caráter quantitativo que privilegia a perspectiva dos enfermeiros no plano micro das práticas em saúde no que concerne à descrição e análise das atividades voltadas para prevenção e controle de complicações neuropáticas distais do diabetes tipo II. A investigação constou de um diagnóstico das ações ofertadas pelos enfermeiros unidades básicas (ESF) de Caxias, Maranhão através de entrevistas com questionário contendo questões fechadas, identificando as atividades intra e extra-muros voltadas para a prevenção e controle de complicações neuropáticas em pacientes diabéticos do tipo 2 atendidos na ESF.

46


RESULTADOS Tipo de sensação Dolorosa

Teste

N° de enfermeiros

Com pino, agulha ou palito

Freqüência %

16

80%

Tátil

Com chumaço de algodão

19

95%

Térmica

Com cabo de diapasão 128Hz

03

15%

Vibratória

Com 128Hz

04

2%

Motora

Com martelo

15

75%

20

-

diapasão

Total

Tabela 1. Representação de testes neurológicos básicos quantitativos realizados pelos enfermeiros entrevistados em sua Unidade de Saúde.

Esses testes, geralmente são realizados na consulta inicial, permitindo assim avaliar a multifatoriedade de complicações do DM e visam atingir um panorama diagnóstico sobre os problemas de saúde apresentados e a elaboração de um plano assistencial que permite estabelecer um processo educativo e assistencial, visando contribuir para a melhoria da qualidade de vida do diabético e prevenção de complicações (GROSS, 2004). Quanto a realização de avaliação dos membros inferiores 100% dos enfermeiros a realiza e estabelece consulta de retorno. CONSIDERAÇÔES FINAIS Nosso trabalho tem-nos demonstrado quantitativamente que resultados benéficos podem ser alcançados mediante a atuação direta do enfermeiro na prestação de assistência, principalmente no momento da consulta de enfermagem, ao paciente portador de diabetes mellitus tipo II, utilizando-se de procedimentos criado por ele próprio. Essa assistência deve integrar o conjunto de ações que compõem o Programa de Prevenção e Controle do Diabetes. Porém, os quadros epidemiológicos demonstram situações alarmantes relativas à sequelas ou complicações do Diabete Mellitus que indicam que reformulações urgentes devem ser feitas neste programa e no atendimento realizado pelos enfermeiros na sua Unidade Básica de Saúde.

47


REFERÊNCIAS ASSUNÇÃO, M. C. F.; SANTOS I. S.; COSTA, J. S. D. Avaliação do processo da atenção médica: adequação do tratamento de pacientes com diabetes mellitus. Pelotas, RS: Brasil. 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia prático do Programa de Saúde da Família. Brasília: MS, 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Indicadores e dados básicos para a saúde (IDB). Brasil, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Lei n. 8142 de 28 de dezembro de 1990. In: BRASIL. BRUNNER e SUDDARTH, Tratado de enfermagem médico cirúrgica. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. GROSS J. L. et al. Diabetes mellitus: diagnóstico, classificação e avaliação do controle glicêmico. São Paulo: Arquivo brasileiro de metabologia e endocrinologia, 2004. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Caderno de atenção básica. Diabetes mellitus. Brasília, DF. 2006. SILVA, M. et al. Adiamento eficaz de nefropatia diabética com enalapril no tipo 2 normotensos diabéticos com microalbuminúria. [s.l.]:[s.n.], 2004.

48


Formação, Saberes& Práticas Docentes


50


Artigo TIRO QUEBRANTO*: REFLEXÃO ACERCA DA ARTICULAÇÃO ENTRE O SABER FORMAL E OS SABERES DA CULTURA POPULAR AFRO-BRASILEIRA Maria de Fátima Tavares dos Santos¹ Valdenia Guimarães e Silva Menegon²

RESUMO O presente trabalho tem por objetivo contribuir para as discussões e reflexões sobre a integração dos saberes comunitários de tradição oral ligados a cultura afrobrasileira e as práticas educativas formais, e a possibilidade de serem inseridas como conteúdo na educação formal. Pretende-se empreender tal análise buscando as formas pelas quais a cultura popular articula conhecimento e saberes e os transmitem através da memória, oralidade, e ancestralidade fundamental para compreender os processos educativos desses espaços. Palavras-chaves: Oralidade. Educação. Cultura popular. ABSTRACT

*A palavra remete ao termo popular utilizado pelas benzedeiras para tirar mau-olhado; no dialogo com a escola às benzedeiras representa o mestre da tradição oral que com seu conhecimento o saber/fazer contribui na articulação dos saberes científicos com outros saberes. ¹ Bacharel em Ciências Sociais. Professora do Centro Educacional FACEMA – CEFA. ² Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Coordenadora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão – FACEMA.

This paper aims to contribute to the discussions and reflections on the integration of community knowledge of oral tradition linked to African-Brazilian culture and the possibility of being included as content in formal education. It is intended to undertake such an analysis seeking ways in which popular culture articulates knowledge and transmit it through memory, orality, and ancestry key to understanding the processes of educational spaces. Keywords: Orality. Education. Popular culture.

51


INTRODUÇÃO As inquietações advindas de uma reflexão sobre o cotidiano escolar, suas contradições provenientes das configurações espaciais de sala de aula de caráter elitista e excludente, são reveladoras quando se quer demonstrar a experiência educacional dos afro-descendentes no Brasil. A inserção dos mesmos no sistema educacional deu origem a uma cultura de desqualificação que só pode ser combatida com o desvelamento de uma realidade que perpassa pela reconstrução não só da positividade de sua História, mas criar mecanismos para articular nos espaços escolares a participação dos protagonistas negros provenientes de diversos setores da sociedade. No esforço de contribuir para a superação dessas lacunas, buscamos na investigação o diálogo com realidades aparentemente distintas escola/comunidade e forjar mediações necessárias para que possamos atingir os objetivos propostos, ou seja, analisar a existência da articulação entre a educação formal e a educação informal ligada aos saberes de tradição oral. Outro ponto importante é a inserção da tradição oral (a quebradeira de coco, a benzedeira, o tambor de crioula, o repentista, entre outros) nas práticas pedagógicas e se efetivamente isto é relevante para a construção da identidade dos alunos Afro-Descendentes. E, finalmente, se nos discursos dos educadores, a inserção no currículo escolar da tradição oral e da cultura popular, além da participação da comunidade no espaço escolar possibilita essa interação e contribui para a desmistificação da dicotomia escola/comunidade, integrando os saberes. A tradição oral é um estudo importante, quando se busca resgatar a identidade através dos saberes e fazeres de um povo, saberes compartilhados numa pluralidade de costumes, normas, regras e valores pelos membros de uma cultura determinada. Entender como funciona a lógica desta herança é refletir sobre a questão dos valores e sua relevância para o entendimento do homem em sua totalidade (DAUSTER, 2003, p.). É relevante estabelecer uma discussão acerca dos espaços abertos para a superação da dicotomia entre o saber científico e outros saberes, com as possíveis contribuições que os outros campos do conhecimento e especificamente, a Antropologia, abrem possibilidades de aprofundamento dos debates sobre as práticas pedagógicas formais e os saberes não-formais. A relevância deste estudo reside no fato do seu foco central está relacionada às possibilidades de reconstruir um modelo político pedagógico em que as vivências, a oralidade possam cindir-se com o já instituído, cifrado, 52


centrando-se nos espaços abertos nas comunidades na qual os sujeitos estão inseridos. Para Pacheco, in: Hampâte Bâ (2006, p. 07): A escrita é uma coisa e o saber outra, a escrita é a fotografia do saber, mas não o saber em si, o saber é uma luz que existe no homem herança, de tudo aquilo que nossos ancestrais vieram a conhecer e que se encontra latente em tudo o que nos transmitiram, assim como o baobá já existe em potencial em sua semente.

Quando se fala em tradição oral estamos falando num tipo de conhecimento que é transmitido oralmente e ainda não se perdeu, constitui a memória viva presente, patrimônio de todos os seres humanos; tanto a narrativa oral quanto a narrativa escrita remetem a um mesmo valor que é relatar de forma mais aproximada possível a verdade. O diálogo entre os saberes ocorre “[...] através da pedagogia do encontro do festejar das relações de produção e de troca mais afetivas, atividades vivências dialógicas. O envolvimento em todas as suas dimensões racional / discursivas na emoção e sensibilidade (PACHECO, 2006, p. 08). A motivação para essa pesquisa teve início há dois anos quando fomos convidadas pelo Ponto de Cultura Vida de Negro ligado á Associação das Religiões Afro-Brasileiras para elaborar um projeto em parceria com o Ministério da Cultura e Turismo e a Ação Griô Nacional – uma proposta político-pedagógica de construir redes de transmissão oral –. A parceria em Caxias se deu com a escola municipal Jaime Tavares e o Ponto de Cultura: A erveira (o), a benzedeira (o) e os brincantes (tambor de crioula e dança do balaio) foram os mestres de transmissão oral que dialogaram na Escola com os conteúdos da educação formal – contos e lendas africanas - na matéria História da África. Os griôs, palavra abrasileirada utilizada pelos articuladores da pedagogia griô é de origem francesa da palavra griot, “[...] de origem do Mali, região do noroeste da África que teria diversas funções sociais como, genealogista, músicos, poetas e contadores de histórias atuando em rituais sociais de nascimento das sociedades do noroeste da África (PACHECO, 2006, p. 08). O significado da palavra griô congrega em si o que propõe “sangue que circula”, através do olhar de uma pedagogia, enuncia outros saberes, aquele que compartilha o seu saber e sua sabedoria numa perspectiva de gerar condições de inserir no contexto da educação formal, novas formas de aprendizagens e possibilitar o entrelace, o encontro entre estes dois tipos de transmissão de saberes. 53


A pedagogia griô, projeto político-pedagógico que busca integrar a tradição oral a processos educativos como uma estratégia de transmissão e preservação da cultura, representa “[...] os caminhantes que semeiam nas escolas / comunidades o poder da oralidade da palavra, a escrita, os princípios do diálogo, a vivência, os mitos, os arquétipos, os símbolos, os rituais, as histórias de vida, as expressões artística, os saberes de um povo e de seu mestre” (PACHECO, 2006, p. 09). A importância do eixo escola / comunidade reside tendo a figura do griô como contraponto, para contribuir com elementos da tradição oral na compreensão dos saberes acumulados historicamente que percorre a história negra na diáspora africana e que cingido na memória do griô carrega os inúmeros significados do seu lugar, sua comunidade, e dos seus ancestrais. REFERENCIAL TEÓRICO Os estudos culturais formam um campo do conhecimento onde diferentes olhares buscam traduzir a complexidade da diversidade cultural. Para Ecostequi (2001) “[...] os estudos culturais compõem hoje uma tendência importante da crítica cultural que questiona os estabelecimentos de hierarquias entre forma e práticas culturais estabelecidas a partir da oposição como cultura “alta” ou “superior” e “baixa” ou “inferior”. A cultura popular tem suas raízes na vivência cotidiana do homem em sua comunidade; sua funcionalidade não é gratuita é constantemente revivida pelos seus membros e consiste em uma educação informal. Paralelamente a essa questão, a difusão nos meios de comunicação com seu aparato tecnológico propaga aspecto da diversidade cultural e se apresenta como “mediadora” da construção das identidades culturais, a ambiguidade desses processos culturais na modernidade veiculada pelos meios de comunicação. Este tipo de intervenção entra em confronto com a capacidade da cultura popular de absorver e reelaborar os elementos das novas tecnologias a partir do jogo dialético de consentimento e resistência, não existindo separação entre questões culturais e as questões de poder. Ecostequi (2001) alarga estas questões quando retoma o conceito de cultura, colocando diretamente no jogo político as responsabilidades sobre o aparato educacional ao afirmar que, as práticas bem como seu sentido no cotidiano alimentam o início de uma mudança importante e todas as expressões culturais devem ser vistas em relação ao contexto social das instituições, das relações de poder e da história. No contexto acima citado, devemos refletir a relação existente entre 54


currículo e multiculturalismo – se analisarmos o papel homogeinizador que os meios de comunicação utilizam como instrumento para fabricar a diversidade cultural – essa discussão reflete diretamente na questão da diversidade cultural e étnica na educação, e é relevante, pois introduzem nos espaços escolares discussões e participações de sujeitos portadores de identidades múltiplas. De acordo com Pesavento: A identidade se constrói um torno de elementos de positividade, que agreguem as pessoas em torno de atributos e características valorizados, que rendam reconhecimento social a seus detentores. Assumir uma identidade implica encontrar gratificação apresentar um capital simbólico de valoração positiva, deve atrair a adesão, ir ao encontro das necessidades mais intrínsecas do ser humano de adaptar-se e ser reconhecido socialmente. Mas do que isso a identidade responde, também a uma necessidade de acreditar em algo positivo e a que o indivíduo possa se considerar como pertencente. (PESAVENTO, 2008. p. 91)

Portanto, as formas como as vozes dos sujeitos são inseridas na escola e incluem fatores que são mobilizadores no sentido de reesignificar as diversas formas de identidades em um escopo que responda em última instância a questões fundamentais que são intrínsecas e extrínsecas ao ambiente escolar. O desafio para o campo da didática e da formação dos professores no que se refere à diversidade é pensá-la na sua dinâmica e articulação com os processos educativos escolares e não-escolares e não transformá-la em metodologia e técnicas de ensino para os ditos “diferentes”. Isso significa tomar a diferença como um constituinte dos processos educativos, uma vez que tais processos são construídos por meio de relações socioculturais entre seres humanos e sujeitos sociais. (SILVA, 2006. p. 19).

A relevância dessa reflexão nos remete a uma perspectiva pedagógica pautada no multiculturalismo que designa à escola a percepção das identidades étnicas culturais que a compõem e que deriva fora dela. A diversidade como uma questão para a educação e para a sociedade não é mérito de pesquisadores / os iluminados / as, de currículos emergentes e nem de centros de formação com propostas inovadoras. Antes, ela é fruto da ação dos sujeitos no interior da sociedade e nos movimentos sociais. É resultado da luta desses mesmos sujeitos pela construção de espaços públicos e pelo tratamento democrático e igualitário às diferenças. E são os profissionais da educação, os centros de formação, as propostas político-pedagógicas sensíveis a essa dinâmica social e cultural que desenvolvem, participam, refletem e recolhem essas experiências e, a partir de uma análise político-pedagógica, as insere na prática educativa escolar. (SILVA, 2006. p. 26)

55


As abordagens teóricas dos estudos culturais implicam orientar o próprio discurso pedagógico e traduzir o multiculturalismo em ações pedagógicas permanentes. Quando se consolida a aproximação entre “o saber e o poder” possibilita introduzir a perspectiva pós-estruturalista à educação a partir de Foucault. Poder e saber são dois lados de um mesmo processo, as relações de força constituem o poder, ao passo que as relações de forma constituem o saber, mas aquele tem o primado sobre este. O poder se numa relação flutuante, isso é, não se ancora numa instituição, não se apóia em nada fora de si mesmo, a não ser no próprio diagrama estabelecido pela relação diferencial de forças; por isso o poder é fugaz, evanescente, singular, pontual. O saber, bem ao contrário, se estabelece e se sustenta nas matérias / conteúdos e em elementos formais que lhe são exteriores: luz e linguagem, olhar e fala. É bem por isso que o saber é apreensível, encenável, domesticável, volumoso. E poder e saber se entrecruza no sujeito, seu produto concreto, e não num universal abstrato. (VEIGA-NETO, 2007. p. 130)

Outra possibilidade que oferece a efetivação do multiculturalismo na educação, é o hibridismo; pois esta categoria implica no desafio de superar o congelamento identitário levando o descongelamento dos discursos e traz para o campo pedagógico a reflexão e a sensibilização das identidades (BHABHA, cf. CANEN, 2002); A hibridização discursiva oferece à escola a dinâmica da cultura viva no seu fazer nas relações e rituais cotidianos. No processo de hibridização o marco discursivo dominante e colonialista pode ser reapropriado. [...] realizar essas conexões significa olhar criticamente para percepções e ideias relativas a conhecimento, entendendo-se como intimamente ligados a dinâmicas sociais, culturais e históricas que passam a ser objeto de discussão. (CANEN, 2002). Entender o currículo e a formação dos professores como elemento que contribua na preparação de sujeitos múltiplos, sugere que a articulação entre a educação formal e a educação informal, ligada à cultura popular afrobrasileira, possa atravessar os conteúdos das disciplinas que compõem o currículo oficial e ao tomar esta conexão, essa abordagem teórica redimensiona a educação e as práticas educativas. Diversos pesquisadores já se debruçaram sobre a complexidade da memória. Ela não é só pensamento, ato puramente biológico de registro cerebral, “A memória é uma atualização do passado ou a presentificação do passado e é também registro do presente para que permaneçam lembranças” (CHAUÍ, 2003). Não é um ato puramente racional como afirma alguns estudiosos, mas também sensações, sonhos, lembranças afetivas, ilusões. É um ato eminentemente humano, individual e coletivo, mas que na modernidade 56


perde para o fulgás o efêmero. Utilizamos o conceito de “memória coletiva” de Maurice Halwachs ao relacionar memória e identidade, pois toda memória se estrutura em identidades de grupo, garantia da nossa própria identidade, toda memória humana é memória de alguém e a partir de experiências vividas se solidifica na interlocução com o outro, no diálogo. É na linguagem cotidiana que a memória como narrativa se exterioriza. Com isso, ela sempre orienta nosso olhar sobre o mundo de uma maneira determinada. A linguagem da contemporaneidade é a linguagem da informação, técnica pulverizada em milhares de cacos, incapaz de produzir sentidos, significações, de produzir narrativas que rearticulam os pedaços ao todo. Caracterizada pela brevidade da novidade, apresenta-se como uma linguagem pobre, sem laços de comunidade, sem uma comunidade de ouvintes. Uma linguagem monológica, sem trocas, sem diálogo, sem as marcas de quem fala sobre quem ouve e, portanto, sem as marcas daquele ouve no que fala. No dia-a-dia do homem moderno, do nosso mundo contemporâneo, só são possíveis vivências que não permitem assimilar o que foi vivido, pois são fruto do choque permanente do eternamente novo, sem rastros e sem história. O pauperismo de nossa linguagem denuncia, sim, a pobreza e o caráter fragmentário de nossas próprias experiências comunicáveis. (SILVA, 2008. p. 86)

Nesse contexto, a memória e a identidade em nossa sociedade estão relacionadas à forma como os saberes são produzidos. E na educação, portanto, a escola terá de reconstruir o seu papel desconectando-se da racionalidade instrumental e ampliando espaço para uma ação comunicativa. No caso dos griôs, outro conhecimento tem-se como referência. As narrativas africanas que se perpetuam e são valorizadas em algumas sociedades africanas, têm a tradição oral como forma sistemática de comunicação. Ela garante a continuidade do conhecimento acumulado das narrativas para as gerações vindouras e são transmitidas oralmente. No continente africano, nada substitui a potência da palavra, e por essa razão, o binômio força vital / palavra é o elemento primordial da personalidade da sociedade, desdobrando-se desde as instâncias mais abstratas até as práticas sociais [...] a oralidade, a palavra dita, muitas vezes, transmite aquilo que tal herdado dos ancestrais ou pessoas idosas, pois na África tradicional, a herança ancestral é muito valorizada. Desse modo, a tradição oral passa a ser uma grande escola da vida, anunciada pelos tradicionalistas, aqueles que são considerados os mestres grandes testemunhas da memória viva da África. (BARZANO, 2009. p. 32)

Assim, as narrativas africanas realizadas pelos griôs de tradição oral 57


refazem a sua trajetória e “desembocam” no Brasil em forma de projeto pedagógico denominado griô; a pedagogia griô é fruto da reelaboração, dos griôs africanos que encontra na escola lugar de aprendizado e outro saber que se multiplica e irá assumir novos papéis e diversas ações no campo educativo - o de conhecer saberes de um lugar. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada no mês de outubro com dez professores de duas escolas públicas do município de Caxias-MA: a creche “Santo Antônio”, localizada no bairro Ponte e a Unidade escolar Municipal “Jadihel Carvalho” localizada no bairro Teso Duro. As escolas, bem como o seu corpo docente foram escolhidas por estarem situadas em regiões periféricas da cidade, condição fundamental para o objetivo do estudo, pois sabemos que parcela significativa da população negra reside nas periferias das cidades. Para elaboração deste trabalho utilizamos o questionário com perguntas abertas e fechadas, constituindo-se um leque de informações a contemplarem questões referentes ao objeto de estudo proposto; analisar a interação entre saberes da educação formal e educação informal, e obter informações a respeito dos educadores que nos permitissem um diagnóstico da cosmovisão, representações sociais e embasamento teórico a respeito da temática do grupo pesquisado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com base na pesquisa de campo realizada com os professores (as) obteve-se os resultados que serão delineados a seguir: quando se perguntou sobre a obrigatoriedade do ensino de História Africana no currículo escolar e se contribuiria com a construção das identidades dos alunos 100% dos pesquisados disseram que sim. Percebe-se que os professores possuem a percepção da problemática negra e reconhece a importância da memória cultural e da inserção da matéria para construção das identidades. Na segunda indagação perguntamos se nas práticas pedagógicas da escola onde exerce a docência há visibilidade da cultura popular Afro-Brasileira 70% dos pesquisados responderam que não existe e 30% responderam que existe em forma de manifestação cultural (brincadeiras, músicas, festas juninas, dia do folclore, dia da consciência negra); chegamos à conclusão que o caráter contraditório como é vista a questão das relações raciais no Brasil postas pela ampla literatura existente reflete na abordagem e nos projetos realizados e desenvolvidos na escola pelos educadores, as escolhas puramente artísticas tende a folclorizar e engessar o aspecto dinâmico e político dessas 58


manifestações. Quando perguntamos se é comum na escola articular o conhecimento formal do conhecimento informal advindo da tradição oral 99% afirmaram que não é comum e só 1% afirmou que sim é comum; observamos nas respostas a dificuldade que os educadores têm de se posicionar com relação à temática, e de que forma efetivar essa articulação e como oferecer um ensino crítico da diversidade cultural brasileira, onde a educação possa apresentar novos significados para os alunos negros e não negros repensarem sua condição de estar no mundo. A quarta questão é o desdobramento da questão anterior; perguntamos se a escola tem resistência à interação entre os saberes produzidos fora do seu espaço 10% afirmaram que sim esses educadores apesar da dificuldade de discutir essa temática já se colocam como mediadores na reflexão do resgate a memória cultural negra no espaço escolar e são portadores significativos da inserção dos saberes da tradição oral no âmbito escolar, 90% afirmaram que não, mas no desdobramento percebemos que as respostas foram superficiais creditando na informação e no conhecimento geral dos saberes transmitidos pela escola um caminho para o reconhecimento de outros saberes. Quanto à possibilidade de inserção nas práticas pedagógicas de outros saberes ligados à tradição oral dentre as quais o de matriz africana 60% dos educadores afirmaram a importância desse diálogo e 40% deram uma resposta superficial, houve praticamente um equilíbrio entre a importância e a não importância da interação entre os saberes. Nesta resposta há um desvelar das formas sutis de levar a população negra a perder a base da sua cultura, absolvendo a cultural estranha ao universo em que está inserida. Quando se indagou sobre as atividades ou ações que são desenvolvidas em sala de aula com tema relacionados à cultura Afro-Brasileira 20% responderam que nenhum; 20% afirmaram que sim, é importante desenvolver esta temática, e 40% inclui no conteúdo geral do currículo escolar como datas comemorativas festejos. Outra indagação foi referente à quantidade de alunos afro-brasileiros existem na sala em que o educador ministra a sua aula. 60% souberam quantificar e 40% não tinha certeza quantos alunos Afro-Brasileiros havia em sala. Essa indefinição de classificação racial por parte dos educadores reflete a dificuldade em discutir o tema, inclusive no âmbito escolar. Com relação às políticas públicas que conhece ou os cursos que participou com relação à temática Afro – Brasileira 70% não participou de nenhum e não conhece nenhuma política pública e 30 % participaram de 59


curso, mas não mencionaram nenhuma política pública ou conhece a temática referente ao tema. Por fim ao perguntarmos se os educadores conheciam o Estatuto da Igualdade Racial 99,9% desconhece 1% conhece. Essa questão evoca toda a contradição ao longo do questionário que os educadores têm ao abordar a temática da africanidade como um dos elementos fundantes da nossa formação. Percebemos que a maior parte dos sujeitos da amostra ou desconhece historicamente a realidade da população negra no Brasil ou não vêem como relevante a problemática negra no espaço intra e extra-escolar. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Lei 10.639/2003 que incluí o ensino da Historia da África e da Cultura afro-brasileira nas escolas de todo país constitui um avanço em termos de reconhecer e suprimir o preconceito e a desigualdade racial na sociedade brasileira e por sua vez construir estratégias anti-racistas nos espaços escolares. Embora o Estatuto da Igualdade Racial tenha se tornado lei ainda são tímidos os esforços de inserir nas práticas pedagógicas do ensino básico ao superior a reflexão e discussão efetiva das diferenças étnico-raciais e a valorização da diversidade cultural. Incorporo nessa discussão que já vem tendo certa relevância de educadores e estudiosos preocupados com essa problemática a relação entre cultura negra ligada à tradição oral e educação, a não ser no limite das ações pontuais de alguns educadores comprometidos com a “causa”; ainda é incipiente esta interação, neste contexto insiro os educadores das diversas áreas do conhecimento. A escola como instituição social é um lugar de difusão não só de saberes hierarquizados e já instituídos como verdade, mas também de valores e representações negativas sobre os negros. Introduzir nos currículos escolares outros saberes não instituídos como verdade científica é fundamental para desmistificar essas hierarquias de saberes e da naturalização das práticas discriminatórias de pessoas com base na cor da pele ou como portadora de uma cultura de matriz africana, para isso o corpo docente que em sua maioria detém de forma fragmentada informações a respeitos de políticas públicas, de curso de formação ou trabalhos científicos realizadas com essa temática possam ser qualificados, e o papel desenvolvidos pelas universidades, secretarias de educação e da escola propriamente dita é fundamental nesse processo. Aos educadores cabe a responsabilidade de compreender como essas relações foram engendradas e atuar para desmistificá-las construindo 60


alternativas que atribuam positividade à nossa herança africana para construção da auto-estima dos alunos e que possibilite na escola, na sala de aula a promoção da igualdade racial. É urgente e necessário que professores tenham uma postura política no sentido de conhecer e desmistificar todas as formas de discriminação, e que utilizem em suas práticas pedagógicas conceitos pertinentes tais como o multiculturalismo e a diversidade cultural em suas práticas cotidianas, já que a construção de uma escola plural é tarefa do educador, pois só assim poderemos deixar de culpar a vítima pelo preconceito existente. O universo africano, seus aspectos simbólicos, suas representações encontram-se alicerçadas na oralidade e na memória, a herança da tradição oral no universo brasileiro e por sua vez no universo escolar abre a possibilidade de fazer um trabalho educativo concreto, para a consolidação da identidade do afro-descendente emerso nesse ambiente, a interlocução entre os saberes formal e não formal e o convite a comunidade a participar, é uma alternativa do ponto de vista de superação dos aspectos negativos que envolvem a nossa herança africana as narrativas orais, nossas danças, a religiosidade a nossa história de luta, a arte e estética está presente no dia a dia de todos e que podem ser resgatados.

REFERÊNCIAS

DAUSTER, Tânia. Um outro olhar: entre a antropologia e a educação. Cad. CEDES, Campinas, v. ARANTES, Antonio Augusto. O que é cultura 1 8 , n . 4 3 , 1 9 9 7 . D i s p o n í v e l e m : popular. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. < h t t p : / / W W W. s c i e l o . b r / s c i e l o . php?script=sciarttex&pid=SO101BARZANO, Antonio Leandro. Grãos de luz de 32621997000200004&1ng=em&nrm=isso>. Acesso griô: dobras e avessos de uma ONG – pedagogia – em: 16 ago. 2010. ponto de cultura. 2009. 194 fls. (tese de doutorado) Campinas, SP: [S.n.]. ECOSTEGUY, Ana Carolina D. Cartografias dos estudos culturais: uma versão latino-americana. Belo CHAUÍ, Marilena. Convite a filosofia. 13. ed. São Horizonte: Autêntica, 2001. Paulo: Ática, 2003. F E R N A N D E S, Jo s é Pe d r o Te i x e i r a . O C A N E N , A n a e t . a l . P e s q u i s a n d o multiculturalismo como ideologia e política multiculturalismo e educação: O que dizem as p ú b l i c a . D i s p o n í ve l e m : < h t t p : / / w w w. d i s s e r t a ç õ e s e t e s e s. D i s p o n í ve l e m : j p t f e r n a n d e s . c o . [ . . . ] a r t _ O p i n i ã o _ <http://www.anped.org.br/reunião/23/textos/120 multiculturalismo_atlantico.pdf.>. Acesso: 10 fev. 87. PDF>. Acesso em: 12 fev. 2012. 2012. ______; Ângela M. A. Oliveira. Multiculturalismo e c u r r í c u l o e m a ç ã o . D i s p o n í ve l e m <http:kwww.scielo.br/scielophp?Script=Sci_artex & pid = S 1413 – 247200200300006>. Acesso em: 12 fev. 2012.

GOMES, Nilma Lino; SILVA, Petronilha Gonçalves. Experiência étnico: culturais para formação de professores. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. LAPLATINE, François. Aprender antropologia. São 61


Paulo: Brasiliense, 2005.

SILVA, Graziela Moraes Dias. Sociologia e educação: um debate teórico e empírico sobre a modernidade. NOGUEIRA, Maria Alice; NOGUEIRA, Cláudio Enfoques: revista eletrônica, v. 1, n. 1, p.79-117, 2002. M. Martins. Bourdieu & a educação. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. SILVA, Douglas Verrângia Corrêa. A educação das relações étnicos–raciais no Ensino de Ciências. PESAVENTO, Sandra Jatahy. Historia e história 2009. 335 fls. Campinas, (tese de doutorado). cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. VFSCAR. ROMÃO, Jeruse. História da educação do negro e SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de identidade. outras histórias. Secretaria de Educação Belo Horizonte. Autêntica. 1999. Continuada, Alfabetização e diversidade/Mec. Brasília. 2005. SILVA, René Marc da costa. Cultura popular e educação: salto para o futuro. Brasília: TV SANTOS, Sales Augusto. Ações afirmativas e Escola/Seed/MEC, 2008. combate ao racismo nas Américas. Secretaria da E d u c a ç ã o C o n t i n u a d a , A l f a b e t i z a ç ã o e VEIGA NETO, Alfredo. Foucault & a educação. 2. Diversidade/Mec.Brasilia. 2005. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

62


Artigo A “TEORIA” PODE CONTRIBUIR PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS? Leandro Ferraz¹

RESUMO Partindo da filosofia pragmática americana, discute-se se há algo de realmente imprescindível, para o desenvolvimento da cultura global de direitos humanos, em ideias como “realidade”, “verdade”, “natureza humana” e “teoria” (esta última enquanto capacidade orientada a conhecer as precedentes) ou se são meras escadas que, tendo permitido a chegada no estágio atual do pensamento ocidental, faria bem jogar fora. Palavras-chave: Pragmatismo. Direitos humanos. Natureza humana.

ABSTRACT Getting off all about “reality”, “truth” and “theory” – them all referring “human nature” – from our human rights culture, there would be something worthy gone to crash from the shelves of wisdom west on human rights? From pragmatic philosophy, this paper do take along good reasons to thing that not. Keywords: Pragmatism. Human rights. Human nature.

¹Graduado em Direito. Mestre em Direitos Humanos. Delegado da Polícia Civil-PI..

63


.INTRODUÇÃO Não é difícil encontrar algum livro no qual sejam apresentadas “teorias”² sobre a inevitabilidade da aceitação dos direitos humanos, geralmente apelando para algo como a “natureza humana”. Esses pares teóricos da convicção marxista de que o comunismo seria uma realidade contra a qual ninguém poderia contrapor-se são o principal objeto de crítica de Michael Ignatieff no seu “Human Rights as Politics and Idolatry”³. Ignatieff está absolutamente correto em pensar assim. Somente mantendo a crença corrente em que algo de “natural”, “metafísico”, “transcendental” aproxima de nascença brasileiros e chineses, americanos e malásios, estaríamos disposto a discordar de Ignatieff quando afirma: “se, por exemplo, um grupo religioso determina que as mulheres devem ocupar uma posição subordinada em rituais de grupo, e essa posição é aceita pelas mulheres em questão, não há justificativa para intervir argumentando ter sido violada a igualdade defendida pelos direitos humanos” (IGNATIEFF, 2001, p. 19). Isso não é dizer que não poderíamos conviver com essas mulheres e falar de uma terra distante na qual homens e mulheres são iguais em direitos e deveres. E Ignatieff, no mesmo sentido, não quer com isso dar “carta branca” para todo tipo de conduta que nós ocidentais, criadores da cultura dos direitos humanos, consideramos violações abomináveis. Ao contrário, “a política não é somente deliberação. A linguagem dos direitos humanos também está aí para relembrar-nos que existem alguns abusos que são insuportáveis” (IGNATIEFF, 2001, p. 22). Não pretendo deter-me no problema de definir esses limites, mas é importante a ressalva diante da citação anterior. Meu objetivo com esse artigo é bem menos útil para a política de direitos humanos, ao passo que trata de tema que ocupa muito as preocupações de quem, como eu mesmo, criou sua auto identidade em torno problemas filosóficos. Já aproveito essa consideração para afirmar minha suspeita de que o que temos vindo a chamando de “teoria” tem muito pouco, ou quase nada, a fazer para o desenvolvimento de uma comunidade cosmopolita embasada nos direitos humanos. Até onde posso perceber, a única razão que teríamos para pensar que a teoria é fundamental para a universalização dos direitos humanos é acreditando que ela “descobre” alguma “realidade evidente”, algo que o imperativo categórico kantiano procurou fazer ao secularizar a moral cristã, tirando o princípio “aja de acordo com uma Máxima que pode ser válida, ao mesmo tempo, como uma Lei Universal” (KANT, 2002, p. 239) do terreno “movediço” da religião para a “solidez” da “razão”4. Assim como Kant 64

²O termo teoria, na acepção aqui criticada, ecoa a afirmação de Rorty segundo a qual “o apropriado background filosófico para a deliberação política é a narrativa histórica ao invés da teoria filosófica ou semi-filosófica. Mais especificamente, é o tipo de narrativa histórica que segue dentro de um cenário sobre como nós podemos, a partir do presente, ter um futuro melhor. A filosofia social e política geralmente tem sido, e sempre deve ser, parasita de tais narrativas. As questões sobre o estado levantadas por Hobbes e Locke eram parasitas de diferentes questões da recente história inglesa. A filosofia de Marx foi parasita da sua narrativa sobre o surgimento da burguesia e da sua previsão de sucesso da revolução proletária. A teoria social de Dewey foi – e a teoria política de Rawls é – parasita de diferentes questões surgidas na história recente dos Estados Unidos.” (RORTY, 1999, p. 231-232). ³Em suas palavras, “a grande ilusão que quero criticar é aquela de que os direitos humanos estão acima da política, como se fossem um conjunto de trunfos morais cuja função é enclausurar e pôr fim às disputas políticas”. (IGNATIEFF, 2001, p. 21) (tradução nossa). 4Talvez nem fosse necessário dizer, mas os temos “movediço” e “solidez” não dizem que Kant conseguiu encontrar alguma “realidade” mais “material” do que os primeiros cristãos para repousar sua teoria moral. O intento é simplesmente denotar que a partir do século XVIII o discurso religioso perdia cada vez mais seguidores para o discurso “racional” do iluminismo.


distinguiu, na sua filosofia moral, uma “obrigação” universal de todos os seres humanos das meras convenções particulares, a teoria seria a porta de acesso ao que é “a-histórico”, “universal” e “inquestionável”, em contraposição às narrativas, que falam das crenças e desejos localizados no tempo e no espaço. Muito embora esse apelo por algo que fuja aos complexos processos de deliberação que caracterizam nossas democracias contemporâneas – bem como às relações extremamente intrincadas que se estabelecem entre diferentes culturas no mundo atual – esteja ainda bastante vivo, concordo com Richard Rorty em que seria bom se pudéssemos ter uma ciência da sociedade ou da história. Mas, durante os últimos duzentos anos, as pessoas construíram filosofias da história e teorias sociais que acabaram sendo completamente irrelevante para aquilo que, em determinado momento, aconteceu. (RORTY; NYSTROM; PUCKETT, 2006, p. 40)5.

5É claro que Rorty está sendo irônico. Ele tinha plena consciência do poder que o marxismo exerceu sobre os movimentos revolucionários dos séculos XIX e XX. Seu intento com a afirmação é tão somente colocar em relevo que o convulcionamento social inspirado no marxismo foi menos fruto da influência de uma “teoria” e mais o resultado uma narrativa social que mantinha o foco na grande massa de trabalhadores ao invés de concentrar-se nas luxuosas antessalas da minoria dirigente. 6 Essa observação reverbera uma outra de Dewey transcrita em RORTY, 2005. p. xii.

Mas para concordar com Rorty é preciso abrir mão da crença nas teorias como “desveladoras da realidade” e passar a vê-las tão somente como ferramentas para concretizarmos crenças e desejos humanos. A fim de seguir esse caminho, evitando as diversas veredas que levam ao canto da sereia da tradição fundacionista (a qual inclui a “razão comunicativa” habermasiana – discutida mais adiante), ajudaria descrever as teorias como meras hipóteses que só têm valor se tornam as pessoas sensíveis à vida em torno delas 6. Particularmente, quanto aos direitos humanos, cuja demanda principal, no âmbito supranacional, é por passarmos a ver pessoas que praticam hábitos que reputamos “abomináveis”, “repugnantes” ou “primitivos” como “um de nós”, a teoria tem sido francamente ineficiente, de um modo que reportagens jornalísticas e romances não o são, pois costumam ser bem mais úteis para alcançarmos o tipo de sensibilização desejada. Segundo Rorty: Esse processo de passar a ver outros seres humanos como “um de nós”, e não como “eles”, é uma questão de descrição detalhada de como são as pessoas desconhecidas e de redescrição de quem somos nós mesmos. Essa não é uma tarefa para a teoria, mas para os gêneros como a etnografia, a reportagem jornalística, o livro de história em quadrinhos, o documentário dramatizado e, em especial, o romance. (RORTY, 2007, p. 20).

No que segue, começo questionando se é imprescindível 65


“descobrir” ou manter qualquer ideia sobre algo “profundamente” humano, tal qual uma “natureza”, como “fundamento” insofismável para mantermos nossa crença em que o melhor que podemos fazer a nós mesmos na atualidade é desenvolver e universalizar os direitos humanos. Se soar bem uma resposta negativa para essa pergunta, creio que não teremos nenhum motivo para buscar nos sensibilizarmos com os problemas de pessoas distantes de nós através do apelo a qualquer coisa além das nossas próprias disposições para nos identificarmos com pessoas diferentes (algo que a teoria reputou ser mero “sentimentalismo”, em contraposição à força vinculante da “razão”). Considero tentando arrematar o que será defendido nas duas seções que passo a expor. O S D I R E I TO S H U M A N O S P R E S S U P Õ E M A L G U M A “NATUREZA HUMANA”? A pergunta sobre se há alguma “natureza humana”, ou seja, um conjunto universal de crenças e desejos, seria de pouca importância se não estivesse ligada à criação de uma “comunidade humana includente e utópica” (RORTY, 2005, p. 103), do tipo em que a disposição para incluir pessoas diferentes fosse mais importante do que a criação de uma auto imagem particular para seus membros que repelisse quaisquer outros indivíduos. Entre os filósofos que compartilham da utopia da universalização dos direitos humanos o desejo por “verdade”, a convicção de que ela corresponde à “realidade” e que a “realidade” é uma só conjugam-se com a afirmação de que o desenvolvimento desses direitos representa a crescente racionalidade do ocidente (no qual “racionalidade” é sinônimo de faculdade orientada para a “verdade”)7. Segundo penso, a cultura de direitos humanos já possui força suficiente para seguir sem as preocupações filosóficas que lhe deu origem, sendo estas mesmo um empecilho para seu desenvolvimento. Sendo assim, pretendo contribuir para tornar respeitável a compreensão de que “estamos em condições de jogar fora algumas escadas usadas em sua construção” (RORTY, 2007, p. 319)8. O último grande filósofo que ganhou audiência defendendo a “razão” foi Habermas. Nos termos do diálogo atual, dizer que a realidade é uma só e que a verdade estabelece-se em correspondência com ela pareceria empreitada por demais arriscada e o filósofo alemão não tentou empreendê-la. Ao invés, esse peirceano9 defende que a razão é normativa e que, por isso, não pode ser naturalizada, mas, empregando o “caráter universalista dos 66

7As palavras “verdade”, “realidade” e “racionalidade” estão entre aspas para dizer do sentido hipostasiado no qual as três estão empreg adas, ou seja, do distanciamento da compreensão da verdade enquanto acordo intersubjetivo, da realidade como conjunto de crenças e desejos compartilhados por certa comunidade e racionalidade como sinônimo de persuasão através do diálogo ou dos ter mos de argumentação aceitos em determinado tempo e local. 8 A referência do texto é às democracias, mas creio igualmente aplicável à cultura de direitos humanos. 9Referência a Charles Sanders Peirce, um dos pais do pragmatismo americano, tradição reivindicada por Rorty


pressupostos do discurso”, pensa ser possível fazer tal jogada sem retroceder à ideia de obrigação de correspondência à realidade. Dessa forma, Habermas ganha o trunfo de poder afirmar que qualquer tipo de intolerância, por exemplo, incorre em “autocontradição performativa”. Diferentemente de Habermas, Rorty pensa que a distinção entre fazer tal acusação e a simples reivindicação de mais tolerância é uma diferença que não faz diferença na prática e que, portanto, deveria ser esquecida, com o que concordo plenamente (RORTY, 2005, p. 116-124). Parece-me que nenhum casal de homossexuais se poria diante do reitor de uma universidade pedindo o fim da repressão às práticas de afetividade dessas pessoas acusando aquele de “autocontradição performativa” (e mesmo que o fizessem, certamente um reitor pouco disposto a aquiescer com a reivindicação teria ou um termo mais pomposo ou a tradição a seu lado para negar o pleito). Pode ser que pedidos de mais tolerância, manifestações e exposições de vídeos que mostrem a homoafetividade como tão aceitável quanto o afeto entre heterossexuais igualmente não surtam efeito, mas certamente são bem mais úteis para o objetivo que se quer alcançar. A crítica pragmática de Rorty à “razão comunicativa” de Habermas não se dirige contra a principal virtude política da democracia: a persuasão através do diálogo. Volta-se na verdade contra a tentativa de “fundamentar” (em termos filosóficos universais) tal virtude, a partir da convicção de que a filosofia é “essencial” para a manutenção das esperanças democráticas. A desconfiança pragmática gira em torno da crença em que a filosofia pode fazer mais pela democracia do que generalizar suas máximas e apresentá-las em termos que pareçam ser um bom negócio. Mas, é claro, organizar e apresentar é justamente o inverso de “fundamentar”, pois se parte da compreensão de que primeiro surge a cultura democrática e depois ela é sistematizada de forma a parecer um conjunto coerente e desejável de crenças e desejos (RORTY, 2002, p. 238-239). Em analogia, o mesmo papel seria legado à filosofia em relação a cultura de direitos humanos. A sustentação da razão como faculdade distintivamente humana, ou seja, como aquele plus que nos separa das feras, encontra defensores igualmente fervorosos em Platão e Kant. Ambos acreditavam que agir segundo os preceitos da “razão” – o que, pragmaticamente, pode ser descrito como seguir as normas de conduta socialmente aceitas em determinada comunidade humana – era sinônimo de “ser racional”, ao passo que qualquer comportamento que fugisse ao padrão receberia a pecha de “irracional”, “instintivo”, “animalesco”. O surgimento da psicanálise nos deu bons motivos para repensar essa divisão do ser humano entre “racional” e “irracional”. 67


Atualmente é possível descrever o “eu” como mero “centro de gravidade de narrativas” (RORTY, 2005, p. 106-107), no qual diferentes conjuntos de crenças e desejos interagem, não cabendo a nenhuma a função de “primordial”, “essencial”, “basilar”, “racional”. São simplesmente diferentes e apresentáveis em situações diversas, desde que não violem regras sociais que não suportem tal descompromisso (RORTY, 2002, p. 193-219)10. Essas mudanças sugerem que possamos ter bons candidatos para substituir qualquer compreensão hipostasiada de “razão” (seja ela metafísica, transcendental ou comunicativa). A filosofia analítica forneceu esse horizonte através da linguagem, pelo menos quando se livrou da tentação de buscar nos “significados” algo de “a-histórico”11. O surgimento dessa filosofia é um dos principais motivos para se falar em pragmatismo dos pioneiros e o dos atuais12, realimentando esse movimento. Nos novos termos, Pragmáticos esperam parar com a figura que, nas palavras de Wittgenstein, “mantêm-nos cativos” – a figura cartesiano-kantiana da mente como tocando a realidade em si mesma. Então eles começam, com Darwin, a tomar os seres humanos como animais fazendo o seu melhor para lidar com o meio – fazendo seu melhor para desenvolver ferramentas que tornaram possível gozar de mais prazer e menos dor. Palavras estão entre as ferramentas com as quais esses expertos animais têm se desenvolvido. (RORTY, 1999, p. xxii-xxiii ).

A substituição da “experiência”, corrente entre os pragmáticos do início do século passado, por “linguagem” permitiu ao pragmatismo falar em descrições e redescrições, e não mais em “realidade” (dentro ou fora do “ser humano”), a qual poderia ser descoberta através do uso do “método científico”13. Dessa forma passou a tornar-se plausível descrever a teoria não como mais ou menos ligada à “essência da realidade”, ou como “desveladora e fundamentadora das utopias sociais que deveríamos professar”, mas como simples ferramenta útil para realizar propósitos específicos. Como Rorty, é possível dizer que: Contextos providos por teorias são ferramentas para efetuar mudanças. As teorias que promovem novos contextos são avaliadas pela sua efetividade em realizar mudanças, não (como os logocentristas acreditavam) pela sua adequação à realidade. Qualquer ferramenta é substituível tão logo outras mais manuseáveis, menos desajeitadas e mais facilmente portáveis são inventadas. (RORTY, 1999. p. 221, p. xi).

