Revista sobre cooperativismo

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História em Revista Uma produção experimental da disciplina Técnicas de Produção Jornalística, semestre 2017.1 - Manhã

COOPERATIVISMO

Um sistema capaz de acelerar o bem-estar, a colaboração visando ao desenvolvimento econômico e a inclusão social


Edi

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al


Cooperar para transformar “Unidos somos mais fortes”. Este é o lema pregado pelo cooperativismo, que luta por uma coletividade e por um lugar onde todos sejam iguais e se fortaleçam em unanimidade. Quase que um modelo de vida, uma oportunidade de mudar, uma doutrina. Regido a sete princípios básicos, tais como ajudar na educação e a comunidade, promover a independência, participação econômica, gestão democrática e uma adesão livre e voluntária, o cooperativismo transforma a vida de milhares de pessoas. Possui treze ramos, para um melhor atendimento de cada área. Nesta edição experimental, a História em Revista trata desses ramos, trazendo a perspectiva de cada personalidade responsável, e abordando o quão necessário é o cooperativismo para o mundo em que vivemos. O leitor encontrará nesta revista a visão de repeitadas entidades do cooperativismo, como da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do Ceará (Sescoop), em forma de pessoas. Presidentes, vice- presidentes, fundadores, médicos, agrônomos, advogados, administradores, agricultores, participantes de cooperativas expõem suas opiniões sobre esse tema, explanando dúvidas em relação à significação do movimento. Resumimos os nove ramos do cooperativismo, pois apenas estes estão com atuação no Ceará, e seus princípios, em sete entrevistas, formato pergunta e resposta. Elas contam com questionamentos acerca da definição do ramo, indagações sobre relações sociais, comunidades, valores, vantagens, o pouco conhecimento das pessoas a respeito do tema, dentre outros. Após todo esse esclarecimento, esperamos que você, leitor, termine essa revista com suas dúvidas eliminadas, e que portas de um novo conhecimento tenham sido abertas. Nosso propósito é espalhar esse tema e fazer com que mais pessoas se interessem em conhecer sobre cooperativismo. Em virtude de sermos um povo que precisa de justiça e de ganhos econômicos, o cooperativismo vem para ser um ramo que abrange toda essa área. Boa leitura!


EXPEDIENTE

HISTÓRIA EM REVISTA – Cooperativismo é uma publicação única da disciplina de Técnicas de Produção Jornalística, semestre 2017.1, turma Manhã Centro Universitário 7 de Setembro – UNI7 Diretor Geral Ednilton Sárez Diretor Acadêmico Ednilo Soárez Vice-Diretor Adelmir Jucá Coordenador do curso de Jornalismo Dilson Alexandre Professor Orientador Miguel Macedo Repórteres Amanda de Oliveira Ana Jéssica Lopes Dayana Evans Ermeson Santiago Ester Araújo Joana Kelli João Paulo Araujo Matheus Castro Mirla Cláudia Neyliana Maia Rayanne Aragão Roberta Linhares Vitória Yngrid Editorial Ester Araújo Projeto Gráfico e Edição de Arte Ester Araújo


SUMÁRIO Cooperativismo sob um novo olhar......................... Pág 6 João Nicédio Nogueira Cooperativismo e seus desafios sociais..................... Pág 8 André Fontenele Por uma consciência comuniária............................. Pág 10 Nazareno Sampaio Vantagens globais para todos.................................... Pág 12 Frederico Joffily Agronegócio rumo a coletividade............................ Pág 14 Airton Aloisio Cooperar: sinônimo de transformação.................... Pág 16 José Aparecido A união que faz acontecer.......................................... Pág 18 Selene Caracas


Cooperativismo sob um novo olhar Sistema econômico que faz das cooperativas a base de todas as atividades de produção e distribuição de riquezas, é uma doutrina que promove o trabalho grupal e a humanização do trabalho Muitos já ouviram falar de cooperativismo, mas poucos sabem o significado. Como método de ação faz parte e está presente na vida da sociedade atual. O trabalho em conjunto, em ambiente colaborativo, é um dos pilares deste movimento liderado por todos, alicerçado por princípios e valores. Como presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado do Ceará (OCB) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do Ceará (Sescoop-CE), o agrônomo João Nicédio Nogueira tem compreensão da importância do associativismo como práticas democráticas. Questões como a reforma trabalhista, o crescimento do

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capitalismo e de pequenos e grandes produtores foram tratadas nesta entrevista. O presidente do Sistema OCB/Sescoop-CE levanta considerações importantes para o setor, que ajudam a compreender melhor como o cooperativismo funciona, desde que surgiu a primeira cooperativa do país, em 1889. Diante de cenários de incertezas, o esclarecimento para dúvidas comuns sobre o cooperativismo. Sem deixar de aprofundar questões sobre como os acontecimentos que ocorrem no universo das cooperativas podem afetar os trabalhadores e a sociedade. Sobre as iniciativas do Sistema OCB/Sescoop-CE, João Nicédio Nogueira destacou a formação

do quadro das cooperativas cearenses, a vantagem de investir por meio do sistema cooperativista e a humanização que a doutrina promove, se distanciando um pouco do capitalismo. Confira, a seguir, os detalhes dos temas que potencializam o setor. História em Revista - Quais as iniciativas do Sistema OCB/ Sescoop Ceará na formação de novas lideranças no quadro das cooperativas? João Nicédio Nogueira - Este é um dos grandes problemas nossos. A formação de novas lideranças é uma das grandes preocupações. Temos hoje alguns programas, projetos trabalhados pelo Sistema OCB/ Sescoop neste sentido. Inclusive, um programa que começamos a


