Follow-up do Update em Medicina 2016

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Caracterização da dor é ponto-chave no tratamento das lombalgias

Na sessão dedicada às patologias da coluna lombar, que foi orientada pelo Dr. Luís Sequeira de Medeiros, especialista em Medicina Física e de Reabilitação (MFR) no Hospital dos Lusíadas, em Lisboa, a anamnese voltou a ser o foco principal, não só porque é determinante no diagnóstico, como também na orientação do tratamento, seja ele farmacológico ou não. Sandra Diogo

A

lombalgia é a principal queixa musculoesquelética da humanidade, a primeira causa de incapacidade e o segundo motivo mais frequente de consulta. Está entre as grandes causas de absentismo laboral, com morbilidade e custos económicos diretos e indiretos muito elevados. Foi, por isso, tema de uma sessão no Update em Medicina 2016, na qual se procurou sistematizar a avaliação da coluna lombar e tornar simples a análise deste sintoma, cuja etiologia pode ser muito variada. Neste contexto, Luís Sequeira de Medeiros começou por recordar que o estudo rigoroso da dor é fundamental na marcha diagnóstica e no tratamento sintomático do doente. «Ainda antes de começarmos a observação, uma caracterização adequada da dor define já a eventual abordagem farmacológica e dá pistas decisivas sobre a necessidade de exames complementares de diagnóstico e de referenciação, para além de ajudar o clínico a saber o que procurar no seu exame objetivo», explicou. Para suportar estes esclarecimentos, o especialista em MFR serviu-se de casos clínicos. «Face a um doente com lombalgia que descreve na anamnese sintomas compatíveis com parestesia e disestesia persistentes e pouco toleráveis num determinado dermátomo, o médico já sabe que, no exame físico, além de tentar definir a área de alteração das sensibilidades, deve pesquisar a existência de compromisso motor nos miótomos correspondentes, e que a dor em causa responderá mal à analgesia convencional», exemplificou.

Opioides como alternativa

Outro tema que mereceu destaque foi o tratamento farmacológico. Alertando para o facto de haver ainda um longo caminho a percorrer nesta área em Portugal, o especialista em MFR defendeu que é necessário pôr o foco na abordagem da dor moderada a insuportável, «que continua tantas vezes a ser tratada nas mais variadas áreas da Medicina com fármacos de primeira linha, como analgésicos con-

vencionais, anti-inflamatórios não esteroides [AINE] e relaxantes musculares». Para fazer face à dor moderada a insuportável, o palestrante defendeu a terapêutica com opioides, salientando que é urgente inverter a situação do nosso País, que ocupa a cauda da Europa no que diz respeito à utilização destes fármacos e está no pódio dos prescritores de AINE. «Quanto mais cedo a dor for abordada, mais efetivo será o tratamento instituído, mais baixas serão as doses de fármacos necessárias e menos prováveis (ou mais facilmente controláveis) os efeitos adversos», alertou Luís Sequeira de Medeiros, reforçando que, «na maioria dos casos, o manejo dos opioides e dos fármacos adjuvantes é simples, exigindo apenas algum tempo em consulta com os doentes». «Se alguns trabalhos sugerem que 30% da população portuguesa sofre de dor

crónica, com custos associados que ascendem a 3% do PIB, vemos a necessidade de serem todos os médicos a travar esta batalha», concluiu

Comentários da assistência Dr.ª Carla Sousa Pina

USF Cuidar, em Santa Maria da Feira

«Gostei muito desta intervenção, porque foi prática, dirigida e muito clara. A lombalgia é muito frequente na nossa consulta e esta sessão permitiu organizar alguns conceitos e sistematizar melhor o exame objetivo, o que me ajudará a dirigir os diagnósticos. Se nós realmente conhecermos as armas de que dispomos para realizar o exame objetivo e soubermos selecioná-las com o tempo reduzido que temos de consulta, vamos saber orientar melhor, e de forma prática e rápida, os tratamentos e o pedido de exames complementares de diagnóstico.»

Dr. Artur Garcia Silva

Centro de Saúde Carvalhosa/ /ACES Porto Ocidental

«A lombalgia aparece com muita frequência na minha consulta. Penso que foi dado pouco tempo a este tema tão vasto e gostava que esta sessão tivesse abordado mais manobras adequadas à prática da MGF e dado maior incidência aos dermátomos. Na consulta, é importante termos presente a sua distribuição, porque, caso contrário, dificilmente chegamos a um diagnóstico ou então acabamos por pedir exames como a TAC e o raio-x para o completar. No entanto, ao nível da MGF, pela minha experiência e dos meus colegas, a maior dificuldade é o manejo dos opioides, que estão muitas vezes associados às dores crónicas e ainda levantam muitas dúvidas.»

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