Trivela 31 (set/08)

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nºº 31 3 | set/ et/08 0 | R$ 8,90 08 0

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POLÊMICA Olimpíada reabre discussão entre clubes e seleções

ELEIÇÕES Quem ganha com os times bancados por prefeituras?

Luxemburgo Empresas e relacionamentos: como funciona a vida do treinador do Palmeiras fora de campo

S.A.

LLyon yon x Saint-Étienne yo Saiin Sa ntt-Ét Étie enn nne Entrevista: D’Alessandro

nº 31 3 | sset/08 e 08 et et/ 8|R R$ $8 8,90 90 0

Vasco: o tamanho da encrenca Como Roth arrumou o Grêmio

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EDITORIAL

Qual é o esquema? Dunga nunca primou pelo brilhantismo intelectual, seja como jogador, comentarista ou treinador. Costuma recorrer a uma coleção de lugares comuns sempre que precisa falar algo, e disfarça sua falta de preparo com um ar de “macheza” e enfado sempre presentes. Até mesmo ele, porém, já percebeu que Ricardo Teixeira não tem a lealdade como uma de suas qualidades, ou seja, já está claro que ele vai rodar. Não se poderia esperar nada diferente de tal caráter: vai sair, mas vai sair atirando. E, ainda mais lógico, não será em quem tem culpa – ou seja, ele e Ricardo Teixeira. Em sua simplicidade intelectual, Dunga achou que poderia escolher um “inimigo maior” para indispor com a torcida na esperança de limpar a própria barra. Na categoria “inimigos maiores”, na impossibilidade de usar o imperialismo norte-americano, escolheu a “malvada” Rede Globo. É ela a culpada pelo Brasil ter virado um catadão de atletas sem nem ao menos vontade de jogar. Dunga se vangloria de ter acabado com os privilégios que a emissora tinha com a CBF – mentira: na Granja Comary, repórteres da emissora carioca vão onde querem, qualquer outro só vai onde deixam. Até aí, tudo bem, se Dunga também não tivesse se arvorado a ser o justiceiro vingador. Em entrevista coletiva após seu mais recente fracasso, resolveu “denunciar”: “Aqui dentro tinha esquema. Comigo não tem. Acabei com o privilégio, e isso causa revolta”, disse o treinador, sem que nenhum dos jornalistas presentes tivesse pensado em perguntar: então tinha esquema? Seu patrão, Ricardo Teixeira, permitia que houvesse um esquema? Qual era o esquema? Quem montou? Quem se beneficiava dele? Até quando tenta ser “mocinho”, Dunga acaba se complicando. MUDAR PARA FICAR IGUAL Dois anos sem fugir da briga! Em setembro de 2006, chegou às bancas brasileiras o número 7 da Trivela, o primeiro com o nosso nome – os seis primeiros saíram como Copa’06. A capa, com Lula e Ricardo Teixeira, já anunciava a intenção de não deixar pedra sobre pedra no conformado mundo do futebol brasileiro. E assim tem sido desde então. Comemoramos dois anos com os mesmos princípios, mas de roupa nova. O novo projeto gráfico busca aliar as virtudes do anterior com algumas melhorias sugeridas por gente da melhor qualidade, que nos acompanha desde o começo. Esperamos que você goste, e, como sempre, aguardamos sua opinião e seus pitacos.

w w w. t r i v e l a . c o m Editor Caio Maia Editor assistente Ubiratan Leal Reportagem Cassiano Ricardo Gobbet, Gustavo Hofman, Leonardo Bertozzi, Luciana Zambuzi e Ricardo Espina Consultoria editorial Martinez Bariani e Mauro Cezar Pereira Colaboradores Antonio Vicente Serpa, Augusto Amaral, Dassler Marques, Eduardo Camilli, Eduardo Zobaran, Fábio Kadow, Fábio Manzini, Fernando Martins, João Tiago Picoli, José Carlos Pedrosa, Marcus Alves, Mauro Beting, Nair Horta, Rafael Martins e Renato Andreão Revisão Luciana Zambuzi Projeto gráfico / Direção de arte Luciano Arnold Design / Tratamento de imagem Bia Gomes Capa Jorge R. Jorge Agradecimentos Alberto Polo Jr., Estelle Rinaudo e Gustavo Vargas

Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br Diretora de publicidade Paula Kenan Gerente de publicidade Luiz Fernando Martin Gerentes-executivos de negócios Edson Arsênio, Marlene Torres, Marielle Brust e Vanuza Batemarque E-mail comercial@cartacapital.com.br Tel. (11) 3474-0150

CONFIRA NESTE MÊS 8/9 Especial Liga dos Campeões Trivela.com apresenta os 32 participantes da mais importante competição de clubes do planeta TODA SEMANA Acompanhe colunas com análise e informações do futebol de todo o mundo

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15/9 Games Uefa Champions League Fantasy As dicas para você escalar o melhor time no jogo oficial da LC. 22/9 Especial Oitavas da Sul-Americana Clubes brasileiros seguem na caça a um título inédito para o país 29/9 História Italiano 1988/9 A Internazionale de Matthäus, Brehme e Zenga é campeã em uma temporada que teve Maradona, Van Basten, Careca, Baggio...

Gerente de marketing Gabriela Beraldo Gerente de circulação Alexandre Braga Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 3474-0152 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Ibep Gráfica Tiragem 30.000 exemplares

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ÍNDICE 24

CAPA » TÉCNICOS Dono de instituto, amigo de empresários e “manager”: Luxemburgo já é muito mais que “apenas” um técnico de futebol

VASCO

CARTOLAGEM HISTÓRIA

Alvin Chan/Reuters

MUNDO

Prefeituras põem dinheiro em clubes

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Por que a Série A não comercializa o nome

Clubes peitam Fifa para tirar espaço de seleções

ROMÊNIA

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Cluj leva LC à Transilvânia

ALEMANHA

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Brasil medalha de prata em 1988

NEGÓCIOS

Ronaldinho: Milan só liberou por obrigação contratual

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O caos pós-Eurico Miranda

Jürgens agitam mercado de técnicos

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CAPITAIS DO FUTEBOL » LYON

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CATEGORIAS DE BASE

Torneios de verão

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Japão ensaia hegemonia continental

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OPINIÃO PONTO DE BOLA

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ENCHENDO O PÉ

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LC DA ÁSIA

MARACANAZO

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CULTURA

“Linha de Passe” leva futebol ao cinema

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20

ENTREVISTA » D’ALESSANDRO

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JOGO DO MÊS

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GERAL

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PENEIRA

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TÁTICA

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EXTRACAMPO

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CADEIRA CATIVA

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A VÁRZEA

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eu fiscalizo a

Copa Copa Co p 2 201 014 01 4

Itamar Aguiar/Vipcomm

Meia argentino chega ao Internacional com a esperança de reencontrar seu futebol e recuperar o status de estrela de seu país

Setor de aviação alerta: aeroportos de São Paulo, Rio e Brasília não suportariam demanda do Mundial

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4x0 JOGO DO MÊS

Eddie Keogh/Reuters

por Gustavo Hofman

Cartão de visitas Estréia de Felipão no Chelsea encantou os torcedores ingleses e, principalmente, o dono do clube

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tamford Bridge estava lotado. Não que isso seja uma novidade quando o assunto é Chelsea, mas em 17 de agosto, primeira partida da equipe na temporada 2008/9 da Premier League, os 41.468 presentes nas arquibancadas tinham uma motivação especial. Era a possibilidade de assistir a estréia oficial de Luiz Felipe Scolari no comando dos Blues. Eles não se decepcionaram. Contratado a peso de ouro após um título mundial com o Brasil e uma passagem de quatro anos pela seleção portuguesa, Felipão chegou a Londres com status de salvador e a responsabilidade de faturar, pela primeira vez, a Liga dos Campeões para o Chelsea. Sem, claro, deixar de lado o Campeonato Inglês, que já sente o gosto de nova hegemonia do Manchester United. O adversário não era qualquer um. O Portsmouth, também movido a dinheiro de origem russa, tem aspirações européias, fez diversas contratações nos últimos anos e conquistou a FA Cup na

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jogo do mês.indd 2

última temporada. Em campo, porém, foi sufocado por um estilo de jogo agressivo e ofensivo imposto pelos londrinos. Ao final do primeiro tempo já estava 3 a 0 para o Chelsea. Joe Cole, Anelka e Lampard, cobrando pênalti, marcaram. O quarto gol foi anotado por outro estreante do dia, Deco, considerado o melhor jogador da partida. No final das contas, 4 a 0 foi pouco para os donos da casa. No banco, Felipão manteve-se fiel ao seu estilo. Gritou, gesticulou, pulou para comemorar cada gol, fez suas caras e bocas, enfim. Após a partida, era só elogios para seus comandados. “Só dei aos jogadores liberdade para jogar e deixei que mostrassem seu talento”. Na tribuna de honra, Roman Abramovich não conseguia esconder a felicidade. Após quatro temporadas de futebol burocrático, sob o comando de José Mourinho e depois Avram Grant, ele contratou o

CHELSEA Cech; Bosingwa (Paulo Ferreira), Ricardo Carvalho, Terry e Ashley Cole; Mikel, Ballack (Malouda), Lampard, Deco e Joe Cole (Wright-Phillips); Anelka Técnico Luiz Felipe Scolari

brasileiro na esperança de ver um jogo mais aberto e atraente. Mesmo sem saber da fama de retranqueiro e pragmático que o gaúcho carrega no Brasil. Mas o comportamento de Abramovich é justificável. Até porque a imprensa inglesa também se encantou com o futebol dos Blues sob o comando de Big Phil. “Imperious Chelsea” estampou o Guardian. “Luiz Felipe Scolari’s reign as Chelsea boss started in style” escreveu a BBC. Todos foram unânimes nos elogios: o Chelsea jogou ao melhor estilo brasileiro. Com seu jeito único, Felipão também conquistou, ao menos nesse primeiro momento, a simpatia da imprensa inglesa. O cartão de visitas de Felipão foi dos melhores. Tão bom que ele pareceu mais o Felipão que os ingleses esperam do que o técnico que sempre foi. Se sua capacidade de adaptação for tão boa assim, seu futuro em Londres será bem longo.

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PORTSMOUTH

Data 17/agosto/2008 Local estádio Stamford Bridge (Londres) Público 41.468 pagantes Gols Cole (12min), Anelka (26min), Lampard (45min - pênalti) e Deco (88min) Cartões amarelos James

James; Johnson, Distin, Campbell e Hreidarsson; Diop, Diarra (Mvuemba), Kaboul e Kranjcar (Thomas); Crouch e Defoe Técnico Harry Redknapp

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GERAL » BRASIL

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m fevereiro de 2007, o Paulista fez um convênio com o Campus Pelé. O discurso na chegada era de modernização, “realizanado um trabalho jamais visto no futebol brasileiro”. O fundo de investimento para o qual Pelé empresta sua imagem prometia fazer um projeto social em Jundiaí e lançar jogadores da região para vendê-los ao exterior. Para isso, o Banco Fator – gestor do projeto – captou recursos, mas os cerca de 100 atletas alojados no clube ainda não viram o centro de treinamento prometido. Nos dois primeiros anos da parceria, contudo, isso nem de longe aconteceu: o time amargou dois rebaixamentos e campanhas pífias. Embora os investimentos feitos nas categorias de base tenham sido satisfatórios, o que se viu até agora no campeão da Copa do Brasil de 2005 foi uma sucessão de erros. Nesses dois anos, o clube contratou 52 jogadores (três goleiros, oito laterais, seis zagueiros, dez volantes, 15 meias e 10

Muricy Ramalho, treinador do São Paulo, brinca com as comparações entre os atacantes Adriano e André Lima

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R$ 3 mil Jorge R. Jorge

“O tamanho é diferente, um é destro, o outro, canhoto. O Adriano tem muito mais potência do que o André, que é mais pivô. E um é muito mais rico do que o outro”

atacantes), média de três por mês, sendo que quase nenhum vingou (alguns nem chegaram a entrar em campo). O rodízio também foi visto no banco de reservas. O Paulista teve sete técnicos diferentes nos últimos 17 meses: Vagner Mancini, Marcelo Veiga, Waldemar Lemos, Marcus Vinícius, Giba, Moacir Júnior e Luiz Carlos Ferreira. Com tanta instabilidade, em 2009, ano de seu centenário, o Paulista só disputará a Série D se tiver uma boa participação no próximo Campeonato Paulista. O futuro do Galo da Japi não é dos melhores. O Banco Fator decidiu seguir apenas com as categorias de base. “Não adianta fazer loucuras e trazer jogadores caros apenas para o técnico se promover e a torcida bater palma. Nosso investimento maior sempre foi e será nas categorias de base. Ao contrário da MSI, não quero ser campeão em um ano”, comenta Venilton Tadini, presidente do comitê gestor do Campus Pelé e diretor do Fator. [FM]

Sérgio Assis/Gazeta Press

DECADÊNCIA DE UM CAMPEÃO

CASA DO INIMIGO O Flamengo entrou em acordo com o Botafogo para disputar seus jogos no Engenhão enquanto o Maracanã estiver em obras para a Copa do Mundo de 2014. “Meu diálogo com o Bebeto de Freitas [presidente do Botafogo] é muito fácil e já iniciamos os entendimentos. Agora é acertar os detalhes para podermos planejar com antecedência o calendário de jogos dos próximos três anos”, afirmou Marcio Braga, presidente do rubro-negro. O Maracanã deve fechar para o começo das obras em janeiro de 2009.

Indenização por danos morais recebida pelo torcedor Thiago de Souza Nascimento, que processou Flamengo e Nestlé por ficar 11 horas na fila da bilheteria, mais 4 horas no posto de troca da promoção “Torcer faz bem”, sem comprar um ingresso para Flamengo x Atlético-PR em 2007. Além do valor pelo desconforto, Nascimento receberá R$ 21,96 pela compra de quatro latas de leite em pó para a troca nãoefetuada da promoção

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por Ricardo Espina

De nada adiantou ao Sergipe recorrer contra sua eliminação da Série C do Campeonato Brasileiro. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) manteve a decisão inicial de punir o clube com a perda de seis pontos por escalar um jogador de forma irregular contra o CSA. Com a punição, o Sergipe caiu para a terceira colocação de sua chave e foi ultrapassado pelo Itabuna, que se classificou para a fase seguinte. O time sergipano acabou eliminado da competição.

“A Sul-Americana é uma competição com praticamente os mesmos clubes da Libertadores e é tão importante quanto” Petkovic, meia do Atlético-MG, tenta valorizar um pouco a disputa da Copa Sul-Americana

Guilherme Gonçalves/AJB/Futura Press

PROTESTO INFRUTÍFERO

35, só no primeiro turno Entra ano, sai ano, e os clubes brasileiros continuam vendo um êxodo de seus jogadores no meio da Série A. Em 2008 não foi diferente. Apenas no primeiro turno do Campeonato Brasileiro, foram 35 os que deixaram o País. A soma considera jogadores que retornaram ao exterior depois de um período de empréstimo no País (casos de Eduardo Costa e Adriano) e clubes que perderam atletas que foram vendidos por terceiros (como Coelho, negociado pelo Corinthians, mas que defendia o Atlético-MG). O pior é que os números podem aumentar, pois o mercado internacional continuou aberto durante o início do returno. Veja abaixo a lista completa de quem saiu antes da metade do Brasileirão. [UL]

Fluminense ganha espaço no C13 O Clube dos 13 conta com um novo vice-presidente. Roberto Horcades, presidente do Fluminense, derrotou Roberto Dinamite, do Vasco, por 14 votos a cinco na eleição que escolheu o substituto de Eurico Miranda, que perdeu seu lugar na entidade ao sair da direção do Vasco. Horcades teve o apoio de Grêmio, Internacional, Portuguesa, Guarani, Atlético-MG, Atlético-PR, Bahia, Coritiba, Santos, Sport, Palmeiras, Goiás e Vitória. Já os chamados “dissidentes” (São Paulo, Flamengo, Corinthians e Botafogo) ficaram ao lado de Dinamite. Alvimar Perrela, do Cruzeiro, que chegou a apresentar candidatura e depois desistiu, se absteve.

“Todos os treinadores são interinos. Se você não consegue resultados, não fica”

QUEM PERDEU Nº Clube Jogadores

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Anderson Bamba (Osnabrück-ALE), Marcinho (Al Jazeera-EAU), Renato Augusto (Bayer Leverkusen-ALE), Souza (PanathinaikosGRE) e Vinicius Pacheco (Belenenses-POR) Alemão (Udinese-ITA), Betão (Dinamo Kiev-UCR), Marcinho Guerreiro (Murcia-ESP), Rodrigo Tabata (Gaziantepspor-TUR) e Vítor Júnior (Kashima Antlers-JAP) Eduardo Costa (Espanyol-ESP), Rodrigo Mendes (Al Sharjah-EAU) e Roger (Qatar-CAT) Adriano (Internazionale-ITA), Fábio Santos (Lyon-FRA) e Reasco (LDU Quito-EQU) Coelho (Bologna-ITA) e Danilinho (Jaguares de Chiapas-MEX)

Márcio Fernandes, ex-treinador do time sub-21 do Santos, promovido à equipe titular após a saída de Cuca

Marcelo Moreno (Shakhtar-UCR) e Marcinho (Jubilo Iwata-JAP) Cícero (Hertha Berlim-ALE) e Gabriel (Panathinaikos-GRE)

Evandro, não Leandro

Fernandão (Al Gharaffa-CAT) e Sidnei (Benfica-POR) Diego Cavalieri (Liverpool-ING) e Henrique (Bayer Leverkusen-ALE) Christian (Pachuca-MEX) e Júlio Santos (Tours-FRA)

mm

Pablo (Zaragoza-ESP) e Villanueva (Bunyodkor-UZB) ip c o

Vanderlei (União Leiria-POR)

o/V aç ã ul g Div

Em 7 de agosto, o Palmeiras bateu o Vitória por 3 a 0 no Parque Antarctica pelo Campeonato Brasileiro. Para isso, o time alviverde teve de superar o adversário e problemas de audição no elenco. Na metade do segundo tempo, Léo Lima entrou em campo no lugar de Leandro e provocou a ira de Vanderlei Luxemburgo. O treinador do Palmeiras havia dito ao volante para substituir o meia Evandro, mas ele entendeu errado e disse que o lateral-esquerdo deveria deixar o campo. Ao perceber o erro, Luxemburgo disse a Leandro, já no banco de reservas, que não era “burro para trocar um lateral por um volante”.

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Michael (JEF United-JAP)

1 Felipe Santana (Borussia Dortmund-ALE) Wellington (Hoffenhein-ALE) OBS Atlético-PR, Goiás, Ipatinga, Sport e Vitória não perderam jogadores para o exterior durante o primeiro turno

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por Ricardo Espina

SÓ COM PATROCINADOR OFICIAL

Tradição quebrada

Os organizadores da Copa do Mundo de 2010 e a prefeitura de Joanesburgo pretendem proibir qualquer tipo de propaganda relacionada ao evento que não contenha o nome de seus patrocinadores oficiais. Para ser colocada em prática, a medida precisa ser aprovada pela população da cidade. Pela proposta, os anúncios seriam proibidos em um raio de 1 km dos estádios e de 100 m dos Fifa Fan Parks, onde os torcedores se concentram. O projeto se estende ao veto destas ações em aeroportos, rodovias e estações de trem.

r/AF uicle ina Q Crist

A temporada nem começou e já é negra para alguns clubes italianos. No total, nove deles foram excluídos das divisões profissionais do país devido a problemas financeiros. Antes do início de cada temporada, os times têm de apresentar seus balanços financeiros à Covisoc (Comissão de Vigilância sobre os Clubes de Futebol). A aprovação do órgão é necessária para se obter as inscrições. Nove equipes não preencheram os requisitos: Messina e Massese (segunda divisão), Lucchese e Spezia (terceira), Castelnuovo, Teramo, Martina, Sassari Torres e Nuorese (quarta).

P

FECHADOS PARA BALANÇO

O Athletic Bilbao acabou com uma tradição centenária. Pela primeira vez em sua história, o clube tem a marca de um patrocinador privado em sua camisa. O clube bilbaíno entrou em acordo com a empresa petrolífera basca Petronor, que pagará € 2 milhões anuais – o contrato tem duração de três anos – ao Athletic Bilbao. Antes, o clube havia tido apenas um patrocinador, mas público (no caso, o governo basco): em 2004/5 a marca “Euskadi” apareceu na camisa rojiblanca, promovendo o País Basco como destino turístico.

6 Stringer/AFP

O West Ham não terá mais jogadores com esse número na camisa. Isso se deve a uma homenagem a Bobby Moore, ex-zagueiro dos Hammers e capitão da seleção inglesa campeã mundial em 1966. Upson, que usava a camisa seis, passará a vestir a 15

GANCHO MAIOR

Mal à beça Envolto em uma grave crise financeira, o Boavista se viu obrigado a se desfazer do estádio do Bessa. O Fisco português penhorou o local e outras partes do complexo esportivo do clube, rebaixado para a segunda divisão portuguesa por seu envolvimento no escândalo de manipulação de resultados que ficou conhecido como “Apito Dourado”. O estádio, que passou por reformas para receber a Eurocopa em 2004, está avaliado em € 28,3 milhões. Os interessados terão até o dia 20 de novembro para apresentar suas propostas.

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“Não há quaisquer diferenças entre Benfica e Real Madrid” Javier Balboa, meia-atacante revelado pelos Merengues, faz uma comparação um pouco desproporcional entre o time espanhol e as Águias

Luciano Moggi teve ampliada sua punição por seu envolvimento no Calciocaos, escândalo de manipulação de resultados no futebol italiano. O ex-diretor geral da Juventus ficará afastado por mais 14 meses, além dos cinco anos aos quais já havia sido castigado. A federação italiana (FIGC) informou que Moggi foi punido por manter uma rede secreta de comunicação, na qual utilizava cartões suíços de telefonia celular.