trabalhar com o jovem na escola, que se chama Cooperjovem. A ideia é despertar o interesse do jovem exatamente na escola secundária de ensino fundamental para o cooperativismo. Nossa preocupação com o jovem chega até mesmo com a criação do nosso Prêmio Cooperativismo Cearense de Jornalismo que, além de premiar os jornalistas formados e tradicionais das mídias tradicionais, incluímos o estudante universitário, o jovem, nessa premiação, para buscar despertar o interesse sobre o cooperativismo Acho que é um tema que você, como estudante, vai gostar e com certeza vai se envolver na medida em que começa entender como é que funciona cooperativismo. HR - O que o senhor acha que a reforma trabalhista do governo do presidente Michel Temer poderá trazer de positivo e negativo para o cooperativismo? JNN – Em relação à reforma trabalhista a preocupação a grande. No caso específico da cooperativa de trabalho, não vejo essa realidade com muita preocupação, porque nós temos uma legislação específica sobre cooperativa de trabalho, uma lei aprovada 2012 que regulamenta especificamente cooperativismo de trabalho. Então, vai depender muito mais da gestão da cooperativa de trabalho do que da legislação. Às vezes, nós temos cooperativas com atividades sazonais, atividade que é muito intensiva durante um período curto. Hoje, ela vai ter uma possibilidade maior de contratar a mão de obra por um tempo maior. Mas, se contratar essa atividade por intermédio da cooperativa, que funcione bem como uma cooperativa de trabalho, esse risco também vai ser minimizado. Não vai ter impacto tão grande como algumas pessoas pensam. HR - Em sua opinião, o

cooperativismo é uma filosofia de vida? JNN - O cooperativismo, como dizem muitos dos nossos líderes, e agora no nosso Encontro de Cooperativas Cearenses (CooperaCeará), Roberto Rodrigues [coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), embaixador Especial da FAO para as Cooperativas e ex-ministro da Agricultura] bateu muito fortemente nisso: a cooperativa é doutrina. É como o Cristianismo, uma doutrina. O cooperativismo também é uma doutrina e não deixa de ser uma maneira de viver. É diferente, um pouco mais humanizado do que a empresa mercantil. Claro que temos cooperativas e cooperativas mistas, que não entendo muito fortemente. Mas, o cooperativismo verdadeiro, sem dúvida, é uma doutrina de vida. HR- Qual a consequência do cooperativismo no âmbito das relações sociais? JNN - A grande vantagem do cooperativismo é esta: tratar as pessoas com o mesmo nível de igualdade, não interessa o seu tamanho econômico. Elas vão para o mercado com a mesma capacidade de competição. Dentro da cooperativa, na hora tomar decisão, é uma tomada de decisão democrática. O voto do grande produtor vai valer a mesma coisa que o voto do pequeno produtor. É, portanto, uma doutrina, uma sistemática que valoriza muito as pessoas. Outro aspecto que muito forte é o caixa na distribuição de renda da cooperativa. Isolados, o grande vai para o mercado com muito mais oportunidade de negócio. No caso da cooperativa, o pequenininho se junta com outro pequenininho ou ao médio, torna-

se um grande, junto por um bolo. Falo em volume de negócios, com o mesmo tipo de oportunidades que tem qualquer outro associado. HR - Qual a vantagem de investir por meio do sistema cooperativista? JNN - A grande vantagem é a oportunidade de que o pequeno dificilmente iria para o mercado em condições de competir com segurança e com objetividade. Quando escuto essa pergunta, sei que as pessoas fazem pensando em vantagens tributárias e não acho que vantagem tributária seja de você levar isso em conta. A grande vantagem do cooperativismo é essa: é a oportunidade que o pequeno empreendedor tem, de ir para o mercado em pé de igualdade com o grande produtor. E quando se fala produtor, normalmente se é levado para o rural e não necessariamente é rural. HR – Como o senhor entende a importância da tecnologia da informação para cooperativas? JNN - Hoje a tecnologia da informação é importante para nós todos. Em nossa casa e em qualquer que seja nossa atividade. Hoje sem formação e sem tecnologia, sem essa realidade que temos no mundo todo, não há muito como funcionar. É importantíssima a nossa preocupação com o nosso dirigente e o que está acontecendo no mundo hoje. Roberta Linhares, 3º semestre – Jornalismo Foto - Divulgação/ OCB

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Cooperativismo e seus desafios sociais Advogado e professor esclarece as dificuldades em relação ao meio jurídico e tributário, além de pontuar as diferenças conceituais entre associativismo e cooperativismo, e importância de apoiá-los O cooperativismo, no seu percurso histórico, conquistou confiança e provou ser um modelo sustentável e lucrativo. Advogado e assessor jurídico do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do Ceará (SescoopCE), desde 2005, André Luís Moreira Fontenele, 37, diz que não se vê mais longe da atividade. “Buscava algo que, além da recompensa financeira, me desse alguma realização profissional. E quando você começa a ver o cooperativismo, não desiste mais”, assegura. O cooperativismo, segundo Fontenele, cresce progressivamente a cada ano que passa, porém ainda é muito tímido no cenário cearense por três motivos específicos: cultura, política e economia. Apesar de ser uma ferramenta muito interessante quando usado corretamente, e por ter como essência o crescimento de um para todos, no cenário jurídico existe um embate enorme com relação às questões tributárias. Isto acaba afastando pessoas novas de conhecerem essa ferramenta que, muitas vezes, é vista de forma negativa. Erroneamente, o cooperativismo é considerado algo sem autorização jurídica e isso impede o crescimento, pois leva ao afastamento do conhecimento. “No passado, donos de grandes empresas visando a ter um custo benefício maior, demitiam funcionários e diziam para eles abrirem uma cooperativa, assim

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eles não iriam ter tantos gastos com os direitos assegurados dos trabalhadores”, diz o advogado. Sendo assim, mesmo depois de anos, muitos juízes veem as cooperativas de forma fraudulenta e que não cumprem suas obrigações com o Estado. Na entrevista a seguir, André Fontenele explica detalhadamente essa relação jurídica com a cooperativa. História em Revista - Há

compreensão por parte do Governo Federal das especificidades do modelo cooperativista e seu regime jurídico tributário? André Fontenele - Não há. Se for para avaliar o texto da Constituição Federal (CF), o tipo de pessoa jurídica que é mais protegido é a cooperativa. Em uma das cláusulas tem escrito: “Tem que estimular e proteger o cooperativismo”. Na


prática, porém, isso não acontece. Por ser diferente, sua tributação também se torna diferente. Quando a cooperativa vende o produto, ela já paga os impostos, porque foi quem emitiu a nota fiscal. Só que quando ela repassa o dinheiro do que foi vendido para os profissionais, o estado quer cobrar novamente, o que se torna uma bitributação. Ou seja, quem está fora da cooperativa, quem é informal, paga menos imposto. O que acaba sendo uma concorrência desleal.