68

10É como vestir-se adequadamente p a r a c a d a o c a s i ã o. N u m a manifestação pública faz bem “usar” uma personalidade mais exaltada, mas numa reunião de negócios é mais apresentável uma postura serena, cordial e objetiva. Nenhuma dessas matizes é mais “racional”, são simplesmente adequados, de acordo com a situação. 11Cf. a crítica ao “significado” através da formulação das teses da “inescrutabilidade da referência” e da “indeter minabilidade da tradução” em QUINE, 2008. Quanto a crítica ao “terceiro dogma do empirismo”, o “esquema-conteúdo”, Cf. RORTY, 2002, p. 173-204. Para uma revisão da leitura que Rorty fez das teses de Davidson nesse artigo Cf. RORTY, 2005, p. 12-13. 12O próprio Rorty diz que são apenas duas as diferenças entre os dois pragmatismos: 1) o primeiro, do início do século representando por Peirce, James e Dewey, falava em “experiência”, enquanto o atual fala, estando alinhado com a filosofia analítica, em “linguagem”; 2) o novo pragmatismo, tendo assumido a influência dos escritos de Kuhn, Hanson, Toulmin e Feyerabend, olha com desconfiança para qualquer coisa que se afirme um “método”, mormente o “método científico” tão em voga entre os pioneiros do pragmatismo. Cf. RORTY, 1999, p. 95. 13O Prof. Giovanni de Queiroz falou de forma interessante sobre as possibilidades abertas pelo diálogo em torno da linguagem: “Esta atividade de descrição/redescrição é uma das boas coisas que podemos fazer com a linguagem, mais do que expressar ou representar, muito embora descrever e re-descrever incorporem essas funções da linguagem. Trata-se de dizer 'tente ver de outro modo', 'mude o ponto de vista', 'mude a perspectiva' e descreva novamente. Talvez outros prefiram dizer 'ponha-se no lugar do outro', não importa. O que me parece importante é nossa capacidade de, com a linguagem, poder estabelecer relações distintas das que estão já bem assentadas, é


poder fazer da linguagem mais um instrumento no jogo de, junto com os demais, lidar com o mundo de objetos, com o mundo de fatos, com o mundo das instituições e práticas sociais.” Acredito que seria melhor que expressões como “mundo dos objetos” e “mundo dos fatos” simplesmente não estivessem presentes, pois, além de não combinar com o tom pragmático dado ao artigo em geral, são francamente incompatíveis com o discurso nominalista assumido pelo autor, tal qual o ter mo “epistemológicas” presente no título. QUEIROZ, 2005, p. 226.

Com essa compreensão nominalista da teoria, conjugada com a descrição do ser humano como um animal flexível e versátil, estamos menos dispostos a nos colocar a questão ontológica “o que nós somos?”, em prol de discutirmos uma outra: “o que podemos fazer com nós mesmos?”. A linguagem, nessa perspectiva, seria apenas mais uma habilidade que os seres humanos desenvolveram para aumentar suas chances de sobrevivência, mas isso não quer dizer que o simples fato de nos comunicarmos através de ruídos nos impele o desejo de justificarmos nossas práticas para todos os usuários da linguagem, muito embora tal descrição seja perfeitamente condizente com essa utopia. Direitos humanos, portanto, nessa versão nominalista, não passariam de “uma das formas que assumimos recentemente [...]” (RORTY, 2005. p. 203). Para que essa descrição dos direitos humanos nos satisfaça é necessário ter o mesmo tipo de desprezo que os pragmáticos têm em relação àqueles que acham que o fim da metafísica é o fim da filosofia, e não o fechar de um dos capítulos da sua história (RORTY, 1988. p. 300-305). Reconhecer a importância das ideias católicas e iluministas para o surgimento e desenvolvimento dos direitos humanos não é o mesmo que defender que sem tais “fundamentações” os direitos humanos não podem sobreviver. Ao contrário, assim como acreditar que a democracia está incrustada na “razão” como o melhor regime social possível pode levar à sua imposição e não ao desenvolvimento persuasivo e gradual de novas democracias, ou mesmo impedir, dentro das democracias já existentes, debates sobre os problemas da democracia, o que seria uma postura francamente antidemocrática, a imposição dos direitos humanos é violação à sua própria proposta. Concordo com Rorty quando diz que Essa persuasão será gradual, suave, a varejo, e não revolucionária ou no atacado. No entanto, essa persuasão gradual e suave é possível. Pois ainda que a democracia de massa [e a cultura de direitos humanos] seja uma invenção européia, a ideia da utopia democrática encontra ressonância em todo lugar. (RORTY, 2005, p. 133).

O melhor que os teóricos podem fazer é encorajar tais mudanças através da persuasão, e não da força, além de fazer-nos parar de pensar em termos obsoletos, tais como sobre a “descoberta” de uma “fundamentação” para os direitos humanos, substituindo conhecimento (como direcionado à busca da “verdade”) por esperança na construção de uma comunidade internacional embasada nos direitos humanos. Se estivermos dispostos a concordar com tudo isso, acredito que, 69


como Amy Gutmann, na introdução do já citado livro de Michael Ignatieff, será fácil pensar nos direitos humanos como não representando nenhuma “natureza humana”, mas como meras crenças extremamente úteis para se alcançar a realização de certos desejos: Direitos humanos são importantes instrumentos para proteger seres humanos contra crueldade, opressão e degradação. Isso é tudo que nós precisamos para acreditar e defender os direitos humanos. Muitas pessoas acreditam em muito mais coisas sobre os direitos humanos, como, por exemplo, que há uma fonte divina ou natural da qual eles jorram. Os propósitos humanos de defender direitos humanos, entretanto, não deveriam discordar tão dramaticamente, mesmo que suas fontes o façam. (IGNATIEFF, 2011).

ROMANCES E REPORTAGENS NO LUGAR DA TEORIA Se a teoria não constitui a parte privilegiada da nossa cultura, aquela que nos permite acessar a “verdade” e, dessa forma, realizar nossa “natureza” como seres cujo objetivo é tentar atingi-la, então lhe resta um papel bem mais modesto. Assim como o resultado do trabalho de romancistas e jornalistas, a teoria serve a fins específicos que só são atingidos quando, como disse acima, conseguem sensibilizar pessoas para compreender a vida ao redor delas. Em relação aos objetivos almejados pela cultura de direitos humanos, ou seja, formar uma comunidade internacional solidária à crueldade e à opressão sofridas por pessoas no mundo todo, a teoria tem muito pouco, ou quase nada, a contribuir. Isso porque o contraste importante não se põe entre interesse próprio x obrigação (RORTY, 2005, p. 94), como assevera Habermas, nem muito menos entre justiça x lealdade (RORTY, 2005, p. 101-122), como poderiam dizer os filósofos antigos, mas sim entre as pessoas que contamos como “um de nós” – aquelas em relação às quais nos sentimos na obrigação de justificar nossas crenças e desejos – e as outras (“eles”). Pessoas extremamente amáveis e doces entre os seus podem ser as mesmas que praticam os atos mais abjetos contra pessoas de fora da sua comunidade, por considerá-las algo abaixo da humanidade. A melhor forma de superar esse tipo de crença não é apelando para alguma “natureza humana” que una de nascença brasileiros e chineses, do tipo que se encontra nos livros de filosofia ou na Bíblia. As invasões americanas ao Afeganistão e ao Iraque, por exemplo, foram comandadas por um presidente americano protestante ultra-conservador, aquele espécime que em 70


qualquer Igreja é capaz de dizer que todos os seres humanos são iguais, mas que fora delas ordena a matança indiscriminada de milhares. Se nos convencermos de que esses discursos filosóficos e religiosos não são nem um pouco mais “falsos” ou mais “errados” do que os seculares que proponho, mas algo do tipo “produtos vencidos nas prateleiras dos recursos humanos”, então será fácil encontrar adeptos na busca de crenças e desejos novos e melhores, ao invés de mais “corretos” ou que “melhor representem a natureza humana”. Só uma busca desse último tipo nos dissuadiria que temos de fugir desesperadamente dos nossos próprios laços culturais (etnocentrismo) à procura de algo mais universal dentro de nós, algo que “por natureza” seja comum a israelenses e palestinos, ao invés de procurar o consenso no melhor lugar em qual ele pode surgir: no diálogo intercultural (RORTY, 2002, p. 281-294). Uma vez que tenhamos tanto acordo intersubjetivo quanto possível e abertura suficiente para mudanças, a “verdade” soará como não mais do que uma velharia com a qual tivemos de lidar para chegarmos até onde chegamos, algo que já não exerce nenhum apelo sobre nós para que continuemos a jogar o seu jogo. Estaremos igualmente prontos a reputar à curiosidade e à imaginação toda a disposição que precisamos para nos identificarmos com pessoas que por ora consideramos como “eles”, mas que gostaríamos de descrever como parte de “nós”. Tanto quanto Habermas e Rorty poderemos “abandonar um conceito especificamente epistêmico de razão – o conhecimento segundo o qual só se é racional se se tenta representar a realidade com exatidão –, e de substituí-lo pelo ideal puramente moral da solidariedade”, tanto embora não tenhamos nenhuma razão para pensar que “comunicação não distorcida” ou “representação acurada da realidade” possam fazer mais pela causa dos direitos humanos do que simplesmente 'justificação” (entendida como a capacidade de angariar consensos sempre mais amplos) (RORTY, 2005, p. 147-148) – e esse é o cerne da divergência entre Habermas e Rorty. Solidariedade é o tipo de coisa para a qual educação é mais importante do que “argumentação” (no sentido de faculdade que conduz à “razão”). Habermas pensa ser útil poder acusar um nazista convicto de ter incorrido em “autocontradição performativa”. Acredita que essa é a melhor forma de evitar que os nazistas voltem a tomar o poder em algum lugar do mundo. Rorty é profundamente cético quanto a essa dita capacidade da “razão” de interferência nos rumos da política. Para ele, educar crianças nos valores democráticos e ensiná-las de modo que sejam cada vez mais tolerantes com a diferença é o melhor que podemos fazer para evitar que um novo 71


império autoritário venha a assolar o mundo, mesmo que dessa forma não se ofereça o mesmo tipo de “garantia” que a “razão” diz possuir. Identidades forjadas no convívio com as diferenças, muito mais do que no desejo por “pureza”, são melhores para continuar sendo interessante desenvolver os sonhos democráticos e da cultura de direitos humanos (RORTY, 2005, p. 148155). Para tanto, fazem bem as virtudes, no ensino superior, do “intelectual humanista”, que toma como uma de suas funções “instilar dúvidas nos estudantes a respeito de suas próprias auto-imagens e sobre a sociedade à qual pertencem” (RORTY, 2002, p. 100). Tais dúvidas são aquelas ligadas não à solidariedade forjada com base na “natureza humana” e na “filiação divina” de todos os seres humanos, mas em coisas bem mais simples e comezinhas, ou seja, “nosso sentimento de solidariedade atinge sua intensidade máxima quando aqueles com quem nos solidarizamos são vistos como 'um de nós', expressão em que 'nós' significa algo menor e mais local do que a raça humana” (RORTY, 2007, p. 314-315). Para forjar o tipo de identificação que se produz através de crenças e desejos compartilhados – como o modo de se criar os filhos, as formas de família, a dor que se sofre após um ato cruel –, as teorias responsáveis por “descobrir” o que há de comum em todos os seres humanos são inúteis, de uma forma que narrativas detalhadas de hábitos de certos povos – do tipo que aparece com frequência em romances, filmes e reportagens jornalísticas – não o são. É claro que os possíveis laços que surgem daí, pelo menos de início, são completamente sentimentais, mas espero já ter dito o suficiente sobre a descrição que o pragmatismo faz do ser humano para tornar o “sentimental” uma fonte tão boa quanto qualquer outra de crenças e desejos, uma que serve apenas a propósitos específicos. Na sua visão, Rorty diz que: Existe um progresso moral e que esse progresso se dá, de fato, em direção à maior solidariedade humana, mas essa solidariedade não é vista como o reconhecimento de um eu nuclear – a essência humana – em todos os seres humanos. É vista, antes, como a capacidade de considerar sem importância um número cada vez maior de diferenças tradicionais (de tribo, religião, raça, costumes), quando comparadas às semelhanças concernentes à dor e à humilhação – a capacidade de pensar em pessoas extremamente diferentes de nós como incluídas na gama do “nós”. Foi por isso que afirmei [...] que as descrições detalhadas de variedades particulares de dor e humilhação (por exemplo, nos romances ou nas etnografias), e não nos tratados filosóficos ou religiosos, foram as principais contribuições do intelectual moderno para o progresso

72


moral. (RORTY, 2007, p. 31-317).

Nessa coligação entre solidariedade e educação, tudo o que precisamos é produzir em toda parte do mundo estudantes “bons, tolerantes, sortudos, seguros e respeitadores dos outros” (RORTY, 2005, p. 215), pessoas capazes de conviver perfeitamente com a diferença alheia sem menosprezar a sua própria identidade ou a do outro, mas dialogando e tanto quanto possível mantendo-se aberto às novidades. Sem dizer que esse é o único tipo de pessoa que pode levar à frente a cultura de direitos humanos, acredito que, para aqueles que detêm gostos filosóficos como eu, essa é uma boa descrição. CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi a filosofia a responsável por nos dissuadir que a busca pela “verdade” era a capacidade distintivamente humana, aquela que poderia nos revelar nossa “natureza” e “fundamentar” nosso desejo de criar uma comunidade cosmopolita. Portugueses, quando da colonização do Brasil, acreditavam estar cumprindo uma missão divina e posteriormente alargando as luzes da razão, mas mesmo assim foram incapazes de ver os índios como tão humanos quanto eles próprios. Isso não ocorreu porque nossos compadres lusitanos tenham entendido mal a “natureza humana”, de uma forma que nós, criadores da cultura de direitos humanos, tenhamos compreendido corretamente. É possível descrever essa relação entre povos de forma a não fazer menção a nenhuma “natureza”. Simplesmente portugueses não acreditavam que índios eram seres humanos, no máximo os viam como animais que, diferentemente de cobras e onças, poderiam ser educados (leia-se: “catequizados”) de modo a aprender os hábitos “corretos” (leia-se: europeus). Da mesma forma, israelenses e palestinos, dois povos extremamente religiosos, digladiam-se na convicção de que seus inimigos não passam de algo como “cães” ou “demônios”. Então, se não pensarmos na teoria como a atividade que desenvolve a “capacidade distintivamente humana”, soaria plausível tanto abdicarmos da aventura em busca da “natureza humana” quanto da crença em que sem ela nossa cultura de direitos humanos cairia por terra. Sentir-nosemos membros de uma cultura sólida o bastante para afirmar os direitos humanos como o melhor que podemos fazer na atualidade para nós mesmos, como a melhor forma de realizar nossas crenças e desejos. Será igualmente possível pensar que algo bem mais simples como conhecer os hábitos de outros povos e pessoas é a melhor alternativa que 73


temos para deixar de vê-las como “eles” e passar a descrevê-las como “nós”. Para essa tarefa – muito mais propícia às narrativas do que às “teorias” – filmes, reportagens de jornal e romances são instrumentos bem mais úteis. A educação e a sensibilização de jovens no mundo todo, a formação de pessoas dispostas a ampliarem suas próprias comunidades, nessa visão pragmática, seriam boas coisas a fazer se realmente quisermos criar uma sociedade cosmopolita em torno dos direitos humanos. REFERÊNCIAS IGNATIEFF, Michael. Human rights as politics and idolatry. Nova Jersey: Princeton University Press, 2001. KANT, Immanuel. A filosofia do direito: enxertos. In: MORRIS, Clarence (Org.). Os grandes filósofos do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2002. (Coleção justiça e direito). QUEIROZ, Giovanni da Silva de. Algumas questões epistemológicas da pesquisa em direitos humanos. In: TOSI, Giuseppe (Org.). Direitos humanos: história, teoria e prática. João Pessoa: Universitária/UFPB, 2005. p. 217-230. QUINE, Willard Van Orman. Two dogmas about empiricism. Disponível em: <http://www.ditext.com/quine/quine.html>. Acesso em: 14 fev. 2008. RORTY, Richard. A filosofia e o espelho da natureza. Lisboa: Dom Quixote, 1988. ______. Contingência, ironia e solidariedade. São Paulo: Martins Fontes, 2007. (Coleção dialética). ______. Ensaios sobre Heidegger e outros. In: GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. Filosofia da educação. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 99-104. ______. NYSTROM; PUCKETT, Kent. Contra os patrões, contra as oligarquias: uma conversa com Richard Rorty. São Paulo: UNESP, 2006. ______. Objetivismo, relativismo e verdade. In: SOUZA, José Crisóstomo de (Org.). Filosofia, racionalidade e democracia: os debates Rorty e 74

Habermas. São Paulo: UNESP, 2005. ______. Philosophy and social hope. Londres: Penguin Books, 1999. ______. Pragmatismo e política. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Coleção dialética). ______. Verdade e progresso. Barueri: Manole, 2005. ______. Verdade, universalidade e política democrática: justificação, contexto, racionalidade e pragmatismo. In: SOUZA, José Crisóstomo de (Org.). Filosofia, racionalidade e democracia: os debates Rorty e Habermas. São Paulo: UNESP, 2005. p. 103-162.


Artigo GÊNERO E POLÍTICA: A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NO LEGISLATIVO MUNICIPAL DE CAXIAS–MA Valdenia Guimarães e Silva Menegon¹

RESUMO O texto enfoca o conceito de gênero como uma categoria resultante do processo histórico e cultural. Analisa-se a participação política das mulheres e a subrepresentação destas no legislativo municipal de Caxias-MA. Tece uma crítica às assimetrias ocasionadas a partir dos papéis socialmente atribuídos a homens e mulheres. Traça um perfil das vereadoras que exerceram mandato no município de Caxias, além de apontar as variáveis para a subrepresentação política das mulheres, destacando a ausência de uma plataforma voltada para a igualdade de gênero, raça e etnia. Palvras-chave: Gênero. Participação. Legislativo. ABSTRACTS The paper focuses on the concept of gender as a category resulting from historical and cultural process. Analyzes to women´s political participation and their underrepresentation in the legislative city of Caxias, MA. Weaves a criticism the asymmetries arising from starting roles socially assigned to men and women. Presents a profile of councilors who have exercised the city mandates in the city of Caxias, besides pointing out the variables for the underrepresentation of women in politics, highlighting the absence of a platform focused on gender equality, race and ethnicity. Keywords: Gender. Participation. Legislation.

¹ Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Coordenadora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão – FACEMA. Assessora especial da Prefeitura Municipal de Caxias / Secretaria Municipal da Mulher.

75


INTRODUÇÃO O artigo texto faz parte das discussões que estão sendo travadas em um grupo de debate organizado pela Secretaria Municipal da Mulher da Prefeitura Municipal de Caxias sob a coordenação do gabinete da secretária e do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Caxias/MA – CMDM e surgindo da necessidade de análise da participação política feminina no Município, bem como das discussões no Curso de Fortalecimento da Participação de Mulheres nos Espaços de Poder do Município de Caxias, através de convênio realizado entre a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República – SPM/PR e a Prefeitura Municipal de Caxias. Neste texto procura-se discutir como ocorre as desigualdades entre os gêneros e como esta construção acaba por afetar a representação feminina na política e aponto as principais variáveis para a subrepresentação das mulheres nos espaços de poder e decisão. No legislativo caxiense ocorre a subrepresentação feminina, onde a Câmara Municipal trás em sua estrutura um legado eminentemente masculino e uma significativa representação de mulheres e a ausência de plataforma política voltada para a igualdade de gênero, raça e etnia entre os/as legisladores/as. REFERENCIAL TEÓRICO Ao longo dos anos a questão de gênero tem permeado a construção da sociedade, fazendo com que homens e mulheres exerçam papéis distintos em todos os setores da vida humana. As mulheres, em especial, os grupos de negras, indígenas, portadoras de deficiências, quilombolas e lésbicas, têm enfrentado preconceitos e discriminações, principalmente em se tratando da vida pública. O conceito de Gênero foi desenvolvido nos anos 1970 com profunda influência do pensamento feminista. Ele foi criado para distinguir a dimensão biológica da dimensão social, baseando-se no raciocínio de que há machos e fêmeas na espécie humana, no entanto, a maneira de ser homem e de ser mulher é realizada pela cultura. Assim, gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus corpos. (SPM, 2009, p. 43)

As assimetrias de gênero, as desigualdades de oportunidades, condições e direitos entre homens e mulheres, acabam gerando hierarquia entre os gêneros e fazem parte do tecido social que envolve a sociedade como um todo. Entende-se como gênero diferenças sociais culturalmente construídas ao longo da história baseada no sexo e determinadas pelo fato de alguém ser homem ou mulher. É claro que se compreende a existência de especificidades próprias entre homens e mulheres, mas estas características distintas se referem às diferenças naturais próprias de ambos os sexos, que não podem servir de base para atribuições de papéis sociais. As diferenças biológicas têm sido comumente utilizadas para inibir o desenvolvimento igualitário entre homens e mulheres, considerando o sexo feminino inferior ao masculino, frágil, com aptidões voltadas aos serviços domésticos e familiares, determinando desta forma os papéis exercidos por cada sexo na sociedade. A partir desta concepção são atribuídos funções e 76


lugares sociais. O modo como homens e mulheres se comportam em sociedade corresponde a um intenso aprendizado sociocultural que nos ensina a agir conforme as prescrições de cada gênero. Há uma expectativa social em relação à maneira como homens e mulheres devem andar, falar, sentar, mostrar seu corpo, brincar, dançar, namorar, cuidar do outro, amar etc. Conforme o gênero, também há modos específicos de trabalhar, gerenciar outras pessoas, ensinar, dirigir o carro, gastar o dinheiro, ingerir bebidas, dentre outras atividades. (SPM, 2009, p. 40)

As relações de gêneros têm configurado como relações de poder e desigualdade entre os sexos, e frequentemente culminado na estrutura social baseada na discriminação social das mulheres, seja no trabalho, comunidade, política e no âmbito familiar, onde na maioria dos casos o homem ainda é considerado o chefe da família. Em termos de relações de poder, é preciso afirmar que: Na verdade, o poder opera em todos os níveis da sociedade, desde as relações interpessoais até o nível estatal. As instituições e estruturas do Estado são elementos dentro de certas esferas de poder, cujas concepções se fundem na complexa rede de relações de força. Nesse sentido, o poder pode ser visto como um aspecto inerente a todas as relações econômicas, sociais e pessoais. Podese afirmar que o poder está presente do leito conjugal de um casal a sala presidencial do Palácio do Planalto. Estas relações de poder que operam em distintos níveis estão em constante conflito de interesses. (COSTA, 2010, p. 02).

Estes conflitos estão presentes nas relações de gênero, já que [...] muitas mulheres não podem decidir sobre suas vidas, não se constituem enquanto sujeitos, não exercem o poder e principalmente, não acumulam este poder, mas o reproduzem, não para elas mesmas, mas para aqueles que de fato controlam o poder. As pequenas parcelas de poder ou os pequenos poderes que lhes tocam e que lhes permitem romper, em alguns momentos ou circunstâncias, a supremacia masculina, são poderes tremendamente desiguais. (COSTA, 2010, p.03)

O papel atribuído a homens e mulheres na sociedade tem sido relevante para ocasionar diferenças entre os sexos, visto que ao homem cabe a esfera pública, enquanto à mulher o espaço domiciliar. Estas atribuições são reflexos de construções culturais que atribuem a determinados grupos características distintas que fundamentam sua forma preconceituosa nas relações de poder e o exercício de mando nos espaços de decisão. Como afirma Ferreira: [...] ao determinar lugares aos homens e interditá-lo às mulheres, a sociedade cria formas de exclusão que se consubstanciam em processos que terão marcas profundas na cidadania feminina; seus reflexos aparecem na desigualdade da representação legislativa e em praticamente todos os espaços de decisão e poder que vão do judiciário ao executivo, das direções sindicais e

77


partidárias aos cargos nas universidades, entre outros. (FERREIRA 2004, p.03)

Vale salientar que todo padrão dominante de sociedade encontra-se fincado no patriarcalismo, e segundo Costa se constitui uma [...]organização sexual hierárquica da sociedade tão necessária ao domínio político. Alimenta-se do domínio masculino na estrutura familiar (esfera privada) e na lógica organizacional das instituições políticas (esfera pública) construída a partir de um modelo masculino de dominação (arquétipo viril). (COSTA 2010, p. 04)

Ao realizar uma análise da participação feminina no legislativo é importante frisar que se está falando de política, aqui entendida como: [...]espaço singular de práticas e relações sociais, constitui o caminho privilegiado para a realização de mudanças na sociedade. É o espaço onde transcorre a luta e a defesa de direitos e de interesses e, por conseguinte, um lócus privilegiado de conflito, que pode ser enfrentado a partir do diálogo, do consenso, da negociação, e também da disputa, do confronto e, ainda, da chantagem, da cooptação e até da violência física. (RODRIGUES, 2005, p. 01)

A exclusão das mulheres da vida pública em favorecimento da participação dos homens é um fenômeno mundial. No Brasil, as mulheres só conquistaram este direito em 1932. No ano seguinte, foi reconhecido o direito das mulheres de concorrerem a cargos eletivos e somente em 1946 o voto feminino passou a ser obrigatório. Somente na segunda parte do século XX as mulheres passaram a participar efetivamente da vida pública brasileira de forma tímida, o com número de parlamentares ainda reduzido, demonstrando que há um longo caminho a ser percorrido. A presença de mulheres nos mais diferentes espaços na sociedade brasileira é, sem dúvida, uma conquista recente. Foi apenas a partir da segunda metade do século XX que as portas do mercado de trabalho e das universidades, de fato, se abriram para a população feminina. No entanto, no que se refere à vida política, os avanços ainda são pouco significativos. (FREIRE In, PINHEIRO, 2007, p. 13)

78

Ao longo deste processo, as mulheres têm criado frentes de participação política das quais se destacam as organizações da sociedade civil (sindicatos, movimentos sociais, associações, movimentos populares, entre outros), partidos políticos e ocupação de cargos e de mandatos eletivos no Estado (legislativo e executivo). No cenário brasileiro, a presença das mulheres ocorre de forma mais expressiva no âmbito da sociedade civil organizada, sendo pequena nos partidos políticos e, menor ainda, nos poderes executivo, legislativo e judiciário. No cenário internacional, o Brasil integra o grupo dos países com desempenho considerado entre intermediário/ruim quanto à presença de mulheres no Parlamento: 8,6% na Câmara dos Deputados e 12,3% no Senado Federal. O Brasil ocupa a 99ª posição entre 189 países, estando abaixo da média das Américas, sendo de 19,5% para Câmara e 17,3% ao Senado. À frente do


Brasil está países da América Latina, com destaque para a Argentina e o Peru, encontram entre os 20 primeiros da lista com maior ocupação de cadeiras no Legislativo (BRASIL, 2008, 117). Em se tratando das Assembléias Legislativas estaduais, as desigualdades permanecem. Como exemplo pode-se destacar: no Tocantins, das 24 cadeiras existentes e somente três ocupadas por mulheres, Em Santa Catarina, das 40 cadeiras apenas três mulheres as ocupam. Para o Maranhão, das 46 cadeiras, temos seis deputadas. São diversas as variáveis apontadas para a subrepresentação das mulheres nos espaços de poder e decisão dentre as quais se destacam: terem menos recursos financeiros que os homens, menos tempo para dedicação à prática política, menos tempo de vida pública, menos influência política, sendo preteridas em relação aos homens nos partidos políticos e enfrentam a cultura patriarcal de eleitores/as onde predomina a visão que associa os homens ao espaço público e as mulheres ao espaço privado. MATERIAL E MÉTODO O município de Caxias-MA está localizado acerca de 354 km da capital do Estado São Luís, fazendo parte da Mesorregião Leste Maranhense, localizado na Microrregião de Caxias. É a quarta cidade em população do Estado e o 13° Município em extensão, com área total de 5.250,0 km2. Segundo estimativa do IBGE, tem população total de 148.072 habitantes (IBGE, 2009). O número de mulheres residentes em 2007 era de 73.780 (IBGE). Em se tratando de organização administrativa, o Município possui uma estrutura organizacional estruturada com forte articulação entre os poderes executivo e legislativo e setores da sociedade civil organizada. A Câmara Municipal é o Poder Legislativo com funções legislativas, de fiscalizar os atos do Executivo e da administração dos seus serviços. Compõese atualmente de dez vereadores e uma vereadora, eleitos diretamente pelos eleitores municipais para uma legislatura de quatro anos. As principais funções da Câmara Municipal são: legislar, organizarção do o Município; controlar as contas públicas; julgar politicamente o Gestor Municipal; assessorar o Executivo Local e administrar seus próprios serviços. Este artigo foi construído a partir de pesquisa bibliográfica, utilizando-se de textos e livros de circulação nacional, pesquisa em sites e relatórios produzidos pela Câmara Municipal de Caxias, monografias de conclusão de cursos e o livro d`ouro. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pesquisando nos anais da Câmara Municipal de Caxias é possível perceber a quase hegemonia masculina em todas as legislaturas. A presença feminina se dá apenas em treze legislaturas, onde em apenas dois pleitos houve a eleição de três mulheres. Nos demais pleitos não houve eleição de candidatas ou o número variou entre uma e duas vereadoras por pleito. Um ponto interessante a ser discutido, como afirma Rodrigues, é que: Nas eleições municipais, para a Câmara de Vereadores e para a Prefeitura, coloca-se em questão a eleição de representantes políticos que tenham uma maior vinculação com os cidadãos e

79


cidadãs e com os sujeitos políticos coletivos na comunidade. Nessa esfera, tende a ser mais fácil o acesso das mulheres a essas posições, no sentido de que a presença das mulheres e sua atuação na comunidade podem fazer um melhor contraponto à falta ou à precariedade de recursos financeiros e de influência política. Embora não se deva subestimar o fato de que a candidatura de mulheres tende a enfrentar uma cultura patriarcal mais arraigada em pequenos e médios municípios, a visibilidade e a efetividade do trabalho político das mulheres tendem a ser reconhecidas e valorizadas. (RODRIGUES, 2005, p. 06)

Resultados das últimas eleições municipais no Brasil voltaram a afirmar o poder masculino ao serem eleitos para os Legislativos Municipais 45.463 (87,47%) vereadores e apenas 6.511 (12,53%) vereadoras (CFEMEA, 2010). Fato agravante quando levado em consideração a existência da Lei N° 9.504/1997, “Lei de Cotas” que na época determinava que cada partido ou coligação deveria reservar o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo. A realidade do município de Caxias não difere do restante do País. Em sua história política só houve uma prefeita municipal e uma vice-prefeita, sendo o número de vereadoras inexpressivo. O quadro geral mostra que a participação das mulheres nos espaços de poder no Município ainda é bastante restrita. Tendo na atualidade, apenas dezessete vereadoras, sendo que apenas duas tiveram mais de um mandato. É importante ressaltar que as primeiras legisladoras só obtiveram pleitos na Câmara Municipal de Caxias após o reconhecimento do direito das mulheres de votarem e serem votadas e onde as condutas de comportamento eram pautadas na ordem cristã/conservadora e direcionadas de modo especial às mulheres. Desta forma, como frisa Salazar ao analisar a década de 1940: [...]continuavam a perpassar pelo imaginário da sociedade caxiense a mentalidade vivida por suas raízes do passado fortemente emergida no moralismo católico. Percebe-se a preocupação com o que representava o novo e o que deveria ser considerado perigoso para a formação dos princípios da família, pautadas na conservação de valores morais na referida época. (SALAZAR 2009, p. 31) Ao traçar um perfil destas mulheres pode-se afirmar que todas pertencem a grupos políticos dominantes, de direita ou centro-direita, a maioria entrou no espaço da política através de indicação do marido ou de algum membro do sexo masculino da família ou do grupo da qual é aliada, seja pela impossibilidade do homem em concorrer ao pleito ou por este já está exercendo outro cargo público. Nenhuma destas mulheres saiu do Movimento feminista, mesmo porque este é praticamente inexistente em toda a história do Município. No geral são mulheres letradas: professoras, acadêmicas, médicas, enfermeiras ou apenas esposas de políticos levadas pelas conjunturas de cada época a se inserirem no campo da política representativa. Um exemplo que difere das demais a vereadora Conceição de Maria Assunção de Araújo, conhecida como Conceição “Pé no Chão” que abraçou por si só a participação na política local. Filha de forte família tradicional do 80


Município “os Assunção”, funcionária pública federal lotada no INSS, nunca foi casada e ingressou na carreira política sem uma condução masculina específica. Silvandira Kós Guimarães, professora, apesar de nunca ter se casado, entrou na política através da indicação do chefe do partido Político Arena, Sr. Alderico Machado. Como cita Antônia Lopes Guimarães Oliveira, neta adotiva de Silvandira em seu Livro D`ouro em 23 de julho de 1977: “Chegando o dia da posse, Silvandira juntamente com os demais membros da mesa, fizeram o juramento exigido, como compromisso, achando-se sempre nos trabalhos, de acordo aos projetos ao Município e ao povo em geral”. Nenhuma destas mulheres apresentou uma plataforma política voltada para a igualdade de gênero, raça e etnia apesar de algumas terem apresentado projetos que englobavam direitos das mulheres e de se mostrarem, em alguns momentos, identificadas com a causa feminina, mas não feminista. A única vereadora na história da Câmara Municipal de Caxias que apresenta maior proximidade com as discussões acerca das políticas para as mulheres e a história do movimento feminista foi a vereadora Ana Lúcia Soares da Silva Ximenes; enquanto membro daquela Casa fez vários estudos sobre a luta das mulheres e se aproximou deste campo da política. É possível perceber que o número de mulheres exercendo função legislativa diminuiu nos últimos anos. Indicando que permanece entre o eleitorado caxiense o descrédito em termos de candidaturas femininas, como o pouco investimento nestas candidaturas, e o incentivo ao surgimento de novas lideranças femininas no campo da política representativa. Do ano de 1995 até os dias atuais, apenas sete mulheres ocuparam cargos na Mesa Diretora da Câmara, no entanto, apesar de reduzido, a participação destas mulheres na Mesa Diretora e de modo especial, o exercício da vice-presidência ocupado na atualidade pela vereadora Thaís Garcia Coutinho, mostra um avanço significativo num espaço dominado pelo masculino. Todos que exerceram a função de presidente são do sexo masculino. CONSIDERAÇÕES FINAIS A subrepresentação política das mulheres no Brasil tem suas raízes fincadas nas estruturas de uma sociedade marcadamente patriarcal e sexista que inibe a presença de mulheres nos espaços públicos de poder e decisão e encobre um modelo social alicerçado nas práticas preconceituosas e discriminatórias de gênero, o que causa sérias assimetrias entre homens e mulheres. As variáveis apontadas para esta realidade vão desde a falta de recursos financeiros em campanhas de candidatas até o pouco investimento em formação de lideranças femininas interessadas em disputar cadeiras no executivo e no legislativo, passando pelo forte preconceito que a sociedade tem em relação ao exercício do poder pelas mulheres. O caso de Caxias não foge à regra. As mulheres não têm uma história marcadamente política para apresentar para a sociedade local ou estadual. As lideranças políticas femininas são preteridas em suas candidaturas desde os partidos políticos em que são filiadas, a não ser, quando levadas por algum membro do sexo masculino que esteja com algum impedimento para o exercício de mandatos públicos ou porque estes já ocupam outros postos de mando.. 81


Nossas representantes no Legislativo não apresentaram uma plataforma voltada para a igualdade de gênero, mas sempre se puseram a favor dos direitos das mulheres, mesmo sem uma concepção de gênero fundamentada. Outro dado importante é que as vereadoras eleitas, não deram continuidade na carreira política na órbita representativa. A maioria só conseguiu eleger-se a um ou dois pleitos, apresentando uma descontinuidade na vida política de representação. É preciso também destacar a força que estas mulheres têm tido ao longo dos pleitos em que exerceram ou exercem o mandato de vereadoras independente das suas opções político/partidárias. É necessário louvar sua ousadia em adentrar um espaço eminentemente masculino, sofrendo, inclusive preconceito dos seus pares. No entanto, é preciso avançar mais neste sentido e dar maior segmento às políticas para as mulheres no intuito de fomentar não apenas nas mulheres parlamentares, mas em todo o corpo que compõe a Câmara Municipal de Caxias a implementarem um pleito voltado para a igualdade entre os gêneros. É necessário progredir nas discussões sobre a busca da igualdade entre todos e todas. Um trabalho que já vem sendo realizado desde 2009 quando foi instalada no Município a Secretaria Municipal da Mulher, que procura entre os seus eixos de trabalho fortalecer a participação das mulheres nos espaços e poder e decisão em âmbito local. É preciso ainda que as mulheres sintam interesse pela política e busquem não apenas conhecê-la, mas participar ativamente dos processos que culminam em propostas, leis e decretos municipais que interferem diretamente em toda a vida das pessoas que habitam o município. REFERÊNCIAS BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Revista do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2009. BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Relatório Anual do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero 2009/2010: mulheres, poder e decisão. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2009.

Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2008. CÂMARA MUNICIPAL DE CAXIAS. Resolução n° 010/1990: dispõe sobre o Regimento Interno da Câmara de Caxias do Estado do Maranhão Resolução n° 010 de 24 de outubro de 1990. Caxias: [S. n.], 1990. CÂMARA MUNICIPAL DE CAXIAS. Relatório. Caxias, 2009. CÂMARA MUNICIPAL DE CAXIAS. Relatório. Caxias, 2010.

BRASIL. Presidência da República. Secretaria CENTRO FEMINISTA DE ESTUDOS E Especial de Políticas para as Mulheres. II Plano ASSESSORIA. Dados das eleições no Brasil. Nacional de Políticas para as Mulheres. Brasília: Disponível em: <www.cfemea.org.br/>. Acesso em 82


SALAZAR, Conceição de Maria Oliveira. A representação da família caxiense através do discurso C O S T A , A n a A l i c e . G ê n e r o, p o d e r e do jornal Cruzeiro na década de 40. Orientadora Profª. empoderamento de mulheres. Disponível em: Jordânia Maria Pessoa. (Monografia de graduação) Caxias: Centro de Estudos Superiores de Caxias, 2009. <www.agende.org.br>. Acesso em: 30 mar. 2010. 02 abr. 2010.

DEL PRIORE. Mary (Org.). História das mulheres SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. Disponível em: <www.dhnet.org.br/>. no Brasil. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2007. Acesso em: 21 maio 2010. FERREIRA. Mary. Mulheres no Legislativo: demandas e ação política das deputadas. Disponível SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS PARA em: <www.maismulheresnopoderbrasil.com.br/ AS MULHERES. Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação 2005>. Acesso em: 29 maio 2009. Sexual e Relações Étnico-Raciais. Rio de Janeiro: FERREIRA. Mary. Representação feminina e CEPESC, 2009. construção da democracia no Brasil. Disponível em: VILANETO, Quintas. O município e a câmara <www.ces.uc.pt./>. Acesso em: 30 jun. 2010. municipal. Caxias: Câmara Municipal de Caxias, 2006.. FREIRE. Nilcea, in PINHEIRO, Luana Simões. Vozes femininas na política: uma análise sobre mulheres parlamentares no pós-constituinte. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, 2007. OLIVEIRA, Antônia Lopes Guimarães. Livro d`ouro da vida de Silvandira Kós Guimarães. Caxias: [s.n.], [19--?]. 24 p. Datilografado. PREFEITURA MUNICIPAL DE CAXIAS. Secretaria Municipal da Mulher. Empoderamento de mulheres. Caxias: Prefeitura Municipal de Caxias, 2010. RODRIGUES, Almira. As mulheres e a política: uma análise de gênero e etnia no espaço da política, D i s p o n í v e l e m : <www.maismulheresnopoderbrasil.com.br/ 2005>. Acesso em: 29 maio 2009. 83


84


Artigo O C O N H E C I M E N TO DA L Í N G UA BRASILEIRA DE SINAIS PELO ALUNO SURDO CAXIENSE E RESPECTIVAS DIALETOLOGIAS, NO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA PÚBLICA Erlinda Maria Bittencourt¹

RESUMO Análise crítico reflexiva sobre o conhecimento da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, pelo aluno surdo caxiense e suas dialetologias no Ensino Fundamental da Escola Pública de Caxias – Maranhão, num contexto em que a educação bilíngue para surdos ainda é vista como discurso e práticas clínicas hegemônicas, com características oralistas. Nessa perspectiva, o foco desse estudo sobre o conhecimento da língua de sinais será o espaço escolar da sala de aula com alunos surdos e ouvintes, professor da disciplina, intérprete da LIBRAS, instrutor, com o olhar sobre as metodologias, interação professor da disciplina, professor intérprete, aluno surdo e aluno ouvinte. Palavras-chave: LIBRAS. Aluno surdo. Caxiense. ABSTRACT Critical reflective analysis on the knowledge of Brazilian Sign Language - LBS by a deaf student and his caxiense dialectology in the Elementary School Public School Caxias - Maranhão, in a context in which bilingual education for the deaf is still seen as a hegemonic discourse and clinical practice with characteristics of orality. From this perspective, the focus of this study on the knowledge of sign language is the space of the school classroom with deaf and hearing students, subject teacher, interpreter of the LBS, instructor, with the look on the methodologies of the discipline teacher interaction, teacher interpreter, a deaf student and student listener. Keywords: LIBRAS. Deaf student. Caxiense.

¹Graduada em Letras. Especialista em Língua Portuguesa. Mestre em Ciências da Educação. Docente do Departamento de Letras do CESC/UEMA.

85


.INTRODUÇÃO Esta produção científica tem como objeto de investigação o conhecimento da LIBRAS pelo aluno surdo caxiense das escolas públicas estaduais de Caxias-MA, ante os desafios da comunicação no ambiente escolar, com os docentes, professor intérprete e discentes ouvintes e contra o preconceito linguístico existente na sala de aula, que merece de toda comunidade Educacional Caxiense, de modo particular da própria comunidade surda, um olhar analítico, proativo, destacando-se a urgente necessidade de uma educação bilíngue inclusiva que garanta o acesso, a permanência e a participação do aluno surdo nas atividades escolares e sociais e que não faça desse cidadão um estrangeiro dentro do seu próprio país. Esta pesquisa está pautada em um referencial teórico voltado para a educação do surdo, deficiência auditiva, bilinguismo, linguística, sociolinguística, letramento do surdo; assim, seu construto teórico recorre a autores como Redondo (2001), Perlin (1998), Quadros (2004), Fernandes (2010), Martelotta (2009), Mussalim (2004), Orlandi (1996), Botelho (2005), dentre outros autores clássicos nos campos de abrangência teórica deste estudo, que ora se delineia. REFERENCIAL TEÓRICO O discurso da inclusão hoje permeia todo campo educacional, sobretudo no que tange a educação básica. Constitui-se em modismo dizer, por exemplo, que os espaços escolares têm propiciado todas as condições necessárias para a inclusão do surdo na escola regular. No entanto, o que a prática nos mostra não converge com o que a teoria preceitua e a norma legal reza. Ao tratar da representação social da surdez no cotidiano escolar, Silva afirma que: [...] há um imenso abismo entre o mundo acadêmico e o cotidiano escolar. Este cotidiano nos revela, ainda hoje, uma grande lacuna entre o que é proposto em lei, [...] no que se refere à educação do surdo.[...]Pode-se inferir que esta lacuna esteja diretamente ligada a uma série de fatores que vêm acompanhando o processo educacional do surdo por gerações. (SILVA ANO apud FERNANDES, 2010, p. 39).

