Sonho de Escrever (nº31)

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Nยบ31 Novembro 2013


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Índice

Pág.

Editorial

3

Informações Culturais

5

Essência de Sentidos

6

Jazz´n´poesia

12

Textos de participantes

16

A falta que me fazes e o vazio que nos deixaste

17

Sem ti…

23

(Re) Descobrir Açores

28

Nós fazemos parte

43

A 7ª Estação

45

Olhando para o Céu

49

…todas as noites

51

Na palma da minha mão

56

Regras para Textos Enviados

57

Sonho de Escrever


3

Editorial Depois de vários meses em suspensão temos agora um novo começo, uma renovação da Revista Escrita Criativa. Por vezes, é necessário haver um fim para um novo recomeço. Foi isso que aconteceu com a Revista Escrita Criativa, estão curiosos com as novidades na nossa revista? A primeira novidade é, para começar e impossível de não reparar, a revista mudou de nome. A revista é para todos que sonham escrever e que sonham com a escrita dos outros logo o nome Sonho de Escrever ajusta-se na perfeição. Outra novidade é que agora a Revista tem um site para que todos possam ver e saber as suas novidades. Em breve, a Revista também vai estar acessível para download. Outra novidade é a alteração da estrutura da Revista, agora temos uma secção reservada à cultura onde aceitamos divulgação de eventos e serviços sobre cultura, especialmente dedicada à literatura lusófona. Além desta secção, temos outra reservada aos textos dos nossos colaboradores agora sem divisão do género; hoje em dia é comum nas obras haver fusão de géneros e, por isso, não faz sentido a sua separação.

Sonho de Escrever


4 Por

fim,

pedimos

que

leiam

as

Regras

para

textos

enviados que também foram alteradas e serão úteis para todos que queiram participar na Sonho de Escrever. Esperemos que gostem da Sonho de Escrever! E que os vossos sonhos os levem ao sucesso! Marta Sousa

Sonho de Escrever


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Sonho de Escrever


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Sonho de Escrever


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A Essência dos Sentidos De Paula Oz entre outros Poetas Para saber um pouco mais desta coletânea segue o prefácio do livro: Acredito que somos partes

mundo. Quem fomos, o que

pequenas e fundamentais,

sabemos, e porque somos

q u e

já velhos de saudades,

v i v e m o s

somente,

enquanto

quando em novos, a

servimos o maior dos

robustez e a esperança

m i s té ri o s, at é q u e s e

nos curavam de muita

esqueçam de nós ou nos

c o i sa q u e q ue r er í am o s

falte o amor, e todos os

dizer sem estarmos presos

m i s té ri o s a ca b em , p o r

aos

fim,

revelados.

i g n o r â n c i a .

Parece que nunca nos

Estes sentimentos,

deixam falar em bons

mormente

modos, explicar aquilo

escondidos, em bocas

que os sentidos nos

fechadas,

disseram, e queremos

acreditávamos que o

depois difundir pelo

passado era mais forte do

Sonho de Escrever

fascismo

da

sempre

porque


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que nós e talvez não

impressa, para se

devesse existir em

s e n ti re m s e gu r os co m o

palavras, sobre aqueles

i n d i v í d u o s .

instantes que são sempre,

Mas, não se pode amar sem

esses sim, realmente mais

o medo da geometria. Das

fortes do que nós.

r u a s qu e c r uz a m r ua s ,

Acredito também, que são

esquinas que dobram

estes os inventores da

vidas, infinitos jardins

explicação da humanidade,

onde os corpos passeiam e

sim, estes, os poetas!

se escondem, em tantos

Perdidos pelas aldeias e

tectos abertos onde os

pelas cidades, em magotes

s e n ti do s c r es c em e s e

de gente cheia dos mesmos

alimentam da noite, como

iguais anseios. Iguais

se a noite fosse a sua

temores, iguais vontades,

própria essência. Nisto

grávidas de palavras

acredito eu, pela força

indómitas, iguais paixões

da

e

que

Talvez que, a todas estas

necessitam do aço

r e c or da ç õe s s e t e nh a m

inexpugnável da palavra

seguido outras, mas os

escrita,

poetas não conseguem

memórias,

palavra

experiência.

Sonho de Escrever


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viver entre paredes, e um

estátua daqueles que os

dia, partem em demanda

reconheceram nessas

dos seus

próprios

mesmas palavras que aqui

desertos. Cada um deles

nos legam, impacientes

imerso naquele instante

punhais da sua essência,

em que o passado e o

q u e d es c ob r e r os t os e

presente se confundiram

almas nos gritos que nos

num verso definido, que

c

o s

l i b e r t a .

A dada altura, perguntei

Quem me dera a mim saber

a mim próprio: qual seria

o q ue s e nt i ra m n e ss e s

o valor inerente destas

instantes em que o

palavras? Sei que o

passado e o presente se

destino gosta das

confundiram, se nasceram

repetições,

ou se morreram como

variantes, das simetrias.

filhos perdidos da

Sei também que, algumas

palavra, nesse êxtase que

palavras, em mansa

nem reconheceram, como eu

recriminação de si

não o fiz, ou se o seu

mesmas, existem mais para

horror foi perfeito,

o u v ir , n ão pa r a s er e m

encurralado ao pé da

lidas, porém, depois de

o

Sonho de Escrever

b

r

e

m

.