é porque a cooperativa é legal que isso acontece. Está previsto no artigo 79, das leis das cooperativas. A tributação do Ato Cooperativo tem que ser adequada. O problema é que o significado da palavra ‘adequada’ depende de um juízo de valor. Para os órgãos de cobranças de tributos, adequado é cobrar a cooperativa do mesmo jeito que cobra as outras empresas, o que é lógico. Mas, para nós se eles fizerem isso é inadequado, pois vão estar tratando igualmente os desiguais. Adequado seria que os órgãos públicos respeitarem esse sistema HR - Quais as diferenças entre diferente das cooperativas. Não associativismo e cooperativismo defendemos que as cooperativas e qual a importância de apoiá- não devem pagar impostos, mais los no que se refere à agregação é preciso ter cuidado com a de valor e facilidade no acesso a bitributação. mercados? AF - O associativismo é um HR - E por que o cooperativismo conceito amplo, pode ser encarado tem lutado pela Regulamentação como atividades assistenciais, do Ato? ou uma maneira das pessoas AF - Justamente para tentar fazerem parcerias, com qualquer transpor essa barreira. Para não fim, seja culturais, empresariais, precisarmos ter que convencer educacionais. Já o cooperativismo cada fiscal de tributos, que estamos é quando pessoas se unem para corretos e para que se tenha uma realizar uma atividade econômica lei explicando como funcionam em prol de um benefício que gera nossos pagamentos de impostos. proveito comum para todos. E a Enquanto isso não acontecer, nosso maior diferença entre elas é que resultado vai ser muito limitado. no cooperativismo a finalidade Cada cooperativa vive um dia é estritamente econômica. após o outro, pois se chegar um Olhando pela ótica dos pequenos fiscal, tem que parar tudo e passar produtores, os dois são como um meses defendendo a cooperativa, vínculo, que ajudam quem não explicando que está certa e que não tem tanta possibilidade a chegar ao sonegou nenhum imposto, pois mercado. Acabam sempre andando corre o risco de fechar, com uma lado a lado, pois especificamente multa milionária que se é aplicada. um vai precisar do outro. HR - São Paulo, Minas Gerais, HR - O senhor pode dizer o que Santa Catarina, Rio Grande é a Regulamentação do Artigo do Sul e Paraná são os estados 146 da CF, que trata do Ato que respectivamente têm mais Cooperativo? cooperados. Para o senhor, o que AF - O cooperado distribui para falta para os cearenses entrarem a cooperativa o produto e após nesse ranking? a venda, ela tem obrigação de AF - Diversos fatores. Costumo repassar para o cooperado, e não dizer que os principais são

cultura, política e economia. Cultura porque nesses estados temos índices de imigração maior. A maioria era de europeus e quando vieram da Europa já trouxeram o cooperativismo. Gerações foram se desenvolvendo dentro do cooperativismo, então culturalmente já possuem uma predisposição. Politicamente porque nos anos 70 houve um investimento muito grande nesses estados para as cooperativas, inclusive hoje, as maiores cooperativas estão no Paraná. Infelizmente, no Ceará, os políticos sempre trataram de forma muito predatória, querendo ganhar em cima do povo que não tinha conhecimento econômico, pelo fato de que muitos desses imigrantes chegaram sem ter, ao menos, onde morar. Então, para eles era tudo ou nada. Por isso dedicaram suas vidas por ser o único caminho. No Nordeste temos uma economia mais fraca. Nas cidades do interior temos uma cultura assistencialista muito grande, que não é dos governos atuais. Antigamente se criava miséria para poder dar esmola. É como se economicamente as pessoas que não tinham conhecimento tivessem sido educadas para acharem que eram pobres e que precisavam ser ajudadas por alguém que tinha certo poder aquisitivo. Amanda de Oliveira, 2º semestre – Jornalismo Jessica Lopes, 2º semestre Jornalismo Foto por Amanda e Jessica

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Por uma consciência comunitária Apesar de representar menos de 4% na economia, as cooperativas de créditos são vistas como possíveis alternativas em relação aos bancos mercantis comuns, com viés na desestabilidade econômica do país A crise financeira é uma grande influenciadora do crescimento das cooperativas de crédito. Quem afirma é médico Nazareno Sampaio, diretor presidente do Sistema de Cooperativas de Crédito (SICREDI-CE). Indica, para tanto, que se intensifique o nível de cooperação dentro das cooperativas. Um dos caminhos está na percepção do que seja uma cooperativa de crédito em comparação com um banco mercantil. O presidente ressalta como vantagem da cooperativa tornar o cooperado uma pessoa com consciência de que está trabalhando numa instituição que se preocupa com a comunidade. Conhecedor da cultura de cooperação, ele sugere a junção da SICRED com a SICOOB para maior representação das cooperativas na economia. “Por que o SICRED, a SICOOB e a UNICRED não se juntam? Eu dou a resposta: ideologia cooperativista”. E reconhece que o crescimento percentual é importante, mas não é tudo. “Percentualmente o crescimento do cooperativismo brasileiro está bom. Mas representamos menos de 4% do sistema financeiro nacional. No exterior, na Alemanha, 30%, no Chile 20%”, diz Nazareno, indicando alternativas para impulsionar o cooperativismo brasileiro. No âmbito do SICREDI, destaca dois projetos sociais direcionados