Gringos em alta Um estudo do Observatório de Jogadores Profissionais apontou um crescimento de 3,5% na presença de atletas estrangeiros nos principais campeonatos europeus. Na temporada passada, 42,4% dos jogadores das ligas da Inglaterra, Alemanha, Espanha, França e Itália não eram nativos. A Premier League apresentou a maior taxa de estrangeiros, com 59,5%. A pesquisa também mostrou que, pela primeira vez, os atletas importados marcaram mais da metade dos gols destes campeonatos: 51,9%. Os não-europeus correspondem à metade dos estrangeiros em ação nestes cinco torneios.

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GERAL » MUNDO

Luiz Felipe Scolari, sobre as comparações entre ele e o técnico português

RECOMEÇO?

Alejandro

Pagni/AFP

Ariel Ortega despediu-se do River Plate pela porta dos fundos. O meia-atacante, às voltas com o alcoolismo, jogará nos próximos dez meses no Independiente Rivadavia, da segunda divisão argentina. Neste período, ele receberá US$ 1 milhão. Ortega, de 34 anos, tinha proposta do Al Ain, dos Emirados Árabes, mas preferiu se transferir para o clube de Mendoza. Desse modo, ele poderá ir com facilidade a Santiago (a capital chilena está a 360 km de Mendoza), onde faz tratamento contra sua dependência.

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Aposta em marfinenses foi a salvação e a derrocada do Beveren

Etienne Ansotte/AFP

“Não sou José Mourinho, então porque me comparam a ele? Ele disse ‘eu ganharei dez campeonatos’. Sou do sul do Brasil e na minha cultura nunca digo ‘ganharei isto ou aquilo’. Apenas digo que tentarei o meu melhor para ganhar todos os torneios”

NA SEGUNDONA, SEM MARFINENSES A

s saídas de Diabis e Topka, nes- troca, pôde levar à Bélgica os garotos revete verão europeu, foram um marco lados pela academia do ASEC. Os resultados para o Beveren. O clube belga nunca teve apareceram aos poucos, tendo como auge o grande representatividade pelos resultados vice da Copa da Bélgica de 2003/4 e a partici(as maiores glórias são dois Campeonatos pação na Copa Uefa da temporada seguinte. Belgas e duas Copas da Bélgica), mas gaNessa época, o time flamengo chegou a ter nhou projeção por um motivo inusitado: a dez marfinenses entre os titulares. Era inequantidade assombrosa de marfinenses em vitável que, com os bons resultados, clubes seu elenco. E a negociação desses dois jo- maiores passassem a assediar os africanos do gadores marcou o fim dessa política. Assim, Beveren. O Arsenal, que tinha um acordo com os Waaslandiens começam a temporada a equipe belga, levou Eboué. Romaric (Sevilla) 2008/9 sem nenhum marfinense. e Yayá Touré (Barcelona) também passaram Apesar de só terem tomado essa decisão por Beveren. A perda dos principais jogadores nesta temporada, a idéia já vinha amadure- e o subseqüente rompimento com Guillou marcendo desde 2006, com a não renovação do cou o início da crise no clube. acordo entre o Beveren e o Cercados de dívidas, os seu então diretor Jean-Marc Waaslandiens caíram para Ano Marfinenses Guillou. O treinador francês a segunda divisão belga em 2001/2 5 chegou a Flandres em 2001, 2007. O rebaixamento agra2002/3 9 após trabalhar com a formavou ainda mais a situação ção de jogadores no ASEC do clube, que, desde então, 2003/4 13 Mimosas, um dos maiores chegou a negociar uma fu2004/5 17 clubes da Costa do Marfim. são com o Lokeren. O insu2005/6 16 Naquela altura, o Beveren cesso nas conversas fez com 2006/7 11 estava à beira da falência e que seus dirigentes optassem 2007/8 5 foi salvo pela intervenção fiem se converter em equipe 2008/9 0 nanceira de Guillou, que, em semi-profissional. [MA] Setembro de 2008

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Juventus 1999/2000 A “Vecchia Signora” teve um início de returno impressionante e abriu nove pontos para a vice-líder Lazio. A Juve tropeçou, mas ainda liderava antes da última rodada. Até que perderam para o Perugia

“CAVALOS PARAGUAIOS” por Leonardo Bertozzi ozzi

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Newcastle 1995/6

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Real Madrid 2003/4

O time de Ronaldo, Zidane, Figo e Beckham ditava o ritmo do Campeonato Espanhol, abrindo oito pontos para o Valencia. Na reta final, perdeu em casa para Osasuna, Mallorca e Real Sociedad e acabou na quarta posição

Palmeiras 2001

O Palmeiras era líder do Brasileirão após 17 das 27 rodadas e, ainda assim, a torcida vaiava Celso Roth. Uma série de derrotas derrubou o técnico e deu início à derrocada. O Alviverde terminou em 12º lugar, fora da zona de classificação para as quartas-de-final

É possível abrir 12 pontos em torneios de pontos corridos e deixar o troféu escapar? O Newcastle provou que sim. A diferença que os Magpies tinham para o Manchester United em janeiro não bastou para acabar com um jejum de títulos de liga que dura desde 1927

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Monaco 2003/4

O ASM poderia ter interrompido o domínio do Lyon na Ligue 1. No início do segundo turno, o Monaco chegou a bater os lioneses por 3 a 0 e a abrir sete pontos. Como foi até a final da LC, ficou sem fôlego no torneio doméstico e foi ultrapassado por Lyon

GERAL » INSÓLITO

ERRAMOS

Robert Zolles/Reuters

FESTA DO IRMÃO MENOR A

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Na nota “Patinho feio do Sudeste” (ago/08, pág. 11), a tabela inclui o Amazonas como estado que não teve representante nas Séries A e B desde 2004, ignorando a presença do São Raimundo na Segundona até 2006. Na mesma tabela, faltou mencionar a Paraíba, com 38,1% de aproveitamento. Na reportagem “Outros tempos” (ago/08, pág. 37) está escrito que o Guarani sofreu, entre 1999 e 2006, “quatro rebaixamentos em três competições: Campeonato Paulista, Rio-São Paulo e Brasileirão”. Faltou citar um quinto rebaixamento, na Série B nacional.

Grécia é uma pátria-mãe do Chipre. Metade do país (a reconhecida internacionalmente, veja nota ao lado) tem forte influência grega, o que se vê na cultura e língua. Pois, em 13 e 14 de agosto, os cipriotas puderam sentir o gosto de desbancar os “irmãos mais velhos”. Pela fase preliminar da Liga dos Campeões, o Anorthosis Famagusta, que já surpreendera ao eliminar o Rapid Viena na etapa anterior, fez 3 a 0 no Olympiacos. O jogo foi realizado em Larnaca, cidade que se transformou em casa (oficialmente provisória) do Anorthosis desde 1974, quando Famagusta foi ocupada pelos turcos. Torosidis (contra), Sosin e Laban marcaram os gols que deixaram o time cipriota – que ainda conta com Sávio e o zagueiro Traianos Dellas, ex-seleção grega – muito próximo da fase de grupos da LC. No dia seguinte, quando a sensação era de que dificilmente o futebol cipriota iria mais longe, o Omonia Nicósia protagonizou uma enorme surpresa ao vencer por 1 a 0 o AEK em Atenas pela Copa Uefa. O gol foi do cabo-verdiano Cafu. Foi a primeira vez que Olympiacos e AEK perderam para equipes cipriotas em torneios continentais. E duas derrotas contundentes, que deixaram o pequeno Chipre sentindo que a relação de forças com os gregos pode estar se invertendo. [UL]

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Boca Juniors 2006

Poucos apostavam contra o Boca no Apertura. Os Xeneizes tinham mais elenco e abriram quatro pontos a duas rodadas do final. Mas derrotas para Belgrano e Lanús permitiram que o Estudiantes empatasse em pontos e levassse o título no jogo-desempate

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Botafogo 2007

Apresentando um futebol vistoso, a equipe de Cuca ocupou a ponta durante boa parte do primeiro turno do Brasileirão, dando ares de final ao confronto em casa com o São Paulo. Depois da derrota, o time desandou e não foi além de um nono lugar

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Arsenal 2007/8

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Coritiba 2006

Os garotos de Arsène Wenger olharam do alto para os adversários durante boa parte da temporada. A doze rodadas do fim, a vantagem para o Manchester United era de cinco pontos. Mas faltou fôlego, e os londrinos acabaram só com o terceiro lugar

O Coxa caminhava tranqüilamente na tentativa de retornar à Série A. Após a 22ª das 38 rodadas, ocupava a liderança da tabela. A partir daí, veio uma crise, agressão de torcedores aos jogadores no aeroporto e a sexta colocação ao final do torneio

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Chievo 2001/2

Jorge R. Jorge

Caçula na Série A, o time de Verona surpreendeu ao se manter na ponta até dezembro, com direito a resultados como os 2 a 1 sobre a Internazionale em Milão. O segundo turno não foi tão bom, mas o quinto lugar final foi honroso

por Ricardo Espina

CURIOSIDADES DA BOLA O defensor Mark McGregor, de 31 anos, estava com dificuldades para encontrar um clube. Até que criou, no Facebook, uma rede virtual de contatos, um grupo chamado “Ajude Macca a achar uma equipe”. A comunidade logo rendeu frutos: McGregor assinou com o Altrincham, da quinta divisão inglesa. Um amistoso entre Cartagena e Almería quase foi cancelado. O Cartagena exigia que fosse usada bola da Adidas. O Almería preferia a da Nike. Decisão salomônica: em cada tempo usou-se uma bola. O jogo terminou em 1 a 1. E cada equipe marcou seu gol quando jogou com sua bola preferida. Um jogador da Premier League de nome não revelado foi vítima de chantagem. O responsável foi o goleiro Ashley Timms, que teria imagens de cunho sexual do atleta e pedia € 19 mil para não divulgá-las. O goleiro, hoje sem clube, foi preso.

PRODUTO NACIONAL

JOGO FUTEBOL, LOGO EXISTO

Nada de estrangeiros no futebol malaio. As autoridades do futebol no país decidiram restringir a liga a jogadores locais, pois a presença de estrangeiros atrapalharia o desenvolvimento da seleção e provocaria gastos exagerados nos clubes. Os dirigentes alegam que os estrangeiros que atuam na Malásia estão fora de sua melhor forma física e técnica. Além disso, muitos estariam envolvidos em escândalos de manipulação de resultados que assolaram o país nos últimos anos.

A Fifa autorizou o Chipre do Norte a marcar amistosos contra outras seleções. Membros da entidade se reuniram com autoridades da Uefa e da federação norte-cipriota (CTFA) chegaram a um acordo, com o objetivo principal de “melhorar as relações entre as comunidades do futebol no país”. A ilha enfrenta problemas entre a parte norte, de influência turca, e o sul, grego. O Chipre do Norte tem sua independência reconhecida apenas pela Turquia, e a CTFA se recusou a se juntar à Federação Cipriota, dominada pelo lado grego. Por isso, sem o reconhecimento da Fifa, a seleção, os clubes e jogadores norte-cipriotas estão impedidos de participar de torneios oficiais.

O jogo das quatro viradas Não há rivalidade real entre Juventus e Nacional. No máximo, uma briga pelo posto de clube de bairro mais simpático da cidade. Mas, em 6 de agosto, pela Copa Paulista (antiga Copa FPF) as equipes de Mooca e Barra Funda fizeram um dos melhores Juve-Nais da história. Foram quatro viradas, com gol decisivo aos 44 minutos do segundo tempo. Confira:

NACIONAL-SP 4X5 JUVENTUS Local estádio Nicolau Alayon (São Paulo) Público 314 pagantes Gols Dewide (J), Cézar Santos (N), Levi (J, contra), Dewide (J), Thiago Luiz (J), Magno (N), Matheus (N), Daniel (J, 2) Setembro de 2008

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Ricardo Saibun/AGIF

GERAL » REPLAY

FLUNERAL Revoltados com a péssima campanha do time no Brasileirão, torcedores do Fluminense enterraram simbolicamente o clube antes da partida contra o São Paulo no Maracanã. Curiosamente, naquele dia, o Flu venceu: 3 a 1 de virada

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Alexander Nemenov/AFP

FATALIDADE Uma cena impressionante de Santos 2x2 Flamengo pelo Brasileirão: Maikon Leite sofre grave torção no joelho ao cair de mau jeito depois de encontrão com o goleiro rubro-negro Bruno

Getty Images/AFP

JOGO DURO Essien lutou muito, mas não impediu que o Chelsea fosse eliminado pelo Lokomotiv Moscou na Railways Cup. Na decisão, os russos perderam para o Sevilla, enquanto os Blues ficaram em terceiro ao golear o Milan por 5 a 0

RUMO A LONDRES 2012 Mesmo despreparada, a Seleção de Dunga chegou à China com a esperança de ser a primeira a trazer o ouro olímpico ao Brasil. Resultado: Argentina 3 a 0. O pior é que nem o time feminino colaborou.

André Mourão/AGIF

Getty Images/AFP

NOVO TIPO DE AQUECIMENTO? O atacante Mario Gómez parece estar pegando fogo antes do amistoso de seu Stuttgart com o Arsenal

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PENEIRA

PHILIPPE COUTINHO:

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Nome Philippe Coutinho Correia Nascimento 12/junho/1992, no Rio de Janeiro Altura 1,72 m Peso 64 kg Carreira Vasco (desde 1999)

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sário para que complete a maioridade e possa se envolver em uma transação internacional, isso o ajudará a ganhar um pouco mais de experiência. As atuações de Coutinho no último Sul-Americano sub-15 deram início ao assédio estrangeiro sobre seu futebol. Rápido e habilidoso, ele chamou a atenção pela ousadia nos dribles e pelos passes precisos. O meia carece, no entanto, de um maior sentido coletivo em seu jogo. Enquanto não corrige esse defeito, precisará administrar a sua carreira e a expectativa existente em torno de si para seguir crescendo. [MA]

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saída de jogadores brasileiros para o exterior tem se intensificado cada vez mais nos últimos anos e atingido até mesmo os mais jovens. Um dos exemplos mais recentes disso é o meia Philippe Coutinho, que ainda nem estreou entre os profissionais do Vasco e já foi negociado com a Internazionale. A venda do cruzmaltino foi anunciada poucas semanas depois de ele completar 16 anos e assinar o que seria seu primeiro contrato profissional em São Januário. Coutinho chegará a Milão com o status de resposta “nerazzurra” ao milanista Alexandre Pato. Mas, antes de embarcar para a Itália, o meia permanecerá por mais dois anos em São Januário. Além de ser o tempo neces-

Paulo Fe

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resposta a Pato

SUKUTA-PASU: o pilar da renovação

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Nome Richard Sukuta-Pasu Nascimento 24/junho/1990, eem Wuppertal (ALE) Altura 1,84 m Peso 79 kg Carreira Grun-Weiss Wuppertal (1998 e 1999) e Bayer Leverkusen (desde 2000)

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que seus colegas se aproximem de trás. Outra virtude do filho de congoleses que se mudaram para a Alemanha para estudar é saber usar a força física. Falta-lhe somente um pouco mais de habilidade no trato da bola. O que não deverá ser empecilho para que garanta as suas primeiras oportunidades no jovem time do Bayer Leverkusen nesta temporada. Largando como quinta opção para o ataque do “time das aspirinas”, Sukuta-Pasu pode ganhar espaço com o técnico Bruno Labbadia no decorrer da temporada. [MA] tty

pós os fracassos do início da década, a federação alemã iniciou um trabalho nas categorias de base para que o Nationalelf recuperasse sua força. Pouco tempo se passou e os resultados já estão sendo colhidos. Em apenas dois anos, o país conseguiu fazer uma boa campanha no Mundial sub-17 e faturou o título do Europeu sub-19. Presente em ambas as ocasiões, o atacante Sukuta-Pasu desponta como um dos principais nomes da nova geração. O faro de gol demonstrado nos torneios motivou a comparação entre seu futebol e o de Podolski. Como ocorre com o atacante do Bayern de Munique, Sukuta-Pasu conta com sua agilidade e velocidade no arranques para cair pelos lados do campo e abrir espaço para

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por Mauro Beting g

P(h)el(ps)é ARTILHEIRO DO O POSTO QUATRO FUTEBOL ro do Carioca Esporte Clube, CLUBE, zagueiro tebol da praia de Copacabana, treinador de futebol tafogo, Neném Prancha era um roupeiro do Botafogo, futebólogo de mão cheiaa e língua afiada. Conhecedor ntonio Franco de Oliveira, o da prática e da teoria, Antonio Neném (que era Prancha pelo tamanho das mãos rases que os jornalise pés) do nada tirava frases em não é bem essa) tas botafoguenses (a ordem Sandro Moreyra e João Saldanha ajudaas que viraram ram a ser tudo. Daquelas mo... de domínio público. Como... nhasse jogo, o - Se concentração ganhasse ão perdia uma. time da penitenciária não vras. Neném moSábias e sabidas palavras. ualquer no próprio rava num quartinho qualquer ra ficar preso, ilhado, Botafogo. Sabia o que era gulhado no trabalho. esquecido da vida, mergulhado co. E muito bem. Até por isso falava pouco. ontra o regime de conPrancha praguejava contra sura interminável para centração. Aquela clausura garantir o repouso de um elenco. A prática espartana para evitar excessos e acessos de espertos. Algo que deveria ser indirnia vidual, mas que a esbórnia nancoletiva acabava detonanovens do. Sobretudo com jovens diados. atletas, sempre assediados. Sempre sedentos. tos Havia um entre tantos onque não gostava de concentração. Quando podiaa (e ele ), driblapodia mais que os outros), po. Mas, va como fintava em campo. na hora do vamos ver e vencer, ha. ele era imbatível. Uma ilha. Pelé! No vestiário, Ele colocava a toalha sobre a cabeça,, pensava, oncentravaimaginava, sonhava. Concentravase. Visualizava o que fariaa – e Ele faria. entro de campo, Antevia os lances que, dentro via. Pressentia. só Ele via. Antevia. Previa. Também porque, fora dele, Pelé se concentrava nos detalhes. Jogava um jogo mental.. Desfazia adversários, construía lances. Naquele momento, ninguém chegava perto. O descanso alho. Pesado. Psicológico. Previsto. do Rei, de fato, era trabalho. Coisa de Pelé. helps. O Pelé das piscinas. O Pelé Coisa de Michael Phelps. batroz fora da piscina: antes de caolímpico. Veja aquele albatroz gundo colocado a sensação de ter da prova que dá ao segundo

PONTO DE BOL LA

feito o máximo (o que ainda é mí mínimo para superar Phelps), ninguém parece mai mais concentrado. Nenhum nadador parece mais aten atento ao entorno que ele. Não é apenas no mundo su submerso onde é rei; Phelps parece imerso num próprio planeta ainda na borda da piscina. A envergadura absurda explica o ssucesso. Suor e superação também. A recuperaçã recuperação física e química descomunal fizeram d dele em quatro anos o maior camp campeão olímpico em 112 anos de Jogos. Phelps têm mais ouro ouros que muitos países. Tamb Também porque se concentra m mais que qualquer nadado nadador. Michael F Fred Phelps que, antes de ca cair na água, aos sete anos anos, tinha o diagnóstico de Transtorno Défi de Atenção do Déficit H com Hiperatividade. TDAH Os sintoTDAH. mas não prestamas: va muita atenção d a detalhes e, por ve vezes, não dava a menor bola ao qu era dito a ele. que Tin dificuldade Tinha para se concentrar par seguir regras e para inst e instruções. Perdia aten a atenção por qualquer co coisa paralela. O cam campeão da concentraçã centração não se concentrava no mundo s real. Ou será que só se a concentraria para aquilo que ama e que domina? ta Pode ser. Como tantos com diagnóstico de TDAH, o mundo real dos reles mortais como nós é para eles e se superam irreal. Pelés como eles jo também por jogarem um jogo nu universo insó deles, num dividual impenetrável, vez impensável. por vezes Impossí Impossível – se existe essa palavra nesse mundin que vale o mundinho planeta planeta. Essa concentração ganha jogo. jog Setembro de 200 2008

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TÁTICA

por Ubiratan Leal

O errado que tem

dado certo Grêmio vive ano turbulento, com troca de comando e perda de jogadores importantes, mas poder de adaptação o coloca entre as forças do Brasileirão

O

“politicamente correto futebolístico” diz que um clube precisa contratar um técnico com histórico de bons trabalhos de longo prazo e dar tempo para ele implementar seu plano. Pois o Grêmio fez tudo diferente. E, ainda assim, terminou o primeiro turno do Brasileirão com a primeira posição e uma vantagem de cinco pontos para o segundo colocado. A chave desse inusitado sucesso gremista foi a capacidade de adaptação às condições que a temporada apresentava. Algo que se tornou possível pela oportunidade – e necessidade – de testar formações novas e o tempo para treinar. Quando assumiu o comando do Tricolor, em janeiro, Vagner Mancini tinha em mãos um elenco profundamente modificado em relação ao que Mano Menezes utilizara em 2007. Assim, o técnico adotou uma formação mais convencional: o 4-4-2 “à brasileira”, com dois volantes e dois meias de armação. O esquema funcionou. Mesmo sem ser brilhante, o Grêmio contava com a boa fase de Roger, que armava, mas também vinha concluindo as jogadas, e a experiência de Eduardo Costa na marcação. O problema maior era a falta de um atacante de referência. Perea, Reinaldo, Tadeu, Adílson e Jonas se revezaram na frente sem que nenhum convencesse. Com isso, o time perdia agressividade. Apesar dos bons resultados,

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Vagner Mancini se desentendeu com a diretoria e acabou demitido. Celso Roth – um técnico sem carisma ou histórico de grandes trabalhos – assumiu e foi modificando gradualmente o esquema, sempre de acordo com a necessidade de dar mais estabilidade à equipe ou, principalmente, de refletir as movimentações de mercado, com saídas e chegadas de jogadores no meio da temporada. Muitas tentativas foram desastradas. Contra o Juventude, nas quartas-de-final do Gauchão, o Grêmio entrou em um 4-2-3-1, em que o trio Maylson-Roger-Julio dos Santos armava as jogadas para Perea. Como o colombiano não é um atacante fixo, o sistema ficou sem homem de referência na área, e o Tricolor foi eliminado em casa. Outra experiência fracassada foi formar um trio de volantes (William Magrão-Eduardo CostaRafael Carioca) para enfrentar o Atlético-GO em casa pela Copa do Brasil. Como havia perdido em Goiânia, os gremistas precisavam vencer por boa diferença de gols no Olímpico. Sem muitos jogadores que pudessem contribuir no ataque, o Tricolor fez apenas 2 a 1 e perdeu nos pênaltis. Depois dessas duas quedas consecutivas, o Grêmio ficou um mês sem compromissos oficiais. Foi o tempo suficiente para voltar aos gramados com um esquema muito mais sólido e condizente

Tcheco, Perea e Marcel contam com apoio de volantes e alas para levar Grêmio à briga pelo título

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Campeão de inverno Apoio de volantes e alas dá mais fluidez ao 3-5-2 de Roth, vencedor do primeiro turno do Brasileirão

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No 4-4-2, Grêmio de Vagner Mancini começou bem, mas trabalho ficou pela metade

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Experiência desastrada Roth testou o 4-2-3-1, mas viu o time ser eliminado do Gauchão pelo Juventude em casa

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O reforço do meio-campo permitiu que o Grêmio voltasse a usar dois atacantes. Perea é o homem mais móvel, aproveitando sua explosão física para arrancar de trás ou confundir os marcadores. Marcel não chega a ser um centroavante genial, mas faz seu papel como figura mais fixa na frente. Com essa ênfase no trabalho coletivo, em que jogadores úteis formaram um conjunto encorpado, o Grêmio surpreendeu Flamengo, São Paulo, Palmeiras e Internacional, clubes que apostaram em jogadores mais conhecidos, e conquistou o título simbólico de campeão do primeiro turno do Brasileirão. Talvez falte fôlego para manter a ponta até o final da competição: o elenco não tem profundidade, e o talento para as decisões não abunda. De qualquer modo, já é bastante para quem contou apenas com a capacidade de adaptação para superar o baixo investimento em reforços, passou por trocas de comando e fez tudo fora do que se considera um bom planejamento.

