ERRO EX POSTO

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― ERRO Grupo (orgs.) ―

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.................................................................................... ― Ilha do Desterro, 2014 ―

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Sacudir a poeira da história Kamilla Nunes É possível para nós imaginarmos e pontuarmos formas de resistência política e cultural aos movimentos de “progresso” - ou “falso progresso” - tão caros ao século XX e insistentes no século XXI. Mas para continuar resistindo, não resta alternativa a não ser interrogarmos esse termo e suas implicações em nossa vida cotidiana. Os trabalhos que fazem parte da exposição ERRO EX POSTO1 as colocaram à vista, de forma perspicaz, e fazem com que nós, espectadores, tornemo-nos cúmplices de uma desconfiança nem sempre perceptível em meio ao ritmo acelerado de uma sociedade neoliberal. São obras que apontam para a dificuldade de encarnarmos nossos próprios princípios políticos. Esta exposição conf lui a experiência cotidiana a partir da dilatação de situações exponenciais. Faz incessante referência à particularidade e à conectividade com a qual o ERRO Grupo experiencia o mundo e, particularmente, a rua. Em linhas gerais, trata-se de uma construção imagética que reuniu a história deste grupo aliada à atitude de protagonizar o público e o 1 Ao todo, foram realizados doze trabalhos: Ossos do ofício, Segredos da Academia, Parangolé Burocrático, Livre de visitas, Cofre Público, 4o. Bloomsburied, Churrascão VI, Pendurando as Chuteiras, Bustox, ECO, Capacho e Teatro Invisível.

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lugar (político, econômico e social). Uma tentativa de trazer o que é distante e intangível para mais perto; de converter o anonimato, colocando-o de volta no mundo, abrindo espaço e construindo narrativas em interação com o contexto de suas próprias ações. Na obra Teatro Invisível, por exemplo, moradores e ex-moradores de rua foram convidados a vestir os figurinos da obra Carga Viva (2002) durante o período da exposição. Considero importante relembrar o pensamento do filósofo Jacques Rancière quando este aponta que a arte política não tem normas, posto que “a arte produz ficções não para a ação política, mas no seio de sua própria política” 2 . Sacudir a poeira da história significa dar visibilidade a tudo que intervém no conhecimento de si próprio e, neste caso, da própria história do grupo. Significa dar visibilidade aos processos ofuscados pelo espetáculo. Torna-se coisa, dar dimenção à lacuna e rejeitar a conciliação das vozes dissonantes consistem, no contexto de atuação do ERRO, em resgatar a memória pelo viés do colapso. Não caberia, nem tampouco seria coerente com a atuação artística/política deste grupo, fazer uma retrospectiva dos seus doze anos de existência expondo seu próprio passado apenas através de registros históricos convencionais 3 . Doze anos de história podem ser contados através de 2 RANCIÈRE, Jacques. Política da Arte. Revista Urdimento. UDESC. Florianópolis: Programa de Pós-graduação em Teatro, UDESC, n. 15, out. 2010, p. 53. 3 Em 2014 foram publicados dois livros sobre a trajetória do ERRO Grupo: Poética do ERRO: Dramaturgias e Poética do ERRO: Registros.

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fotografias, vídeos, artigos de jornais e revistas, catálogos ou livros, mas também através de notas fiscais, de autorizações de uso de equipamento de som nas ruas, de contratos, de editais, de solicitações, de ofícios. Assim, pelo viés do marginalizado, que é composta a instalação Parangolé Burocrático. Esta exposição, inerente às dinâmicas dos processos vitais do ERRO Grupo, desenvolve uma relação real e em constante movimento com o mundo, reage com sensibilidade ao passado, sem tornar-se refém da História. A dimensão do hiato EX POSTO pode ser percebida através de elementos subjetivos, que parecem correr ao encontro de um ponto de explosão, provocando outras perspectivas em relação àquelas apresentadas anteriormente nas performances e ações do grupo. Ao todo, foram doze anos representados em doze trabalhos de mídias diversas, como instalações, objetos, intervenções urbanas e ações performáticas. A presença da burocracia como o motivo gerador da obra Parangolé Burocrático foi ref letida e perpassada, também, em Ossos do Ofício, na qual quatro piranhas carnívoras Red Bellied foram imersas em um aquário com ossos de bacia de boi, o mesmo tipo de fragmento utilizado na peça Formas de Brincar (2010). As piranhas, na exposição, tornaram-se uma metáfora do ator fora de cena, o mesmo que redige ofícios, projetos e documentos, que luta contra um sistema falho de leis que deveriam incentivar a produção cultural, ao invés de afundá-las. Um protagonismo às

