Como piratearam minha vida

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Dormiu na sala naquela noite. E dormiu na sala muitas outras noites. Evitava o quarto até mesmo para trocar de roupa. Ia ali o mínimo. Racionalmente ele sabia que suas atitudes não faziam o menor sentido. Mas emocionalmente não conseguia se controlar. Sentia-se doente e talvez estivesse mesmo. Foi no carro, quando mexia em um de seus bolsos, que descobriu o que precisava fazer para se livrar daquilo. Remexia nos bolsos quando encontrou aquela penugem, a que tinha arrancado. Não era nada. Um nada desgarrado de nada. Para que algo que é tudo se torne nada, e às vezes é preciso que um tudo se torne um nada, é sempre necessária uma atitude, uma guinada aleatória. Certos navios precisam ser queimados quando chegam ao porto para inibir a esperança do retorno. Do escritório mesmo, telefonou e acertou os detalhes com quem lhe ajudaria. Seria no dia seguinte. Ela chegou às oito horas, como combinado. Ele serviu um suco de caixinha. Não tinha bebidas. Além do mais, ele queria estar muito sóbrio para aquilo. Queria que ela também estivesse. Embora ele não fizesse questão que ela entendesse tudo o que esta-

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