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a pessoas em situações de risco, realizados pelas cooperativas: o curso “Cuidadores de idosos” e o projeto “Com as mãos no futuro”, que visa a capacitar mulheres para a atuação no mercado de trabalho como manicures. Saiba ainda, na entrevista a seguir, como as cooperativas podem ajudar na superação de desafios sociais. História em Revista - O senhor pode fazer um breve histórico da cooperativa em Fortaleza e no Ceará? Nazareno Sampaio - Em 1983, os bancos começam a montar suas seguradoras de saúde. E a nossa cooperativa tinha conta no banco. Por que não termos o

nosso próprio? Pedimos ajuda à primeira cooperativa do Rio Grande do Sul e de São Paulo e assim nasceu a Unicred Fortaleza. Com 52 médicos, a cooperativa passou a prestar os mesmos serviços que uma instituição financeira. Começou com os médicos da Unimed Fortaleza e entraram outros médicos. Em 2008 entraram os familiares. Já em 2010 foi feita uma expansão para todos os profissionais de saúde, são 14 especialidades. Em 2012 nos juntamos à Unicred Vale do Jaguaribe. 2014 incorporamos a Unicred Sobral. Em 2016 deixamos a Unicred e passamos a fazer parte do Sicredi, que é um sistema de cooperativas antigo do Brasil, fundado em 1902, que conseguiu


ser dono de um banco, o Banco das Cooperativas do SICREDI. Essas cooperativas resolveram fundar uma corretora, uma seguradora e uma holding, que administra tudo isso. A Unicred é um sistema bom, tem atuação em todo o Brasil, mas não conseguiu ter um banco, uma corretora. É segura, mas não conseguia dar esse passo a mais que precisávamos. A gente ficava limitado. Foi decisão do Norte e Nordeste migrarem para o SICREDI e ocorreu no final de 2016. HR - Como as cooperativas de crédito se diferem de um banco mercantil comum? NS - Na cooperativa, o dono é cada um dos correntistas; no banco, você é correntista, não é dono. Aqui você tem conta corrente e conta capital, e investe como dono. Mas, precisa participar ir às assembleias, operar com a cooperativa. Como? Fazendo tudo na cooperativa. E para os sócios? As sobras são divididas proporcionalmente. Tiramos 10% para o fundo de reserva, 10% para educação e parte social, e 80% distribuídas entre os cooperados. Não igualitariamente, mas de acordo com o que você trabalha na cooperativa. Quanto mais trabalhar com ela, mais está em saldo médio e um percentual daquilo volta para você. Fazemos assim: 100% dos lucros, 20% vão para o saldo médio do depósito à vista; 40% vão para o saldo médio que tem aplicação, outros 40% das sobras vão para o saldo médio de empréstimo. Há cooperados que chegam a receber de devolução de sobra 30 mil reais e tem quem recebe 200. É claro que quem recebeu 30 mil, geralmente tem um poder aquisitivo maior, mas olhe o tanto que está investindo. As aplicações estão aqui. Tem gente com aplicação de R$ 5 milhões, e

tem gente com nada de aplicação. tradicionais. Não só pela qualidade do atendimento, porque você é Só abriu a conta e não fez nada. tratado como dono. Serve também HR - Além das vantagens que de balizador porque no momento o senhor já citou em relação às em que o banco não tiver uma cooperativas, existem outras cooperativa, ele fica livre para vantagens? Uma vantagem da colocar o preço que quiser. cooperativa em si? NS - A principal vantagem, para HR - Quais os caminhos que o mim, é exatamente se tornar uma SICRED e os demais sistemas pessoa que tem uma consciência devem seguir para impulsionar o que está trabalhando numa cooperativismo brasileiro? instituição que se preocupa N.S - O que eles têm que fazer é com a comunidade. Nós temos trabalhar cada vez mais juntos, vários projetos. Vou destacar praticar a cultura da cooperação. dois projetos: um, é o curso Já pensou se se integrassem o “Cuidadores de idosos”. Eu estava SICRED, que é um sistema de 114 lá no site do Ministério da Saúde, anos, com o SICOOB que é outro baixei algumas apostilas e chamei sistema bem antigo? São os dois os profissionais da saúde que maiores sistemas e cooperativismo temos aqui: médico, enfermeira, de crédito. Já pensou se eles psicólogo, dentista, fisioterapeuta, se juntassem? O crescimento assistente social... Chamamos todo percentual é importante, mas mundo voluntário e montamos não é tudo. Percentualmente o o curso, certo?! Fizemos um crescimento do cooperativismo está bom. Mas convênio com o SISCOOP, que brasileiro nos ajudou. Nós já estamos com 11 representamos menos de 4% do turmas! A gente faz, em m´dia, de sistema financeiro nacional. No duas turmas por ano, dependendo exterior, na Alemanha, 30%, no da quantidade de recurso. O curso Chile 20%. é totalmente gratuito e voltado HR - Como as cooperativas para as pessoas de baixa renda. podem ajudar na superação de Formamos 440 pessoas. Outro desafios sociais? projeto nosso que tem funcionado NS - A nossa contribuição é ter legal é o projeto “Com as mãos no uma participação na comunidade futuro”, que ensina a ser manicure. que faz parte do princípio Fazemos um convênio com as cooperativista. A preocupação Secretarias de Saúde regionais de com a comunidade tentando se Fortaleza, que cedem uma sala e inserir dentro das necessidades chamam mulheres em situação da comunidade. Além do projeto de risco e a gente dá um curso de que distribui carrinhos de leitura manicure durante uma semana, dentro dos hospitais. Tendo, enfim, com um kit de material. São 10 uma visão social nos projetos. pessoas, geralmente, e até agora só Dayana Evans, 2º semestre – foram 10. Jornalismo HR - Quais os impactos que as Matheus Castro, 2º semestre cooperativas de crédito exercem Jornalismo Foto por Dayana e Matheus onde elas estão inseridas? NS - Elas atuam como um balizador ou como um contraponto, uma opção às instituições financeiras

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Vantagens globais para todos Compartilhar os ensinamentos dos princípios cooperativistas e como eles podem orientar por meio da sua adesão. Além de explicar com detalhes, o vice-presidente da OCB/CE, ressalta a importância de cooperar Um movimento cujo objetivo é promover o desenvolvimento econômico, o bem-estar social das pessoas e das comunidades onde vivem, por meio da cooperação. Assim é o cooperativismo que surgiu como alternativa para a evolução do homem e está presente como filosofia de vida. O papel do cooperativismo vem se destacando com uma essencial importância para o desenvolvimento global. Por meio dos objetivos conquistados, auxilia no desenvolvimento e na luta contra a exclusão social. Vem fortalecendo diferentes ramos no país, do agropecuário ao turismo e lazer, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida. São essas vantagens que se destacam quando se adere ao cooperativismo.