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avessas que, desta vez, inclui o espectador em uma narrativa sem deslumbramento, numa clara alusão ao espetáculo descortinado, ao obsceno e, porque não, à tragédia, que é um elemento caro ao grupo, presente em todos os seus trabalhos. A par do destaque dado à Ossos do Ofício, o grupo revela em Segredos da Academia a presença de seis tacos de madeira, danificados durante a performance 2º Bloomsburied,

e leiloados no 3º Bloomsburied como uma série sob a alcunha de Dumping no Pregão em Evento Internacional, uma performance realizada pelo ERRO Grupo durante o evento Bloomsday, em homenagem ao escritor James Joyce, anualmente realizado em referência ao personagem Bloom da obra Ulisses. As marcas das marteladas nos tacos (que foram retirados do espaço expositivo na ocasião do evento, por terem sido danificados, e substituídos por tacos novos) reapareceram

nesta

exposição

sem se aterem a um julgamento de valor e, paradoxalmente, invocando um valor de mercado. O que antes havia

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sido realizado como ação performática (a ação de dar “marteladas” no espaço expositivo), no 3º e 4º Bloomsburied o resquício desta ação foi transformado em obra de “Arte”. Assim, uma narrativa abre espaço para outras narrativas, dentro e fora do espaço legitimador da arte. É preciso pisar em um macacão de operário resinado no chão para adentrar a exposição (e, por consequência, sair dela) e permitir que a metáfora seja transformada em fuligem e adensada no cotidiano. Capacho foi figurino da peça Carga Viva que teve como ponto de partida a questão da loucura e da lucidez. De acordo com o próprio grupo, o trabalho “buscou abordar o tema sem impor uma verdade ilusória, e, portanto, caminhou no desconhecido ao discutir parâmetros de normalidade, para colocar o público como testemunha do tratamento dado aos indivíduos que fogem dos padrões”. Mas novamente devemos levar em consideração que a familiaridade com esta vestimenta ultrapassa os valores da história por proporcionar uma experiência não linear e não sequencial.

Por essa vertente, Capacho somos todos nós, indivíduos pré-fabricados pela indústria de massa que se ergue sobre um mundo incurável. Nesta passagem, do espaço expositivo para a rua, há um vazio que se ergue: a distância entre os sujeitos. Para Peter Sloterdijk,

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“aquilo que o sujeito, em virtude do seu esforço, pode pôr fora de si próprio é sempre apenas ele próprio, projetado e produzido por ele próprio. Ao trazer-se energicamente ao seu próprio mundo, o sujeito faz com que se abra um distância instransponível relativamente ao mundo dos outros”4 . Se pensada como parte de um único corpo, as obras apresentadas nesta exposição se realizam sob o prenúncio das manifestações artísticas e políticas, fazendo da arte um grande mosaico de referência a outros modos de olhar para um objeto comum ou mesmo para as diversas formas de arte. A cidade surge para o grupo tanto como um dispositivo, co-autor e ator para o desenvolvimento de suas intervenções urbanas, quanto como agente dominante de significação do sujeito. Churrascão VI proporciona um lugar de encontro com o outro, tratando a rua como um espaço de vivência, mais do que de passagem. A permanência e, portanto, o tempo são essenciais para a realização desta ação, que se inscreve no deslocamento de padrão e comportamento, atualmente blindado pelo medo, assepsia e inibição de qualquer tipo de ação que fuja da “normalidade”. Retornar aos preceitos dos Situacionistas é uma forma de conscientizar as pessoas de que o lugar é um devir, de que o espaço público deve ser público e de uso social, portanto um lugar de integração. Nos fios de luz de alta tensão dos postes da

