Mecânica Quantica e o pensamento de Amit Goswami

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Durante meio século, a quase totalidade dos físicos aderiu à Interpretação de Copenhaga, o que foi benéfico, na medida em que os libertou dum pensamento demasiado clássico que era demasiado ingénuo e pouco crítico. Os conselhos de Bohr põem-nos de sobreaviso contra as surpresas e as “armadilhas” do mundo quântico, em que inevitavelmente cairíamos, raciocinando de acordo com a experiência macroscópica. A posição de Bohr, como já expusemos, é a de que não faz sentido atribuir um conjunto completo de propriedades, a um dado conjunto quântico, antes de ser realizada uma medição sobre ele. Assim, por exemplo, numa experiência de polarização de fotões, não podemos sequer falar de polarização, antes de efectuarmos uma medição. Depois da medição, podemos, contudo, ser capazes de atribuir um estado de polarização definido ao fotão. No mundo da física quântica, nenhum fenómeno elementar é um fenómeno, até se transformar num fenómeno registado. No entanto, a Interpretação de Copenhaga recusa-se a pensar em como é o electrão, no intervalo entre as duas medições. Limita-se a “saber” que, quando se faz uma medida de posição, se encontra uma partícula na vizinhança de certo ponto. Mais, na experiência da fenda dupla, em relação à questão porque motivo desaparecem as “figuras de interferência” quando se monta um aparelho (como a lanterna, no exemplo de Feymann, capaz de identificar por qual das fendas passou o electrão)? A “Escola de Copenhaga” responde “porque sim, e não há mais nada a dizer”. Acrescente-se que, em Mecânica Quântica, dados dois estados possíveis, a sobreposição dos dois estados é ainda um estado possível. Na caricatura de Schrödinger, a sobreposição dum gato vivo com um gato morto (que veremos de seguida), pode ser um estado possível. Pergunta-se, então, porque razão não vemos estas coisas no dia-a-dia? A “Escola de Copenhaga” responde que o “mundo microscópico e o mundo macroscópico são diferentes, e ponto final!”. De facto, na aplicação prática da Mecânica Quântica, o físico raramente tem de se confrontar com problemas epistemológicos, pois a partir do momento em que as regras quânticas são aplicadas sistematicamente, a teoria faz tudo o que dela se pode esperar, ou seja, prevê correctamente os resultados de verdadeiras medições. Contudo, certos físicos não se têm conformado em deixar o assunto por aqui, uma vez que no seio da Interpretação de Copenhaga parece residir um paradoxo devastador. 241


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