Dessa forma, e para que se evitem trajetórias escolares e extraescolares tão angustiantes, bem como a resignação dos surdos por estarem expostos a um sistema de crenças baseado num desejo de normalização e principalmente, para que esse evidente antagonismo se desmistifique ou diminua, (enquanto problema cultural), enceta-se essa reflexão com o tema: O Conhecimento da LIBRAS pelo Aluno Surdo Caxiense e Respectivas Dialetologias, no Ensino Fundamental da Escola Pública para que de fato após o reconhecimento dessa urgente conscientização se estabeleça o conhecimento efetivo da LIBRAS ou a compreensão necessária sobre a importância dessa aquisição linguística e que se faça imediatamente a inclusão do surdo com o ouvinte e demais segmentos escolares e sociais, através da linguagem de sinais para a comunicação mais eficiente e sem discriminações. Temática motivada, portanto, pelo Curso de Especialização em Libras, que despertou urgência de ações em prol da clientela surda, uma vez que durante os estudos realizados em sala de aula, constatou-se que de acordo com 86


a identidade assumida pelo surdo na sociedade, são apresentadas as diferentes tipologias, relacionadas por Perlin (apud Salles, 2007, p. 41) que determinarão sua cultura, tais como: Identidade flutuante - vive igual aos ouvintes; Identidade inconformada - não capta nada dos ouvintes e se sente subversivo por se sentir subalterno; Identidade de transição - o contato com os surdos foi tardio; trazendo dificuldades nas duas línguas, Identidade Híbrida - surdos que nasceram ouvintes e ficaram surdos mais tarde; Identidade surda – que embora se sintam capazes de se assumirem enquanto surdos e participem de suas comunidades de forma ativa e proativa, ainda é uma minoria que a interioriza. Segundo Perlin, as diferentes identidades surdas são complexas e diversificadas, o que pode ser constatado na divisão acima apresentada, uma vez que esta classificação revela um processo de identidades instáveis. Importa ressaltar que dentre elas impera a identidade cultural, ou seja, a identidade surda é o ponto de partida para identificar as outras categorizações. Outro fator que contribuiu para esse cotejo junto ao deficiente auditivo foi o da Formação Continuada dos Professores do Curso de Mestrado, que embora tenha sido em Ciências da Educação, por ser a investigadora formada na área de Letras, justifica-se o fato de que o professor da referida área, bem como os demais docentes de diversas áreas do conhecimento, devem estar atualizados em toda e quaisquer áreas em que atuem, especialmente quando legitimadas as reformas do Sistema Educacional Brasileiro no âmbito de políticas de idioma, situando a LIBRAS no âmbito da língua materna dos surdos. De modo especifico, e em razão dessa necessidade, no conhecimento da LIBRAS e suas dialetologias, bem como seu uso, para que todo o corpo docente, unificado por essa imperiosa ação e mudança de postura, domine a Língua Brasileira de Sinais, tornando-se mediador, intérprete e articulador desse código, que como a Língua Portuguesa já está oficializado e que exige um trabalho lingüístico interdisciplinar e proativo, de forma que possa atender com eficiência todos os usuários, estendendo-se aos discentes ouvintes. Com esse propósito, afirma-se que o domínio da LIBRAS pelos surdos e atores educacionais torna-se prioridade, bem como para o falante e/ou o usuário das línguas oficiais ou dos idiomas do Brasil: Português e LIBRAS. Reafirma-se que a Língua de Sinais não se caracteriza pelo seu modo de propagação. Em outras palavras, o que a define é principalmente, a cultura que ela carrega, sua estrutura e usos. Dessa forma, a Língua de Sinais é língua e não mímica, como muitos ainda discutem. Exemplo disso é que se diz línguas (no plural) porque cada comunidade surda tem sua própria língua. No Brasil, temos a Língua Brasileira de Sinais e a Língua de Sinais Kaapor Brasileira, que são diferentes da Língua de Sinais dos Estados Unidos da América, da França, dentre outros. As referidas línguas possuem características fonológicas (unidades mínimas distintivas tais quais os fonemas). Para ilustrar, basta reconhecer que é o formato da mão durante a produção do sinal que pode diferenciar de sinal para sinal. A estrutura da língua de sinais engloba a morfossintaxe, a semântica e pragmática própria, que nos dias atuais estão sendo alvo de estudos mais densos. Pretende-se traçar um paralelo entre a diversidade e a unidade, entre o conhecimento da LIBRAS, de seu uso real, em sala de aula e a oficial (reconhecida pela Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, através do Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005) e consequentemente, as dialetologias do aluno surdo caxiense, oriundas desse contexto, ou entre LÍNGUA & 87


SOCIEDADE, linha de pesquisa adotada para essa busca de conhecimento, com seu respectivo rigor científico. Assim, com base epistemológica em Quadros (1999) e por analogia, os aspectos a serem abordados, ilustrarão as diferenças ou similaridades no comportamento a ser observado em sala de aula e as possíveis variações linguísticas (algumas denominadas por colegas professores de LIBRAS, que atuam com essa modalidade inclusiva de alunos, de “LIBRAS DE RUA”). Pode-se afirmar com base nessas considerações, que a sala de aula é um espaço de domínio social no qual se encontra grande variação do uso da língua. Isso se reflete mesmo na linguagem do (a) Professor (a), que exerce um papel social de ascendência sobre seus alunos, pois está submetido (a) a regras rigorosas no seu comportamento verbal e não-verbal. Isto implica dizer, que em todos os domínios sociais, com regras que determinam as ações que ali são realizadas, ainda que em grau considerado menor, haverá variações de linguagem nesses domínios, razão porque pretende-se propiciar essa leitura proativa ou mais esse estudo, a partir do Ensino Fundamental da Escola Pública de Caxias A língua portuguesa no Brasil, possui muitas variedades dialetais. As pessoas são identificadas em aspectos geográficos e sociais pela forma como falam. No que se refere ao valor social há muitos preconceitos atribuídos aos diferentes modos de falar, por isso é muito comum considerar as variedades lingüísticas de menor prestígio como inferiores ou erradas. Os problemas de preconceitos disseminados na sociedade no que se refere as falas dialetais, devem ser enfrentados na escola, em seu objetivo educacional mais amplo, para que o surdo adquira o respeito à diferença. A escola precisa, para isso, livrar-se do mito de que existe uma única forma “certa” de falar, posto que essa crença produz uma prática de desvalorização cultural e da forma de falar do aluno. Levando-se em consideração o fato de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos por mais que um deles seja considerado de prestígio, em dado momento histórico, no que se refere a criança surda, fazê-la falar ao invés de propiciar-lhe um meio rápido de comunicação lingüística através da aquisição da Língua de Sinais como primeira língua é privá-la do direito cidadão e desrespeitá-la em sua integridade. Para fundamentar os dados dessa análise, será utilizada a teoria do materialismo histórico-dialético, posto que ao buscar respostas para questões lingüísticas históricas de como as línguas mudam, também estará se ocupando com a LIBRAS e variações ou mudanças, além de se constituir rigoroso método para a compreensão do fenômeno da linguagem humana. (SILVA, 2008). Com base nessa realidade e nesse suporte, elenca-se o estudo do conhecimento da LIBRAS, por ser nessa análise linguística mais que seu próprio estudo científico, a urgente necessidade de seu domínio e disseminação no país, posto que dando ênfase a temática, é a língua materna do cidadão surdo e segunda língua do povo brasileiro e como tal deve ser inserida e praticada no meio escolar e social dos municípios e estados do país. Os estudos sobre sociolinguística, etnolinguística e psicolinguística, com base teórica em Lyons (1981), permitem afirmar que até o momento não existe um modelo teórico amplamente aceito dentro do qual a linguagem possa ser estudada, macrolinguísticamente, de vários pontos de vista diferentes, igualmente interessantes: social, cultural, psicológico, biológico (v. 21). Além disso, Lyons (1981) corrobora que é no mínimo duvidoso que tal modelo 88


teórico geral seja um dia elaborado. Ter em mente essa verdade é fundamental, haja vista o fato de que não se pode considerar que os estudos sobre quaisquer teorias por si só sejam suficientes para abordá-las em suas totalidades, elas não se esgotam. Pretender um modelo teórico totalmente holístico é fragilizá-lo no seu vir-a-ser e simultaneamente, fortalecê-lo na sua incompletude ou falhas em sua concepção. Valida-se porém, para o estudo que se inicia, uma das afirmativas que se considera pertinente para o fato de se estudar a aquisição do conhecimento da libras pelo aluno surdo, a de que as relações sociais, que reúnem e integram pessoas e grupos, nascem da vivência do cotidiano coletivo, pois é a partir da singularidade das situações do dia-a-dia, que se configuram as interfaces que aproximam as práticas comunicativas e a formação social da realidade e que se instalam na subjetividade individual para aflorar na unificação no modus vivendi da coletividade. Para relacionar a língua à sociedade, os teóricos especialistas na área afirmam que a estrutura social pode influenciar ou determinar a estrutura da língua ou seu comportamento, o que prova que os valores sociais costumam ter efeito sobre a língua. Fomentar o conhecimento da LIBRAS, multiplicá-lo na interação do discente surdo e ouvinte, mediado pela pesquisa nas escolas, seminários, palestras, oficinas e por especialistas da área, são metas que envolvem o aspecto social e delineiam um novo perfil que se pretende atingir entre cidadãos ouvintes e não ouvintes. MATERIAL E MÉTODOS Por ser o conhecimento científico obtido de modo racional, conduzido por meios de procedimentos que visam explicar “porque” e “como” os fenômenos ocorrem, na tentativa de explicar os fatos que estão correlacionados, numa visão mais globalizante para o acesso a informações aproximadamente exatas, a metodologia para essa pesquisa, consistirá inicialmente na delimitação temática e revisão bibliográfica, com “recorte” teórico no campo da sociolingüística, de modo específico, sobre o preconceito lingüístico que aflora em comunidades de línguas diferentes, ou em situações linguísticas na qual o falante ou o usuário é levado a utilizar alternadamente dois idiomas oficiais, (bilinguismo), como no caso do surdo. Assim, por meio de análise bibliográfica que permeia as culturas surdas e a escolar, a pesquisa de campo, em segundo momento, apresentará cientificamente o modo como o aluno surdo desenvolve o conhecimento da LIBRAS. Para tanto, partirá de breve exposição sobre as questões socioculturais, buscando apontar características essenciais da surdez, da identidade surda, bem como da interação do aluno surdo com o ouvinte e comunidade escolar na qual estão inseridos. A sustentação metodológica teórica operacional para essa investigação, baseia-se na visão materialista histórico-dialética de construção do conhecimento da LIBRAS, em que teoria e evidência, sujeito pesquisador e sujeito pesquisado através do diálogo e acompanhamento em sala de aula, produzem o saber, pois através do método dialético é possível compreender o sujeito da investigação em conexão com outros objetos e fenômenos, admitindo-se que ambos são determinados mutuamente, ao mesmo tempo em que estão em constante movimento e permanente desenvolvimento. Segundo Richardson (1999), o materialismo dialético considera na visão de mundo que tudo é matéria em movimento e, portanto todos os fenômenos da natureza têm 89


algo em comum, algo que os une. Assim, acontece com as línguas naturais e a LIBRAS. Todos os fenômenos porém, tem uma propriedade fundamental, a existência independente, com características próprias, que ocupam um lugar no tempo e no espaço. Do mesmo modo, quando se fala em gramática universal e a LIBRAS posto que dialeticamente interagem e se adaptam. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nesse prisma, pode-se afirmar que o não conhecimento da LIBRAS pelo aluno surdo que se utiliza de outra língua comumente aceita, e pelo aluno ouvinte que deve aprendê-la como segunda língua oficial do Brasil, promove ou faz de um possível e necessário bilingüismo, previamente, um conjunto de problemas linguísticos, psicológicos e sociais. É o caso de certas comunidades surdas que ainda não aderiram a LIBRAS, enquanto sua língua materna, haja vista o conjunto das disposições oficiais que asseguram ou tendem a assegurar a cada uma das línguas em uso no país, no caso aqui a ser investigado, a do aluno surdo: o Português e a LIBRAS, o que implica afirmar que nos dias atuais se faz necessário um estudo ou produção científica sobre a LIBRAS e sua relação lingüística com a sociedade, pois o estudo sobre quaisquer idiomas ou código linguístico de um país, bem como o seu uso, requer análise ou tratamento científico, o que significa compreendê-la com todo seu aparato: estruturas gramaticais, níveis linguísticos, fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos que caracterizam as línguas naturais. E, para explicação desses fatos lingüísticos nessa pesquisa os estudos de Quadros (2004), serão fundamentais. No caso específico da LIBRAS, a modalidade visual-espacial, que é o que a difere das demais. Para que se evidencie a realidade em que se encontra o aluno surdo no contexto escolar de Caxias, seu conhecimento sobre a LIBRAS é que se propõe essa análise. Para tanto, uma sequência de etapas serão obedecidas. Isto posto, os procedimentos metodológicos e os objetivos propostos nesse trabalho nortearam o desenvolvimento dessa pesquisa em dois momentos: no primeiro, realizou-se uma pesquisa bibliográfica a fim de se obter fundamentação teórica suficiente sobre a temática, bem como o aprofundamento de leituras sobre os principais linguistas que atuam com a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), de literatura específica e atualizada sobre LIBRAS e, em seguida, efetivou-se a pesquisa de campo na qual, com a participação em aulas, tendo como instrumento a observação direta, foi possível estabelecer uma relação entre o conhecimento real da LIBRAS pelo aluno que apresenta “deficiência auditiva” e o que é oficialmente recomendado, para a socialização dos resultados. Sem, contudo, ignorar o fato de que “é a linguagem que produz a língua e não o inverso” (NOT, pág. 85. 1993.). No segundo momento, realizou-se reunião nas escolas com pesquisador, gestores, professores de português, intérpretes e instrutores de LIBRAS, pais de alunos e comunidade escolar envolvida para sensibilização e informações sobre o diagnóstico obtido. após os trabalhos realizados e efetivação das atividades propostas para confronto entre as idéias postas na observação estabelecida e as implícitas dos discursos (DUCROT, 1987). Portanto, o caminho metodológico asseverado nesta investigação foi pautado nos moldes qualitativos em que, os enunciados proferidos e omitidos pudessem ser confrontados com a teoria, usando como ponte, a LIBRAS, enquanto ferramenta de inclusão social. 90


Isto não implica que as investigações aqui iniciadas estejam concluídas haja vista ser esse processo o norte para a uma futura pesquisa de doutorado. Depois disso, em sala especificamente reservada para esse fim, foram selecionados slides, vídeos e materiais educativos sobre LIBRAS e letras de músicas respectivas para a montagem de oficinas de música, para que, por meio desses recursos e de sua aplicação, fosse possível revelar as dialetologias ou variações linguísticas que se processam entre surdos. Posteriormente, com data previamente estabelecida junto aos gestores e professores e instrutores de libras, foram realizadas algumas oficinas e seminários nas escolas para interação do quadro docente, discente e administrativo das escolas, bem como para retroalimentação do incentivo ao conhecimento e uso da língua em pauta. CONSIDERAÇÕES FINAIS A língua é um instrumento de mudança. É ela que através da comunicação direta ou indireta, conduz as transformações contundentes na sociedade, na história, pois é uma ferramenta indissociável da cultura. Nessa perspectiva, ser surdo ou ser considerado diferente dos demais não deve ser motivo de isolamento, exclusão social, estigma, preconceito nos dias atuais. Com isso, defende-se a idéia de que os significados sobre a surdez e sobre os surdos vão se formando na dinâmica social, influenciada que é, pela interação, pelas práticas discursivas verbais e não verbais que nelas se criam e se confrontam. Para que o conhecimento da LIBRAS ocorra entre sujeitos surdos e ouvintes de forma eficiente, é necessário que haja a inclusão social, eliminando-se os impasses, os temores, os estigmas e estereótipos de deficiência em antagonismo ao conceito da diferença. Assim, é imperiosa a necessidade de uma nova visão sobre o sujeito surdo e sobre a própria LIBRAS pois, quanto mais uma língua é utilizada mais ela é viva e, inversamente, quanto menos utilizada, mais será ameaçada de extinção. Isto posto, pode-se afirmar que o uso social da língua é que determinará seu grau de revitalização. Como princípio ético, é inegável o fato de que a política de línguas deverá trabalhar a unidade e a diversidade, entendendo-se esses pólos como eixo de transição. Nesse contexto portanto, não se trata de pólos de contradição: de um lado, a unidade enquanto razão do Estado; do outro, a diversidade ou variedade, compreendida como matéria linguística própria da comunidade, haja vista o fato de que é ela que reflete a língua em uso. A compreensão desse discurso social requer, por sua vez, saber como a língua e as linguagens representam as experiências pessoais. Para que isso aconteça, elas só poderão representar quaisquer usuários se houver, em primeiro lugar, a implementação ou aquisição do código vigente ou da língua dessa comunidade. Esse artigo aborda o conhecimento da LIBRAS na sala de aula do ensino fundamental, pelo aluno surdo, tendo por viés a mudança, para que os membros ou detentores da cultura surda sejam de fato, contemplados na perspectiva bilíngue, o cerne dessa investigação, e seu continuum, que culminará em uma futura tese de doutoramento que se pretende desenvolver.

91


REFERÊNCIAS

São Luís: UEMA, 2008.

BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma

CHOMSKY, Noam. O conhecimento da língua: sua

pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola

natureza, origem e uso. Lisboa: Caminho, 1994. v. 2. (Série

Editorial, 2007.

linguistica).

BLIKSTEIN, Isidoro et al. Dicionário de linguística.

DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo.

São Paulo: Cultrix, 1993.

12 ed. São Paulo: Cortez, 2006.

BORDENAVE, Juan E. Díaz. O que é comunicação.

DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas: Pontes,

São Paulo: Brasiliense, 2006.

1987.

BOTELHO, Paula. Linguagem e letramento na

FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias

educação dos surdos: deologias e práticas pedagógicas.

linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola

Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

Editorial, 2009.

BRASIL, Lei Federal Nº 10.436 de 24 de abril de 2002.

FERNANDES, Eulália. (Org). Surdez e bilinguismo.

Disponível em: <http://www.leidelibras.gov.br>.

Mediação, Porto Alegre: 2010.

Acessado em: 18 jun. 2010. GERALDI, João Wanderlei. Linguagem e ensino: CALVET, Louis-Jean. Sociolinguística: uma introdução

exercícios de militância e divulgação. Campinas: Mercado

crítica. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo:

de Letras. ALB, 1996.

Parábola, 2002. 176 p. GESSER, Audrei. LIBRAS? Que Língua é essa? crenças e CAPOVILLA, Fernando César; RAPHAEL, Walkiria

preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade

Duarte. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue: da

surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

Língua de Sinais Brasileira. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 2001.

GONÇALVES, Hortência de Abreu. Manual de artigos científicos. São Paulo: Avercamp, 2004.

______. Dicionário Enciclopédico Ilustrado trilíngue: da Língua de Sinais Brasileira. 2. ed. São Paulo: Ed. da

GUY, Gregory Riordan; ZILLES, Ana. Sociolinguística

Universidade de São Paulo, 2001.

quantitativa: instrumental de análise. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

______. Dicionário Enciclopédico Ilustrado trilíngue: da Língua de Sinais Brasileira. 3. ed. São Paulo: Ed. da

KIRK, Samuel A; GALLAGHER, James J. Educação da

Universidade de São Paulo, 2008.

criança excepcional. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

CARVALHO, Diógenes B. A; MORAIS, Solange S. Guimarães. Língua e literatura: interfaces da linguagem.

92

KOJIMA, Catarina Kiguti. SEGALA, Sueli Ramalho;


Dicionário de língua de sinais: a imagem do pensamento.

Paulo: Brasiliense, 1986.

São Paulo: Escala, 2008. ______. Eni Pucinelli. A linguagem e seu LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de

funcionamento: as formas do discurso. 4. ed. Campinas,

Andrade. Metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas,

São Paulo: Pontes, 1996.

2000. PERLIN, G. Identidades surdas. In: Skliar, C. (Org). A LOPES, Iveuta de Abreu. Cenas de letramentos sociais.

surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre:

Recife: Programa de Pós-graduação em Letras da UFPE,

Mediação, 1998. Disponível em:

2006.

<http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 18 jun. 2010.

LYONS, John. Linguagem e lingüística: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise

Porto Alegre: Artmed, 2004.

de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

REDONDO, Maria Cristina da Fonseca. Deficiência auditiva. Brasília: MEC, 2001.

MAFRA, Leila de Alvarenga; TURA, Maria de Lourdes

REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA. São Paulo:

Rangel (Org.). Sociologia para educadores 2: o debate

Segmento, n. 15.

sociológico da educação no século XX e as perspectivas atuais. Rio de Janeiro: Quarter, 2005.

RICHARDSON, Robert Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.

MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.). Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2009.

SALLES, Heloisa Maria M.L. Ensino de língua portuguesa para surdos: caminhos para a prática

MARTINEZ, Pierre. Didática de línguas estrangeiras.

pedagógica. Brasília: MEC, 2005.

Tradução de Marco Marcionilo. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

SANTOS, Maria Rita et al. Anotações sobre linguagem. São Luís: LITHOGRAF, 2000.

MIRANDA, Antônio Luíz A.; BITTENCOURT, Erlinda Maria (Org.). Linguagem: múltiplos objetos,

SILVA, Alessandra da. Deficiência auditiva. 3. ed. São

múltiplas leituras. São Luís: UEMA, 2006.

Paulo: MEC. 2008.

MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina.

SIMÕES, Darcília. Considerações sobre a fala e a

Introdução à linguística: fundamentos epistemológicos.

escrita: fonologia em nova chave. São Paulo: Parábola

São Paulo: Cortez, 2004. v. 3.

Editorial, 2006.

ORLANDI, Eni Pucinelli. O que é linguística. São

SKLIAR, Carlos, (Org.) Atualidade bilíngüe para surdos:

93


processos e projetos pedagógicos. 3. ed. Porto Alegre: Mediação, 1999. v. 1. SOARES, M. A. L. A. Educação do surdo no Brasil. Bragança Paulista: Autores Associados, 1999. VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

94


Artigo OS ESTEREÓTIPOS E O APRENDENTE COM LIMITAÇÕES Jânio Oliveira Lima¹

RESUMO O estereótipo é focado neste trabalho através de pesquisa bibliográfica e de campo para esclarecer como o educando com limitações orgânicas e físicas vem superando barreiras e dificuldades pelo uso inadequado de rótulos recebidos no processo educacional, ora através dos professores de maneira penosa ou depreciativa, ora pelos alunos ditos “normais” por meio de termos constrangedores. Analisou-se como o processo de aprendizagem pode ser afetado por meio de preconceitos estabelecidos por padrões de beleza e normalidade cognitiva em jovens estudantes com necessidades especiais e o que se tem feito para diminuir ou sanar esses problemas que tanto os afetam cognitivamente. Palavras–chave: Alunos e professores. Estereótipo. Limitações. ABASTRACT The stereotype is focused on this work through literature and field research to clarify how the student with physical limitations is organic and overcoming barriers and difficulties for the inappropriate use of labels received in the educational process, sometimes through painful teachers or derogatory way, either by students called "normal" by compelling terms. We analyzed how the process of learning can be affected by prejudice by standards of beauty and cognitive normality in young students with special needs and what is done to reduce or remedy those problems that affect both cognitively. Keywords: Students and teachers. Stereotype. Limitations.

¹Graduado em Letras . Tutor da Faculdade Anhanguera/UNIDERP Pólo Caxias-MA.

95


INTRODUÇÃO Estereótipo, palavra que advém de uma imagem preconcebida de alguém ou de algo, baseada num modelo ou numa generalização, em pessoas que possuem algumas diferenças corpóreas (orgânicas ou físicas) diante de outras tidas como normais. Tal ato traz resultados estarrecedores quando ocorre com crianças no âmbito escolar. É do conhecimento de todos, que crianças e adolescentes são capazes de praticarem pequenas e grandes maldades, ridicularizando uns aos outros, criando rótulos e vulgos pejorativos decorrentes de imperfeições, e o estabelecimento de ensino é o ambiente mais propício para certas implicações, discriminações, agressões verbais e físicas, muito frequentes, partindo não só do corpo discente, mas também dos professores. Tal ação ocorre, seja de maneira “piedosa”, ou preconceituosa, mas que estigmatiza os deficientes de forma explicita ou camuflada. Portanto, optou-se por uma pesquisa que procura delinear de que forma o uso de estereótipos são representados em indivíduos que possuem restrições intelectuais ou motoras no que tange aos padrões ditos normais pela estética e aspectos cognitivos rotulados através de quocientes de inteligência em nossa sociedade. Nessa trajetória, os caminhos da inclusão encontram barreiras não apenas arquitetônicas, mas de violência ganhando até outras formas de agressão tais como o bullying (palavra da língua inglesa que pode ser traduzida como “intimidar” ou “amedrontar”). Sua principal característica é que a agressão (física, moral ou material) é sempre intencional e repetida várias vezes sem motivação específica. Desse modo, a criança ou adolescente que recebe atendimento especial acaba sendo vítima de situações constrangedoras e desumanas. Para a construção do alicerce teórico que será contemplado nesta investigação, optou-se por uma análise da literatura específica que trata das temáticas centrais dessa pesquisa, complementadas com pesquisa de campo que teve como sujeitos, professores de uma escola pública da cidade de CaxiasMA. O objetivo deste estudo é observar o uso de estereótipos e avaliar como estes têm agravado o processo cognitivo de aprendizagem de alunos com necessidades especiais. Em leituras previamente estabelecidas, tomou-se conhecimento de como isso tem afetado na formação da personalidade e identidades destas crianças e adolescentes. Acometidos de síndromes ou deficiências, as crianças e adolescentes são vistas e recepcionadas nos ambientes de ensino de maneira discriminatória, isto é, são estigmatizados de forma especifica, ora através do 96


bullying, ora de forma velada, agravando ainda mais o seu direito a educação e uma vida digna, sendo uma luta travada ao longo da história contra o preconceito, a vergonha e a ignorância acerca de uma exclusão social e por vezes até mesmo familiar, ocasionando um abandono intelectual e favorecendo a rejeição e promoção de atitudes bárbaras em relação ao deficiente físico ou mental. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O narcisismo como patologia social A ideia de trabalhar o tema: Como os estigmas interferem no campo educacional, envolvendo educando com deficiências, provém da desigualdade que por vezes é disfarçada, mas que causa danos a indivíduos que procuram na educação a oportunidade de exercer a sua cidadania, compreendendo a sua participação social e política, podendo perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente onde está integrado e obtendo meios para a sua profissionalização. Garantido por lei, por meio da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96), no capitulo V – da Educação Especial, artigo 58 – entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. Busca-se compreender de que maneira as deficiências são contempladas por uma comunidade escolar pautada em atitudes e procedimentos envoltos direta ou indiretamente na aquisição do belo e por modelos que estão acima até mesmo dos ditos “normais”. Estes que também já sofrem deter minados rótulos que prefiguram em uma total incomunicabilidade entre sujeitos escolares. Professores se baseiam em conceitos já formados para classificarem os seus educados, como ratifica Carrano: Da parte dos professores, os jovens alunos são comumente rotulados de desinteressados pelos conteúdos escolares, apáticos, indisciplinados, alguns violentos, tidos como de baixa cultura, com sexualidade exacerbada e alienada, hedonistas e consumistas. (CARRANO, 2010 p. 182).

Os estereótipos já fazem parte da sociedade contemporânea onde até 97


os educadores procuram termos para qualificarem seus alunos, trazendo por vezes mais prejuízos ao sistema de ensino do que conhecimento. O desejo pela adequação ou padronização estética vem crescendo a longa escala. Os alunos com necessidades especiais, acabam tendo seu desenvolvimento educacional impedido por apelos errôneos da mídia e da cultura que incutem na mente da maioria através do mass media o corpo perfeito e a beleza acima de outros valores, os fundamentais à construção da cidadania de uma nação. Dessa forma, o fenômeno do narcisismo não é visto neste trabalho, exclusivamente segundo a perspectiva clínica e individual, mas como algo presente também na própria cultura da sociedade contemporânea, e contemplado também na comunidade escolar. Isto poderá ser compreendido como a exacerbação da “idealização” dos ideais do consumo que emergem da beleza, frequentemente utilizada pela indústria cultural, que está implicada diretamente em tal fenômeno. Assim, cria-se a chamada moral do consumo, a qual serve, sobretudo, aos interesses das classes dominantes como argumenta Foucault na obra História da sexualidade: É que o ponto no qual se presta atenção nessas práticas de si é aquele em que os males do corpo e da alma podem comunicar-se entre si e intercambiar seus mal-estares: lá onde os maus hábitos da alma podem levar as misérias físicas enquanto que os excessos do corpo manifestam e sustentam as falhas da alma. (FOUCAULT, 2007. p. 62).

Como se pode observar, dessas mesmas classes que deveriam desenvolver virtudes, isto é, qualidades que denotassem um senso de “inclusão”, investem de fato na exclusão ou integração, estigmatizando um conjunto de pessoas que poderiam conviver de forma pacífica e harmônica, apesar de qualquer limitação ou diferença orgânica que apresente. A rejeição lançada a esses alunos pode ser verificada através perseguições feitas por características físicas ou intelectuais, tornando assim as pessoas fragilizadas com perca de potencial por não ser trabalhada a sua autoestima, passando a existir assim, alguns males sociais como a depressão e o bullying. Estas situações ocorrem em razão de certos narcisistas se acharem melhores, isto é, superiores a outros que possuem limitações, sendo eles mesmos vitimas dessa patologia narcísica. Desse modo, partindo-se do conceito analisado por uma obra Introdução à Psicologia de Hilgard, escrita por Atkinson (2002) destaca-se o que seria o termo patologia em uma linguagem cientifica: 98


Toda sociedade possui certos padrões ou normas de comportamento aceitáveis. O comportamento que se desvia acentuadamente destas normas é considerado patológico. Este comportamento geralmente, mas nem sempre, também é estatisticamente infrequente naquela sociedade. Entretanto, surgem diversos problemas quando o desvio de normas sociais é ultilizado como critério para a definição de patologia. O compotamento que é considerado normal por uma sociedade pode ser considerado anormal por outra. (ATKINSON, 2002. p. 547).

Igualmente, essa anomalia surgiu na humanidade trazendo questionamentos e sofrimentos ao homem este ser tão complexo, carregado de virtudes e vícios, ética e depravação de contrastes que se opõem constantemente, dispensando a essas pessoas tratamento desumano quando não se reconhece o outro apenas por questões anatômicas ou cognitivas. Contudo, cabe-nos a indagação sobre o que seria esse “homem”. Sabe-se que o homem de hoje não pode ser concebido como um ser natural, pois ele é um produto histórico, nem pode ser estudado como ser isolado, pois ele somente é humano em função de ser social, e nem concebido como ser abstrato, pois o Homem é o conjunto de suas relações sociais. O Dicionário de símbolos organizado por Chevalier (2009), nos dá a seguinte definição a respeito desse ser tão intrigante e povoado de mistérios e repleto de representatividade como se observa nesse trecho: O homem não deixou de, a si mesmo, se conceber como símbolo também. Em inúmeras tradições, desde as mais primitivas, ele é descrito como síntese do mundo, modelo reduzido do universo, microcosmo. Ocupa o centro do mundo dos símbolos. (CHEVALIER, 2009, p. 495).

Compreende-se que a figura humana traz diversos questionamentos, o homem deve tentar compreender o seu significado enquanto ser social, cultural e psíquico para uma apreciação concisa do que se refere essa pesquisa, a qual nos revela as atuações preconceituosas e cruéis em relação às pessoas com deficiência física que perpassam pela história. Desde o Egito Antigo, Grécia, Roma, consideravam que a deficiência era provocada por “maus espíritos” ou punição divina, e por muitas vezes essas pessoas eram usadas como cobaias em estudos médicos, ou utilizadas como entretenimento em circos e locais 99


públicos, uma diversão que acontecia através do sofrimento alheio. Quando não ocorria o infanticídio, ou o abandono em rios, algo normal para a época, em que reinava a preconização da estética corporal, a deficiência era vista como “monstruosidade”, fato que legitimava a condenação de bebês mal formados a morte. Assim, o processo educativo vem desmistificar estes atos vergonhosos e reconhecer a diversidade cultural que constitui nossa sociedade e a importância de discutirmos essas diferenças dentro da escola, promovendo práticas educativas que as respeitem, entendendo o multiculturalismo como base dos processos de formação para a cidadania, uma vez que as atuais sociedades são marcadas por diversidades de natureza étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, e chamamos atenção para as necessidades especiais. Fanfani corrobora esta compreensão ao afirmar que: Todas estas transformações na demografia, na morfologia e na cultura das novas gerações põem em crise a oferta de educação escolar. Os sintomas mais evidentes e estridentes são a exclusão e o fracasso escolar, o mal-estar, o conflito e a desordem, a violência e as dificuldades de integração nas instituições e, sobretudo, a ausência de sentido da experiência escolar para uma porção significativa de adolescentes e jovens latino americanos (em especial aqueles que provêm de grupos sociais excluídos e subordinados) que têm dificuldades para ingressar, progredir e se desenvolver em instituições que não foram feitas para eles. (FANFANI, 2000, p. ).

Cada um desses grupos possui a sua história de significado, cultura e valores. Nosso grande desafio é o de promover a inter-relação dos diferentes (deficientes), favorecendo o diálogo, discutindo as questões da diferença e a desvalorização dessa minoria, que leva à desigualdade educacional. RESPEITANDO AS DIFERENÇAS Jovens estudantes que são diferentes de outros alunos, com estatura elevada ou mínima, introvertidos, nerds, por exemplo, sofrem intimidações constantes em suas referidas escolas. São desrespeitados e discriminados no ambiente educacional, e na maioria das vezes padecem em silêncio frente ao comportamento dos seus agressores e cúmplices. As consequências desses atos são desastrosas, o educando acaba fracassando no ano letivo, ou ocorre uma 100


saída precoce dos estudos (evasão escolar) ou até mesmo isolamento, crises depressivas, ou o mais trágico chegam a por fim a própria vida. Segundo a psiquiatra Silva, ao tratar desse assunto argumenta: Como é normal que as crianças impliquem uma com as outras, se dêem apelidos e briguem de vez em quando, nem sempre é fácil identificar quando o problema aparece. Por isso, é preciso que pais e professores estejam atentos para que percebam quando brincadeiras sadias, que ocorrem de forma natural e espontânea entre os alunos, se tornam verdadeiros atos de violência e perversidade - apenas alguns se divertem à custa de outros que sofrem. (SILVA, 2010, p.12 ).

Portanto, os estabelecimentos de ensino têm que ter uma forma de apreciação mais elaborada tanto dos professores quanto dos demais profissionais, ficarem cuidadosos aos sinais de violência de maneira especifica ou escondida, procurando neutralizar os agressores diretos ou indiretos no processo de ensino, bem como auxiliar as crianças e adolescentes vitimados e modificarem os meros espectadores em fundamentais aliados, contra essa prática perversa e revoltante. É de conhecimento geral que jamais uma escola conseguirá juntar conhecimento suficiente sobre todos os grupos de deficiências e síndromes, visto que existem algumas que ainda estão sendo descobertas, porém o máximo de informações armazenadas e distribuídas entre estudantes permaneceria sendo um esforço intelectual significativo para modificar determinadas condutas ou comportamentos relacionados aos alunos especiais. O conceito sobre deficientes muitas vezes é mostrado de uma forma deturpada por nossa cultura mostrando apenas o lado ruim, os problemas adquiridos pelas limitações. Contudo, devemos divulgar os potenciais de cada individuo e o ambiente educacional como força propulsora de seu avanço. Assim, os outros que estão envolta do deficiente se tornarão abertos e receptivos às diferenças, ao mesmo tempo em que se permanecerem conscientes do preconceito promovido em seu grupo social, por falta de conhecimento, poderão trazer uma situação inversa a realidade. Compete à escola ser a gerenciadora dessa mudança, impulsionando a sociedade a perceber o deficiente não mais com o olhar de pena ou repúdio, mas abraçá-lo, fazê-lo parte integrante e indispensável para o grupo ao qual está colocado, modificando anos de exclusão e abandono e escrevendo uma 101


nova história sendo ele também protagonista da sua vida. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa que ora se delineia, apresenta os estereótipos lançados ao aprendente com limitações. Seu enfoque é fenomenológico com abordagem quanti-qualitativa. Buscou-se através de dados coletados em um estabelecimento de ensino que já vem trabalhando com a inclusão de crianças especiais no isento de verificar como ocorre o atendimento dito especializado, visto que a escola é o principal facilitador da aceitação e respeitos a diferenças, lutando contra a intolerância e preconceito seja de ordem física ou cognitiva. Assim, este trabalho vem ratificar essa problemática na escola. O nome dos entrevistados será conservado em sigilo por serem objetos de uma análise cientifica, que atende às normas preceituadas na Resolução 196/96 que trata da ética na pesquisa com seres humanos. O que se pode citar é que o corpo docente analisado leciona na modalidade do ensino fundamental menor (1º ano 5º ano) na cidade de Caxias-MA. Na escola pesquisada, utilizou-se a amostra de profissionais entrevistados, que agora passaremos a denominar de professor A, B, C, D, E. Através do método de investigação, análise de conteúdo, de Bardin (2004), far-se-à a análise das respostas em relação ao tratamento dispensado ao educando com limitações orgânicas e cognitivas, incluídos/integrados na escola em estudo. RESULTADO E DISCUSSÃO A análise que se buscou desenvolver tem como objetivo apresentar os alunos que possuem algum tipo de limitação física ou orgânica, adquirida ou genética, diante do quadro docente e discente da escola pesquisada, no que se afere a inclusão e aceitação desses alunos. Optou-se pelo turno da manhã, com um grupo de cinco professores que voluntariamente se dispuseram a responder algumas questões atinentes ao referido trabalho. Observa-se que as faculdades não têm preparado os futuros professores para trabalharem com a educação em especial em relação ao bullying e diferenças em sala de aula, pois se sabe que as turmas não são mais homogêneas, portanto precisamos aprender a cada dia, metodologias e estratégias coerentes para socializar de forma educativa as diversas crianças que chegam aos bancos escolares, de forma uniforme. Quando se questionou se os aspectos físicos e intelectuais, podem comprometer a aquisição do conhecimento, a professora A respondeu: Sim, 102


porque a partir do seu estado físico o educando corresponde a estímulos que o professor oferece para ele. A professora E fala: Não, porque a cada um tem seu desenvolvimento próprio uns mais outros menos, mas mesmo assim consegue com pouca experiência [...], mas consegue pensar e agir de acordo com a ajuda que eles recebem de alguém. Já na entrevista D é bem sucinta em sua justificativa: Sim, dependendo da necessidade ocorrerá um comprometimento. Percebe-se o posicionamento das professoras que são opostos, porém assemelham-se ao afirmarem que jovens estudantes comprometidos com limitações necessitam de um cuidado maior em relação a sua auto-aprendizagem e dependendo de sua necessidade podem avançar em conhecimentos, sendo que para o alcance deste desenvolvimento o docente é instrumento indispensável para essa construção de saber, como ratifica Chalita: O professor que se busca construir é aquele que consiga, de verdade, ser um educador, que conheça o universo do educando, que tenha bom senso, que permita e proporcione o desenvolvimento da autonomia de seus alunos. Que tenha entusiasmo, paixão; que vibre com as conquistas de cada um de seus alunos, que não discrimine ninguém nem se mostre mais próximo de alguns, deixando os outros a deriva. (CHALITA, 2001, p.17 ).

Como relata Chalita o professor tem que se posicionar como um verdadeiro educador e facilitar a educação a todos de forma igualitária e assertiva. Na sequência, foi exposta a indagação se os alunos especiais sofrem algum tipo de estereótipo, a professora C foi clara ao dizer: Sim, sobretudo porque os nossos professores não estão preparados para receber crianças com necessidades especiais em sala de aula, principalmente no que se refere a chamada INCLUSÃO, [...] o que acaba gerando apenas uma integração e não inclusão. As docentes B e D também deram as suas devidas contribuições ao questionamento B: Sei de outras escolas que sim, mas aqui onde trabalho as crianças convivem de forma natural umas com as outras, acredito que pelo fato do tempo de inclusão existente na escola, e, como os profissionais encaram essa realidade. Professora D: Sim; como um todo, a sociedade não está preparada para lidar com essas diferenças. A fala da professora C é comum a dos outros docentes, o que demonstra que a aceitação do educando com limitações tem que ser trabalhada pelo próprio professor e assim repercutir nos demais alunos, que de maneira inapropriada uso de vulgos para tentar denegrir e causar sofrimento aos colegas com limitações, pois não se pode ver o deficiente em sala de aula como 103


algo preocupante ou um incômodo. A educação é um direito e tem que ser preservado, e um dos maiores obstáculos que tem surgido é esse preconceito velado, por parte dos docentes, que se mostram inertes e não lutam por essa causa garantida a eles (pessoas com limitações), como sugere a Declaração Universal de 1948, ratificada na proclamação do direito a instrução. Segundo o art. 26º; Toda pessoa tem direito à instrução. Será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A educação técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no mérito. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. 1984).

104

Este documento expressa claramente que todo ser humano tem direito a educação, independente de sua situação orgânica, mas muito tem tido este direito subtraído pelas perseguições sofridas em ambiente escolar por sua condição física ou intelectual. Sobre a aparência ser um fator preponderante no crescimento intelectual, a professora D expressa: Não, pois acredito que o crescimento intelectual não depende da aparência. A professora A também segue a mesma linha da anterior à fala: Não. O desenvolvimento intelectual depende do seu bem estar psicológico e dos estímulos oferecidos em sala de aula. Essa resposta foi comum aos demais entrevistados, só que em determinados momentos percebe-se que a prática se mostra diferente da teoria. Em caso de bullying as entrevistadas foram unânimes em proferir que não ocorrendo apenas divergência com a professora D que diz: Sim, no geral ocorrem com frequência os apelidos, as zombarias relacionadas à aparência física. A professora C também relata: [...] Não especificamente em sala de aula, mas no intervalo (recreio) observo várias formas de violência: derrubar o lanche, empurrar, colocam apelidos, mas esta realidade já foi bem mais acentuada; há um trabalho continuo na escola de conscientização para os alunos ditos normais, assim também como com os pais. Esta estatística ruim esta sendo vencida pelo menos na escola que trabalho.


Na entrevista D diz: Sim, no geral ocorrem com frequência os apelidos, as zombarias relacionadas à aparência física. A professora ao ser indagada sobre este mal que assola as escolas se mostra um tanto quanto confusa: Não, nunca presencie, pode já ter ocorrido, mas não posso afirmar. Esse tipo de violência ou bullying ocorre em repetidas ocasiões com o aluno especial pela falta de informação sobre a limitação ocorrida na criança e por vezes são preconceitos trazidos e aprendidos como os próprios pais. Portanto é necessário uma conversa aberta sempre que o fato ocorrer, o diálogo sempre é favorável na quebra de barreiras. Como ressalta a psicóloga Sônia em seu depoimento: É normal os alunos reagirem negativamente diante de uma situação desconhecida. Cabe ao educador estabelecer limites para essas reações e buscar erradicá-las não pela imposição, mas por meio da conscientização e do esclarecimento. Não se trata de estabelecer vítimas e culpados quando o assunto é o bullying. Isso só reforça uma situação polarizada e não ajuda em nada a resolução dos conflitos. Melhor do que apenas culpar um aluno e vitimar o outro é desatar os nós da tensão por meio do diálogo. A violência começa em tirar do aluno com deficiência o direito de ser um participante do processo de aprendizagem. É tarefa dos educadores oferecer um ambiente propício para que todos, especialmente os que têm deficiência, se desenvolvam. Com respeito e harmonia. (SILVA, 2010, p.17).

Essas respostas nos fazem refletir que a ascensão social e profissional desses indivíduos por vezes é violada por ações de violência que ocasionam em isolamento e perca da própria identidade, mediante as perseguições e rótulos depreciativos. Portanto, é de suma importância trabalhar a autoestima desses estudantes, fazendo-os participar de todas as atividades escolares e mostrarem-se valorosos na comunidade escolar, através de projetos e demonstrações de afeto que possibilitem sua autonomia e participação em todo o processo de ensinoaprendizagem. Essa foi a formulação de todas as respostas alcançadas pelos professores. Sobre a ditadura da beleza a professora B comenta: [...] Falo para meus alunos que a beleza real é aquela que vem de dentro, da alma, baseada no carinho, na compreensão, compaixão, no respeito e no amor. Costumo com diálogo quebrar os rótulos antes que eles se formem [...]. A professora E argumenta da seguinte forma: Em 105


minha opinião não concordo, pois procuro dizer para os meus alunos que a beleza que devemos manter é a do nosso coração, amando e respeitando o próximo com todas as deficiências seja ela física, intelectual ou visual. Realmente, o preconceito e os padrões de beleza são ensinados e impostos pelos adultos e pela mídia que super valoriza alguns determinados padrões de beleza que não fazem parte da maioria dos indivíduos e muitas vezes as pessoas com limitações se sentem marginalizadas e discriminadas por fugirem de certos modelos. Cabe a educação mostrar a verdadeira beleza humana que é encontrada na ética, virtude e cidadania. Contudo, a família tem um importante papel para a mudança desse quadro como argumenta Rousseau, filósofo, sociólogo e pedagogo francês (1712-1778), que sustentava a ideia de que o homem nasce bom, a sociedade o corrompe. Para ele o homem bom é aquele que se encontra no estágio primitivo, alheio aos modelos sociais, que por vezes se mostram “incivilizados”, diante de padrões mal apresentados pela família, célula da sociedade e de educação informal como bem ilustra seu papel Gabriel Chalita na educação: [...] é nela que se forma o caráter. Qualquer projeto educacional sério depende da participação familiar: em alguns momentos, apenas do incentivo; em outros, de uma participação efetiva no aprendizado, ao pesquisar, ao discutir, ao valorizar a preocupação do filho traz da escola. Por melhor que seja uma escola, por mais bem preparados que estejam os professores, nunca vai suprir a carência deixada por uma família ausente. (CHALITA, 2001, p.21).

É fator preponderante para o sucesso de qualquer criança um ambiente agregador de valores, fortalecimento de vínculos afetivos e de modelos adequados de conduta social e moral, pois o contrário levará a um prejuízo de quantidade, qualidade, frequência e redundância de estímulos, o que certamente prejudicará o processo de aprendizagem. CONSIDERAÇÕES FINAIS O resultado deste trabalho demonstra como as crianças e adolescentes, com determinadas limitações sejam elas físicas ou intelectuais, tem sido vitimas de um sistema de ensino ainda precário no que tange a educação especial, faltando ainda compreensão do corpo docente no que se refere a inclusão e ao respeito e dignidade humana a que todos os seres tem direito. 106


Portanto, para que os alunos ditos normais venham aceitar os colegas com necessidades especiais, e evitem essa prática danosa de perseguição e humilhação seja de ordem física, emocional ou psicológica, é vital que a conduta e metodologia traçada pela escola sejam elaboradas através do projeto político-pedagógico, envolvendo o corpo docente e funcionários. Não deve ser contemplado no estudante apenas o aspecto físico ou intelectual como algo maléfico ou fatalista, mas devem ser ressaltadas as diferenças como respeito e solidariedade, aprendendo com o multiculturalismo, expressando os valores e direitos que são natos de todo homem e tendo a educação como a principal ferramenta o professor poderá atuar nessa conquista e manutenção, de forma igualitária sem reservas ou rótulos pré-concebidos por uma ignorância ou falta de humanização. É imprescindível adaptar a rotina para facilitar a aprendizagem sempre que necessário, respeitando também os outros estudantes que fazem parte do processo, atrair os pais e a comunidade para falar de agressões, estereótipos e brincadeiras inconvenientes (bullying) e orientar como deve ocorrer e participação desses alunos ao que chamamos de inclusão. REFERÊNCIAS ATKINSON, Rita L. Introdução à psicologia de Hilgard. 13. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004. CARRANO, Paulo. Identidades culturas juvenis e escolas: arenas de conflitos e possibilidades. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2001.

<http://www.historianet.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2007. FANFANI, E. T. Culturas jovens e cultura escolar. In: Seminário Escola Jovem: um novo olhar sobre o Ensino Médio. Brasília: MEC, 2000. Disponível em: <htp://www. MEC.gov.br/semtec/ensmed/artigosensaios.Shtm>. Acesso em: 12 set. 2004. FOUCAULT, Michel, História da sexualidade: o cuidado de si. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque. São Paulo: Graal, 2007. v. 3.

CHEVALIER, Jean. Dicionário de símbolos. 5. ed. Rio de janeiro: J. Olympio, 1991.

GOLDBACK, Alfredo. Título. 2009. Disponível em: <http://deficienciavisualsp.blogspot.com/2009/04/ blog-post.html>. Disponível em: 14 set. 2011.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO. Disponível em:

SILVA, Ana Beatriz B. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. 107


108


Artigo A FORMAÇÃO BÁSICA DO SURDO: NO MEIO DESSE CAMINHO, A LÍNGUA PORTUGUESA, O LETRAMENTO E A LÍNGUA DE SINAIS Ana Elizabeth Araújo da Silva Félix¹ Benigna Maria de Assunção Couto² Edileusa Silva Abreu³

RESUMO Este estudo trata sobre A Formação Básica do Surdo: no meio desse caminho, a Língua Portuguesa e a Língua de Sinais, pois se percebe a necessidade do ensino da LIBRAS e Língua Portuguesa (leitura e escrita) para alunos surdos. Para esse fim, delineou-se como objetivos: Proporcionar a compreensão da relevância do ensino da LIBRAS e da Língua Portuguesa para alunos surdos, como facilitadoras no processo de comunicação e aprendizagem dos conteúdos escolares, descrever os métodos de ensino utilizados pelos professores de Caxias.Como forma de contemplar a natureza da temática em estudo, optou-se pelo método fenomenológico, com abordagem qualitativa. Palavras-chave: Letramento. Surdez. Bilinguismo. ABSTRACT This study focuses on The Basic Training of the Deaf: in the middle of this path, the Portuguese language and sign language, because it realizes the necessity of teaching the pound and Portuguese (reading and writing) for deaf students. For this purpose, as outlined objectives: To provide an understanding of the relevance of education of the pound and the Portuguese language for deaf students as facilitators in the process of communication and learning of school subjects, describe the teaching methods used by teachers of Caxias. in order to contemplate the nature of the theme, we opted for the phenomenological method, qualitative approach.

¹Graduada em Letras. Especialista em LIBRAS e em Língua Portuguesa. Mestre em LetrasLinguagem. Docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão - FACEMA e da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. ²Graduada em Pedagogia. Especialista em Psicologia Educacional e em Educação Especial, Inclusão e LIBRAS. Docente da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. ³Graduada em Pedagogia. Especialista em Educação Especial, Inclusão e LIBRAS. Intérprete de LIBRAS da Rede Pública de Ensino.

Keywords: Literacy. Deafness. Bilingualism.

