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apresentavam como autoridades, o Dalai-Lama admitiu sua falta de conhecimento sem embaraço, sem explicações, sem tentar, desviando-se do assunto, dar a impressão de ter o conhecimento. '-Na realidade, ele parecia extrair algum prazer quando deparava com uma pergunta difícil para a qual não tinha resposta; e costumava fazer piadas a respeito. Por exemplo, uma tarde em Tucson, ele estava comentando um verso do Guide to the Bodhisattva's Way of Life, de Shantideva, que era extremamente complexo na sua lógica. Lutou um pouco com o verso, confundiu-se e deu uma boa gargalhada. - Estou confuso! Acho melhor deixá-lo de lado. Agora, no verso seguinte... Em resposta a risos simpáticos da platéia, ele riu ainda mais forte e comentou. - Existe uma expressão específica para essa abordagem. É como um velho comendo, um velho com dentes muito fracos. O que for macio ele come. O que for duro ele simplesmente deixa de lado. - Ainda rindo, ele prosseguiu: - Por isso, por hoje vamos deixar esse verso de lado. - Nem por um instante ele se afastou da sua própria suprema confiança. A SUPERAÇÃO DE OBSTÁCULOS A REFLEXÃO SOBRE NOSSO POTENCIAL COMO UM ANTÍDOTO PARA O ÓDIO A NÓS MESMOS Numa viagem à índia em 1991, dois anos antes da visita do Dalai-Lama ao Arizona, encontrei-me rapidamente com ele na sua casa em Dharamsala. Naquela semana, ele havia participado de reuniões diárias com um ilustre grupo de cientistas, médicos, psicólogos e professores de meditação ocidentais, numa tentativa de examinar a interaçào entre mente e corpo e compreender o relacionamento entre a experiência emocional e a saúde física. Reuni-me com o Dalai-Lama num final de tarde, depois de uma das suas sessões com os cientistas. Mais para o final da nossa entrevista, o Dalai-Lama fez uma pergunta. - Você sabe que esta semana estive me encontrando com uns cientistas? - Sei... - Nesta semana foi levantado um assunto que considerei muito surpreendente. Esse conceito do "ódio a si mesmo". Ele lhe é familiar? - Sem dúvida. Uma boa proporção dos meus pacientes sofre desse problema. - Quando aquelas pessoas estavam falando a respeito disso, eu de início não tive certeza se estava entendendo bem o conceito - disse ele, com uma risada. - Pensei: "É claro que nos amamos! Como uma pessoa pode se odiar?" Embora eu acreditasse ter alguma compreensão de como a mente funciona, essa idéia do ódio a si mesmo era totalmente nova para mim. O motivo pelo qual eu a considerava tão inacreditável é que os budistas praticantes trabalham A ARTE DA FELICIDADE muito no esforço de superar nossa atitude egocêntrica, nossos pensamentos e motivações egoístas. Por esse ponto de vista, creio que nos amamos e nos valorizamos demais. Por isso, pensar na possibilidade de alguém não se valorizar e até mesmo de se odiar era algo totalmente incrível. Como psiquiatra, você poderia me explicar esse conceito, como ele ocorre? Descrevi-lhe sucintamente a visão psicológica de como surge o ódio a si mesmo. Expliquei-lhe como nossa imagem de nós mesmos é moldada pelos nossos pais e pela nossa criação, como captamos deles mensagens implícitas sobre nós mesmos à medida que crescemos e nos desenvolvemos; e delineei as condições específicas que geram uma imagem negativa de nós mesmos. Passei então a detalhar os fatores que exacerbam o ódio a nós mesmos, como por exemplo quando nosso comportamento não está à altura da nossa imagem idealizada de nós mesmos, e descrevi alguns dos modos pelos quais o


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