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G: goleiro / LD: lateral-direito -direito / LE: lateral-esquerdo / Z: zagueiro / AD: ala-dir ala-direito / AE: ala-esquerdo / V: volante / M: meia / MA: meia meia-atacante / PD: ponta-direito / PE: ponta-esquerdo / A: atacante

Fernando Gomes/RBS

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Início promissor

com as características dos jogadores à disposição. Celso Roth adotou o 3-5-2, o sistema que melhor funcionou na Azenha. O trio de zagueiros deixou a defesa mais fechada. Os alas ganharam liberdade e, ainda que não sejam exímios apoiadores, se tornaram opções ofensivas interessantes. Mas a sustentação desse Grêmio é a dupla de volantes. A saída de Eduardo Costa abriu espaço para Rafael Carioca e William Magrão, que marcam e saem para o jogo com naturalidade. Ainda que sempre um fique atrás para proteger a defesa, o avanço do outro ajuda a dar mais opções na criação, sobretudo pela aparição de um elemento-surpresa vindo de trás. Outra troca que se mostrou positiva foi de Roger por Tcheco. O primeiro dava o toque de brilhantismo do Grêmio, mas impunha um ritmo mais acelerado ao conjunto. Com sua ida ao Catar e a chegada de Tcheco, a armação se tornou cadenciada, mais compatível com a equipe pesada com que conta Roth.

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ENTREVISTA » ANDRÉS D’ALESSANDRO

O futuro

começa no Beira-Rio D’Alessandro não esconde que Inter pode ser uma ponte para retornar à Europa, mas sabe que, para isso, terá de reencontrar o futebol do início da carreira

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e há uma característica que define Andrés D’Alessandro é a espontaneidade. Ele não dá voltas para dizer as coisas, não faz cara enigmática para ocultar seus pensamentos e, se tem de contestar um colega, técnico ou adversário, o faz com absoluta tranqüilidade. Um jeito que já lhe trouxe vários problemas, mas também pode ser revertido em fantasia com sua esquerda que deixa a todos boquiabertos. A “boba”, como chama sua jogada mais característica, é uma boa mostra de seu estilo espontâneo. Como é a “boba”? É uma ajeitada de bola para um lado e a saída explosiva para o outro, um truque que “patenteou” quando era criança e ficava preso no canto. “Como não podia sair, jogava a bola para o meio e seguia por fora”. Onde está a espontaneidade? É que, quando foi perguntado pela primeira vez como a fazia, ele teve de pensar um pouco e pedir uma bola, observar seus próprios movimentos e depois teorizá-los para dar uma explicação coerente. D’Alessandro nasceu em 15 de abril de 1981 em Buenos Aires e toda sua vida passou rápido. Foi com a naturalidade de uma pessoa que sabe que o futebol o transformou em destaque do Mundial sub-20 de 2001, quando nem estava nos planos de José Pekerman. Na posição jogava Livio Prieto, jovem do Independiente que se lesionou e deixou uma vaga em aberto. Foi suficiente para D’Alessandro, o rapaz que ajudava seus pais Eduardo e Estela a fatiar pizzas, não parar até se transformar em estrela. Ele se tornou ídolo do River Plate, onde chegou a usar a camisa 10 com a tarja de capitão. Essa é a estrela que jogou nas seleções de Marcelo Bielsa. A estrela que cresce em vez de se esconder com a violência dos marcadores. A estrela que passou por Alemanha, Inglaterra e Espanha. A estrela que disse que voltar da Europa aos “vinte e poucos” anos era fracassar, mas seis meses depois estava de volta. A estrela fugaz que brilhou apenas seis meses no San Lorenzo, que passou por cinco países nos últimos cinco anos e que, hoje, seduzido por um novo projeto e por uma nada desprezível quantidade de dólares, chegou como reforço do Internacional para o Brasileirão. D’Alessandro não ignora isso tudo. E é isso que ele deixa claro em entrevista concedida à Trivela ainda em Buenos Aires, dias antes de embarcar a Porto Alegre para se apresentar oficialmente ao Colorado.

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O que espera encontrar no Brasil? Um lugar igual a qualquer outro. Não há mistérios, ainda que seja verdade que o Brasil é identificado em todo mundo por sua maneira especial de viver e jogar futebol, uma maneira que também me identifica. No Brasil, se joga bem e as pessoas gostam de ver bom futebol. Então, sinto o futebol como os brasileiros. Por que o Inter? Pode parecer um destino pouco tradicional para o que se está acostumado na Argentina, mas é preciso ter a cabeça aberta a tudo. É assim que surgem coisas boas para mim e minha família, como é o caso desse projeto. Claro que fui procurar pessoas para me aconselhar. Saja, por exemplo, estava muito contente com a cidade e com tudo por lá. O que você já conhecia do clube? É uma das equipes mais importantes do Brasil por sua história e ainda mais pelos últimos anos, já que foi campeão mundial. Não é qualquer um que consegue isso. Aliás, são poucos os que podem pensar em um título desse. E o Inter o conquistou. Além disso, o time tem jogadores muito bons. Já conheço Gustavo Nery, com quem joguei no Zaragoza. E qualquer um sabe o que

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Jorge R. Jorge

por Antonio Vicente Serpa

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Juan Barreto/AFP

podem jogar Guiñazu, Nilmar, que foi companheiro de Tevez e Mascherano no Corinthians... Creio que o Inter tem um grande elenco e pode pensar em títulos. Já que mencionou o Tevez... Acusaram vocês de catimbar naquela final de Copa América no Peru, quando vocês brincavam com a bola e o Brasil acabou empatando e ganhando nos pênaltis. Tem medo que os brasileiros tenham lembranças ruins de você? Nããããão. O que eles iriam me dizer? Eu não teria o que explicar porque o que eu e Carlitos fazíamos era pisar na bola para que o tempo passasse porque estávamos ganhando. Mas era só isso. Na verdade, nunca falei disso com ninguém no Brasil. E da rivalidade, já falou? Claro, a rivalidade nunca vai acabar. Mas, veja, eu reconheço que eles são os melhores do mundo junto com os argentinos. Jogam bem, com alegria. Vai ser legal jogar lá. No Brasil, ainda se lembram daqueles jogos contra o Corinthians em 2003, quando, pelo River, você ajudou a eliminá-los. Sério? É legal que tenham boas lembranças de mim. Foram duas partidas em que o time jogou bem, ganhamos ambas, eu fiz um gol de falta... Não é comum que alguém vá ao Brasil e jogue daquele jeito. O Manuel Pellegrini era o técnico e até entendo que muitas pessoas ainda se lembrem daquele time e daquelas partidas. Em qual posição se sente melhor? Como “enganche” (meia de criação, próximo ao ataque), livre, sem posição fixa, e levando a bola e chegando até à área. Você já disse “podendo driblar, eu sou feliz” e é um provocador. Nunca teve medo de tomar uma entrada mais dura? Medo, não. Sei que, na minha posição, fico mais exposto a entradas, mas o jogador de futebol tem de ficar calado e continuar jogando. Eu reclamo um pouco e é uma das crí-

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ticas que faço a mim mesmo, porque isso me joga contra os outros. Os árbitros, muitas vezes, ficam mais irritados com uma reclamação do que com uma entrada violenta e não têm dúvida em expulsar o “reclamão”. Também não gosto de discutir com o adversário porque sei que pode vir coisa pior depois. Pelo que você jogou no River e na seleção argentina, passava a sensação de que jogaria em grandes equipes européias. O Wolfsburg não é um grande na Alemanha, Portsmouth brigou para não ser rebaixado e Zaragoza também...

Andrés Nicolás D’Alessandro Nascimento 15/abril/1981, em Buenos Aires (Argentina) Altura 1,74 m Peso 68 kg Carreira River Plate (1998 a 2003) , Wolfsburg (2003 a 2005) , Portsmouth (2006), Zaragoza (2006 e 2007), San Lorenzo (2008) e Internacional (desde 2008) Títulos Medalha de ouro olímpica (2004) , Mundial sub-20 (2001) , Campeonato Argentino (2000, 2002 e 2003)

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Na minha posição, fico mais exposto a entradas, mas o jogador tem de ficar calado e continuar jogando. Eu reclamo um pouco e é uma das críticas que faço a mim mesmo Aconteceu assim, mas não me arrependo de nada. Pelo contrário, estou orgulhoso de ter jogado em cada um desses lugares. Há muitíssimos fatores que influem na carreira do futebolista e nem sempre dá para saber onde vai jogar. Em todos esses times eu fiz o melhor possível e não perco a esperança de fazer o mesmo no Inter para ter a chance de voltar à Europa, ainda que hoje minha cabeça esteja em Porto Alegre.

Antes de acertar com o Inter, você não estava perto do River? Não. Pegaria muito mal não ficar no San Lorenzo para ir ao River em seguida. Teria sido muito ruim para eles e não considerei essa hipótese por respeito a quem me deu uma oportunidade.

Sabia que, em Porto Alegre, já se vendia a camisa com seu nome antes mesmo de terminar a negociação? O futebol sempre surpreende com alguma coisa como essa, o carinho de outro país. E, sendo o Brasil, tem ainda mais valor, por causa da rivalidade. Mas acredito que o segredo disso é o legado deixado pelos outros argentinos. Todos sabemos o que fizeram Carlitos e Mascherano no Corinthians, Saja e Schiavi no Grêmio, Ameli em seu momento. Isso abre as portas aos demais.

Você não saiu do San Lorenzo com pouco tempo? Foram apenas seis meses... Na verdade, sair da Argentina não estava nos meus planos. Esperava jogar um ano mais, pelo menos. Mas sabia-se que, por contrato, eu iria embora se aparecesse alguma proposta importante. O futebol tem essas coisas. De qualquer modo, independentemente do que conseguimos na Libertadores [o San Lorenzo caiu nas quartasde-final para a LDU], creio que tive uma boa passagem no San Lorenzo. Faltou um pouco de sorte, mas tive orgulho e satisfação em defender esse clube.

Você escolheu o Brasil para estar mais perto do River? Aonde quer que eu vá, sempre estarei perto do River. Se não ocorrer nada estranho, terminarei minha carreira lá, não importa quem seja o presidente ou o técnico. Quando eu decidir voltar definitivamente à Argentina, certamente escolherei o River. Aliás, eu poderia ter retornado em dezembro. No entanto, o San Lorenzo fez um grande esforço para me contratar e me senti na obrigação de aceitar.

Há muitíssimos fatores que influem na carreira do futebolista e nem sempre dá para saber onde vai jogar Michael Kappeler/AFP

No Zaragoza você deu seu melhor? Lá você jogou mal, brigou com o técnico, fez escândalo em um treino na frente de todos, discutiu com companheiros... Foi uma aposta minha ir ao Zaragoza quando havia outros clubes fazendo proposta. Fui seduzido pelo projeto do Víctor Fernández [técnico do clube entre 2006 e 2007] e, se as coisas terminaram mal, foi por culpa dele. Acontece que o Víctor é da casa e a imprensa decidiu que o vilão da história era eu. Mas a verdade é que ele disse que eu estava

fora por contusão, mas eu estava bem. Era uma decisão pura e exclusivamente tática dele. Em relação à confusão naquele treino, admito que errei. Não era o modo nem o lugar para fazer aquilo, mas ele jamais me ouviu quando o chamei para falar pessoalmente.

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CAPA » TÉCNICOS

por Augusto Amaral e José Carlos Pedrosa

POR TRÁS DO TREINADOR,

UM HOMEM DE NEGÓCIOS Vanderlei Luxemburgo é mais que um ele instituto técnico: té i l tem t i tit t de d ensino, i ligação com empresas e alimenta bons relacionamentos com agentes e árbitros

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arcelo Teixeira já saboreava o gosto de ter feito a melhor contratação do futebol brasileiro naquela janela de transferências na metade de 2006. No penúltimo dia do prazo para contratações, o presidente do Santos tinha Zé Roberto na manga. Acordo apalavrado, negócio certo. Nem tanto. Horas antes do fim de 31 de agosto, dia derradeiro para transferências, Teixeira foi informado de que o São Paulo entrara pesado para roubar-lhe o meia, um dos únicos jogadores a saírem ilesos do vexame brasileiro na Copa da Alemanha, um mês antes. O dirigente santista não teve dúvidas. Mandou a São Paulo, às pressas, seu melhor negociador. No início da noite daquela quinta-feira chegava a um edifício na região da avenida Paulista, onde o empresário Juan Figer mantém um escritório no qual conduz a carreira de vários jogadores brasileiros renomados, o único homem, na avaliação do presidente santista, capaz de evitar que Zé Roberto fosse parar no Morumbi, e não na Vila Belmiro. Com carta branca para fechar o negócio mais importante no mercado interno da bola no

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Jorge R. Jorge

país naquela temporada, esse homem era Vanderlei Luxemburgo da Silva, de 56 anos. O então técnico do Santos, fazendo as vezes de diretor de futebol, não decepcionou seu patrão. Tal qual um executivo de ponta do mundo dos meganegócios mundiais, foi agressivo até virar a situação a seu favor. Ofereceu um belíssimo salário e usou toda sua lábia de técnico boleiro, para convencer o meia a ir para o litoral e ignorar a sedutora oferta de liderar o São Paulo, equipe pela qual o jogador já havia se encantado no período em que freqüentou o famoso Reffis, a sala de recuperação física de atletas do time do Morumbi. A história de uma das mais polêmicas disputas entre dois clubes brasileiros por um jogador ilustra bem como Vanderlei Luxemburgo deixou há tempos de ser apenas um grande técnico para atuar em diversos segmentos, dentro e fora do mundo da bola. O poder, a influência e, sobretudo, os negócios do atual técnico palmeirense vão muito além das táticas, dos treinamentos e dos títulos. Como Luxemburgo sempre está cotado para assumir a Seleção Brasileira – cargo que faz questão de deixar claro que está, sim, em seus planos – ao menor passo em falso de Dunga, esta é uma questão que a CBF deveria levar em consideração. Um clube – ou federação – interessado em contratar o laureado “estrategista” é obrigado a engolir no pacote as atividades paralelas que ele mantém. Não raro, Luxemburgo ocupa parte de seu tempo com seus outros negócios.

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Dois de seus principais empreendimentos, no entanto, despertam a sensação de que o limite entre Luxemburgo técnico e o Luxemburgo empresário é tênue e, muitas vezes, questionável. Eles são tocados paralelamente com a carreira à beira do gramados e diretamente ligados ao futebol: o Instituto Wanderley Luxemburgo, escola que, grosso modo, se propõe a “profissionalizar” o entorno do mercado, e a WS Sport, empresa que recentemente tentou fazer parceria para gerir o Joinville, time catarinense da Série C.

Metamorfose ambulante O Luxemburgo que hoje se preocupa tanto com o time que dirige em campo quanto com as questões administrativas da equipe (além de ter uma série de compromissos em outras atividades profissionais) é resultado de um processo de transformação ao longo de uma carreira que começou no início dos anos 80 e que, na década seguinte, decolou em ascensão meteórica e ganhou status de grife. Depois de se firmar como um dos principais técnicos do país, à frente do super Palmeiras/Parmalat dos anos 90 – a ponto de rivalizar com Telê Santana nos célebres duelos São Paulo x Palmeiras – Vanderlei passou a querer mais. Ainda dentro do Palestra Itália, por volta de 1996, o treinador era idolatrado por montar o famoso esquadrão alviverde dos 102 gols no Paulista, com jogadores do calibre de Rivaldo, Djalminha, Cafu e Muller. Aproveitando essa maré de prestígio, tentou emplacar um projeto para acumular a função como comandante do time principal e com a de coordenar todas as categorias de base do clube e formar jogadores. O Palmeiras, sob a tutela dele – e com o reforço do cofre da multinacional italiana – mantinha a tradição de dispensar pouca ou nenhuma atenção a seus times juvenis e juniores. Mas nem todo o cartaz obtido como o técnico que tirou o clube de um jejum de 17 anos sem títulos foi suficiente para dobrar Mustafá Contursi, então presidente palmeirense. O cartola não via Luxemburgo como uma figura de confiança a ponto de entregar em suas mãos um nascedouro de atletas, ainda que pouco utilizado. O caso provocou um mal-estar entre Luxemburgo e Palmeiras, representado à época por Sebastião Lapola, diretor remunerado que fazia a ponte entre as questões de campo e a cúpula do Parque Antarctica. E foi o início de uma de suas várias rupturas de contrato. O sonho de ultrapassar a fronteira informal das quatro linhas e passar a atuar também no escritório só viria a ser concretizado por Vanderlei em 2001. Foi no Corinthians que o técnico ganhou mais poder. A diretoria do Parque São Jorge transformou Luxemburgo em “manager”. Deu a ele autonomia para gerir não apenas os acontecimentos que envolvessem o time principal, mas também para participar de reuniões de diretoria quando o assunto fosse futebol, coordenar as categorias de base e, principalmente, indicar, conduzir e contratar jogadores. “Só vocês pensam que eu me preocupo apenas com contratação de jogador. Departamento de futebol é muito mais do que isso”, vangloriava-se Luxemburgo.

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Na esteira da nova função, foi o treinador quem, por exemplo, alinhavou e conduziu o retorno do goleiro Dida ao Parque São Jorge – à época, o camisa 1 vivia fase complicada na carreira na Europa, acusado de ter usado passaporte português falso e impossibilitado de jogar pelo Milan. Ao dar ao técnico poder de barganha para contratação, o Corinthians buscava imitar o modelo bem-sucedido dos principais clubes ingleses, como Manchester United e Arsenal, em que Alex Ferguson e Arsène Wenger conduzem a aquisição de reforços. No entanto, o fator político falou mais alto do que o exemplo a ser seguido. O aumento de poder causou desgaste gradativo com a diretoria corintiana. O que nascera como forma de prestigiá-lo virou depois motivo de piada entre a cartolagem alvinegra. Alguns só se referiam a Luxemburgo como “O Manager”, sempre em tom jocoso e lembrando que depois que assumiu a fun-

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Fernando Pilatos/Gazeta Press

NEGÓCIO DIVERSIFICADO Algumas empresas que Luxemburgo tem ou já teve participações Luxemburgo Veículos Ltda. WS Bar e Restaurante Ltda. Nusacar Oficina Mecânica Ltda. JIF Car Regulagem de Motores Ltda. WL Sports Ltda. Instituto WL

Além disso, CPI do Futebol identificou indícios também de envolvimennto de Luxemburgo com empresas que tinham características de lavagem de dinheiro:

Balrigde Properties Ltd. IWL: nova investida de Luxemburgo é no ramo de cursos de especialização

ção dupla, seu trabalho em campo perdeu qualidade (a ponto de ser demitido no fim daquele mesmo ano). Ironicamente, o sonho de Luxemburgo só virou realidade depois de ele fracassar em outra empreitada que balizou – e ainda baliza – sua vida profissional. Os dirigentes corintianos resolveram promover Luxemburgo dias depois de o técnico ver sua ambição de um retorno à Seleção Brasileira ser desmanchado no instante em que Ricardo Teixeira nomeou Luiz Felipe Scolari como o salvador da pátria – então machucada por uma performance que beirava o ridículo nas eliminatórias para a Copa de 2002. E o motivo para que o presidente da CBF ter preterido seu técnico até hoje favorito ao irredutível e turrão gaúcho não poderia ser mais irônico: a passagem de Luxemburgo pela seleção, entre 1998 e 2000. Turbulenta dentro de campo por falta de resultados.

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Fora dele, a exposição que um técnico do time nacional costuma ter levou Luxemburgo a ser acusado de vários atos, digamos, irregulares. Entre eles, suspeitas de envolvimento em negociação de jogadores e sonegação de impostos. Diante disso, Teixeira, também investigado e acusado de irregularidades, optou por não “levantar mais a poeira”.