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Atualmente, vice-presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Ceará (OCB/CE), Carlos Frederico Joffily Bezerra, ou apenas Frederico Joffily, como é conhecido no âmbito do cooperativista, em longa trajetória dentro desse campo. Possui mestrado em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Estado do Ceará (UFC), MBA em Finanças pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC-RJ). O trabalho em conjunto é uma das principais características do cooperativismo. Mas, para isso, elas precisam de orientação para começar a construir uma

cooperativa e aderir ao campo. Essas orientações são chamadas de princípios básicos do cooperativismo, onde se pode entender melhor na entrevista a seguir. A oportunidade de conversar com um dos membros da OCB é ter uma aula sobre cooperativismo.

que teve início no século XIX na Inglaterra, e que com o passar dos anos foram se modificando e se aperfeiçoando, mas nunca foram mudados. No total são sete princípios, todos importantes para uma cooperativa, porém vou destacar alguns que são mais significativos no dia a dia. O primeiro é a livre adesão porque Histórias em Revista - Quais ninguém é obrigado fazer parte são os valores e princípios que de uma cooperativa, a partir formam uma cooperativa? do momento em que você não Frederico Joffily - Os princípios quiser mais participar, contribui que formam uma cooperativa vêm e cooperar você tem a decisão de desde o princípio do movimento sair ou não. Outro princípio de


muita importância é a participação econômica. Nos últimos dez anos, a OCB tem defendido muita essa tese porque para uma cooperativa funcionar de fato, você tem que entrar com capital. As cooperativas funcionam como empresas, têm que ter registro, inscrição na prefeitura, CNPJ, dentre outras obrigações que uma empresa tem. Todas funcionam como investimentos, onde cada um entra com seu dinheiro e que futuramente trará retorno. Um dos pontos de extrema importância para que uma cooperativa funcione é a participação democrática, onde por meio de uma eleição se escolhe alguém para pode dirigir a instituição, caso a pessoa não se adeque às necessidades e a expectativa dos cooperados é feita uma nova eleição. HR - O Brasil passou recentemente por uma forte crise – e ainda está -, onde vários setores foram afetados. Como as cooperativas reagiram a crise? FJ - Normalmente o cooperativismo se sobressai muito nos momentos de dificuldades, isto é histórico. Nas adversidades as cooperativas têm um viés de solução, porque são formadas de pessoas e esta é a diferença. Já uma empresa normal é formada por capital e quem tem mais capital manda mais. Enquanto que nas cooperativas não importa o quanto de capital você tenha, sempre será um voto, independe se eu for o fundador ou tenha entrado hoje. A diferença será na experiência. Mesmo assim, você que está chegando hoje na cooperativa pode ajudar a melhorar a cooperativa com suas outras experiências de vida. Recentemente a Policia Federal deflagrou a operação Carne Fraca, que atingiu vários frigoríficos de exportação do País, nenhum

daqueles eram de cooperativa. E no Brasil temos grandes cooperativas que produzem e vendem carnes, isso não significa que estamos blindados, mas como é uma empresa de todos e como ela é gerida por pessoas que têm que prestar contas ao próprio dono, esse nível de confusão é infinitamente menor e tende a não acontecer. Em 2008, tivemos uma forte crise mundial, a bolsa de Nova Iorque quebrou e o setor de cooperativa de crédito foi o que mais cresceu no Brasil, num momento de crise, um aumento de volume de negócios que propiciou uma projeção muito maior que elas já tinham. E digo: as cooperativas nos momentos de crise tendem a ter uma solução melhor.

sempre permeia as minhas vontades próprias e aquilo que acho que vai ter de resultado. Já o empreendimento coletivo, a minha vontade é explicitada, mas não necessariamente a minha vontade vai ser defendida ou colocado em prática. As pessoas têm de entender que quando entro em uma cooperativa, tenho que respeitar as diferenças, que é o mais importante é aceitar as decisões da maioria.

HR - Qual é a importância da adoção dos princípios cooperativistas em uma sociedade? FJ - As cooperativas têm que estar inseridas na preocupação com o meio em que ela atua, mas nem todos HR - O que é necessário para os princípios do cooperativismo construção de uma cooperativa? podem ser aplicados na sociedade. FJ - No Brasil temos três legislações A sociedade, porém, só ganha que regem a formação de uma com os ensinamentos que o meio cooperativa e 13 ramos diferentes cooperativo aplica. que a compõem. Cada seguimento tem uma legislação específica, Ermeson Santiago, 2° semestre mas, regra geral, primeiro você Jornalismo tem que legalizar, ou seja, adquire Mirla Nobre, 3° semestre personalidade jurídica; depois -Jornalismo reunir no mínimo 20 pessoas Foto por Ermeson e Mirla para constituir uma cooperativa. A OCB, além dessa orientação, pedimos que os cooperados tragam um projeto de viabilidade para que possa tornar a cooperativa uma realidade garantida. HR - Quais as vantagens competitivas de uma cooperativa? FJ - Vantagem mercadológica. Não é o fato de ser cooperativa que vai ser um sucesso e nem o fato de ser cooperativa que vai ser um fracasso. Enfim, as cooperativas e a forma jurídica para reunir as pessoas. HR - Em que diferencia um empreendimento individual de um empreendimento coletivo? FJ - O empreendimento individual

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Agronegócio rumo à coletividade Em meio às dificuldades da vida de agricultor, Aírton Aloísio mostra como surge uma ideia de união e força, trazendo à tona a percepção de que partilhar solidariedade é sempre o melhor para todos O cooperativismo nasceu no ramo do consumo, para suprir a necessidade de alimentação e sobrevivência dos operários que passavam por dificuldades na área rural. Sendo, assim, muito voltado para a comunidade e prestação de serviços. A agricultura familiar é um ramo que vem crescendo ao longo dos anos dentro do cooperativismo. Estima-se que quase 87% das famílias que estão ligadas a cooperativas, estão nessa área. Mesmo o cooperativismo sendo considerado um modelo mais justo de negócio, pois cada um

