14 de MAIO
Envolvimento da MGF é determinante no combate à DPOC
Dr. António Pedro Machado
Dr. Gustavo Reis
Dr.ª Elsa Fragoso
Dado que a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) continua altamente subdiagnosticada e subtratada, o Update em Medicina prossegue com a abordagem deste tema, no sentido de contribuir para a inversão desse caminho, contando com o papel determinante dos médicos dos cuidados de saúde primários. Entre as 9h00 e as 10h30, são protagonistas o diagnóstico, a avaliação combinada e a terapêutica individualizada desta doença. Ana Luísa Pereira
O
Dr. António Pedro Machado, internista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria e um dos oradores, começa por afirmar que esta será uma sessão «particularmente didática e dinâmica», uma vez que os casos clínicos em análise são surpresa para os outros dois oradores – Drs. Gustavo Reis e Elsa Fragoso, respetivamente pneumologistas no Hospital de Santarém e no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria. Um dos principais problemas neste âmbito continua a ser a falha na «identificação de todos os doentes com DPOC», pelo que «este tema deve ser partilhado por pneumologistas e especialistas em Medicina Geral e Familiar (MGF), até pelo peso dos números», sublinha o internista. E dá o exemplo da diabetes, que, atualmente, «é uma doença do âmbito da MGF», pressupondo que «o mesmo sucederá com a DPOC dentro de cinco anos». Outro problema apontado por António Pedro Machado é o «acesso muito vari-
ável à espirometria, embora a Direção-Geral da Saúde esteja a fazer um esforço no sentido de generalizar o acesso a este exame essencial de diagnóstico». Gustavo Reis concorda que «o facto de não conhecer previamente os casos clínicos torna a sessão muito interessante». Referindo-se à dimensão da DPOC, este pneumologista frisa: «As estimativas indicam que a prevalência desta patologia é de cerca de 14% em Portugal, mas o número de doentes registados é pouco superior a 1%, o que comprova o elevado subdiagnóstico. Este problema só pode ser combatido com a intervenção da MGF e a realização adequada de espirometrias, pois os doentes podem ser assintomáticos ou podem ter-se adaptado às limitações da doença.» Nesse sentido, «apresentando sintomas ou não, se houver fatores de risco, deve fazer-se a espirometria como teste de rastreio». O ideal é «instituir uma cultura de espirometria e dotar a
espirometria
Asma
Padrão obstrutivo
Padrão restritivo
Clínica
Petismografia
DPOC
ACOS
(síndrome de sobreposição da asma com a DPOC)
Se bem que a espirometria após broncodilatação seja um requisito para o diagnóstico e a avaliação da gravidade da DPOC, a utilização do grau de reversibilidade da limitação do fluxo aéreo (ex: medição do FEV1 antes e após broncodilatador) deixa de estar recomendada. FEV1 - volume expiratório forçado no primeiro segundo
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MGF de know-how para interpretar os resultados deste exame». Gustavo Reis sublinha ainda a necessidade de apostar na prevenção e, nesse sentido, lança o desafio à MGF de «procurar a DPOC em doentes que têm comorbilidades cardiovasculares, porque muitos fatores de risco são comuns».
Individualização da terapêutica Ao nível da avaliação combinada da DPOC, «o cruzamento de elementos de ordem clínica (exacerbações e dispneia) com elementos de ordem funcional (espirometria) permite determinar o estadiamento da doença», o que é importante para «selecionar um tratamento à medida do doente», explica Gustavo Reis. Alinhando pelo mesmo diapasão, Elsa Fragoso salienta que «os doentes com DPOC não são todos iguais, pois esta doença é heterogénea, pelo que a terapêutica não pode ser generalizada». Esta pneumologista considera que, «além das dificuldades de acesso à espirometria, a seleção da terapêutica inalatória é uma das grandes dificuldades na abordagem da DPOC pela MGF». Neste momento, «existem vários fármacos da mesma classe e dispositivos inalatórios diversos», o que pressupõe «uma dupla escolha do princípio ativo e do dispositivo inalatório, sendo que a adaptação do doente ao tratamento é a chave do sucesso», nota Elsa Fragoso. A escolha do fármaco é ainda «condicionada pelas comorbilidades do doente, nomeadamente as cardiovasculares». Outra dificuldade «é decidir se há ou não indicação para corticoterapia inalada no tratamento da DPOC estável». Todos estes fatores, conclui a oradora, «acabam por dificultar a abordagem desta doença pela MGF».