A cara do Brasil As acusações que Luxemburgo sofreu lhe custaram um pouco mais que o não-retorno à Seleção. A enxurrada de denúncias apontava que ele, muito antes de virar o “Manager” corintiano, já havia transformado a vontade de ser mais do que técnico em realidade, ainda que informalmente. Vanderlei – que então deixara havia pouco tempo de ser o Wanderley que anos antes havia falsificado documentos para diminuir a idaSetembro de 2008

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RELAÇÕES DE LUXEMBURGO Psicóloga que já trabalhou em comissões técnicas formadas por Luxemburgo – inclusive na Seleção Brasileira – e que atualmente trabalha no IWL

Anselmo da Costa Árbitro de futebol paulista, que já apitou vários jogos de times comandados por Luxemburgo, atualmente dá aula no IWL

Sérgio Malucelli

Traffic

Nike

Juan Figer

Segundo quebra de sigilo bancário da CPI do futebol, mantinha relação comercial (com depósitos de ambas as partes) com Luxemburgo na mesma época em que era presidente do Iraty. Foi sócio do técnico em bar temático

Agência de marketing esportivo de quem recebeu, na época em que era técnico na Seleção, R$ 4.859,26, segundo declaração de Imposto de Renda do treinador)

Fornecedora de material esportiva da CBF, de quem recebeu, na época em que era técnico na Seleção, R$ 10.041,38, segundo declaração de Imposto de Renda do treinador)

A empresa do megaempresário de jogadores foi a responsável por levar Luxemburgo ao Real Madrid, em 2005

de, ou o popular “gato”, no mundo da bola – foi alvo de investigação pesada da CPI do Futebol. Apesar de ter nascido com flagrante apelo populista, a Comissão Parlamentar formada para “passar a limpo” o esporte número 1 do Brasil, chegou a conclusões inquietantes no que diz respeito ao treinador. O relatório final emitido pela CPI é assertivo ao apontá-lo como “um retrato da situação do futebol brasileiro”. Retrato que, segundo a Comissão, não era – e talvez não seja até hoje – dos mais bonitos. A CPI bateu forte no ex-comandante do time nacional. Escreveu em seu relatório final; “Foi efetivamente comprovado que, à margem de sua atuação profissional como treinador de futebol, o sr. Luxemburgo manteve dezenas de outros negócios”. Apontou ainda que Luxemburgo, enquanto treinador, “manteve relações financeiras e de amizade com alguns empresários de futebol”. Levantou ainda que, à época, suas movimentações financeiras demonstravam “fontes de rendimento diversas provenientes de seu trabalho como técnico de futebol, o que reforçaria , em tese,a possibilidade do mesmo estar recebendo comissões na transação e convocação de jogadores conforme denúncia recebida”. Tudo isso, descrito no relatório final da Comissão, documento que hoje em dia é considerado público e aberto para consultas. Para a CPI, outro comportamento de Luxemburgo também chamava a atenção: o fato de ter, em seus autos, declarações de Vanderlei no sentido de que “é normal que exista, também, o treinador que leva alguma coisa.” Palavras que Luxemburgo desmentiu em seu depoimento. A investigação da CPI acabou rendendo ao treinador problemas com a Receita Federal, por sonegação de impostos. Mas, o problema maior para Luxemburgo foi o modo como sua imagem saiu chamuscada de todo esse turbilhão. A despeito de toda sua competência para montar esquadrões que jogam bonito e conquistam títulos, esses problemas passaram a fazer parte de qualquer conversa em que o nome de Vanderlei surgisse.

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Bem-me-quer, mal-me-quer A preocupação em ser muito mais do que um técnico de campo deu a Luxemburgo prestígio entre muitos cartolas, como por exemplo o santista Marcelo Teixeira, como bem ilustram os primeiros parágrafos desta reportagem. Fez também seu modo de conduzir times, e a própria carreira, virar inspiração para uma nova geração de treinadores e até de dirigentes. O magnetismo de Luxemburgo causado por sua competência incontestável como comandante criou em volta dele uma legião de seguidores de seus métodos e de técnicos que hoje estão espalhados pelo futebol. Alexandre Gallo, que recentemente passou pelo Atlético-MG, e Paulo César Gusmão, hoje em dia no

Antônio Carlos: fiel escudeiro de Luxemburgo está no Corinthians

Leandro Amaral/Futura Press

Suzy Fleury

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Entre os clubes, Luxemburgo enfrenta resistência no São Paulo. Sempre que questionado sobre a possibilidade de contratar o técnico que conquistou títulos nos outros três grandes paulistas, o presidente Juvenal Juvêncio é enfático ao dizer que enquanto ele e sua diretoria estiverem no poder, isso não acontecerá. O motivo é justamente a forma como o treinador se comporta ao assumir uma equipe, querendo estender seu poder para além das decisões técnicas. A rejeição são-paulina causa uma ponta de frustração a Luxemburgo, que já chegou a declarar que gostaria de um dia trabalhar no Morumbi.

Stringer/Reuters

“Modus operandi”

Derrota para Camarões nos Jogos Olímpicos de 2000 acabou com conturbada passagem de Luxemburgo pela Seleção

Figueirense, são discípulos declarados de Luxemburgo, com quem já trabalharam como auxiliares. Jogadores que foram para a parte administrativa do futebol também dizem ter aprendido com ele. São os casos de César Sampaio, hoje dono de empresa que presta consultoria a clubes que queiram “gestão profissional”, e Antonio Carlos. O ex-zagueiro, aliás, saltou direto de dentro do campo para os escritórios. E, assim como seu mentor, de maneira polêmica (ao ser apresentado no Corinthians, Zago admitiu que já negociava o cargo no Parque São Jorge antes de se aposentar, quando ainda era zagueiro do Santos). Mas as atitudes e as escolhas do treinador do Palmeiras também renderam desafetos. O maior deles, declarado, é Emerson Leão. Desde que se viu substituído por Luxemburgo no Santos, em 2004, Leão jura que teve seu cargo “roubado” e que Luxemburgo já negociava com os santistas antes de sua queda. Diz ainda mais: segundo ele, Luxemburgo ligava para os jogadores santistas da época contando que iria trabalhar com eles. O ex-goleiro transformou, então, o ex-amigo em inimigo mortal. A ponto de nunca pronunciar o nome do colega de profissão, mesmo quando o cita de forma pejorativa em suas entrevistas.

A propriedade com que Luxemburgo trata hoje dos negócios da bola impressiona tanto quanto a habilidade dele para montar grandes times. Sempre que questionado sobre transações no futebol, o técnico procura despejar seu conhecimento sobre o assunto: “O mercado é sempre assim. Quando ele abre, ninguém vai. O europeu vai negociando. Aí vem a história da mudança de comportamento meu. É um negócio. Negócio você esgota até o final para tirar o melhor proveito. Então eu não vou fechar aqui com o jogador porque eu quero por 30 milhões. Eu posso deixar para última janela, de repente, quem está com a corda no pescoço pode vender mais barato”, ensina o “professor” Luxemburgo. O fato é que, até os dias atuais, as relações de Luxemburgo acabam influenciando nas contratações que os clubes por onde ele passa realizam. O técnico tem uma predileção especial por atletas oriundos de times do Paraná, Estado que nos últimos tempos tem se notabilizado como berço de times de aluguel, fundados apenas para abrigar jogadores de empresários. No Santos, jogadores do Iraty foram a “aposta” de renovação do elenco comandada pelo técnico. Ele também não esconde a amizade com o empresário paranaense Sérgio Malucelli, que tem como um de seus ramos de atividade a venda e compra de atletas. Eles já foram até sócios. Outra característica de Luxemburgo na hora de conduzir contratações é o “corpo-a-corpo”. Valendose do prestígio que conquistou com títulos que acumula na carreira (e da grife que isso passou a representar no futebol brasileiro) Vanderlei liga para os jogadores pretendidos antes de abrir a rodada de negociação. Com experiência e muita lábia, seduz o atleta a ir para o clube onde ele está. Um dos argumentos mais fortes que costuma usar, dizem pessoas que já participaram de negociações com o técnico, é o de que ao trabalhar com ele, o jogador está mais perto da Seleção. O raciocínio é simples: ele tem certeza de que voltará para o a função de técnico do Brasil e não se furta de prometer ao atleta com quem ele quer contar que o levará junto para vestir a camisa amarela. Promessa que pode, pela situação delicada de Dunga, estar mais perto de ser colocada à prova. A seleção que se cuide. Setembro de 2008

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VASCO

por Eduardo Zobaran

Um clube em

RUÍNAS O

dia 1º de julho de 2008 é um dos mais marcantes dos 110 anos de história do Vasco da Gama. Naquela terça-feira, o maior ídolo vascaíno, Roberto Dinamite, assumiu a presidência do clube após longa disputa com o antigo mandatário, Eurico Miranda. Já na posse, a missão de conduzir o Vasco era considerada dura. Dois meses depois, a definição para o que foi encontrado é “caótica”. O termo é usado pelo atual vice-presidente administrativo cruzmaltino, José Hamilton Mandarino. O economista, ex-diretor de planejamento do Banco Nacional

Nova diretoria vascaína ainda tenta colher os cacos e entender a real situação em São Januário

de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é o homem de confiança de Roberto Dinamite, responsável por contabilizar as dívidas e remodelar a estrutura administrativa do clube carioca. Segundo ele, os problemas seriam ainda maiores do que o esperado porque documentos importantes seriam “nebulosos” por omitir dados relevantes. Em alguns casos, dívidas assumidas pela gestão passada não discriminariam, por exemplo, qual foi o serviço prestado pelos credores, além de estarem totalmente desorganizados. “O que há é um caos administrativo. Pessoas que

Deise Rezende/AJB/Futura Press

Roberto Dinamite ainda não sabe como lidar com o que Eurico deixou para trás

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Rudy Trindade/Futura Press

presidente do MUV (Movimento Unido Vascaíno, grupo de oposição a Eurico Miranda) e vice-presidente de marketing da diretoria recém-eleita. Desse modo, o que tem sido feito toma como base um levantamento interno que pretende dar ao Vasco condições mínimas de administração. Assim, algumas medidas para enxugar os gastos já foram tomadas. Funcionários considerados incompatíveis para suas funções foram dispensados. Saíram assistentes, supervisores, fisioterapeutas, um treinador das divisões inferiores e uma nutricionista. Entre os demitidos está Aremithas José de Lima, auxiliar administrativo acusado por investigações da CPI do Futebol de ser um “laranja” de Eurico Miranda. Aremithas foi absolvido de todas as acusações, mas agora perdeu o emprego no clube. Procurado pela reportagem, o ex-presidente Eurico Miranda repetiu a frase: “não falo sobre o Vasco”. Postura semelhante teve o candidato derrotado na última eleição, Amadeu Pinto da Rocha, o qual afirmou que a diretoria atual está “falando muita besteira”.

Padaria vascaína

Em um clube sem capacidade de investimento, Edmundo e Leandro Amaral se tornam os destaques

ali trabalham se mostraram com conhecimento baixo, sempre alegando que não detinham esse ou aquele contrato, porque esses estavam sempre em poder da presidência”, revela. O atual trabalho é tido como preliminar. Uma auditoria ainda será feita para melhor compreensão técnica da situação financeira. A idéia, no entanto, ainda não tem data para se concretizar. Mesmo sem o respaldo de uma apuração técnica, a diretoria rejeita que as dívidas do clube estejam na casa dos R$ 30 milhões, valor utilizado como base pela antiga administração. Para a atual gestão vascaína, esses números seriam reflexos de balanços falsos, onde processos cíveis e trabalhistas em fase de execução são desconsiderados. Para aprovarem tais balanços, a diretoria anterior adotaria esquemas para intimidar os conselheiros. “Entregavam o balanço na entrada da sala de reunião e as pessoas tinham pouco tempo Dívida do Vasco em para avaliar e dar uma posição. estimativa da atual Todo mundo acabava aprovandiretoria quando assumiu do com medo de retaliações”, comenta José Henrique Coelho,

R$ 200 milhões

Além de tentar descobrir o que herdou, a direção do Vasco precisa manter o nível de competitividade do time, que rondou as últimas posições durante todo o primeiro turno do Brasileirão. E, para isso, falta dinheiro. Um jogador admitiu ter sido sondado pelo clube carioca, mas jamais recebeu proposta oficial. “Ficaram de me fazer uma proposta, mas, dois dias depois, demitiram um monte de gente, incluindo jogadores. Percebi que cortavam gastos e não falariam comigo”, conta. Para piorar, a diretoria anterior já teria antecipado receitas de 2009 e não se formou uma fila de candidatos a parceiros e patrocinadores, como chegou a anunciar Olavo Monteiro de Carvalho, influente empresário e atual presidente da Assembléia-Geral do Vasco. “O Vasco era administrado em papel de pão”, compara Mandarino. “Foi feita uma antecipação de contratos de patrocínio até o final do ano. O direito de TV já teve todas as receitas tomadas e utilizadas até junho de 2009”. Esse cenário justifica atitudes como a negociação de Philippe Coutinho, de 16 anos e nenhuma partida pelo time profissional, para a Internazionale por € 3,8 milhões. O jovem foi negociado por Eurico Miranda, mas o atual comando não descarta a possibilidade de que teria feito o mesmo. A diretoria cruzmaltina admite que não há um projeto de longo prazo com metas claras em médio. Os objetivos são mais simples e óbvios, como a valorização comercial do clube. Segundo o Mandarino, o Vasco é o detentor “dos contratos comerciais mais ridículos entre os grandes do Brasil”. Sem poder olhar para frente direito, o clube de São Januário é obrigado a barrar contratações de peso e Legenda aceitar a fazer “o possível”. Enquanto isso, o flerte com noonno o rebaixamento no Campeonato Brasileiro provoca arnonono repios no torcedor e nos dirigentes. Pisar na Série B é nonononono tido como um passo desastroso para o futuro de uma gestão que ainda tenta se adaptar à casa nova. Setembro de 2008

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ENCHENDO O PÉ

por Caio Maia

Tenho uma novidade NÃO TEM A MENOR IMPORTÂNCIA que uma pessoa vinda da favela ou quase, cuja mãe costurava seus quimonos com saco de arroz, ganhe uma medalha olímpica. Não vai mudar a vida de ninguém, nem dos pouquíssimos praticantes do judô no país, nem dos milhões de crianças da favela que não têm quimonos, raquetes, tênis ou maiôs – quanto mais piscinas. Dá audiência para o Jornal Nacional, os mais ingênuos acreditam que são brasileiros e não desistem nunca e os menos ingênuos aproveitam para dar uma xingadinha no governo. E só. Hoje mesmo, nem quatro pessoas lembram o nome da judoca – valorosa, sem dúvida – que ganhou um bronze olímpico e começou com o quimono que a mãe costurou com um saco de arroz. Até aí, tudo certo. Ketleyn Quadros, é esse o nome dela, ganhou um bronze. Só que para cada Ketleyn, há dez atletas que foram passear em Pequim às nossas custas. Igualmente valorosos, treinam duro, se preparam, honram o nome do País. Mas simplesmente não tinham nenhuma chance de chegar perto de uma medalha. E se assim é, não deveriam ter gasto dinheiro público para ir a Pequim. Beleza, pode me xingar. Época de Jogos Olímpicos desperta no brasileiro aquele patriotismo engraçado, meio norte-americano, todo mundo que xinga o País – “paisinho ele o Lula”- liga a TV e fica torcendo por mequetrefe que elege c pessoas que não conhece. E que não vão ganhar nada. Se o c competidor ou a competidora tiver cara de gente sofrida, tanto “so melhor. Mais “sofrido” quer dizer mais brasileiro. O problema de é que essas demonstrações de vontade e garra pessoais, empon de vista individual possam ser sensacionais, bora, do ponto u demandam uma quantidade estúpida de dinheiro. deleg Nossa delegação em Pequim foi formada por 469 pessoas, dirigente atletas, técnicos e Aspones. Ganhamos 15 meentre dirigentes, apen três de ouro. É uma das piores taxas de sucesso dalhas, sendo apenas deleg entre todas as delegações do planeta. Com o não pouco importante deex talhe de que, por exemplo, Noruega, Bélgica e Canadá têm relativamente um monte a mais de dinheiro para queimar do que o Brasil. Para não deixar o mantra morrer: 88% das escolas brasileiras não têm esporti quanto mais um programa adequado de educação fíuma quadra esportiva, empr sica. Se COB, empresas estatais e privadas que investem no esporte olímpico metad do dinheiro que queimaram em Pequim para providenciar dedicassem metade q tivéssemos que abrir mão de comemorar que o handebol isto, é provável que perd um jogo a menos do que nos últimos jogos, mas teríamos feminino perdeu casos bem mais importantes para a história do país de jovens crescendo mais saudáveis, preparados para competir na vida. Enfim, gozando d benefícios que poucos de nós podemos gozar por ter tido uma dos educação física na escola. Pode parecer importante quando algum brasileiro fica em oitavo em alguma prova de natação, ou quando nossa equipe passa pela primeira vez da primeira fase de qualquer coisa – apenas para acabar em 16º, ou algo que o valha. Mas não é. Engana você, engana os atletas, mas não traz nada para o país. O Brasil não tem o dinheiro necessário para bancar férias de atletas, por mais esforçados e valorosos que eles sejam. Quem não tem chance de medalha, deve ver os Jogos pela televisão. Precisamos destes recursos para fins mais importantes. Ainda que isso não sensibilize patrocinadores nem dê audiência ao Jornal Nacional.

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Zanone Fraissat/Futura Press

CARTOLAGEM

PATRIMÔNIO PÚBLICO Municípios deixam suas prioridades de lado para investirem em clubes de futebol, sempre de olho nos benefícios políticos e na promoção fácil

Q

uando o São Caetano chegou à final da Copa Libertadores, contra o Olimpia, em 2002, poucos entendiam a meteórica ascensão daquele pequeno clube da Grande São Paulo, que quatro anos antes estava na terceira divisão nacional. Em pouco tempo, a equipe saltou dos calabouços do futebol brasileiro para a elite da América do Sul. O segredo para o sucesso não demorou a surgir. Por trás de toda estrutura do clube, fundado em 1989, estava a prefeitura de São Caetano do Sul. Luis Tortorello, falecido em 2004,

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foi presidente de honra do São Caetano e prefeito do município em três mandatos. Com isso, o time teve respaldo financeiro suficiente para se diferenciar dos rivais nas divisões menores e, quando chegou ao topo, conseguiu se manter entre os grandes. No entanto, a partir do momento que a parceria com o poder público se esvaiu, o São Caetano seguiu uma trajetória decadente. O exemplo do Azulão é o mais notório dentre os recentes fenômenos de times de prefeitura no Brasil. Uma relação um tanto quanto suspeita e passível de

questionamentos. No caso de São Caetano do Sul, um município com orçamento alto e população relativamente pequena, o investimento em um clube de futebol não pesava tanto nas finanças públicas. Em cidades menores, porém, essa relação é particularmente crítica. O problema não é apenas econômico, mas de ética na política. “O fato de ser legal não significa que seja legítimo. Existem formas legais de utilizar o dinheiro público e mesmo assim são ilegítimas, por demonstrar a arbitrariedade do sistema”, afirma Bruno Speck, professor de ciências políticas da

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por Gustavo Hofman

Unicamp e um dos fundadores da ONG Transparência Brasil. “É uma forma indireta de financiamento político, um abuso de recursos públicos para fins eleitorais. Trata-se de uma política do prefeito, e não da prefeitura. Ele se apropria da imagem do time”.

Exemplos disseminados Para entender esse tipo de relação, é preciso perceber que não há um modelo único para configurar um “time de prefeitura”. Existem diversas formas de o poder público atuar em um clube de futebol. A mais simples, e que tem se tornado corriqueira em equipes sem qualquer tradição (mas cuja cidade tem um prefeito que gosta de holofotes), é o patrocínio total. A prefeitura “assume” a direção e banca toda a folha de pagamento. No entanto, esse financiamento pode ser feito de modo indireto, como a liberação do estádio municipal sem a cobrança de aluguel, a utilização comercial de placas sem licitações, o patrocínio de camisas para ações da prefei-

tura e a não-cobrança de impostos. Em alguns casos, esses mecanismos parecem irrelevantes, mas infringem a legislação vigente e, para clubes menores, o ganho não é tão pequeno assim. Seguindo o modelo do São Caetano, outras equipes da região metropolitana de São Paulo também mantêm relações com o poder público, casos de Barueri, Santo André, Osasco e São Bernardo. No entanto, esse fenômeno já se espalhou por todo o país. As três divisões do futebol nacional possuem representantes sustentados ou ajudados pelo município. Caçula na Série A, o Ipatinga se tornou forte com o apoio de políticos locais e parceria com o Cruzeiro. O acordo com a Raposa já acabou há algum tempo, mas o respaldo financeiro público se mantém. Fundado em 1998 pelo empresário Itair Machado, o Legenda Ipatinga sempre se apoiou na força da noonno Usiminas, siderúrgica localizada nonono na cidade, e da prefeitura. Nos prinonononono meiros passos do clube, o prefeito Chico Ferramenta – que governou

Ipatinga em três mandatos, sempre pelo PT – foi fundamental para o surgimento e crescimento da equipe. A atual gestão, de Sebastião de Barros Quintão (PMDB), manteve o apoio financeiro. Na primeira divisão, o Ipatinga é um caso isolado. Mas, na Série C, falar em financiamento municipal de equipes de futebol é lugarcomum. Times tradicionais, com certa história no futebol nacional, como América-MG, Operário-MT e Paulista, cederam espaço para Holanda-AM, Macaé, Vitória da Conquista-BA e outros novos ricos.

Transporte escolar x transporte de torcida Rio Preto da Eva, nas redondezas de Manaus, possui um PIB per capita de R$ 3.210. A população, de acordo com o censo de 2007, é de apenas 24.858. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade (0,677) está abaixo da média brasileira (0,800). Mesmo com todos esses dados modestos, a prefeitura investia R$ 50 mil mensais com o time de futebol da cidade. Fundado em 1984, o Holanda Esporte Clube foi profissionalizado em outubro de 2007 e estabeleceu-se em Rio Preto da Eva, onde o prefeito Anderson Souza (PMDB) prometeu levar o clube para o topo do futebol nacional. Com poucos meses de vida, a equipe conquistou a segunda divisão amazonense e, em 2008, ficou com o título da primeira divisão estadual.