4 SLOTERDIJK, Peter. A mobilização infinita – Para uma crítica política. Lisboa: Relógio D`Água Editores, 2002, p.133.

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cidade há uma demarcação de território. Três ruas do centro de Florianópolis foram escolhidas pelo grupo para a realização de uma intervenção com coturnos da Polícia Militar. A escolha das ruas se deu em virtude da trajetória do grupo. São locais de atuação do ERRO e também onde ocorreram algumas de suas peças mais significativas: a Rua Saldanha Marinho marca a primeira apresentação do ERRO na rua, Adelaide Fontana (2001); na Rua Vitor Meirelles acontece o final de Desvio (2006) e, na Rua Padre Roma, se localiza o imóvel que foi a antiga sede do ERRO Grupo (de 2011 a 2013). Pendurando as Chuteiras demarca, além de um território, a transitoriedade da arte e a possibilidade de testemunhar suas mudanças de linguagens e paradigmas.

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Em um sentido figurado e popular, “pendurar as chuteiras” significa “dar uma pausa”, finalizar determinadas situações ou ações. Afinal, uma trajetória também é construída com memórias de fragilidade, erro, momentos críticos e mudanças de posturas. Pendurando as chuteiras é uma ação política, uma possibilidade de ressignificar objetos caros ao grupo (que podem ter passado desapercebidos pelo público), uma crítica ao poder e, sobretudo, um momento de intervalo. Pelo EX POSTO, posso dizer que dentro e fora - no espaço legitimado da arte e nos fios de luz dos postes da cidade, nas calçadas e nas praças, nos auto-falantes do carro de som, no corpo de moradores e ex-moradores de rua ou na ação de piranhas dentro de um aquário – foram construídos lugares de acontecimento, configurando o espaço sensível e político da arte.

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OSSOS DO OFÍCIO

Instalação. Aquário, piranhas Red Bellied, bacia de boi. Dimensão aproximada 1,20 x 1,40 X 0,60m, 2014. Obra viva e antropofágica. A permanência do osso sobre o tempo, a vida e a morte. Uma obra orgânica que se desdobra através de tentativas e erros. O elenco em risco encena o espetáculo trágico dentro de um aquário de piranhas-performers carnívoras. Trata-se de um elenco muito voraz, predador e com mandíbulas fortíssimas. A maioria das performers são rápidas, todas possuem comportamentos agressivos e geralmente atacam quando estão estimuladas para isso. Estes peixes costumam atacar suas presas em grupos, mas também caçam por perseguição ativa ou por emboscada. Em grupo, conseguem devorar um animal de grande porte com rapidez, pelo fato de que elas não mastigam, e quando atacam em grupo, cada piranha arranca um pedaço num jogo de revezamento contínuo.

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SEGREDOS DA ACADEMIA

Gravura. Ponta seca sobre taco de madeira envernizado. 13,5 x 4 x 0,7 cm, 2014. Uma martelada esculpe e dá forma aos objetos. Um leilão de compra e venda? Este é o mercado de arte? O que legitima uma obra de arte? Sua manufatura pelas mãos do artista? O espaço expositivo? O reconhecimento enquanto obra de arte por críticos e curadores? Seus efeitos em determinado público no momento em que recebe tal obra? E quando a teoria é posta em prática e cai no campo do desagradável, é arte ou vandalismo? Aqui estão os Segredos da Academia, 40% é da casa.

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pArAnGoLÉ bUroCrÁtICo

Instalação em papel sulfite e notas fiscais originais. Dimensões variáveis, documentos burocráticos cobrem o espaço expositivo, 2014.