das


10

apreciar este enredo

vivências dispersas,

poético, descartei a

a g r eg ad o s e m p al a vr a s

ideia de que as palavras,

fortes, em palavras que

por vezes, morrem para

nos socorrem, nos

que se repitam as mesmas

comovem, nos sussurram,

cenas. Deu-se então uma

nos transtornam, nos

revelação: certas

excitam. Depois, torna-se

palavras podem exprimir

p o s sí ve l , à s o mb r a d a

penumbras de ouro, que

s a u da de in s up o rt á ve l ,

nunca são como a vaidade

acreditar num mundo

nos chegou a sonhar, mas

melhor. Deixo então as

são, todavia, um espelho

minhas aqui, assertivas

do mundo nosso, mais até,

do aqui li, reli, senti e

uma coisa nossa que

jamais esquecerei, mas,

podemos acrescentar ao

em especial para uma

mundo. Então sosseguei.

amiga a quem é difícil

Quando se pensa ser

dizer outras coisas. Sei

impossível lidar com a

que

ausência, mais do que com

essencialmente silêncio e

a morte, surgem-nos estes

espaço, mas nós, os

pedaços volúveis de

amigos, sentimos sempre

Sonho de Escrever

a

amizade

é


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que estamos a mais. Ou a

acredito piamente, ĂŠ a

menos. Como as palavras,

essĂŞncia

e isso, sendo algo em que

Casimiro Teixeira, Setembro 2013

Sonho de Escrever

da vida.


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Sonho de Escrever


13

"Jazz’n'Poesia" JOÃO GALANTE & ISA FONTES “Uma

noite inesquecível de “smooth jazz” com as canções de João Galante e a poesia sensual de Isa Fontes acarinhadas pelo piano,a duas vozes”

H o m e n a g e m

3

Fontes, desfiando"

c o m p o s i t o r e s

algumas das melodias e

consagrados do jazz:

músicas

Duke

a

Ellington,

de

João

Galante.

Telonious Monk e Bud Powell. T e m a s

"Um constante esvoaçar t o c a d o s

da Poesia em volta de

instrumentalmente num

um piano carregado de

m i st o d e l ei tu r a d e

luxúria, misto para uma

poemas sensuais de Isa

"colheita" sem rótulo e

Sonho de Escrever


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preso de simbolismo, um

Crítica Literária,

verdadeiro "vintage"

Formadora de Oficinas

servido a rodos pela

d e

plateia inebriada. Toda

Criativa,

uma cumplicidade que se

obras premiadas Intra e

gera entre os dois

Extra muros. Joao

autores, uma nova

Galante, Pianista

abordagem da poesia que

Compositor e intérprete

num repente brota sob a

de canções e que não

forma de canção em

descura todas as

tórridas melodias que

i n fl u ên ci a s de tr ê s

se

décadas de longas

incrustam

na

memória.

E s c r i t a com diversas

caminhadas pelos

Isa Fontes, Escritora e

trilhos encantados do

P o et a , Ro m an ci s ta e

Swing e do Blues.”

Isa Fontes & João Galante

Sonho de Escrever


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Sonho de Escrever


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Sonho de Escrever


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A falta que me fazes e o vazio que nos deixaste

Mãezinha!

Ainda ontem, mesmo nesse teu sofrimento impossível de imaginar e difícil de entender, conseguiste oferecer-nos um sorriso. Tão suave, terno, diferente do teu habitual, mas como foi tão doce, achei-o bonito. Um Amor de sorriso. Um último sopro de vida que os teus lábios marcaram para exprimirem o conchego da nossa companhia. Claro que foram apenas os lábios, porque nesse teu sofrer, a vista que outrora se dedicava às escritas de sonhos, já não podia alcançar a nossa presença. O teu sorriso de ontem, diferente daqueles que costumavas largar quando conseguias transformar em amor os momentos mais amargos da tua vida, suspiro de liberdade, levou-te a voar pelos caminhos do Infinito e da tua Grande Fé.

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Essa

imagem

minha

mãe

querida,

que

os

meus

olhos

gravaram e o coração guardou num momento negro da minha vida, permanece no meu caminho, mas ensinou-me a amar. Foi um instante doloroso e difícil de aceitar, mas foi a tua viagem, de alma limpa como um Anjo ao encontro do Divino. Apesar da dor que me ficou na alma, sei que nessa tua viagem para a morada Eterna, ou para o imaginário maravilhoso, como sempre acreditaste, podes continuar a espalhar amor, como aquele que semeavas em searas de paz e amizade pelos caminhos por onde andaste.

Parece-me que foi ontem minha mãe, contudo nestes cinco anos de saudade, que a todo o instante me avivam a memória… Oh! Desculpa…Chegaram-me as lágrimas, inundaram-me a vista e agora já não consigo ver o que escrevo. Olha! Uma delas, bem salgada, caiu sobre a escrita e borrou a palavra-SAUDADE. Peço-te perdão mas deve ser da idade, cada vez me sinto mais sensível. Bem querida mãe, parece que já me recompus.