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recebe pelo que produz, as grandes empresas ainda não querem se associar com as cooperativas. Isso é visto como um problema, pois muitas famílias acabam perdendo oportunidades de receber lucros que estão indo para as empresas maiores. Para falar sobre soluções agroecológicas, com ações organizadas e solidárias e agricultura familiar, a conversa foi com Aírton Aloísio, presidente da Cooperativa Agroecológica da Agricultura Familiar do Caminho de Assis (COOPERFAM), que fica

em Maranguape. Dentre outros temas, o futuro do cooperativismo no Ceará, oportunidades de investimento nas cooperativas e melhorias no agronegócio. Cooperativismo para ele deve ser ensinado para as crianças desde os primeiros anos escolares. E diz: os nordestinos são pessoas muito solidárias, mas pouco cooperativas. Na entrevista a seguir, saiba mais sobre cooperativismo e entenda suas vertentes e técnicas. Conheça os benefícios que ele traz à sociedade e descubra como o presidente de uma cooperativa enxerga o agronegócio e o mercado.


História em Revista - O que tem o cooperativismo de especial para ser forte no agronegócio? Airton Aloisio - O pequeno agricultor sozinho tem dificuldade em conseguir tocar o seu negócio da porteira para fora. Ele consegue sobreviver da terra, plantando, criando, mas da porteira para dentro. É quase impossível apenas um agricultor conseguir ter escala de produção suficiente para ir ao mercado. É difícil levar sua produção até à Ceasa (Centrais de Abastecimento do Ceará). A força do cooperativismo está em ser um modelo de negócio coletivo. Os grupos de agricultores se juntaram e escolheram a cooperativa como a forma jurídica de fazer negócio e ir para o mercado vender a produção, comprar o insumo juntos, para ter um custo mais baixo. Um dado interessante: quase 87% das famílias que estão ligadas ao cooperativismo estão na agricultura familiar. HR - Quais oportunidades de investimentos na industrialização das cooperativas agrícolas, na capacitação da sua mão de obra e conquistas do mercado externo? AA - Temos algumas cadeias produtivas que são fortes. A fruticultura, por exemplo. Outra é a do caju. Hoje há cooperativas mandando a castanha para São Paulo e fora do país. Outra é a do mel de abelha, exportado por cinco empresas. Os agricultores, porém, perdem muito com isso, pois quem ganha dinheiro são os empresários, lucro que poderia estar sendo distribuído para uma infinidade de famílias. Outro exemplo de cadeia é a rapadura. É um produto que esta sendo trabalhado em Trairi, Pindoretama, estão fazendo com sabores, como maracujá, goiaba, e vários outros. Por último, Senador Pompeu e Capistrano estão

entrando nessa área da galinha caipira. Só que é uma construção lenta, pois eles não têm know hall, quem tem são as agroindústrias privadas, por exemplo, Granja Regina, Tijuca Alimentos, elas tem capacidade, porém elas não querem se aproximar das cooperativas.

trabalhar em cima disso. A principal razão da existência da cooperativa é prestar serviço aos associados e desenvolver a comunidade local. As cooperativas são, sobretudo, promotoras de desenvolvimento, e fazer isso de forma sustentável é o foco principal. Nós estamos tratando da nossa sobrevivência HR Quais soluções enquanto agricultores e da agroecológicas vocês utilizam continuidade do nosso negócio, para trazer melhorias para a então na cooperativa trabalhamos agricultura familiar? para que todos ganhem. AA - O agricultor familiar já é por si só um defensor do meio HR - Como presidente de uma ambiente. Cada um utiliza a cooperativa, qual sua visão do técnica que lhe convém, dentro da cooperativismo no Ceará e no agricultura orgânica ou ecológica Brasil? tem várias correntes, mas não AA - No Ceará, nós precisamos existe uma receita pronta. Dentro estudar e entender mais sobre o do mesmo município tem uma cooperativismo, pois ele é o que variação de recursos naturais, de mais se aproxima do modo de justiça ecossistemas, de clima, de solo, social que nós entendemos como de vegetação, e às vezes o que correto. Um amigo da Bahia me serve para minha propriedade disse o seguinte: “Aqui no Nordeste não serve para o meu vizinho, nós somos muito solidários, mas existem princípios que tem que ser pouco cooperativos”, e ele tem seguidos, no caso da agricultura razão, somos muito solidários agroecológica e da agricultura quando tem alguém sofrendo, orgânica. Hoje nós temos vários por exemplo, mas na hora de nos recursos, como inseticida juntarmos para melhorar nossas biológico. Pimenta malagueta, por vidas e todos ganharem ainda exemplo, é um inseticida natural temos dificuldades. No Brasil são fantástico, assim como alho, leite, cerca de 50 milhões de pessoas álcool, fumo, óleo de nim, urina de alcançadas pelo cooperativismo, o vaca, existe uma série de técnicas. que ainda é pouco, pois nos Estados O problema maior na agricultura Unidos e Europa passa de 60% o orgânica e agroecológica é o acesso índice da população que é ligada à certificação, pois ela é feita por às cooperativas. Nesses países, a empresas privadas, e no Brasil maior parte da economia está nas temos três ou quatro certificadores. cooperativas. Na nossa realidade Tem uma certificação chamada ainda precisamos levar isso para as de participativa, que é feita pelo escolas, e ensinar as crianças desde Ministério da Agricultura, mas os primeiros anos. não permite que você venda em supermercados, e sim em feiras e Ester Araújo, 2º semestre para instituições públicas. Jornalismo Rayanne Aragão, 2º semestre HR - O que vocês ganham ao Jornalismo beneficiar as comunidades? Foto por Rayanne AA - O cooperativismo é regido por seus sete princípios. Buscamos