Times new roman 12, duas cópias, Ilmo., arquivo morto. No interior da prática, os papeis. As intimações. Os pedidos. Justificar. Protocolar. Comprovar. As estratégias para comer e as formas de ser comido pelo mundo. Vestir a arte é experiencia-la como um todo. Senti-la mutante do que se imaginou, do esperado. Vestir a arte é também despir-se da arte, é ver o que está por trás, reconhecer a etiqueta, as linhas que a costuram e o que a autoriza estar em movimento. No prédio do Arquivo Histórico do Município, Parangolé Burocrático ganhou estrutura simbólica para além da experiência plástica e histórica para o grupo que ela carrega.

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LIVRE DE VISITAS

Objeto - Impressão sobre papel sulfite encadernada em capa dura, 2014. Contabilizar, localizar, traçar o perfil do público que acessa a sala expositiva, os livros de assinatura de exposições são preenchidos pela parcela mínima de pessoas que são pescadas a responderem uma coleta de dados que apresenta uma hipotética forma de comprovar que uma exposição cumpriu a função de chegar a um público, posicionando-o em seu papel inoperante de visitante, ou seja, à parte da obra e do ambiente artístico, como aquele que está temporariamente exercendo seu papel fora de seu local habitual. Livre de visitas se insere no espaço expositivo recorrendo a um dos principais procedimentos estratégicos utilizados pelo ERRO em suas ações: a invisibilidade que devolve ao atento visitante a possibilidade de ser coautor da obra, ao desvencilharse de seu papel de visita para virar participante que age em um espaço de criação mútua.

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Cofre Público

Intervenção urbana / Instalação Cofre é instalado na rua acorrentado a um poste, 2014. O cofre é meu. Não, o cofre é nosso. É meu. Não, meu. Nosso. O cofre é meu. O cofre é publico, Doutor. O cofre é meu. É nosso. É meu. É público. O cofre é nosso. É publico. É nosso. O cofre é publico. É nosso.

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4º BLOOMSBURIED

Leilão de arte - Performance, 2008.

A crise mundial atinge setores da economia variados, produzindo refluxos inclusive no mercado das obras de arte. Os leilões de arte são uma estratégia financeira segura e rentável para o retorno ao mercado de obras raras, colecionáveis, roubadas e vendáveis. Ninguém tem culpa quando alguém compra uma obra de arte pagando um bom preço e precisa vendê-la depois. Já não se fazem mais mecenas como antigamente. Na ocasião da finissage do ERRO EX POSTO abriremos o período de lances e arremates de obras originais. Bloomsburied é uma série de leilões de arte autobeneficente que acontece com a captação, compra, venda e consignação de nossas próprias obras performáticas ou não. Os leilões de arte Bloomsburied são performances que, em suas edições anteriores aconteceram dentro de renomadas galerias de arte contemporânea, composto por pessoas oriundas dos âmbitos da arte, da academia, cultas, abertas às vanguardas e consumidoras das mesmas. Os lotes desta série de obras de arte estão sujeitos a um preço mínimo indicado pelos organizadores e realizadores das obras.

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Churrascão VI

Intervenção urbana Churrasco produzido pelo grupo é oferecido aos passantes da rua, 2003 Churrascão VI abre as atividades do ERRO EX POSTO com uma grande vernissage. Para a sexta edição, o assado foi condizente com o clima coxinha da cidade onde vivemos de modo a proporcionar às pessoas que estiverem na exposição, uma perspectiva diferente da mesma, ao entrarem em contato com coxinha. O Churrascão é uma intervenção que se desenvolve em qualquer espaço, desde que esse espaço tenha a possibilidade de espalhar o cheiro do churrasco para diversas pessoas. Antes de comer o Churrascão, existe o cheiro, e é o cheiro que detona a vontade de comer. O ERRO prepara também toda uma estrutura que um Churrascão verdadeiro requer. Para isso o grupo se divide nas seguintes funções: o churrasqueiro, o garçom, a barwoman/barman, o compadre, a comadre etc… O Churrascão é uma série, um evento que pode ser paralelo a outro, pois ele não substitui, apenas acrescenta mais sabor. O Churrascão é uma ação que se desdobra e impulsiona uma reação… O Churrascão é uma ação visceral e viciante.

