Mecânica Quantica e o pensamento de Amit Goswami

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Em relação ao que foi exposto atrás, poderá eliminar-se a dúvida que havia sido levantada sobre a realidade das coisas materiais, pois eu não posso duvidar de que há em mim uma certa faculdade passiva de sentir, e de reconhecer as ideias das coisas sensíveis. Mas ela ser-me-ia inútil, se não houvesse em mim uma faculdade activa capaz de formar ou produzir as próprias ideias. Ora, esta faculdade activa não poderia existir em mim, segundo Descartes, porque eu sou apenas uma substância pensante, daí que tenha necessariamente de pertencer a uma substância corpórea, cujo único carácter fundamental é a extensão. Uma célebre definição de Descartes estabelece que a “substância é uma coisa que existe, de tal modo que não necessita de nenhuma outra coisa para existir”. Em suma, Descartes distingue três âmbitos da realidade: Deus ou a substância infinita; O “eu” ou a substância pensante (res cogitans); Os corpos ou a substância extensa (res extensa). Ao afirmar que a Alma e o corpo, o pensamento e a extensão constituem substâncias distintas, o objectivo é salvaguardar a autonomia da Alma, relativamente à matéria, dando este raciocínio, no entanto, origem ao dualismo Cartesiano. A este propósito é de referir que a Ciência Clássica, no século XVIII, (cuja concepção da matéria Descartes compartilha) impõe uma concepção mecanicista e determinista, do mundo material, onde não há lugar para a liberdade. Pelo contrário, nas “Cartas à Princesa Elisabeth” e nas “Paixões da Alma”, Descartes afirma que o “eu” como substância pensante (res cogitans) caracteriza-se por duas faculdades que são, o entendimento e a vontade (esta última caracteriza-se por ser livre). A possibilidade de erro é fundada no livre-arbítrio, consistindo a liberdade em escolher o que é proposto, pelo entendimento, como bom e verdadeiro. Em relação à filosofia dualista de Descartes das duas substâncias - que são a mente (res cogitans) e a matéria (res extensa) - é de referir-se as palavras de Fritjof Capra(11): “A filosofia de Descartes não se mostrou importante apenas em termos do desenvolvimento da Física Clássica, ela exerce até hoje, uma tremenda influência sobre o modo de pensar Ocidental. A famosa frase Cartesiana “cogito ergo sum” (“penso, logo existo”) tem levado o homem Ocidental a igualar a sua identidade apenas à sua mente, em vez de igualá-la a todo o organismo. Para Descartes, a natureza era dividida em dois reinos separados e independentes : o reino da mente (res cogitans), e o reino da matéria (res extensa). Esta separação permitiu aos cientistas tratar a matéria como algo sem vida e separado da mente”. 39


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