Jair Araújo/Futura Press

R$

50 mil

Valor mensal que a prefeitura de Rio Preto da Eva-AM repassava ao Holanda. Enquanto isso, a cidade não tinha dinheiro para o ônibus escolar

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Sérgio Roberto/Futura Press

Nesse meio-tempo, porém, Anderson Souza e o vice-prefeito Nelson Azevedo dos Santos tiveram os mandatos cassados, pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM), em dezembro de 2007. Acusação: abuso de poder econômico nas eleições de 2004. Após a destituição do ex-prefeito, novas eleições foram realizadas e Fúlvio Pinto (PPS) foi eleito. De imediato, ele cortou o apoio ao Holanda. “A ajuda nunca foi documentada. Não sei se isso é desvio ou não, mas não havia documentação”, afirma o atual secretário de esportes de Rio Preto da Eva, Iraldo Nogueira da Costa. Sem ajuda, o Holanda deixou a cidade e migrou para Manaus, onde, segundo Nogueira da Costa, recebe apoio do governo estadual. “Houve uma oportunidade em que eles pagaram 10 ônibus e mais de 100 automóveis para levar torcedores para ver um jogo do Holanda. Na semana seguinte faltou dinheiro para o transporte escolar na cidade”, completa o secretário de Esportes. A reportagem entrou em contato com a diretoria do Holanda, mas não obteve retorno. Em Goiás existe outro exemplo de como pode ser corrupta essa relação entre futebol e poder público. O Itumbiara contratou jogadores com “nome”, como o goleiro Sérgio (ex-Palmeiras) e o atacante Basílio (ex-Santos), e acabou conquistando um inédito título estadual. Tudo bancado pelo prefeito José Gomes da Rocha (PP), que também ocupa o cargo de presidente de honra do clube.

A prefeitura paga os salários dos jogadores, dá ingressos para quem está em dia com o IPTU e ISS e, em um jogo do Campeonato Goiano, pagou combustível para os torcedores que queriam acomLegenda nonono panhar o time em Goiânia. Rocha, nonono noon nononono que é candidato à reeleição neste ano, tem seu passado investigado no esporte. Em 1996, seis atletas do Itumbiara foram contratados com verba que deveria ser destinada para seu gabinete. Do interior de Minas Gerais vem outra sensação da Série C que conta com dinheiro público por trás.

“Tínhamos um projeto de alcançar a elite do futebol mineiro em dez anos, mas conseguimos isso em apenas cinco. O apoio da prefeitura tem sido fundamental”, admite Rone Moraes da Costa, presidente do Ituiutaba, semifinalista do Campeonato Mineiro deste ano. Os valores repassados pelo município não são divulgados. “Nosso orçamento mensal é de R$ 80 mil, e hoje empatamos esses valores. A prefeitura dá uma verba específica para a disputa de uma competição, não é um valor mensal”, afirma Costa. No entanto, como o poder

COMPARATIVOS SOCIAIS DOS MUNICÍPIOS População1

PIB (em R$ mil)2

Cabo Frio/RJ

842.686

Ipatinga/MG

238.397

Ituiutaba/MG

97.727

972.529

Itumbiara/GO

88.109

1.366.886

Cidades

PIB per capita2

IDH3

Alfabetização4

4.553.545

R$ 28.516

0,792

92,4%

4.422.997

R$ 18.998

0,806

93,8%

R$ 10.580

0,818

89,7%

R$ 15.945

0,782

89,2%

Rio Preto da Eva/AM

24.858

77.939

R$ 3.210

0,677

82,2%

Vitória da Conquista/BA

308.204

1.793.825

R$ 6.274

0,708

83,4%

¹Dados do IBGE (2007); ²Dados do IBGE (2005); ³PNUD (2000); 4Dados do IBGE (2000) Obs. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma número criado pela ONU que considera riqueza, alfabetização, educação, esperança média de vida, natalidade e outros fatores. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem-estar de uma população.

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O QUEBRA-CABEÇA DO “PÃO E CIRCO” INVESTIMENTO DIRETO

PREFEITURA

CLUBE

Patrocínio

INVESTIMENTO INDIRETO

Redução de impostos

Dinheiro da Usiminas e prefeitura levaram Ipatinga à primeira divisão

público é o principal patrocinador, não é difícil calcular valores e, segundo Wilmar Divino Silva, coordenador de esportes de Ituiutaba, o apoio ao time será mantido por um bom tempo.

Busca e desistência Existem os casos em que a prefeitura se torna vilã na história. A Cabofriense, por exemplo, foi “abandonada” pelo prefeito antes da terceira divisão e se viu obrigada a deixar a disputa. O clube havia garantido a vaga, mas, como a prefeitura não pagava as cotas de patrocínio desde agosto do ano passado, não daria para fechar as contas. “Sem ajuda fica inviável disputar essa competição. Já fizemos um esforço enorme para manter a equipe no Campeonato Carioca”, afirma o presidente do clube, Valdemir Mendes. O time também considera que, como o município não estava fazendo a manutenção adequada do estádio Alair Corrêa, provavelmente ele seria interditado. Casos como o da Cabofriense não desanimam os dirigentes. Pelo contrário: há quem procure até au-

Cessão de estádio

REDUÇÃO DE CUSTOS

mentar o vínculo com a prefeitura. O Vitória da Conquista, terceiro colocado no Campeonato Baiano, é um exemplo. Atualmente, o único relacionamento que o clube mantém com a prefeitura é a cessão do estádio sem pagamento de aluguel e a comercialização das placas de publicidade. No entanto, a média de público da equipe caiu consideravelmente do estadual para o Brasileiro da Série C – foi de cerca de 10 mil para 3,2 mil – e o orçamento começou a ficar apertado. “Confiamos na bilheteria para a nossa preparação, mas temos nos decepcionado. Perdemos o benefício que o governo estadual dava ao torcedor, da troca de 10 cupons fiscais por dois ingressos”, relata Ederlane Amorim, presidente do clube baiano. As contas foram, então, bancadas pela negociação de dois jogadores, o que rendeu R$ 500 mil para o caixa do clube. Mesmo assim, as dificuldades continuam. “Nossa folha salarial subiu de R$ 60 mil para R$ 130 mil na Série C, fora os encargos”, diz Amorim. “O mu-

Cessão de direitos de placas

Venda de ingressos

Intermediação de patrocínio

CAPTAÇÃO DE RECURSOS

nicípio não ajuda em nada além da cessão do estádio e das placas, mas o ISS, de 5%, nós temos que pagar. Esperamos fazer uma boa campanha na Série C, para convencermos a prefeitura a nos ajudar”, finaliza o dirigente. Fica evidente como, para muitos clubes, o apoio do poder público se tornou algo tão natural que é válido reclamar quando ele não ocorre. Isso passa por cima do raciocínio óbvio de que a prioridade do Estado é oferecer segurança, educação, saúde e emprego à população. A desculpa de tornar a cidade conhecida ou prover um passatempo não é um argumento para torrar milhares de reais em equipes de futebol. Até porque há um ponto em comum em quase todos os clubes de prefeitura: a ausência de um projeto para usar o esporte como modo de promover inserção social, educação e saúde para a população. Fazer isso seria o lógico, mas o resultados demorariam mais de um mandato para aparecer. O que diz muito do porquê de a preferência ser em montar times profissionais. Setembro de 2008

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Fotos Getty Images

HISTÓRIA por Rafael Martins

A seleção olímpica de 1988 jogou um futebol agradável de se ver e transformou alguns jogadores em ídolos nacionais

De medalhistas a

medalhões O

futuro do futebol brasileiro era uma interrogação em 1988. O ocaso da geração de Zico, Sócrates e Falcão parecia indicar que os anos sem título mundial se multiplicariam. A bagunça no início do Campeonato Brasileiro daquele ano – alguns clubes contestaram o regulamento, que previa pênaltis em caso de empate – completava

o cenário desolador. Era necessário que algo diferente e empolgante acontecesse. E aconteceu. Sob o comando de Carlos Alberto Silva, a seleção olímpica ganhou a medalha de prata em Seul, praticando um futebol capaz de provocar, no Brasil, um grande entusiasmo. O time era tecnicamente bom – daquela geração saiu a base campeã do mundo

CAMPANHA Fase de grupos

Quartas-de-final

Brasil 4x0 Nigéria

Brasil 1x0 Argentina

Gols Edmar, Romário (2) e Bebeto

Gol Geovani

Final

1X2 (na prorrogação)

Brasil 3x0 Austrália

Semifinal

Gols Romário (3)

Brasil 1x1 Alemanha Brasil 2x1 Iugoslávia

(3x2 nos pênaltis)

Gols André Cruz, Bebeto e Sabanadzovic

Gols Fach e Romário

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BRASIL

UNIÃO SOVIÉTICA

Gols Romário, Dobrovolski e Savichev

em 1994, com Taffarel, Jorginho, Bebeto, Romário e Mazinho – e formado quase todo por jogadores que atuavam no Brasil. Além disso, não havia limite de idade para os convocados, portanto a equipe não se parecia tanto com uma “seleção de novos”. Não ter participado de Copa do Mundo era o único pré-requisito para um jogador ir a Seul. A preparação foi de causar inveja aos técnicos de seleções nacionais de hoje. O Brasil olímpico realizou excursões por Austrália, Europa e Estados Unidos antes de chegar à Coréia do Sul. A maior dificuldade era a escassez de informações sobre os adversários da primeira fase. A muito custo, Carlos Alberto Silva conseguiu, na Áustria, uma fita da Iugoslávia, mas a transcodificação custava muito caro.

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Mas nem tudo era tão diferente há 20 anos. A cessão de jogadores que atuavam no exterior já era complicada. Valdo e Ricardo Gomes não foram liberados pelo Benfica, que exigiu garantias financeiras com as quais a CBF não quis arcar. A distância entre o futebol e as outras modalidades olímpicas também já existia:a primeira fase foi disputada em Taejon, Taegu, Pusan e Kwangju.

Os protagonistas Apesar de não ter tido longa carreira na Seleção, a estrela do time medalha de prata em 1988 era o capitão Geovani. O meia dava equilíbrio ao meio-campo e armava as principais jogadas. “Ele nunca soltava a bola errado”, afirma Silva. “Era o cimento da equipe”, compara Bebeto de Oliveira, preparador físico daquela equipe. Autor do gol que eliminou a Argentina nas quartas-de-final, Geovani tomou o segundo cartão amarelo na semifinal contra a Alemanha Ocidental de Hässler e Klinsmann e desfalcou o Brasil na decisão contra a União Soviética, tal como o volante Ademir. “A ausência desses dois titulares foi crucial. O meio-campo perdeu a pegada”, comenta Silva. “Tínhamos muito pouco tempo para treinar uma nova formação”. Essa falta de consistência foi crucial na final contra a União Soviética. O time não se soltou em campo e, mesmo saindo na frente, permitiu o empate no tempo normal e a virada dos soviéticos na prorrogação. “A sorte não ajudou. Tínhamos um time superior, pressionamos, perdemos gol. Na hora, foi uma grande decepção. Mas, hoje, a gente vê que a medalha de prata representou muito”, analisa o ponta-esquerda João Paulo. Se Geovani era o pilar do meio, na defesa esse papel coube a Taffarel. O goleiro do Internacional foi a estrela no jogo contra os

alemães-ocidentais, defendendo um pênalti no tempo normal e dois na disputa de pênaltis. “Existia um tabu de que goleiro só servia para a seleção depois dos 26 anos. Ali se consagrou um com 19”, diz o técnico. Se, atrás, Taffarel era o destaque, no ataque as atenções se voltavam para Romário. O centroavante do Vasco foi o artilheiro do torneio olímpico com sete gols e despertou a cobiça de clubes europeus. Foi vendido pouco depois ao PSV. Outros jogadores daquele grupo também tomaram o rumo do exterior. Alguns tiveram sucesso, casos de Bebeto, Taffarel e Jorginho. Outros, como Andrade, Batista, Milton e Careca, nem tanto. A medalha de prata em Seul não foi a primeira nem a última do Brasil no futebol olímpico. No entanto, pelo futebol convincente apresentado e o legado deixado para os anos seguintes, lançando uma nova geração que se mostraria vencedora, talvez tenha sido a mais importante.

OS MEDALHISTAS Goleiros Taffarel (Internacional) e Zé Carlos (Flamengo) Defensores Luiz Carlos Winck (Internacional), Jorginho (Flamengo), Nelsinho (São Paulo), Mazinho (Vasco), André Cruz (Ponte Preta), Aloísio (Internacional) e Batista (Atlético-MG)

Meio-campistas Ademir (Cruzeiro), Andrade (Flamengo), Milton (Coritiba), Geovani (Vasco) e Neto (Guarani) Atacantes Romário (Vasco), Bebeto (Flamengo), Careca (Cruzeiro), João Paulo (Guarani) e Edmar (Corinthians)

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NEGÓCIOS

por Nair Horta

graça? Qual é a sua

Desorganização faz que Brasileirão não tenha nome patrocinado, deixando passar a possibilidade de arrecadar alguns milhões

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antos campeão ao vencer o Corinthians na final, Luis Fabiano e Rodrigo Fabri artilheiros, Palmeiras e Botafogo rebaixados e o fim da era do mata-mata: esse é um resumo dos mais curtos do que ocorreu no Brasileirão Visa 2002. Opa! Brasileirão quem? Para o torcedor menos atento a questões extracampo, o nome oficial da competição naquela temporada pode soar como novidade. Culpa da falta de intimidade do público, da mídia e – principalmente – dos dirigentes com a adoção do “title sponsor”, que nada mais é do que a aquisição, por parte de uma empresa, do direito de “batizar” um determinado evento. Antes do início da edição 2008 do torneio, a CBF ensaiou a retomada dessa estratégia. O alvo era o Banco do Brasil, com negociação conduzida por José Salim, diretor de marketing da entidade, sem a participação do Clube dos 13. A opção, caso a instituição financeira não acertasse o patrocínio, era a Nestlé, que, entre 2005 e 2007 tinha um acordo para patrocinar 80 partidas do campeonato a partir do subsídio na venda de ingressos. Já com o segundo turno em andamento, contudo, o Campeonato Brasileiro da Série A continua sendo apenas... “Campeonato Brasileiro”. No máximo, “Brasileirão”, nome que se tornou marca registrada. Segundo a reportagem apurou, a insistência da CBF em vender o nome do torneio sozinha foi um dos entraves para o fechamento do contrato nos dois casos. O C13 sempre foi o principal articulador nesse tipo de negociação e conta com o apoio dos clubes – aos quais repassaria parte da verba – nessa quedade-braço velada. Tanto que a entidade dirigida por Fábio Koff também se mexia: chegou a ser procurada pela Ipiranga, mas não pôde levar as conversas adiante devido à postura intransigente da CBF. Sem acerto para este ano, a distribuidora de combustíveis está na espera para entrar em cena a partir de 2009. Oficialmente, porém, o C13 afirma que não

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Neste ano, “Brasileirão” virou marca registrada, mas nome do torneio ainda é mal utilizado

NOMES PATROCINADOS Campeonato

Patrocinador

Premier League Serie A La Liga Ligue 1 Superliga Scottish Premier League Copa Libertadores Copa Sul-Americana Apertura e Clausura Copa da África do Sul A-League Obs.: Dos principais campeonatos da Europa, Liga dos Campeões, Copa Uefa e Bundesliga não têm nome de patrocinador

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Jorge R. Jorge

GLOBO VETOU PATROCINADOR

negocia com ninguém e que respeita a hierarquia da CBF sobre o Brasileiro. Já os “súditos” de Ricardo Teixeira avisam que só irão se pronunciar sobre o assunto quando houver, de fato, um acordo finalizado.

A voz do mercado A demora para sacramentar alguma parceria tem levado o futebol brasileiro a perder cerca de R$ 20 milhões. De acordo com Amir Somoggi, diretor de novos negócios da auditoria Causal, esse é o valor aproximado do “title sponsor” da competição. “O objetivo não é gerar receita para a liga, mas usar o dinheiro na redução das despesas básicas dos clubes, como viagens, hospedagens, e afins”, afirma. Em 2007, a CBF apresentou uma receita total de R$ 119,8 milhões e superávit de R$ 10,4 milhões. Para aproveitar o potencial dessa ação de marketing, é preciso planejamento e tempo. A experiência efêmera e obscura da CBF com a Visa é uma prova de que o segredo do sucesso passa pela longevidade. O vilão, nesse caso, é o investidor. Pressionadas pela necessidade de retorno financeiro rápido, as empresas fazem parte do grupo que não colabora para a disseminação desse tipo de patrocínio no país. “Não dá para colher os frutos em tão pouco tempo. A estratégia da Visa foi errada. É uma propriedade muito cara para ser dispensada depois de um ano. É preciso fazer um projeto

A ingerência da Rede Globo impediu que Banco do Brasil se tornasse detentor do “title sponsor” do Campeonato Brasileiro de 2008. O canal carioca tem o concorrente Itaú entre seus patrocinadores no futebol. Nos bastidores, a emissora é considerada um empecilho para o futuro batismo da competição graças ao veto a marcas em sua programação. Na Fórmula 1, por exemplo, a escuderia Red Bull Racing virou RBR para evitar a propaganda gratuita. “Antes de fechar qualquer contrato, é preciso sentar com a Globo e fazer uma negociação cooperada. Se não houver acordo, os clubes, a CBF e o Clube dos 13 teriam que se reunir para pensar em outros meios de divulgar esse contrato e, principalmente, fazer que outros meios citem o nome da empresa para compensar essa perda”, destaca Amir Somoggi, da empresa de auditoria Casual.

de longo prazo para criar uma associação positiva do campeonato com a marca”, avalia Somoggi. Nos Estados Unidos, por exemplo, alguns contratos chegam a durar 20 anos. Pela venda dos “naming rights” de seu ginásio para o Barclays, o New Jersey Nets, time de basquete profissional, irá faturar US$ 400 milhões em duas décadas. O banco pagou outros US$ 35 milhões à Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) para “batizar” a Masters Cup (segunda série de torneios mais importante do circuito internacional de tênis) por cinco anos. Voltando ao futebol, o Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA) fechou com a Liga Espanhola por € 60 milhões em três anos. Já a Sagres desembolsa € 19 milhões anuais para dar seu nome à primeira divisão do Campeonato Português. O montante inclui o patrocínio à seleção nacional. Em mercados menos valorizados, o cenário também é animador. O contrato entre Hyundai e A-League, na Austrália, chega a € 11,2 milhões por quatro anos. O Nedbank investe € 35,2 milhões em cinco anos na Copa da África do Sul. Dispensar o patrocínio no nome da competição como forma de preserva-la é uma possibilidade aceitável. É o que ocorre na Copa do Mundo, na Liga dos Campeões e na Eurocopa. No entanto, o Brasileirão ainda não cede seu nome por pura briga política e falta de organização. E mais uma fonte de receita é desperdiçada. Setembro de 2008

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GOL

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TRIVEL A ES

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NA CARA

Basílio: “meninas deram o exemplo”

Talismã da torcida corintiana inaugura Bares Trivela e fala sobre futebol olímpico, técnicos brasileiros e, claro, Corinthians Ele marcou o gol mais significativo da história do Corinthians. O João Roberto Basílio, mais conhecido por Basílio, o pé de anjo marcou o único gol da vitória corintiana sobre a Ponte Preta, em 1977, tirando a equipe do Parque São Jorge de um jejum de 23 anos sem títulos. Basílio é o primeiro entrevistado da seção “Bares Trivela”, que, a cada edição, vai trazer um dos parceiros, onde entrevistaremos personalidades do mundo do futebol. O deste mês é o Bar do Juarez, no Itaim Bibi. Por que o futebol brasileiro não conquista a medalha de ouro no futebol olímpico? Temos que separar o masculino e o feminino. As meninas tiveram um envolvimento maior com a competição, enquanto no masculino pouco se via o comprometimento com a camisa da Seleção. Enquanto a Marta, que é

a melhor jogadora do mundo, falava em conquistar uma medalha, o Ronaldinho Gaúcho e outros atletas falavam apenas no ouro. A derrota das meninas foi uma fatalidade e a derrota dos homens era prevista pela empáfia dos atletas. O técnico Dunga é o principal culpado do fiasco olímpico da Seleção? Não. O principal culpado foi quem colocou ele no cargo. Não é necessário ter experiência para ser técnico da Seleção Brasileira, mas precisa ter sabedoria, que se adquire com experiência dentro de campo, nos bastidores e conhecendo muito bem os jogadores que o treinador vai comandar. Tudo isso irá refletir no comprometimento do time com a competição. Mas uma entrega de verdade ao Brasil, eu não vejo há muito tempo. O último

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R. Joaquim Nabuco, 325 – Brooklin – SP R Tel. (11) 3969-4988 A Jurema, 324/332 – Moema – SP Av. Tel. (11) 5052-4449 Av. Juscelino Kubitschek, 1164 – Itaim Bibi – SP Tel. (11) 3078-3458 2 à 6ª das 17h à 1h; sáb., dom. e 2ª feriados das 12h à 1h

R. República do Iraque, 1.326 – Campo Belo – SP 3ª a 6ª das 17h às 24h; sáb. das 12h30 às 22h; dom e feriados das 12h30 às 22h Tel. (11) 5054-0719

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Memorial

Anhanguera

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que eu vi foi o Felipão, em 2002. Não sei se deveriam demitir o Dunga. Mas caso isso aconteça, o Felipão acabou de acertar com o Chelsea e não vai querer comandar a Seleção Brasileira agora. Acho que o Muricy e o Luxemburgo estão aptos a ocupar o cargo. Falando de Corinthians, como você vê a atual administração do clube? Até agora o que foi prometido está acontecendo. Não adianta pensar em 2009, se ainda estamos em 2008. A contratação de Mano Menezes foi acertada e o planejamento está correto. O Campeonato Paulista serviu para avaliar o elenco e as prioridades foram concentradas na Copa do Brasil e na Série B. E disputando a segunda divisão, o Corinthians tem que pensar, primeiramente, em ficar entre os quatro, depois conquistar a liderança e as-

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sim como campeão da Série B, planejar corretamente a próxima temporada. Você trabalhou com muitos técnicos na década de 70, faça uma analogia destes com os treinadores atuais? Acredito que o sistema de trabalho do Leão é muito parecido com o de Oswaldo Brandão. Ambos não têm a parte tática como a principal característica, mas são rígidos e exercem a função de “Paizão” com os jogadores ao mesmo tempo. O Muricy e o Rubens Minelli têm o sistema de trabalho muito parecidos. Eles põem em prática a disciplina “gaúcha” e trabalham muito a parte tática. O Luxemburgo me lembra muito o Ênio Andrade. Apesar de não ter trabalhado com o Ênio, tive amigos que me falavam como ele comandava. Ambos são estrategistas. Enxergam ou enxergavam o jogo como ninguém. Aliás, é uma pena eu não jogar hoje em dia. Pois estaria recebendo um salário de R$ 100, 120 ou 150 mil mensais. E veja como era diferente na década de 70, eu quase fui negociado com o Porto, em 1977. Estava tudo fechado, mas o Oswaldo Brandão pediu para eu ficar e não pensei duas vezes para dizer não aos portugueses.

