Revista Cidade Verde 176

Page 1


CLAU PUBLIC

CERTIFICADO DE AUTORIZAÇÃO SEAE No 02.000080/2017 - CERTIFICADO DE AUTORIZAÇÃO SEAE No 06.000082/2017


UDINO CIDADE


Índice

08

Capa

Fórum discute saídas para o desenvolvimento do Piauí

Páginas Verdes Raul Velloso

05. Editorial 08. Páginas Verdes Raul Velloso concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão

A inserção do Piauí no Agronegócio

13. Cidadeverde.com Yala Sena

54. Comércio Piauí

20. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

78. Ensino de xadrez promove cidadania

22. Reforma trabalhista entra em vigor ainda com muitas dúvidas

90. Poesia Sempre

26. TSE vai monitorar fake news nas eleições de 2018

44. Economia e Negócios Jordana Cury 61. Tecnologia Marcos Sávio 84. Passeio Cultural Eneas Barros 86. Perfil Péricles Mendel

Articulistas 43

Zózimo Tavares

56

Desafios da gestão pública

38. As saídas para a crise a partir da Previdência

64. Fórum reúne principais lideranças do Piauí

14. Pais questionam aulas aos sábados

48

COLUNAS

32

53

Cecília Mendes


foto Manuel Soares

O Piauí no contexto nacional A Revista Cidade Verde realizou no dia 30 de outubro o I Fórum Piauí Brasil – Crise e Oportunidade para o Desenvolvimento. Um encontro que reuniu empresários, políticos, gestores e líderes classistas preocupados em pensar estratégias e soluções para enfrentar o momento de dificuldade econômica e projetar um futuro próspero para o Estado.

ser trabalhadas no estado e as potencialidades que podem ser exploradas para alcançar um desenvolvimento sustentado. Com riqueza de dados, ele mostrou as áreas nas quais o Piauí avançou nas últimas décadas em comparação com os demais estados brasileiros e como ainda há espaço para crescer a partir das vocações aqui existentes.

Para apresentar os temas selecionados, foram convidados três palestrantes com conhecimento e experiência reconhecidos nas suas respectivas áreas. O piauiense Raul Velloso falou sobre “O problema macroeconômico brasileiro e a capacidade do Piauí de se enquadrar nesse contexto”, traçando um diagnóstico da realidade financeira do estado e apontando o equacionamento da previdência como saída para a crise.

O Fórum foi uma contribuição da Revista Cidade Verde para a construção de um novo Piauí, moderno, desenvolvido e empreendedor. Uma forma encontrada pelo veículo para estimular o debate produtivo sobre um novo modelo de estado, com a participação de governo, empresários e sociedade civil organizada. Os três painelistas demonstraram em suas palestras que isso é possível, bastando para tanto a determinação e vontade política.

O tema do agrônomo André Pessoa foi a “Inserção econômica do Piauí – uma visão do agronegócio” . E a visão mostrada por ele foi altamente positiva para o estado, que possui uma extensão de terra agricultável ainda por ser explorada nos cerrados. Durante sua apresentação, André Pessoa lembrou que o agronegócio tem retorno garantido e é altamente promissor.

O economista Raul Velloso, PHD pela Yale University, é também o entrevistado das páginas verdes desta edição. Com olhar crítico, ele fala sobre a realidade brasileira, seus problemas, e destaca a importância do incentivo ao consumo para a retomada do crescimento da economia. Uma edição recheada de conhecimento para quem quer ficar bem informado sobre a realidade nacional e local. Boa leitura!

Finalizando os debates, o economista Cláudio Porto fez uma exposição detalhada sobre “Os Desafios da Gestão Pública”, revelando as fragilidades que ainda precisam

Cláudia Brandão Editora-chefe

REVISTA CIDADE VERDE | 12 DE NOVEMBRO, 2017 | 5


HOUS PUBLIC


SE D1 CIDADE


Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Raul Velloso

claudiabrandao@cidadeverde.com

“O país precisa de consumo e investimento” foto Wilson Filho

O economista Raul Velloso defende a necessidade de estimular a demanda para utilizar a capacidade ociosa existente hoje. Para ele, o aumento do consumo é fundamental nesse momento de recuperação econômica.

8 | 12 DE NOVEMBRO, 2017 | REVISTA CIDADE VERDE


O piauiense Raul Velloso é uma referência quando se fala em economia. Mestre e PHD na área pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos da América, ele já ocupou altos cargos na administração pública, sempre ligados ao planejamento e à administração. Foi Secretário Nacional Adjunto e Secretário para Assuntos Econômicos no Ministério do Planejamento, e Membro do Conselho de Administração do BNDES, Embraer e IBGE. Com a experiência de quem já passou por todas essas funções e continua a trabalhar ativamente como conselheiro de empresas, bancos e entidades públicas, é que ele faz uma análise da atual situação econômica do Brasil e aponta saídas para que o país possa se recuperar da maior recessão já enfrentada.

RCV – o Banco Central reduziu a taxa de juros a 7,5%, a menor registrada nas últimas décadas. O brasileiro já pode comemorar o fim da recessão? RV – Já. Não só por isso, mas por

outros sintomas que apareceram na economia, e esse é apenas um deles.

RCV – Com juros e inflação em queda, o consumo deve crescer ao ponto de recuperar os empregos que foram perdidos durante a crise? RV – O consumo, certamente, é a

peça fundamental dessa recuperação porque ele é o item de maior peso na composição do Produto Interno Bruto – PIB. Mas também vai

O consumo, certamente, é a peça fundamental da recuperação econômica, porque é o item de maior peso na composição do PIB.

mente interligada ao resto do mundo, há fatores que ocorrem aqui dentro, mas também muitos fatores que ocorrem lá fora. E ambos influenciam a percepção de risco do país.

