Revista espirita 1859

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Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Discurso do encerramento do ano social 1858-1859

mal na sinceridade de sua alma. Dizer que os Espíritos levianos jamais puderam se introduzir entre nós, favorecidos por algum ponto fraco, seria muita presunção e pretender a perfeição; os próprios Espíritos superiores poderiam permiti-lo para experimentarem nossa perspicácia e nosso zelo na procura da verdade; mas nosso julgamento deve manter-nos em guarda contra as armadilhas que podem nos ser estendidas, e nos dá, em todos os casos, os meios para evitá-las. O objetivo da Sociedade não consiste somente na pesquisa dos princípios da ciência espírita; vai mais longe: ela estuda também suas conseqüências morais, porque aí sobretudo está a verdadeira utilidade. Nossos estudos nos ensinam que o mundo invisível que nos cerca reage, constantemente, sobre o mundo visível; eles no-lo mostram como uma das forças da Natureza; conhecer os efeitos dessa força oculta que nos domina e nos subjuga com o nosso desconhecimento, não é ter a chave de mais de um problema, a explicação de uma multidão de fatos que passam despercebidos? Se esses efeitos forem funestos, conhecer a causa do mal não seria ter o meio de preservar-se deles, como o conhecimento das propriedades da eletricidade nos deu o meio de atenuar os efeitos desastrosos do raio? Se sucumbirmos, então, não nos poderemos queixar senão de nós mesmos, porque não mais teremos a ignorância por desculpa. O perigo está no império que os maus Espíritos tomam sobre os indivíduos, e esse império não é apenas funesto do ponto de vista dos erros de princípios que possam propagar, mas o é, ainda, do ponto de vista dos interesses da vida material. A experiência nos ensina que jamais é impunemente que se abandona à sua dominação; porque suas intenções nunca podem ser boas. Uma de suas táticas, para alcançar seus fins, é a desunião, porque sabem muito bem que dominarão facilmente aquele que estiver privado de apoio; também seu primeiro cuidado, quando querem se apossar de alguém, é o de sempre inspirar-lhe a desconfiança e o distanciamento de quem possa desmascará-los, esclarecendo-o com conselhos salutares; uma vez senhores do terreno, podem, à sua vontade, fasciná-lo com promessas sedutoras, subjugá-lo gabando suas inclinações, aproveitando, para isso, todos os lados fracos que encontram, para melhor fazê-lo sentir, em seguida, a amargura das decepções, feri-lo em suas afeições, humilhá-lo em seu orgulho, e, freqüentemente, não elevá-lo um instante senão para precipitá-lo de mais alto. Eis, senhores, o que nos mostram os exemplos que, a cada instante, se desenrolam aos nossos olhos, tanto no mundo dos Espíritos quanto no mundo corpóreo, os quais podemos aproveitar para nós mesmos, ao mesmo tempo que procuramos aproveitá-los aos outros. Mas, dir-se-á, não atraireis os maus Espíritos evocando homens que foram a escória da sociedade? Não, porque não sofreremos jamais sua influência. Não há perigo senão quando é o Espírito que se IMPÕE, ele jamais existe quando se IMPÕE ao Espírito. Sabeis que esses Espíritos não vêm ao nosso chamado senão como constrangidos e forçados, e que, em geral, encontram tão pouco do seu meio entre nós, que sempre têm pressa de se irem. Sua presença é para nós um estudo, porque, para conhecer, é necessário ver tudo; o médico não chega ao apogeu do seu saber senão sondando as feridas mais hediondas; ora, essa comparação do médico é tanto mais justa quando sabeis quantas feridas cicatrizamos, quantos sofrimentos aliviamos; nosso dever é mostrar-nos caridosos e benevolentes para com os seres de além-túmulo, como para os nossos semelhantes. Desfrutaria eu, pessoalmente, senhores, de um privilégio extraordinário se estivesse ao abrigo da crítica. Ninguém se coloca em evidência sem se expor aos dardos daqueles que não pensam como nós. Mas há duas espécies de críticos: uma que é malevolente, acerba, envenenada, onde o ciúme se trai a cada palavra; a que tem por objetivo a procura sincera da verdade, e comportamentos diferentes. A primeira não merece senão o desdém: com ela jamais me atormentei; só a segunda é discutível. http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1859/07a-sociedade-parisiense-de-estudos.html (7 of 10)7/4/2004 09:10:53


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