109


INTRODUÇÃO O domínio da linguagem é fundamental para a participação das pessoas na sociedade. Por meio da linguagem, o ser humano se comunica, tem acesso a informações, defende e exprime opiniões, partilha ou constrói visões de mundo, produz e registra conhecimentos. Por isso, o ensino da LIBRAS e da Língua Portuguesa (leitura e escrita) para alunos surdos é uma das formas de garantir o exercício da cidadania e o desenvolvimento de suas habilidades. Assim, muito se tem debatido sobre a necessidade de estender a inclusão a toda a sociedade, através de leis, projetos e decretos. Porém, o sistema escolar, de modo geral, não está preparado para este processo. Em relação ao aluno com surdez, a inclusão ocorre de acordo com os padrões dos alunos ouvintes, desconsiderando as mudanças pedagógicas essenciais a sua escolarização. Nessa perspectiva, busca-se investigar sobre A Formação Básica do Surdo: no meio desse caminho, a Língua Portuguesa e a Língua de Sinais, tendo como ponto de partida observações e vivências com surdos em Caxias–MA. REFERENCIAL TEÓRICO Língua brasileira de sinais e o letramento: aspectos relevantes O domínio da linguagem oral e escrita é fundamental para a participação social e efetiva das pessoas. Por meio da linguagem o ser humano se comunica, tem acesso a informação, defende e expressa opiniões, partilha ou constrói visões de mundo, produz e registra conhecimentos. Por isso, ensinar a Língua de Sinais aos alunos surdos é uma das formas de garantir o direito de exercer plenamente sua cidadania. A aprendizagem da leitura, da escrita e da comunicação, em sua diversidade, permite a mediação entre a criança e o meio cultural, uma vez que se apropria das práticas sociais e do conhecimento, de modo a garantir condições que possibilitem efetivamente o seu desenvolvimento integral (VYGOTSKY, 1991). No campo da educação especial, em relação à criança surda, a interação com a escrita será mediada pelo uso da Língua de Sinais, sua língua maternal. Segundo Brito (1998, p. 22): [...] não é adequado dizer que a LIBRAS é a língua natural dos surdos brasileiros [...] a LIBRAS é ou deve ser a língua materna dos surdos, não porque é a língua natural dos surdos, mas porque, tendo os surdos bloqueios para a aquisição espontânea de qualquer língua natural oral, somente eles irão ter acesso a uma língua materna que não seja veiculada através do canal oral-auditivo. Ainda nesse sentido, Felipe (1998, p. 81), afirma que: A Língua Brasileira de Sinais 110


(LIBRAS) é a língua de sinais utilizada pelos surdos que vivem em cidades do Brasil onde existem comunidades surdas, [...] é uma língua de modalidade gestual-visual porque utiliza como canal ou meio de comunicação, movimentos gestuais e expressões faciais que são percebidas pela visão. Portanto, diferencia-se da Língua Portuguesa, que é uma língua de modalidade oral-auditiva por utilizar, como canal ou meio de comunicação, sons articulados percebidos pelos ouvidos. Partindo desse pressuposto, identifica-se a necessidade que, nos meios sociais, científicos e escolares, haja a construção de uma educação que respeite os direitos da criança surda como cidadã e como pessoa, com especificidades próprias a sua fase de alfabetização e letramento. Assim, o presente estudo torna-se necessário para analisar alguns termos relacionados à educação de alunos surdos, como forma de conhecer o referido campo de conhecimento, nas mais variadas visões. Dentre os termos, daremos destaque: língua, língua de sinais e letramento de surdos. Segundo o Programa Nacional de Apoio a Educação de Surdos entende-se por língua um sistema de signos compartilhado por uma comunidade linguística comum. A fala ou os sinais são expressões de diferentes línguas. A língua é um fato social, ou seja, um sistema coletivo de uma determinada comunidade. Em relação à expressão de Língua de Sinais, são línguas utilizadas pelas comunidades surdas e apresentam as propriedades especificas das línguas naturais, sendo, portanto reconhecidas enquanto línguas pela Linguística sendo sua aprendizagem essencial para a aquisição de novos saberes e sua interação social. A língua de sinais é visualespacial, captando as experiências visuais da pessoa surda, sendo os sinais formados a partir da combinação do movimento das mãos. Estas articulações das mãos, chamados de parâmetros. Há cinco parâmetros, segundo apresentação de Felipe (1998, p.84): Configuração das mãos - Forma da(s) mão(s) presente no sinal (64 configurações), cinco configurações, articuladas com a mão dominante ou com as duas; Ponto de articulação (locação) - Lugar do corpo onde será realizado o sinal ou no espaço neutro; Movimento - Os sinais poderão ter movimento ou não; Orientação - Os sinais podem ter uma direção e a inversão desta pode significar a ideia de oposição; Expressão facial e/ou corporal - Além dos cinco parâmetros, tem como traço diferenciador também a expressão facial e/ou corporal, em sua configuração. Essas definições visam auxiliar a prática pedagógica do ensino de alunos surdos na fase inicial e continuada, visto que os surdos durante a infância passam por dificuldades. No entanto, terão oportunidade de conquistar o seu espaço e a sua independência, se as escolas e os profissionais de educação desempenharem seus papeis de forma adequada. 111


Nesse contexto, há dificuldades na utilização da Língua de Sinais por professores e alunos surdos, onde estabelecem formas de comunicação simples e cotidiana. Além disso, muitos surdos, por serem filhos de pais ouvintes, não têm as habilidades comunicativas necessárias para a continuidade de seus estudos. Ou seja, não dominam LIBRAS, nem a Língua Portuguesa. Tal fato ocorre, em decorrência do contato tardio com a Língua de Sinais, devido os pais ouvintes não aceitarem a condição de seus filhos, além de desejarem profundamente que venham a adquirir a língua oral. No processo de alfabetização e letramento dos surdos, Botello (2002, p. 94) afirma que o surdo torna-se “atrasado” não porque não ouve ou porque usa língua de sinais, e sim, porque a escola e as políticas educacionais não levam em conta a necessidade de um ensino baseado na percepção visual, para que houvesse escolas de fato bilíngues com professores preocupados com a aquisição da língua materna e da língua escrita pelo surdo, como língua estrangeira, investindo a produção de recursos didáticos visuais, oferta plena de programas televisões legendados, entre outras condições, nenhuma informação seria pedida. Assim, é necessário que o aluno surdo domine sua língua materna, para estabelecer uma relação com língua escrita e a leitura do português. O letramento e a educação do surdo A aquisição da linguagem é relevante para o desenvolvimento integral do ser humano, sendo esta um instrumento que irá mediar a interação e socialização de todos os membros da sociedade, em seus respectivos espaços. Segundo Oliveira (1997, p.78) a luz de Vygotsky, argumenta que como a relação do indivíduo com o mundo é mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos no interior da vida social, e enquanto ser social, o homem cria suas formas de ação no mundo e as relações complexas entre suas várias funções psicológicas. Assim, para desenvolver-se plenamente como ser humano o homem necessita, dos mecanismos de aprendizado que movimentarão seus processos de desenvolvimento. Uma das necessidades principais no processo educacional, decorre da obtenção das condições linguísticas e culturais, que atendam a inserção e adequação dos educandos nos processos de ensino e aprendizagem,como consequência a obtenção de bons resultados educacionais. Nessa perspectiva, a escolarização da criança surda, na Educação Básica, inicia-se com a aprendizagem e internalização da linguagem. Durante essa etapa, todos os membros da escola devem desenvolver a socialização e comunicação com ela na língua de sinais, permitindo-a a expressarem seus pensamentos, desejos e necessidades. 112


Para isto, é essencial a presença de professores que compreendam e dominem as especificidades das duas línguas, pois as crianças surdas apresentam defasagem na linguagem, por serem filhos de pais ouvintes, não tem uma língua em comum. A língua de sinais, no caso do Brasil, a LIBRAS, é indispensável em sua escolarização, como suporte para o Português, que é o seu segundo idioma, através da comparação dos sinais com a escrita. Fazendo uso da LIBRAS e do Português o surdo é inserido no processo de aprendizagem, por sua vez, muitos professores enfatizam a aprendizagem de seus aspectos gramaticais do que com o conteúdo pedagógico, através do contato com as letras e suas diferentes formas de apresentação, ocorre a estruturação cognitiva que o letramento exige. MATERIAL E MÉTODOS A educação e a inclusão de alunos surdos constituem-se numa prática em que o professor deve estar qualificado para ensinar, refletir sua prática educativa e comunicar-se com esses alunos nos diferentes contextos que permeiam o processo de ensino e aprendizagem do educando, visando o seu crescimento e atuação como cidadão, e auxiliando na superação de suas limitações. Para o desenvolvimento e melhor compreensão da temática em estudo, os dados foram obtidos através da pesquisa de campo, com um grupo definido, paralelo com as análises bibliográficas, tendo como aportes fundamentais Soares (2005) e Mazzotta (2005), para compreensão dos fatores históricos que delinearam a educação dos surdos, Botello (2004) e Felipe (1998), buscando orientações sobre o letramento de surdos e a LIBRAS, bem como seu uso no contexto escolar e Programas do Governo (MEC) para compreender as orientações metodológicas e a prática do professor numa escola inclusiva. O método utilizado nesta pesquisa foi a fenomenologia de abordagem qualitativa e para o tratamento dos dados foi selecionado o método de conteúdo de Bardin (2004), por resgatar os fatos da realidade e estabelecer sua descrição numérica, emparelhando-as com a teoria estudada, usando como instrumento de investigação científica a entrevista semiestruturada, composta por 5 questões abertas aplicadas aos professores, e quatro questões também abertas voltadas aos intérpretes. O universo da pesquisa foi composto por três escolas: U.E. José Sarney, U.E.N. Senhora dos Remédios e C.E. Eugênio Barros, onde se coletou informações, com amostra de 10 professores e 5 intérpretes de LIBRAS, 01 com graduação, 02 com cursos técnicos de LIBRAS 02, especialistas e 02 especializandos, apresentando experiência na área que varia de 1 a 8 anos. Escolheu-se a Análise de Conteúdo porque: 113


A descrição analítica funciona segundo procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens [...] consiste em apurar descrições de conteúdo muito aproximativas, subjectivas, para pôr em evidência com a objetividade e natureza dos estímulos a que os sujeitos são submetidos. (BARDIN, 2004, p. 30-31).

RESULTADOS E DISCUSSÃO Como a interação de manter a ética da pesquisa, resolveu-se guardar em sigilo os nomes dos pesquisados denominando-os pelas letras “A”, “B”, “C”, “D”, “E”, respectivamente, a fim de alcançar nas respostas uma aproximação da realidade. Análises da entrevista junto aos professores Ao serem questionados sobre a surdez, a maioria dos docentes demonstra conhecimento teórico sobre a temática; outras, lamentavelmente, desconhecem a seriedade do problema, apesar de atuarem (todas), com público dessa natureza. Os professores B, C, E, G, e H apresentam conhecimento de causa, pois suas respostas são densas e apresentam coerência com o que dizem os teóricos de renome na área. Porém, a docente “A” em sua resposta, coloca que é uma deficiência física [...], o que comprova a falta de conhecimento acerca do tema em questão, visto que a surdez é uma deficiência sensorial. Observa–se assim, a vulnerabilidade de conhecimento dos professores, uma vez que não dominam informações elementares da temática, como características e diferenças. A professora “B”, em sua resposta, aponta como deficiência total ou parcial do sentido auditivo e pode ser hereditária ou adquirida, podendo-se avaliar que ela atua com o público surdo e tem conhecimento profundo dessa anomalia, o que propicia maior atenção e melhor acompanhamento no processo de aprendizagem desses sujeitos. Quando indagados sobre as mudanças ocorridas no planejamento e nas metodologias para a inclusão dos alunos, 60% afirmaram que nada foi modificado na prática pedagógica, como diz o entrevistado “D”: nada, pois as mesmas já eram com gravuras, desenhos e pinturas, o que contraria a fala de LODI (2002, p. 40) ao relatar que: a utilização de materiais concretos para a transmissão de conceitos relativos às disciplinas ministradas [...] não é mais necessário no processo educacional em sala de aula. Além disso, em outros professores verificou–se que acreditam que a mudança não é necessária pela 114


presença do intérprete como diz o entrevistado “J”: não mudei nada. Porque tem a intérprete e eles fazem o trabalho em grupo. Nesse sentido, Lacerda expressa que: [...]o papel do educador/professor não pode recair sobre o intérprete, já que seu papel principal é intérprete [...] não pode ser responsabilizado pela aquisição de conhecimentos dos alunos. É preciso que a atuação do intérprete se constitua em parceria com o professor, propiciando que cada um cumpra o seu papel. (LACERDA, 2002, p. 127).

Vale ressaltar que se o professor não cumpre seu papel de mediar conhecimentos, não haverá informações para o intérprete repassar ao aluno surdo, assim ocorrerá o comprometimento da aprendizagem do aluno em razão da ineficácia do professor e não do intérprete. Os demais professores, 40%, enfatizam que as mudanças mais significativas ocorreram na exposição dos conteúdos, participação dos alunos nas atividades propostas e uso de gestos e sinais, pois consideram complicado desenvolver uma prática diferenciada, uma vez não sabem LIBRAS, como diz o professor “G” é bastante complicado, visto que não conheço a LIBRAS, mas estou sempre interagindo com a intérprete para verificar se a aluno está acompanhando (entendendo). Quando indagados sobre a capacidade dos surdos progredirem em sua trajetória acadêmica, todos os entrevistados demonstram acreditar em sua capacidade cognitiva e nas possibilidades de seu progresso acadêmico, desde que tenham o acompanhamento especializado, de intérpretes, ou apoio de familiares e amigos, além do professor. Relatam que, em sala de aula, observam o desenvolvimento e compreensão das tarefas. Porém, são conscientes de que sem a presença do intérprete nada seria possível, como relata o entrevistado “B”: sim, desde que haja acompanhamento de interprete. O mesmo pensamento é compartilhado pelo professor “E”, que diz: sim, porque eles desenvolvem normalmente o raciocínio, podendo aprender se houver tradutor. O papel do intérprete de LIBRAS é mediar à comunicação do professor com aluno surdo. Nessa perspectiva, Lacerda aborda: A presença do intérprete em sala de aula e o uso da língua não garantem que as condições específicas da surdez sejam contempladas e respeitadas nas atividades pedagógicas. Se a escola não atentar para as metodologias utilizadas e currículo propostos, as práticas acadêmicas podem ser bastante

115


inacessíveis ao aluno, apesar da presença do intérprete. (LACERDA, 2002, p. 128).

Ao serem perguntados sobre suas dificuldades no ensino com alunos surdos, são unânimes ao afirmar que é a comunicação, a interação, a melhor metodologia de ensino, especificamente, o domínio de LIBRAS. O pesquisado “F”, em sua resposta, esclarece que não conheço LIBRAS, não consigo uma boa comunicação. O sujeito “H” ainda expressa: Tenho dúvidas quanto à metodologia a ser aplicada para o aluno surdo. Assim, quando esse aluno necessita de explicações mais intensas, além das interpretadas, ele encontra a sua frente apenas um professor que domina o conteúdo didático, tratando do aspecto institucional/organizacional. Fernandes (1997, p. 322) diz que é necessário a capacitação sistemática e progressiva do corpo docente, administrativo e técnico local como fator essencial. Diante dos resultados obtidos na pesquisa, pode-se ainda ressaltar o que diz Fernandes. Nesse sentido: [...] não dispomos de profissionais preparados para iniciarmos este processo em condições ideais [...] particularmente, ao alunado que já se encontra na escola e precisa de atendimento específico, pois não domina a Língua Portuguesa e, na maioria das vezes seus professores não dominam a Língua Brasileira de Sinais. Por isso, os sistemas de ensino inclusivo necessitam viabilizar a formação dos profissionais envolvidos, uma vez que possibilitam o desenvolvimento de atividades pedagógicas mais coerentes. (FERNANDES, 1997, p. 313).

Em relação à busca de formação (Curso de LIBRAS) para melhor comunicar – se, acreditam ser importante, como descreve a professora “C”: com certeza! Porque é a única saída para comunicar– se com surdo é aprendendo LIBRAS e também acho a língua interessante e gosto. Porém, 70%, dos professores, embora reconheça a necessidade de aprender a língua, ainda não fizeram nenhuma capacitação. O sujeito “G” afirma em seu discurso: Tenho vontade de fazer um curso, pois é necessário, assim poderei interagir pessoalmente com os surdos. No entanto, ainda não tive a oportunidade... Pretendo fazer o quanto antes. Porém, 30% dos discentes possui ou estão se capacitando. A professora “H” relata: Gosto de estar sempre me qualificando, faço especialização em LIBRAS, acho importante conhecer a realidade do aluno surdo, suas limitações, para assim, poder ajudar/contribuir para a 116


formação desse aluno. Pela resposta, percebeu-se que todos os professores acreditam na importância de aprenderem LIBRAS para a mediação da comunicação, interação e ensino de seus alunos, mas a minoria, contempla em suas ações e formação, os elementos dos atuais paradigmas de educação inclusiva para surdos, que é a presença de um ambiente bilíngue, na comunicação de professores e alunos. Sendo assim, torna-se urgente a tomada de ações, por parte dos demais educadores, no sentido de reverem suas práticas, além de permitirem a efetivação das relações de respeito, identidade e dignidade. Análise das entrevistas junto aos intérpretes Ao questionarmos acerca do nível da aprendizagem da LIBRAS dos alunos,as respostas dos sujeitos “leve, profundo e severa”, observou–se semelhanças, uma vez que acreditam ser uma aprendizagem satisfatória. A intérprete “profunda”, em sua resposta, aponta que é excelente, ele realmente sabe se comunicar muito bem usando sua própria língua – a LIBRAS; a “moderada” diz que a aprendizagem é bom, dentro de suas limitações. Esses surdos estão em contato regular com a comunidade surda, nas atividades de recreação e religiosa, atualizando–se com os novos sinais e outras mudanças da Língua de Sinais. Seus familiares também os acompanham nessas atividades, e demonstram pleno domínio da LIBRAS, pois além da interação com outros surdos e ouvintes fluentes, buscaram complementação com o curso de LIBRAS, em Instituições credenciadas, como SESI e SENAC. Além disso, fazem o acompanhamento das atividades escolares, providenciando reforço escolar, visitando a escola, indagando aos professores sobre o desenvolvimento de seus filhos e estudando com eles, quando solicitados. A intérprete “normal”, diferente dos outros, evidencia que é mínimo, pois a realidade no qual o aluno está inserido não possibilita a assimilação pelo mesmo. Essas limitações apresentadas em sala de aula, revelam que o uso da linguagem do aluno surdo na interação com seus professores, colegas e intérpretes relaciona–se com as discussões de Lodi e Luciano, ao relatar que: A maioria das crianças surdas possui poucas oportunidades para que esse processo se dê da forma esperada, pois, na maioria dos casos, são filhas de pais ouvintes, não convive com adultos surdos e, por serem privadas de ouvir e desenvolver a linguagem utilizada por seus familiares (linguagem oral), acabam apresentando, muitas vezes, atraso de linguagem. (LODI;

117


LUCIANO, 2010, p. 41).

Na questão sobre o desenvolvimento da leitura e escrita, 40% descrevem como bom, visto que estão em prática constante, como disse “Severa”. “Os intérpretes “leve” e moderado” dizem que é regular. Porém, a intérprete “Leve” esclarece: na leitura é muito lento, conseguem distinguir apenas algumas palavras. Na escrita conseguem se desenvolver bem. Já a entrevistada “Normal” em sua resposta, aponta que não são alfabetizados. Quando perguntados acerca da leitura e compreensão dos textos em Língua Portuguesa, os sujeitos disseram: Moderada: sim, pois foi trabalhado desde o inicio; e “Severa” – sim, dentro de suas limitações, mas demonstrando sempre muito esforço, avanço e superação. A entrevistada “Profunda” – na maioria das vezes sim, depende muito dos tempos usados nos textos, se muito cientifico com palavras que desconhece, fica um pouco difícil sua compreensão. Nestas relações, Botello ao discutir sobre as práticas educacionais de alunos surdos demonstra que: Muitos surdos desenvolvem práticas de leitura e escrita, e seus resultados constituem indicados de letramento escolar, em diferentes graus, permitindo – lhes usar socialmente a leitura e a escrita e servir – se delas para finalidades individuais e sociais. Os surdos que não estão imersos em tais práticas pouco usam socialmente a leitura e a escrita, apresentando outros resultados. (BOTELLO, 2002, p. 66).

Tais depoimentos, embora os intérpretes confirmem habilidades de leitura e compreensão de Língua Portuguesa, demonstram que esses alunos ainda têm dificuldades no desenvolvimento das atividades, devido às limitações do domínio do vocabulário e discriminação de alguns termos. Dessa forma, compreende-se que, embora apresentem algumas limitações, no que diz respeito à produção de textos na compreensão de termos específicos de cada ciência ou disciplina ministrada, esses alunos foram estimulados a desenvolverem essas habilidades, desde o início da sua escolarização, por meio da prática dos professores, familiares e outros indivíduos envolvidos nas suas relações cotidianas, como outros surdos adultos e ouvintes fluentes em Língua Brasileira de Sinais. Nesse processo de interação, estabeleceu-se como uma prática fundamental a apropriação das práticas sociais de linguagem, com condições mais adequadas para o seu desenvolvimento linguístico e textual, refletindo em sua aprendizagem escolar, de forma significativa. “Os 118


pesquisados “normal” e leve”, afirmam que não. Segundo “normal” – não passaram pelo processo de alfabetização. Já o pesquisado “leve” diz: eles conhecem poucas palavras da Língua Portuguesa. Pode–se observar que o Intérprete, por meio de suas vivências, descreveu o baixo desenvolvimento de linguagem do aluno que acompanha, no qual enfatiza o falta de domínio da leitura e escrita da Língua Portuguesa, decorrentes de não ter o desenvolvimento de linguagem em LIBRAS, como foi descrito anteriormente. Por este motivo, a articulação entre a LIBRAS e a Língua Portuguesa, no que refere as práticas mencionadas, determinou o impedimento e aprimoramento da linguagem, gerando atrasos consideráveis no processo de ensino aprendizagem dos conteúdos escolares e na sua comunicação interação com os colegas, professores e intérprete. Este problema não terá um fim, em si só, desde que haja as mudanças curriculares no ambiente escolar necessário. Nesta reflexão, é importante ressaltar o que afirma Goés: Se queremos ter escolas que acolham o aluno surdo com sua surdez, suas possibilidades de construção de linguagem e suas peculiares de significar o mundo, devemos, entre outras coisas, dar especial atenção aos problemas que estão por trás tanto do “fracasso” de seu abandono de sala de aula, quanto do “êxito” de sua permanência nela. (GÓES, 2002, p. 118). CONSIDERAÇÕES FINAIS O ensino de LIBRAS e de Língua Portuguesa para alunos surdos, no processo de letramento, ainda é uma prática preocupante no contexto escolar, visto que esses apresentam dificuldades ao serem inclusos na escola regular, além de ser mínimo o número de professores e a prática pedagógica que atenda sua diversidade. Para que a inclusão de alunos surdos seja efetivada com êxito, é fundamental a reelaboração das práticas educativas, contemplando um ambiente bilíngue nas relações cotidianas e na transmissão dos conteúdos. A proposta bilíngue garante aos alunos surdos o ensino da LIBRAS e da Língua Portuguesa (leitura e escrita), como línguas de acesso ao conhecimento e interação social. Implica ainda, uma nova postura da escola, favorecendo a substituição de antigas concepções educacionais que excluem do processo ensino-aprendizagem as diferenças. Para o aluno surdo, é relevante a presença de um ambiente bilíngüe, pois a LIBRAS é a língua da comunidade surda, legitimada pela Lei n.10.436,de 24 de abril de 2002. Dessa forma, a aprendizagem dessa língua, por professores e alunos ouvintes, é uma maneira de promover práticas educativas que valorizem a comunicação e inclusão. A presente pesquisa esclareceu alguns aspectos da prática educativa de alunos em 119


Caxias, na Educação Básica. Constatou-se que as principais dificuldades encontradas nos docentes pesquisados, foi não saber lidar, de forma coerente, com educando surdo. Entre elas destacam-se: 60% apresentam conhecimento sobre a surdez; outros 40% não conhecem; 60% afirmaram que nada foi modificado na sua prática pedagógica para a inclusão destes alunos. Os demais professores enfatizam que as mudanças mais significativas ocorreram na exposição dos conteúdos, participação nas atividades propostas e o uso de gestos e sinais, auxiliados pelos intérpretes. As dificuldades constantes, de acordo com seus relatos, estão na comunicação, na interação, na metodologia de ensino, especificamente, o domínio de LIBRAS. Porém, 70% dos entrevistados, embora reconheçam a necessidade de aprender a língua, ainda não fizeram nenhum curso de capacitação. Tal fato, é confirmado pelos intérpretes. A partir da falta de formação inicial e continuada para trabalhar com alunos surdos, verificou-se que, dos alunos inclusos, 60% tem pleno domínio da LIBRAS, 20% apresentam um bom desenvolvimento e 20% mínimo. O resultado dessas práticas ainda, reflete no desenvolvimento das habilidades de leitura, compreensão e produção de textos em Língua Portuguesa, devido as limitações do domínio do vocabulário e discriminação de alguns termos. Dessa forma, a pesquisa permitiu constatar que a organização do trabalho pedagógico estanca na fragilidade da formação dos professores envolvidos e dos intérpretes que não encontram nas escolas, condições básicas e fundamentais para o desempenho de sua função. As reflexões demonstram que a educação inclusiva somente ocorrerá se os profissionais se qualificarem para atender os alunos nas suas particularidades, em benefício do processo ensino e aprendizagem, criando novas oportunidades de crescimento e valorização de sua diversidade. Para isso, é necessário que as Secretarias de Educação promovam, semestralmente, cursos de atualização em LIBRAS aos professores, funcionários da escola, para que, de fato, a inclusão se constitua, como preceitua a Secretaria de Educação Especial. Nesse processo, diante dos objetivos delineados, foi possível comprovar que, na prática, ocorrem de forma distorcida do que preceitua os documentos do MEC, o que comprova que a prática docente precisa de modificações que favoreçam o processo de inclusão dos alunos surdos na prática de Letramento.

120


REFERÊNCIAS

LACERDA, Cristina B. F. de. O intérprete de língua de sinais no ensino fundamental: refletindo sobre limites e BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3. ed. possibilidades. In: LETRAMENTO e minorias. Porto Lisboa: Edições 70, 2004. Alegre: Mediação, 2002. p. 120-128. BOTELLO, Paula. Linguagem e letramento na LODI, Ana Claúdia B. et al. Letramento e surdez: um educação dos surdos: ideologias e práticas olhar sobre as particularidades do contexto pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. educacional. In: LETRAMENTO e minorias. Porto Alegre: Mediação, 2002. p. 35-44. BRASIL. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Brasília: MEC, 2001. LOPES, Maura Corcine. A mediação material e sígnica no processo de integração de crianças surdas. In: BRITO, Lucinda Ferreira. Língua brasileira de sinais. Educação e exclusão: abordagens sócio antropológicas In: BRASIL, Secretaria de Educação Especial. em educação especial. Porto Alegre: Mediação, 1997. p. Brasília: SEESP, 1998. v. 3. (Série atualidades 58-74. pedagógicas, n. 4). MAZZOTTA, Marcos José Silveira. Educação FELIPE. Tanya A. Introdução a gramática da especial no Brasil: história e políticas públicas. 5. ed. LIBRAS. In: BRASIL, Secretaria de Educação São Paulo: Cortez, 2005. Especial. Brasília: SEESP, 1998.v. 3. (Série atualidades pedagógicas, n. 4). OLIVEIRA, Martha Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São FERNANDES, Eulalia. Surdez e bilinguismo: leitura Paulo: Scipione, 1997. de mundo e mundo da leitura: deficiência auditiva. Brasília: MEC, 1997. p. 309-320. SALLES, Heloisa Maria Moreira et al. Ensino de língua portuguesa para surdos. Brasília: MEC, 2004, v. 1. GESUELI, Zilda Maria. MOURA, Lia de. Literatura, (Programa Nacional de Apoio a Educação dos letramento e práticas educacionais: grupos de Surdos). estudos e subjetividade. Campinas, v. 7, n. 2, jun. SILVA, Alessandra da et al. Atendimento educacional 2006. especializado: deficiência auditiva. São Paulo: MEC,2007. GAIO, Roberta. MENEGHETTI, Rosa G. Krob. Caminhos pedagógicos da educação especial. Petrópolis: Vozes, 2004. GÓES, Maria Cecília Rafael de. Alunos surdos na escola regular: as experiências de letramento e os rituais da sala de aula. In: LETRAMENTO e minorias. Porto Alegre: Mediação, 2002. 121


122


Artigo O DESVELAR DA PRÁTICA DOCENTE DO LICENCIADO EM LETRAS: ENTRE O ENSINO DA GRAMÁTICA E A FORMAÇÃO DO SUJEITTO LEITOR Ana Elizabeth Araújo da Silva Félix¹

RESUMO O ensino de Língua Portuguesa tem sido objeto de discussões acadêmicas e em núcleos de pós-graduação com frequência. Investiga-se o trabalho dispensado pelo professor de leitura, para a escrita e para a interpretação do aluno nos anos iniciais do ensino fundamental, que torna o aluno um leitor frágil, com pouca habilidade em compreender ideias que se apresentem de maneira mais complexa, sem competência para construir pensamentos a partir da escrita que estejam relacionadas de forma lógica. Esta investigação, ainda em andamento, busca analisar como tem sido preparados os licenciados no curso de Letras para atuarem com a educação básica. Palavras-chave: Prática docente. Formação em letras. Leitura. ABSTRACT The teaching of Portuguese has been the subject of discussion in academic and core graduate often. It examines the work by Professor dispensed with reading, for writing and for the interpretation of the student in the early years of elementary school, the student makes a weak player with little ability to understand ideas that are presented in a more complex not competent to build thoughts from the writing that are related logically. This investigation, still underway, seeks to analyze as it has been prepared in the Bachelor's graduates to work with basic education. Keywords: Educational practice. Training in literature. Reading.

¹Graduada em Letras. Especialista em Língua Portuguesa. Especialista em Educação Especial, Inclusão e LIBRAS. Mestre em Letras. Professora Assistente do CESTI/UEMA. Docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão FACEMA. 123


INTRODUÇÃO A formação dos professores de língua portuguesa, realizada em nível superior no âmbito das universidades no Brasil, tem sido objeto de reflexão em diversos centros de pesquisa no campo da linguagem, leitura e escrita. O processo de aprendizagem da língua materna é uma temática que vem sendo discutida ao nível de graduação e de pós-graduação nas últimas décadas, por pesquisadores inquietos e preocupados com o perfil dos docentes de língua portuguesa que adentram as salas de aula das escolas públicas no Brasil. No que concerne ao ensino de Língua, as discussões se voltam para o ensino de gramática, levando o aluno a um enfoque de estudo que tem como vetor a norma, apresentada sem sua historicidade e sem a sua contextualização de uso, que também implica em apreender a sua evolução. A polêmica estabelecida entre ensinar ou não a gramática desdobrou-se em relações de oposição entre os gramáticos e os linguístas, que avaliam a pertinência de suas defesas, entretanto, o fazem numa condição desfavorável, pois tratando-se da prática docente de professores nela envolvidos e por ela subsumidos tem dificuldade de olhar para dentro do próprio processo vivenciado. Procura-se resgatar essa discussão, destacando a emergência e as características do discurso de mudança nas concepções de linguagem, no ensino de línguas e na formação docente do licenciado em Letras. A visão de linguagem e ensino tem sofrido ampla modificação no Brasil, cujas bases teóricas, em última instância eram pautadas no ensino materialista da linguagem, tendo como aporte fundamental o ensino de gramática, ficando assim em segundo plano a abordagem centrada no processo de leitura e escrita. Tendo realizado minha formação em nível superior no Curso de Letras ofertado pelo CESC/UEMA, eu, bem como toda uma geração de professores que atua na rede de escolas públicas na cidade de Caxias, somos fruto de uma concepção curricular, predominantemente referenciada na teoria do conhecimento normativo aplicado ao ensino da língua, que secundarizava os gêneros discursivos, a sociolinguística, a semântica do acontecimento, a pragmática e a teoria dos atos de fala. O que nos inquieta e nos estimula a realizar a pesquisa que ora se delineia nesse projeto é o perfil desejado no processo formativo do licenciado em Letras e o resultado final desse processo ao término da graduação, suas concepções e a prática pedagógica do professor de Língua Portuguesa na educação básica. A literatura que se dedica ao ensino de Língua Portuguesa é vasta. No entanto, a pesquisa que se pretende desenvolver está circunscrita a um conjunto de autores, que priorizamos nesse momento, pela necessidade que há 124 de se delimitar esse universo.


REFERENCIAL TEÓRICO As discussões centradas na temática “estudar ou não gramática”, tem sido priorizadas como conteúdo das polêmicas entre linguísticos e gramáticos tradicionais. Essa evidência está dada tanto pela efervescência revelada em publicações da área, como também pelas discussões que se sucedem nos espaços de eventos científicos sobre o ensino da língua. As polêmicas quanto a esse aspecto que envolve o ensino da gramática e as relações de oposição entre gramáticos e linguistas neste estudo, buscam avaliar como se constrói o discurso da mudança na prática docente, eclodida no campo dos estudos linguísticos em meados da década de 70 no Brasil, momento em que efervesceram debates sobre o papel científico, social e político da Linguística, sustentando o discurso da mudança a partir de três pilares: as ideias linguistas, o ensino de língua materna e a tradição gramatical. Cada um desses pilares possui sua razão de ser em relação ao estudo da linguagem. Inicialmente, no ensino da língua materna o sujeito assume a sua subjetividade e identidade diante da língua que usa, entretanto, seguidamente, a tradição gramatical chega às escolas como “navalha”, entrecortando falares e identidades dos alunos que se encontram no eixo de suas variantes de linguagem, cujos fundamentos não estão fincados na norma. Por outro lado, as ideias dos linguistas que a concebem como atividade em uso, com seu caráter dinâmico, subjetivo e mutante tal qual o seu falante nativo, defendem que a língua precisa ser respeitada em suas diferenças, indicadoras da diversidade cultural e histórica dos diferentes sujeitos falantes. Assim, as investigações sobre a língua junto à sua evolução continuam ocorrendo de forma emergente. Segundo Bagno: [...] além dos campos tradicionais de estudo das línguas – a fonética, a morfologia, a sintaxe, a semântica – surgiram outros campos de estudo constituindo quase ciências distintas, de tão vastos e diferentes os seus objetivos e seus métodos de trabalho. É assim que hoje podemos analisar os fenômenos linguísticos à luz da psicolinguística, da Sociolinguística, da Análise do Discurso, da Análise da Conversação, da linguística Textual, da Semântica Argumentativa, da Pragmática. (BAGNO, 2004, p. 2324).

A partir desse prisma, essa nova nuance do ensino da Língua visualiza sua forma dinâmica, variável e subjetiva, que precisa do sujeito para enunciá-la, 125


atribuir seu sentido, situá-la temporal e espacialmente em um contexto, com aporte em uma cultura estabelecida ou não pela norma, pois, segundo Medeiros (2009, p. 16) as variantes, são subdivididas em diacrônicas (variação que ocorre em períodos temporais) em que a língua evolui, a exemplo do pronome você, que dantes era escrito nas formas: Vossa mercê, vosmicê; variação diatópica em que a língua sofre alterações de acordo com os espaços geográficos em que ela é enunciada (também conhecida como dialeto); variação diastrática que enfoca a mudança econômica do sujeito falante através de seu discurso e, por fim, a variação diafásica que identifica falares diferentes de acordo com as gerações, cuja linguagem sobre interferência no momento da enunciação. Para os gramáticos que defendem o ensino da norma, as variantes acima citadas inexistem, uma vez que só atribuem sentido à linguagem oficial, normativa, postulada nos compêndios e nas gramáticas. Nessa perspectiva, se secundariza o trabalho com a leitura e a escrita em sala de aula, fato que propicia certo grau de ineficácia no trabalho com a língua, uma vez que, o aluno que não consegue ler na perspectiva da intelecção, por não possuir a habilidade/competência de produzir sentido ao que leu, está fadado a deixar refletir essa falta de sentido na produção escrita, evidenciando seu distanciamento do domínio da norma culta. No que se refere à leitura, Koch (2002) aponta quatro habilidades da linguagem verbal: a leitura, a escrita, a fala e a escuta. A habilidade linguística mais difícil e complexa é a leitura. Esta é composta de dois passos fundamentais: a decodificação e a compreensão. A decodificação é a capacidade necessária do aluno/leitor no aprendizado, na identificação de um signo gráfico, uma vez que o processo de apreensão da leitura, a competência linguística incide no reconhecimento de signos linguísticos e na sua identificação para a linguagem oral ou para outro contexto de signos. Desse modo, a capacidade de decodificação é adquirida através do aprendizado do alfabeto e da leitura oral e visual. Conhecer o alfabeto não significa, tão somente, conhecer as letras contidas neste conjunto de signos, mas atribuir sentido às combinações sígnicas contextualizadas, bem como a compreensão do ato de leitura, que é constituída por uma série de processos cognitivos e linguísticos de diferentes níveis, iniciada por estímulos visuais e finalizada com a compreensão, também denominada de intelecção. Segundo Koch: “[...] o sentido de um texto não existe a priori, mas é construído na interação sujeito-texto”. Assim, a produção do sentido do texto é realizada à medida que o leitor ao entrever o texto e interpretá-lo,

126


coloca em prática o seu conhecimento de língua do mundo, no que diz respeito a sua comunicação com o texto. (KOCH, 2002 p. 57).

Em seu cotidiano, a criança aprende naturalmente a expressar-se mediante a relação que estabelece com o outro e com o ambiente em que vive (linguagem regional ou dialeto), por isso, a educação, a história e a cultura de um povo estão interligadas, pois são os processos educativos que garantem a transmissão e a conservação da cultura de um povo. É notória a evidência de que a cultura influencia os processos de desenvolvimento dos estudantes, devendo assim, serem estimuladas intensamente as crianças e jovens pela instituição educacional e familiar, oportunizando a aquisição, socialização e aprofundamento de conhecimentos empíricos, que podem favorecer o ato de interpretação de textos. A fala, a leitura e a escrita são funções dependentes, se completam, fazem parte do mesmo sistema, que é o sistema funcional de linguagem. Assim, o ensino da leitura e da escrita requer observação de detalhes que fazem a diferença quando se trata de metodologias a serem ministradas.Observa-se que a metodologia desenvolvida em sala, pelo professor de Língua Portuguesa, relacionada com a leitura e a produção textual nos anos iniciais do ensino fundamental, prejudicando o desenvolvimento crítico de leiturização e a capacidade de construir textos dos educandos da educação básica. A ineficácia no trabalho com a leitura e escrita nos anos iniciais é resultado da formação/licenciatura do professor de Língua Portuguesa, que pouco privilegia o trabalho pedagógico no campo da leitura e da escrita. Esse problema alcança as licenciaturas de outros estados do nosso país. De acordo com o estudo desenvolvido por Marinho (apud Frade, 2010), publicado na coleção “Didática e Prática de Ensino”, traz depoimento de uma acadêmica do curso de Letras em Belo Horizonte, que atua como supervisora em uma escola pública dessa capital. Em seu relatório de estágio, ela revela descobertas que não imaginava, ainda que atuasse nesta mesma escola na condição de supervisora. O que mais chamou sua atenção foi que alunos do 8º ano não sabiam ler e nem construir textos, como aponta o relato: Ao ler a produção da turma 702b, um aluno especificamente me chamou a atenção, pois construiu frases precárias, algumas vezes, sem sentido. Ao que parece, ele não tinha conhecimento da estrutura de um texto. [...] trabalhei na minha intervenção com gêneros textuais, entretanto, para uma intervenção efetiva e

127


verdadeiramente produtiva, o desejável seria que eu tivesse trabalhado com alfabetização, pois, após observar diversas aulas, os registros da professora, os cadernos dos alunos [...] percebi na 8ª série que de 28 alunos há 6 alunos cuja a alfabetização não foi consolidada, há mais 7 com graves deficiências na leitura (que lêem silabando), então são 13 alunos que [...] não são capazes de ler e interpretar sequer pequenos textos, que não são capazes de produzir pequenos textos escritos com coerência. (FRADE, 2010. p.481).

Como se pode perceber, a realidade do ensino de Português no Brasil se aproxima: os alunos saem do ensino fundamental, adentram as salas de aula do ensino médio e alcançam o ensino superior, apresentando limitações na leitura, na interpretação e na produção textual. Analisando essa realidade, afere-se que ela se efetiva em razão de um alicerce falseado do ensino da língua que não contempla como deveria os objetivos desse ensino que é fazer do aluno um sujeito leitor, escritor e produtor de textos, tornando-se um conhecedor da língua, de suas variantes, isto é, um poliglota dentro de seu próprio idioma, repleto de variações culturais aqui já elencadas. O aprendizado do ler e escrever são construídos de forma contínua. Nesse sentido, abrange novas habilidades e novos conhecimentos, à medida que formará o aluno capaz de dominar novos textos escritos e cada vez mais complexos. Para atrair o prazer da leitura e da escrita, é preciso fazer com que o aluno esteja integrado ao texto, para haver um diálogo coerente entre autor e leitor. Transformar as práticas de leitura e produção textual em exercícios prazerosos e oportunizadores de compreensão crítica dos conteúdos dos quais se aproxima o leitor, é o objetivo essencial do ensino de Língua Portuguesa. É salutar a influência que o professor pode causar em seus alunos, uma vez que o professor que não escreve e que não produz, dificilmente irá induzir seus alunos a tal prática da leitura e escrita. Logo, se na licenciatura o graduando do Curso de Letras não for trabalhado no sentido do desenvolvimento dessas competências, não estará apto para desenvolvê-las em sala de aula com seus educandos. Retomando a discussão da supervisora da escola de Minas Gerais, sobre o ensino da língua, ela expressa em um depoimento sua experiência como estudante do curso de Letras: Não somos preparados no Curso de Letras para [...] lidar com essa 128


situação.[...] Tenho certeza que a situação que vivenciei é muitíssimo comum, e que se repete nas mais diversas escolas de Belo Horizonte, de Minas Gerais e do Brasil. Os alunos de licenciatura do Curso de Letras deveriam ter certas noções de como trabalhar essas questões, pois me parece impossível ensinar verbos, pronomes e artigos para jovens que apenas decodificam as letras. (FRADE, 2010. p.482).

Concordando com Frade, reitera-se que essa problemática atual não é realidade apenas do estado do Maranhão ou de Minas Gerais e sim, do Brasil, por isso requer em caráter de urgência, uma reflexão sobre o nosso conceito habitual de leitura, ampliando-o sob alguns aspectos, ao mesmo tempo em que mostre a incipiência do ensino neste campo. Nessa condição, predominantemente, constatada nas salas dos anos finais da educação básica e nas academias, resta ao professor de língua portuguesa focar suas aulas na correção ortográfica e na norma gramatical em si (classes gramaticais), transformando a aprendizagem dos estudantes em mera decifração de códigos normativos da língua, memorização das classes gramaticais, trabalhos exaustivos com as classes mais densas, a exemplo do verbo, sem o alcance do resultado desejável no que concerne às habilidades na leitura, na produção escrita e no processo de contextualização e interpretação das mais diversas linguagens e mensagens. Os professores que utilizam somente a gramática tradicional precisam ter em mente que a língua é dinâmica e evolui constantemente, por isso, tornase imperioso que estejam abertos às mudanças, no sentido de transformar o ensino da linguagem em um novo contexto de interação social. Desse modo, para que os alunos sejam bons escritores e criem o hábito de ler é necessário mais que a gramática, é imprescindível o contato permanente com as revistas, livros, jornais, para que a partir desse estímulo, possam tornar-se cidadãos críticos e cientes das suas ideias impostas para o meio acadêmico e social. Para Antunes, diante da concepção das regras: O conhecimento que o falante tem das regras que especificam o uso de sua língua é um conhecimento intuitivo, implícito, ou seja, não requer, em princípio, que se saiba explicitá-lo ou explicá-la. No entanto, esse saber implícito acerca do uso da língua pode ser enriquecido e ampliado com o conhecimento explícito dessas mesmas regras. (ANTUNES, 2003, p. 94).

Portanto, o discente ao chegar à escola para se alfabetizar, já tem o 129


domínio sobre algumas competências, em especial, a verbal, por trazer ideias próprias adquiridas no contexto familiar. Sendo assim, é na escola que o educando vai por em prática toda sua experiência e aprimorá-la como subsidio para o desenvolvimento de sua aprendizagem. Entretanto, quando ele adentra a escola, a leitura de mundo é abandonada, como se os sujeitos nada trouxessem como acervo cultural e linguístico próprio, como se existisse um único conteúdo e modo do falar/escrever. Acerca dessa realidade, Taylor afirma: [...] só quando se sabe escrever é que se lê o que se há para dizer. Quando nos tornamos autor, escritor, é que começamos a escrever o mundo. [...] Desconfio muito de programas contra o analfabetismo que se contentam somente em ensinar as pessoas a lerem. Há o risco de formar os indivíduos que só sabem ler instruções. Um projeto educacional de alfabetização como esse é, na verdade, um projeto político de domesticação. (TAYLOR, 2003 apud FRADE, 2010. p. 526).

Como bem afirma o autor, não bastam linguagens que os sujeitos dominam, trançadas no cotidiano de suas vidas: é preciso ler e escrever a outra, organizadora de tempos e espaços sociais que não pode ser pensada nem trabalhada em limites que não indaguem sobre a compreensão do significado da leitura na sociedade atual. Pensando sobre essa realidade no nível do ensino fundamental, avalia-se que um projeto educacional deva promover a cidadania, mediante o processo de formação do sujeito leitor. Caso contrário, o professor de Língua estará apenas domesticando os falantes nativos para o domínio da norma e preparando-os somente para decodificarem textos, sem avançarem para o processo da intelecção, portanto, tornando-os inaptos a interagirem, nos diversos meios em que podem atuar pela ineficaz formação alcançada. Entende-se que um dos principais objetivos da escola é o de formar cidadãos para o mundo, para tanto, é preciso fazer com que os alunos adquiram competências discursivas através do contato com a produção textual e a interlocução verbal e escrita com os diversos padrões da cultura própria de todas as classes sociais. Tendo em vista os aspetos abordados, Koch afirma: O sentido de um texto é construído na interação texto-sujeito e não algo que preexista a essa interação. [...] realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização

130


de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo. (KOCH, 2002, p. 11).