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Nestes cinco anos de saudade, nunca te escrevi qualquer palavra e também não vejo nenhuma razão plausível para que isso tenha acontecido. Mas hoje, nesta manhã fria de Inverno, ignoro o movimento apressado da vida lá fora e escrevo estas poucas linhas porque sei o quanto tu adoras ler. Para além disso, sabes bem que gosto muito de ti, a falta que me fazes e o vazio que nos deixaste. Olha

mãe,

quando

te

vou

visitar

e

falar

contigo,

aproveito sempre para dar uma palavrinha ao pai. Fica descansada mãezinha porque ele está informado do modo bom como tratámos de ti. E tu sabes bem que o meu bom pai se preocupava muito contigo. Até vou confessar-te uma coisa que tem estado todo este tempo atravessada na minha garganta e comprimindo o coração: Eu não vou só dar-lhe uma palavrinha. Aproveito para conversarmos sobre muitas coisas que ficaram por dizer. Mas o mais importante para mim, é dar-lhe aquele forte abraço e vê-lo a sorrir…Talvez o abraço que nunca conseguimos dar. Talvez aquele aperto que nunca sentimos e que me faz tanta falta. Mas como é reconfortante… É

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uma paz que me ocupa o espirito ver o pai a sorrir. Oh mãe! Como ele era um homem esbelto e bonito! Já agora que falo nisto aproveito a ocasião para te dizer o seguinte mãezinha: Lembras-te dos beijos que adoravas receber mas que nem sempre te consegui dar? Sabes aqueles momentos, quando diante de ti, ansiavas por um abraço que ficava pelo caminho?

Recordas-te

das

frases

inacabadas

ou

das

conversas que ficaram por dizer? Acredita mãezinha que só agora sei o quanto significavam para ti. Olha mãe, queria dizer-te uma outra coisa: Nesta data que te escrevo, aproxima-se uma época que te era muito querida, mas que para mim deixou de ter qualquer sentido. Sabes que a árvore, tardiamente colocada a um canto da sala, apresenta um aspeto cada vez mais triste? Este ano, até a iluminação não teve vontade de funcionar. As lembranças, essas, escasseiam sob a copa artificial. Tudo é tristonho. Com toda esta melancolia, só me tem dado para choramingar.

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Ainda te lembras mãe, quando éramos tão felizes? Sim, quando nós estávamos todos juntos sem nenhuns bens materiais? Ah mãe! Como recordo a chegada do pai, já de noite caída… Mesmo assim ainda nos ajudava a estender a massa para os fritos que fazíamos pelo Natal! Que momentos lindos esses mãe. Eu sei que não tínhamos mais para além disso, porque a riqueza, que muita gente julga trazer a felicidade, é no fundo uma pura ilusão. Um grande engano dos homens. A nossa felicidade, que tu e o pai nos ensinaram, foi criada nos bons princípios da solidariedade, do respeito e do amor. E nós, como tu sabes, manifestávamos essa felicidade com alegria e concórdia, todos em família à volta da redonda mesa, naquele monte, local isolado do resto do mundo. Como era agradável sentir o bem-estar oferecido pela espaçosa chaminé, onde o tronco de azinho aquecia o corpo, abastecia a alma, enchia os corações e até nos esquecíamos que nada mais tinhas para nos oferecer. Oh mãe, mas éramos tão ricos em compreensão…Como eram saborosas, a fina massa frita na lareira e uma mão cheia

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de deliciosas bolotas de azinheira saltando escondidas da cinza. Parece que ainda trago esses cheiros comigo! Mas lá fora, para lá dos degraus da porta, o orvalho caia, a geada pintava de branco os campos e os animais dormiam recolhidos na quinta. A paz morava ali. Ah mãe! Como tudo era diferente e como invejo a bondade dos corações desse tempo. Agradeço-te para sempre minha mãe, por me teres deixado viver esses momentos… Oh! Desculpa! Foi novamente a vista que surgiu molhada. Eu acho que começo a ficar velho! Mas não te preocupes mãezinha, quando vou ter contigo não me vais ver assim.

Mil Beijos de SAUDADE O teu filho

José Mário Figueira

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Sem ti… Interrompi o tempo para curar todos os meus males. Cantei uma canção para usufruir da dor que me abalava. Rasguei todas as roupas do meu corpo para te poder sentir. Gravei na minha memória todos os meus pesadelos, mas foi no coração que guardei a tua presença. Levaramte da minha alma! Tentaram deixar um rasto da tua presença, mas eu sentia que te estavas a desfazer, querendo, tu, alcançar-me. Querias tocar-me para fingir ser a última vez. Atingias-me com os olhos. Lançavas uma penetração no meu corpo que me abalava o sono. Queimaste os meus dias para não serem felizes, mesmo sabendo que sem ti eram completamente banais e vaiados. Aldrabaste o calendário, para que o tempo por ele não passasse. Mas eu tive de parar no tempo. Parti todos os relógios que encontrei. Prejudiquei a minha razão de viver, colocando água em cima das minhas cinzas. Eu estava destinado aos restos da vida. Senti que o teu corpo se incendiava na infelicidade do teu desgosto,

mas

quiseste

que

fosse

Sonho de Escrever

assim.

Preferiste


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abandonar-me e abandonaste. Sei que as tuas palavras não eram pensadas. Eu senti que me amavas. Eu sei que me amas e que nunca me vais abandonar. Pressinto que o teu corpo chama pela presença do meu sorriso, nem que o mesmo esteja tão escuro e manchado pela tristeza. Todo o meu rosto ficou mais velho. Da vida, não tirava partido. Por ti, tinha amor, mesmo sabendo que já não me amavas. Naufraguei na minha vida para esquecer um amor, apostando na pintura dos meus dias. Olhei em meu redor para chamar-te e perceberes que estavas a desperdiçar o dia mais feliz das nossas vidas. Lancei ao mar a minha vida. O meu corpo continuava afecto à tua presença. Deixaste as marcas dos teus dedos no meu peito. Apenas essa marca não deixei o mar degustar!

Perdeste-te

nos

caminhos

da

vida,

não

esquecendo que estavas a falsificar o trajecto que querias percorrer. O teu medo era alcançar-me! Tinhas receio de te perder nos batimentos do meu coração. Escondias

a

tua

alma

perdida,

antes

candeeiros se apagarem.