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Cooperar: sinônimo de transformação Movimento econômico, social e político, que visa à inclusão e o bem-estar de todos, criando uma alternativa de vida para a população, eis o cooperativismo “Porque uma andorinha só não faz verão”. Quem nunca ouviu este ditado? Este herdado, como tantos outros, dos nossos antepassados, dizem um pouco sobre o que é o cooperativismo. Trata-se de um sistema que nos leva a acreditar na realização do trabalho conjunto, que promove o crescimento do grupo. Um trabalho mútuo, realizado em conjunto que não visa o lucro, mas passa pela possibilidade de sobra, onde a união e o companheirismo propiciam a realização de experiência e sobrevivência no âmbito do capitalismo. Assim, o ato de cooperar baseasse na organização de pessoas que buscam por condições mais dignas de vida. É realizado por meio da união de um grupo, que realiza um trabalho democrático, voluntário e coletivo, visando a beneficiar todos os envolvidos. Visto como um modelo econômico capaz de proporcionar mudanças positivas ao país, o cooperativismo ainda é um termo alheio a uma grande parcela da população. Como fonte provedora de gerar mudanças, que possibilitem a inclusão social, sendo benéficas para todos os envolvidos, como pode ser tão ignorada? Sendo, que boa parte dos produtos e serviços utilizados na atualidade, passa por, no mínimo, uma cooperativa e poucos são aqueles que têm conhecimento desse fato?

Aparecido dos Santos, fez uma explanação geral e ampla visando a tirar dúvidas em relação ao cooperativismo. Leia a seguir.

História em Revista - O cooperativismo tem sido visto como uma alternativa à crise econômica que o país tem enfrentado. Quais medidas acredita ser necessárias para que o ato de cooperar venha a ser uma No sentido de esclarecer estas e solução para o problema? outras questões, o superintendente José Aparecido - Acredito em do Sistema OCB-Sescoop/CE, José muitas! Nós que trabalhamos com

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cooperativismo conhecemos uma frase que diz “É na crise que ele cresce”. Mas, isto não seria andar pela contramão? Pois bem, existem dois pinheiros na logomarca do cooperativismo, que sugere a ideia de mais. Um pinheiro sozinho em meio à ventania iria ao chão. Vários pinheiros juntos, porém, se amparam, conseguem resistir às dificuldades e se desenvolver. E, assim há uma tendência de crescimento para o cooperativismo, pois existe um aparo, fica mais fácil de suportar o peso quando é


dividida a carga entre os membros. Essa divisão do peso faz com que a gente suporte as crises, mais do que uma empresa isolada, que não tem como realizar essa divisão. HR - O cooperativismo é composto por treze ramos. O Ceará, no entanto, é constituído por apenas por nove deles. Quais seriam os motivos para a inexistência dos demais segmentos do nosso Estado? Pincipalmente o componente de turismo e lazer, que são atividades de grande força, e que contribui para o desenvolvimento cearense? JA - Isso está ligado nos princípios. A cooperativa nasce de uma necessidade e essa necessidade tem que envolver um grupo. Enquanto não aparece um grupo com a necessidade de vender a sua habilidade de fazer turismo, vai passar 30 anos e não vai aparecer nenhuma, porque não cabe ao movimento do cooperativismo ir lá e criar. Ele tem que esperar de forma voluntaria para construir essa cooperativa. Por isso, que estes demais segmentos não aparecem no nosso Estado”. HR - A OCB juntamente com as cooperativas que a compõem, desenvolvem projetos de inclusão social, visando a beneficiar a todos. Desta maneira, foi criado o projeto Família Senador Pompeu. Como aconteceu a idealização deste projeto? JA - Localizada no Sertão Central do Ceará, região dos 800 mm de chuva, com a economia algodoeira. Depois de uma praga chamada bicudo [bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis)] ajudar a eliminar a produção do algodão, mostrando que não existia tecnologia para cultiva-lo, proporcionando desorientação as famílias que viviam da plantação.

Por meio dessa necessidade idealizamos o projeto família, denominado assim, pois agregava todos os membros familiares. Logo de início foram constituídos núcleos, o qual no primeiro buscava reorganizar as famílias, que aprenderam a produzir para se manter. Já o segundo núcleo, iria beneficiar a produção, para a comercialização. Desta maneira cerca de 20 famílias já foram beneficiadas com o projeto, e melhoraram de vida.

de Minas Gerais, em 2009, quando as empresas começaram a falar de responsabilidade social. No cooperativismo está nos princípios, está no DNA a preocupação com a comunidade. A ideia do Dia C é fazer movimentos que motivem as pessoas a serem voluntárias, pois, passamos o ano plantando e no fim vamos colher, fazer um trabalho social. A gente talvez não possa ser todo ano um voluntariado, mas por que não posso tirar um dia do mês e ir ajudar essas pessoas a melhorar? Este é um movimento que, aos HR - As pessoas, geralmente, poucos, vem crescendo. Era só em são alheias ao cooperativismo. Minas, hoje é nacional. E qualquer Por quais motivos isso acontece. pessoa pode ser voluntária. Há uma justificativa para poucas pessoas saberem de sua Vitória Yngrid, 5° semestre existência? Jornalismo JA - Há uma série de questões nesse Joana Kelli Alves, 2° semestre aspecto. Por esse motivo criamos o Jornalismo Prêmio Cooperativismo Cearense Foto - Divulgação/ OCB de Jornalismo, exatamente com a ideia de divulgar e de fazer a sociedade compreender melhor o que é essa ideia de cooperação, e o que é uma cooperativa. Poucas pessoas talvez nem conheçam a OCB, como também não saibam que este movimento é internacional. Quando acontece de adquirirem algum conhecimento, ocorre de maneira negativa tendo mais uma reclamação a dizer, do que um exemplo bem-sucedido para dar. É aquela velha coisa que diz: ‘os direitos a gente diz uma vez e fica gravado, e os deveres a gente diz várias vezes e as pessoas esquecem’. Quando digo que o Sistema precisa ser divulgado, ele precisa ser transparente nesse aspecto, precisa fazer as pessoas entenderem, a ficar de olho é no resultado. HR - O que é o Dia C, como ele funciona e quais são as programações feitas para esse evento? JA - A ideia nasceu na organização