Por essas razões explicitadas, o perfil desejado do professor de Língua Portuguesa da educação básica deverá ser de formador de sujeitos leitores/escritores, o que implica, necessariamente, que o próprio professor deve ser um leitor potencial, refletir sobre sua prática de ensino, realizar o seu fazer pedagógico voltado à leitura e escrita, exercitando a leitura crítica, ou seja, a leitura do mundo que lhe rodeia. Para Antunes (2003, p. 108.), “[...] a mudança no ensino de Língua Portuguesa não está na metodologia ou nas “técnicas” usadas. Está na escolha do objetivo de ensino, daquilo que fundamentalmente constitui o ponto sobre o qual lançamos os nossos olhares [...]”. Para a autora, as mudanças do ensino de Língua Portuguesa não estão centradas nos métodos ou nas técnicas de trabalho utilizadas pelos professores. São os objetivos de aprendizagens que os professores o conhecimento pretendem alcançar com seus estudantes que podem dar sentido ao seu fazer pedagógico. Esses objetivos deverão fazer parte do contexto social do aluno, com o intento de fazer emergir, sob o olhar crítico e a compreensão histórica do estudante, os valores socioculturais da sua região. Nessas circunstâncias, o professor não ficará “preso” às regras e exceções colocadas pela gramática, mas estará valorizando o adquirido no contexto familiar, como suporte para o seu desenvolvimento social. Nesse sentido, a formação na licenciatura deve propiciar essa formação. O acadêmico do curso de Letras precisa sair da licenciatura, apto a trabalhar com a leitura, a escrita e a interpretação textual; deve sair contaminado do gosto pela leitura e pela escrita. Desse modo, poderá em sala de aula, ser um multiplicador desse habitus com seus estudantes, proporcionando através do ensino de língua, o resgate da cidadania e o alcance da liberdade e autonomia intelectual necessária a todos os seres humanos para que possam alcançar a condição de bem viver e não apenas sobreviver, sob o imperativo das forças condicionantes da sociedade e da história, a partir da visão de consumismo. A liberdade da aquisição do saber, do conhecimento e a sua aplicação no cotidiano, permite que se supere a dependência e os vários níveis de analfabetismo (geral e funcional). Os cidadãos brasileiros, homens e mulheres, tem o direito de alcançar a condição de domínio da leitura proficiente, culta e rica de saberes e fazeres, de modo a contribuir para que o Brasil de desenvolva e alcance a condição de uma democracia no sentido mais amplo e profundo. 131


MATERIAL E MÉTODOS Esta pesquisa está inserida dentro de um paradigma de interpretação crítica, pois contrapondo-se a corrente positivista, não pretende tão somente, explicar a realidade dos atores desse processo, nem tampouco apenas testar ou controlar resultados, mas identificar os significados que esses participantes atribuem à sua realidade no campo da formação alcançada na licenciatura em Letras. Assim, poderão melhor compreendê-la e nela poder intervir significativamente, melhorando a prática educativa e o exercício da docência. Partindo desse ponto, ou seja, da necessidade de se investigar os significados – inerentes a esta pesquisa metodológica -, da necessidade de se identificar as práticas docentes vivenciadas pelos professores que atuam com a disciplina Língua Portuguesa na educação básica, é que se busca tecer esta investigação, visando uma descrição analítica da formação docente por eles contemplada, suas representações sociais, suas crenças, ações e intenções. Pimenta (2005) ressalta a importância da pesquisa na prática como proposta formativa, principalmente quando se trata da prática docente, afirmando o significado da contribuição da pesquisa qualitativa e de análise do cotidiano da sala de aula, das construções e trocas de saberes neste espaço tão comuns. A pesquisa qualitativa será utilizada para análise do objeto de estudo, pois requer o levantamento de hipóteses teóricas, ideológicas e filosóficas inerentes à pesquisa social, uma vez que as ações humanas são baseadas nos significados sociais, tais como crenças e intenções (pessoais e sociais). Assim, os docentes, egressos e quase docentes que atuam (e atuarão) com Língua Portuguesa, expressarão suas práticas no exercício da docência, com o intuito de avaliar o processo a partir de referenciais teóricos sobre a formação de professores, mediados pela técnica investigativa da Análise de Conteúdo de Bardin (2004), cujas bases se assentam na interpretação dos discursos enunciados e omitidos sobre a formação e a prática docente de cada um dos atores que desse processo farão parte. Segundo Chizzotti (2003), a abordagem é considerada qualitativa quando se refere à produção dos dados por meio das interações sociais, onde o pesquisador envolve-se de modo participativo, explicando e descrevendo a realidade, em busca de analisá-la a partir de um conjunto de significações que este atribui aos atos do pesquisado. Portanto, os dados são subjetivos e individuais, ficando a cargo da percepção do pesquisados e dos objetivos de sua pesquisa. A partir dos dados produzidos pelos interlocutores da pesquisa, considerando os objetivos propostos, será organizada a análise de dados, através de 132


categorização das unidades e eixos temáticos de indicadores, no sentido de sistematizar as informações do estudo. Iniciar-se-á com a pré-análise, a partir da organização do material que constituirá o corpus do trabalho delineado; será feita também a descrição analítica com a exploração do conteúdo, partindo da codificação e categorização, utilizando critérios semânticos (significativo/conceituação), construindo as categorias organizadas em temas adequados ao tipo de análise a ser realizada e o emparelhamento dos dados colhidos. Por último, tem-se a fase de interpretação referencial através da reflexão e intuição com embasamento nos materiais empíricos. É o momento do confronto entre o conhecimento acumulado e o adquirido, a partir do qual será realizado o tratamento dos resultados através da inferência e a interpretação, tomando por base o emparelhamento dos dados colhidos na pesquisa de campo. (TRIVIÑOS, 2007). A referida pesquisa se encontra em andamento, buscando revelar quais práticas tem sido desenvolvidas no exercício da formação dos Licenciados em Letras e o reflexo dessa prática no exercício da docência dos licenciados na educação básica em Caxias-MA. CONSIDERAÇÕES FINAIS A referida pesquisa, busca verificar como se constitui atualmente o ensino de Língua Portuguesa na educação básica das escolas públicas da cidade de Caxias-MA. Tal estudo se encontra em andamento. No entanto, ousamos hipotetizar que os ingressantes das universidades públicas e privadas adentram às academias hoje com sérias deficiências no campo da leitura, intelecção, interpretação e produção textual. Enquanto profissionais da docência superior, devemos dizer que esses alunos, apresentam em suas dificuldades de ler, interpretar e escrever, os reflexos de um ensino que não foi pautado nos pilares que sustentam a aprendizagem de qualquer temática, disciplina, em todos os níveis de ensino – desde a educação básica até a pós-graduação: leitura, interpretação e produção escrita. Sem estas habilidades desenvolvidas, o ser humano não estará apto a ser nem um leitor proficiente e muito menos um escritor competente. Essas são as raízes motivacionais que encaminham esta pesquisa que ora se delineia.

133


REFERÊNCIAS Acesso em: 12 fev. 2011. ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. PIMENTA, Selma Garrido; GHEDIN, Evandro (Org.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um ______. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São conceito. 3ed. São Paulo: Cortez, 2005. Paulo: Parábola Editorial, 2009. POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro? um convite à escola. Campinas: Mercado de Letras, 1996. pesquisa. 4. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. ______. Questões para analistas do discurso. São Paulo: BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Parábola Editorial, 2009. Edições 70, 2004. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. BORTOLOTTO, Nelita. A interlocução na sala de aula. Petrópolis: Vozes, 2002. São Paulo: Martins Fontes, 1998. TRIVINOS, Augusto N. Introdução a pesquisa em ciências CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa qualitativa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, humanas e sociais. Petrópolis: Vozes, 2006. 1987. FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva et.al. Convergências e tensões no campo da formação e o trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. ILARI, Rodolfo. A linguística e o ensino da língua portuguesa. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. JOSSO, Marie-Chirstine. Experiências de vida e formação. São Paulo: Cortez, 2004. LAVILLE, Christian. DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. MEDEIROS, João Bosco. Redação Empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. NÓVOA, A. Os professores e as histórias da sua vida. In: _____. (Org.). Vidas de professores. Porto: Porto, 2000. p. 11-30. ______. Formação de professores e profissão docente. In: _____. (Org.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. p. 15-34. ORLANDI, Eni Puccinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 4. ed. Campinas, São Paulo: Pontes, 1996. PASSEGI, M. C. Memórias de formação: processos de autoria e de (re)construção identitária. Disponível em: < http://www.fae.unicamp.br/br2000/trabs1970.doc>.

134


Artigo R E P R E S E N TA Ç Õ E S S O C I A I S D E PROFESSORES DE ESCOLAS PRIVADAS DE TERESINA SOBRE ESCOLA DE QUALIDADE Cleire Maria do Amaral Rodrigues * Luís Carlos Sales **

RESUMO Este estudo objetiva conhecer as Representações Sociais (RS) de professores de escolas privadas de Teresina-Pi sobre escola de qualidade. Nele, os professores investigados apreciam as condições efetivas de funcionamento do sistema escolar que lhe atribuem qualidade, a partir de uma posição de atores sociais privilegiados. A abordagem teórico m e t o d o l ó g i c a s e g u i d a é a Te o r i a d a s Representações Sociais (TRS). A TRS estuda os saberes produzidos no cotidiano e pelo cotidiano e busca desvendar como as pessoas comuns, comunidades e instituições os produzem. As RS dos sujeitos investigados indicam que uma boa escola define-se, principalmente, pela presença de bons professores, bom espaço físico, boa disciplina e mecanismos de valorização dos professores. Palavras-chave: Representações sociais. Escola. Qualidade. ABSTRACT This study aimed to evaluate the Social Representations (SR) of teachers in private schools in Teresina-Pi about school quality. There the teachers researched appreciate the conditions effective functioning of the education system that grant quality, from a position of privileged social actors. The methodology and theoretical approach to the Social Representations Theory (SRT). SRT studies the knowledge produced in daily life and the everyday and seeks to discover how ordinary people, communities and institutions to produce them. The RS of the investigated subjects indicate that a good school is defined mainly by the presence of good teachers, good space, good discipline and mechanisms for valorization of teachers. Keywords: Social representations. School. Quality.

* Professora do Curso de Mestrado em Educação do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Piauí - UFPI. ** Mestre em Educação, Coordenadora da Comissão Própria de Avaliação da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão - FACEMA 135


INTRODUÇÃO O tema da qualidade de ensino circula, atualmente, com facilidade no debate público e já não é mais assunto restrito aos especialistas da área. Em uma frequência cada vez maior, cidadãos comuns, usuários ou não dos sistemas escolares, nos encontros informais da vida privada estabelecem colóquios, mais ou menos fundamentados, em torno da temática. Nos meios de comunicação de massa também são frequentes as discussões sobre a qualidade do ensino, muitas vezes amparadas em bem ilustradas estatísticas. As preocupações com a qualidade do ensino estão relacionadas a motivos diversos, mas têm em comum o fato de serem uma questão dos tempos atuais, quando nos países desenvolvidos a universalização do ensino já se completou e o esforço voltou-se para a melhoria dos sistemas. Também estão relacionadas ao consenso de que o ensino de qualidade na sociedade contemporânea pode preparar o aluno para atender às demandas de maneira mais vantajosa e competitiva, tanto para o indivíduo, como para sua nação. No mundo da ciência e da administração pública já há algum tempo a qualidade do ensino mobiliza pesquisadores, políticos e administradores. Em países como Estados Unidos e Inglaterra, principalmente a partir da década de 60, desenvolveram-se importantes estudos empíricos em busca de explicações sobre os resultados escolares. No Brasil, a idéia de qualidade do ensino passou a ter maior visibilidade associada à avaliação educacional, a partir dos anos 90 com a criação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB). Na pesquisa científica é possível divisar duas linhas de investigação sobre qualidade no ensino. Há uma linha mais focada no paradigma moderno, fundamentado na objetividade, na racionalidade e na possibilidade de generalização. E em outra perspectiva, desenvolvem-se estudos baseados na subjetividade que levam em consideração o sujeito, o contexto e as peculiaridades de contextos diferentes. É deste último campo investigativo que este trabalho mais se aproxima. Trata-se de estudo com base na Teoria das Representações Sociais (TRS), modelo teórico elaborado por Serge Moscovici, cujos fundamentos situam-se na encruzilhada entre a Sociologia e a Psicologia Social. Este trabalho refere-se a uma parte de uma pesquisa maior e a parte aqui tratada toma por base as representações captadas a partir do questionamento sobre o que é uma boa escola. O significado das imagens e denominações atribuídas à escola de qualidade poderá servir de base para analisar o contexto da qualidade e do melhoramento das escolas e para a predição da evolução das interações grupais relacionadas à qualidade. O trabalho está estruturado de forma a apresentar conceitos e abordagens da qualidade na educação, as orientações teóricas e metodológicas da TRS e por fim o conteúdo das representações que os professores têm sobre o que é uma escola de qualidade. VARIAÇÃO NO CONCEITO DE ESCOLA DE QUALIDADE Existem, na literatura especializada, inúmeros conceitos de qualidade e diversas formas de organizar indicadores e esquematizar aspectos referentes a ela. O conceito de qualidade em linguagem comum pode ser definido como: “agregação de um valor superior a um bem, a um serviço, a um sujeito”. Ou ser compreendido como a capacidade de um sujeito de efetivar ou atingir certa finalidade, ou ainda possuir característica particular, distintiva (CURY, 2007). 136


Já Marchesi e Martín (2003) consideram a qualidade como algo dinâmico e em permanente construção. Segundo eles, seria um anseio, a busca da perfeição que nunca se alcança totalmente, mas sempre se busca aproximar. Zabalza (1998) sistematizou a aplicação de proposições de qualidade ao campo da educação em quatro vetores: a função de projeto, que na escola estaria relacionada aos insumos e refere-se, na prática, aos custos envolvidos no desenvolvimento do projeto ou à qualidade dos recursos materiais e profissionais utilizados em sua implementação; A dimensão produto ou resultados que no âmbito da escola, remete à sua finalidade - a aprendizagem; A dimensão processo ou função, por meio da qual se desenvolvem os resultados. Esta dimensão na escola está relacionada à qualidade dos métodos e intervenções para produzir um produto melhor; Por último, a função do próprio desenvolvimento organizacional como processo diferenciado. Incluem-se, nesta dimensão, aspectos como investimentos na formação continuada, aprimoramento das práticas de gestão e melhoria do clima institucional. A variação do conceito de escola de qualidade deve ser vista também na compreensão de que as escolas têm objetivos múltiplos que variam em função do grupo de alunos que atendem. As definições de qualidade também variam em função de quem as elabora. Mesmo dentro de uma escola, independente dos grupos que atendam, podem-se encontrar definições diferentes de qualidade de acordo com a variação das partes interessadas: estudantes, pais, professores, funcionários, mantenedores, autoridades - cada parte com seus interesses e ênfases. Sobre o conceito de qualidade é adequado dizer, portanto, que não existe um conceito universal. A construção do conceito dependerá das experiências vivenciadas pelo grupo e seu conhecimento sobre o objeto. E para a compreensão do que a qualidade significa em cada comunidade é preciso conhecer as circunstâncias em que os usuários utilizam tal conceito. O ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS A vertente moscoviciana do estudo das representações adequa-se a uma forma de conhecimento do mundo contemporâneo marcado pelas mudanças constantes, pela pluralidade de idéias e de doutrinas. A Teoria das Representações Sociais é fundamentada tanto em teorias da sociedade, como em teorias do sujeito. Se por um lado dá ênfase à dimensão simbólica das representações que expressam as visões particulares de um sujeito, identidades e imaginações, por outro, busca apoio na dimensão social reconhecendo o poder da realidade social de enquadrar o pensamento individual. A obra que deu origem a TRS foi “A psicanálise, sua imagem e seu público”, em que Moscovici (1961) estudou como a psicanálise, enquanto teoria científica, sofreu modificações à medida que foi apropriada pelos diferentes grupos sociais, mostrando como o conhecimento científico é transformado em uma dimensão de senso comum. Se normalmente o saber do senso comum é visto como uma distorção ou erro, a TRS procura superar a linha que separa a filosofia do conhecimento e da racionalidade de uma filosofia da experiência e do sentido, buscando resgatar o valor do conhecimento do senso comum e da compreensão que eles expressam. A TRS destaca dois processos envolvidos na construção das Representações Sociais. A ancoragem que compara-se ao processo de 137


recorrer a um estoque prévio de conhecimento, entendida como “ um retorno a uma significação familiar que ajuda o não familiar a tornar-se familiar.” (JOVCHELOVITCH, 2008). E a objetivação que consiste na solidificação de uma realidade de um objeto. Uma forma de expressar a solidez do mundo objetivo. A TRS “oferece um conjunto de conceitos articulados que buscam explicar como os saberes sociais são produzidos e transformados em processos de comunicação e interação social.” (JOVCHELOVITCH, 2008, p. 87). Sendo assim, interessa-se pelos saberes produzidos na, e pela, vida cotidiana, ou seja, em desvendar como as pessoas comuns, comunidades e instituições em seus contextos de vida, produzem saberes sobre si mesmas, sobre os outros e sobre os inúmeros objetos relevantes que os rodeiam. METODOLOGIA Este estudo tem como suporte metodológico o domínio da TRS centrado nos conteúdos. Neste domínio procura-se analisar o sentido dos conteúdos, acerca de um objeto particular, em uma população dada. Para tanto, definiu-se como objeto de representação a escola de qualidade e, como sujeitos, os professores de escolas privadas de Teresina. Escolheram-se professores de quatro escolas representantes de um grupo que apresentou os melhores resultados no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)¹, 2007. A amostra foi composta por quarenta professores, sendo dez de cada escola. Procurou-se, por meio de entrevistas semi-estruturadas, captar nas respostas destes sujeitos, o conjunto de elementos construído pelo grupo acerca do objeto, evidenciando o sentido dos conteúdos detectados. Optou-se por uma abordagem qualitativa interpretativa, recorrendose à perspectiva da análise de conteúdo, visto que se pretendia explorar as articulações entre o pensamento do professor enquanto indivíduo, a identidade do grupo e o pensamento social. Assim, a análise dos dados não se restringiu à localização de idéias e categorias, mas procurou captar e ressaltar a lógica de organização dos elementos representativos. Na organização dos dados coletados procedeu-se a transcrição das falas dos sujeitos captadas nas entrevistas gravadas em áudio, seguidas pela realização de leitura flutuante do material, intercalando a escuta do material gravado com a leitura do material escrito, de modo a localizar os temas emergentes. O resultado desta fase foi a obtenção da freqüência dos itens de cada categoria. Esta organização tornou-se a base para a identificação dos princípios organizadores dos julgamentos, noções e opiniões que expressam as RS dos sujeitos sobre o que é uma escola de qualidade e a reflexão sobre seu conteúdo. A BOA ESCOLA PARA OS PROFESSORES DE ESCOLAS PRIVADAS DE TERESINA Para captar as RS acerca da escola de qualidade partilhadas pelos entrevistados, foram formuladas cinco (05) questões no roteiro de entrevista, neste artigo, porém, tomou-se para análise somente a questão que indaga sobre o que tem em uma boa escola. As respostas à esta questão estão apresentadas na tabela 1, abaixo, destacando-se as categorias e os seus respectivos percentuais de resposta, 138

¹O Exame Nacional de Ensino Médio faz parte do Sistema de Avaliação do Ensino Básico, realizado anualmente pelo Ministério da Educação e tem por objetivo.


relacionadas em ordem decrescente, da mais recorrente para a menos recorrente. Após a descrição dos achados, procurou-se estabelecer paralelos com os resultados de outros estudos na linha da pesquisa que investiga as “Escolas Eficazes”, bem como de pesquisas que também utilizaram a TRS como referencial teórico para estudar a qualidade das escolas.

Fonte: Pesquisa Direta O teor das RS dos sujeitos investigados sobre o que deve ter em uma boa escola revelou em primeiro lugar, informada por 72,5% dos professores, a presença de bons professores como a característica mais importante. A segunda categoria mais referida, indicada por 57% dos sujeitos, é a existência de bom espaço físico. Na sequência, apareceu em terceiro lugar duas categorias, indicadas por 32,5% dos sujeitos: ter boa disciplina e professores valorizados. A quarta, referida por 30% dos respondentes, foi a existência de recursos didáticos. Em quinto lugar, indicados por 25% dos respondentes, apareceram os recursos tecnológicos modernos, uma boa estrutura organizacional e a existência de uma boa proposta pedagógica. Na sequência, na sétima posição, com 17,5% das respostas, aparecem os elementos boa gestão, integração com a família e boa equipe de apoio pedagógico. As demais categorias obtiveram percentual de 15% e 12,5%: bons alunos (15%); boa formação moral e intelectual (12,5%) e existência de biblioteca (12,5%). Estes resultados acima foram organizados em uma lógica que os divide segundo a qualidade relacionada às características da escola, às características do professor e às características do aluno. A qualidade relacionada às características da escola Consideraram-se pertencentes à unidade de análise, “escola” as condições materiais e organizacionais que a escola oferece aos professores e alunos. As características relativas ao ambiente são: bom espaço físico, recursos didáticos; recursos tecnológicos modernos e biblioteca; e as relativas ao desenvolvimento dos processos educativos e administrativos são: valorização do professor, estrutura organizacional, boa proposta pedagógica, boa gestão, integração com a família, boa equipe de apoio pedagógico e boa 139


formação. Os resultados permitem perceber que os professores atribuem maior crédito às instalações físicas que a estrutura funcional e organizacional da escola. No que concerne às instalações físicas, as condições do espaço físico (57%) foram consideradas mais importantes que os materiais didáticos (30%) para conferir qualidade à escola. Em relação a este resultado, é relevante observar que os sujeitos estão mergulhados em um contexto social em que, frequentemente, bons resultados acadêmicos ocorrem em meios escolares que oferecem boas condições de espaço físico. Sendo assim, infere-se que aqui está expressa a influência da associação feita entre bom desempenho acadêmico, status social e boas condições do ambiente físico da escola, como um paradigma preestabelecido. A valorização das condições físicas das escolas como elemento constituinte da qualidade, também foi evidenciada por alunos e pais de alunos nos estudos de Sales (2000) e de Oliveira (2006). Em resultados de pesquisas na linha da “escola eficaz”, Sammons (2008) afirma que, embora a maioria das pesquisas em eficácia não tenha considerado os recursos como um fator-chave, isto não quer dizer que eles não sejam importantes. Gray (1990), citado pela mesma autora (2008, p. 382), confirma que “níveis adequados de recursos parecem ser necessários, mas não uma condição suficiente para uma escola ser eficaz”. 25% dos sujeitos indicam a presença de recursos tecnológicos modernos na escola como fator de qualidade na escola. Considerou-se, em face deste resultado que o processo de mudanças rápidas que a sociedade contemporânea experimenta, materializado pelos avanços das tecnologias da informação e da comunicação, pode estar afetando a apreensão da realidade sobre a qualidade da escola por parte dos professores. É admissível que os professores tenham sido influenciados pela mídia e pela percepção das mudanças que envolvem o uso destas tecnologias nas rotinas das pessoas, para construírem seu entendimento da urgência e importância de sua escola possuir este aparato como símbolo de qualidade e inserção nos novos tempos. É o que ilustra bem a fala de um dos sujeitos : “ [...] possuir uma estrutura com recursos áudio visuais de última geração, que possam ser utilizados e mostrado para o alunado, é [...] o perfil da nova educação”. (15SMG)². No aspecto relacionado aos recursos humanos e à forma de se organizar da escola, identificou-se que a característica mais importante para a construção da boa escola, presentes nas RS investigadas, é a valorização dos professores, compreendida como oferecimento de bons salários e de formação inicial e continuada (32,5%). A integração da escola com a família e existência de boa equipe de apoio pedagógico e a boa gestão aparecem com o percentual de 17,5%. A baixa indicação destes aspectos referentes à atuação de outros atores sociais da escola, confirma o peso das representações de escola de qualidade recaindo sobre a figura do professor. Qualidade relacionada às características do professor Os dados obtidos revelam que o fator-chave de uma boa escola, é a presença de bons professores. 70% dos entrevistados afirmam que possuir bons professores agrega qualidade à escola. Percebe-se, pela forma como os sujeitos responderam que inserem o bom professor ou professor competente na categoria de insumo. Nos estudos de Zabalza (1998) os insumos são 140

²Este código refere-se à numeração e sigla utilizada para identificar o sujeito e a escola a que pertence.


chamados de qualidade do projeto, no sentido de que se o que se pretende é construir algo de qualidade, então os elementos constituintes do projeto têm que ser de qualidade. No estudo de Oliveira (2006), citado anteriormente, a categoria bons professores também apareceu como a mais recorrente tanto para alunos da escola particular, quanto para os da escola pública. Outros sujeitos, atores do mesmo contexto social - alunos e pais – com graus diferentes de experiência e contato com o cotidiano escolar o vêem também como elemento mais importante para a construção da qualidade. Na presente pesquisa, justifica ainda mais a prevalência do bom professor nas RS, o fato de o sujeito respondente ser um professor e ter bem presente em sua visão da escola as influências de uma posição privilegiada no universo escolar por sua ação e participação nos processos educativos e no produto da escola. Sobre isto Jovchelovitch (2008, p. 175) salienta que “não há processo de conhecimento que não projete a identidade e os projetos do sujeito do saber”. Madaus, Araisian e Kellaghan (2008), analisando a categoria professor na pesquisas sobre eficácia escolar, concluem que não se provou que variáveis pertencentes a esta categoria contribuam de forma significativa para o desempenho, mas informa que elas aparecem consistentemente em tal tipo de estudos. Para esta categoria, na maioria das respostas foi utilizada a expressão “corpo docente de qualidade” e “boa equipe de professores”, indicando um status global do professor. No entanto, algumas respostas são mais específicas e relacionadas às características pessoais e cognitivas dos professores. Às características cognitivas estão associadas a respostas como: “professores competentes” (18SMG), “professores com domínio de conteúdo” (27DC). Às características pessoais estão associadas a respostas do tipo: “professores comprometidos” (21DC), “que acreditam na proposta da escola” (29 DC). Assim, ficam evidentes nas RS dos pesquisados referências às atividades ligadas à gestão de classe e à gestão de ensino e aprendizagem da matéria, relacionadas às atividades docentes abordadas por Tardif e Lessard (2005). Qualidade relacionada às características do aluno Classificou-se como pertencentes ao eixo aluno a categoria boa disciplina (32,5%) e bons alunos (15%) como características inerentes a uma boa escola. O termo disciplina aparece na fala da maioria dos sujeitos sem complementos ou qualificação. Disseram, simplesmente, disciplina ou quando quiseram se estender mais disseram: “Eu acho que tem que ter disciplina” (19SMG). Apenas na fala de um sujeito, é que se pode inferir que se trata do controle da disciplina do aluno e não do ambiente escolar como um todo: “A disciplina também é uma coisa importante que você não pode deixar é... [o aluno] solto, né?” (37LR). A qualidade atribuída ao aluno, foi expressa por falas representadas pelas que se seguem: alunos motivados (1DB); Bons alunos que queiram estudar (8 DB); [...] aos alunos também que tenham interesse de estudar; (36 LR) alunos bem educados pelos pais. (28DC). Tardif e Lessard (2005) falando sobre a participação do aluno na ação pedagógica afirmam que ela exige para seu sucesso a participação e o 'consentimento' [grifo do autor] do aluno e que o professor precisa contar com 141


seu 'objeto' o aluno, que muitas vezes é fonte de resistência, para atingir seus objetivos. Para estes autores (2005, p. 104), “para ser eficaz e atingir seus fins, é preciso que a escola desenvolva mecanismos de 'controle' das capacidades de iniciativa dos alunos, a fim de garantir que eles não atuem no sentido de neutralizar e tornar ineficaz o funcionamento e os projetos da organização”. Se os professores investigados entendem que a indisciplina do aluno inviabiliza o trabalho docente, pode advir daí o reconhecimento deste elemento como de valor para a boa escola, colocando-se esta característica em terceira posição nas RS identificadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS As RS dos professores de escolas de elite de Teresina sobre o que é uma boa escola revelam um conteúdo que privilegia os elementos: bons professores, bom espaço físico e boa disciplina. A categoria bons professores, em termos de percentual de resposta é a mais significativa. No entanto, a maior quantidade de características apontadas são relativas à unidade de análise escola, em detrimento das unidades professor e aluno. Ficou constatado, na relação estabelecida com os resultados de outros estudos científicos, principalmente na linha da escola eficaz, que os pontos que mais se aproximam referem-se ao papel do professor e sua formação e a organização do trabalho da escola. Mas, ao contrário do que apresenta, a maioria das pesquisas acessadas, os professores pesquisados não valorizam tanto assim, elementos como a gestão e o currículo. Por outro lado, os sujeitos desta pesquisa valorizam muito as condições físicas da escola, aspecto este que, em pesquisas na linha da escola eficaz, não é considerado como tão relevante. Embora os campos representacionais possuam redes semânticas próprias, produzindo, então, certa constância nas características, percebeu-se no trabalho representacional dos professores o reforço positivo de seu papel e de sua identidade, revelando, ao mesmo tempo, dois aspectos da construção de uma RS: a proposição de uma identidade e uma interpretação da realidade.

REFERÊNCIAS

MARCHESI, Álvaro; MARTÍN, Elena.Qualidade de

CURY, Carlos Jamil; CAMPOS, Maria Malta. Qualidade da Educação: Conceito e Representações. In: CICLO de debates a qualidade da educação básica. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. 26 abr. 2007. V í d e o .

D i s p o n í v e l

e m :

http://www.iea.usp.br/iea/online/midiateca/educacao/v 070426a_700/Web/Script/index_IE.htm. Acesso em: 18 set. 2008. JOVCHELOVITCH, Sandra. Os contextos do saber: representações, comunidade e cultura. Petrópolis: Vozes, 2008.

142

ensino em tempos de mudança. Tradução: Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2003. MOSCOVICI, Sérge. A representação social da psicanálise. Tradução: Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. OLIVEIRA Luiz Carlos. As representações sociais da qualidade na educação para alunos do 1° ano do ensino médio. 2006. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Piauí - UFPI, 2006. SALES, Luís Carlos. O valor simbólico do prédio


escolar. Teresina: EDUFPI, 2000. SAMMONS, Pam. As características-chave das escolas eficazes. In: BROOKE, Nigel; SOARES, José Francisco (Org.). Pesquisa em eficácia escolar: origem e trajetórias. Belo Horizonte: UFMG, 2008, p. 351. TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. 2. ed. Tradução: João Batista Kreuch. Petrópolis: Vozes, 2005. ZABALZA, Miguel A. Qualidade em educação infantil. Tradução: Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: Artmed,1998.

143


144


Artigo R E P R E S E N TA Ç Õ E S S O C I A I S D E PROFESSORES DE MATEMÁTICA DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE TERESINA ACERCA DA SUPERVISÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA¹ Kleber Montezuma Fagundes dos Santos²

RESUMO Este artigo centra-se na identificação de Representações Sociais (RS) de professores de matemática do Ensino Fundamental da Rede Pública Municipal de Teresina (RPMT) acerca da Supervisão Pedagógica na escola. O estudo é importante pela possibilidade de professor e supervisor escolar partilharem a construção do ensino de qualidade. Para a realização da pesquisa utilizou-se o método qualitativo. A coleta de dados se deu a partir de entrevistas semi-estruturadas. A amostra da pesquisa foi composta por sujeitos selecionados em escolas da RPMT. A consolidação dos conteúdos das RS compartilhadas pela maioria dos sujeitos investigados permite afirmar que, em essência, o papel da supervisão pedagógica na escola é ajudar ao professor a melhorar seu desempenho docente. Os resultados revelam também o desejo que o supervisor pedagógico seja formado em matemática para efetivamente poder ajudá-los na sua prática docente. Tardif (2006), Ferreira (2007) e Jodelet (2004) compõem a base teórica da investigação. Palavras-chave: Representações sociais. Supervisão escolar. Ensino de matemática.

¹Este artigo é parte do Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia apresentado à banca examinadora da Faculdade Santo Agostinho em junho de 2010, como requisito parcial para a obtenção do grau de Graduando em Pedagogia. O autor que agradecer as colegas de curso Ana Virgínia Menezes de Macêdo Moura e Flábia Thalita da Silva Oliveira Duarte que participaram ativamente da elaboração da Monografia, bem como aos professores Geraldo de Castro Gomes e Jovina da Silva, membros da banca examinadora pelas críticas e sugestões apresentadas. A responsabilidade, no entanto, pelo presente artigo é apenas do autor. ²Graduado em Ciências Econômicas e em Pedagogia. Especialista em Docência do Ensino Superior e em Gestão de Cidades. Mestre em Educação. Docente da Universidade Estadual do Piauí - UESPI e da Faculdade de Ciências e Tecnologia do maranhão - FACEMA.

145


INTRODUÇÃO Na década de 1990 do século passado o governo Fernando Henrique Cardoso fez importantes reformas no Estado brasileiro. Na área educação ganhou importância e visibilidade temas relativos à gestão escolar e à gestão pedagógica no mundo dos sistemas de Ensino Básico (EB) por todo o país. O Ministério da Educação (MEC) desde 1998, através do Fundo de Fortalecimento da Escola (Fundescola)³ estabeleceu e disponibilizou um conjunto de ações para o Ensino Público Fundamental regular de modo a atingir objetivos relacionados à gestão de sistemas de ensino – projetos de Planejamento Estratégicos (PES) – e a gestão da escola – Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE)4. O PDE era entendido como o “carrochefe” do Fundescola, uma vez que assinalava uma ênfase na “escola com foco no aluno”. Nesse processo, a escola era tida como responsável pela melhoria da qualidade de ensino e o projeto visava modernizar a gestão e fortalecer a autonomia da escola. Além desses programas e projetos, outros foram também disponibilizados direcionados à formação continuada de professores e à adequação de espaços escolares. Dentro das políticas educacionais propostas à época destacam-se a organização de um sistema nacional de avaliação de aprendizagem do ensino básico que gerou importante indicador educacional denominado de Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)5 que é calculado a partir de dados da aprovação escolar e das médias de desempenho dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática, em avaliações nacionais através da Prova Brasil. Esse conjunto de políticas educacionais desencadeou incompreensões, resistências, mas também proporcionaram oportunidades para gestores, educadores e estudiosos repensarem a escola, seu papel, sua função social, seus limites e potencialidades. Hoje, parece consensual a idéia de que a gestão de sistema de educação tem como objetivo principal melhorar a qualidade do ensino de modo a favorecer a elevação da aprendizagem do alunado. No campo da gestão escolar, entre as alternativas apontadas destacouse a proposta de implantação de uma gestão pedagógica orientada pelos resultados dos alunos a partir da aprendizagem e do seu desenvolvimento humano e social. Neste sentido, ganhou centralidade o trabalho docente e sua interface com o trabalho do supervisor pedagógico. O objetivo deste artigo volta-se para a temática da supervisão pedagógica na escola procurando identificar possível interface entre o trabalho 146

³Fundo de Fortalecimento da Escola (Fundescola) programa resultante de um acordo de financiamento entre o Banco M u n d i a l ( B M ) e o M E C, desenvolvido em parceria com as secretarias estaduais e municipais de educação. A missão do programa era promover um conjunto de ações para a melhoraria da qualidade das escolas do ensino fundamental, ampliando a permanência das crianças nas escolas públicas, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. 4 Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) foi o principal produto do Fundescola. Ele buscava o aperfeiçoamento da gestão da escola pública e melhoria da qualidade de ensino, mediante a elaboração do Plano. Ao preparálo, a escola apontava seus objetivos, estratégias, metas e planos de ação a serem alcançados. Com o PDE, a escola fazia um diagnóstico de sua situação, definia seus valores e sua missão. 5Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) criado em 2007, o indicador mede a qualidade da educação e foi pensado para facilitar o entendimento de todos e estabelecido numa escala que vai de zero a dez. A partir deste instrumento, o Ministério da Educação traçou metas de desempenho bianuais para cada escola e cada rede até 2022.


docente do professor e do supervisor pedagógico escolar. Para entender a materialidade desta possível interface recorreu-se à Teoria das Representações Sociais (TRS), considerando-se a supervisão pedagógica como objeto de investigação e os professores de matemática como sujeitos construtores de Representações Sociais (RS). Neste sentido, a investigação teve como objetivo central identificar as RS de professores de matemática do Ensino Fundamental (EF) da Rede Pública Municipal de Teresina (RPMT) acerca da ação supervisora nas escolas municipais. A investigação se justificou pelo reconhecimento da importância estratégica da atuação de professores de matemática e do supervisor escolar para a construção do ensino de qualidade. No intuito de promover a investigação proposta, valeu-se da seguinte questão-problema: Como os professores de matemática da Rede Pública Municipal da zona sul de Teresina percebem o trabalho do supervisor pedagógico na escola? Para a realização da pesquisa utilizou-se o método qualitativo. A amostra da pesquisa foi composta de professores selecionados em escolas da RPMT. A coleta de dados se deu a partir de entrevistas semi-estruturadas. A análise do objeto supervisão pedagógica, no contexto social da escola, em geral contempla características propostas por Moscovici (2003) e Jodelet (2005) que definem a teoria das RS como abordagem socialmente criada e operante que se relaciona com a construção da realidade cotidiana, com as condutas e comunicações que ali se desenvolvem, e também com a vida e a expressão dos grupos no seio dos quais são elaboradas (RODRIGUES, 2010). Este artigo está estruturado de modo a, primeiro, refletir sobre conceitos e abordagens a respeito da supervisão pedagógica; depois, discutir orientações teóricas e metodológicas da TRS; em seguida, trata da metodologia de pesquisa que foi utilizada neste estudo, a análise e interpretação dos resultados sobre o conteúdo atribuído ao objeto de representações. Nas considerações finais, procurou-se reunir elementos para esclarecer os temas, ideias e as significações contidas nos conteúdos das RS investigadas. Escola e a função docente A escola é uma construção histórica e social. Neste sentido, enquanto organização social a escola é dotada de importante função social onde, de acordo com Sacristán (1999, p. 67), o trabalho do professor se “define pelas 147


necessidades sociais a que o sistema educacional deve dar resposta, as quais se encontram justificadas e mediatizadas pela formação técnica pedagógica” obtida quando de sua formação nas Instituições de Ensino Superior (IES). Nessa perspectiva, a escola toma para si a função de instrumentalizar o saber fazendo coincidir uma série de conceitos para que se formem eixos com a preocupação de dispor em ordem, o que possível for, dos conhecimentos mais recentes. Tardif (2006) estudando a formação profissional dos professores afirma que o saber desses sujeitos é social porque é partilhado por todo um grupo de agentes que trabalham numa mesma organização. Para este autor, os próprios objetos desse saber são sociais, isto é, são práticas sociais, que se manifestam através de relações complexas entre o professor e seus alunos. Desse modo, o que esse profissional deve saber ensinar não se limita à questão cognitiva ou epistemológica, mas envolve também toda uma questão social. No Brasil, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, lei nº 9.394/96) define os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1996) e por estes procura-se formatar tanto o currículo de formação dos profissionais que atuam na educação como os currículos que circulam nas escolas de Ensino Básico (EB). A formação preconizada pelos PCNs na área de matemática, por exemplo, traz novas dimensões para o trabalho docente como as de facilitador, mediador e organizador da aprendizagem entre outras. Além dessas, segundo Curi (2010), o professor de matemática tem também a função de avaliador do processo, quando se observa o desenvolvimento das capacidades que se esperava desenvolver e decide se é necessário reorganizar a atividade pedagógica. Por isso, Nóvoa (1999) sugere que a formação do professor precisa ser repensada e reestruturada como um todo, de moda a abranger as dimensões da formação inicial, da indução e da formação continuada. Tratando do mesmo tema, Esteve (1999) lembra que apesar de se exigir dos professores que cumpram todas essas novas tarefas, a formação destes frente às mudanças sociais continua praticamente inerte. Supervisão pedagógica: um breve histórico A ideia de supervisão para Saviani (2006), surge depois de todo um processo de mudanças históricas e econômicas compreendendo desde o período feudal em que a sociedade produzia para consumo próprio, em uma economia de subsistência voltada para a troca, passando pelo surgimento do 148


capitalismo com a burguesia até a época Moderna, quando o campo e a agricultura passam a subordinar-se à cidade e à indústria. No Brasil colônia, a chegada dos jesuítas, em 1549, trouxe consigo uma proposta educacional inscrita no Ratio Studiorum, que consistia no conjunto de regras das atividades dos agentes ligados ao ensino, para o auxílio de como realizar e como agir, a idéia de supervisão firmou-se como função supervisora quando foi destacada das demais funções educativas e concentrou-se na figura do prefeito dos estudos. Em 1749, quando das chamadas reformas pombalinas, ocorreu a expulsão dos Jesuítas do Brasil, a suposta extinção de seu sistema de ensino e consequente o enfraquecimento da função supervisora centrada na figura do prefeito dos estudos. O modelo pombalino trouxe consigo a criação das aulas régias. Nesse sistema, a supervisão era centrada na figura do diretor-geral que designava comissários para fazer um apanhado geral do estado das escolas, e englobava os aspectos político-administrativos (inspeção e direção). Os debates travados no final do período monárquico convergiram todos para um ponto comum: a estruturação e implantação dos sistemas nacionais de ensino que passam a dar maior ênfase à idéia de supervisão. Em 1827, o Brasil independente inaugura a questão da organização autônoma da instrução pública, daí até 1897 a função supervisora passa por várias transformações. Já no século XX, durante a década de 1920, surgem os profissionais da educação – técnicos em escolarização e a separação dos setores técnicopedagógicos daqueles especificamente administrativos. Ao final daquele século, entre as décadas de 1970 e de 1980, sob o Regime Militar, o supervisor e a supervisão escolar eram vistos como parte de um projeto invasivo e autoritário que visava controlar a atuação dos professores e reproduzir a ideologia e conceitos alinhados com os objetivos tecnocratas impostos pelo regime político dominante que ocorreu no país de 1964 a 1985. A Lei 5.692 de 1971 que fixou as Diretrizes e Bases para o ensino de 1º. e 2º. Graus, hoje Ensino Médio, trouxe em seu bojo a necessidade de uma supervisão educacional efetiva para a implantação dos princípios ali propostos. À época, a supervisão educacional era vista com uma função de controle das políticas educacionais desenhadas no Ministério da Educação que desciam verticalmente até as escolas sem qualquer possibilidade de questionamento. Com o fim do regime militar (1985) e a redemocratização do país a supervisão educacional começa a ser vista nos meios acadêmicos, bem como nos sistemas nacional e subnacionais de educação como elemento de mediação entre as políticas educacionais e a formação e atuação de 149


professores. Hoje, segundo Ferreira (2007, p. 112), a supervisão já é considerada como importante elemento integrante da gestão da educação que é responsável pela garantia de qualidade do processo educacional que ocorre na escola e no sistema. Supervisão Pedagógica como prática educacional A supervisão requerida no bojo da LDBEN, lei nº 9.394/96, implica em orientar, acompanhar e avaliar o trabalho escolar de modo que os objetivos estabelecidos pelo sistema de ensino sejam de fato atingidos. Segundo Alarcão (2008), uma das funções do supervisor consiste em apoiar pessoas no processo de aprendizagem (no seu próprio ou de outros). A fim de melhor desempenhar esta função, a autora sugere que esse profissional desenvolva a capacidade de observação antecipada para detectar desafios emergentes, ou seja, busque ampliar a capacidade de realizar leitura de situações. Adverte ainda, que o mesmo deve ser capaz também de realizar estratégias de intervenção, de comunicação interpessoal e de persistência, e de avaliação monitorizadora de processos e resultados. Neste sentido, para Rangel (2008), o supervisor escolar é parte integrante do corpo docente e exerce dentro do estabelecimento de ensino, um papel de liderança com vistas a oferecer meios e procedimentos para a realização dos objetivos da instituição que se baseiam no sucesso acadêmico dos alunos. Entende-se, assim, que a atuação do pedagogo escolar é imprescindível na ajuda aos professores no aprimoramento do seu desempenho de suas práticas pedagógicas, na análise e compreensão das situações de ensino, em fim, na vinculação entre as áreas do conhecimento pedagógico e seu trabalho em sala de aula. Assim, para melhor entender as relações de trabalho que se estabelecem entre professores e supervisão pedagógica na escola é que se recorre à Teoria das Representações Sociais. Concepções de Representação Social (RS) Pesquisas no campo da Teoria das Representações Sociais (TRS) permitem diferentes abordagens voltadas para a investigação de conteúdos, das estruturas, dos processos cognitivos, das relações entre representações sociais e práticas e da gênese das RS (RODRIGUES, 2010). As bases da RS enquanto teoria nascem em Moscovici (2003), ao publicar em 1961 trabalho de 150


pesquisa com o título “Psichanalyse , Son Image et son Publique”, delimitando, uma nova forma de estudo da psicologia social sobre as RS. Neste estudo, Moscovici define RS como: “conjunto de estímulos feitos pelos indivíduos que são gerados e reelaborados na coletividade como um produto da interação e comunicação entre o individual e o social”. O autor ressalta ainda a importância da coletividade como geradora de qualquer ideia que se tenha do objeto em questão, utilizando do principal elemento para que essa coletividade ocorra, a comunicação. Moscovici (2003) passa a considerar o sujeito participativo da sociedade, não só um produto, mas um produtor ao expor as ideias e desejos a serem modificados para a melhoria das relações dentro do grupo ou objeto que necessita de mudança. Ele relaciona conceitos da Psicologia com a Sociologia para explicar como isso ocorre. Denise Jodelet, apud Sá (2004 p. 32), definiu RS como “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Ou seja, para a autora representação social é uma forma de saber prático, adquirido no envolvimento com um grupo social que tem objetivos comuns, a fim de que a realidade possa ser construída e melhorada. Corroborando com Jodelet, Sá (1994, p. 42) afirma que só há RS quando “o objeto se encontra implicado, consistente em alguma prática do grupo aí incluída e da conversação aos meios de comunicação de massa”. Ou seja, ter uma RS de um determinado objeto só é possível através da prática de ações do grupo ou funcionamento do mesmo utilizando da conversação, um dos maiores veículos dessa exposição de idéias ou pensamento sobre o outro podendo ser exposto até mesmo nos meios de comunicação de massa. Dessa forma, percebe-se que as RS são elementos simbólicos que as pessoas expressam mediante o uso das palavras, silêncios e gestos. Nesse caso, o uso da palavra serve para explicitar o que se pensa; como se observam as situações em relação a um determinado objeto ou fato; o silêncio também é uma forma demonstrar a ideia que se tem, pois possibilita que o outro interprete um posicionamento diante de determinada circunstância. Como se formam as Representações Sociais (RS) A formação das RS, de acordo com Moscovici (2003) se da a partir de dois importantes elementos quais sejam: a objetivação e a ancoragem. A objetivação, no contexto das RS, significa a forma como se ordenar os elementos que compõem a representação e é composta de três etapas: Na 151


primeira são selecionadas as informações e crenças sobre o objeto e só se utiliza a informação principal para o estudo de um determinado objeto ou grupo; a segunda diz respeito à organização dos elementos, estabelecendo um padrão que só é pertinente aos indivíduos que compõem esse meio social, pois possui características e formas de atuação; a última etapa do processo é a naturalização, o que era figurativo passa a ser natural, real, ou seja, os conceitos passam do abstrato para o concreto. Portanto, as idéias são categorizadas e avaliadas se adequando à situação necessária e postas em prática. A Ancoragem, outro processo apresentado por Moscovici (1993, p.363), intercala-se com a objetivação na parte da categorização, mas também precede a primeira levando a produzir as transformações. A partir da exposição das representações já concluídas, isto é, “o processo de ancoragem é, há um tempo, um processo de redução do novo ao velho e a reelaboração do velho tornando-o novo”. A objetivação e a ancoragem, desse modo, servem para familiarizar o 'novo', primeiro inserindo-o ao quadro de referencia, em que pode ser comparado e interpretado e depois reproduzi-la e colocá-la sobre controle (MOSCOVICÍ, 1981 p. 192). De posse de conhecimentos sobre escola, formação docente e supervisão e ainda sobre RS, apresenta-se a seguir os resultados da pesquisa. Onde são feitas constatações parciais com relação à postura dos investigados diante das ações de outro que partilha com eles o mesmo ambiente de trabalho: o supervisor pedagógico. RS de Professores de matemática acerca da supervisão pedagógica Sem desconhecer outras possibilidades, o presente estudo teve como objetivo geral identificar RS de professores de matemática acerca da supervisão pedagógica na escola. Para tanto, definiu-se a supervisão pedagógica na escola como objeto de representação e os professores de matemática com o sujeito. O presente estudo pretendeu analisar o sentido dos conteúdos das RS acerca de um objeto particular, em uma população dada. Desse modo, nos limites do presente estudo optou-se pela a abordagem focada na análise de conteúdos. Assim, foi-se a campo para conversar com professores de matemática a fim de ouvi-los e, posteriormente, extrair suas RS a respeito da supervisão pedagógica na escola onde atuam.

152


A metodologia da pesquisa Para responder ao problema proposto, a amostra foi composta de onze professores de matemática lotados em onze diferentes escolas. Todas as escolas selecionadas tinham como característica comum oferecerem o nível de EF completo, estarem localizadas na zona sul de Teresina e pertencerem à rede pública municipal de ensino 6. A investigação utilizou o método qualitativo de pesquisa. A coleta de dados ocorreu entre os meses de março e maio de 2010. Cada professor foi previamente contactado a respeito da pesquisa. A entrevista ocorreu na escola onde ele atua. Os professores selecionados foram receptivos o que facilitou o desenvolvimento da pesquisa empírica, tanto por parte dos pesquisados como dos pesquisadores. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas a partir de um roteiro de entrevistas com as seguintes perguntas: 1) Você poderia falar um pouco sobre supervisão escolar, 2) Em sua opinião, de que modo a supervisão pedagógica de uma escola deve atuar, 3) De que modo a supervisão pedagógica pode contribuir com a disciplina de matemática e, por fim, 4) você pode falar um pouco da supervisão pedagógica em sua escola? As entrevistas foram gravadas em fita cassete. No início da entrevista levantaram-se informações demográficas a respeito dos informantes. Após sua realização, as mesmas foram transcritas e organizadas de modo que permitisse sua leitura, categorização e posterior análise dos dados gerando, por meio de tabelas, a identificação, listagem e descrição das representações sociais dos professores investigados. Na análise dos dados utilizou-se o método de análise de conteúdo preconizado por Bardin (2004) para codificar e categorizar as representações que emergiam do discurso dos professores respondentes. Dados demográficos da amostra pesquisada

6

As escolas selecionadas foram as seguintes: Nossa Senhora da Paz, Antilhon Ribeiro Soares, Cristina Evangelista, Simões Filho, Parque Piauí, Zoraide Almeida, Santa Fé, Areias, Lysandro Tito de Oliveira, Mascarenhas de Morais e Mateus Rufino.