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Pendurando as Chuteiras

Intervenção urbana / Instalação Coturnos militares são pendurados em fios de luz em diversos pontos da cidade, 2014. Ritualizando uma passagem (do jogo e da vida) onde algo se deixa para trás, coturnos militares são lançados em ato esportivo, compondo um grafite aéreo no espaço, um memorial informal. Sapatos utilizados como projéteis integram práticas populares e esportes, embora muitos digam que é apenas mais um ato de vandalismo. Lançando os projéteis improvisados ao ar, marcamos a transição e o abandono de algo. É o mesmo ao bater as botas em territórios físicos e simbólicos.

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BUSTOX

Intervenção Urbana. Cerâmica esmaltada sob pedestal público. 35 x 55 x 60cm, 2014. Bustox busca questionar as novas personalidades históricas homenageadas por suas ações em vida e benfeitorias realizadas para o desenvolvimento de um local e/ou comunidade. Quem são, hoje, as personalidades tidas como heróis, homens bem sucedidos e que servem de exemplo? Ao ser doado e instalado sobre um pedestal público, vazio devido ao furto dos bustos que ocorreu em Florianópolis em 2013, e que permanecem vazios até o momento desta exposição, Bustox também traz a tona o descaso com a memória e sua insurgência diante da necessidade primordial da atualidade de gerar ganhos sem medir danos simbólicos e práticos sob a justificativa da tão sagrada “preservação de patrimônios culturais materiais e imateriais”.

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ECO

Intervenção urbana sonora através de carro-de-som que propaga o trecho da narradora do texto de Buzkashi (2004). Dramaturgia: Pedro Bennaton e Luana Raiter (criação intertextual a partir de escritos de Jean Baudrillard, Bertold Brecht, Akira Kurosawa, Allen Ginsberg, Soldado Dylan Max, Priscila Zaccaron, entre outros). Música: Atocha (Triste Madrid), Alai Garcia Diniz, 2014. ECO dispersa o drama e desaparece.

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“Sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um... Hoje, o campo está aberto à ação, sem fraquezas ou desistências.

Bom, essa carta é pra todos que me dão suporte e sofrem comigo e com minha família esse período de tempo. Eu estou sem dar notícias, pois minha função me esgota. Como é sempre tudo igual no nosso dia-a-dia, não tenho muita coisa p r a c o n t a r. . .

O caminho pode ser livre, mas nos desviamos dele. Minhas palavras não são um sonho. Há espiões, buscas e prisões por toda parte. As ações são precipitadas e impu lsivas, Nesse esquema de jogo, não importa tanto quanto se imagina definir a postura. No jogo v ivemos a arte da conjunção. O neutro é uma terrível ameaça. Não cabe t e m e r o u e s p e r a r, m a s b u s c a r n o v a s a r m a s . . . Jogos revelam sua qua lidade produtiva , pois c r i a m n o v a s fo r m a s d e v i v e r, d e s e n t i r, n o v o s m o d o s d e s e r. . . O c o m b a t e é d e t o d a s a s c o i s a s , rei. A

De

uns

identidade

fez

escravos,

costura

o

de

sujeito

outros à

livres.

estrutura.

Nossas identidades contraditórias nos empur ram a novas direções. O sólido se desmancha no a r. A c e l e r a f l u x o s e l a ç o s . O l u g a r é e s p e c í f i c o , c o n c r e t o , f a m i l i a r, c o n h e c i d o e d e l i m i t a d o . (. . .) ”

O texto completo está publicado no livro "A Poética do ERRO: Dramaturgias".

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CAPACHO

Instalação Instalação de tecido resinado, dimensão aproximada de 1,40 x 60cm, 2014. A porta de entrada, seja bem-vindo, limpe os pés, volte sempre. O artista rastejando, aos seus pés, sobrepujado pela burocracia que age de forma invisivelmente opressora. O operário. Ao mesmo tempo em que é humilhação, é gentileza, entrega, sacrifício.