Sonho de Escrever

de

todos

os


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O teu medo soberbo atingia as incertezas do meu rosto. Os dias queriam tornar-se ainda mais escuros. Os relógios libertavam

tocavam uma

a

última

lágrima

badalada.

lutadora.

Os

Jamais

meus eu

olhos poderia

esquecer o momento em que partiste, em que largaste um silêncio para esconder uma palavra. Sem ti nunca poderia ter um rosto amável e brilhante. Sem o teu toque, definitivamente, não poderia lutar contra a vida. Mas quando quisesses limpar uma lágrima da tua infelicidade, eu dava-te o meu corpo para te aqueceres. Sofro desde o momento em que me olhas e não me deixas amar-te. Atribulo o meu corpo para fazer a estrada que queres passar. Rasgo na minha pele a dor, mas escrevo nos meus olhos o teu destino. Sei que nunca me vais deixar amar-te como amo verdadeiramente. Calmamente, olhei o horizonte. O sol queria ganhar vida; hoje sinto a minha pele atribulada. Ela grita pelo sentimento das palavras rudes. Eu pretendia alcançar o teu sorriso. Queria beijar-te e retirar todas as tuas palavras mortas. Gostava de tratar delas, machucando com os meus pés para não prejudicar o nosso destino.

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O sol vinha acompanhado pela noite. O escuro tomou conta dos meus dias. Chorei por ti para relembrar a tua presença

na

minha

pele.

Nunca

te

vou

esquecer,

infelizmente! O meu corpo tinha as feridas que deixaste em mim. Questionava-me por que não te esqueço, mas esta seria uma resposta fácil, mas cheia de sentimentos difíceis. Sem ti, não tinha as respostas dolorosas que não queria ouvir. Eu queria amar-te. Queria tudo como antes. Não gostava do céu por ser injusto com os meus sentimentos,

mas

estás

a

ser

cruel

com

a

minha

felicidade. Eu mascarava a solidão, escondendo todos os meus ritmos descontrolados. O meu coração pulsava as minhas lágrimas.

Eram

rápidas

e

fortes,

preponderantes

e

infelizes. Passas por mim e abraças-me no teu sorriso amargo. Cada vez mais, sinto que me pretendes esquecer. Mais um pesadelo para destruir o meu futuro doloroso. Sem a tua presença, percorro um caminho insultado pela vida, para tentar não sofrer. Mas sofro a cada

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27

disputar dos vulcões da vida. Eles largam o resultado da sua luta. Eu sofro pela consequência da tua partida. Quando me levantei para sentir o sol no meu corpo desnudado, voltei a cair. Senti os teus passos. Foste a lava que atingiu o meu corpo. Quando me atingiste, sufocaste-te no meu ombro com um choro rebelde, prejudicando as minhas palavras e queimando o meu corpo, deixando intensas marcas de como não sei viver sem ti. Sem ti, as cinzas do meu corpo são intensas. São as marcas da minha dor, mostram o desgaste do meu corpo e o afunilar da minha alma. Quando decidi partir, limpaste rapidamente as tuas lágrimas,

ultrapassando

rapidamente

os

meus

passos,

implorando que ficasse junto a ti… mas eu parti para libertar-me do meu desgosto. Diogo Cabral Licenciado em História

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(Re)Descobrir Açores

Passaram dez anos de puro silêncio. Lá de cima, a ilha apresentava-se exatamente, melancolicamente, tragicamente igual. Pela janela, sob a asa, avistava o mar que devorava a rocha, a espuma que devorava a onda, a areia que devorava a terra, o verde que devorava o azul e moinhos de vento abandonados que enfeitavam montes. Vi o meu rosto espelhado nas águas das lagoas amareladas, vi velhos desejos aninhados como tímidos prematuros fetos nas crateras de vulcões, vi paredes que já pintei e tetos que me acolheram em noites de luzidia felicidade e dias de negra mágoa dolente. Trazia comigo uma mala cheia de trapos inúteis e um dedo anelar que morrera solteiro. Condenei-o. Talvez seja tempo de colocar a maquilhagem no fundo do saco e recriar um velho Mateus, um velho sorriso e uma ingénua faúlha de esperança moribunda. Talvez… Há precisamente dez anos atrás, arranquei das minhas narinas o perfume que a ilha emanava com as garras de uma penitência auto infligida. Talvez fosse a hora de inspirar fundo e Sonho de Escrever


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deixar que me invadissem, todos. Talvez seja este o dia, o local, o tempo certo. Talvez… Eu jurara que não voltaria. Ignorei as lágrimas silenciosas

que

se

espraiavam

no

rosto,

fingi

desconhecer o porquê de lábios salgados cerrados e menti. Menti com todas as forças que me habitavam e com todas as palavras que conhecia. Para o Diabo se eu ficasse nesta ilha a remar contra a maré. Criei a minha própria maré, construí as minhas próprias asas, mesmo que à custa das penas de outros. A verdade é que, se fosse hoje, não teria partido, não teria mentido, não teria provocado lágrimas mudas. O avião vinha quase cheio. Era capaz de perceber a ânsia da maior parte dos passageiros: uma dúzia de turistas desejosos de conhecer solo açoriano, alguns indivíduos que aparentavam ser homens de negócios, uma equipa

de

basquetebol

empolgada,

um

prisioneiro

no

último banco da máquina, acompanhado por dois policiais sisudos, e alguns filhos pródigos que regressam para as férias da Páscoa. Não sabia em qual dos grupos me

Sonho de Escrever


30

encaixaria

melhor.