RCV – Na avaliação do senhor, qual o setor, ou setores, da economia brasileira que devem crescer mais rápido nesse período de pós-recessão? RV – É difícil dizer, porque tudo

precisar ter a ajuda do item investimento, que é o segundo item de maior peso. E aí é onde ainda paira alguma dúvida sobre a velocidade da recuperação, porque vai precisar que os dois atuem para que a recuperação seja a mais rápida possível.

RCV – O senhor se refere tanto ao investimento do setor público quanto do privado? RV – Exatamente. É o agregado de

todo o investimento.

RCV – Logo após a votação da segunda denúncia contra o Presidente Michel Temer na Câmara, o dólar sofreu uma elevação. Isso significa que o investidor estrangeiro ainda não está confiante no cenário brasileiro? RV – Acho que não. Significa mais elementos do lado de fora do país do que do lado de dentro. É que a gente sempre tem que pensar que, como a economia brasileira é forte-

depende do momento que a gente estiver vivendo. Nós temos as chamadas sazonalidades, quer dizer, coisas que ocorrem em uma parte do ano e não ocorrem em outras. Mas a impressão que se tem é que o setor industrial, que havia penado muito, está sendo o que está se recuperando mais rapidamente.

RCV – E de que forma o governo pode estimular ainda mais a indústria, sem abrir mão de receita com a desoneração de setores específicos? RV – Bom, aí é difícil a gente pensar

no governo para estimular a indústria. O que vai estimular a indústria é a demanda que vai vir, tanto do consumo quanto do investimento. Não há muito mais que o governo possa fazer para ter um efeito forte. Vai ter sempre alguma coisa que ele poderá fazer, mas, na verdade, toda a questão é a recuperação geral do consumo e do investimento.

RCV – De qualquer forma, a desoneração não é o caminho mais adequado?

REVISTA CIDADE VERDE | 12 DE NOVEMBRO, 2017 | 9


RV – Não, porque a desoneração

A nossa maior vantagem hoje está nos segmentos que são intensivos em recursos naturais e tecnologia ajustada a eles.

significa perda de arrecadação e, como o governo está atacando vários problemas ao mesmo tempo, e um deles é a questão fiscal, ele vai hesitar muito em ir por aí.

RCV – A nossa indústria já se modernizou para se tornar competitiva internacionalmente? RV – A modernização da indústria

é uma questão complicada porque o Brasil não tem grande vantagem nela. As nossas vantagens estão em outro lugar. Então, ela precisa realmente se modernizar, mas nós temos de levar em conta que há uma disputa feroz no mundo, principalmente depois que a China escolheu se tornar a nação mais industrializada do planeta. É um conflito entre ter condições e poder tomar as medidas e as providências capazes de chegar aonde se quer chegar.

RCV – O senhor falou que as nossas vantagens estão em outro lugar, que não na indústria. Que vantagens são essas? RV – A nossa maior vantagem hoje

está nos segmentos que são intensivos em recursos naturais e tecnologia ajustada a esses recursos naturais. Isso foi uma evolução de muitos anos e, nesse processo, a indústria perdeu lugar por duas razões: primeiro porque os setores intensivos em recursos naturais progrediram; segundo, porque a competição de fora aumentou muito, como eu disse, principalmente, depois da entrada da China.

RCV – O Brasil ainda vai ser reconhecido, então, por algum

tempo, como um país exportador de commodities? RV – Sim, mas não é commodities

no sentido ruim da palavra, por ser uma coisa simples, destituída de sofisticação, não. Hoje, o Brasil tem commodities, sim, mas com alta intensidade tecnológica e, portanto, do jeito que se gostaria que nós estivéssemos produzindo.

RCV – O governo já estabeleceu um teto limite para os gastos públicos. Quais as outras medidas que ele poderia adotar para reduzir as despesas? RV – É muito difícil reduzir despe-

sas. Há uma resistência muito forte. A despesa é extremamente rígida e o governo vai ter de ser muito criativo. Como as reformas estruturais demoram muito tempo para fazer efeito, nós precisamos buscar soluções que consigam motivar partes que possam se beneficiar das medidas de ajuste a apoiá-las contra

10 | 12 DE NOVEMBRO, 2017 | REVISTA CIDADE VERDE

aqueles que serão afetados negativamente. Eu venho defendendo há algum tempo que um caminho para fazer isso é um pouco indireto, não muito claro, mas é pelo equacionamento da previdência pública, porque quando se equaciona, ou seja, se zera o passivo atuarial de qualquer previdência, você acaba tomando medidas que vão reduzir gastos de segmentos do setor público que são muito importantes, como aqueles que estão associados à gastos de pessoal, ou mesmo gastos de segmentos que, hoje, estão livres de certas despesas, que agora vão ter de contribuir para zerar o passivo atuarial de seus próprios servidores. E, aí, o apoio que o governo pode ter é dos servidores que serão beneficiados com o equacionamento da sua previdência, porque só assim eles vão se interessar em defender junto com o governo o corte de certos gastos que vão ter de ocorrer em alguns segmentos que têm receitas cativas e que vão ter que abrir mão de certas despesas para poder ajudar no equacionamento da previdência dos seus próprios servidores. É uma maneira indireta de cortar gastos, não é fácil de entender, mas é o caminho de quem busca o apoio de quem se beneficia disso, que é o próprio servidor.

RCV – A questão é: depois da votação dessa segunda denúncia, o Presidente terá força suficiente para aprovar a reforma da previdência? RV – Acho muito difícil, por isso é que nós temos de ter soluções


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.