Revista Êxito na Educação - Ano II - Número 8

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Ano II - Número 8 - Junho a Agosto de 2014

época da eclosão da primeira e da segunda guerras mundiais. Toda guerra demonstra que o número de indivíduos pode fazer diferença quando os resultados pendem para um ou outro lado. Igualmente, não é por coincidência que o infanticídio só passa a ser considerado crime a partir do século XIX. “Constata-se, assim, que a sociedade não está interessada a princípio na mulher, mas naquilo em que ela pode ser produtiva ou prejudicial. O que está em jogo é a produção de novos indivíduos para a coletividade. E a mulher que chegou ao estado de gravidez tem de necessariamente apresentar algum resultado, ou seja, o filho, mesmo que seja morto. A gravidez está longe de ser vista como um evento do plano pessoal ou privado. Ela é um acontecimento social, na medida em que deve ser de domínio público, mas também no sentido que produz bens para a sociedade.” (Rohden, Fabíola, p. 50, A Arte de Enganar a Natureza)

É a partir de 1852 que começam a surgir leis e discursos médicos e forenses sobre a mulher e o parto. A principal função da mulher é reproduzir, dar filhos à sociedade e a maternidade é tida como algo natural, indiscutível. Por outro lado, vale lembrar que os processos e inquéritos referentes a aborto e infanticídio só têm mulheres das camadas populares envolvidas. Essas práticas, a partir do que dizem os textos médicos sobre o assunto e os depoimentos coletados nos processos, surgem como únicas possibilidades para se tentar restringir o número de filhos. As mulheres de camadas sociais mais altas provavelmente também estavam envolvidas com práticas semelhantes, mas os métodos utilizados e o acesso a profissionais mais gabaritados ajudavam a manter estas práticas em segredo. As perseguições às mulheres e aos envolvidos em práticas desta natureza só começavam no

momento em que um indício, um feto morto ou a morte de uma mulher ou uma denúncia vinham à tona. O feminismo não foi um fato simples para as mulheres porque agir em espaços públicos não era característica das mulheres, dedicadas ao domínio privado, educadas para serem belas, discretas e silenciosas. A política por muito tempo foi uma fortaleza só de homens onde as mulheres nem cogitavam entrar. Por sinal, a polis grega exclui as mulheres, tal como os escravos. As mulheres só podiam intervir em crises agudas onde a própria existência da polis fosse posta em risco. Se a polis grega era masculina, não menos masculina foi a Idade Média, onde a aristrocracia efetuava a troca de bens e das mulheres segundo o interesse das linhagens e pelo viés dos casamentos abençoados pela Igreja. Mais uma vez, as mulheres

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