Como formar um aluno crítico a partir da leitura de jornais? - Natália Guarany e Débora Novaes

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JORNAL SIMPÓSIO Como formar um aluno crítico a partir da leitura de jornais? Jornalista argentina Roxana Murdochowicz chama o jornal de “janelas de papel”. Através dessas janelas, o aluno pode atravessar as paredes da escola e entrar em contato com o mundo e com a atualidade. Jornais e revistas são, portanto, mediadores entre a escola e o mundo.

PROFESSORAS FALAM uma opinião e tomar uma posição SOBRE O TRABALHO COM frente a eles. Além dos textos jornalísticos, O JORNAL NO 4º ANO que têm uma linguagem mais O estudo do texto jornalístico faz parte do trabalho realizado com os alunos do 4º ano e tem como um dos principais objetivos a formação das crianças, não só por seu papel informativo, mas também no que se refere ao aprimoramento da leitura autônoma e à formação cidadã. A partir do momento em que os alunos têm informação sobre a realidade, ganham condições de refletir e pensar criticamente sobre os fatos, analisar os acontecimentos sociais, construir

ESPECIALISTA Em seu livro “Como usar o jornal na sala de aula”, Maria Alice Faria, escreve sobre a função do texto jornalístico e sua importância em sala de aula, além de explicar por quais fatores o jornal se transforma numa ponte entre os conteúdos teóricos e a realidade. A escola, como toda instituição, é um estabelecimento relativamente fechado e nela os alunos recebem (ou deveriam receber) instrução e formação. (...) Um dos principais papéis do professor seria, pois, o de estabelecer laços entre a escola e a sociedade. Ora, levar jornais/revistas para a sala de aula é trazer o mundo para dentro da escola. O jornal é também uma fonte primária de informação, espelha muitos valores e se torna assim um instrumento importante para o leitor se situar e se inserir na vida social e profissional. (...) Ele leva o aluno a conhecer diversas posturas ideológicas frente a um fato, a tomar posições fundamentadas e a aprender a respeitar vários pontos de vista, necessários ao pluralismo numa sociedade democrática.

difícil, marcada pela formalidade, trabalhamos também com o Jornal Joca, que traz uma linguagem mais voltada para crianças e adolescentes. Quinzenalmente, recebemos uma edição dele e realizamos algumas atividades. Aliado a esse trabalho, iniciamos o 3° trimestre com o projeto “Notícias”, acrescentando outros jornais de circulação atual, ampliando assim a leitura e interpretação desse gênero textual.

Como formador do cidadão, se a leitura do jornal for bem conduzida, prepara leitores experientes e críticos para desempenhar bem seu papel na sociedade, ensinando-os a pensar sobre o que lêem. Na formação geral do estudante, a leitura do jornal leva a formar novos conceitos e a adquirir novos conhecimentos, além de aumentar sua cultura e desenvolver suas capacidades intelectuais. (...) A leitura do jornal oferece, ainda, um contato direto com o texto escrito autêntico (e não com textos preparados apenas para serem usados na escola). Desenvolve e firma a capacidade leitora dos alunos, estimula a expressão escrita dos estudantes, que aprendem com o jornal a linguagem da comunicação para transmitirem suas próprias mensagens e informações. (...) O jornal é também um registro da história, no seu dia a dia. Mas uma “história truncada, um mundo caótico”, como observa Nicolau Sevcenko. Isto, entretanto, leva o aluno a adquirir a competência necessária para ordenar e compreender esse caos aparente. Para tanto, ele aprenderá a relacionar o passado com o presente, buscando as origens dos fatos e a refletir sobre as consequências daquilo que ocorre dia após dia, numa projeção da história para o futuro.


O PROJETO Crianças viram jornalistas em projeto realizado na Escola Villare Através do projeto “Notícias”, além dos objetivos que já foram apresentados quanto à leitura autônoma e formação cidadã, tivemos como foco a análise dos textos jornalísticos, a organização do jornal e a produção de textos escritos. Para que os alunos entendessem como um jornal é organizado, tiveram contato com diferentes jornais e, ao manuseá-los, perceberam que todos estão divididos por temas e que esses temas estão separados em cadernos (esporte, política, mundo, economia, etc.); a primeira página apresenta um resumo das principais notícias do dia e que manchete (notícia principal) vem escrita em destaque; reconheceram a organização gráfica do gênero (o tamanho das letras, a disposição do título e do olho da notícia); também localizaram data, nome do jornal, número da edição, anúncios publicitários, entre outros. Com a leitura das notícias, os alunos puderam identificar tempos verbais predominantes (no título e no corpo da notícia), justificando seu emprego e compararam notícias veiculadas por jornais/mídias diferentes. O estudo do lide também foi importante para que os alunos entendessem como uma notícia se organiza. Após a leitura e análise dos títulos de algumas

notícias, os alunos perceberam que eles informam sobre o fato, devem ser sucintos e atraentes para o leitor. Para dar a ideia de atualidade do fato, como se estivesse acontecendo naquele momento, os verbos devem ser escritos no tempo presente. Ao analisar as imagens das notícias, os alunos concluíram que muitas vezes, sua função é chamar a atenção e causar interesse (ou não) do leitor, já que é possível ter uma ideia do que se trata a notícia a partir dela. A imagem também mostra o que aconteceu e comprova que a notícia é real. A investigação sobre os gêneros textuais fez com que os alunos entendessem as diferenças entre uma notícia, uma reportagem e uma entrevista. A notícia tem o objetivo de narrar fatos diários de forma objetiva e imparcial enquanto a reportagem é mais longa, mais profunda e busca investigar os fatos (origem, causa e efeito). A entrevista permite que o leitor conheça opiniões, ideias e conhecimentos de outras pessoas e podem ser apresentadas no discurso direto (com perguntas e respostas) ou indireto (por meio de citações, usando aspas ao longo do texto). Todo o estudo e análise dos textos jornalísticos foram fundamentais para que os alunos adquirissem