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MUNDO

por Rafael Martins

CLUBES SELEÇÕES Fifa e clubes pareciam estar perto de entendimento quanto à cessão de jogadores para as equipes nacionais, mas os Jogos Olímpicos mostraram o contrário

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Mexsport

F

altava um dia para o início dos Jogos Esse panorama aumenta a necessidade de garanOlímpicos quando caiu a bomba: o tias e projeções seguras para cada milhão aplicado. Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) deu E saber se poderá contar com o atleta no qual foram ganho de causa a Werder Bremen e Schalke 04 em investidos milhões de euros é um dos pontos-chaação contra a CBF. Assim, na véspera da estréia do ve. Por isso, causa calafrios nos dirigentes europeus Brasil no torneio de futebol masculino, a Seleção deimaginar que um craque de sua equipe pode ser ceveria devolver Diego e Rafinha. A Argentina teria de dido a uma seleção e retornar contundido. Até porfazer o mesmo com Messi, do Barcelona. No final das que os clubes não têm direito a compensação financontas, os clubes cederam. Já tinham o que queriam: ceira, segundo o regulamento da Fifa, mas as fedeuma vitória psicológica e jurisprudência para novas rações lucram ao participar de amistosos ou torneios batalhas com as federações. oficiais de seleções. A divergência se dá na luta pelo direito de usar os Por muito tempo tolerada, essa situação tem provocaatletas. Não é difícil entender como isso cresceu. Com o do, nos últimos anos, níveis altíssimos de insatisfação, crescimento do futebol como indústria, os clubes pasquase sempre reprimida pela Fifa em tom ameaçador saram a pagar salários astronôe ditatorial. No início de 2006, micos aos jogadores, cujas preJoseph Blatter chegou a soltar senças alavancam outras receifrases que caberiam no discurso “O futebol de seleções tas, como cotas de TV e os pade um monarca tirano e vinganão me entusiasma” trocínios. Os investimentos são tivo. “Se eles querem uma guertão altos que podem, em cara mundial, terão uma” e “Você Arsène Wenger, técnico do Arsenal e defensor so de fracasso, comprometer a tem de feri-los onde dói” são aberto da redução de espaço das seleções nacionais no calendário internacional saúde financeira dos times. dois exemplos. Setembro de 2008

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Pelo TAS, os medalhistas Messi e Rafinha não eram obrigados a defender suas seleções em Pequim

LETRA FRIA DA LEI Regulamento da Fifa sobre liberação de jogadores para seleções deixa clubes cheio de deveres e poucos direitos Artigo 1 Princípios 1. Os clubes são obrigados a liberar seus jogadores registrados para os times representativos do país pelo qual o jogador está habilitado a jogar. Qualquer acordo em contrário entre jogador e clube é proibido.

2. A liberação de jogadores sob os termos do parágrafo 1 deste artigo é obrigatória para jogos nas datas listadas no calendário internacional coordenado e para todos os jogos nos quais a obrigação de liberar jogadores exista na forma de uma decisão especial do Comitê Executivo da Fifa.*

3. Não é compulsório liberar jogadores para jogos marcados em datas nãolistadas no calendário internacional.

Artigo 2 Condições financeiras e seguro 3. O clube no qual o jogador está registrado deve ser responsável por seu seguro contra doença e acidente durante o período inteiro de sua liberação. Essa cobertura deve também se estender a qualquer contusão sofrida pelo jogador durante os jogos internacionais para os quais ele foi liberado.

Artigo 6 Medidas disciplinares 2. Se um clube se recusar a ceder um jogador ou for negligente quanto a esse dever, o Comitê do Estatuto dos Jogadores da Fifa deve requerer que a federação à qual o clube pertence considere perdido qualquer jogo do qual o jogador tenha participado. Qualquer ponto ganho dessa forma pelo clube em questão deve ser confiscado. *Os Jogos Olímpicos não constam do calendário, e o Comitê Executivo da Fifa não tomou nenhuma decisão especial a respeito da liberação para esse torneio

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Autoritarismo à parte, os clubes já ganharam muito terreno nessa disputa. O primeiro progresso foi a criação das “datas Fifa”, que ajudaram a sistematizar os jogos de seleções. Mas o maior símbolo desse processo foi a dissolução do G-14 (grupo de clubes mais influentes da Europa não-reconhecido por Fifa e Uefa) para o surgimento da ECA (Associação Européia de Clubes), composta por 104 membros. Nessa transição, os dirigentes desistiram de processos que moviam contra federações, mas já tinham uma entidade reconhecida pela Uefa para debater seus interesses. “Isso é um sinal de que os desentendimentos e ações legais são, agora, parte do passado”, declarou Karl-Heinz Rummenigge, presidente do Bayern de Munique e da ECA. Os processos judiciais que foram interrompidos tratavam de casos do mesmo tipo: determinado jogador se contundiu enquanto defendia a seleção, e seu empregador resolveu pedir uma indenização. O estopim foi o caso Oulmers, meia marroquino do Charleroi que, em novembro de 2004, se contundiu gravemente em um Marrocos x Burkina Faso, ficando ausente dos gramados por oito meses. O time belga teve apoio do G-14 para entrar na Justiça.

FORAM BEM, VOLTARAM MAL

Problemas olímpicos

BEISEBOL NO SENTIDO INVERSO O beisebol nunca foi muito afeito a seleções nacionais. As ligas profissionais se consideravam autosuficientes e esvaziavam os torneios entre países, que contavam apenas com atletas amadores. Isso custou a presença do esporte nos Jogos Olímpicos de 2012, mas há uma tendência de mudança. As autoridades do beisebol profissional perceberam que, para aumentar a popularidade do esporte no mundo, é preciso que os torcedores de cada país tenham referências locais. E seleções nacionais cumprem esse papel. Desse modo, as ligas profissionais

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do mundo se uniram para criar o Clássico Mundial de Beisebol, uma espécie de Copa do Mundo “para valer” da modalidade, em 2006. A segunda edição do torneio está programada para 2009. As ligas profissionais – compostas por clubes – gerenciam o torneio e repartem os lucros. Além disso, sinalizaram ao Comitê Olímpico Internacional que estão dispostas a liberar os melhores jogadores do mundo para voltar ao programa olímpico em 2016. Tudo para usar as seleções como modo de promover o esporte e criar mais uma fonte de renda para os clubes. [UL]

Fred Num jogo-treino antes da Copa América de 2007, o atacante do Lyon fraturou o pé direito. Jean-Michel Aulas, presidente do clube francês, levou seu protesto à Fifa.

Abdelmajid Oulmers O marroquino se machucou num jogo entre a seleção de seu país e a de Burkina Faso, em 2004. Seu clube, o Charleroi, da Bélgica, entrou com uma ação contra a Fifa, exigindo indenização.

Virginie Lefour-Bruno Fahy/AFP

Por ocasião da fundação da ECA, no início deste ano, Fifa e Uefa concordaram com o pagamento de uma compensação às equipes que cederem atletas para a disputa de Copas e Eurocopas, respectivamente. A Uefa já adotou a medida na Euro 2008. Cada jogador convocado para o torneio continental rendeu € 116 mil aos cofres do clube em que jogou nas duas últimas temporadas, o que significa que, se ele vestiu duas camisas diferentes, cada equipe faturou € 58 mil. O Mundial de 2006 ainda não previa tal ajuda aos

Maxi Rodríguez O meia argentino rompeu o ligamento cruzado do joelho esquerdo num amistoso frente à Espanha, em outubro de 2006. Desfalcou o Atlético de Madrid por seis meses.

Michael Owen Na Copa de 2006, uma lesão no joelho direito do atacante privou o English Team e o Newcastle, que investira alto para tê-lo, de força no ataque.

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Getty Images/AFP

A Fifa não faz seguros, e muitas federações não teriam condições de contratá-los. Enquanto isso, os jogadores vão se contundindo e correndo riscos enquanto estão a serviço de seleções nacionais. Veja alguns casos:

Robin van Persie Em grande fase no Arsenal do segundo semestre de 2007, o holandês machucou o joelho numa partida frente à Eslovênia, pelas eliminatórias da Euro 2008. Ficou dois meses fora de combate.

Emmanuel Amunike Num jogo contra Zâmbia pela Copa Africana de 2001, o nigeriano Amunike sofreu uma contusão e ficou seis meses desfalcando o Albacete, da Espanha.

Eric Abidal

Aruna Koné Atacante sofreu lesão nos ligamentos em amistoso de sua Costa do Marfim contra Guiné em agosto. Só volta a defender o Sevilla em 2009.

Tomas Brolin O meia-atacante do Parma e da seleção sueca de 1994 estava no auge da carreira quando quebrou o pé em um Suécia x Hungria. Nunca recuperou seu bom futebol.

Magnus Gotander/AFP

Em novembro de 2005, o lateral da seleção francesa teve um osso do pé quebrado num amistoso contra a Costa Rica. O Lyon, com o suporte do G-14, resolveu processar a Fifa.

Causa calafrios nos dirigentes europeus imaginar que um craque de sua equipe pode ser cedido a uma seleção e retornar contundido

empregadores, mas trouxe como novidade o fundo especial de indenização, cujo valor, segundo Joseph Blatter, era de quase € 10 milhões. Dessa forma, foi possível amenizar os danos do Newcastle, que ficou sem o atacante Owen por muito tempo, em decorrência da contusão que o tirou de campo no primeiro minuto de Inglaterra 2x2 Suécia. Embora o acordo firmado entre Fifa, Uefa e ECA não tenha incluído as eliminatórias das competições internacionais, o avanço foi inegável. A essa altura, o consenso parecia próximo. O tom conciliador e próativo de Michel Platini, presidente da Uefa e aliado de Blatter, finalmente aliviava a tensão fomentada pela costumeira intransigência da Fifa. Dava para vislumbrar um futuro razoavelmente harmonioso para a relação entre clubes e federações. Até que veio a convocação para os Jogos Olímpicos e, com ela, uma sucessão de desencontros. Clubes se mostraram descontentes com a presença de seus jogadores na China. A Fifa contra-atacou: Blatter apelou para o espírito olímpico e lembrou que “a liberação de jogadores com menos de 23 anos sempre foi obrigatória”. A argumentação, sem nenhum alicerce legal, não convenceu e o caso foi parar no TAS. Como a Olimpíada não está no calendário oficial da Fifa, o tribunal não encontrou justificativa para as exigências da entidade. “Foi uma decisão certíssima. O empregador tem o direito de contar com o jogador fora das datas Fifa”, avalia Domingos Zainaghi, presidente da Comissão de Direito Desportivo da OAB-SP e membro do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD). “Depois, para não parecerem antipáticos, os clubes autorizaram a permanência dos jogadores na China. Eles só queriam mostrar para a Fifa que ela não pode passar por cima de todos como um trator”. A vitória no TAS evidenciou o crescente poder da ECA, que já é capaz de impor alguns de seus anseios à Fifa. Restou a Blatter lamentar a falta de espírito olímpico dos juristas. Em uma análise superficial, isso poderia ser o início do fim das equipes nacionais. No entanto, ainda há uma inegável atração por torneios entre nações, o que Copas do Mundo e Eurocopas provam. Assim, o mais provável é que os clubes continuem pressionando para terem mais participação financeira e decisória no que envolve as seleções. Sinal de que ainda há muita queda de braço para acontecer. Setembro de 2008

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Stringer/Reuters

ROMÊNIA por Marcus Alves

FORÇA DA

TRANSILVÂNIA Após encerrar a hegemonia de Bucareste no futebol romeno, o pequeno Cluj se prepara para estrear na Liga dos Campeões

A

Liga dos Campeões vai à Transilvânia. Nesta temporada, o pequeno e desconhecido Cluj, de ClujNapoca, conquistou uma inesperada vaga na fase de grupos. Tudo graças a um título romeno. Ou melhor, graças a um pesado investimento que permitiu que o clube desbancar as forças locais Steaua, Dínamo

NA TERRA DE DRÁCULA

Cluj Napoca

TRANSILVÂNIA Timisoara

ROMÊNIA Bucareste Craiova

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e Rapid e conquistar o campeonato nacional, que dava vaga automática na fase de grupos da principal competição de clubes da Europa. Até 2002, o Cluj era uma equipe pequena mesmo para os padrões romenos. Na Transilvânia, as maiores forças eram o Gloria Bistrita, Poli Timissoara e Universitatea Cluj. Mas o cenário mudou depois que Arpad Paszkany, presidente da Ecomax, subsidiária da General Motors na Romênia, investidor do setor imobiliário e um dos homens mais ricos do país resolveu colocar um dinheiro no futebol. Ele tentou comprar o Universitatea Cluj. Não teve sucesso e decidiu ir atrás do clube menos tradicional da cidade. À frente do Cluj, o empresário de origem húngara – 20% da população da Transilvânia é de etnia húngara – equilibrou as contas e reforçou bastante a infra-estrutura e o elenco. Em dois anos, o time foi da terceira para a primeira divisão. O retorno à elite foi consistente, mas não o suficiente para levar a equipe

ao título. Aí, foi preciso um novo empurrão. Paszkany abriu os cofres, investiu cerca de € 30 milhões e levou o Cluj à dobradinha nacional. Na nova onda de investimentos, os transilvânicos intensificaram sua imagem de legião estrangeira. Ao contrário do que têm feito Steaua, que busca priorizar talentos romenos, o time grená apostou em talento importado. Na última temporada, a equipe se tornou a primeira do país a atuar sem nenhum nativo entre os titulares. Ao todo, o Cluj possui apenas seis jogadores nascidos na Romênia em todo o elenco. A base internacional é formada, principalmente, por argentinos e portugueses. A política pode desagradar os romenos mais nacionalistas, mas serviu para o Cluj. E é com essa política que o clube colocou a Transilvânia no mapa da Liga dos Campeões. Colaborou Gustavo Hofman Saiba mais sobre futebol do leste europeu em www.trivela.com/europaleste

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MARACANAZO

por Mauro Cezar Pereira

Futebol feminino é outro jogo, sim HÁ QUEM VEJA o futebol feminino como “outro” jogo. De fato, na prática é mesmo. E não sejamos hipócritas, para cada lance sensacional de Marta ou golaço de Cristiane há várias situações grotescas, bizarras. São zagueiras sem técnica alguma com enorme repertório de falhas infantis e goleiras incapazes de alcançar a bola em chutes que passam poucos centímetros abaixo do travessão. E deixo claro: nada disso tira o brilho da Seleção Brasileira, que comete falhas tolas como suas rivais. O futebol feminino ainda apresenta enormes distorções, diferenças técnicas gigantescas não só entre times como dentro das próprias equipes. E no caso das que vestem a camisa 1, a situação é mais complicada. Angerer, da Alemanha, é a única que joga na pequena área com naturalidade, mesmo não sendo muito alta — tem 1,75 m. A jovem brasileira Bárbara também leva jeito. Uma série de razões colabora para a deficiência técnica de quem vai para o gol. A primeira é que raros são os que escolhem tal posição. As pessoas “vão” para a meta e, caso se adaptem, viram atletas e ficam por lá mesmo. E parece que, entre as mulheres, não são poucas as que permanecem na função por falta de opções. Afinal, o que justifica uma trapalhona como a norte-coreana Hui atuando em uma Olimpíada? Ela praticamente “fez” os dois gols do Brasil no confronto entre as seleções. Como agravante há as dimensões das traves, idênticas às utilizadas entre marmanjos. Nos Jogos Olímpicos, o gol de Daniela Alves que abriu o placar em Brasil 2x1 Noruega deixou isso claro. A brasileira chutou fraco, mas a escandi-

nava Skarbo não alcançou a pelota. Ela tem 1,74 m e o travessão fica a 2,44 m do chão. Os 70 cm de diferença foram fatais. É fato que arqueiros do passado não eram altos como os de hoje. Contudo, tinham mais técnica, explosão, agilidade, elasticidade do que as simpáticas moças que se arriscam no gol. A tendência é a escolha de garotas com mais de 1,80 m de estatura. Mas, para isso, é preciso maior quantidade de praticantes, a ponto de, em meio a muitas “altonas”, aparecerem algumas que tenham capacidade de atuar por ali. Por tudo isso, o exemplo do vôlei é adequado. Seja na quadra ou na praia, a rede das mulheres é 19 cm mais baixa – 2,24 m contra 2,43 m. A troca não parece tão complicada, pelo menos em competições oficiais. Ajudaria o espetáculo, gols bobocas não seriam tão freqüentes e os lances geniais de Marta não ficariam cercados por erros de goleiras que simplesmente não conseguem colocar as mãos onde deveriam.

HAT TRICK O Grêmio chegou ao final do primeiro turno usando a mesma estratégia do São Paulo de 2007: marcação implacável, defesa eficiente e bom aproveitamento nas bolas paradas. E ainda há quem não aceite que, cada vez mais, uma equipe competitiva seja formada a partir do sistema defensivo. Dois gêmeos brasileiros estão no elenco do Manchester United. Rafael teve a primeira chance na rodada de abertura da Premiership, ante o Newcastle. Fábio, mais talentoso ainda, terá suas oportunidades. São revelações do Fluminense, que deixou ambos saírem aos 18 anos, sem estrear pelo profissional. A pífia participação de Ronaldinho nos Jogos Olímpicos só surpreendeu quem se leva pelo ufanismo “pachequista” que assola o país quando a “amarelinha” entra em campo. Mas o Milan não vai mantê-lo titular se for mal como na China. Até porque o presidente da CBF não convoca os atletas rossoneros.

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ALEMANHA

Jürgen x Gigantes na Alemanha, Bayern de Munique e Borussia Dortmund

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e a janela de transferências na Alemanha não foi tão quente quanto a do ano passado, quando chegaram Toni e Ribéry, o mesmo não pode ser dito em relação aos bancos de reservas de alguns dos principais clubes do país. Exceção feita a Werder Bremen e Stuttgart, que mantiveram Thomas Schaaf e Armin Veh respectivamente, Hamburg, Bayer Leverkusen, Schalke 04, Bayern de Munique e Borussia Dortmund começam a temporada com novos treinadores. Desse grupo, os técnicos de Bayern e Dortmund, Jürgen Klinsmann e Jürgen Klopp, têm recebido atenção redobrada da imprensa. As semelhanças entre os dois vão muito além do primeiro nome. Ambos são ex-jogadores, jovens (casa dos 40 anos) e nasceram nos arredores de Stuttgart. Klinsmann, ex-atacante da seleção alemã, naturalmente, é muito mais famoso que seu xará. Klopp era apenas um esforçado lateral-direito, cuja carrei-

JÜRGEN KLINSMANN Nascimento 30/julho/1964, em Göppingen Carreira como jogador Stuttgarter Kickers (1981 a 1984), Stuttgart (1984 a 1989), Internazionale (1989 a1992), Monaco (1992 a 1994), Tottenham (1994 a 1995, 1998), Bayern de Munique (1995 a 1997) e Sampdoria-ITA (1997 a 1998) Carreira como treinador Alemanha (2004 a 2006) e Bayern de Munique (atual) Principal feito como treinador levou a Alemanha ao terceiro lugar na Copa do Mundo de 2006

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ra foi construída dentro e fora de campo quase que inteiramente no Mainz, na segunda divisão alemã. Por estarem à frente de dois dos clubes mais populares do país, chamariam a atenção da mídia mesmo se fossem invisíveis. Mas eles ganham cada vez mais linhas nos veículos especializados alemães pelos métodos de trabalho inovadores em uma profissão que, na Alemanha, há tempos é famosa pela rigidez e, principalmente, rispidez. Em um primeiro momento, esse novo estilo causou um inevitável choque cultural. Havia muita desconfiança na Alemanha a respeito dos métodos do exatacante frente ao Nationalelf entre 2004 e o início do Mundial de 2006. Em vez de treinar com bola ou fazer treinos táticos, levava seus jogadores, por exemplo, para praticar arco e flecha ou montar relógios. “Esse tipo de atividade serve para desenvolver a capacidade de concentração dos jogadores. E dentro de campo, nada mais importante do que um jogador focado em suas obrigações”, explica Klinsmann. Até a bola começar a rolar na última Copa, era lugar-comum pedir a cabeça do técnico. Com a brilhante campanha que culminou num inesperado terceiro lugar, Klinsmann foi alçado à condição de herói nacional. Seu enfoque no lado psicológico dos jogadores surpreendeu os alemães, ainda que, para o público brasileiro, seja familiar. Com esse crédito, ele chegou ao Bayern com moral e, mesmo sem gastar um tostão em reforços – o único de peso foi Borowski, do Werder Bremen, de graça –, falou grosso em seu primeiro

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por Eduardo Camilli

x Jürgen apostam em técnicos inovadores na preparação de seus times

Saiba mais sobre futebol alemão em www.trivela.com/alemanha

Nascimento 16/junho/1967, em Stuttgart Carreira como jogador Ergenzingen (1986 a 1987), Pforzheim (1987), Frankfurt (1987 a 1988), Viktoria Sindlingen (1988 a 1989), Rot-Weiss Frankfurt (1989 a 1990) e Mainz (1990 a 2001)

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JÜRGEN KLOPP mag

Se Klinsmann chegou a um clube em que a casa estava arrumada e cuja pressão por conquistas seria natural, Klopp pegou um grupo sem clima e abalado depois da desastrosa campanha na última temporada que, por pouco, não culminou no rebaixamento para a Segundona. Sua contratação foi comemorada pela torcida como se o novo técnico fora um craque. Há motivos para tal reação. Carismático, sua presença passa confiança. “Ele transpira otimismo”, escreve Thomas Hennecke, jornalista da revista alemã Kicker que há mais de dez anos cobre o dia-a-dia do Borussia Dortmund. Para um clube abalado pela pressão dentro e fora de campo vivida nos últimos anos, é uma diferença e tanto. “O ambiente com ele está ótimo”, relata o paraguaio Nelson Haedo Valdez, presente na turbulenta temporada passada. “Ele sabe melhorar cada jogador individualmente, sobretudo com a conversa”, diz. Klopp é obstinado por tática. Isso, os alemães que acompanharam a Copa de 2006 pelo canal pago ZDF já sabiam. Ele comentava os jogos e foi bastante elogiado pelas intervenções precisas e maneira didática com que dissecava uma partida sob o ponto de vista tático para um mero mortal. É dessa mesma maneira que ele lida com seus jogadores – em sua maioria, tão pouco interessados no assunto quanto os telespectadores. “Seu método de traba-

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Otimismo em pessoa

lho não cansa porque trabalhamos sempre com a bola”, conta o goleiro Weidenfeller. Klopp ganhou ainda mais moral ao vencer a Supercopa da Alemanha logo em sua estréia pelo BVB. Por coincidência, justamente sobre o Bayern de Klinsmann, por 2 a 1. “Tenho certeza que foi o início de um trabalho que vai projetá-lo como um dos principais técnicos do país”, aposta Hitzfeld. Ainda é cedo para fazer prognósticos para o que será de ambos no primeiro ano à frente dos dois gigantes alemães, mas o simples fato de dois clubes dessa magnitude apostarem em uma filosofia semelhante já merece atenção. Cobranças virão, mas será preciso paciência e mudança no comportamento de todos os lados envolvidos: torcida, imprensa e, principalmente, dirigentes.

