Caderno de eixos temáticos | EREA Carlão 2018

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temátic

Como estudantes de arquitetura estamos hab cidade como ponto chave de discussão e refl temática do EREA Carlão vem para colocar em q cia da cidade por parte do estudante de Arq você vive, participa, usa, prova, conhece, sente


ca geral

bituados a ter a lexão. Porém, a questão a vivênquitetura. Como e a sua cidade?

_ Quando ingressamos em uma universidade, é comum deixarmos nosso local de origem para estudarmos em cidades diferentes e começarmos a frequentar a tão estimada “cidade universitária”. Passamos a estar, querendo ou não, inseridos em um contexto de privilégio, como uma população flutuante, utilizando-se de um novo meio urbano para viver. Porém, será que vivenciamos mesmo esse novo contexto? A apreensão da cidade por um estudante universitário é a mesma de um morador local? Será que a chamada “cidade universitária” e a cidade real se correlacionam, ou será que apenas dividem as tensões do mesmo espaço? Em São Carlos, encontramos uma realidade de 4 universidades, dentre elas federais, estaduais e privadas, que representam cerca de 10% da população local. São consolidados ao redor dos campi os chamados bairros universitários que acabam por se tornar barreiras geográficas dentro da disposição urbana da cidade. As universidades “públicas” são gradeadas, possuem catracas, portas trancadas, diversas barreiras físicas e subjetivas que afastam a população são carlense que não goza do direito de aproveitar de fato as ofertas da “capital da tecnologia”. Enquanto isso, sem contar os inúmeros eventos durante os anos, São Carlos é, anualmente, sede do segundo maior evento universitário da América Latina - o TUSCA. Quatro dias em que a cidade serve como nada mais que um “quintal” recreativo da cidade universitária. Um dos momentos de maior giro da economia local é também o de maior desrespeito para com a cidade e sua população. 3


1. temática geral 2. encontro aberto 3. eixos diluídos 4. eixos temáticos

Nesse cenário, a Comorg do EREA CARLÃO 2018 traz o tensionamento do quanto a universidade realmente está inserida na cidade. São Carlos é uma cidade universitária ou uma cidade com universidades? Polo da tecnologia, mas que morre na pesquisa e não chega na extensão. A cidade com maior quantidade de doutores por m² mas que volta seu conhecimento para quem? Universidades que se dizem públicas, mas que selecionam a população que pode ter acesso aos seus espaços e conhecimentos. Dessa forma, não queremos discutir a temática do encontro dentro das grades da universidade, queremos explodir a bolha universitária e integrar conhecimento acadêmico com local, incentivando a troca horizontal de saberes. Para isso, o encontro será aberto, as atividades serão realizadas tanto por participantes quanto pela comunidade, visto que a Cidade FeNEA será em um espaço público, inserido numa região não central e fora da “cidade universitária”. Assim, nos posicionamos a fim de unificar e fortalecer a construção com os movimentos sociais, ocupações, comércios locais e minorias com o intuito de desconstruir estereótipos, questionar o capital privado, combater as opressões e tensionar. E você, o que te tensiona?

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encontro

O EREA Carlão será um encontro aberto, ou sej trito apenas aos participantes pagantes. Deste lação de São Carlos como um todo terá acesso e às atividades realizadas durante o encontro integração da população local com o encontro.


aberto

ja, não será rese modo, a popuo à cidade fenea o,aumentando a .

_ Os encontros de estudantes de arquitetura e urbanismo são um espaço privilegiado de debate e de troca de conhecimento a respeito da cidade e da arquitetura. Contudo, esses debates dizem respeito a uma vivência urbana que extrapola nossas bolhas sociais. Deste modo, acreditamos que abrir esse espaço para o público não universitário-elitizado é essencial ao debater as tensões da cidade universitária, problematizar nossos privilégios e lutar por uma educação popular e democrática uma vez que propomos no encontro discutir entre outras questões as relações de segregação e dominação que a universidade historicamente impõe sobre a cidade e seus habitantes. Buscaremos integrar a população não-inscrita no evento nas atividades, vivências, mesas plenas, congressos, lúdicos, momentos FeNEAs... enfim, em todos os momentos de discussão e reflexão sobre cidade, ensino e arquitetura. Além da Cidade FeNEA estar sediada num espaço público, incentivamos e promovemos atividades em outros espaços públicos da cidade de São Carlos.

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eixos d

Dentre as nossas discussões, entendemos com estruturantes da nossa temática, dois eixos qu de forma a ressaltá-los e deixá-los intrínsecos mentos de discussão pela sua relevância e abr


diluídos

mo problemáticas ue a permeiam, s a todos os morangência.