A pesquisa revelou que entre os professores de matemática investigados predomina os do sexo masculino, 90,9%; contra apenas 9,1% do sexo feminino. Com relação à formação, 100% dos entrevistados têm licenciatura plena em matemática, sendo que 45% deles têm curso de pósgraduação. A pesquisa revelou também que 72% dos professores estão com idade maior que 36 anos e destes 54% estão com idade acima dos 50 anos. A pesquisa mostrou ainda que 90% dos respondentes têm mais de 15 anos no 153


exercício da docência e que apenas 10% têm cinco ou menos anos de experiência docente. A seguir apresentam-se os dados coletados já organizados por categorias oriundas das falas dos próprios respondentes. Primeiro apresentamse os dados de modo a revelar a freqüência das respostas consideradas mais relevantes, seguindo o método preconizado por Bardin (2004). Em seguida examinam-se, à luz dos teóricos escolhidos para contribuir na compreensão do sentido e categorização das falas dos respondentes, a construção de suas representações sociais e, por fim, tenta-se extrair essas RS identificando-as, organizando-as e revelando-as. Os professores pesquisados serão discriminados ao longo do texto em curso pelo nome fictício de “sujeito” sendo este numerado de acordo com a ordem dada à escola onde atua de modo a não identificá-los e, assim, preservar sua identidade. As RS dos professores acerca da supervisão pedagógica na escola onde atua A pergunta chave feita aos professores de matemática selecionados para este estudo queria saber sobre sua opinião acerca da atuação da supervisão pedagógica na escola onde ele trabalha. (ver tabela 1, a seguir) Tabela I: Atuação da supervisão pedagógica na escola.

Fonte: Pesquisa direta. As informações contidas na tabela I evidenciam que, 38% dos professores de matemática informaram que a supervisão pedagógica da escola trabalha ajudando ao professor enquanto que 35% apontaram que a supervisão pedagógica da escola atua de acordo com a agenda de trabalho da SEMEC; Contudo, 27% dos entrevistados afirmam não ver a atuação da supervisão pedagogia na escola onde trabalham. Desse modo, a ser perguntado sobre a atuação da supervisão pedagogia na escola onde atua verificou-se, no bojo dos 38% de falas que sugeriram que a supervisão pedagógica da escola onde ministram aulas atua junto aos professores, que esse “trabalha junto” trás consigo afirmações como: 154


[...] ela colabora com a gente quando a gente precisa, ou seja, em termos de arranjar material, né? Fazer uma cópia, uma coisa, uma xerox, aqui tem um Xerox [se refere a uma máquina fotocopiadora que a escola possui]” elas estão sempre dispostas a ajudar a gente, quando a gente precisa, né? ( SUJEITO 03).

A coordenadora se reúne e discute alguns assuntos que muita das vezes a gente não tem conhecimento [...] ela passa algumas sugestões de como melhorar o trabalho, de como desenvolver determinado conteúdo (SUJEITO 01). Ela atua exatamente na questão do acompanhamento do professor, professor/aluno e atualizando os resultados, o rendimento do aluno, na parte disciplinar [...] e também de pegar informações, de coletar informações que vem da secretaria para que a gente 'teja' atualizada 'pra' aplicar isso em sala, certo? [...] fazendo acompanhamento necessário que a gente precisa, trazendo o material que é necessário. A supervisão é muito importante. (SUJEITO 09).

Os dados apresentados na tabela 1 mostram também que 35% das falas dos professores entrevistados revelam que a supervisão da escola trabalha de acordo com a realidade da SEMEC, ou seja, seguindo a agenda que sai do sistema central da educação municipal: [...] a SEMEC programa muita reunião da SEMEC 'pra' ela. Ela vive mais nas reuniões da SEMEC. O tempo da escola é restrito. (SUJEITO 05). A nossa [pedagoga] aqui trabalha de acordo com a realidade de que a SEMEC impõe, né? Se a SEMEC quer que seja cumprida um determinado planejamento que manda de lá, então ela tem cobrado de acordo com a SEMEC. [...] não se pode mudar coisa alguma, e se mudar até alguma coisa é chamado a atenção. (SUJEITO 06).

Esta categoria parece encerrar em si certa crítica dos docentes quanto à 155


ausência de autonomia da escola, da falta de atitude da escola e mesmo de vontade de ação endógena à comunidade escolar quanto à questão da supervisão pedagógica escolar e ao que ela poderia significar em termos de gestão pedagógica. Por outro lado, ainda nesta questão, quando se examina a categoria que obteve a terceira maior freqüência na fala dos investigados vê-se que parcela significativa destas (27%) sugere que o professor não vê a atuação da supervisão na escola onde atuam: A supervisora está um pouco limitada [...] e digo em função da falta de conhecimento mesmo que tem em cima da disciplina. [...] o pedagogo é desprovido de informação [...] isso faz com que deixe muito a desejar. (SUJEITO 07). Eu acho que o papel da supervisão é orientar desse modo e a nossa faz na medida do possível... é... digamos que não é 100%, mas acontece. (SUJEITO 09). Quando se examina a categoria não vejo atuação da supervisão na escola, não em oposição à primeira trabalha junto aos professores parece existir uma tensão em torno da responsabilidade profissional entre professores e supervisores. Essa tensão por certo pode dificultar a articulação da complementaridade de atividades que deve existir no trabalho desses dois profissionais dentro da escola. Pantoja e Sá (2010) estudando a visão que o professor de matemática tem do pedagogo escolar sugerem que a realidade escolar por eles observada demonstrou que nem sempre as relações entre aqueles e estes vem se dando de forma amistosa à medida que alguns educadores tentam interferir de forma depreciativa no trabalho do outro o que, segundo esses autores, acaba por determinar e/ou influenciar na visão que apresentam sobre seus trabalhos. É comum ouvirmos professores de matemática reclamando das atividades desenvolvidas pelos pedagogos nas escolas onde trabalham. Inúmeras são as divergências de opinião presenciadas, geralmente ocorridas em reuniões pedagógicas, onde se verifica que professores de matemática e pedagogos não conseguem chegar a um consenso sobre propostas educativas para as escolas onde atuam (PANTOJA; SÁ, 2000, p. 2).

156


Assim, examinando as RS construídas pelos professores investigados acerca da atuação da supervisão pedagógica na escola onde atuam percebe-se que a relação entre estes e a supervisão escolar parece marcada por dificuldades em se estabelecer uma parceria capaz de alinhar valores verbalizados pelos primeiros em relação aos segundos quando afirmam que o supervisor “deve ajudar ao professor, ajudando a equipe como um todo. Dando sugestões, orientando, trazendo novas ideias, fazendo uma avaliação constante junto com a equipe de professores” como sugere o SUJEITO 09 sugerindo o modo como a supervisão pedagógica deve atuar no ambiente escolar. Os resultados da pesquisa parecem sugerir que embora haja pontos negativos assinalados pelos respondestes acerca do trabalho da supervisão pedagógica na escola, revela também o ponto de vista de que a supervisão pedagógica escolar pode contribuir com o trabalho docente com vistas a assegurar um ensino de qualidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo se propôs a identificar o conteúdo das RS de professores de matemática de escola do EF da RMET, acerca da supervisão pedagógica na escola. A pesquisa revelou que no grupo investigado circulam informações sobre a temática e há coerência no discurso social do mesmo, tanto que muitas vezes os termos são recorrentes revelando certa homogeneidade e construindo um efeito unificador de representação social que expressa um consistente modelo de supervisão pedagógica em ambiente escolar. Do mesmo modo, foi possível analisar o conteúdo das RS expressas pelos sujeitos na perspectiva de sua articulação entre o discurso cuja função é nomear o papel da supervisão pedagógica na escola e o discurso que descreve a prática, real ou não, acerca da ação supervisora na escola. Acerca do conteúdo das RS construídas pelo grupo de professores investigados verificou-se que estes se expressaram a partir de três eixos representacionais: sugere medidas de apoio, ação burocrática e não atuação da supervisão na escola. Dentre estes eixos, o de maior freqüência foi o que se refere “a contribuir com o trabalho do professor” que permite inferir que nas RS dos professores investigados esta seria a função mais significativa da supervisão pedagógica na escola. Por outro lado, não é nada desprezível a percepção, dos professores investigados, de que a supervisão age burocraticamente (coletando dados, preenchendo fichas, organizando reuniões) ou ainda que 157


nada ou pouco possa fazer, dentre as RS identificadas nas falas dos sujeitos respondentes. As RS que os investigados tem a respeito da supervisão pedagógica na escola permite inferir que os mesmo gostariam que o apoio pedagógico que reclamam bem poderia ser exercido por um profissional que aliasse conhecimentos específicos de área (no caso de matemática) e conhecimentos pedagógicos que permitissem, assim, a instalação de um processo de trabalho mais colaborativo visto que desse modo as interfaces possíveis entre o trabalho do professor de matemática e do supervisor pedagógico poderiam melhor acontecer. As RS construídas pelo grupo de professores de matemática investigados neste estudo não autorizam, entretanto, inferir que estas sejam as RS dos professores de matemática acerca da supervisão pedagógica escolar. Seja pelo tamanho da amostra selecionada, seja ainda pela exigüidade do tempo de realização da pesquisa, seja ainda porque não era propósito da pesquisa fazer generalizações. Caberia, entretanto, no âmbito deste estudo, a recomendação que sejam realizadas novas pesquisas no sentido de analisar como as RS poderiam ser recompostas conforme se modifique os grupos investigados, o tamanho da amostra, o tempo dedicado à coleta de dados e confecção do relatório de pesquisa. Recomenda-se ainda, pesquisa tendo o supervisor pedagógico como sujeito, que pudesse elucidar a dinâmica da ação de supervisão pedagógica na construção de RS por parte desses sujeitos. Feito a apresentação das conclusões a que se chegou nesta pesquisa, suas implicações e recomendações para outros estudos é possível dizer que as questões de pesquisa propostas foram satisfatoriamente respondidas e os objetivos que elas encerravam foram plenamente alcançados. séries REFERÊNCIAS

iniciais.

Disponível

em:

<http://www.sbemba.com.br/anais_do_forum/Pale stras/PA2_Curi.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2010.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004.

ESTEVE, José M. Mudanças sociais e funções do professor. In: NÓVOA, Antônio. Profissão professor.

BRASIL. Ministério da Educação. Publicação no DOU n° 92,

Porto: Porto, 1999.

de 16/05/2006 seção 1 p. 11-12. Disponível em: <http://cmconsultoria.com.br/legislacao/resolucoes/2006 /res_2006_1_CNE_CP.pdf>. Acesso em: 9 abr. 2010.

FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Supervisão educacional: uma reflexão crítica. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

CURI, Edda. A formação matemática dos professores das

158


______. Supervisão educacional: nova exigência, novos

teoria. Campinas: Autores associados, 2006. (Coleção

conceitos, novos significados. In: RANGEL, Mary (Org.).

memória da educação).

Supervisão pedagógica: princípios e práticas. Campinas: Papirus, 2001.

RODRIGUES, Cleire Maria do Amaral. A escola de qualidade nas Representações Sociais de professores de

JODELET, Denise. Loucuras e representações sociais.

escolas de Teresina-PI, com melhor performance no

Petrópolis: Vozes, 2005.

ENEM-2007. 2010. 101 f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Piauí - UFPI, Teresina, 2010.

LIBÂNEO, Jose Carlos. Pedagogia e pedagogos, pra que? 10. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes & formação de professores. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2006.

______. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. revista e ampliada 2ª. Reimpressão. Goiânia: MF Livros, 2008. MOSCOVICI, Serge. Representações sociais. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. NÓVOA, Antônio. Profissão professor. Porto: Porto, 1999. PANTOJA, Lígia Françoise Lemos; SÁ, Pedro Franco de. A visão que o professor de matemática tem do pedagogo e s c o l a r .

D i s p o n í v e l

<www.sbem.com.br/files/ix_enem>.

e m :

Acesso em: 10

maio 2010. PRZYBYLSKI, Edy. O supervisor escolar em ação. Porto Alegre: Sagra, 1991. SÁ, Celso Pereira de. A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998. SACRISTÁN, J. Gimeno. Consciência e ação sobre a prática como libertação profissional dos professores. In: NÓVOA, Antônio. Profissão professor. Porto: Porto, 1999. SAVIANI, Dermeval. A pedagogia no Brasil: história e

159


160


Artigo RUPTURAS E CONTINUIDADES NA DOCÊNCIA: REFLEXÕES ACERCA DO FAZER PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO BÁSICA Joelson de Sousa Morais¹

RESUMO A prática docente atualmente tem oscilado entre o que se quer fazer, e o que se faz, de fato. Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica e método de análise de conteúdo. Autores como Meirieu (2002), Silva (2005) Imbernón (2010) fundamentam o presente trabalho. A pesquisa tem como objetivo elucidar o que o discurso pedagógico tem revelado em contraposição à ação docente. Tem como problema porque o discurso pedagógico tem sido determinante, sem levar em consideração a mutabilidade das ações realizadas em sala de aula? O estudo revelou que os professores estão dando mais lugar ao falar do que ao fazer pedagógico na escola. Palavras-chave: Ensino. Discurso pedagógico. Prática docente. ABSTRACT The teaching practice currently has oscillated between what one wants to do, and what one does, in fact. It is a literature review and research method of content analysis. Authors like Meirieu (2002), Silva (2005) Imbernón (2010) underlying the present work. The research aims to elucidate what the pedagogical discourse is revealed as opposed to the classroom. Its problem because the pedagogic discourse has been paramount, regardless of the mutability of actions performed in the classroom? The study revealed that teachers are giving more room to talk about what to do at school. Keywords: Teaching. Pedagogic discourse. Teaching practice.

1 Acadêmico do curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão - FACEMA.

161


INTRODUÇÃO

162

A escola atualmente sofre os abalos das grandes revoluções técnicocientíficas do século passado. Em decorrência disso, muito tem mudado nas relações professor-aluno, professor-família, escola-comunidade, justamente por estar neste cenário amalgamado de situações que não permitiram acompanhar as mudanças ora ocasionadas socialmente. O professor passou a carregar inúmeras responsabilidades que não estavam compatibilizadas com sua função, alterando seus aspectos comportamentais, uma vez que a família deixou de atuar educativamente – por uma série de circunstâncias, principalmente pelas diferentes constituições familiares, pois é sabido que nem toda família é constituída de pai, mãe e filho, mas com diferentes enfoques – , cabendo à escola uma carga excessiva de funções. Um dos aspectos que tem identificado notoriamente essas mudanças, recai sobre a prática docente. A maioria dos docentes, sobretudo da escola pública, sentem-se abarcados por um mundo de atividades, que se levado em consideração valorativamente, distanciam-se da realidade que almejam, transcendendo suas ações, enquanto profissionais e significando, por um lado, uma desvalorização que implica na qualidade do ensino. Em detrimento disso, o discurso pedagógico tem ganhado maiores destaques, numa perspectiva de negatividade e desencantamento, como uma via de escape, dando lugar ao que poderia realmente ser materializado, enquanto elementos satisfatórios em seu fazer na sala de aula. A ausência de praticidade do trabalho pedagógico, descaracteriza a escola como espaço de transformação social, pois se a escola é um lugar de construções políticas, o que se está fazendo para que o aluno crie autonomia e saiba agir politicamente para o exercício da cidadania? São essas e outras questões que nos motivou a pesquisar o porque o discurso pedagógico tem sido determinante, sem levar em consideração a mutabilidade das ações realizadas em sala de aula?, enquanto problema da pesquisa a qual propôs-se a delinear. Dessa forma, delimitou-se como objetivo geral elucidar o que o discurso pedagógico tem revelado em contraposição à ação docente, assim como descrever as dificuldades que tem impedido o professor a ter experiências exitosas na sala de aula, e refletir sobre os caminhos que o professor está atribuindo à escola nos dias atuais. Tais pressupostos são essenciais, pois são questões latentes da sociedade educacional atualmente. O presente estudo é parte do trabalho monográfico o qual está sendo desenvolvido ao longo do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela FACEMA.


O PROFESSOR E SUA PRÁTICA ATUALMENTE O cenário educacional brasileiro tem vivido variados contextos em sua conjuntura ao longo das últimas duas décadas, ora positivos – pelas oportunidades surgidas, sinalizando também alcances de metas satisfatórias – ora negativos – pelo fracasso gerado em instâncias, tanto macro, nas políticas públicas de educação ineficazes, como micro, no sucesso do ensinoaprendizagem da escola, que tanto luta por essa proeza. Quem enfrenta diretamente essas mudanças configurativas é o professor, que, embora estando em seu árduo trabalho – pois, além de ensinar os conteúdos que a escola lhe impõe, tem que educar e ditar regras comportamentais e de valores para seus alunos, uma vez que a família já não o faz mais, como se não bastasse o que o seu trabalho já lhe permite – alterando significativamente sua prática cotidiana de sala de aula. Como bem assinala Imbernón: [...] O contexto em que trabalha o magistério tornou-se complexo e diversificado. Hoje, a profissão já não é a transmissão de um conhecimento acadêmico ou a transformação do conhecimento comum do aluno em um conhecimento acadêmico. A profissão exerce outras funções: motivação, luta contra a exclusão social, participação, animação de grupos, relações com estruturas sociais, com a comunidade[...] E é claro que tudo isso requer uma nova formação: inicial e permanente. (IMBERNÓN, 2010, p.14).

Assim, sendo, um novo perfil de professor a sociedade requer, ou seja, como se vive num outro mundo, agora no século XXI, com novos saberes e práticas em todos os segmentos sociais, o magistério, evidentemente não pode ficar à margem do processo de evolução e crescimento, até para se equiparar aos progressos contínuos que vão se sucedendo sem precedentes neste espaço de convivência humana e sem, de forma alguma, ser uma área descaracterizada diante das outras. Porém, tais questões transcendem aos fatores aqui mencionados, pois as próprias políticas educacionais desvalorizam a profissão, fazendo com que repercuta no falar, e consequentemente fazer do professor, desmotivando-o e ocasionando uma série de obstáculos ao desenvolvimento de um trabalho de qualidade. Partindo de um princípio lógico-racional como pode um professor 163


desenvolver um trabalho competente se as próprias condições de trabalho as quais estão inerentes ao seu desempenho são inapropriadas, ou tampouco inexistem? Não adianta dar um mínimo, sem considerar as demais situações subjacentes a uma boa educação na escola. Se forem ofertados materiais, falta uma boa formação, e vice-versa. E então? O que fazer, quando somente a metade do que é necessário para a escola, existe? São questionamentos que intrigam a vida diária do professor e que não cessam enquanto não forem resolvidos. A escola, e, sobretudo, a sala de aula está mais heterogênea que antes. Os professores às vezes se perdem diante do que fazer, pois mesmo com propósitos, planejamentos, e intencionalidades para com a sala, suas aulas ganham outros sentidos, pelos aspectos transformacionais que o meio sofre, principalmente na escola pública, com todas as suas características diferenciais que são apresentadas; pois as aulas são constituídas de momentos que não há como prever o que vai acontecer, como também o seu final, somente pela via da experiência se pode constatar objetivamente o que acontece. [...] No contexto escolar, muitas vezes, as ações parecem ser rotinizadas e automatizadas, os educadores perdem a chance de percebê-las. Passam a agir em função do fim imediato – ensinar o conteúdo determinado –, perdendo a oportunidade de rever a ação de ensinar-aprender. Sua ação passa a compor um quadro de alienação que lhes tira o poder de transformar sua prática (LIBERALI, 2008, p. 22-23).

Ora, os alunos não conseguem simplesmente aprender quando as práticas prendem-se aos mesmos fazeres – como é o caso do livro didático e o quadro negro/branco, instrumentos demasiadamente utilizados pelo professor –, uma vez que não está em jogo somente o lado racional no processo de construção do conhecimento, mas o lado emocional também. No entanto, embora esses aspectos sejam de conhecimento do professor, não os levam em consideração, por achar que o tempo não é compatível ou que outras condutas não têm um devido sentido e valor para desenvolver as aprendizagens dos educandos. Na medida em que novas situações vão surgindo na escola, mais preparação se exige do docente para enfrentar tais momentos. Mas o que se vê com mais freqüência, são discursos vazios que dão lugar ao fazer pedagógico, ou seja, “avançou-se mais no terreno das ideias e das palavras que no das práticas organizacionais alternativas” (IMBERNÓN, 2010, p. 106-107). Ao 164


invés do professor tentar procurar elementos de resolução dos problemas que enfrenta no seu trabalho, acaba se fechando como um monólogo, achando que se procurar outros professores ou profissionais da educação estaria se rebaixando e se posicionando como inferior diante do outro, como se suas práticas não tivessem nenhuma serventia para a escola e para os seus alunos, não tendo consciência que agindo dessa forma, só perderia muito mais. Como [...] a prática docente e as atividades escolares são práticas políticas (SILVA, 2005, p. 37), exigem ações dos professores de reflexão e de transformação da realidade que está à sua volta, fazendo com que seus alunos sejam indivíduos autônomos, participativos e saibam discutir sobre as questões que lhes intrigam como forma de compreensão e emancipação de um sujeito como ser ativo na sociedade. É inconcebível hoje, uma prática docente que não atenda aos anseios da comunidade escolar. Saber o que se quer é uma condição sine qua non para que a educação aconteça na escola e os indivíduos que dela fazem parte, tenham consciência do que está acontecendo e para onde vai as atitudes desenvolvidas. São atitudes pautadas na realidade, mas que tenham uma dimensão prática, realizadora e concreta, sem deixar lugar para que o discurso enalteça e tome lugar como se não houvesse o que fazer na escola e desse lugar ás falácias tão maliciosas e obstaculizantes para o desenvolvimento educacional dos professores, alunos, escola e comunidade, e abarcando, evidentemente a própria sociedade como um todo. O PARADOXO DO MAGISTÉRIO Por mais paradoxal que possa parecer os discursos iniciam-se na própria formação inicial do indivíduo, ou seja, uma vez que estão se preparando para atuarem na educação básica – e esse é o propósito dos cursos de licenciaturas, de acordo com cada especificidade preconizada na LDB 9.394/96 – afirmam não querer lecionar, objetivando outros espaços de atuação que seja qualquer outra função, menos a sala de aula, sobretudo, nos cursos de Pedagogia, aonde esses dizeres tem uma dimensão mais complexa e acentuada. Porém, nem sempre acontece o que os mesmos prevêem; ao se formarem acabam assumindo a sala de aula, por ser uma função que carece de profissionais para atuarem e tem um maior contingente de vagas disponíveis no mercado de trabalho. Daí, realizam um trabalho de qualquer jeito, pois acabam se frustrando profissionalmente por não ter alcançado o objetivo que tinham traçado, deixando sobrepor seus discursos com dimensões utilitaristas e enviesados de concepções redutíveis e insignificantes para a escola e o ensino 165


que concebem, obtendo um caráter de contraditoriedade no magistério. Dessa forma, diante dos percalços apresentados acima, chega-se ao substrato de que “[...] a escola, ao desatar o que constitui efetivamente o nó de toda cultura autêntica, condenando uns à 'distinção' e outros ao 'utilitarismo', abdica de sua missão essencial, a de construir, para uns e outros, saberes que tenham sentido” (MEIRIEU, 2002, p. 164). Por isso muitos professores culpam o fracasso da escola pelos desinteresses dos alunos durante as aulas e as famílias por não estarem se compromissando com a educação dos filhos, esquecendo-se que suas práticas acabam sendo um problema que persiste, por ser repetitivas e não apresentarem nenhuma atratividade para os que estão na escola, onde na verdade estão buscando algo de novidade para conhecer e tentar sair do comum que existe em toda a parte. Buscando estabelecer um elo entre o papel do professor e a sala de aula que hoje está sob o seu comando, vale ressaltar as contribuições notórias de Charlot (2010), dizendo que: [...] Ser professor é defrontar-se incessantemente com a necessidade de decidir imediatamente no dia-a-dia da sala de aula. Uma coisa está acontecendo na sala de aula e o professor tem que decidir sem ter tempo suficiente para refletir. E, depois de decidir na urgência, ele tem que assumir as consequências da decisão, de seus atos. Esta é uma das principais dificuldades do trabalho do professor no dia a dia da sala de aula. (CHARLOT, 2010, p. 91).

A impossibilidade que subjaz a esse agir com características de próatividade, está em como se desdobrar nas imprevisibilidades que surgem inesperadamente, pois o professor não se preparou para esses momentos; acredita em situações já previstas e prototípicas dificultando o pensamento imediato e bloqueando suas capacidades de gerar decisões autênticas e realistas diante das incertezas. Outra questão salutar, reside na desesperança dos professores em realizar alguma mudança quanto ao comportamento e aprendizagem dos alunos e a aproximação dos pais na escola, como uma mão dupla para contribuir para o melhoramento da realidade que se encontra em situações desregradas; sem contar que boa parte daqueles que pouco se interessam por essa questão, estão próximos da aposentadoria, e não vêem a hora de conseguir cessar suas atividades escolares. Portanto, o que há de fazer na altura do campeonato diante desse aspecto, não significaria coisa alguma. Todavia “[...] o momento pedagógico é, de algum modo, o sinal de alerta que assinala a ruptura 166


e o fracasso do próprio projeto de educar”. (MEIRIEU, 2002, p. 62), e esse momento acontece sem que se saiba as finalidades e as repercussões do agir de hoje; só depois que as coisas estão explícitas é que vão se atentar para as ações do que foi realizado outrora. Em suas contradições, os discursos pedagógicos revelam, portanto, uma ruptura fundamental e permanentemente reinstaurada entre o que podemos organizar (e que jamais acabaremos de explorar) e o que o outro pode tornar-se (e que jamais poderemos decidir por ele). (MEIRIEU, 2002, p. 125).

Para todos os efeitos, os professores não podem alienar-se diante de suas posições e atitudes, pois estariam enganando a si próprios, perdendo tempo que é tão valoroso para a educação, e que precisa urgentemente de práticas fundamentais para o sucesso da escola. A INVENTIVIDADE COMO POSSIBILIDADE DE SAÍDA DA MONOTONIA NA SALA DE AULA O presente capítulo não vem expor especificamente quais seriam as alternativas em que os professores poderiam se apropriar para utilizar em suas aulas, mas configura-se como um espaço de reflexão e ressignificação de suas funções na sala de aula. Existem inúmeras alternativas de desenvolver um trabalho na escola com competência e desenvoltura e que os alunos participem e aprendam, afinal, esse é o propósito da escola de hoje, um ensino-aprendizagem plural e com características de uma boa qualidade educacional. O trabalho de sala de aula, depende, em sua exclusividade do professor, pois como é o mediador das relações trocadas simbolicamente entre os indivíduos, tem como função selecionar os materiais importantes a serem utilizados em sala de aula, uma vez que sabe o nível cognitivo e os aspectos comportamentais dos seus alunos, e como poderá conduzir o processo de ensino, através de seu agir metodologicamente. Cabe ressaltar que as ações pedagógicas desenvolvidas pelos professores pela utilização de uma variedade de recursos em suas aulas, não significará uma resposta suscitada pela qualidade do realizado, pois “a qualidade não está unicamente no conteúdo, e sim na interatividade do processo, na dinâmica do grupo, no uso das atividades, no estilo do formador ou professor/a, no material que se utiliza”. (IMBERNÓN, 2010, p. 104). 167


Então, há uma série de elementos que dependerão do sucesso ou insucesso de suas aulas, levando o professor a realizar suas escolhas e a melhor forma como poderá trabalhar os elementos escolhidos. O aluno se sente valorizado, importante e feliz quando as aulas são realizadas com muitas opções de recursos; a sua aprendizagem flui com mais facilidade sem que o professor tenha que pressioná-lo e impor situações que apenas o transforma comportamentalmente. Segundo Meirieu (2002, p. 81), “[...] a inventividade pedagógica permite explorar com o aluno infinitas possibilidades, e o saber transforma-se progressivamente, mediante um obstinado trabalho de elucidação, de objeto de transação em objeto de partilha”. Neste caso, professor e alunos desempenham atividades horizontais, quebrando a hierarquia de que somente o professor é o detentor do saber e o aluno o mero receptor de informações, lembrando Paulo Freire, e que o respeito e a aproximação aumentarão cada vez mais, tornando a sala de aula, um espaço de construção do conhecimento e de interações amigáveis, com sentido e intencionalidade. “[...] É no cotidiano escolar que o professor aprende, desaprende, reestrutura o aprendido, faz descobertas, estrutura formas de pensamento e constrói crenças” (SILVA, 2005, p. 37). É na sala de aula que professores e alunos crescem, construindo novos saberes, e somando experiências que cada um tem, enquanto ser que faz parte de uma sociedade. Já que o professor é alguém mais experiente, não lhe dá direito de desvalorizar o que o aluno traz de fora, pois é através do saber de mundo que o aluno leva pra sala de aula, que o professor vai ajudá-lo a sistematizar e a entender como pode ser usado esse saber em outras realidades que o aluno se defrontar quando for necessário. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, fazendo posteriormente a seleção das literaturas compatíveis, levando em consideração a pertinência da temática do trabalho. Logo em seguida foi feita a leitura de todo o material, atentando-se para os seguintes critérios: anotações, resumo-fichamentos, análise das fontes pesquisadas e produção escrita deste estudo. Esta investigação que nasce com o intuito de se transformar em pesquisa monográfica, se constitui em um início de uma reflexão que evidenciará situações da prática pedagógica que nada se parecem com a teoria do qual nos apropriamos ao nos licenciarmos no Curso de Pedagogia. A pesquisa de que se trata, se incipia agora e a posteriori de posse dos dados que serão confrontados em coletas no campo, evidências, certamente nos aclarará 168


sobre a realidade, que não é tão bela, quanto pintada nas telas dos teóricos que tratam de formação de professores e prática docente. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo permitiu entender como funciona a escola, a partir da atuação do professor. De acordo com os autores pesquisados, notou-se que as práticas docentes estão ficando menos atrativas, menos agradáveis e com déficits na aprendizagem dos alunos. Prova disso, é a má formação dos docentes e o comodismo intelectual pelo qual estão se deixando levar, sem contar que a desvalorização profissional advindas das políticas públicas, acabam sendo o cerne do desencantamento da atuação docente. Dessa forma, os professores não se motivam para realizar alguma coisa de novidade, pois, além de desenvolver o seu trabalho diário, que a escola impõe pelo currículo centralizador do sistema educativo, se deparam com a falta de recursos e materiais, levando a crer que a impossibilidade de adquirir outros elementos exteriores à escola não condiz com a realidade de seu alunado, pela falta de condições econômicas, como também não se sujeitariam a buscar adquirir os próprios materiais, pois estariam tirando do seu próprio bolso, que já não é o suficiente para manter a família e os altos esforços empreendidos no desenvolvimento do seu trabalho. Por outro lado, não conseguem ver a possibilidade de evitar gastos, pela criação inovadora de outros materiais (até mesmo reciclados e de fácil acesso pelos alunos e professores) que também se adéquam ao fazer pedagógico e gera aprendizagens significativas para com os alunos. Tal ausência se dá pela falta de conhecimento na construção e produção dos materiais, como também não se dá o deleite em tomar alguma atitude para iniciar alguma atividade dessa natureza. O discurso pedagógico tem uma grande dificuldade de ser superado pelos professores. O pior de tudo, é que na maioria das vezes, são falácias apenas criticando o sistema educacional, a escola, os pais, enfim, encontram toda e qualquer forma de crítica que está fora de seu trabalho, e nunca percebem algumas – por mais simples ou até mesmo complexas que sejam – falhas na sua ação docente. É como se o seu trabalho não exigisse mais para fazer, pois não compensaria pelo valor que estão sendo remunerados (como se só bastasse questões valorativas no processo educativo). É preciso um novo olhar sobre o que se faz, o que se pretende fazer e quais seriam os retornos de suas ações, enquanto seres responsáveis pela educação dos indivíduos que serão os futuros profissionais que ocuparão os 169


cargos da sociedade trabalhista brasileira. As pessoas, quando bem educadas, constroem laços afetivos duradouros e importantes para o crescimento pessoal e social, contribuindo para manter relações interpessoais saudáveis. E isso acontecerá, se cada um, no seu simples local de trabalho, fazer jus ao processo de construção de aprendizagens significativas, que contribuirão para o sucesso de cada indivíduo que faz parte da escola de hoje. O discurso pedagógico é importante, quando pronunciado a partir de uma autenticidade experienciada diariamente, no confronto que o professor trava a todo o momento de sua vida profissional na escola, e, sobretudo na sala de aula. Porém, perde legitimidade se for um falar por si só, ou seja, apenas externalizando aspectos pessoais daquilo que não conseguiu fazer, ou que nem sequer teve a coragem de começar. A pesquisa atendeu aos objetivos, como também ao problema, esclarecendo em suma, a realidade da prática pedagógica e o que o professor fala, sem ter uma veracidade na atribuição de sentido de seu trabalho. Os discursos são empecilhos tão severos que os professores em exercício acabam jogando um balde de água fria naqueles que estão em formação inicial. Os acadêmicos quando entram em contato a primeira vez com a escola, se deparam com os discursos docentes desalentadores, antes mesmo de desenvolver qualquer observação ou trabalho conduzido pelos especialistas da academia, colocando todos os problemas para que desencorajem os novatos nessa jornada a qual estão se propondo alicerçar. Portanto, com todas as dificuldades que a escola básica apresenta hoje, o professor não pode contribuir para piorar o quadro educacional, desenvolvendo um trabalho aleatório e enaltecendo o seu discurso como se fosse uma simples saída para as mazelas educacionais. É nesse conflito que deve encontrar soluções para os pequenos impasses que acontecem no dia-adia de seu trabalho, e poder dar novos rumos e direções para a escola que todos desejam e lutam para construir.

170


questões da nossa época, v.14). REFERÊNCIAS LIBERALI, Fernanda Coelho. Formação crítica de CHARLOT, Bernard. Formação de professores: a pesquisa e a política educacional. In.: Pimenta, S. G.; GUEDIN, E.

educadores: questões fundamentais. Taubaté: Cabral Editora e Livraria Universitária, 2008.

(Org.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

MEIRIEU, Philippe. A pedagogia entre o dizer e o fazer: a coragem de começar. Trad. Fátima Murad. Porto

SILVA, R. de C. da. O professor, seus saberes e suas crenças.

Alegre: Artmed, 2002.

In.: GUARNIERI, Maria Regina (Org.). Aprendendo a ensinar: o caminho nada suave da docência. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2005. (Coleção polêmicas do nosso tempo, v. 75). IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. Tradução Silvana Cobucci Leite. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2010. (Coleção

171


172


Artigo DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA E PRÁTICA P E DA G Ó G I C A N O P RO C E S S O D E FORMAÇÃO DO PROFESSOR Mariangela Santana Guimarães Santos¹

RESUMO O artigo em pauta é resultado de uma pesquisa de cunho bibliográfico cujo objetivo é refletir sobre a docência universitária e prática pedagógica no processo de formação do professor, considerando essa temática como recorrente, partindo do pressuposto que as práticas pedagógicas na docência superior, bem como a formação do professor são indicadores pontuais para ampliar uma discussão no universo educacional. Os teóricos que recorremos para fundamentar o estudo foram Campos (2007), Ericone (2004), Beherns (2005), Freire (1997), Pimenta (2002), Giesta (2001), Tardif (2002), Masetto (2003) dentre outros que no desenvolvimento do trabalho subsidiaram as discussões em torno da temática pesquisada. Palavras-Chave: Docência universitária. Prática pedagógica. Formação de professores. ABSTRACT The article in question is the result of a bibliographic search imprint aimed at reflecting on the university teaching and teaching practice in the process of teacher education, considering this as a recurring theme on the assumption that the higher pedagogical practices in teaching, as well as teacher education are indicators point to extend a discussion in the educational universe. Theorists who have recourse to support the study fields (2007), Ericone (2004), Beherns (2005), Freire (1997), Pepper (2002), Broom (2001), Tardif (2002), Masetto (2003) among others that the development of subsidized work discussions about the matter. Keywords: University teaching. Practice educational. Training of teachers.

¹Graduada em Pedagogia. Especialista em Ensino. Mestre em Educação. Docente da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. Docente da Faculdade do Vale do Itapecurú - FAI. Professora da Educação Básica na Rede Pública. Docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão - FACEMA

173


INTRODUÇÃO O presente artigo abre uma discussão sobre a prática pedagógica na docência superior, bem como a formação do professor, partindo do pressuposto que tais inquietações têm revelado a necessidade de se refletir a complexidade da docência, sobretudo no ensino superior. Compreendendo a prática como lócus de conhecimento profissional docente, a formação deve ser condizente com as necessidades atuais da sociedade a qual se reveste em estado permanente de mudanças. Neste sentido, a preocupação com esses corpus de conhecimento é no sentido de responder as exigências da formação como processo de ressignificação da cultura profissional na perspectiva reflexiva e sobretudo participativa. Do ponto de vista metodológico, o artigo configura-se como um estudo bibliográfico, amparado por teóricos que tem apresentado significativas contribuições para realçar os caminhos do processo formativo num cenário educacional que ainda necessita em responder aos desafios de uma sociedade complexa e contraditória. Portanto, propõe-se que este estudo alcance os mais distantes espaços de discussão, despertando no professor e seus pares se perceberem como partícipes críticos e co-responsáveis pela formação de futuros profissionais. Docência universitária e os desafios da formação de professores Ao longo da história da educação no ensino superior, muitos caminhos foram percorridos, as inovações no processo de ensinar tornaram-se necessidades que cada vez se fortalecem no conjunto de situações impostas pelas exigências sociais. Conforme postula Campos ao afirmar que: A universidade constitui-se como espaço de problematização, questionamento e desenvolvimento de práticas técnicas e tecnológicas. Com as exigências da sociedade moderna, a universidade vai desenvolver uma missão de grande importância: a formação de recursos de alto nível. Daí sua responsabilidade pela profissionalização, requerida pelas necessidades fundamentais da sociedade. Em síntese: a universidade é a consciência crítica de uma sociedade. (CAMPOS, 2007 p. 32).

Ante esses enfoques, é mister ressaltar a importância que tem a Universidade no processo de formação do cidadão. Sendo assim, é necessário 174


se repensar suas ações e seu papel no aprimoramento do saber, deixando de ser vista somente como objeto de obrigação no sentido de obter a certificação para aqueles que a buscam, mas um espaço por excelência da crítica, da autonomia e da produção dos saberes. Para Ericone (2004, p. 51), “a Universidade, de forma especial, não poderá perder de vista que a inovação é um desafio a ser enfrentado para que realizem seu principal fim: educar para uma sociedade que não existe”. Diante deste novo paradigma crítico e reflexivo, os conceitos produzidos deixam de ser somente informativos para gerar novos conhecimentos, transformando-os em compreensão do mundo e da sociedade diante da complexidade dos fatos, o aluno será capaz de inserir-se na realidade. Assim, a universidade, além de produzir, fomentar, refletir sobre o conhecimento universal estará cumprindo com o seu papel social que é fundamental no desenvolvimento intelectual do aluno. Dessa forma, a prática pedagógica do professor na atualidade necessita urgentemente de reformulação pedagógica que preconize uma educação voltada para o processo de emancipação social. Cunha comenta que: A ação pedagógica que leve à produção do conhecimento e que busque formar um sujeito crítico e inovador precisa enfocar o conhecimento como provisório e relativo, preocupando-se com a localização histórica de sua produção. Precisa estimular a análise, a capacidade de compor e recompor dados informações e argumentos. Acrescida da valorização da ação reflexiva e a disciplina tomada como capacidade de estudar, refletir e sistematizar o conhecimento instiga o aluno a reconhecer a realidade e a refletir sobre ela. (CUNHA 1997 apud BEHENES, 2005 p. 55).

Desenvolver uma atitude pedagógica segundo esta concepção de prática é criar possibilidades para que o professor na docência superior compreenda que a aprendizagem para tornar-se significativa, precisa perceber o aluno como pessoa, como um todo, suas ideias, sentimentos, cultura, valores, sociedade e profissão, segundo Masetto (2008). É importante considerar que para este processo desenvolver-se no cotidiano das atividades acadêmicas, o professor no conjunto de suas competências e habilidades precisa redefinir algumas dimensões próprias da sua formação. Como a dimensão ética e política que são importantes no trabalho do educador, ambas são necessárias no processo de autonomia, 175


apresentando-se de forma decisiva na tomada de posição da ação docente, segundo Candau (2005), dimensão política/social contempla toda prática pedagógica. A dimensão técnico científica, se constitui na base teórica para fundamentação da prática. A dimensão afetiva é considerada essencial na relação, professor - aluno e aluno – aluno. Neste caso, ambos assumem juntos o processo de aprendizagem. Ao perceber-se a importância do entendimento dessas dimensões para a organização e compreensão do processo ensino aprendizagem, possivelmente o processo de crítica será mais presente na prática docente, haja vista, que se observa que algumas dificuldades se apresentam na tomada de posição do professor frente a este novo paradigma do processo de ensinar. Possivelmente, encontra-se resposta para essas atitudes na história da formação do professor, visto que, o conjunto de situações historicamente construídas ao longo da sua formação traduz com clareza as concepções de mundo, de homem, de sociedade, de educação e de ensino as quais predominam na sua prática docente. O desafio, no entanto, é refletir sobre a importância de ressignificar a docência no ensino superior partindo de um novo paradigma de ciência que se apresenta na pós - modernidade. Para Paulo Freire, as qualidades ou virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distância entre o que dizemos e o que fazemos. Este esforço, o de diminuir a distância entre o discurso e a prática, é já uma dessas virtudes indispensáveis - a coerência. (FREIRE, 1997, p. 72).

Esse paradigma crítico nos leva a entender que o ensino aponta para uma nova ordem, utilizando-se da flexibilidade, do diálogo e da dialética, considerando a possibilidade do limite, do discurso como aspectos inerentes a prática da formação humana. Esta proposta sugere a universidade a redefinir a organização curricular no intuito de superar a característica do conhecimento fragmentado. Segundo Pimenta (2002), esse tipo de ensino são reflexões oriundas das concepções e práticas tradicionais trazidas pelos jesuítas. E, embora tenha se intensificado no Ensino Superior, também teve seu momento ameno nas séries iniciais, o que por sua vez não deixa de ter os seus reflexos, quando o aluno chega até a universidade. Com uma postura de ensino fechado e extremamente competitivo, o próprio ensino torna-se um espiral sem interrupções de práticas conhecidas como veladoras de produtos. Contrapondo-se a essa postura não só no ensino 176


superior, mas também nas séries iniciais, deseja-se que a educação postule práticas que provoquem no aluno um anseio pelo conhecimento na perspectiva de ter a capacidade de produzir novos saberes. Como afirma Hengemüle (2007), os conteúdos aprendidos não podem mais ser vistos como estanques, fragmentados e sem história. Pelo contrário, se surgiram e aqui estão, é porque têm uma razão de ser. Isso revela a importância de conhecer o alunado com o qual se irá desenvolver ações pedagógicas, pois é nesse momento que o acesso aos saberes estarão presentes numa proposta de perceber o aluno como sujeito partícipe deste projeto maior da formação humana - a Educação. Partindo-se desse olhar, articular saberes no trabalho pedagógico do professor é compreender que, subjacente a sua prática, existe uma concepção de cultura possibilitadora de uma visão de mundo delineada na intencionalidade de sua prática. A partir dessas influências políticas, surge o discurso sobre competências, pois com esta, será possível, a priori, articular o compromisso político, ético e social. Para Campos (2007), a cultura e o diálogo constituem aspectos na construção dos saberes docentes. Considerando que essa cultura é subjetiva e própria ao professor, começa-se a perceber que a prática docente no ensino superior, como em qualquer nível ou profissão, necessita de investimento específico não restrito somente à formação inicial, ou ainda do mestrado e doutorado, ou mesmo no exercício prático da profissão. Pode se confirmar que tudo isso aglutinado é necessário, porém se exige a competência pedagógica como fator inerente à natureza da ação do educador, na área da docência em que esteja inserido. Tais pensamentos se coadunam com as ideias de pondera de Giesta, quando esta afirma que: O docente universitário que contribui na formação de professores, se não tiver bem claro o foco da reflexão e se não evitar a rotinização dos exercícios de observação e análise do cotidiano escolar, pouco estará colaborando para a mudança esperada. (GIESTA, 2001, p. 20).

Na última década, a sociedade vivencia o avanço da globalização, que é inovadora e a revolução tecnológica no seu processo de comunicabilidade, torna acessível o universo de conhecimento e com mais rapidez. Ante essa nova ambiência, verifica-se urgentemente a necessidade de se articular um diálogo, também em outras dimensões onde professor como um agente que transmite “conteúdos” se perceba como um aprendiz 177


intelectual nesse contexto da comunicabilidade. Demo ( apud MACIEL, 2004) diz que uma universidade que apenas repasse conhecimento, além de superada no tempo, é desnecessária, porque o acesso à informação disponível está sendo tomado com vantagens reconhecias pelos meios eletrônicos. Por essa razão, o professor precisa conscientizar-se do processo contínuo de reformular o seu aprendizado, o que é necessário, pois a sociedade é movimento e o professor precisa acompanhar esse processo. Por essa razão, diante dos avanços das tecnologias, o papel do professor repassador de informação está ultrapassado, Masetto (2003). Embora se diga que tanto o aluno quanto o professor não podem ser considerados como parte desses meios eletrônicos, eles poderão ser considerados instrumentos de reorganizar a informação, incorporando situações criativas aos princípios do processo de aprendizagem. Se a informática é um paradigma no espaço educacional, precisa-se compreender que ela tem contribuído sobremaneira nesse processo, haja vista a idéia de se conceber a universidade ainda com a estrutura, a metodologia, professores, alunos, burocracia, aspectos que ainda não se reconstruíram no tempo. Para uma mudança acontecer, é necessário que se busque a emancipação desse conjunto de aspectos, a universidade retome sua tarefa primeira da construção do conhecimento, como sugere Perrenoud (apud VEIGA, 2006, p. 132), a iniciação à pesquisa poderá ajudar os professores a adotarem a: prática refletida, ou seja, uma disposição e competência para análise individual ou coletiva de suas práticas, para um olhar introspectivo, para pensar, decidir, e agir tirando conclusões e, inversamente para antecipar os resultados de determinados processo ou atitudes”. (PERRENOUD, ANO apud VEIGA, 2006, p. 132).