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dia de trabalho: “Repetir a dobradinha caseira (vencer campeonato e copas nacionais) é o mínimo que podemos oferecer a nosso torcedor”.

Carreira como treinador Mainz (2001 a 2008) e Borussia Dortmund (atual) Principal feito como treinador levou o Mainz pela primeira vez na história à Bundesliga em 2004/5 e à Copa Uefa em 2005/6

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por Ubiratan Leal

ONDE A FRANÇA TEM UM Lyon se projetou internacionalmente por sua comida, mas também se destaca pelo futebol, movimentado pela maior rivalidade regional francesa

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Fred Dufour/AFP

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CAPITAIS DO FUTEBOL » LYON (FRA)

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OS TIMES DA CASA

aris é o destino turístico mais procurado do mundo e tudo o que acontece na Cidade-Luz tem grande repercussão. Até as oscilações do Paris Saint-Germain. Marselha é o contraponto cultural e, do ponto de vista futebolístico, conta com o clube de maior e mais fanática torcida na França. No meio dessa disputa, está Lyon, mais famosa como centro da culinária francesa. No futebol, a cidade não tem um clube tão popular quanto Marselha, nem uma equipe com tanta mídia quanto Paris. Ainda assim, não é um disparate dizer que se trata da capital do futebol gaulês. É na região metropolitana lionesa que estão o maior campeão e a atual força hegemônica do país. Parte desse sucesso está no fato de a Région Urbaine de Lyon (RUL) ser a única na França em que há uma rivalidade local relevante. Os dérbis entre Lyon e Saint-Étienne levam para o campo uma rixa histórica. De um lado, uma das cidades mais importantes da França, com uma histó-

ria em culinária, artes e política. Do outro, seu subúrbio operário, com passado na mineração e indústria pesada. A população de Saint-Étienne sempre olhou com desconfiança para os lioneses, considerados esnobes. No sentido inverso, as pessoas de Lyon vêem os stéphanoises como “caipiras”. Durante muito tempo, o futebol era justamente o palco em que Saint-Étienne desafiava a sensação de superioridade da vizinha rica. Nas décadas de 1960 e 70, a Association Sportive Saint-Étienne Loire foi o maior clube da França. Teve em seu elenco jogadores como Platini e construiu um sólido domínio doméstico. Foram oito troféus da Ligue 1 entre 1964 e 1976. Somando ainda as conquistas de 1957 e 1981, são dez títulos nacionais, marca não alcançada até hoje. Além disso, os Verts chegaram a uma final da Copa dos Campeões, em 1976, quando perderam para o Bayern de Munique na final. Essa fase de bonança ajudou a consolidar uma forte cultura

Ligue 1

Olympique Lyonnais 7 Campeonatos Franceses 4 Copas da França 1 Copa da Liga

Association Sportive Saint-Étienne Loire 10 Campeonatos Franceses 6 Copas da França

CFA (quarta divisão)

Andrézieux, Lyon-Duchère, Saint-Priest e Villefranche Beaujolais

Lyon e Saint-Étienne levaram para os gramados a histórica rivalidade entre suas cidades

CFA 2 (quinta divisão)

Bourg-Péronnas e Minguettes Vénissieux

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futebolística. Em poucas cidades francesas a torcida é tão fanática e ligada a seu time. Uma relação que sobreviveu mesmo depois da decadência do clube, que ainda sofre os efeitos de um escândalo de manipulação de resultados que levou os Verts a sucessivas crises financeiras desde a década de 1980. Tanto que Saint-Étienne, com apenas 175 mil habitantes, foi escolhida como uma das sedes da Copa de 1998, superando o fato de ser próxima a uma cidade maior, mais rica e que também receberia jogos do Mundial.

Reação lionesa Enquanto Saint-Étienne tinha no futebol um momento de desafogo na relação economicamente desigual com sua vizinha, Lyon era um centro intermediário no esporte. O Olympique Lyonnais era apenas um time mediano, que oscila-

va entre primeira e segunda divisões e tinha como raras glórias três títulos da Copa da França. Nada proporcional à importância da terceiro maior município da França e núcleo da segunda maior região metropolitana do país. Esse panorama mudou a partir da década de 1990. O empresário do setor de informática JeanMichel Aulas comprou o OL e passou a investir na estruturação do clube. Deu certo. Com a categoria de base mais produtiva do país e.uma rede de olheiros muito atenta e articulada, os lioneses criaram um sistema sustentável para montar equipes competitivas sem grande risco de se afundar em dívidas (problema comum na história do futebol francês). Esse trabalho resultou na maior hegemonia da Ligue 1, com sete títulos consecutivos. Em menos de

FRANÇA

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Lyon 470.000 habitantes (1.783.000 na região metropolitana)

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AS CASAS DOS TIMES

1 Gerland Inaugurado em 1926, o estádio do Lyon (à esq.) tem capacidade para 41 mil pessoas e recebeu partidas da Copa do Mundo de 1998 (incluindo França 2x1 Dinamarca, Alemanha 0x3 Croácia e o histórico Estados Unidos 1x2 Irã) e do Mundial de rúgbi de 2007. É fácil chegar ao estádio, pois ele fica no ponto final da linha B do metrô. O problema de ver jogo lá é encontrar algum lugar livre, pois as partidas do Lyon estão constantemente lotadas.

2 Geoffroy-Guichard É conhecido como “Inferno Verde” ou “O Caldeirão” devido à pressão que a torcida do Saint-Étienne impõe aos visitantes. Foi aberto em 1931, mas sofreu diversas remodelações até chegar ao estado atual, com capacidade para 35.616 torcedores. Abrigou jogos da Copa de 1998, como Argentina 2x2 Inglaterra (4x3 nos pênaltis) pelas oitavas-de-final.

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Fotos Divulgação

ALÉM DO JOGO

u Basílica Notre-Dame de Fourvière Um dos símbolos de Lyon. Construída no final do século XIX no local que foi uma praça na época do Império Romano, a basílica tem estilo que mistura romanesco com bizantino. Localizada no alto do monte Fourvière (no alto, à esq.), permite uma visão privilegiada de toda a cidade.

i Teatros romanos

e Vieux Lyon O centro velho lionês é repleto de ruas estreitas com pavimento de paralelepípedo e edifícios antigos restaurados. Na região estão alguns dos principais pontos turísticos da cidade, mas vale a pena o passeio para sentir o clima da segunda maior metrópole francesa. Além disso, é uma boa área para conhecer alguns bouchons, bistrôs típicos de Lyon onde se pode experimentar a cozinha tradicional lionesa.

Os dois principais remanescentes da época que em Lyon era uma cidade romana. Os dois anfiteatros têm nível de preservação tão bom que ainda são utilizados para apresentações. Para se aprofundar no tema, pode-se ir ao Museu da Civilização Galo-Romana, logo ao lado.

r Presqu’île Região mais agitada da cidade, está separado do centro velho pelo rio Saone. Em Presqu’île estão as aprazíveis praças Bellecour e Des Terreaux, com suas estátuas, fontes e bares. O bairro ainda abriga o museu de Beaux-Arts e a Ópera de Lyon.

t Museé des Beaux-Arts É considerado o museu com maior acervo de arte francesa depois do Louvre. Instalado no Palais Saint-Pierre, conta com obras de Rodin, Jannot, Delacroix e Maillol, entre outros. Na seção de antiguidades, conta com peças egípcias e etruscas.

uma década, o OL se tornou o quarto maior vencedor do Campeonato Francês (atrás de Olympique de Marselha, Nantes e, claro, SaintÉtienne). Rapidamente, a população local abraçou o time. A ocupação do estádio Gerland chegou a 90,9% na temporada passada. Com fanatismo crescente, a torcida do Lyon deixou de ser acusada de falta de comprometimento com o clube. A imagem de que a cidade de Lyon é poderosa e SaintÉtienne é mais frágil e batalhadora passou a ser refletida no futebol. O que, por conseqüência, acirrou ainda mais a rivalidade do OL com os

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o Beaujolais Quem aprecia vinhos não pode desperdiçar a oportunidade de conhecer a produção do Beaujolais, vinho leve e sem grandes pretensões, alguns quilômetros ao norte de Lyon. Os mais animados podem fazer um passeio pelas vinícolas da Borgonha.

combalidos, mas ainda apaixonados, seguidores dos stéphanoises. Desse modo, a RUL se tornou algo maior que a sede de importantes museus, local de raízes no Império Romano, capital da culinária francesa, terra de excelentes vinhos e cidade-natal de personalidades como André-Marie Ampère, Antoine de Saint-Exupéry e Allan Kardec. Ela se tornou também o palco da maior rivalidade regional da França, colocando frente a frente uma força do passado com a potência do presente. Colaborou Luciana Zambuzi

QUEM QU EM LEVA LEV L EVA EV A Não há vôos diretos do Brasil para Lyon. No entanto, muitas companhias que voam para a Europa levam a cidades onde é possível fazer conexão a Lyon. Algumas opções são a Air France (0800-8889955), TAP (0300-2106060), Iberia (11 3218-7130), Alitalia (11 2171-7610), British Airways (11 4004 4440), Lufthansa (11 3048-5800) e KLM (4003 1888 ou 0800 888 1888). Pela TAM (4002-5700 ou 0800-570 5700) é possível ir a Paris e pegar conexão ou seguir por terra até Lyon. Em relação às agências de turismo o ideal é conferir se Lyon entra no roteiro de pacotes de turismo gastronômico na França ou que envolvam Paris e sul da França.

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CATEGORIAS DE BASE

por Luciana Zambuzi

Festivais para a Fotos Divulgação

MOLECADA

Dallas Cup A Dallas Cup, disputada entre março e abril nos Estados Unidos, é internacionalmente reconhecida e vista por muitos como se fosse um Mundial de categorias de base. Em 2006, 17 mil espectadores foram ao Pizza Hut Park assistir à partida entre Manchester United e Real Madrid. Entre os jogadores que passaram pelo torneio texano estão os brasileiros Edu (hoje no Valencia), Kleber (Palmeiras), Luisão e Maicon, Raúl, Beckham, Owen, Rooney, Donovan, Rafa Márquez e Hakeem Olajuwon, que ficou mais famoso depois de desistir da carreira de goleiro para se tornar um dos maiores pivôs de basquete no mundo. Os brasileiros costumam ir longe na Dallas Cup. Corinthians, Vitória, São Paulo, Atlético-PR e União Bandeirante já venceram a competição. Aliás, o Brasil levou oito das últimas 14 edições. Ainda assim, o maior campeão é o Tahuichi, da Bolívia, com 4 títulos.

Todo ano, o verão do hemisfério norte recebe torneios de categorias de base que juntam equipes do mundo todo. Há espaço até para os brasileiros

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iajar ao exterior nas férias, jogar algumas partidas de futebol e, quem sabe, voltar para casa com a condição de se dizer “campeão mundial”. Essa possibilidade é real para garotos das categorias de base de diversos clubes brasileiros. São os que fazem parte de times que excursionam pelo hemisfério norte, geralmente durante o verão (de lá), e disputarem torneios com equipes de vários países. Ainda que se considerar campeão do mundo seja um exagero, até porque nenhuma dessas competições é oficial, a experiência serve para aumentar o intercâmbio de garotos que estão começando a carreira. E essa possibilidade não deve ser menosprezada, pois vários desses torneios têm longa história e já revelaram jogadores importantes no cenário internacional. Para apresentar esse universo, a Trivela preparou um resumo das principais competições de categorias de base que pipocam no hemifério norte.

Spax Cup Times participantes 180 Primeira edição 1979 Atuais campeões Liverpool (Super Group), Houston Dynamo (sub-19), Tigres UANL-MEX (sub-17), Texans Red-EUA (sub-16), Sockers Chicago-EUA (sub-15), Chivas Guadalajara (sub14) e Barcelona USA-EUA (sub-13)

Zayed Tournament Entre xeiques e príncipes acontece o torneio Zayed, sempre em março, nos Emirados Árabes. Tem a participação de jovens na categoria sub-17 de grandes clubes como Atlético de Madri e Internazionale, mas também por equipes importantes do Oriente Médio. Times participantes 6 Primeira edição 1996 Campeão da última edição São Paulo

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O patrocinador, uma fábrica de parafusos, dá nome à competição internacional que conta apenas com jogadores com menos de 19 anos. Disputada durante apenas dois dias, em Ennepetal, a Spax Cup é o mais importante torneio da Alemanha de juniores. Além de tradicionais equipes alemãs, como o Hamburg, Schalke 04 e Borussia Dortmund, o Ennepetal e o TSG, combinado de jovens da região, também participam da disputa. Grandes clubes estrangeiros, como Chelsea e Olympiacos, também são presenças tradicionais. Muitos jogadores importantes já disputaram a competição. Os casos mais conhecidos são Bergkamp,

Shevchenko e Klinsmann. Aliás, o ídolo alemão ganhou o título de melhor jogador nas duas edições em que esteve em campo, 1981 e 1982. Entre as equipes brasileiras, o Atlético-MG merece destaque: o Galo é o atual campeão do torneio. Times participantes 8 Primeira edição 1975 Atual campeão Atlético-MG

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Luciana Zambuzi

Norway Cup

Torneo di Viareggio Todo ano, Viareggio recebe dezenas de jogadores de várias nacionalidades. No Torneo di Viareggio, um dos mais antigos da categoria, são permitidas inscrições de atletas com até 21 anos. Entre os jogadores que passaram pela cidade toscana estão Antognoni, Trapattoni, Totti e Giannini. Conhecido também como Coppa Carnevale, por ser disputado em fevereiro, durante o tradicional carnaval na cidade, o torneio testemunhou fatos históricos. Em

Times participantes 54 Primeira edição 1983 Atuais campeões Manchester United (sub17), Everton (sub-15) e Irlanda do Norte (sub-19)

Times participantes 48 Primeira edição 1948 Atual campeão Internazionale 1978, um time da China comunista teve seu primeiro contato esportivo com a Europa Ocidental na competição italiana. Ao contrário dos times da casa, os brasileiros não costumam levantar a taça em Viareggio. A melhor campanha brasileira no torneio foi do Irineu, de Joinville, que perdeu a final de 1998 para o Torino.

Milk Cup A Milk Cup é disputada por clubes de mais de 50 países (categoria sub-17 e sub-15) e seleções nacionais (sub19). A competição, realizada na Irlanda do Norte, tem a participação dos grandes clubes ingleses e também times tradicionais europeus. Entre os brasileiros, apenas dois títulos, Vitória (1999) e Fluminense (2007).

Durante o verão norueguês, cerca de 30 mil meninos e meninas entre 13 e 19 anos disputam as seis categorias de um dos maiores torneios de categorias de base do mundo. Em Oslo, equipes de 40 países diferentes disputam 4.000 partidas em 65 campos de dimensões reduzidas. A Norway Cup não é uma competição exclusiva para times oficiais e o clima é mais de descontração do que de competição. Nos intervalos das partidas, times africanos apresentam danças típicas de seus países, garotos noruegueses presenteiam os visitantes estrangeiros e meninos e meninas dividem o espaço com a mesma significância. Retornar da competição com pelo menos um título por edição é rotina para os brasileiros, principalmente para os Pequeninos do Jóquei. O time do projeto social de São Paulo já trouxe da Noruega mais de 20 títulos e revelou jogadores como Zé Roberto e Júlio Baptista. Times participantes 1.500 Primeira edição 1974

Legenda Atuais campeões Valerenga-NOR (sub-19 e sub-16), Pequeninos do noonno Jóquei-BRA (sub-14) e Mathare nonono nonononono United-QUE (sub-13)

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LC DA ÁSIA

por Renato Andreão

A vingança dos

SAMURAIS Depois de colecionar fiascos nos últimos anos, japoneses roubam a cena na Liga dos Campeões da Ásia

Gamba Osaka Japão

Hoang Dinh Nam/AFP

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esde que foi criada, em 2003, a Liga dos Campeões da Ásia nunca foi palco de boas campanhas dos times do Japão. Ainda que contem com o campeonato nacional mais rico e uma das seleções mais fortes do continente, os “samurais” tombaram na primeira fase todos os anos, perdendo espaço para sul-coreanos e sauditas, mas esse cenário tem mudado. O título do Urawa Red Diamonds no ano passado foi um sinal de que os japoneses estavam ressur-

Al-Karamah Síria

Estádio Osaka Expo´70 (21.000 lugares)

Treinador Akira Nishino Destaque Yasuhito Endo (M)

Urawa Red Diamonds Japão

Estádio Khaled Bin Walid (35.000 lugares)

Treinadorr Abd AL-Nafea Hamwiea Destaque Aatef Jenyat (M)

Al-Qadisiya Kuwait Estádio Mohammed Al-Hamad

Estádio Saitama (64.000 lugares)

(24.000 lugares)

Treinador Gert Engels (ALE)

Treinador Mohammed Ibrahim

Destaque Robson Ponte (M)

Destaque Bader Al-Mutawa (A)

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gindo. A edição 2008 da LC asiática apenas reforçou esse processo. As quartas-de-final, que têm início em 17 de setembro, conta com três representantes da Terra do Sol Nascente, número superior ao de qualquer outro país. Por trás dessa boa fase está uma melhoria nos investimentos e o estilo de jogo dos times nipônicos. “Os japoneses voltaram a investir bastante, a estrutura nas categorias de base é excelente e a velocidade dos jogadores é uma arma contra as outras equipes da Ásia”, analisa o meia Botti, campeão do torneio em 2006 pelo Jeonbuk, da Coréia do Sul, e hoje jogador do Vissel Kobe. A disciplina é outro fator que pesa a favor dos orientais. É a opinião de Zé Mário, que dirigiu o Al-Wasl, dos Emirados Árabes, eliminado na primeira fase desta edição. “Eles assimilam melhor as determinações, às vezes até em demasia. Os árabes, por exemplo, só começam a treinar para valer quando chegam ao profissional, são menos disciplinados” conta o técnico campeão japonês em 1998 pelo Kashima.

Os três ases do Oriente Por essas características, o trio japonês surge como favorito no matamata da LC asiática. O Urawa Reds, atual campeão continental, é o mais rico do Japão e segue com a filosofia de manter uma linhagem de treinadores alemães que tem levado o clube de Saitama aos recentes sucessos. Uma tradição iniciada em

2004 com Guido Buchwald e mantida por Holger Osieck, que conduziu os Reds ao título da LC no ano passado. Seu posto foi deixado este ano para Gert Engels, quase 20 anos em solo nipônico, o único técnico estrangeiro da J-League que não precisa de intérpretes nas entrevistas. Com invejável saúde financeira, o clube do meia brasileiro Róbson Ponte, melhor jogador da liga japonesa em 2007, não teve dificuldades para repor as saídas de Nenê e Washington, que voltaram ao Brasil, e dos astros locais Ono e Hasebe, que foram para o futebol alemão. Alguns reforços, porém, não corresponderam e o clube atravessa um ano de oscilações e desconfianças que só serão sanadas com títulos. O atual campeão japonês Kashima Antlers passou tranqüilo pelo grupo mais fácil da primeira fase ao atropelar Krung Thai Bank, da Tailândia, Nam Dinh, do Vietnã, e Beijing Guoan, da China. O clube de Ibaraki é dirigido por Oswaldo de Oliveira e conta com uma base que atua junta há algum tempo e o ataque mais eficiente da LC Asiática, com média de 4,6 gols por jogo. Dos representantes nipônicos, o Gamba é o que tem mais problemas. Dono de orçamento menor que Kashima e Urawa, o time de Osaka perdeu seu artilheiro, o brasileiro Baré, negociado com o Al-Ahli, dos Emirados Árabes. Ainda assim, conta com Myojin, Kaji, Endo e Lucas, as armas para ganhar o titulo. O que reforça a situação dos ja-

38 Número de participantes da próxima edição da LC da Ásia. Até 2008, são 29 clubes. Com isso, a AFC pretende inserir clubes de, pelo menos, mais dois países na competição. Atualmente, só 15 federações indicam representantes para o torneio

poneses é a falta de concorrência. Adelaide United e Saipa são inconstantes. O Al-Qadisiya tem como força principal os jogos em casa, mas anda decadente como todo o futebol do Kuwait. Assim, sobram como concorrentes mais perigosos o sírio Al-Karamah, vice-campeão em 2006, e o uzbeque Bunyodkor, que se chamava Kuruvchi até agosto e entrou nos noticiários do mundo ao fazer uma proposta para tirar Eto’o do Barcelona. Com alto investimento e a eliminação do tradicional Al-Ittihad saudita no currículo, o time de Tashkent é uma força emergente no cenário asiático. Como o torneio é mata-mata e envolve enormes viagens a cada partida, surpresas são bastante possíveis. De qualquer modo, a Liga dos Campeões asiática deu uma guinada ao Extremo Oriente. E parece falar com sotaque japonês.