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Teatro Invisível

Intervenção urbana e fotografia Quatro moradores e ex-moradores de rua são convidados cada um a vestir figurinos de Carga Viva (2002) durante o período da exposição e serem fotografados uma vez por dia durante todo esse período, 2014.

O que estabelece o teatro para que este exista? Um figurino carrega o teatro, pois é uma roupa usada em cena, ou após usado é uma mera peça de roupa que de tão rota só serve como pano de chão? Este carregará para sempre o teatro em si, mesmo sendo guardado e mofado dentro de um saco plástico de lixo trancado em um case? Basta alguém usar o figurino que já virará ator? Assim que alguém veste o figurino a peça já recomeçou ou ela já está acontecendo mesmo com o figurino parado? Ou quando uma pessoa que não é ator veste o figurino este não é mais figurino, pois vira apenas uma roupa normal? E as pessoas? Será que Boal pensou em moradores de rua quando cunhou o termo e a prática Teatro Invisível? Uma experiência para observarmos a invisibilidade de certos setores da sociedade e suas possibilidades de presença, assim como o desgaste, tanto do figurino, quanto do acordo verbal firmado entre nós e os moradores, e ex-moradores, de rua, e principalmente da própria convenção teatral.

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Censurado

Desterro, 22 e 23 de março de 2014. CENSURADO. 288 anos de Florianópolis/SC. CENSURADO.

CENSURADO Por incontáveis razões que tornariam este texto chato e piegas, decidimos nesses dias 22 e 23 de março, (des)comemorando o aniversário de 288 anos da cidade, refletir sobre as censuras que sofremos e vemos outros artistas sofrerem por aqui, que não é a censura militar, CENSURADO mas a censura ao acesso aos espaços culturais, interiores e a própria rua através de seus horários de funcionamento, das exigências e a burocratização das autorizações; a censura financeira através da não realização de editais e de políticas culturais que estimulem a produção e não que criem inúmeros obstáculos para a fruição da mesma; a censura velada através da politicagem de gabinete, prática realizada insistentemente nas instituições municipais e estaduais que tratam de cultura na cidade. CENSURADO. CENSURADO cria um pequeno espaço de resistência e protesto, em um dos prédios da Prefeitura Municipal de Florianópolis, o Arquivo Municipal, aos atos obscenos que o Governo do Estado e a própria Prefeitura vem seguidamente cometendo contra a cultura, o publico e os agentes culturais da Capital CENSURADO. No único final de semana em que todos os espaços culturais do município ficam abertos para que a Prefeitura faça sua précampanha eleitoral, CENSURADO uma autocensura para denunciar as inúmeras censuras que nos são impostas no dia a dia. CENSURADO ERRO EX POSTO ERRO Grupo

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ERRO EX POSTO ERRO Grupo O ERRO se caracteriza por não apenas reali-

significado dos próprios caminhos. A desco-

zar uma prática intensa, mas também por

berta da dissolução,

constantemente refletir teoricamente sobre o contexto atual da arte e da sociedade,

do fracasso, da impossibilidade do sonho,

sobre as formas de arte de rua, de viver, de

nos revelou um conceito base para a cria-

sobreviver e da persuasão da sociedade do

ção das obras apresentadas nesta exposi-

espetáculo na qual estamos inseridos, o que

ção: a ideia de decomposição.

na exposição ERRO EX POSTO oferece uma nova possibilidade de abordagem e diálogo

A decomposição das próprias obras que já

do histórico do grupo e suas experiências

foram realizadas pelo ERRO, a compreen-

no campo das Artes Visuais, Intervenção

são de que os próprios corpos dos atores que

Urbana, Instalação e da Performance,

realizavam as nossas ações já não são os

cruzando os olhares externo e interno

mesmos, pois também se encontram neste

sobre as práticas e teorias desenvolvidas

mesmo processo natural de transformação.

pelo grupo.