Não

deveria

ter

regressado.

Ou

deveria. Aos poucos, nos instantes coloridos, percebo, nas gotas

de

suor

bafiento

que

escorregam

nas

fiéis

avelhentadas rugas da minha testa, que não sou mais livre do que o homem cabisbaixo no último banco, seu provisório trono. Hoje, sairei do hotel pela primeira vez. O carro alugado levar-me-á onde preciso. É hora de destruir os receios que me corroem.

*

- Regressaste?! - Sim. Não se nota? - É bom ter-te de volta, mas... O que te fez regressar aos Açores? Estiveste tanto tempo sem dar sinal de vida, mudez absoluta e ininterrupta. Nem facebook, nem hi5. Até mudaste de número de telemóvel. Tentamos ligar-te vezes sem fim. Nada de morada, nem um mail.

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- Estou aqui e isso basta. Tenho assuntos a tratar por cá, amarras para soltar. - Ai sim? O que se passa? Ganhaste o euromilhões e vens comprar a ilha, é? Olha que São Miguel não está à venda. Só se a Troika insistir. - Vim saber quem sou, afinal. Ou se me perdi… Não posso continuar a imitar as avestruzes no deserto, não é? Vim redescobrir os Açores. Vim… - Redescobrir? Oh meu amigo, deves estar a brincar. Não tens vistos os noticiários? Vieste descobrir os Açores, isso sim. As coisas por aqui mudaram muito. Já nada está no mesmo sítio. A ilha até está maior, ganhámos metros em várias direções e o mar recuou o quanto baste. Daqui a dias São Miguel apalpa Santa Maria! - Tens a certeza? Não sei se concordo contigo! Os olhares parecem os mesmos. Mal cheguei, o tom de muitas vozes baixou e muitos olhos se semicerraram!

Um

diálogo

fragmentado

mas

tranquilo

decorre

estranhamente sobre a mesa de plástico. O Sandro é o mesmo Sandro…

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- …Vá, Mateus, bebamos. Não há nada melhor do que uma fresquinha durante a tarde. E não penses que eu não ouvi durante esse teu discurso quando disseste vocês. Ainda bem que te corrigiste logo de seguida. Não deixaste de ser

ilhéu.

Não

consegues

escapar

a

essa

marca

de

nascença. - Preciso de um favor teu! - Tudo o que precisares… - Preciso que venhas comigo até às Sete Cidades logo à noite. - Oh Mateus, não faças isso. - Tem que ser. Vens ou não? - Que remédio…

*

A conversa com o Sandro correu melhor do que antecipava.

estava

à

espera

de

um

chorrilho

incontornável de questões, dos sobrolhos franzidos, dos suspiros intermináveis e constantes, de cantos labiais

Sonho de Escrever


33

que se apertam para não me atirarem palavras de ordem aos

olhos.

Nada

disso

chegou.

E

tudo

pareceu

incrivelmente, serenamente, natural. Esta noite será a noite! Esta noite não existirão cordas que me manietem, nem mordaças que me privem de soletrar

letras

que

transpirem

incontáveis

perdões,

inumeráveis pedidos de esclarecimento. Durante anos, escrevinhei numa única, solitária, amarelada, folha de papel todas as questões que me importava colocar. Hoje terei respostas! Por agora chega. É tempo de tomar duche, colocar a camisa

azul

de

colarinho

branco,

vestir

as

calças

castanho-escuras de sarja e usar os sapatos de veludo azul-escuro. Esta é uma indumentária que ela aprovaria. Eles, certamente, não terão que dizer.

*

Vinte minutos de dolorosa espera, por alguém que não está atrasado. Dez anos depois, o mesmo carro!

Sonho de Escrever


34

- Vamos pela Vista do Rei? O hotel ainda lá está, cada vez mais decrépito. Sabes que já roubaram tudo o que havia de valor? Nem as loiças das casas de banho escaparam. Qualquer dia, e falo a sério, até as paredes roubam. - Que desperdício! É uma zona tão linda. Aquilo bem apro… - Já sabes o que vais dizer quando lhes bateres à porta? - Como eu dizia: aquilo bem aproveita… - Não mudes de assunto. Já sabes o que vais dizer quando bateres à porta? - Sei! Sei-o há quase tanto tempo como aquele que estive ausente. - E? - E o quê? - O que lhes dirás? - Não te preocupes! Na hora sairá o que é suposto sair.

A viagem mais longa da minha vida.

Sonho de Escrever


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- Olha, o hotel já se avizinha. Consegues vê-lo? - Sim. Podemos parar? - Mas não estavas com pressa? - Isso pode esperar! Será que ainda tem cães de guarda? - Veremos! Duvido muito meu amigo, duvido muito! Já não há que guardar! Nada há a defender.