Bunyodkor

Saipa

(antigo Kuruvchi) Uzbequistão

Irã Estádio Enghelab

Estádio MHSK (16.000 lugares)

(15.000 lugares)

Treinador Mirjalol Kasimov

Treinador Pierre Littbarski (ALE)

Destaque Server Djeparov (M)

Destaque Ebrahim Sadeghi (M)

Adelaide United

Kashima Antlers

Austrália Estádio Hindmarsh (16.500 lugares)

Treinador Aurelio Vidmar Destaque Travis Dodd (MA)

Japão Estádio Kashima (39.026 lugares) Treinador Oswaldo de Oliveira (BRA) Destaque Mitsuo Ogasawara (M)

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Paula Prandini/Divulgação

CULTURA

Mais

uma

CHANCE Com “Linha de Passe”, cinema brasileiro tem nova oportunidade para tentar levar a emoção do futebol para as telas

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O

clichê do garoto que sonha em se tornar jogador de futebol é válido. Apesar de ser uma história batida, a saga rende boas imagens – e eventuais lágrimas – na tela grande. E os cineastas brasileiros finalmente começam a ver isso. O mais recente exemplo da reconciliação do cinema brasileiro com a paixão nacional veio com Walter Salles e Daniela Thomas, que retomaram a parceria de “Central do Brasil” (1998) para contar uma história que o Brasil tende a gostar de ver. A trama já tem nome: “Linha de Passe”. O longa-metragem deve chegar às salas de cinema em setembro, mas faz barulho desde o primeiro semestre. Foi aclamado no Festival de Cannes, em maio, e rendeu a Sandra Corveloni o prêmio de melhor atriz. No filme, ela é Cleuza, matriarca de uma família pobre, com quatro filhos crescidos e mais um na barriga, de pai desconhecido.

Na produção, o futebol é supostamente pano de fundo, mas com destaque. “O futebol é uma das vertentes principais do filme. Não só o ritual apaixonante dos estádios, mas também o jogo como meta para milhares de jovens quebrarem as barreiras sociais”, explica o Walter Salles. Por isso, o diretor teve cuidado para colocar uma bola como peça-chave do filme. Usou como base os documentários “Futebol” e “Santa Cruz”, dirigidos por seu irmão, João Moreira Salles. Num plano mais simples, o que “Linha de Passe” mostra é futebol. E Walter Salles confirma que fazer futebol para cinema foi um dos grandes desafios da produção. “Não é possível armar uma jogada e gravar. Fica mecânico. São 22 jogadores, mais os treinadores. Como dar conta de tantos elementos?”, comenta. A resposta está na escalação de um alguém que entende do assun-

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to: o assistente de direção Samuel León, um chileno que já foi comentarista de futebol e criou as cenas da pelada do leprosário em “Diários de Motocicleta”, outra produção de Walter Salles. Foi León quem deu as diretrizes para que as cenas de futebol tivessem cara de futebol. E não de armação. Além do chileno, coube a Vinícius de Oliveira contribuir para que o longa ficasse futebolisticamente convincente. Na história, ele é Dário, filho de Cleuza que tenta ser jogador de futebol. Entre os irmãos, ele é o único que alimenta esse sonho. Reginaldo (Kaique de Jesus Santos) quer encontrar o pai. Dinho (José Geraldo Rodrigues) se refugia na religião, Dênis (João Baldasserini) está mais preocupado com o próprio filho. Futebol em “Linha de Passe” é com Dário. Por isso, não é de se estranhar que Vinícius tenha abdicado de outras atividades para se dedicar somente ao esporte, desde quando foi convidado por Salles para participar do projeto, em 2002. O ator treinou por quatro anos na escolinha do CFZ, no Rio. Lá, desenvolveu a técnica que daria verossimilhança ao aspirante a cra-

que. “Eu jogava desde moleque, mas sempre na rua ou na praia. Não tinha consciência tática, de posicionamento. E esse período lá me ajudou muito”, conta o ator. Foram usadas até cinco câmeras ao mesmo tempo nas cenas de futebol, quase sempre em campos de várzea em São Paulo. “Convidamos jogadores de verdade, o que foi bom porque eles sabem como se joga”, segue Vinícius. “Por outro lado, às vezes eles facilitavam para mim, quando a idéia era recriar a dificuldade de uma partida de futebol”. Tamanho cuidado é justificável. “A ficção pode parecer artificial para quem está acostumado a ir a estádios ou mesmo jogar de vez em quando”, comenta Luiz Zanin Oricchio, crítico de O Estado de S. Paulo e autor do livro “Fome de Bola – Cinema e Futebol do Brasil”. Isso explica um pouco a falta de sucesso de filmes com temas futebolísticos. De qualquer modo, “Linha de Passe” não se define como uma produção de futebol. “O esporte só faz parte do universo de um personagem”, argumenta Paulo Sérgio Almeida, cineasta e especialista em mercado de cinema.

Daniela Thomas/Divulgação

por Fernando Martins

Até o “Linha de Passe” entrar em cartaz, não dá para saber se a história de Dário, jovem de 18 anos que não desiste de tentar uma peneira atrás da outra, vai fazer jus ao barulho e à vontade do público de ver o esporte na telona. “A verdade é que não apareceu um filme sobre futebol que esteja à altura da importância do futebol na vida do brasileiro”, resume Zanin. Walter Salles tem consciência disso. “É estranho o fato de ainda haver poucos filmes com esse tema”. Por isso, “Linha de Passe” é a chance de o diretor mostrar que, além de cinema, entende de bola.

Vinícius de Oliveira treinou quatro anos no CFZ para fazer o filme

Veja entrevista completa com Walter Salles em www.trivela.com/revista

* Documentários

Fonte ONG Filme B

PÚBLICO DE FILMES BRASILEIROS COM TEMAS FUTEBOLÍSTICOS Filme

Distribuidora

Ano

Público total

O Casamento de Romeu e Julieta

Buena Vista

2005

969.278

Casseta & Planeta: a Taça do Mundo É Nossa

Warner

2003

690.709

Pelé Eterno*

UIP

2004

257.932

Todos os Corações do Mundo*

Severiano Ribeiro

1996

265.017

Boleiros

Tabu Arte

1998

60.000

Gigante - Como o Inter Conquistou o Mundo*

G7 Cine

2007

23.515

Uma Aventura do Zico

Lumière

1999

36.727

Boleiros 2 – Vencedores e Vencidos

Mais Filmes

2006

10.316

Histórias do Flamengo*

Riofilme

1999

11.157

Show de Bola

Imagem

2008

5.904

Garrincha: Estrela Solitária

Polifilmes

2005

7.877

Um Craque Chamado Divino*

Pandora

2006

1.148

Ginga – A Alma do Futebol Brasileiro*

O2 Filmes

2006

1.266

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EXTRACAMPO

Caras novas A

lheias aos problemas que as grandes marcas vêm enfrentando, duas empresas de materiais esportivos ganham destaque no acirrado mercado do futebol. De um lado, a italiana Lotto, que, depois de um tempo longe do Brasil, já está presente em seis clubes. Do outro, a Dal Ponte, conhecida pela atuação no futsal, que resolveu investir também no futebol de campo. A Lotto voltou ao mercado nacional no ano passado com apetite. Em pouco mais de um ano, a empresa se tornou fornecedora de Atlético-MG, Bahia, Coritiba, Goiás, Sport e Fortaleza. Mas João Augusto Simone, diretor de operações, quer mais. “Estou confiante que logo teremos um grande de São Paulo. E depois queremos um do Rio de Janeiro”. Simone afirma que o futebol é o caminho para as empresas que querem crescer por aqui e, para isso, imagina investir também em lojas temáticas. O negócio vem dando tão certo que a filial brasileira já foi eleita a melhor de 2007 pela sede italiana, graças ao crescimento de 25% da marca na América do Sul. Já a Dal Ponte, referência em futsal, agora vai atacar nos gramados. Para começar, escolheu o goleiro Fábio (Cruzeiro) e o volante Kleberson (Flamengo). Mas a maior aposta está em Valdivia, que acaba de se transferir para o Al Ain, dos Emirados Árabes. “Pretendemos crescer acima de 16% ao ano e estamos buscando jogadores e equipes conceituadas, esse é o formato que vamos seguir. O futsal representa apenas de 3% a 4% do segmento esportivo”, comenta Leonildo Dal Ponte, presidente da marca. Colaborou Dassler Marques

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Jorge R. Jorge

Lotto e Dal Ponte investem pesado no futebol para ganhar espaço no mercado brasileiro A contratação de atletas como Fábio marca a entrada da Dal Ponte no futebol

ATIVOS ALÔ? Ferramentas de marketing via celulares, como produção de conteúdo, vídeos, toques e alertas, já representam um setor importante para os grandes clubes europeus. O Manchester United fechou um contrato de cinco anos com a Saudi Telecom que vai render quase US$ 20 milhões. Já o Real Madrid focou no mercado japonês e assinou com a Total Sports Asia, que vai produzir conteúdo e ferramentas para as três maiores operadoras locais. NAMING RIGHTS O estádio Ali Sami Yen, casa do Galatasaray, passará a se chamar Turk Telecom até 2018. O contrato de naming rights tem duração de dez anos e o valor é de € 27 milhões. SOB NOVA DIREÇÃO O empresário Vicente Soriano pagou € 71 milhões para se tornar o acionista majoritário do Valencia. Seu maior desafio será administrar as dívidas do clube espanhol, que já passam dos € 700 milhões, se contabilizarmos os gastos com a construção do novo estádio.

Dinheiro no bolso Inglaterra e Alemanha mostram como a bilheteria, ao contrário do que ocorre no Brasil, pode ser uma fonte de receitas importante. Para se ter uma idéia, apenas as vendas de ingressos devem gerar uma receita de € 2,54 bilhões para os clubes da Premier League ao final da temporada. A Bundesliga também comemora bons números. A 46º edição do torneio já começou recorde: 400 mil carnês para a temporada foram vendidos antecipadamente. Com tamanha fidelidade dos torcedores, ficou mais fácil negociar com parceiros, tanto que a soma dos valores dos contratos de patrocínios das 18 equipes bateu na casa dos € 130 milhões.

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por Fábio Kadow

Samba na cabeça A Nike não ficou de fora da campanha de recuperação do prestígio de Ronaldinho. A chuteira que o jogador usou durante os Jogos Olímpicos de Pequim foi desenhada pelo americano Tom Minami especialmente para o evento. O modelo, batizado de Ronaldinho 2 e que faz parte da família R10, é de couro de canguru. Detalhe: o calçado tem frase “Eu toco samba na minha cabeça” estampada. Ainda não foi definido se o modelo que vai às lojas também terá o lema. Fabricante: Nike Preço sugerido: não divulgado

TEM SABOR TREMOÇO? Preocupada com o envelhecimento da sua torcida, a Portuguesa busca alternativas para se aproximar do público jovem. Depois de uma parceria com a grife Cavalera, agora a Rubro-Verde terá seu energético oficial. A bebida, produzida pela Sport Drinks, será colocada no mercado em breve. Fabricante: Sport Drinks Preço sugerido: não divulgado

BIG FAMILY Em poucas semanas no comando do Chelsea, Felipão já virou personagem de gozações e brincadeiras em Londres. Por enquanto, a fama é de chefe bravo. Veja essa camiseta que está à venda no site inglês Subside Sports. Onde encontrar: www.subsidesports.com erido: US$ 33 Preço sugerido:

Até a Copa de 2038? Uma TV de plasma que pode ter vida útil até 2041, ou seja, pelas próximas oito Copas do Mundo e mais três anos. É o que a LG promete com a linha 00 mil New Plasma, com garantia de 100 horas, equivalente a 33 anos se o aparelho for usado apenas oito horas ao dia. É um aumento de 65% em relação à geração anterior de televisores. A empresa sul-coreana está lançando também a linha Scarlet de LCD. Aí, a novidade é a espessura: apenas 8 cm. Fabricante: LG Preço sugerido: de R$ 3.200 a 5.200

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Jogo com estilo Pebolim (ou totó, ou Fla-Flu) também pode ser sofisticado. O designer Howard Bushell criou a Offside Football Coffee Table, feita de madeira, aço escovado e tampo de vidro, pode até ser usada como decoração – e atrativo – para a balada. Procure por sites de compras estrangeiros. O problema é que a mesa tem seu preço, nada atrativo: cerca de € 2.500 euros. Fabricante: Howard Bushell Preço sugerido: cerca de € 2.500

ESPORTE E ARTE O livro “Zaragoza, Olimpíadas e Futebol” traz obras do publicitário e artista plástico José Zaragoza, um dos fundadores da agência de publicidade DPZ, e textos de José Roberto Torero. Lances de diversos esportes olímpicos e do futebol se transformam em obras de arte. Fabricante: J. J. Carol Preço sugerido: R$ 120

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Divulgação

Até 2014, Cumbica já teria seu terceiro terminal entregue

eu fiscalizo a

Copa 2014

LU PA Cooperação técnica A Associação Brasileira de Indústrias de Base (Abdib) firmou um termo de cooperação técnica com o Ministério do Esporte e a CBF para mapear a infra-estrutura necessária à realização da Copa 2014 no país. O levantamento ajudaria a Fifa e o Comitê de Organização na escolha das cidades-sede.

Crítica interna O coordenador-geral de Serviços Turísticos do Ministério do Turismo, Ricardo Moesch, criticou a falta de infra-estrutura hoteleira do país e afirmou que medidas precisam ser tomadas para receber a Copa de 2014. Entre os problemas, está a falta de capacitação de pessoal.

Estatuto do torcedor Governo federal, Ministério Público, polícia, dirigentes e torcedores participaram de uma audiência para discutir alterações no Estatuto do Torcedor. “Vamos preparar um plano para reduzir a violência nos estádios. Temos uma Copa do Mundo para organizar”, afirmou o secretário de assuntos legislativos do Ministério da Justiça, Pedro Abramovay, responsável pelo grupo de trabalho.

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por Gustavo Hofman O setor aeroportuário brasileiro não vive um momento tão delicado quanto em 2007. Ainda assim, é uma área crítica quando se pensa no projeto da Copa do Mundo de 2014. E não há muito tempo para resolver os problemas. A situação ficou exposta após a divulgação de um relatório da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag). De acordo com a entidade, o número de passageiros em trânsito no país deve dobrar durante o Mundial (hoje são 4 milhões mensais). Eles devem se deslocar de seis a 14 vezes de uma sede para outra. A Abag se mostra especialmente preocupada com três cidades: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Para a capital paulista, a solução seria a construção de um terceiro aeroporto. “A construção dele tem de começar já. Temos ainda seis anos se quisermos contornar o problema. Se o governo federal não puder ou não desejar utilizar seus próprios recursos para os investimentos necessários, a iniciativa privada está pronta para realizá-los, mas para isso precisa da autorização do governo”, afirma Rui Thomaz de Aquino, presidente da entidade. A Infraero reagiu às críticas, principalmente com números e projetos. Em nota divulgada em seu site, a estatal negou que o

setor aéreo entrará em colapso com a Copa. “Hoje temos uma condição boa e até lá estará ótima para os que demandarem nossos aeroportos”, afirmou o presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi. Segundo ele, são mais de 40 projetos e obras em andamento, com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e da própria estatal. De acordo com a empresa, a estimativa de investimentos em aeroportos no País é de R$ 3,89 bilhões entre 2007 e 2010, a construção do terceiro terminal de Cumbica (Guarulhos) terminará até 2012, o Terminal 1 de passageiros do Galeão (Rio de Janeiro) será reformado e o 2 será concluído e o aeroporto de Brasília está em fase de licitação para expansão, que deve aumentar sua capacidade para 15 milhões de passageiros/ano até 2010. No entanto, a programação da estatal está comprometida por denúncias do TCU (Tribunal de Contas da União). Segundo relatórios, pelo menos nove aeroportos controlados pela Infraero possuem suspeitas de superfaturamento, no que representaria um rombo de até R$ 3 bilhões. As duas entidades não entram em acordo sobre os parâmetros de análise e o cronograma de obras para a Copa fica comprometido.

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CADEIRA CATIVA

por Alberto Polo Jr.

O primeiro (e último) jogo Na eliminação corintiana da Libertadores de 2000, quebra-quebra e tumulto desencorajam qualquer um a voltar ao estádio

E

ra o primeiro jogo de futebol da vida dela. Minha irmã do meio nunca havia pisado em um estádio de futebol, a não ser para assistir ao show dos Menudos, uns 15 anos antes. A estréia não poderia ser melhor: Corinthians x Palmeiras, partida de volta da semifinal da Libertadores de 2000, no Morumbi. O nosso Alvinegro tinha um dos melhores times de sua história e havia vencido a primeira partida por 4 a 3. Arrumei mais dois amigos e partimos de Campinas para São Paulo. Parecia certo que o Corinthians mandaria o Palmeiras para o espaço, ao contrário do que acontecera um ano antes, quando eles nos eliminaram nas quartas-definal da mesma Libertadores. Entramos na arquibancada cedo, para evitar o tumulto. Começava a longa e ansiosa espera pelo jogo. A irmã maravilhada com aquela massa preta e branca que ia tomando o anel superior.

Enfim começou a partida. Depois de um primeiro tempo disputado, o Palmeiras abriu o placar, com Euller. Logo depois, Luizão empatou. Começou o segundo tempo e Edílson virou o marcador. Sete minutos depois, Alex iguala: 2 a 2. Pouco depois surgiu a virada: Alex cobrou falta, a zaga bobeou e Galeano apareceu quase sob a trave para cabecear. O pesadelo dos pênaltis começou. Marcelo Ramos, Roque Júnior, Alex, Asprilla e Júnior marcaram para o Palmeiras. Ricardinho, Fábio Luciano, Dinei e Índio fizeram os do Corinthians. Marcelinho foi pa-

ra a última cobrança. E ele falhou. Depois de um silêncio, os palmeirenses explodiram com a defesa de Marcos. Olhei para os lados, um dos amigos chora. O outro, sem ação, observava aquela massa corintiana, parte desconcertada, parte furiosa. Minha irmã nem sabia como agir, coitada. Não sabia o que falar, para onde olhar. Dou-lhe um abraço e partimos para o carro. Começava o segundo pesadelo, o maior para a mana. Enlouquecida, a torcida do Corinthians ia destruindo o Morumbi. Ao final da rampa que descemos, escutei um barulho vindo em nossa direção. Olho para trás e uma catraca eletrônica passou a poucos metros e se espatifou no meio da rua. A polícia interveio, começou o empurra-empurra e a tensão aumentou ainda mais. Conseguimos, enfim, chegar ao carro. Estacionado no fundo de um terreno, tinha sua saída travada por mais uns 50 veículos. Mais meia hora de dolorosa espera, sem contar o trânsito. Por volta das 2 horas da madrugada chegamos, cansados, inconsolados. Minha irmã decretou que aquele seria seu último jogo. Alberto Polo Jr., 29, é gerente de marketing

2 (4) CORINTHANS 3 (5) PALMEIRAS s es re or dor ado tad rta rt er be ib a Li pa p op Co 00 000 200 20 /2 ho/ nho nh jun ju /j 6/ 6 ão São (Sã i mb mbi (S rum M ru o do Mo dio ádi tád stá Est Es

o) lo) ulo ul Pau Pa

Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Mande um e-mail para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

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A VÁRZEA

Prefeitura FC A turma do bar do Chico Lingüiça estava em polvorosa. Afinal, não era todo dia que chegava uma carta da prefeitura sem cobrar os 53 meses de impostos atrasados. O empresário não pôde conter a euforia ao saber que o prefeito se empolgou com as atuações do Chico Lingüiça’s Globetrotters e queria investir na equipe. Os olhos marejaram ao vislumbrar a possibilidade de ir para o Mundial de Clubes já no ano seguinte. Bastou o ‘sim’ do velho Chico para as mudanças radicais começarem a acontecer. Logo encostou um ônibus, que acabara de ser pintado, para transportar a delegação. Ainda dava para ver escrito na lataria algo como ‘Escolar’, mas a tinta estava fresca e talvez fosse a marca do coletivo. Ninguém achou estranho ver a molecada passar a andar uns 13 km para estudar. Exercícios sempre fazem bem à saúde e é bom incentivar a prática desde cedo. Foram deslocados todos os pedreiros da cidade para a construção da Arena d’A Várzea, um moderno estádio com capacidade para 100 mil pessoas e toda a infra-estrutura necessária para receber a Copa do Mundo. Tudo bem que a população nunca passou de 200, mas o progresso atrairia muito mais gente para lá. O hospital que estava em obras ficou mesmo no aço e no concreto, um monumento ao dadaísmo de dar inveja a Tristan Tzara. Um belo incentivo à apreciação da pura arte, diga-se. Para a piscina de hidromassagem dos vestiários, do centro de treinamento e do hotel destinado às categorias de base, gentilmente foram desviados alguns encanamentos e a fiação elétrica. A população adorou, pois não gastaria mais para lavar roupa e tomar banho. Era só ir ao rio ali pertinho, de águas límpidas como o Tietê.

A charge do mês Chico Lingüiça estava radiante, mas logo sua alegria se transformou quando o carteiro lhe entregou uma carta. Vinha com um selo da República e um remetente meio estranho, de Brasília. Era uma conta repleta de zeros para ele pagar e umas palavras complicadas, como improbidade, abuso de dinheiro público e apropriação indébita. Só restou enxugar as lágrimas com os santinhos que o prefeito distribuiu antes de fazer uma viagem diplomática às ilhas Cayman.

A lorota do mês “Podemos ser bons como a Espanha” Até a rainha se escondeu quando Fabio Capello, técnico da Inglaterra, disse em quem o English Team deveria se espelhar

A manchete do mês “Jorginho alerta Dunga sobre agressividade de Camarões” (Globo Esporte.com) Perigo! Crustáceos irados invadem Pequim! Chamem o Spectroman!

Em alta Torcida do Vasco O time não está lá essas coisas, mas pelo menos a galera tem a garantia de ver uma goleada a cada jogo

Grêmio Ser campeão do primeiro turno do Brasileirão parece bom, mas não vale o preço de passar a ver Celso Roth como ídolo

Em baixa

Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

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