_ Resistência Popular e Minorias A formação histórica das universidade brasileiras remete à estruturação da burguesia nacional enquanto campo hegemônico dentro do processo de industrialização no país. É notório, então, dentro desses espaços, a propagação da ideologia das elites nacionais em oposição ao que é popular. O ensino superior brasileiro se consolidou como o grande espaço de formação técnico e ideológico das camadas ricas da população. Dessa forma, é evidente, historicamente, a exclusão das camadas populares e minorias sociais desses espaços. Assim sendo, os espaços de resistência e de afirmação dentro da universidade brasileira, fomentadas no seio do movimento estudantil, são de suma importância dentro da luta de resistência contra a estrutura social excludente. Mais do que isso, espaços de visibilidade, difusão cultural e conscientização no que tange à população negra, aos grupos LGBTQ+ e à luta feminista são essenciais na consolidação de um pólo popular e combativo em oposição à estrutura universitária como é hoje que se organiza em torno de uma tentativa de manutenção de privilégios históricos. Além disso, uma vez debatendo as problemáticas da educação e da universidade na nossa sociedade atual, não podemos deixar de entender que sistemicamente esses espaços estão cada vez sendo tensionados política e ideologicamente, tendo visto, por exemplo, as discussões sobre escola sem partido, debate de gênero e sexualidade, e mais estrita9


1. temática geral 2. encontro aberto 3. eixos diluídos 4. eixos temáticos

mente no nosso campo a reivindicação da visibilização das minorias dentro do campo da arquitetura e urbanismo, tanto como agentes produtores quanto como usuários da arquitetura e da cidade. Nosso encontro pretende abranger a maior quantidade e variedade de pessoas, por isso se propõe a ser aberto, na tentativa de consolidar uma discussão verdadeiramente popular a respeito da universidade brasileira e da cidade. Universidade pública x universidade privada Na regional São Paulo se encontra a maior concentração de universidades do país. Nos últimos quinze anos assistimos a uma vertiginosa expansão do ensino superior privado no Brasil. Concomitantemente à drástica redução de investimento público na educação superior, consolidaram-se neste mesmo período grandes grupos da iniciativa privada, a exemplo do grupo Kroton-Anhanguera, o maior do mundo no setor de educação superior privada, resultado direto do fomento à acumulação de capital nos últimos anos. O cenário de refluxo na organização e mobilização do movimento estudantil é um resultado latente deste período. Se nas universidade públicas, CAs, DAs e DCEs encontram-se numa árdua luta pelas suas reconstruções históricas, nas universidade privadas o cenário é muito mais difícil. O embargo e boicote à qualquer tipo de organização estudantil nesses espaços é um enorme bloqueio à mobilização e politização nesses espaços, o que dificulta, também, a atuação da FeNEA dentro do ensino privado. 10


Dessa forma, pretendemos levar essa discussão nos momentos FeNEA no sentido de unificar e expandir nossas ações e formação teórica sobre as problemáticas acarretadas pelo sucateamento e mercantilização do ensino, que aflige tanto as universidades privadas quanto as públicas, e demais questões que abrangem esse tema.

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eixos tem

Além dos eixos transversais apresentados, a encontro serão estruturadas em eixos temático a relação cidade - universidade a partir de ch próprias mas complementares entre si.


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máticos

as discussões do os que abordam haves de leituras

Agentes tensores Assim como disse Aziz Ab’Saber, "a cidade é a sociedade projetada sobre o espaço”. Devemos compreender as transformações no espaço urbano em sua totalidade complexa de processos sociais, econômicos, políticos e ideológicos em seu movimento contraditório. Na conformação da cidade, observa-se determinantes que estruturam as transformações urbanas dentro do contínuo movimento histórico. Os agentes políticos, econômicos, sociais e ideológicos são fundamentais em nossa análise acerca dos processos de transformação socioespacial e suas contradições. O mercado imobiliário intrinsecamente articulado com o Estado burguês, as elites econômicas, e também as políticas locais são elementos que nos permitem, em sua análise, captar nossa realidade sob o ponto de vista da economia-política. Do outro lado, temos a população trabalhadora local, organizada em associações, movimentos, coletivos, partidos políticos ou não, em seu movimento de resistência popular. A universidade e a educação também fazem parte dessa superestrutura e tensionam a produção da cidade, assim como os agentes midiáticos, a polícia, o exército, o poder judiciário, etc, todos conformam aparelhos ideológicos estruturados de modo a consolidar a manutenção do status quo. Nós, como futuros arquitetos e urbanistas, devemos em primeiro lugar ter uma leitura crítica sobre esse mecanismo e nos posicionar enquanto pequena parte do sistema, pau13