conhecimento e, como produto final do projeto, produzissem sua própria notícia. Sim! Eles serão os repórteres, redatores, fotógrafos e diagramadores do seu próprio jornal. Dessa forma, decidimos criar um mural na escola com as notícias e levantamos alguns aspectos importantes para a produção dos textos escritos:  Escrever notícia sobre fato de interesse público (alunos da escola).  Atribuir título adequado à notícia.  Organizar adequadamente o lide.  Relatar os aspectos do fato noticiado por ordem de importância (do mais importante para os detalhes).  Empregar dados adequados e precisos para dar confiabilidade à notícia.  Relatar a notícia em terceira pessoa, com isenção de opinião.  Selecionar foto e escrever legenda adequada ao tema da notícia. Estamos ansiosas para ver os alunos colocarem em prática tudo o que aprenderam. Os grupos já foram formados, as tarefas distribuídas e as pautas desenvolvidas. Agora, é apurar os fatos, realizar as entrevistas para escrever as matérias, editar e publicar nosso jornal.


VOCÊ SABE COMO UMA NOTÍCIA DEVE SER ORGANIZADA? O primeiro parágrafo da notícia tem o objetivo de informar sobre um fato que ocorreu, trazendo o resumo dele. Esse início da notícia recebe o nome de Lide. Você sabe por quê? O verbo to lead, em inglês, significa liderar, guiar, orientar. O jornalismo brasileiro aproveitou alguns termos do jornalismo norteamericano, criando suas próprias expressões. Uma delas é esta - Lide, que serve para orientar o leitor sobre o assunto da notícia e traz as seguintes informações:  O QUE ACONTECEU  QUEM PRATICOU (OU SOFREU) O ATO  QUANDO

 

ONDE POR QUÊ (aparece muitas vezes) Isso ocorre por três motivos: 1. É mais fácil de ler. Se estivermos com muita pressa, basta o primeiro parágrafo; 2. Atrai os leitores, destacando os fatos mais importantes para conduzi-los à leitura do restante da notícia; 3. Se o leitor, mesmo depois de ter lido o título, ainda não decidiu se a notícia lhe interessa, o lide poderá ajudá-lo. O restante da notícia é o Corpo (por quê/ para quê e como aconteceu o fato, e mais informações) e a Conclusão (como se encerrou o fato ou o que ainda pode vir a ocorrer no futuro) são os detalhes sobre o ocorrido, com eventuais depoimentos.

NOTÍCIA & OPINIÃO A difícil tarefa de argumentar O jornal é uma ferramenta de engajamento na sociedade, na medida em que prepara os alunos para desempenhar seu papel de cidadãos, informando e formando leitores experientes e críticos. Além disso, os alunos têm a oportunidade de observar e refletir sobre o mundo a sua volta e sobre os acontecimentos da atualidade, até mesmo quando o assunto em questão não está diretamente ligado a sua realidade, mas desperta curiosidade. Mas como formar esse aluno? A leitura da notícia por si só já basta? Que propostas podem ser feitas para que os alunos consigam argumentar sobre a notícia? Quais intervenções fazer? Como avaliar os argumentos? Qual é a melhor notícia para abrir uma discussão e defrontar opiniões? São algumas das perguntas que fizemos e muitas ainda não encontramos a resposta, porém sabíamos que era preciso começar... Primeiro realizamos, em diferentes momentos, algumas leituras de notícias, no qual cada aluno teve a oportunidade de falar sobre suas impressões, o que já sabia sobre o assunto, o que descobriu, se concorda ou não concorda (dependendo da notícia), entre outras possibilidades. Depois com a leitura individual e o registro escrito da sua opinião sobre o fato. Ao retomar os registros escritos foi comum encontrarmos comentários como: “Eu concordo porque é legal”, “Acho importante esse trabalho porque é diferente”, argumentos muito vagos, sem muita reflexão e nesse momento as intervenções foram necessárias. Conversamos com os grupos e levantamos aspectos importantes que deveriam aparecer nos comentários sobre as notícias. Percebemos que se a criança conhece um pouco sobre o assunto da notícia consegue argumentar muito mais do que quando não tem nenhuma “base”. Os argumentos são mais potentes, coerentes e enriquecem muito a discussão. Portanto, é fundamental que o professor conheça seus alunos e faça boas escolhas ao propor essa atividade.


BIBLIOGRAFIA FARIA, Maria Alice. (2013) Como usar o jornal na sala de aula. São Paulo, Editora Contexto. MARTINS, Eduardo. Manual de Redação e Estilo de O Estado de S. Paulo, São Paulo: 1977. BARBOSA, Jaqueline Peixoto. Trabalhando com os gêneros do discurso: relatar: notícia. São Paulo, FTD: 2001. Manual como fazer um jornal, Editora Magia de Ler - Jornal Joca.

Textos, formatação, revisão e edição: Adriana Poian Juliana L. Barboza


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