Trivela 37 (mar/09)

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Eddie Keogh/Reuters

por Caio Maia

Pouco dinheiro – e mal gasto O Chelsea que José Mourinho recebeu de Abramovich em 2004 tinha, além de uma seleção dos jogadores mais promissores das redondezas naquele momento, como Joe Cole e Damien Duff, talentos emergentes como Kezman e Robben. Felipão nunca teve um bolso do mesmo tamanho à disposição. Pôde gastar dinheiro em apenas dois jogadores, Bosingwa e Deco. Com isso, acabou com um elenco desbalanceado e com poucas opções para eventuais desfalques. Até porque as categorias de base – aposta da diretoria – não forneceram talentos à altura. Mas o problema não foi apenas a verba à disposição para reforços. O modo como ela foi gasta também dificultou a situação do brasileiro. Mourinho, mesmo com orçamento generoso, teve seu melhor Chelsea sem nenhuma estrela de primeira grandeza.

Algumas promessas não se confirmaram e, mesmo assim, o português montou um time de ataque eficiente e defesa quase impenetrável – no qual pontificavam os contestados Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho e Gallas improvisado na lateral. Felipão escolheu pouco e mal. Deco fez poucas boas partidas e desapareceu, levando à inevitável pergunta: por que gastar dinheiro com um meia quando a equipe já dispunha de Lampard e Ballack? Bosingwa e Quaresma também não vingaram, mas a indicação que mais marcou negativamente o treinador foi Mineiro. Dispensado do Hertha Berlim, o autor do gol do título mundial de 2005 para o São Paulo chegou à equipe sem ritmo de jogo e sob a descrença geral. A impressão que ficou foi a de que Scolari estaria privilegiando um jogador sem qualidade pelo simples fato de ser seu compatriota.

É inegável que as contusões atrapalharam o caminho de Felipão em Stamford Bridge. O treinador pouco teve a sua disposição o talento de dois de seus melhores jogadores, Michael Essien e Joe Cole. Na Inglaterra, porém, há um quase consenso de que a preparação dos Blues para a temporada foi mal feita, e que foi isso que causou as lesões precoces e a uma “falta de gás” quando o inverno chegou. A frase pronta para justificar o fracasso de Luxemburgo no Real Madrid também apareceu para Scolari: “Europeu não gosta de treinar”. Segundo a imprensa inglesa séria, quando os resultados dos Blues começaram a piorar, a principal crítica feita pelos jogadores ao trabalho de Scolari foi justamente essa: o time não treinava o suficiente. O próprio Felipão, em entrevista concedida à revista France Football dias antes de sua demissão, afirmava: “O time joga demais, não há tempo para treinar”. O brasileiro se referia aos coletivos, onze contra onze, que, de fato, não são comuns na Europa – Luxemburgo tentou implantá-los em Madrid, mas sem sucesso. “Damos coletivo uma vez por ano, e olhe lá”, declarou à Trivela em 2006 o brasileiro Baltemar Brito, então auxiliar de Mourinho no Chelsea. “Trabalhamos a parte tática em lugares diferentes, com menos espaços, jogadas ensaiadas, movimentação”, explicava. O grande número de falhas em jogadas ensaiadas, aliás, foi um dos problemas defensivos apontados pelos analistas ingleses no Chelsea de Scolari.

Victor Fraile/Reuters

Treinos e preparação física

Imprensa inglesa desconfia de falta de preparo na temporada

Março de 2009

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