A partir dessas referências, poderá se apresentar como uma das condições sine qua non, na perspectiva de práticas pedagógicas que aproximem a educação da sociedade e que se tenha como consequência desta prática, a liberdade humana. Entende-se que as práticas pedagógicas do professor do ensino superior bem como a produção dos saberes são indicadores pontuais para ampliar uma discussão no universo educacional. No entanto, nosso interesse em estudar essa temática visa o favorecimento do processo de reestruturação política e pedagógica no tratamento desses saberes, os quais são produzidos 178


nas práticas do professor e que merecidamente suscitam uma ampla reflexão no processamento dos conhecimentos científicos e pedagógicos. Dessa forma, para consolidar esse argumento evocamos, Tardif ao postular: Os saberes são elementos constitutivos da prática docente. O professor deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, essas múltiplas articulações entre prática docente e os saberes fazem dos professores um grupo social de profissionais cuja existência depende, em grande parte, de sua capacidade de dominar integrar e mobilizar tais saberes. (TARDIF, 2002, p. 39).

Portanto, no que concerne à prática pedagógica do professor no ensino superior, os desafios são evidentes, pois tratar desse campo do saber não é uma tarefa tão simples; requer, entre outras intenções, a preocupação em poder contribuir com os avanços científicos, através de práticas reflexivas e emancipatórias. Refletir sobre este tema sempre será adequado, pois os avanços tecnológicos exigem a parceria no campo da investigação e da produção científica. A pesquisa no processo de formação do professor A prática pedagógica é uma discussão que tem tomado de conta dos espaços escolares e acadêmicos nos últimos anos no Brasil e em outros países. No Brasil na década de 80, um processo de transição sobre a formação do professor tem ratificado a afirmação de que o educador não está contribuindo suficientemente para que os alunos desenvolvam com competência suas aprendizagens. Diante disso, os profissionais da educação vêm colocando em discussão a concepção de ensino, a função social da escola e a relação entre o conhecimento escolar e a vida social do aluno. Dessa forma, urge a necessidade de se propor uma nova educação escolar, um novo perfil de professor com novas práticas pedagógicas “[...] o novo papel do professor, o de preocupar-se com a formação de iguais”. (FAZENDA, 2007, p. 138). Assim, esse movimento vem apontando para outras Formas de conceber o ensino e para isso, torna-se necessária a profissionalização de professores que é concebida na formação inicial em nível superior, embora não seja ainda garantia de sucesso efetivo, mas é um momento que possibilita construir suas práticas, remetendo-as para possíveis situações de reflexão crítica. 179


No entanto, compreende-se que a superação dos limites de práticas obsoletas terá uma nova concepção quando a idéia da pesquisa tornar-se um instrumento concreto no processo de formação do professor e que seja capaz de possibilitar a produção e a construção dos saberes com perspectivas para o desenvolvimento da cultura profissional, sendo necessária a incorporação de procedimentos investigativos capazes de proporcionar a compreensão de práticas docentes, oferecendo condições melhores para entender o que se faz no cotidiano escolar/educacional. Dessa forma, a prática da pesquisa auxilia na construção de situações de ensino numa perspectiva mais emancipatória e menos praticista. Diante dessa assertiva, Maciel complementa: A história nos revela que muitas “profissões” foram engolidas pelas novas necessidades sociais. Não se tem mais necessidade do professor que ensine tão-somente a ler, escrever e contar. O professor necessário, hoje, é aquele que possibilita aos alunos grandes momentos de reflexões, de articulações entre o escrito e o interpretado, entre o teorizado e o real. (MACIEL, 2004, p. 111).

A prática investigativa do professor ajudará o aluno a compreender, por meio da reflexão, os fenômenos complexos que acontecem no espaço da sala de aula. A Universidade, através das práticas pedagógicas dos docentes, deve afirmar essa tomada de postura, pois a produção dos saberes permeados pelo processo de investigação poderá fazer da pesquisa um eixo articulador do conhecimento no processo de formação inicial nos cursos superiores. A pesquisa utilizada como instrumento de aquisição do conhecimento estará apoiando-se numa perspectiva pedagógica e epistemológica na qual a produção do conhecimento seja o princípio ativo em que os sujeitos aluno/professor sejam partícipes desse processo de problematização. Segundo Marli André (2005), a pesquisa pode tornar o sujeito - professor capaz de refletir sobre sua prática profissional e de buscar formas (conhecimentos, habilidades, atitudes, relações) que o ajudem a aperfeiçoar cada vez mais seu trabalho docente. Essa nova proposta de produzir conhecimentos com o auxílio da pesquisa não é uma tarefa fácil; é um desafio que precisa ser analisado como uma proposta que necessita ser ampliada e compartilhada por todos que percebem na educação um projeto de emancipação de sujeitos livres e autônomos. Na história do Brasil, a ideia de pesquisa somente, em fase recente, começa a ser veiculada nos cursos e mais precisamente nos cursos de pósgraduação. Somente nos anos sessenta, foram criadas as instituições que 180


incentivavam a pesquisa científica como o Conselho Nacional de Pesquisa CNPq, e a Fundação Nacional de Pesquisa - FUNDEP. (IBIAPINA, 2006). Interessante abordar que o orçamento dos órgãos mencionados acima, não destinava verbas para programas de pesquisa em educação, o incentivo à produção de pesquisa era voltado para a área tecnológica. Com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior - CAPES, Programa de Informação e Comunicação para Pesquisa - PROSSIGA, e outras agências de fomento que oficialmente a pesquisa em educação recebe estímulos e divulgação, passando a ser desenvolvida nas Universidades, e particularmente nos programas de pós-graduação. Convém destacar que, politicamente, essa tomada de posição na disseminação do estímulo à pesquisa teve um preço, pois o Estado, de alguma forma, controlava o exercício da crítica desenvolvido no contexto da universidade, desvirtuando de alguma forma o percurso do processo da crítica. Alguns fatores são observados como a falta de articulação entre o ensino e pesquisa, recessão econômica muitas vezes interrompendo o resultado das pesquisas, provocando uma série de consequências no processo de desenvolvimento investigativo, pois a priori o que seria um ganho para a sociedade passa a ser um espaço de conflitos, visto que o objetivo era a produção científica na Universidade e não a fragmentação de ação e pensamentos dos atores do processo. É interessante abordar que a pesquisa predominante era desenvolvida na abordagem quantitativa. Gouveia (1971) afirma que, no Brasil as pesquisas tendiam mais para paradigmas reprodutivistas e simplistas. Com movimento que é próprio do conhecimento, os enfoques também se ampliam e se diversificam. Afirma Gatti (2000), o perfil da pesquisa educacional abre espaços a abordagens críticas, fortalecendo a pesquisa qualitativa, que envolve um conjunto diversificado de métodos e técnicas de análise, como os estudos antropológicos e etnológicos, estudo de caso, pesquisa ação, análise de discursos de narrativas e de história de vida, todas apoiadas pela perspectiva crítica, principalmente quando são desenvolvidas nas ciências humanas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme estudo para a compreensão da política de formação do professor, observou-se que, diante de tantas incertezas sobre o processo de ensinar, e muitos desafios a enfrentar, cabe a universidade, através dos seus mediadores professores e alunos, respaldados pelas políticas públicas que 181


implementam a educação, desencadear meios didático-pedagógicos para redirecionar os resultados do processo de formação do educador. Nessa rota de reflexões e discussões, tem-se consciência de que a atividade profissional do professor em qualquer nível, em qualquer realidade, só terá sucesso quando se perceber dialeticamente as dimensões do processo ensinoaprendizagem, sobretudo pelos desafios postulados no contexto educacional e social. Fundamental. Brasília: A Secretaria, 1999. REFERÊNCIAS BRITO, Antonia Edna. Formar Professores: ALARCÃO, Isabel. (Org.). Formação reflexiva de rediscutindo o trabalho e os saberes docentes. In: SOBRINHO, José Augusto de Carvalho Mendes: professores: estratégias de supervisão. Porto: Porto, 1996. CARVALHO, Marlene Araújo de (Org.). Formação de ANASTASIOU, Léa das Graças Camargo; PIMENTA, Selma p r o f e s s o r e s e p r á t i c a s d o c e n t e s : o l h a r e s Garrido. Docência no ensino superior. 2. ed. São Paulo: contemporâneos. São Paulo: Autêntica, 2006. Cortez, 2005. CALLEFE, Luiz Gonzaga; MOREIRA, Herivelto. ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo de Afonso. O papel mediador Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. da pesquisa no ensino de didática. In: ANDRÉ, Marli Eliza São Paulo: DP&A, 2006. Dalmazo de Afonso; OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sales Oliveira (Org.). Alternativas no ensino da didática. 8. ed. CAMPOS, Casemiro de Medeiros. Saberes docentes e autonomia dos professores. Petrópolis: Vozes, 2007. Campinas, 1997. BARBOSA, R. L. L. (Org.). Trajetórias e perspectivas da CANDAU, Vera Maria. A didática em questão. Petrópolis: Vozes, 1986. formação de educadores. São Paulo: UNESP, 2004. BEHRENS, M. A. Formação continuada de professores e a CATANI, Denice Bárbara et al. Docência, memória e gênero: estudo sobre formação. São Paulo: Escrituras, prática pedagógica. Curitiba: Champagnat, 2006. 1997. ______. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2005.

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Tradução Bruno Magne.

BOLIVAR, Antonio (Org.). Profissão professor: o itinerário Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. profissional e a construção da escola. Tradução de Gilson césar de Souza. Bauri: EDUSC, 2002.

CHAVES, Sandramara M. A avaliação de aprendizagem no ensino superior. In: MOROSINI,

BRASIL, Ministério da Educação. Referenciais para a Marília Costa. (Org.). Professores do ensino superior: formação de professores. Secretaria de Educação identidade, docência e formação. 2. ed. ampl. Brasília: Plano, 2001.

182


GIL, Antonio Carlos. Metodologia do ensino superior. CONTRERAS, Domingos José. La autonomia de 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. professorado. Madrid: Morata, 1997. GUARNIERI, Maria Regina (Org.) Aprendendo a CUNHA, Maria Isabel da. Conta-me agora! as narrativas ensinar: o caminho nada suave da docência. 2. ed. como alternativas pedagógicas na pesquisa e no ensino. Campinas: Autores Associados, 2005. Revista da Faculdade de Educação, São Paulo, v. 23, n. 1-2, p. 185-195, jan./dez. 1997.

GUIMARÂES, Valter Soares. For mação de professores: saberes, identidade e profissão. Campinas:

ERICONE, Délcia (Org.). Ser professor. 4. ed. Porto Alegre: Papirus, 2004. EDIPUCRS, 2004. HENGEMÜHLE, Adelar. Formação de professores: FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. (Org.). Didática e da função de ensinar ao resgate da educação. Petrópolis: interdisciplinaridade. 12 ed. Campinas: Papirus, 1998.

Vozes, 2007.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários MARIN, Alda Junqueira. Formação de professores: a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

novas identidades, consciência e subjetividade. In: TIBALLI, Elianda Figueredo Arantes; CHAVES,

______. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, Sandramara Matias (Org.). Concepções e práticas em 1981.

formação de professores: diferentes olhares. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

GARCIA, Carlos Marcelo. Formação de professores: para uma mudança educativa. Tradução: Isabel Narciso. Porto. MASETTO, Marcos Tarcisio. Competências Porto, 1999.

pedagógicas do professor universitário. São Paulo: Summus, 2003.

GATTI, Bernadete. Formação de professores e carreira: problemas e movimento de renovação. Campinas: Autores MOREIRA, Herivelton; CALEFFE Luiz Gonzaga. Associados, 2000.

Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

GAUTHIER, Clermont et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas. Unijui: UNIJUI, 1998.

MOROSINI, Marília Costa. (Org.). Professores do ensino superior: identidade, docência e formação. 2. ed.

GHEDIN, Evandro. (Org.). Professor reflexivo no Brasil: ampl. Brasília: Plano, 2001. gênese e crítica do conceito: Cortez, 2002. NÓVOA, Antonio (Coord.). Os professores e sua GIESTA, Nágila Caporlíngua. Cotidiano escolar e formação formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995. reflexiva do professor: moda ou valorização do saber docente? Araraquara: JM, 2001.

PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

183


PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léia.

TANURI, L. M. História da formação de professores.

Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002.

Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 14, p. 61-88, maio/jun./jul./ago. 2002.

______. Saberes pedagógicos e atividade docente. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.

PIMENTA, Selma Garrido, GHEDIN, Evandro (Org.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um

VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org.). Lições de

conceito. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

didática. Campinas: Papirus, 2006.

SHÖN, D. Formar professores como profissionais

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar.

reflexivos. In: NÓVOA, A. Os professores e sua

Porto Alegre: Artmed, 1998.

formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. ______. Enfoque globalizador e pensamento complexo: ______. Educando o profissional reflexivo: um novo

uma proposta para o currículo escolar. Trad. Ernani Rosa.

design para o ensino e a aprendizagem. Trad. Roberto

Porto Alegre: Artmed, 2002.

Cataldo Costa. Porto Alegre, Artmed, 2000. SOUSA, Oscár C . de. Aprender e ensinar significado e mediações. In: TEODORO, Antonio; VASCONCELOS, Maria Lúcia. (Org). Ensinar e aprender no ensino superior. 2. ed. São Paulo. Mackenzie, Cortez, 2005.

184


Artigo A P R Á T I C A D O C E N T E D O FISIOTERAPÊUTA: UMA REVISÃO DA LITERATURA Valdirene Ferreira dos Santos¹ Mariana de OliveiraSanchez²

RESUMO Este artigo retrata sobre a prática docente do fisioterapeuta. Com objetivos de avaliar a realidade deste exercício e a mobilização dos saberes. Pesquisa bibliográfica envolvendo docência em: Fisioterapia e superior. Os artigos revisados usaram a mesma metodologia, com abordagens sobre: prática pedagógica; exercício docente; formação pedagógica e didática do fisioterapeuta, com conclusão unânime da necessidade de formação continuada pelos docentes, para melhorar sua prática e a mobilização dos saberes. Nesta perspectiva da docência o fisioterapeuta deve estar consciente da necessidade em adquirir saberes, aprimorando a transposição da teoria através de uma prática pedagógica que favoreça alcançar os objetivos na educação. Palavras-chaves: Fisioterapeuta-professor. Docentes. Educação superior. ABSTRACT This articlereflectson theteaching practiceof the physiotherapist. In order to evaluatethe realityof this exerciseand mobilizationof knowledge. Bibliographical researchinvolvingteachingin: Physical andhigher.The reviewed articles used the same methodology with approaches to: teaching practice, teaching practice, teacher training and teaching of the physiotherapist, with the unanimous conclusion of the need for continuing education for teachers to improve their practice and the mobilization of knowledg e.In this perspectiveof teachingthe physical therapistshould be awareof the needto acquireknowledge, improving the implementation of thetheory throughapedagogical practicethat promotesachieve theobjectives in education. Keywords: Physiotherapist-professor. Faculty. Education higher.

¹ Graduada em Fisioterapia. Especialista em Programa de Saúde da Família e Fisioterapia Hospitalar. ² Graduada em Fisioterapia. Especialista em Terapia Manual. Mestre em Ergonomia. Docente e Coordenadora do curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão – FACEMA.

185


INTRODUÇÃO A docência no ensino superior é tema de estudo e análise em várias pesquisas, e quando esta técnica é desenvolvida por um profissional oficialmente graduado na área de Fisioterapia e que atua como docente, se desperta para reflexões sobre os saberes docentes por ele utilizados no seu cotidiano da transposição de conhecimentos. O processo de desenvolvimento profissional do docente se depara com uma preparação pedagógica que se relaciona diretamente com o desenvolvimento pessoal e institucional, o que promove a construção de um professor com os mais diversos saberes. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002). Falar sobre os saberes docentes remete diretamente as áreas da licenciatura e envolve a abordagem de diversos autores. O estudo dos saberes docentes na formação do professor e sua influência na prática pedagógica já é algo confirmado. Assim como o espaço prático para o exercício da mobilização dos saberes envolve teorias, conhecimento e principalmente o saber específico do docente. (FIORENTINI, 1998; TARDIF, 2007). O docente de Fisioterapia é um bacharel capacitado em ações de mecanismos terapêuticos próprios, sistematizados pelo estudo de diversas áreas, não apresentando em seu histórico disciplinas pedagógicas. (CNES/CES, 2007). Esta formação acadêmica restringe-se ao conhecimento técnico e reabilitador. Baseado nestes fatos se reflete sobre os saberes docentes, adquirido pelos profissionais graduados em licenciatura e que o professor fisioterapeuta precisará conhecer para utilizá-lo na mobilização ena transposição dos seus conhecimentos em sala de aula. Desta forma surge o interesse em revisar a literatura que trata da prática docente do fisioterapeuta e a mobilização dos seus saberes docentes, visto que, não foi preparado para a docência, contudo está em pleno exercício docente em todas as Universidades e Faculdades que oferecem o curso de Fisioterapia, trazendo assim uma expectativa por conhecer a realidade em que estes profissionais se encontram. Estes questionamentos impulsionaram a realização deste estudo, que poderá contribuir de base teórica/científica para outros pesquisas que envolvam a temática em questão, assim como no delineamento da identidade do professor fisioterapeuta. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O professor como principal fonte de informação sistematizada ao exercer sua profissão precisará obter antes de tudo: conhecimentos, saberes, 186


competência e habilidades, que o norteiam no caminhar da docência. (TARDIF, 2007).A facilitação e a orientação fornecida pelo docente exigem uma capacidade de abordagem e de estratégias metodológicas próprias que é adquirida com o preparo pedagógico fornecida pelos cursos de licenciatura. Essa característica facilita o desenvolvimento dos saberes adquiridos e sua aplicação em sala de aula, favorecendo a surgimento de habilidades e competências nos alunos proporcionando sua aprendizagem como uma construção de conhecimentos, com características de uma pesquisa científica. (ZABALZA, 2004). A prática pedagógica do professor na preparação e execução do seu ensino constitui ponto importante do exercício da docência.Produzir conhecimentos refere uma atividade do professor que leva a ação, à reflexão crítica, à curiosidade, ao questionamento exigente, à inquietação e a incerteza, é a perspectiva de se poder criar e recriar conhecimentos por professores e alunos em sala de aula, onde todos possam ser capazes de realizarem análise de pensamentos diferentes, tudo isso depende diretamente de uma variedade de saberes do professor, utilizados e adaptados para e pelo trabalho na expectativa de produzir sua própria prática profissional. (CUNHA, 2007; TARDIF, 2007). No Brasil os docentes do curso de Fisioterapia são na grande maioria fisioterapeutas, que estão submetidos ao Conselho Nacional de Educação (CNE) que juntamente com a Câmara de Educação Superior (CES) promoveu a instituição da Resolução CNE/CES no Diário Oficial da União em 13/09/2007, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Fisioterapia. Porém a LDB não exige a prioridade de capacitação pedagógica para os docentes superiores. O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO, 1993)refere que a atuação do fisioterapeuta estende-se também a área da educação.O docente de Fisioterapia tem o conhecimento técnico científico de sua área, tornando-o peça imprescindível para o cargo ecom essa visão e abordagens interdisciplinares poderão surgir características científicas, tecnológicas e pedagógicas que permeiam o exercício docente. Entretanto o conhecimento pedagógico suficiente se faz necessário neste sentido, e cabe a este profissional a busca de uma formação continuada, visto que irá deparar-se com exigências de professores críticos e reflexivos que seja capaz de contextualizar sua prática pedagógica. O órgão representativo da docência em Fisioterapia é conhecido comoABENFISIO - Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia,sendo uma entidade representativa do segmento que respalda a classe docente dos fisioterapeuta, porém a matriz curricular do curso de Fisioterapia não consta 187


de disciplinas didáticas e de pedagogia (TEIXEIRA, 2007) e os cursos de pósgraduação e extensão geralmente são direcionados à área de atuação clínica fisioterápica e não à prática docente do professor, o que caracteriza uma preocupação mais direcionada ao aprimoramento técnico específico da área clínica fisioterápica(REBELATTO E BOTOMÉ, 1999). Nesse aspecto há o questionamento em como ocorre a pedagogização de uma área por um ator dotado de um conhecimento direcionado a prática da saúde, entretanto para ser um bom professor o domínio do conteúdo teórico é essencial e a tarefa do professor consiste em transformar a matéria que ensina, para que os alunos possam compreendê-la e assimilá-la, o que é uma tarefa essencialmente pedagógica. Os docentes em Fisioterapia nessa situação estão fazendo uso apenas de alguns saberes que a vida lhe proporciona obter, deixando de adquirir uma boa formação pedagógica que requer uma instrumentalização tanto para a atuação mais imediata quanto a que considere outras dimensões como: relação professor aluno, avaliação, formação profissional e contexto social, relação teoria/conhecimento e prática. Os novos tempos são desafiadores e proporciona ao fisioterapeuta a pensar em modelos que venham a corresponderem as necessidades educacionais e refletirem criticamente as práticas pedagógicas até então desenvolvidas, o que faz deste estudo bibliográfico ter sua significância no que refere à situação em que se encontram o fisioterapeuta no exercício de sua prática docente. METODOLOGIA Esta pesquisa foi efetuada através de um levantamento de dados na literatura, de artigos de periódicos indexados no Scielo Brasil, Google Acadêmico, que descrevessem a prática docente do fisioterapeuta e/ou os saberes docentes do fisioterapeuta. Para a obtenção destas informações, contidas em bases de dados on-line, utilizou-se como palavras-chave: prática docente do fisioterapeuta, saberes docente do fisioterapeuta, fisioterapeutaprofessor, docência superior na área de saúde, docência em fisioterapia. A literatura com relação à didática superior também foi consultada, uma vez que, este assunto se apresenta distribuído em uma grande gama de conhecimentos. Segundo André e Ludke (1986) para realizar uma pesquisa “deve promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele” o 188


que se buscou neste estudo através da análise da prática docentes do professor fisioterapeuta articulando os referenciais teóricos dos autores e confrontando os dados e as informações por eles fornecidos. O estudo bibliográfico envolveu o período de 2002 a 2008 e dos 23 estudos encontrados com os descritores utilizados, todos de alguma forma, descreveram sobre a docência na área de saúde, porém apenas14 trabalhos demonstraram significativa relevância a cerca da pratica docente em Fisioterapia. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na bibliografia encontrada com relatos diretos sobre docência em Fisioterapia,foi possível observar várias abordagens que retratam a formação do fisioterapeuta-professor e todos foram unânimes em dizer da necessidade de fundamentação pedagógica deste profissional.(PIVETTA; ISAIA, 2009; PFISTER, 2006; REBELLATO; DIAS, 2005; PERPÉTUO, 2005; CASTANHO, 2002). Os 14 estudos foram pesquisados no Brasil entre os anos de 2002 a 2008 e usaram uma metodologia qualitativa associada ao uso de entrevistas semi-estruturadas, onde a região Sul e Sudeste foi exclusiva neste interesse, o Estado do Rio Grande do Sul foi o que teve maior número de trabalhos, 05 (35,71%), seguidos de São Paulo com 04 (28,57%), Minas Gerais com 03 (21,42%) e o Paraná que teve o menor número, com apenas 02 trabalhos (14,28%). Estes fatos evidenciam uma deficiência em pesquisas sobre a prática docente do fisioterapeuta nas outras regiões do país, onde se percebe uma prioridade para o estudo da formação continuada voltado apenas para professores do ensino fundamental e médio. (GATTI, 2003). As abordagens trabalhadas nos artigos foram: a prática pedagógica do fisioterapeuta, com 05 trabalhos (35,71%); seguido do exercício docente com 03 trabalhados (21,42%); a formação pedagógica foi foco de 04 pesquisas (28,57%) e a didática docente do fisioterapeuta com 02 estudos (14,28%). O que evidencia o interesse maior em estudos sobre a prática pedagógica deste profissional. O estudo de Tonani (2007) mostra que as aulas de Fisioterapia ainda são tradicionais, por meio de aulas expositivas e demonstrativas, com professores Conteudistas que usam poucos recursos didáticos e metodológicos. Para Perpétuo (2005) há uma presença forte da formação tecnicista desses professores de Fisioterapia, lembrando ainda que a educação mecanicista também foi formadora de muitos graduandos de Fisioterapia, os 189


quais muitas vezes não tiveram a oportunidade de compreender a complexidade da formação dos quais estão envolvidos e dessa forma novos profissionais se iniciaram no exercício docente. Ainda em 2007, Tonani considerou em outro estudo que não há uma demonstração pelos pesquisados sobre a relação de ser docente e ter uma formação docente, e do saber docente com sua prática. Conclusão semelhante obteve o autor Castanho (2002) ao referir que no íntimo cada docente continuam a produzir a sua própria maneira de ser professor. Enquanto Rebellato (2005) refere que os métodos pedagógicos aprendidos durante a graduação têm pouca relação com os princípios que se supõem que os docentes devam aplicar no exercício da sua profissão. A necessidade de formação docente será conseguida com a educação continuada, daí o pensamento que deve haver a inserção durante a graduação de disciplinas pedagógicas e a importância da pós-graduação, onde a formação pedagógica seja essencial para o planejamento, organização e implementação do processo de ensino-aprendizagem. (TONANI, 2007; CASTANHO, 2002; CONTERNO, 2007; MORAES, 2008; REBELLATO, 2005; PFISTER, 2006; KULCZYKI, 2002; RODRIGUES; CONTERNO, 2009). Para Pivetta e Isaia (2006) o aprendizado do ser professor se dar através de trocas interpares, com os alunos e a própria prática pedagógica e das reuniões docentes com as trocas de experiências, recebendo também, influência das Instituições de Ensino Superior quanto ao seu projeto político pedagógico como incentivador na formação continuada dos docentes. Contudo, Rodrigues e Conterno (2007) relatam que a formação pedagógica requer uma instrumentalização, para que haja uma atuação mais imediata. Freitasl Seiffertll (2003) estudaram a presença de disciplinas didáticopedagógicas nos programas de pós-graduação strictu sensu nos anos de 1988 a 2003revelando a influência da disciplina na atuação da docência desses egressos, indicando sua importância para o processo de formação docente do magistério superior em saúde, assemelhando aos autores anteriores. Estes resultados criam uma oportunidade para se repensar no processo de ensino-aprendizagem como propiciador do entendimento entre as relações dos sujeitos, sociedade, da formação profissional e formação para a docência, na expectativa de superar a visão tecnicista e o paradigma da objetividade e da neutralidade nas práticas cotidianas de sala de aula e de atuação profissional. CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação é uma arte que, contudo convém ser exercida com muita 190


técnica, onde muitos precisam dos cursos de licenciatura e muitos acreditam que a experiência de vida associada ao conhecimento específico é o suficiente para o exercício da docência. Na revisão dos 14 estudos pertinentes a prática docente do fisioterapeuta foi possível concluir que todos usaram a mesma metodologia e os resultados foram unânimes quanto à necessidade de formação continuada pelos docentes, onde uma melhor mobilização da prática docente só será conseguida por meio de dedicação e busca própria de formação em educação. Alguns autores também defendem a inclusão de disciplinas pedagógicas nos curso de graduação, por acreditarem que a existência da didática permitirá ao professor de outra área pedagogizar a sua convertendo-as em matéria de ensino. Os trabalhos foram publicados de 2002 a 2008, todos no Brasil, com a região Sul e Sudeste exclusivos no estudo desta temática. Os artigos usaram 04 tipos de abordagens sobre a docência em Fisioterapia:a prática pedagógica foi a mais estudada com 05 trabalhos (35,71%); o exercício docente do fisioterapeuta com 03 trabalhados (14,28%); a formação pedagógica com 04 pesquisas (28,57%) e a didática docente do fisioterapeuta com 02 estudos (14,28%). Neste sentido observou-se que o fisioterapeuta dentro da perspectiva da docência enquanto profissão deve estar consciente da necessidade de adquirir saberes para ao exercício da docência, percebendo que deve existir antes e acima de tudo uma interação e pertinência de conceitos e sujeitos em contínua ligação e desenvolvimento, pois o bom professor está intensamente direcionado na busca de uma perfeita articulação em como transpor a teoria através de uma prática pedagógica que lhe permita alcançar os seus objetivos na educação. REFERÊNCIAS

COFITTO. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional: Resolução nº 153, de 30 de Novembro de

ANDRE, M.; LUDCKEM, M. Pesquisa em educação: 1993. Diário Oficial da União nº. 247 - de 28.12.93, Seção I, Pág. 20925. abordagens qualitativas. EPU: São Paulo: 2003. CASTANHO, M. E. Professores de Ensino Superior da CUNHA, M. Isabel. O bom professor e sua prática. área da Saúde e sua prática pedagógica. Interface: Campinas: Papirus, 2007. (Coleção magistério: formação e comunicação, saúde e educação, v. 6, n. 10, p. 51-62, 2002.

trabalho pedagógico).

CNE/CES. Conselho Nacional de Educação; Câmara de FIORENTINI, Dario et al. Saberes docentes: um desafio Educação Superior. Resolução CNES/CES 4. Diário para acadêmicos. In: GERALDI, Corinta Maria Grisolia et Oficial da União, 2007.

al (Org.). Cartografias do trabalho docente: professo(a)Pesquisador(a). Campinas: Mercado de Letras, 1988.

191


GATTI B. A. Formação continuada de professores: a <ww.ufsm.br/gtforma/.../98ee284913cd441b208ec8d questão psicossocial. Cadernos de Pesquisa, n. 119, p. 191- 0960657ef.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2012. 204, jul. 2003. ______. Concepções de formação e docência dos KULCZYCKI, M. M. BERTONI PINTO, N. professores do curso de Fisioterapia do Centro Fisioterapeuta-professor: práticas pedagógicas e saberes Universitário Franciscano. Dissertação de mestrado. Rio docentes. Revista Diálogo Educacional, v. 3, n. 5, p. 75-85, G r a n d e d o S u l . 2 0 0 6 . D i s p o n í v e l e m : jan./abr. 2002.

<www.ufsm.br/gtforma/.../5dc3eeabacd7a876fcef8a3f88 505d80.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2012.

MORIM, E. Introdução ao pensamento complexo. REBELLATO, C; PAULA DIAS, I. A. Formação do fisioterapeuta docente: aspectos de formação na contemporaneidade. Anais: 2º Seminário Nacional do MORAES, M. V. S; PAGNEZ, K. S. M. A. Função Estado e Políticas Sociais no Brasil – UNIOESTE. Rio educativa dos profissionais da fisioterapia: contexto Grande do Sul. 2005. político e prático. Rio Grande do sul. 2007. REBELATTO, J. R. BOTOMÉ, S. P. Fisioterapia no Brasil: fundamentos para uma ação preventiva e perspectivas PERPÉTUO, A. M. A. A Prática pedagógica do profissionais. Barueri: Manole, 1999. fisioterapeuta docente. Dissertação de mestrado. Paraná: Instituto Piaget, 1991.

[s.

n.],

2005.

Disponível

e m : RODRIGUES, R. M; CONTERNO, S. R F. Formação < w w w . b i b l i o t e c a . p u c p r . b r / t e d / t d e pedagógica na visão de docentes da graduação da área de busca/processaArquivo.php?>. Acesso em: 10 jan. 2012. saúde no Brasil. Revista Enfermería Herediana. Paraná, v. 2, n. 1, p.3-10, 2009. PFISTER. A.P. L. Formação pedagógica dos professores TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 8. de fisioterapia de uma universidade do Estado de Minas ed. Petrópolis: Vozes, 2007. Gerais: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado. São TEIXEIRA, C. B. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Fisioterapia: o perfil do <www.promocaodesaude.unifran.br/../ANA_PAULA_ fisioterapeuta. Dissertação de mestrado. Universidade FISTER pdf>. Acesso em 15 abr. 2012. Tuiuti do Paraná, Paraná, 2004. Pa u l o.

2 0 0 6 .

D i s p o n í v e l

e m :

PIMENTA, S. G; ANASTASIOU, L. G. C. Docência no TONANI, R. L. A informática educacional e o professor de fisioterapia: estudos sobre busca e produção de ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002. conhecimentos dadisciplina no processo de ensinoaprendizagem. Dissertação de mestrado. Belo Horizonte. PIVETTA. H. M. F; ISAIA, S. M. A. Aprendizagem 2007. Disponível em: <www.et.cefetmg.br/.../3f945bffDocente a partir da Reflexão Grupal na Docência 14ce-11df-b95f-00188be4f822.pdf>. Acesso em: 13 jan. Superior. Anais: IX Congresso Nacional de Educação – 2012. EDUCERE. III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagioa

______. A percepção do professor acerca do uso da – PUCPR. p. 6021-6032. 2009. Disponível em: informática educacional no ensino de fisioterapia. <www.ufsm.br/gtforma/formularios_estagio2.php>. Dissertação de mestrado. Belo Horizonte. 2007. Disponível em: <www.et.cefetmg.br/.../3f945bff-14ce-11df-b95fAcesso em: 29 jan. 2012. 00188be4f822.pdf>. Acesso em 14 jan. 2012. ______. Aprendizagem Docente: concepções de ZABALZA, Miguel A. O ensino universitário: seu cenário e professores de ensinosuperior. Dissertação de Mestrado. seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed. 2004. Rio Grande do Sul. 2006. Disponível em:

192


Ensaio

AVALIAR: UM ATO QUE EXIGE MUDANÇAS Cacilda Figueiredo Neri de Aguiar¹

¹Graduada em Pedagogia. Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Avaliação Educacional e Educação à Distância. Mestre em Ciências da Educação. Docente do Centro de Estudos Superiores de Caxias/CESC da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA.

193


INTRODUÇÃO Em diferentes países, inclusive no Brasil, a avaliação educacional vem sofrendo uma transformação radical, principalmente, no que se refere a seus objetivos anteriormente restritos ao rendimento do aluno, passando a ter outras dimensões tais como: auxiliar o ensino e orientar a aprendizagem; obter informações sobre o aluno, o professor e a própria instituição educacional; e ainda servir como um instrumento para certificar a capacitação do aluno. A partir dessa constatação, pode-se perceber que a questão da avaliação pressupõe uma discussão bem mais ampla, a partir da sua finalidade. A avaliação vai variar, de acordo com os fins a concretizar. Por exemplo, uma avaliação destinada a apoiar os processos de ensino-aprendizagem, oferecendo informações ao aluno e ao professor é, necessariamente, diferente da que visa proporcionar elementos para julgar a qualidade de uma instituição. No que se refere à avaliação do desempenho acadêmico, outro aspecto importante a considerar é o tipo de aprendizagem a ser promovido, e, conseqüentemente, a articulação entre ensino, aprendizagem e avaliação. Se o ensino se baseia exclusivamente na transmissão pura e simples de conhecimento, não é possível, mais tarde, avaliar habilidades complexas que não foram desenvolvidas. Assim, para que a avaliação possa refletir uma preocupação maior com o desenvolvimento de habilidades mais complexas e desejáveis em todos os alunos, como o uso, a análise e a interpretação de diferentes elementos, é preciso que este seja também o objetivo do ensino e não apenas da avaliação. O processo de avaliação está relacionado com o processo de aprendizagem. Quando professor e aluno estão empenhados em conseguir uma aprendizagem, é fundamental e imprescindível que ambos possam contar com um conjunto de dados e informações que lhes indiquem se a aprendizagem está sendo conseguida ou não, se estão caminhando em direção ao conjunto terminal pretendido, ultrapassando os pontos intermediários de forma sucessiva e cumulativa, ou se desviando dele. Como consequência dessa constatação, professor e aluno tomam a decisão de se manterem na reta estabelecida e progredirem ou de redirecionála, para que a aprendizagem seja completamente efetivada. Trata-se, portanto, de um processo de aprendizagem que, para ser levado a bom termo, conta com um processo de avaliação. Assim concebido, este processo de avaliação passa a ser parte integrante do processo de aprendizagem, parte necessária, fundamental, imprescindível e essencial. A partir dessas colocações, é necessário ressaltar que a falta de articulação entre o ensino, a aprendizagem e a 194


avaliação geram problemas difíceis de serem superados. Dentre as várias finalidades da avaliação, tais como: analisar políticas, instituições, currículos, metodologias, conceder graus ou diplomas, considerase como uma das mais importantes o acompanhamento dos alunos em sua trajetória educacional. O processo de avaliação deverá estar voltado para o desempenho do aluno, isto é, para a atividade do aluno enquanto realiza ou não o que foi planejado, e se realiza adequada ou inadequadamente. Quando se fala isso, se quer dizer que é importante acompanhar o desenvolvimento do aluno, a partir do desempenho concreto em cada uma das atividades e procurar o máximo de objetividade para colaborar com a evolução do próprio aluno em direção aos objetivos. No que se refere à avaliação do desempenho acadêmico, [...] tomando como referência os objetivos, é preciso que se repensem formas de avaliação do desempenho acadêmico que reflitam especificidades de cada curso e generalidades da Universidade. Se, por um lado, tem-se em mira a formação de um determinado profissional, suposto nos objetivos do curso, por outro lado é necessário que não se omita que a Universidade se coloca a serviço de uma elaboração e reelaboração constante da ciência. A simples avaliação do produto deixa a desejar, quando se percebe que ao profissional o conhecimento não basta, mas faz-se necessário ao domínio das formas de aquisição desse conhecimento, para sua auto- capacitação. (RAPHAEL, 1997, p. 123).

Como a função da Universidade é o ensino, a pesquisa e a extensão, é necessário que a avaliação de ensino-aprendizagem leve isso em conta, pois se a mesma se baseia apenas nos conhecimentos adquiridos pelo aluno, será incompleta. É necessário enfocar aspectos de investigação pelo aluno e professor, pois o domínio de instrumentos de investigação é tão importante quanto a assimilação do conhecimento historicamente acumulado até a atualidade. É fundamental que a Universidade se preocupe com a formação de pesquisadores e de profissionais com a capacidade de investigação na sua área. É necessário que se estimulem, junto aos alunos, tarefas de investigação diversificadas, pois isto garantirá a autonomia profissional. A avaliação do aluno auxilia Faculdades e Universidades a definirem seu papel, a explicar suas crenças, suas expectativas, o que desejam como produtos finais e ajuda, igualmente, na determinação do alcance ou não dos objetivos previstos para a 195


formação dos estudantes. Entretanto, acompanhar e avaliar são tarefas árduas que exigem, consideração, não só dos aspectos técnicos da avaliação, mas da ética pela qual esse processo é realizado. Assim, antes de especificar o que se deseja como resultado da análise dos desempenhos dos alunos, torna-se fundamental refletir sobre as finalidades da avaliação, o que nos indicará a importância de conhecer os aspectos epistemológicos do ato de avaliar. Assim, definir a finalidade da avaliação e decidir PARA QUE AVALIAR vai depender do paradigma epistemológico que reflete sua concepção de educação, de aprendizagem, de homem e de sociedade e que, portanto, orienta sua pratica educativa. Resumidamente, pode-se dizer que a definição do PORQUÊ, do QUE, e do COMO avaliar pressupõe tanto uma concepção de homem como uma concepção de mundo da universidade. MUDANÇAS DE PARADIGMAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO Sabe-se que é preciso levar em conta, que se vive em um mundo sob o impacto de diferentes revoluções e que é necessário viver e conviver com as mudanças de paradigmas. A escola e o professor precisam repensar suas funções. O conhecer pelo conhecer não é importante, é preciso levar em conta que a verdadeira aprendizagem envolve elementos básicos que são o pensar e o raciocinar. Desta forma, as metodologias de ensino e a avaliação do rendimento acadêmico, devem adotar práticas que estejam em harmonia com as atuais concepções de aprendizagem. Na última década, a avaliação, tem vivido um momento de mudança de paradigma, passando de um modelo baseado na psicometria tradicional para procurar se estruturar com base na compreensão das teorias da aprendizagem. Seus objetivos, antes restritos ao rendimento, buscam outras dimensões como as de auxiliar o ensino e orientar a aprendizagem, obter informações sobre o aluno, o professor e a instituição educacional, e servir como instrumento para certificar a capacitação do aluno. É preciso, então, pensar em novas formas de avaliação dos alunos que reflitam essas concepções de aprendizagem; ao mesmo tempo, é necessário considerar que a avaliação venha a ter um impacto positivo sobre o ensino e a aprendizagem. Interpretar, analisar, argumentar e criticar, são habilidades que todos os alunos devem possuir como resultado do processo instrucional e precisam ser avaliadas constantemente ao longo do período de escolaridade, 196


visto que, sem elas não se efetiva a aprendizagem. Assim, o desempenho acadêmico, por sua natureza, não deve ser medido por instrumentos presos aos cânones psicométricos, porque valorizam aspectos técnicos da avaliação, ou mais propriamente, aspectos da medida. É preciso conceber os instrumentos de forma que o aluno revele a compreensão de princípios, aplique os conhecimentos, saiba analisar e discutir assuntos complexos e tenha condições de solucionar problemas que ocorrem no dia-a-dia. O avaliador muitas vezes acaba se prendendo à rotina de velhos modelos, que já foram superados pelos novos conhecimentos existentes sobre a aprendizagem. O tradicional, ora fundamentado em ideias de que para ensinar há necessidade de atomizar os conhecimentos mais complexos, acaba por traduzir a concepção de que a avaliação que procuram verificar elementos isolados, como avalia Vianna (1997, p. 40): O legado da psicometria clássica constitui-se em um obstáculo para o desenvolvimento da avaliação educacional: ênfase à posição relativa dos indivíduos, concentração em variáveis quantificáveis, instrumentos padronizados e normas, além da aceitação tranquila da ideia de que as variáveis humanas se distribuíram segundo o modelo de uma função matemática – a curva de Gauss – entre outros aspectos mais, e esta herança criou uma “cultura” da avaliação entre os professores que não correspondem mais aos atuais propósitos da avaliação associada ao processo ensino-aprendizagem.

Ao avaliar, é preciso ter em mente que a aprendizagem não é um simples registro de informações, ela ocorre na medida em que essas informações são interpretadas e constituem um todo integrado capaz de oferecer a base de sustentação para novas aprendizagens. A aprendizagem ocorre, pois, no contexto de uma estrutura de conhecimentos. No que se refere aos instrumentos empregados para avaliar o aluno, muitas vezes os mesmos incidem sobre aspectos triviais, com tarefas que exigem níveis elementares de elaboração mental. O conhecimento que é exigido fica restrito a um conjunto de informações isoladas que não se integram na organização de um todo mais elaborado. É inteiramente sem sentido uma avaliação que se restringe a verificar conhecimentos atomizados, o simples reconhecimento de fatos, como se pode constatar na grande maioria dos instrumentos usados ao nosso contexto 197


educacional, em todos os seus graus de ensino. É necessário que a avaliação contemple diversos níveis de compreensão. Acredita-se, que não é possível avaliar tudo, pois os instrumentos são apenas uma amostragem de conhecimentos e habilidades desenvolvidas, mas não se pode esquecer que é preciso ter a comprovação daquilo que os instrumentos estão efetivamente medindo. Cabe ao professor, definir novos modelos de avaliação que privilegiem o exercício do pensamento e a habilidade de solucionar problemas, minimizando a simples memorização. A partir das considerações feitas, um instrumento ideal de avaliação, seria aquele que além das habilidades de raciocínio, pensar e solucionar problemas, refletisse a aprendizagem de conceitos, sua compreensão e a habilidade de estabelecer comparações entre os mesmos. CONSIDERAÇÕES FINAIS É necessário compreender que avaliar exige um estado de alerta permanente, que avaliar é criar e recriar e não repetir o que os outros dizem. Como afirma Saul (2006) o ato de avaliar é um ato consciente e crítico que tem por objetivos, iluminar o caminho da transformação. Não se pode afirmar, contudo, que a avaliação, por si transformaria o social, ainda que se possa dizer que é uma maneira de se contribuir para que esta transformação aconteça. Esta afirmação deve ser esclarecida aos educadores, para que no futuro não pensem que apenas a avaliação pode mudar a sociedade, esquecendo-se de que esta faz parte do processo ensino-aprendizagem, que por sua vez, faz parte da educação, que está completamente ligada com as outras partes da sociedade. Eles não podem perder essa visão de totalidade do ato educativo, como afirma Hoffmann (2005), a construção do resignificado de avaliação pressupõe dos educadores um enfoque crítico de educação e do seu papel social. Diante dessa reflexão realizada, é necessário alertar aos educadores que a mudança da prática não se restringe apenas ao abandono de procedimentos anteriores, mas a visão de educação que o educador possui. A postura do educador determinará sua prática, por isso, torna-se indispensável que os educadores, tanto de jovens e de adultos quanto de crianças, percebam que no momento em que avalia alguém, também o forma. É possível, mesmo diante de obstáculos e incertezas, buscar uma nova perspectiva dentro da prática avaliativa que ponha em esquecimento o rótulo e a classificação. É importante que a avaliação tenha sabor de recomeço, de fazer melhor, do construir e reconstruir, de continuar. É importante que a avaliação seja vista como um processo e não como um fim em si mesmo, como um 198


processo dialético. O professor precisa abandonar para sempre a prática unilateral de avaliação que o conduz a um autoritarismo com lamentáveis consequências sociais e pessoais para a formação do seu aluno. Permitir que o aluno participe de todas as etapas do processo de avaliação é acreditar no indivíduo como ser humano autodeterminado, capaz de construir seu destino, sendo sujeito e paciente de sua própria história de vida. Este é, essencialmente, o significado de educação para aqueles que acreditam em dias melhores, onde não haverá lugar para os que apenas se utilizam da educação, como uma arma vigorosa, para manter suas posições privilegiadas. REFERÊNCIAS DEY, Eric L; FENTY, Joseph; VIANNA, Heraldo Marelin. Técnicas e instrumentos de avaliação. Brasília: Universidade de Brasilia, 1997. 1 v. HOFFMANN, Jussara. Avaliação, mito e desafio: uma perspectiva construtivista. 36. ed.

Porto Alegre:

Mediação, 2005. RAPHAEL, Hélia Sônia. Avaliação: questão técnica ou política. In: FRANCO, Maria Laura P. Barbosa; METS, Lisa A. Avaliação de currículos e programas: leituras complementares. Brasília: Universidade de Brasília, 1997. SAUL, Ana Maria. Avaliação emancipatória: desafio à teoria e à prática de avaliação e reformulação do currículo. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

199


200


Empreendedorismo, Tecnologias & Inovação


202


Artigo EMPREENDEDORISMO: O CAMINHO DA INOVAÇÃO E DO SUCESSO DAS ORGANIZAÇÕES MODERNAS Jordania dos Santos Silva¹ Ana Elizabeth Araújo da Silva Félix²

RESUMO A ação de empreender é um campo de estudo que permeia o mundo dos negócios, visando compreender como as oportunidades para criar produtos ou serviços surgem na esfera organizacional. A referida ação tem suas bases assentadas com raízes na Sociologia, já que alcança sempre a sociedade pelo viés do homem, a Economia, uma vez que se processa através do investimento capital, com riscos e vantagens competitivas, com a Administração, o centro de pensar as negociações e gerenciamentos. Este estudo visa trazer à baila essa nova roupagem de investimento nas organizações atuais, cujo nascedouro foi demarcado em meados do século XV. Palavras-chave: Empreendedorismo. Oportunidade de negócios. Organizações modernas. ABSTRACT The action is to undertake a field study that permeates the business world, aiming to understand how opportunities to create products or services appear in the organizational sphere. Such action has laid its foundations with roots in sociology, as it always reaches the society from the perspective of man, economics, since it is processed through the capital investment, with risks and competitive advantages, with the Administration, the center of thinking negotiations and management. This study aims to bring up this new package of investment in today's organizations, whose birthplace was marked in the mid-fifteenth century. Keywords: Entrepreneurship. Business opportunity. Modern organizations.

¹Graduada em Administração. Pós-Graduanda em Pedagogia Empresarial e Gestão de Pessoas. Tutora do Curso de Administração da Faculdade Anhanguera/UNIDERP - Pólo Caxias-MA. Docente da Faculdade Vale do Itapecurú - FAI. Coordenadora Adjunta do Curso de Administração da FAI. Professora do CESTI/UEMA, da Faculdade de Ciênc ias e Tecnologia do Maranhão. Orientadora da Pesquisa.