Os objetos e os cenários que fizeram parte dos trabalhos do grupo também se decom-

Ao pensarmos sobre a trajetória do grupo

põem no barracão de zinco pendurado

de forma a expor

no morro onde guardamos nossos entulhos que antes já foram arte. Ou seja, tais decomposições podem estar relacionadas

e a resignificar suas memórias, nos depa-

ao desgaste, mas também podem ser fruto

ramos com a impossibilidade da perpetua-

de um devir da própria pesquisa do ERRO,

ção de algo e de coisa alguma, com os peda-

ou apenas, aquela decomposição abstrata

ços que ficam pelo caminho, com a perda de

produzida pela memória e o tempo.

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ERRO Grupo

O ERRO Grupo nasceu em 2001 da angústia de seus integran-

tes em experimentar a arte como intervenção no cotidiano das pessoas e sua interdisciplinaridade de conceitos e áreas de linguagem. Através da construção de situações, o grupo pesquisa a união das linguagens artísticas, o performer, a invasão do espaço público e a diluição da arte no cotidiano, interferindo nos fluxos cotidianos, na paisagem urbana e nos meios de comunicação, procurando outros modos de viver e inserir-se na cidade.

Através da busca por uma linguagem artística fronteiriça, o ERRO pesquisa a exploração do espaço urbano a partir de seus significados, ambientes, arquiteturas, discursos e a criação de possíveis situações e relações entre as pessoas que circulam pelas ruas.

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Obras - Cronologia 2014

Geografia Inútil…, exposição ERRO EX POSTO: Churrascão VI, Pendurando as Chuteiras, Bustox, Ossos do Of ício, Capacho, Segredos da Academia, 4º Bloomsburied, ECO, Livre de Visitas, Cofre Público, Teatro Invisível, Parangolé Burocrático, CENSUR ADO e os livros A Poética do ERRO: Registros e Poética do ERRO: Dramaturgias.

2013

Churrascão V, Pedra, workshop Invisible Action Against Invisible Power e Bloco.

2012

HASARD e Cultura Fantasiada

2011

Pornosuspense e Download

2010

Formas de Brincar e Autodrama

2009

Protesto Portátil, Jogos da Babilônia: Festa Fora da Festa, 2º Bloomsburied e 3º Bloomsburied

2008

Escaparate, 1º Bloomsburied e Segredo: A Arte de Manobrar

2007

Enfim um Líder, Churrascão IV, Games of Babylon: I Love it A ll e Games of Babylon: Wash Your Hands

2006

Desvio, Jogos da Babilônia e Obra de Cálculo

2005

Palavras Decifram e Movimentos Fazem Dispositivo Funcionar e Debaixo de uma mesa saem balões brancos

2004

Buzkashi, Ômega 3 e exposição Berro: Segredo, Churrascão II, Churrascão III, Respiro e ILL

2003

Churrascão I e Lei de Incentivo a Cultura

2002

Adelaide Fontana e Carga Viva

2001

À Margem e Pedra

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ERRO EX POSTO FICHA TÉCNICA Artistas – ERRO Grupo

Pedro Bennaton, Luana Raiter, Sarah Ferreira e Luiz Henrique Cudo.

Curadoria e produção Consultoria, assessoria e participação na confecção das obras

Kamilla Nunes e ERRO Grupo Fabrício de Paula Oliveira, Martim Amaral, Ian Pfeifer Raiter, Julia Amaral, Ana Paula Cardozo, Michel Marques, Priscila Zaccaron, Alai Garcia Diniz, Dilmo Nunes, Wellington Bauer, João Spinelli, Gustavo Tirelli e Angelo Francisco Giotto.

Assessoria de imprensa Web-site Registros (fotos e vídeos)

Juliana Bassetti. ARS Arquitetura de Interfaces. PI Arte, Foto e Vídeo, Rodrigo Ramos, Julia Oliveira, Pedro Bennaton e Luiz Henrique Cudo.

Criação do material gráfico Monitoria Concepção e projeto

Balaclava Studio. Julia Oliveira. Luana Raiter, Pedro Bennaton e Luiz Henrique Cudo

Montagem Criação

ERRO Grupo e Kamilla Nunes ERRO Grupo

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WEBSITE: WWW.erroGruPo.Com.Br E-MAIL: erro@erroGruPo.Com.Br

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