12
medicina familiar
Ricardo Patrão
Urologista no Centro Hospitalar Tondela-Viseu
Retenção urinária aguda
A
súbita incapacidade de urinar, levando ao enchimento da bexiga além da sua normal capacidade, é denominada por retenção urinária aguda (RUA). A sua etiologia é variada e, não raramente, existem diversas cau‑ sas na sua génese. Do ponto de vista prático, podemos classificar os distúrbios miccionais que dificultam o esvaziamento da bexiga como um problema no reservatório, ou seja, uma dimi‑ nuição ou ausência da capacidade contrátil da bexiga ou um problema na via de saída da urina, desde o colo vesical até ao meato uretral. As primeiras causas são mais raras e, de for‑ ma isolada, é extremamente infrequente serem a razão da RUA, ocorrendo, principalmente, em indivíduos com doenças neurológicas. A escle‑ rose múltipla apresenta um desafio particular, pois pode provocar dificuldades no armazena‑ mento e/ou no esvaziamento, em diferentes fases da sua evolução. A iatrogenia poderá ter um papel importante, nomeadamente quando doentes polimedicados adicionam vários fár‑
macos com efeito anticolinérgico ou alfa-adre‑ nérgico. Os distúrbios relacionados com a via de saída da urina são muito mais frequentes. O obstáculo pode encontrar-se no colo vesical, na uretra prostática, o esfíncter externo pode não relaxar de forma adequada ou podem existir es‑ tenoses na uretra, desde a região membranosa/ /bulbar até ao meato. A história clínica é muito importante, pois pode dar-nos indícios de doenças neurológicas, cirur‑ gias ou queixas miccionais prévias, medicação habitual, patologia prostática ou uretral conheci‑ da e, muito importante, o contexto em que surgiu a RUA. No exame objetivo, é facilmente identifi‑ cável (exceto nos doentes obesos) um globo ve‑ sical que se apresenta como uma passa palpável no hipogastro, com macicez à percussão. A causa da RUA pode ainda ser identificada quando se encontra uma fimose cerrada ou uma estenose completa do meato, se palpamos uma extensa fibrose da uretra (corpo esponjoso do pénis) ou uma próstata volumosa/pétrea ao toque retal.
Algaliação e tratamento A primeira abordagem após o diagnóstico da RUA é a remoção da urina da bexiga, através da algaliação. Após uma adequada higiene dos genitais, deve ser lubrificada a uretra (nos ho‑ mens, é mandatório instilar lubrificante através do meato uretral) e introduzida a sonda vesi‑ cal. Existem diversos tipos de sondas, quanto à forma, ao mecanismo de retenção na bexiga, ao número de canais e à matéria-prima. Numa primeira tentativa, deve usar-se uma sonda de Foley, com calibre 14-18 french. Quando a algaliação não é conseguida, será necessário enviar o doente a um urologista com urgência, que poderá recorrer a técnicas e ma‑ teriais diferentes para conseguir a algaliação. Se tal continuar a não ser possível, opta-se pela colocação de uma sonda vesical por via supra‑ púbica. Uma vez derivada a urina, deve então prosseguir-se a investigação e tentar descorti‑ nar a etiologia da RUA. Como é mais frequente, caso estejamos perante um homem com mais de
SIM História: ▪ Cirurgia urológica prévia;
RETENção urinária (dúvida: pedir ecografia renal e vesical)
▪ Traumatismo/estenose da uretra; ▪ Cancro da próstata ou bexiga; ▪ Dificuldade na algaliação e/ou hematúria macroscópica recente.
Não
UROLOGIA ACTUAL