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A união que faz acontecer

Sistema econômico e político que realiza trabalhos voltados ao bem-estar coletivo, visando à inclusão social da sociedade, sem ter o lucro como sua principal finalidade, este é o cooperativismo Princípios e valores, a base formada pelo cooperativismo. Abertas a todas as pessoas, as cooperativas são organizações livres e voluntárias que assumem responsabilidades com seus membros, sem discriminação social, racial, religiosa e política. Sistema que trabalha em prol da igualdade e do desenvolvimento, as cooperativas têm o intuito de criar possibilidades que promovam o crescimento conjunto, como, por exemplo, realizando projetos sociais junto à comunidade socialmente desfavorecidas. As organizações cooperativistas adotam o modelo socioeconômico a fim de centralizar participações democráticas, com o objetivo de firmar acordos independentes que gere resultados de equidade. A preocupação com a sociedade faz com que as cooperativas se unam em um único bloco, levando pessoas a utilizarem diferentes serviços. No cooperativismo, há 13 ramos de atividades diferentes no Brasil. Um deles é voltado para a área da saúde, que conta com 848 cooperativas espalhadas pelo país. Uma das especialidades é a odontologia que, no Ceará, tem apresentado um trabalho consolidado no movimento cooperativista. Para traçar um perfil da atuação em saúde bucal, foi entrevistada a ex-presidente e atual conselheira técnica, Selene Caracas, fundadora de uma das maiores cooperativas

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do país, a Uniodondo, há 28 anos fazendo história no meio cooperativista. Ela explica como está o ramo de atuação, indica os próximos objetivos com o envolvimento da sociedade e foca no desafio da intercooperação que teria que ser mais efetiva.

96 mil usuários e 800 dentistas. Na cooperativa, hoje, temos duas entradas de novos cooperados: em março e em setembro. É obrigação do cooperado ter um seminário de cooperativismo; ele tem que saber onde está entrando. A cooperativa não é uma empresa normal. Somos donos do nosso próprio negócio, e História em Revista - Já são 28 anos isso é um diferencial em relação a de mercado. Quantos cooperados outras empresas. Na hora em que e usuários a Uniodonto possui se entra na cooperativa, se passa a atualmente? ser dono dela. E o cliente é atendido Selene Caracas - Aproximadamente pelo dono.


HR - Como encarar a concorrência entre cooperativas odontológicas na mesma base de atuação? SC: Não temos muitos concorrentes. É questão de ser reconhecido. Tentei, inclusive, fazer uma unificação com a Unidental; mas não deu certo. Talvez no futuro possamos fazer essa fusão. Na verdade, nossa concorrência não é com outras cooperativas, é com as empresas que fazem tudo de qualquer jeito. HR - Quais os diferenciais a cooperativa odontológica em relação às concorrentes do setor? SC - Só existem coisas boas em relação às outras empresas. Uma delas é ser atendido pelo dono. Quem não está trabalhando na cooperativa, não é o dono; é o empregado. Também com relação à demora do atendimento nas outras empresas, a fácil acessibilidade da cooperativa, que praticamente tem em todos os lugares, se destaca. A Uniodonto faz parte do sistema nacional, então trabalhamos em intercâmbio. Qualquer usuário nosso, em qualquer lugar do Brasil, tem atendimento. Isso é muito importante em ser uma cooperativa. Além da urgência 24 horas que não falha. HR - O interesse pelas causas sociais da comunidade é uma preocupação da cooperativa, que busca ações como os projetos “Sorrindo para o futuro” e “Sorrisão”. Por que investir nessas ações? SC - Está dentro do princípio do cooperativismo. É se interessar pela comunidade onde se está. A cooperativa tem que ser boa para todos; para o cooperado, para o usuário, o colaborador e ainda tem que melhorar o meio em que ela vive. É importante porque se precisa; não tem como abandonar o meio em que se vive.

HR - Em meio ao cooperativismo odontológico, que avaliação a senhora faz sobre aspectos de qualificação da mão de obra, profissionalização de gestão e governança, além do estímulo à intercooperação? SC - Para entrar na cooperativa tem que fazer um curso de especialização. Tivemos problemas na execução dos serviços de endodontia por parte de alguns dentistas, e a Uniodonto realizou um curso gratuito e especifico para eles naquela matéria. O resultado foi muito bom. Quando comecei a cooperativa, éramos despreparados. Tive uma participação muito importante do meu marido, que trabalhava em uma cooperativa agrícola. Não tínhamos nada. Procuramos referências no Brasil, pegamos estatuto no Rio Grande do Sul. Tivemos ajudas no aprimoramento. Viajamos para a Bahia, pegando cópias dos folhetos, das fichas… Foi uma época muito difícil, pois não tínhamos dinheiro. A Uniodonto se constituiu com duas mulheres e um homem. O círculo que se formou foi de amigos, de pessoas que apostaram naquilo. O cooperativismo é algo que se planta para colher. Tem que haver planejamento. A intercooperação sempre foi uma briga para mim. Porque ela é muito falha, muito pequena. Durante o tempo que fiquei na cooperativa, os usuários da Unimed eram nossos usuários. Foram nossos primeiros clientes. Quem tem Uniodonto e que quer fazer um plano na cooperativa, fez Unimed. A odontologia da Unimed agora não é mais uma cooperativa, ela passou para outra empresa. A intercooperação teria que ser mais efetiva. Todos os cooperados tinham que entender que juntos somos mais fortes. É muito pequena; de todos os

princípios, considero o mais fraco. HR - Que respostas o cooperativismo tem dado aos principais desafios dos planos odontológicos: superação do modelo com enfoque curativo e restaurador, desenvolvimento de programas de promoção da saúde bucal? SC - Desde que começamos a cooperativa, todos os usuários, independentemente da idade, fazem tratamento e aplicação de flúor. De seis em seis meses, o usuário é chamado para refazer a limpeza, a aplicação de flúor e eventualmente uma restauração. Há os casos em que muitos fazem o tratamento e, às vezes, abandonam antes de terminar o prazo. A Uniodonto faz o serviço, e os dentistas convencem o paciente a fazer o retorno, mostrando que ele tem necessidade disso. Quem é meu paciente, já fica agendado. Quem é nosso usuário, não vai para outro canto. João Paulo, - 3º semestre Jornalismo Neyliana Maia, 2º semestre Jornalismo Foto por Neyliana e João

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