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tando o direito à cidade; a universidade e o ensino popular e democrático; a prática do papel social do arquiteto; a luta de classes e um horizonte de sociedade mais democrática e menos desigual. Dessa forma, se queremos transformar realidade concreta, devemos, antes de mais nada, conhecê-la. Onde seu conhecimento reverbera? A academia fecha-se dentro dos muros da universidade, privilegiando a pesquisa, aceitando o financiamento privado e desmontando a extensão. Logo, surge uma bolha de conhecimento que fica cada vez mais distante da comunidade. Este eixo temático permeia as tensões dentre os parâmetros de ensino com enfoque no papel social da universidade no cenário do estado de São Paulo. Uma das vertentes mais críticas desta problemática mostra-se no processo de desmonte das universidades públicas e intenso crescimento da quantidade de faculdades privadas. Essa realidade aparece quando o sistema vigente é baseado na mercantilização do ensino, vender a arquitetura que é feita pela elite para a elite. Dessa forma, nota-se que o foco dos cursos de arquitetura e urbanismo possui uma carga mais tecnicista do que social, histórica e também crítica; arcando, assim, com a tendência de despolitização da figura do arquiteto. Entretanto, nós, como estudantes de Arquitetura e Urbanismo, acreditamos que os estudos tecnológicos, que possuem um caráter determinante nas universidades, deveriam 14


ter sua lógica invertida, voltando-se prioritariamente à sociedade e não ao mercado. Assim, os projetos de extensão apresentam-se como uma possibilidade de romper essa lógica, visto que esta pode alcançar as produções acadêmicas, sendo uma resistência dentro da estrutura mercadológica de ensino e levando contribuições reais para a sociedade. Tensão material É notável que a tensão cidade-universidade, assim como todas as tensões inerentes ao nosso sistema capitalista-patriarcal, se materializa no nosso cotidiano e em nossos espaços construídos. Pretendemos, portanto, compreender e problematizar nas instâncias do encontro essa materialização que tantas vezes se mostram banais, porém detém também grande carga ideológica e segregacionista. Nossas universidades públicas são produzidas sob a lógica de um espaço público para pessoas seletas. Não é apenas o conhecimento produzido que fica restrito dentro das grades e catracas das universidades, é negado o direito de uso de um espaço público qualificado para a maior parte da população urbana das nossas cidades. A segregação produzida pela universidade tampouco se restringe ao seu espaço físico. Os espaços de moradia, lazer e cultura do público universitário são habitualmente “camarotizados”, espaços exclusivos e excludentes no nosso espaço urbano. Dada essa vivência urbana da maioria dos estudantes universitários, sobretudo os que residem em cidades diferentes 15


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das cidades natais, a relação de conhecimento e pertencimento com a cidade externa às suas universidades se conforma com extrema fragilidade, uma vez que nos configuramos como meros passageiros em nossas “cidades universitárias”. Desconstruir essa vivência faz parte de um posicionamento crítico ao modelo de experienciar a cidade nos colocado e colabora para uma compreensão mais ampla da cidade como usuários e como produtores de espaços urbanos. Arquitetura e consciência social Tendo como objeto de estudo a cidade e todas as suas problemáticas que acabam por se repetir, de maneira totalizante, pretendemos, neste eixo, discutir a importância do papel social do arquiteto bem como o do estudante de arquitetura e urbanismo e a sua atuação perante a realidade material durante sua graduação. A busca por complementar o ensino acadêmico contido nos ateliês se faz necessária a medida em que enfrentamos um caráter estudantil universitário não-popular, no qual o acesso à informação se dá de modo continuamente restrito e voltado somente a camadas privilegiadas. Dessa forma, projetos que incitem a consciência social e o contato com diferentes realidades que podemos encontrar na dinâmica urbana, como projetos de cultura-extensão, Escritórios Modelos de Arquitetura e Urbanismo, ou o próprio uso de diversos espaços que a cidade tem para oferecer, são alguns dos meios que propomos discutir e incentivar o debate em diversas esferas. 16


A profissão do arquiteto e urbanista se edifica com grande potencial de transformação social. Esse potencial se consolida efetivamente desde que construamos nossa práxis de modo a tensionar a estrutura vigente na reprodução da cidade. As experiências autogestionárias encabeçadas por assessorias técnicas conformam um grande exemplo na tentativa de subverter os processos socioespaciais excludentes a partir da organização e conscientização de classe. A discussão sobre o direito à cidade encontra-se no cerne das questões de nosso tempo. Porém, não há sentido na teoria, se não há articulação com a prática. Nosso encontro visa as perspectivas de nossa atuação profissional na intenção de indicar uma verdadeira práxis transformadora. Por universidades diversas e populares No cenário universitário observamos como uma luta histórica central a inclusão das camadas populares dentro de um estrutura de ensino tradicionalmente elitista e excludente. Nesse sentido, afirmamos a adoção de políticas de cotas étnico-sociais como um grande vitória do movimento estudantil. Todavia, é de suma importância ressaltar que essa conquista não é um fim em si mesma. Para além do ingresso, temos de nos atentar quanto aos ataques profundos contra as políticas de permanência estudantil. Inseridos dentro da lógica neoliberal de transformação das universidades em ambientes cada vez mais tecnicistas, qualquer tipo de recurso em prol das camadas populares é alvo de ataque, na 17


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universidade pública, e, mais profundamente ainda, nas universidades privadas, onde nos deparamos também com a realidade crescente de endividamento dos jovens trabalhadores ali inseridos. A democratização do ensino, portanto, não deve ser confundida com a mera massificação da educação sem a manutenção de sua qualidade, mas de sua real universalização através do aprofundamento da luta que conquistou as cotas.

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