*

Se algum dia me perguntarem o motivo pelo qual abandonei este chão tecido de lava, responderei que tanto verde e esta imensidão de azul infetavam o meu quotidiano. Esta resposta desconcertará qualquer um, mesmo

os

que

acreditam

ser

senhores

da

suprema

inteligência insular. Aqui, nestas ilhas, a essência de cada um é absorvida pela alma da terra, pelo espírito do mar, pelo sentir dos cumes e das crateras. Como sabe bem ser-se uno, viver-se em comunhão com este solo negro. Como sabe bem alimentar-me do cheiro a enxofre que inunda os sentidos sem permissão. Só na distância me apercebi da

Sonho de Escrever


36

importância

destas

montanhas

eretas

no

meio

do

Atlântico. Fui um ilhéu na distância. Sou menos ilhéu na proximidade. O Monte Palace aparenta estar mais apodrecido do que eu. Eu e ele temos mais em comum do que possa parecer. As paredes que apresentamos ao mundo afiguramse

robustas,

contagiante,

senhoras concebida

de por

uma mãos

antiga

opulência

engenhosas

que

nos

votaram ao abandono, perdidos nos cumes da ausência enevoada. O nosso interior compõe-se de camadas de detritos conspurcados pelo peso de mil passos alheios. As nossas janelas já não olham o horizonte com o brilho de quem possui esperança, os nossos lugares já não acolhem hóspedes com a amabilidade com que uma estreia ansiosa o faz. Pertencemos às mãos que nos criaram, que nos moldaram

à

sua

imagem.

Não

somos

mais

do

que

a

representação material do seu sonho, imagem desbotada de um anelo. O hotel permanece fiel no monte, contemplando, ora o oceano, ora o vale. É eternamente mais corajoso do que aquilo que eu fui.

Sonho de Escrever


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De cacos, a existência não sobrevive. Está na hora de descer até à freguesia e procurar por aquela casa na Rua da Cidade. Espero que não vejam em mim o mesmo que veem quando elevam os olhos para as Cumeeiras. Tentarei que não me olhem por dentro. Está na hora! O sol já se põe no horizonte, já adormece atrás das ondas do Atlântico. Tenho medo!

*

- Chegámos. Estás pronto? - Não devem estar em casa… - Agora que cá estamos vais carregar imediatamente naquela campainha. Se queres a verdade, já evitaste este encontro tempo demais.

Trim!

- Só isso? Carrega com mais força! - Está calado, pá! Eu sei como se faz! Vai para o carro! Eu faço isto sozinho!

Sonho de Escrever


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- Como queiras! Calo-me já!

Dolorosas tentativas infindáveis.

- Sim? Quem é?

O choque! As vozes! Nascem por detrás da porta!

Rios de palavras durante horas isoladas. Dobadouras.

*

- Preciso que prestem atenção. A sua morte é da minha responsabilidade. - A Marta escolheu o caminho dela. A culpa não foi tua, não foi nossa, não foi dos limites impostos pelo mar, nem foi do aborto involuntário. Ela foi a senhora do seu destino. Todos nós escapamos da opressão da ilha à nossa singular maneira - Eu amava muito a vossa filha! Ainda amo, acho!

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- Não estará na altura de a deixares partir? - Outra vez? - Porque fugiste? - Ou porque regressaste? -

Fugi

para

esquecer!

Não

consegui.

Voltei

para

confessar-me! Estou a fazê-lo. - Se foi para isso que voltaste, fizeste-o em vão. Nunca ninguém te acusou!

Explicações trémulas de ambas as partes.

- Temos pena que ela não tenha suportado os cochichos, os medos, as vergonhas, a autocrítica desonesta. Não te prendas!

A

Marta

entrou

conscientemente

pela

lagoa

adentro. Não podias ter feito nada. Se não fosse naquele dia, seria noutro. Temos que seguir em frente! Tens que seguir em frente!

Mais!

- Então estou perdoado?

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- Se houvesse algo a perdoar, estarias!

*

A tranquilidade chegou! Vivi enjaulado, prisioneiro da incerteza, recluso de mim próprio. Duvidei! Desconfiei de mim…. E, por fim, desconheci-me. Encontrei-me nas vozes desgastadas de uma razão velha, mas plena de experiência. Esse ardor que senti na minha pele atacava pela calada e deixava-se ficar, descansar, permanecer, agrilhoando o meu ser, como o nevoeiro abandona as Cumeeiras e toma de assalto as freguesias distraídas à beira mar. Durante anos não resisti, não o soube fazer, não o ousei. Balbuciei

palavras

sem

nexo,

em

terras

estrangeiras, rodopiei nos espaços desiguais, em braços díspares; avancei e recuei sem vacilar, sem parar, inúmeras vezes; lamuriei sem lágrimas, pois já nem as tinha para verter. Quis voar de mim! Quis outrar-me. Talvez não mais.

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Naquela noite sem lua, sem neblina, sem grilos cantantes, sem rãs que saltassem avisando do perigo… a minha pele lacrimejou silenciosamente tocada pela présaudade.

Vociferei

uivos

de

indignação

pela

tua

fraqueza. Os teus sonhos repousam no meio das algas e não correm o risco de se evaporar nos escaldantes verões. Estou aqui para assegurar que ganham vida. Por toda a cidade me lembro de ti. Em cada pedra de

polida

calçada,

em

cada

semáforo

amarelo

intermitente, em cada canto de rua desmaiado que se reveste de solitude. Ausculto a tua voz em cada onda que morre contra o cais e que renasce em cada recuo da mãemaré. E sinto, ainda, o teu toque em cada gota de chuva que pousa na minha pele e que escorre, serenamente, lentamente pelos poros do meu corpo. E leio a tua caligrafia na página de cada livro que folheio. E provo o teu sabor de cada vez que o meu paladar acorda desperto pelos tímidos raios de sol de uma manhã inglesa ou alvorada insular. E toda essa panóplia me anima e me aflige, ainda, ou pouco. É difícil perder velhos hábitos de barba robusta.

