Donald quataert o imperio otomano das origens ao sec 20

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No século XVIII e seguintes, o problema do enfraquecimento colocou-se de duas maneiras, sendo as propostas apresentadas para o solucionar inteiramente distintas. Por um lado, a crise da derrota era encarada como um problema técnico, que podia solucionar-se com meios técnicos. A fraqueza dos Otomanos devia-se assim à superioridade tecnológica dos europeus. A resposta seria pois a adopção da melhor das tecnologias disponíveis, à semelhança da que os sultões dispunham no passado. No século XVIII, tal significava recorrer à Europa. E assim, foram chamados à capital oficiais dos exércitos europeus; o barão de Tott, por exemplo, esteve ao serviço do império de 1755 a 1776, e tinha como missão criar um corpo de artilharia moderno de fogo rápido. Também o grande almirante Gazi Hasan Paxá tentou reconstituir a armada de acordo com os mais avançados e elevados padrões. Por outro lado, considerava-se que a mesma crise era uma questão moral e religiosa, cuja resolução passava por uma reforma moral. Esta solução foi apresentada quase em simultâneo pela ordem sufi Tijaniyya, no Norte de África, pelos wahhabi (Arábia) e pelo xá Waliullah, de Deli, no subcontinente indiano. Os três movimentos propunham uma resposta religiosa para o problema colocado pela fragilidade dos Estados islâmicos no globo. O movimento wahhabi aqui em questão visava a reabilitação da sociedade, eliminando todas as práticas alegadamente contrárias ao Islão que se haviam instalado desde os tempos do profeta Maomé. Na Arábia Central, Muhammad ibn Abdul Wahhab (1703- -1792) pregava a necessidade do regresso aos cânones dos primórdios do Islão, tal como eles tinham sido entendidos pelo ilustre jurista da Idade Média, ibn Hanbal. Os muçulmanos, afirmava Abdul Wahhab, haviam esquecido a fé que Deus revelara ao Profeta. Para os Otomanos, esta mensagem colocava sérios riscos. No princípio do século XVIII, haviam já perdido o controlo de parte da península Arábica, do Iémen e de Hadramaut. Os simpatizantes de Abdul Wahhab apoderaram-se, então, de grande parte do que restava da Arábia e assolaram o Iraque, ameaçando assim a soberania otomana nessas paragens. Porém, o perigo que os wahhabi representavam era bem mais grave do que a mera ocupação territorial. Abdul Wahhab pregava que as cidades santas, Meca e Medina, que se encontravam sob protecção otomana, estavam repletas de aberrações e de santuários contrários ao Islamismo. Eram cidades corruptas, asseverava


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