203


UM POUCO DE HISTÓRIA: RESGATANDO O TERMO EMPREENDEDORISMO O termo empreendedorismo vem do Latim: IMPREHENDERE = aquele que investe (séc XV); do Francês: L'ENTREPRENEURIAT = aquele que assume riscos e começa algo novo (séc.XX) ; e do Inglês: ENTREPRENEURSHIP = aquele que executa. (séc. XX). Só no início do século XX, a palavra empreendedorismo foi utilizada pelo economista Joseph Schumpeter no ano de 1950. Segundo as ideias pontuadas por esse teórico, de uma maneira bem elementar, pode-se dizer que uma pessoa sem estudos aprofundados, no entanto que possua certo grau de criatividade capaz de apresentar um diferencial de construir algo inédito e inovador, pode ser considerado como um empreendedor nato. Mais tarde, em 1970 com os estudos sobre empreendedorismo encaminhados pelo teórico Peter Drucker, introduziu-se na ação de empreender o conceito de risco, mostrando que para uma pessoa empreender é necessário que ela corra riscos. Os riscos são necessários, segundo estudos de Drucker, (1986) para o empreendedor alcançar o sucesso no produto ou serviço que cria. Mais tarde, em 1985 com Pinchot foi introduzido o conceito de intra-empreendedor, que se configura em colaborador que, sendo partícipe de uma organização, nela busca inovações constantes através do ato de empreender, favorecendo o espaço em que seus serviços presta. Indo bem mais além nas raízes do empreendedorismo, Dornelas (2001) faz uma retrospectiva histórica e identifica que a primeira definição do empreendedorismo foi registrada ainda por Marco Pólo, que caracterizava o ato empreendedor como aquele que assume os riscos de forma ativa,sendo estes riscos físicos e emocionais, já o capitalista, assume os riscos de forma passiva ou seja, de forma calculada. (DORNELAS, 2001). Na Idade Média, o empreendedor passa a gerenciar grandes projetos de produção com financiamento governamental, pois o capital financeiro ainda era visto como principal instrumento para o processo produtivo. A ação de empreender se reconfigura novamente no século XVII, época em que surge a diferença entre empreendedor e capitalista, sendo visto na figura do empreendedor, alguém que está sempre inovando em suas ações e produtos e o capitalista sendo a pessoa que apenas investe o capital financeiro para que aquelas ideias inovadoras sejam postas em prática. No entanto, só mesmo no século XVIII, foi que ficou explícita a diferença entre empreendedor e capitalista; de certo modo, acredita-se que essa diferença tenha sido, de fato reforçada e redimensionada no advento da Era Industrial, ou seja, a industrialização do mundo, período em que o homem deixa de ser objeto da ação e passa a ser sujeito desta ação. Com as mudanças históricas, o empreendedor ganhou novos conceitos, novas definições, como bem coloca Drucker, “o empreendedor é aquele que tem a capacidade de identificar oportunidades para explorá-las, tomando iniciativa de reunir, organizar ou administrar recursos assumindo riscos e comprometendo-se com os resultados”. (DRUCKER, ANO, apud DORNELAS, 2007, p. 6). Segundo o autor, o empreendedor busca identificar oportunidades onde outras pessoas não conseguem identificar, e a partir delas, tomam as iniciativas necessárias para fazer a diferença naquele mercado de prestação de serviço, mesmo correndo risco, já que o risco faz parte de toda ação empreendedora. 204


Contudo, uma definição de empreendedor que atende o momento atual é de Dornelas (2008, p. 13), que está entrelaçada a outras tantas definições cuja essência diz: Identificar, analisar, e implementar as oportunidades de negócio, tendo como foco a inovação e a criação de valor. Com essas palavras o autor caracteriza a ação empreendedora em todas as suas etapas, ou seja, criar algo novo, identifica uma oportunidade, com dedicação e persistência na atividade que se propõe a realizar para alcançar os objetivos pretendidos e ousadia para assumir os riscos que deverão ser calculados e previstos durante a execução da ação. A gênese do empreendedorismo Ao estudar o empreendedorismo cada autor busca seu campo de pesquisa ou área de atuação que mais se identifica, procurando assim se familiarizar com a temática abordada para depois formular seus próprios conceitos ou definições. Duas linhas principais tendem a conter objetos comuns na maioria delas. Entre eles destacamos: os economistas, que associaram o empreendedor à inovações, mudanças, ideias inovadoras e os comportamentalistas, que enfatizam aspectos atitudinais, como a criatividade e a intuição das pessoas que se sobressaem naquilo que realizam. É necessário avaliar com atenção a crença popular de que o empreendedorismo surgiu só das ciências econômicas. É importante asseverar uma leitura atenta dos dois primeiros autores normalmente identificados como pioneiros no campo — Cantillon (1680-1734) e Say (1767-1832) — pois, Cantillon e Say não estavam interessados apenas em economia. Considerando que somente no século XX a Administração surge como ciência, até então aqueles que se interessavam pelo estudo de empresas, criação de novos empreendimentos e gerenciamento de negócios poderiam ser enquadrados como economistas. Say e Cantillon possuíam formação em Economia, no entanto interessavam-se, também, por gestão de empresas. Cantillon revelouse um homem em busca de oportunidades de negócios, preocupado com o gerenciamento inteligente de empresas e a obtenção de rendimentos otimizados para o capital investido. Say foi considerado um visionário do século XIX, pois para ele não existiam limites para o enriquecimento de uma nação. O bem-estar de um país dependia da sua população ativa, do progresso técnico, do dinamismo de seus empresários. A palavra empreendedor, tem uma dimensão ampla, pois é utilizada para designar principalmente as atividades de quem se dedica à geração de riquezas e criação de produtos e serviços diferenciados, seja na transformação de conhecimentos em produtos ou serviços, na geração do próprio conhecimento para inovar em áreas como marketing, produção, organização ou em outros setores organizacionais. No entanto, foi Schumpeter na primeira década do século XX quem realmente lançou o campo do empreendedorismo, associando-o mais claramente à inovação, afirmando: A essência do empreendedorismo está na percepção e no aproveitamento das novas oportunidades no âmbito dos negócios [...] sempre tem a ver com criar uma nova forma de uso dos recursos nacionais, em que eles sejam deslocados de seu emprego tradicional e sujeitos a novas combinações. (SCHUMPETER, 1988, p. 57).

205


Schumpeter não só associou os empreendedores à inovação, como também apontou em sua significativa obra “A Teoria do Desenvolvimento Econômico” sua representatividade como propulsores do desenvolvimento econômico. Para Schumpeter (1988), a economia evoluía através de ciclos de desenvolvimento, alternando-se às depressões. O estímulo para o princípio de um novo ciclo econômico mais próspero viria das inovações tecnológicas introduzidas pelos empreendedores. Segundo Say, o empreendedor é alguém que inova constantemente sendo um agente de mudanças. O empreendedorismo é uma área que vem conquistando o mundo todo como uma velocidade impressionante, envolvendo varias áreas tais como: tecnologias, novas formas de comercialização, novos mercados, criação de valores em novos produtos e serviços. O empreendedor é alguém capaz de desenvolver uma visão inovadora e criativa, sabendo persuadir terceiros, sócios, colaboradores, investidores, convencê-los de que sua visão e ação empreendedora poderá levá-lo a uma situação confortável e segura no futuro bem próximo. Utilizando de suas energias, perseverança, confiança e criatividade, o empreendedor em um curto espaço de tempo um império que fará dele um diferencial no mercado de trabalho. Entre os atributos que faz de um bom empreendedor, uma pessoa de sucesso, estão a capacidade de identificar, agarrar e buscar recursos para aproveitar uma oportunidade que surgir em sua frente tendo coragem de assumir riscos e não tendo medo de transformar seus sonhos em realidade. Algumas características nos fazem diferençar o empreendedor de um comerciante comum: o empreendedor percebe o mercado de forma diferenciada, o comerciante comum vê apenas o comércio e a potencialidade de venda; o empreendedor vê o que os outros não percebem, têm a motivação para ir em frente mesmo correndo riscos, está sempre preparado para o desconhecido, bem como para conhecer formas e meios de análises do negócio, do mercado e de si mesmo para perseguir o sucesso com passos firmes e ações inovadoras. Percurso histórico do empreendedorismo sob a ótica das teorias administrativas Segundo Daft (1999) as organizações são entidades sociais, dirigidas por metas, projetadas como sistemas de atividades, deliberadamente estruturadas e coordenadas sendo interligadas aos ambientes externos, elas são unidades sociais, que foram intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos específicos para seu pleno desenvolvimento. Administrar estas organizações nessa sociedade moderna tem sido um constante desafio, pois embora a história da administração constituiu-se como uma constante luta pela ordem, pelo controle e pela previsibilidade, administrar as mesmas está cada dia mais desafiador. As teorias administrativas foram fortemente influenciadas pelo pensamento cartesiano pois utilizavam-se de modelos mecanicistas para alcançarem o sucesso das organizações dentro da sociedade na qual ela se encontrava. A atuação em um ambiente globalizado exige das organizações uma nova percepção ou seja, uma nova roupagem onde torna-se necessário ver o todo e não apenas as partes, pois é através desse todo que as parte se constituem e a partir daí que as 206


organizações para serem competitivas, necessitam aprender a competir com cooperação e com interação com o ambiente no qual elas se encontram. A sociedade industrial ou sociedade das máquinas, surgiu sob a ideia do qual, os fenômenos podem ser observados em partes, reduzidos em unidades básicas para que depois de analisados separadamente, o todo seria a soma de todas as partes juntas. Essa ação reducionista permitiu criar modelos, fazer categorizações, controlar, mas também criou obstáculos à compreensão de mudanças nessas organizações e na sociedade. A ciência das organizações oriunda deste contexto reducionista teve seu êxito em seu tempo, mas agora está fadada ao abandono, pois em pleno século XXI essas teorias não são aceitas e nem implantadas pelos atuais administradores nem muito menos pelos os administradores empreendedores. A literatura que discorre sobre as organizações tem mostrado que as teorias administrativas evoluíram gradativamente e de forma bastante abrangente, principalmente na sociedade da informação e do conhecimento. Nesse sentido, Betman e Snell (1998) nos levam a refletir que, até a primeira metade do século XX, as organizações eram vistas como sistemas fechados, ou seja, sua ênfase era dadas às forças do ambiente externo e que suas preocupações eram apenas com os métodos e processos produtivo de trabalho. As organizações visualizavam o ser humano como maquina, sendo sua única função produzir, por isso que nesse século tinha-se a ideia de homem-máquina, cujas ações eram planejadas e operadas com rigorosa precisão, regidas a luz da burocracia existente, e acreditava-se que as conclusões obtidas em uma empresa seriam generalizáveis para todas as organizações existentes. Já a administração científica, divulgada neste contexto, teve como pioneiro Frederick Taylor (1964), que afirmava que as decisões administrativas deviam ser baseadas num estudo científico aprofundado. Ao propor este estudo de tempos e movimentos, onde o cronômetro era o instrumento básico e indispensável, procurava medir o tempo de cada um dos movimentos elementares dos operários dentro da atividade produtiva buscando minimizar o tempo ideal de uma produção. Inspirado na Lei de Termodinâmica de Carnot, este buscava a maximização da eficiência de cada uma das atividades o que permitiria a maximização da eficiência industrial (BAUER, 1999). Daft (1999. p. 8) resume o estudo das organizações como sistemas fechados: Um sistema fechado não dependeria de seu ambiente; ele seria autônomo, encerrado e isolado do mundo externo. Embora este sistema realmente fechado não possa existir, os primeiros estudos organizacionais focalizavam sistemas internos. Os primeiros conceitos gerenciais, incluindo o gerenciamento cientifico, estilo de liderança e engenharia industrial, consistiam em abordagem de sistemas fechados porque tomavam o ambiente por certo [...] o ambiente seria estável e previsível, e o único problema do gerenciamento seria fazer tudo funcionar eficientemente. (DAFT, 1999, p. 8).

As organizações que eram caracterizadas pelo comportamento racional encontravam bastante dificuldades em não conseguir interagir com a totalidade do ambiente onde estão inseridas.

207


O EMPREENDEDOR E O PAPEL QUE EXERCE NAS ORGANIZAÇÕES O empreendedorismo é uma criação de valor existente entre pessoas e organizações trabalhando juntas para implementar uma idéia por meio da aplicação de criatividade, capacidade de transformação e o desejo de tomar aquilo que comumente se chamaria de risco em uma ação concreta. O empreendedorismo deve ser considerado como o despertar do indivíduo para o aproveitamento integral de suas potencialidades racionais e intuitivas dentro das organizações que ele se encontra. Ou seja, é a busca do autoconhecimento em processo continuo de aprendizado, com atitude de abertura para novas experiências e novos paradigmas que apareceram. Portanto, é uma questão de liberdade individual, que qualquer pessoa pode ativar a motivação para o ato de empreender. Conforme Chiavenato (ANO apud DORNELAS, 2008, p. 17), empreendedores são “heróis populares do mundo dos negócios. Fornecem empregos, introduzem inovações e incentivam o crescimento econômico”. Ainda, segundo o mesmo autor, poderá ser um empreendedor o desempregado que se torna camelô, o dentista que abre um consultório, o técnico que cria uma fábrica ou o insatisfeito com o emprego que se demite e abre uma loja num ramo de atividade na qual ele tem uma maior afinidade com o negócio que venha a empreender. Contudo, a definição é mais ampla. O empreendedor é a personalidade criativa, sempre lidando melhor com o desconhecido, transformando possibilidades em probabilidades, caos em harmonia. Segundo Filion (2000), o empreendedor é uma pessoa que empenha toda sua energia na inovação e no crescimento, manifestando-se de duas maneiras: criando empresas ou desenvolvendo alguma coisa completamente nova em uma empresa pré-existente. Ou seja, quando o mesmo não em sua empresa sua e empreende em empresas de terceiros. Dornelas (2001) apresenta a definição de Schumpeter (1949) talvez uma das mais antigas, porém eventualmente a que melhor reflita o espírito empreendedor: “o empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais”. (DORNELAS, 2001, p. 37). Evidencia-se, a partir da reflexão de Schumpeter, que o espírito empreendedor provoca mudanças radicais na condução e execução de uma oportunidade de negócio, para a obtenção do sucesso no empreendimento, uma vez que o novo deve fazer parte desse contexto já que se constitui como peça fundamental para atrair clientes e/ou serviços. Oportunidade de negócios: o viés de um empreendedor nato O empreendedor busca sempre ao exercer atividades de empreendimento, visualizar uma oportunidade de negócios que seja favorável a ele e a organização em que atua. No entanto, para que ele perceba tal oportunidade, é necessário que tenha duas características em seu espírito empreendedor, quais sejam: a predisposição e a criatividade. No que concerne a predisposição, o empreendedor busca aproveitar todo e qualquer ensejo para conhecer, observar e analisar os negócios ao seu redor. Nesta ação, sai da condição de “mero observador” e alcança a posição de analista e consumidor, que visualiza produto, oferta, mercado, necessidade e nicho. Esta 208


análise o favorece perceber se é oportuno o investimento ou se não se adequa ao mercado/consumo. O empreendedor no campo da predisposição ainda procura entender o produto ou serviço ofertado, a estratégia competitiva, a atração e satisfação da clientela. Vale aqui ressaltar que a oportunidade de um negócio não se configura como “norma geral” para outro. Cada um tem sua especificidade e peculiaridade. As oportunidades e a predisposição pode ser aproximada de dois negócios diferentes, não as consideramos iguais em razão dos objetos, dos sujeitos e dos contextos que estão envolvidos no processo. Dessa forma, a predisposição poderá também ser outra. No aspecto Criatividade, o empreendedor aprende a observar, conhecer, avaliar negócios e reconhecer as “fórmulas de sucesso” ou as razões dos fracassos” (DEGEN, 1989). A criatividade oportuniza que o empreendedor visualize a fórmula criativa que se adequará a um negócio e não a outro, a uma oportunidade de conquista e não a outra. Segundo Degen: A criatividade no desenvolvimento de negócios a que nos referimos não são lampejos de Gênios. É a coleta das muitas ideias que deram certo e das que não deram; é a associação dessas ideias e do aprendizado do empreendedor no desenvolvimento do seu negócio. [...] a fórmula é simples: mais predisposição, mais conhecimento de negócios, mais ideias, mais criatividade e mais chances de sucesso. (DEGEN, 1989, p. 30).

Falar de empreendedorismo faz-nos acreditar na importância de focar as metas para objetivamente alcançá-las. Neste prisma, resgatamos um célebre trecho da crônica de William Sheakespeare denominada um dia você aprende, em que sabiamente assevera: se você não sabe aonde quer ir, então qualquer lugar serve. Esta diretriz se aplica a atividade de empreender: se o empreendedor não tem a predisposição, não alcança o aspecto criatividade, não busca conhecer mercado, sujeito, produto e necessidades, se não sabe o que deseja e o que o consumidor precisa, qualquer tentativa serve[...] mas o resultado, pode ser também qualquer um[...] ou então, o mais indesejável. Ações empreendedoras são vistas no mundo inteiro a todo instante. Um dos maiores empreendedores deste século é o criador da Microsoft, Bill Gates. Enquanto estudavam em Harvard, Gates e outros jovens desenvolveram um interpretador da linguagem BASIC para um dos primeiros computadores pessoais a ser lançado nos Estados Unidos - o Altair 8800. Após um modesto sucesso na comercialização deste produto, Gates e Allen fundaram a Microsoft, uma das primeiras empresas no mundo focadas exclusivamente no mercado de programas para computadores pessoais ou PCs. Gates adquiriu ao longo dos anos uma fama de visionário (apostou no mercado de software na época em que o hardware era considerado muito mais valioso) e de negociador agressivo, chegando muitas vezes a ser acusado por concorrentes da Microsoft de utilizar práticas comerciais desleais. Segundo dados coletados na Revista Business (2011), em 2008 a lista de bilionários da Forbes, aponta Gates como o terceiro homem mais rico do mundo, com fortuna estimada em 58 bilhões de dólares. Em 2009, mesmo vendo seu patrimônio ser reduzido em 18 bilhões de dólares, retomou a condição de homem mais rico do mundo, segundo a mesma revista, com uma fortuna de 40 bilhões de dólares. Em 2010 a fortuna de Carlos Slim Helu volta a assumir o primeiro lugar da lista com uma diferença de 0,3 bilhões de dólares, 209


deixando Bill Gates com a posição de segundo homem mais rico do mundo com uma fortuna estimada em 53 bilhões de dólares. Poderíamos citar vários exemplos de empreendedores de sucesso que ilustram este ato em nosso país tais como: Irineu Evangelista de Souza o conhecido Barão de Mauá, chamado também de o Industrial do Império; Francesco Matarazzo o grande industrial das IRFM – Indústrias Reunidas Francesco Matarazzo; Assis Chateaubriand o conhecido Chatô, empreendedor nas comunicações; Jorge Gerdau da Aços Gerdau; o Comandante Rolim Amaro da TAM; Abílio Diniz que deu início ao Grupo Pão de Açúcar a partir de uma padaria nos Jardins. No nordeste de nosso país, no Maranhão, Piauí e Pernambuco temos a presença de um grupo que a cada dia vem ganhando o mercado com ações empreendedoras, tendo marcado seu início timidamente com venda de tecidos. Hoje, configura-se o Grupo Claudino, como um dos maiores empreendedores da região, cujos campos de atuação se multiplicaram de forma fenomenal. Atualmente, vende tecidos, móveis, eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, colchões, confecções, calçados em geral; não bastando tanta variedade, possui uma fábrica de bicicletas com visibilidade nacional, tendo sido dela feito o merchandising na novela das oito, do ano de 2010, exibida pelo maior meio de comunicação de massa – TV, no canal de maior audiência – Globo. Ainda investindo em outros ramos, criou a construtora Sucesso, que faz jus ao nome que tem. Sem muito esforço, seria possível preencher várias páginas de citações de empreendedores e ações empreendedoras no Brasil, desde o Oiapoque até o Chuí. CONSIDERAÇÕES FINAIS A ação de empreender parece ser simplória. No entanto, se configura de forma complexa; exige, como qualquer outra ação humana, sobretudo as que permeiam o bom funcionamento das organizações e comercialização em geral de ideias, produtos e serviços, atenção, conhecimento técnico, saberes teóricos, prática, sensibilidade, recrutamento, seleção, dentre outros elementos, para que o empreendedor alcance portanto, em seu empreendimento, a realização. Um dos aspectos mais relevantes em uma atividade empreendedora, por menor que seja, está relacionado com a ação de planejar, programar, organizar, selecionar. O planejamento se torna imprescindível para o alcance das metas, para a realização do empreendimento configurado através de um bom Plano de Negócios que é uma atividade inevitavelmente necessária ao sucesso de um empreendimento. Nele, o empreendedor foca os riscos, as vantagens competitivas, os gastos, os lucros, ou seja, a execução do negócio com todos os seus vieses e previsibilidades. Consideramos, aludindo as reflexões de Dornelas (2001) que sabiamente nos coloca: a força que empurra o empresário para o sucesso é, sem dúvida, a vontade de enfrentar o desafio de abrir o próprio negócio. Mas, somada a essa vontade tem que haver a disposição para adquirir conhecimentos e para desenvolver comportamentos adequados a empreendedores bemsucedidos. Com essa miscelânea de ações, um comerciante, um empresário, um administrador (bacharel) ou administrador nato, podem com criatividade, capacidade de correr riscos, predisposição, analisar o mercado, verificar quais as suas necessidades, quais os seus nichos atuais e, transformar esse mercado com seus produtos e serviços através de ações empreendedoras. 210


REFERÊNCIAS

PINCHOT, Gifford. Innovation Through Intrapreneuring. Research Management, v. 30, n. 2, mar./abr. 1987.

BAUER, R. Gestão de mudança: caos e complexidade nas D i s p o n í v e l organizações. São Paulo: Atlas, 1999.

e m :

<www.pinchot.com/MainPages/BooksArticles>. Acesso em: 09 set. 2011.

BETMAN, T. S.; SNELL, S. A. Administração: construindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998. CHIAVENATO, Idalberto. Empreendedorismo. São Paulo: Saraiva, 2005. DAFT, R. L. Teoria e projeto nas organizações. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999. DEGEN, Ronald. O empreendedor. 8.ed. São Paulo: Makron Books, 1989. DORNELAS, José C. Assis. Empreendedorismo. Rio de Janeiro: Campus, 2001. ______. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. DRUCKER, P. Inovação e espírito empreendedor: práticas e princípios. São Paulo: Pioneira, 1986. FILION, L. J. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes de pequenos negócios. Revista de Administração, São Paulo, v. 34, n.2, p. 05-28, abr./jun. 2000. SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988. TAYLOR, Frederick W. Título do artigo. Scientific Management: comprising shop management, n. , 1964.

211


212


Artigo A LOGÍSTICA EMPRESARIAL E A S A T I S FA Ç Ã O D O S C L I E N T E S DA PREDIAL: ADMINISTRADORA DE CONDOMÍNOS LTDA NO ESTADO DO PIAUÍ Cléa Maria Machado de Alencar¹ Marlon Jefferson da Silva Santos²

RESUMO A percepção de que nem todos os clientes são igualmente sensíveis a serviço ressalta a utilidade da segmentação com base nas expectativas dos clientes, considerando a melhoria dos níveis de serviço que realmente sejam vistos como diferenciais. Este estudo baseou-se na interação entre Empresa, fornecedores, prestadores de serviços e cliente, na empresa Predial Administradora de Condomínio em Teresina-PI, podendo melhorar a satisfação para a fidelidade na recontratação das empresas, almejando o atendimento pelo comprometimento individual de todos. Utilizouse a abordagem quantitativa e a qualitativa. Os programas e localização privilegiada, faz com que a Predial atenda as exigências de cada cliente. Palavras-chave: Logística. Satisfação dos clientes. Administração de condomínio. ABSTRACT The realization that not all customers are equally sensitive to the service highlights the usefulness of segmentation based on customer expectations, considering the improvement of service levels that are actually seen as differentials. This study was based on the interaction between company, suppliers, service providers and customers to the company Administrator Condominium Building in Teresina-PI, which may improve the satisfaction to loyalty in the rehiring of the companies, aiming to care for the individual commitment of all. We used the qualitative and quantitative approach. The programs and prime location makes the Building meets the requirements of each client. Keywords: Logistics. Customer satisfaction management. Condominium.

¹Graduada em Administração. Mestre em Administração. Coordenadora do curso de Administração e Docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão - FACEMA. ² Graduado em Administração. 213


INTRODUÇÃO A logística continuará atuando através do processo de planejamento, implementação e controle do fluxo e armazenagem de matérias prima, inventário em processo, produtos acabados e informações correlatas do ponto de origem ao ponto de consumo ou atuação de serviços em conformidade com os requisitos de nossos clientes, seus contratos, mediante modelos de previsão de demanda e controle de estoques e serviços, com constantes reajustes de preços para o equilíbrio financeiro. Na perspectiva de uma análise acerca da relação entre a logística empresarial e o nível de satisfação dos clientes da empresa Predial Administradora de Condomínio em Teresina-Pi, definiu-se o questionamento de como a falta de compromisso dos fornecedores de produtos e prestadores de serviços, prejudica a logística determinada em contrato pelas administradoras de condomínio, inviabilizando a satisfação do cliente? A partir da finalidade deste estudo, definiu-se o seguinte objetivo geral: conhecer o nível de satisfação dos clientes da Predial Administradora de Condomínios LTDA, pela sua Logística Empresarial. Para esse intento, decidiu-se pelas seguintes ações: identificar os aspectos que contribuem para a satisfação dos clientes através do bom atendimento e de uma logística eficaz; analisar o comprometimento, a responsabilidade e lealdade dos parceiros prestadores de serviços e fornecedores de produtos para a empresa Predial administradora de Condomínio em Teresina-Pi; elaborar estratégias para total diminuição de solicitações não reparadas/atendidas em tempo especificado em contrato, considerando os níveis de atendimento relacionados a prestação de serviço ao cliente. Considera-se que o modelo logístico empresarial adequado é aquele que promove uma interação entre os sujeitos envolvidos, direta ou indiretamente na empresa, propiciando, assim um relacionamento interpessoal capaz de viabilizar oportunidades e indicadores competitivos. Dando seqüência a Logística Empresarial, através de seus aspectos conceituais, onde a logística empresarial estuda uma forma melhor para analisar o nível de rentabilidade nos serviços de distribuição aos clientes e consumidores. A concepção logística de agrupar conjuntamente as atividades relacionadas ao fluxo de produtos e serviços, as atividades de transporte, estoques e comunicações. Como a logística também tem importância numa escala global. Na economia mundial, sistemas logísticos eficientes formam bases para o comércio e a manutenção de um alto padrão de vida nos países desenvolvidos. Os custos logísticos são um fator-chave para estimular o 214


comércio. A Administração do Transporte, onde o transporte é, em geral, responsável pela maior parcela dos custos logísticos e o papel do transporte na estratégia logística é importância para economia e para a empresa, sendo que o transporte é uma das principais funções logísticas. Este estudo deu-se a partir de pesquisas bibliográficas através de livros e artigos, onde foi abordado os conceitos logísticos e métodos de satisfação ao cliente, através de uma pesquisa realizada de forma qualitativa e com o método de abordagem dedutivo sobre procedimentos de serviços que faz o diferencial ao atendimento, seguido de pesquisas de campo (visitas aos condomínios) que teve como universo os condomínios residências e comerciais na cidade de Teresina, onde definimos como amostra aleatória e probabilística 20 clientes para contribuírem na referida pesquisa, mediante um questionário com questões fechadas para investigação quanto ao nível de satisfação do cliente e o potencial de serviços prestados pela Predial Administradora de Condomínios LTDA, verificou-se e analisou-se dados comparativos de cada cliente e através das solicitações dos mesmos, constatou-se através de gráficos o nível de satisfação dos clientes da Predial. A L O G Í S T I C A E M P R E S A R I A L : U M A A B O R DA G E M CONCEITUAL E HISTÓRICA Aspectos conceituais Para Chopra e Meindl, (2003), a logística empresarial estuda como a administração pode prover melhor nível de rentabilidade nos serviços de distribuição aos clientes e consumidores, através de planejamento, organização e controle efetivos para as atividades de movimentação e armazenagem que visam facilitar o fluxo de produtos. Compreende-se, a partir dos autores supracitados que a logística é um assunto vital. É um fato econômico que tanto os recursos quanto os seus consumidores estão espalhados numa ampla área geográfica. Além disso, os consumidores não residem, se é que alguma vez o fizeram, próximos donde os bens ou produtos estão localizados. Este é o problema enfrentado pela Logística: diminuir o hiato entre a produção e a demanda, de modo que os consumidores tenham bens e serviços quando e onde quiserem, e na condição física que desejarem. Segundo Ballou (2007), numa economia livre é responsabilidade dos empresários proverem os serviços logísticos necessários, e, nos Estados 215


Unidos, as empresas enfrentam esta responsabilidade com notável grau eficácia e eficiência. Contudo, as empresas operam dentro de um ambiente que muda constantemente, devido aos avanços tecnológicos, às alterações na economia e na legislação, e à disponibilidade de recursos. Portanto, a filosofia da administração se altera com o tempo, de forma a se adaptar às novas exigências de desempenho para as firmas. A Logística assim representa uma nova visão empresarial – uma nova ordem das coisas. Compreende-se que hoje as empresas devem realizar essas mesmas atividades como uma parte essencial de seus negócios, a fim de prover seus clientes com os bens e serviços que eles desejam. Entretanto, a administração de empresas nem sempre se preocupou em focalizar o controle e a coordenação coletiva de todas as atividades logísticas. Somente nos últimos anos é que ganhos substanciais nos custos foram conseguidos, graças à coordenação cuidadosa destas atividades. De acordo, ainda, com Ballou (2007), os custos logísticos é um fatorchave para estimular o comércio, considerando que o comércio entre países e entre regiões de um mesmo país é freqüentemente determinado pelo fato de que diferenças nos custos de produção podem mais do que compensar os custos logísticos necessários para o transporte entre regiões. Enquanto os Estados Unidos, o Japão e os membros da Comunidade Econômica Européia gozam de alto padrão de vida e trocam mercadorias livremente devido à eficiência de seus sistemas logísticos, muitas porções do mundo, como partes do Sudeste Asiático, África, China e América do sul, ainda apresentam sistemas de transportes e armazenagem inadequados para apoiar um comércio extensivo. Por isso, estes povos são forçados a uma auto-suficiência localizada e um padrão de vida relativamente baixo. Uma diferença crítica entre estas duas situações é o ponto no qual se situa o desenvolvimento de seus sistemas logísticos. Ballou afirma que: A relevância da logística é influenciada diretamente pelos custos associados as suas atividades. Fatores de peso estão influenciando o incremento dos custos logísticos. Dentre eles, os mais relevantes são: o aumento da competição internacional, as alterações populacionais, a crescente escassez de recursos e a atratividade cada vez maior da mão-de-obra no Terceiro Mundo. (BALLOU, 2007, p. 16).

Considera-se a capacidade que o setor logístico tem de lidar com as adversidades do mundo dos negócios, faz com que cada vez mais sejam 216


proporcionados investimentos associados as suas atividades, disponibilizando assim de recursos para uma melhor qualidade de mão-de-obra e um alto nível de competição internacional. Para tanto, percebe-se que ainda resta muita coisa por se fazer para alcançar o nível ótimo de eficiência e eficácia no suprimento e na distribuição por todo o mundo e também na economia doméstica. Aspectos Históricos da Logística Para Paoleschi (2009), após o término da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1945, o mundo necessitava de todos os tipos de produtos possíveis para reiniciar seu crescimento. As indústrias produziam a todo vapor e o método de produção era trimestral. Compravam-se os insumos por períodos de três meses e os lotes de produção seguiam a mesma periodicidade. Ainda para Paoleschi (2009), esse sistema durou 14 anos, até 1959, quando as empresas Bosch, GE e Westinghouse Electric Company criaram o sistema MRP (Material Resources Planning ou Planejamento dos Recursos Materiais). Com isso, iniciou-se o ciclo do planejamento, tendo em vista que o mundo já não absorvia tudo que se oferecia na velocidade de oferta e no volume trimestral. Após cinco anos o mercado tornava-se cada vez mais exigente e as empresas perceberam que cuidar somente dos materiais já não resolvia os problemas de estoque e da obsolescência. No ano de 1965 surgiu o MRP II (Manufacturing Resources Planning ou Planejamento de Recursos de Manufatura), sistema que continua em uso até hoje. Segundo Paoleschi (2009), na década de 60, a Toyota surpreendeu o mundo com a filosofia do Just in Time introduzindo ferramentas desconhecidas no sistema industrial que a transformaram na maior empresa do mundo, tais como o sistema Kanban, Kaizen e Poka Yoke. Já na década de 80 surgiu o sistema ERP (Enterprise Resources Planning), Planejamento dos Recursos da Empresa, para controlar e integrar todos os departamentos à produção e logística. Entende-se que desta data em diante surgiram outros sistemas para agregar valor aos recursos da empresa, seus fornecedores e clientes. Entre eles SCM (Supply Chain Management, Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos) e o DM (Demand Chain, Cadeia do Consumidor). Compreende-se portanto que é possível utilizar os recursos logísticos de planejamento, programação e controle da produção no sistema operacional do Windows e do Office, a partir do conhecimento de toda cadeia logística da empresa e a aplicar desse conhecimento, passo a passo, integrando as áreas envolvidas com as operações de manufatura, utilizando as ferramentas disponíveis para tanto. Observa-se que no dia-a-dia nas empresas, os empregados dizem que produzir 217


não é função deles, mas na realidade na cadeia logística todos devem participar e se envolver nas atividades e se estiverem motivados e treinados, poderão produzir mais e melhor. Se eles tiverem o conhecimento de como funciona o¨chão de fábrica¨, certamente buscando o resultado que a empresa precisa, que lhes trará auto-estima e condições para preencher seus planos de carreira. Os sistemas integrados, sejam eles quais forem, somente podem ser aplicados com eficácia se os funcionários da empresa forem treinados e capacitados exaustivamente até que todos possam participar do processo de implantação. Conhecer bem seus fornecedores e clientes e com eles agregar valor a toda cadeia produtiva e ter um ótimo relacionamento. Segundo Paoleschi: A mão-de-obra deve ser preservada, porque com o aprimoramento contínuo os custos serão reduzidos e o envolvimento de todos será necessário nas soluções dos problemas. Lembre-se do custo de admissão e demissão e das despesas de treinamento gastas com eles. A rotatividade é uma despesa elevada que deve ser evitada. (PAOLESCHI, 2009, p. 52).

Com isso, entende-se que uma mão-de-obra bem atualizada e preparada para trazer soluções à empresa trará mais benefícios do que a rotatividade de funcionários. Os investimentos feitos pela empresa com a atualização, treinamento e preparação de funcionários é nada mais que, uma medida objetiva e de rápido retorno de obter um bom quadro funcional. Sistema ERP (Enterprise Resources Planning) significa Planejamento dos Recursos da Empresa. Ele fornece rastreamento e visibilidade global da informação de qualquer parte da empresa e de sua cadeia de suprimento. Esses sistemas, também chamados no Brasil de Sistemas Integrados de Gestão Empresarial, controlam e fornecem suporte aos processos operacionais, produtivos, administrativos e comerciais da empresa. Todas as transações realizadas pela empresa devem ser registradas para que as consultas extraídas do sistema possam refletir o máximo possível a realidade. Segundo Chopra e Meindl, o ERP é um sistema integrado, que possibilita um fluxo de informação único, contínuo e consistente por toda a empresa, sob uma única base de dados. É um instrumento para a melhoria de processos de negócios, como produção, compras ou distribuição, com informações on-line e em tempo real. Em

218


suma, o sistema o sistema permite visualizar por completo as transações efetuadas pela empresa, desenhando um amplo cenário de seus negócios. (CHOPRA; MEINDL, 2003, p. ).

A capacidade de o sistema ERP realizar a integração dos sistemas existentes atualmente nas empresas, facilitando a interface entre eles, torna-o muito procurado porque melhora significativamente a competitividade da empresa. Para Oliveira e Ramos (2002), a introdução de um ERP em uma empresa tem um impacto enorme nas operações que são realizadas diariamente em suas instalações. Para Fleury (2007), o resultado de todo esforço logístico é o serviço ao cliente. As empresas contratam pessoas, compram equipamentos, selecionam e desenvolvem fornecedores, investem em tecnologia de informação, em capacitação gerencial, tudo com o objetivo de colocar em pratica um projeto logístico capaz de diferenciá-las, de criar valor para seus clientes por meio de um serviço superior. Entregas mais freqüentes, cumprimento de prazos, disponibilidade de mercadoria, informações sobre pedidos são alguns dos atributos cada vez mais valorizados pelos clientes que compõem o imenso leque de possibilidades na prestação do serviço logístico. O setor de serviços vem ganhando importância cada vez maior em vários países em que a economia está fortemente baseada na atividade industrial. A urbanização das populações, a introdução de novas tecnologias e o aumento da qualidade de vida são fatores que contribuem para o crescimento deste setor nos países industrializados. Para Gianesi (1994, p. 17): As atividades de serviços exercem papel importante no desempenho de outros setores da economia, por meio de um diferencial competitivo, ao destacar seus produtos; como suporte ao setor industrial, ao oferecer atividades complementares, como manutenção e pós-venda e, finalmente, como geradoras de lucro ao ultrapassarem a mera função de apoio. (GIANESI, 1994, p. 17).

Considera-se, que a principal característica dos serviços é a de ser intangível, uma vez que o cliente não o toca, mas o vivencia. Esta característica evidencia também que os serviços não podem ser estocados; devem ser consumidos no ato. Com isso, o cliente passa a ser o elemento que, de alguma forma, dispara a operação de serviços, portanto, precisa estar presente na sua produção. Pode-se exemplificar por meio das companhias aéreas que 219


respondem pelo atendimento no balcão e seu respectivo transporte, ou dos restaurantes, que oferecem alimentação e entretenimento. Uma das principais maneiras de uma empresa de serviços diferenciarse dos concorrentes é prestar serviços de alta qualidade. A chave é atender ou exceder as expectativas de qualidade dos consumidores-alvos. Suas expectativas são formadas por experiências passadas, divulgação boca-a-boca e propaganda da empresa de serviços. De acordo com Gianesi (1994, p. 201), os consumidores escolhem prestadores de serviços com base nos itens de qualidade e, após serem atendidos, comparam o serviço recebido com o serviço esperado. Com isso, entende-se que os melhores prestadores de serviços estabelecem padrões de qualidade elevados, considerando-se que a qualidade deve ser construída ao longo do processo e não apenas checada ao final e ainda, que clientes de forma geral são fontes de possíveis problemas. A este respeito, Gianesi afirma, que os mesmos motivos que fazem com que os clientes sejam uma fonte de possíveis problemas para o processo de prestação de serviços, representam também oportunidades de melhoria tanto na percepção de qualidade como na própria utilização de recursos. Como o cliente toma parte do processo, pode-se transferir a ele atribuições que normalmente deveriam estar a cargo de mão-de-obra remunerada. (GIANESI, 1994, p. 217).

Entende-se que a utilização do cliente como mão-de-obra, que pode ser exemplificada através da maioria dos serviços auto-serviço, tais como supermercados, caixas automáticos, alguns postos de gasolina e outros. Nestes casos, a adequada participação do cliente pode reduzir as necessidades de recursos a serem providos pelo prestador de serviços, tornando a percepção de qualidade por parte do cliente voltada somente aos aspectos de atendimento, higiene e ambiente. MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo deu-se a partir de pesquisas bibliográficas, onde foram abordados os aspectos conceituais e históricos da logística e métodos de satisfação ao cliente e de uma pesquisa de campo pelas abordagens quantitativa e qualitativa, com o método de abordagem dedutivo sobre procedimentos de serviços que faz o diferencial ao atendimento, seguido de visitas aos 220


condomínios que teve como universo os condomínios residências e comerciais na cidade de Teresina, onde definimos como amostra aleatória e probabilística 20 clientes para contribuírem na referida pesquisa, mediante um questionário com questões fechadas para investigação quanto ao nível de satisfação do cliente e o potencial de serviços prestados pela Predial Administradora de Condomínios LTDA, verificou-se e analisou-se dados comparativos de cada cliente e através das solicitações dos mesmos, constatouse através de gráficos o nível de satisfação dos clientes, referente à Logística da Predial. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para reforçar o tema proposto, priorizou-se a organização e interpretação analítica dos dados obtidos, o que viabilizou a análise do material coletado e interpretação dos seguintes resultados: Gráfico 1: A Predial atende às expectativas do condomínio.

Fonte: Alencar/Santos 2010. De acordo com Gianesi (1994), uma das principais maneiras de uma empresa de serviços diferenciar-se dos concorrentes é prestar serviços de alta qualidade. Nesse sentido, entende-se que a chave é atender ou exceder às expectativas de qualidade dos consumidores-alvos. Suas expectativas são formadas por experiências passadas, divulgação boca-a-boca e propaganda da empresa de serviços. Os consumidores escolhem prestadores de serviços com base nesses itens e, após serem atendidos, comparam o serviço recebido com o serviço esperado. A partir dos sujeitos pesquisados, no que diz respeito ao nível de satisfação do cliente da empresa predial administradora de condomínio, pelas expectativas atendidas, constatou-se que 95% de seus clientes concordam que 221


a predial está atendendo às expectativas do condomínio. Quanto ao atendimento parcial das expectativas, apenas 5% dos respondentes evidenciaram esta afirmação. Gráfico 2: A Logística da Predial atende às solicitações em tempo hábil.

Fonte: Alencar/Santos 2010. De acordo, com Ballou (2007), a concepção logística de agrupar conjuntamente as atividades relacionadas ao fluxo de produtos e serviços para administrá-las de forma coletiva é uma evolução natural do pensamento administrativo. Considera-se que as atividades de transporte, estoques e comunicações iniciaram-se antes mesmo da existência de um comércio ativo entre regiões vizinhas. Para tanto, entende-se que hoje, as empresas devem realizar essas mesmas atividades como uma parte essencial de seus negócios, a fim de prover seus clientes com os bens e serviços que eles desejam. No que se refere ao atendimento das solicitações em tempo hábil da Logística da Empresa Predial Administradoras de Condomínio em TeresinaPi, dos 20 clientes entrevistados, 65% concordam que a Logística da Predial atende às suas solicitações em tempo hábil. Para 35% dos clientes entrevistados, a Logística da Predial atende às solicitações em tempo hábil, parcialmente. Gráfico 3: Os fornecedores cumprem o tempo determinado de entrega de produto.

Fonte: Alencar / Santos 2010 Para Fleury (2007), o resultado de todo esforço logístico é o serviço ao cliente. Com essa proposição, entende-se que as empresas contratam pessoas, 222


compram equipamentos, selecionam e desenvolvem fornecedores, investem em tecnologia de informação, em capacitação gerencial, tudo com o objetivo de colocar em pratica um projeto logístico capaz de diferenciá-las, de criar valor para seus clientes por meio de um serviço superior. Nesta perspectiva, as empresas adotam estratégias competitivas, tais como: entregas mais freqüentes, cumprimento de prazos, disponibilidade de mercadoria e informações sobre pedidos são alguns dos atributos cada vez mais valorizados pelos clientes que compõem o imenso leque de possibilidades na prestação do serviço logístico. No que diz respeito aos fornecedores, quanto ao cumprimento do tempo determinado de entrega de produto na Predial Administradora de Condomínio, constatou-se que 40% de seus clientes concordam que os Fornecedores cumprem o tempo determinado de entrega de produtos, 10% afirmaram que não há cumprimento. Já para 50% dos entrevistados afirmaram o cumprimento de forma parcial. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final deste trabalho não poderíamos deixar de considerar os métodos de pesquisa que mais chamou atenção, pelas evidências, no contato com vários clientes de personalidades bastante diferentes. O grande diferencial foi o que apontaram como fator fundamental para tornar a pesquisa mais motivadora: “o modo que a empresa busca os pontos fortes e fracos no atendimento ao cliente”, através de pesquisa de satisfação no momento em que os próprios clientes solicitam seus serviços extras ou de rotinas. Desta forma, torna-se consciente do quanto é importante os serviços logísticos e o atendimento ao cliente. Foram abordados também os Serviços e suas características, onde o setor de serviços vem ganhando importância através novas tecnologias que são fatores que contribuem para o crescimento deste setor nos países industrializados, também as atividades de serviços exercem papel importante no desempenho de outros setores, por meio de um diferencial competitivo, ao destacar seus produtos, como suporte ao setor industrial, ao oferecer atividades complementares, como manutenção e pós-venda, que distinguir o nível de serviço anexado a um produto ou serviço. A Administração do Transporte, onde o transporte é, em geral, responsável pela maior parcela dos custos logísticos e o papel do transporte na estratégia logística é importância para economia e para a empresa, sendo que o transporte é uma das principais funções logísticas. 223


Considera-se que a PREDIAL estimula a espera de cada colaborador um relacionamento transparente e com atitudes que conduzam a racionalidade, a melhoria da produtividade e a modernização empresarial; Postura que reflita compromisso com as Políticas, Objetivos, Estratégias e Metas da empresa; Postura de defensor da imagem positiva da empresa. Lealdade e honestidade com a PREDIAL em todas as ocasiões de trabalho, inclusive em outros locais e ambientes. Resta, ainda, outro ponto merecedor de atenção, que deveria ser considerado em pesquisas futuras. Ele diz respeito ao motivo sobre a conduta do cliente. Este fato deve-se ao contato direto e diferenciado na receptividade de cada cliente. Entretanto, embora estejamos convencidos de que o cliente sempre tem razão. Levando-se em conta que as solicitações cobradas de forma muito dinâmica, informal e prazerosa, faz com que os clientes demonstrem sempre muita ironia e arrogância, o que leva a concluir que, quando há imposição de ideias ao modo de como solucionar algum problema ou quando há cobranças excessivas e desnecessárias, o cliente se expressa de maneira mais agressiva e descoordenada dificultando totalmente a resolução do problema. E uma maior atenção quanto ao cumprimento do tempo de entrega do produto pelos fornecedores. Faz-se necessário o desenvolvimento de estratégias para o suprimento de tal necessidade.

REFERÊNCIAS

FLEURY, Paulo Fernando; WANKE, Perter; FIGUEREDO, Kleber Fossati. Logística empresarial: a

BALLOU, Ronald H. Logística empresarial: transportes,

perspectiva brasileira. São Paulo: Atlas, 2007.

administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 2007.

GIANESI, Irineu. Corrêa, Henrique. Administração estratégica de serviços. São Paulo. Atlas, 2002.

BOWERSOX, Donald J.; CLOSS, David J.; COOPER, M. Bixby. Gestão logística de cadeias de suprimento. Porto

MARTINS, Gilberto de Andrade; LINTZ, Alexandre.

Alegre : Bookman, 2006.

Guia para elaboração de monografias e trabalhos de conclusão de curso. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

CHOPRA, Sunil; MEINDL, Peter. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. São Paulo: Pearson Prentice Hall,

PAOLESCHI, Bruno. Logística industrial integrada: do

2003.

planejamento, produção, custo e qualidade à satisfação do cliente. 2.ed. São Paulo: Érica, 2009.

DIAS, Marco Aurélio P. Administração de materiais: uma abordagem logística 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

224



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.