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Alimento-me de cheiros e sons que já não existem e que morreram contigo. Amanhã é um novo dia! Amanhã renascerei. Amanhã morrerás, outra vez, de vez! Se for capaz de te assassinar… Aqui encerrarei este capítulo! A suprema oitava maravilha destes cumes és tu. Uma nova lenda nascerá amanhã.

Iniciaste

a

sua

narrativa

dez

próximos

anos…. Era uma vez, há muito tempo atrás, uma princesa chamada Marta…. Almejei descobrir açores no céu, ou milhafres, ou eu próprio; almejei redescobrir as cores e os odores, os relevos e os declives. Almejei reavivar as recordações, o som da tua voz, a cor rosácea dos teus lábios, o manear da tua fronte, o sabor do teu beijo. Reencontrei o meu nome, o meu corpo, o meu sentir. Eu estou aqui, para sempre, aqui! Estou em casa! Cheguei! Pedro Paulo Camara

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NÓS FAZEMOS PARTE Guimarães convidou E o povo aceitou. Aceitou a transformação, E guardou-a em seu coração. Um coração que a todo o Portugal se deu a conhecer Um coração que levou de recordação Quem Guimarães quis vir saber.

E o povo é cheio de sabedoria. O povo de Guimarães e o que a cidade abraçou E neste linda tarefa artística se lançou Para todos encher de alegria.

Nós fazemos parte , podemos afirmar Fomos artistas, Protagonistas, Turistas, Peregrinos, para sentir do povo os festejos Participantes,

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Cooperantes, Desta maravilhosa cidade amantes.

Desta AdmirĂĄvel cidade Onde Portugal Olhamos

nasceu

o passado, desvanecidos

Amamos o presente, enternecidos. Vamos

amar o futuro, enriquecidos

De mais arte e sabedoria, De mais amor e alegria. NĂłs fizemos e vamos fazer parte Do amor que daqui emanamos E que ĂŠ a nossa mais bela forma de arte.

Ana Maria Teixeira

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A 7ª Estação Era a 4ª estação. Começou por entrar o revisor, de bigodinho raquítico e acanhado na sua farda de lã castanha, salpicada com alguns flocos de neve. Todos os títulos de viagem estavam em ordem. Depois, veio o guarda fronteiriço, com um imponente gorro e um avantajado capote, já coçado. Todos os passaportes, vistos e demais documentos, foram passados a

pente

fino:

dois

casos

suspeitos

e

saída

dos

respetivos passageiros; um deles voltou e continuou a viagem. Lá fora, a neve já caía com alguma intensidade e as nuvens

sombreavam

aquela

cidadezinha

labiríntica

e

misteriosamente agitada. Mais

polícia.

Sem

uma

palavra,

revistaram

toda

a

bagagem, espreitaram debaixo dos bancos, abriram as carteiras chapéus…

das

senhoras,

inspecionaram

as

copas

dos

Apreenderam um par de bandarilhas e

uma pistola de alarme.

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Finalmente,

entraram

os

fiscais

das

Finanças,

acompanhados dos vendedores de guloseimas, bebidas e fritos. O negócio foi fraco. Na 6ª estação, saiu bastante gente e entrou muita tropa que se distribuiu pelas várias carruagens. No nosso canto, ficámos seis passageiros que, até àquela altura, poucas palavras haviam trocado. Um deles, um monge com hábito, sacou de um lenço, abriu-o, e ofereceu ao grupo nacos de broa muito apetitosa; também me servi. Depois, bebeu um trago de vodka que trazia no cantil. A senhora de meia idade começou a falar com a mais nova: a primeira era enfermeira e a segunda cantora lírica; regressavam saudades

das

de

anos suas

de

emigração

terras.

O

e

marido

abarrotavam da

de

enfermeira,

agricultor de profissão, também ali seguia, mas foi para o banco do lado para jogar às cartas com outro nosso vizinho

que

se

dizia

militar

de

alta

patente,

na

reserva. Ao meu lado, um moço novo, adormecia com um enorme calhamaço de Medicina no colo. Quando ele acordou, perguntei-lhe onde ia trabalhar: “Ainda sou estudante, vou acabar o curso…saí …”. “E

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sabe para onde vai?!...isto está tudo…”.” Para bem longe… preciso mesmo de mudar de ares… a ver se arrumo a minha vida, ficar longe de problemas que…”. O monge abriu os olhos: “Questão se saias, meu rapaz?”. “Mais ou

menos,

irmão

…eu…”.

“Precisa

de

esquecer

a

rapariga, é?”- interveio a cantora. “ As coisas são mais

complicadas,

interrompem

a

minha

partida

senhora”. e

juntam-se

Os

jogadores

à

conversa.

“E vai você fazer estes quilómetros todos por causa de uma mulher?... bem, desculpe a minha intromissão, cada um sabe de si…”- diz o militar. O sol punha-se, atrás da floresta; o comboio assobiava terras fora e ainda se vislumbravam, aqui e ali, grupos de aldeões que gesticulavam e gritavam palavras fortes que não conseguíamos ouvir distintamente. Sugeri que compartilhássemos os restos das merendas e descobri que ainda tinha três bolinhos de bacalhau. Terminei com o mais saboroso blini que jamais comera, recheado de couves.

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“Mas, voltando à conversa de há pouco…-ataquei eupareceu-me que o senhor queria desabafar mais…essa fuga, digamos…” “Foi uma coisa muito grave! Ela cometeu um crime…e…” “Crimes não faltam, por aí…mas foi crime de sangue?” -perguntou a enfermeira. O monge tartamudeou qualquer coisa e persignou-se. “Fez sangue, fez…deu um tiro… não houve mortos, mas…” “Nalgum

político?”-interrogou

o

agricultor.

“E

acertou, pelos vistos!”-acrescentou o militar. “Santíssimo…”- disseram, em uníssono, as senhoras. O monge encheu o peito e susteve o ar. O agricultor franziu o cenho e semiabriu a boca. “ Ela deu o tiro em mim…”. E dizendo isto, levou ambas as mãos à cara, dobrou-se sobre os joelhos, e começou a chorar. Silêncio

geral.

O

monge

benzeu-se

repetidas

vezes;

depois, voltou a puxar do cantil. O comboio começou a apitar e a travar: aproximava-se a 7ª e última estação. Graça Samora Sonho de Escrever


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Olhando para o céu Procuro-te em cada estrela distante Tua imagem, no ar,com o dedo desenho com vontade de te tocar.

Sinto teus olhos nos meus Vamos trocar? Leva os meus... Dás-me os teus?

E nesta saudade ,sacio a sede de tocar teu corpo, teu ser Teu corpo... Um mapa no meu imaginar O qual não sei decifrar

Sinto-te perto no cintilar Em teus passos quero tropeçar Nos teus beijos me saciar

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No teu amor me entregar

Amor mågico, desejo ardente penetro em ti e tu em mim Vem, vamos viver nosso amor, naquela estrela cintilante Sem que a distância transforme este amor em dor

M.M.M

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...todas as noites Eu compreendo…

Todas as noites me arrependo de não te mostrar o meu amor, Todas as noites me arrependo de nunca te ter dito tudo, Todas as noites me arrependo de nunca ter retribuído o tudo, Todas as noites tento fechar os olhos e recordar…

Todas as noites fecho a porta e uma grande parte de mim. Todas as noites me sinto só, Todas as noites me sinto fria. Sinto-me abandonada…

Só agora me apercebi de como tu eras e és importante para mim, Já nada é correcto, Já nada é preenchido, Já não consigo ver o sol nascer.

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Adorava ser mágica para te fazer vir ter comigo. Vem… Vem… Brilha! Deixa-me ver a magia do sol a brilhar?

Às vezes canso-me de fechar os olhos e só ver a tua figura. De todas as vezes que faço… Sinto falta do abraço. Sinto falta do beijo, Sinto falta do corpo. Não é um sonho, Não é nada que não sinta, Não é nada que não queira para sempre.

Será que sabes o que este amor significa para mim? Será que já te apercebeste?

Não digas. Não faças.

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Talvez eu acredite no amor eterno. Nunca me sinto satisfeita, Mas quero que tu te sintas. Vou fazer tudo para ser perfeito. Prometi-te tudo, mas nada fiz. Não me critiques! Pois não tenho nada para dizer. Se vires bem, Ficas plenamente satisfeito comigo?

Tu podes ser tudo o que eu quiser, Podes ser tudo o que vejo para mim. Quando é que te vais sentir satisfeito? Quando? Mudei de ideias, Deixa-me satisfazer-te?

Acordei agora, Não me lembro de nada. Ainda me custa acreditar nas coisas que dizes, Em como me fizeste de parva. Não contes mais comigo,

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Pois o jogo acabou. Tens de te sentir satisfeito assim. Eu prometo não prometer mais nada.

Desta vez…

Bem…nunca se sabe.

Tudo o que é prometido é devido. No geral tudo o que prometo faço…

…no tardio, mas faço.

Gosto de tudo perfeito.

Esta noite não vou fazer rodeios, Esta noite simplesmente vou rezar, Para adormecer e pensar que estás lá, Que estás a meu lado. Vou apertar a almofada…

Vou sentir o teu corpo…a tua presença.

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Vou sentir a tua alma‌ Vou ter-te a meu lado.

Isabel Fontes

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Na palma da minha mão Na palma da minha mão Limita-se a criação E ambas existem Sem existir coração.

Não sei de que essência é feito o poeta Para com base na imaginação Viajar pela fingida emoção E ultrapassar a sua meta.

Mas se para onde viajo é incerto Tenho a criação certa E na palma da minha mão acerto, Fingindo ultrapassar a minha meta.

Ana Catarina Paulino

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diferentes, senão será publicada quando tiver o número de participações suficientes. - A Sonho de Escrever não corrige erros ortográficos nem faz alterações às obras enviadas, se for enviado algum trabalho poderá não ser aceite. - A Sonho de Escrever só aceita trabalhos escritos em português. - Trabalhos com expressões noutras línguas deverão ter uma nota no fim a dizer o seu significado, caso não esteja incluída poderão não ser aceites. - Trabalhos com direitos de autor registados na Sociedade Portuguesa de Autores deverão informar a SPA antes de enviar os seus textos para a Revista Sonho de

Escrever. - A Revista Sonho de Escrever publica somente textos autorizados pelos autores. Ficha Técnica: Mês de Novembro 2013 n.º31 via internet Editora: Marta Sousa Redacção: Marta Sousa, Mário Figueira, Ana Maria Teixeira, Pedro Paulo Camara, Maria Manuela Macedo, Graça Samora, Diogo Cabral, Isabel Fontes, Ana Catarina Paulino. Grafismo: Paula Salgado (logótipo e contracapa), Marta Sousa. As imagens dos textos na secção de textos dos participantes foram enviadas pelos respetivos autores. A imagem de capa foi retirada da internet. Interdita a reprodução para fins lucrativos ou comerciais dos textos e Sonho de Escrever interdita a outros que não o autor e a reprodução sem a indicação do respectivo nome do autor.


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