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CIDADE


Índice Capa:

O que muda a partir de janeiro

08

Páginas Verdes Thomas Eckschimidt

18

Na contramão do mundo

05. Editorial

44. Comércio Piauí

08. Páginas Verdes Thomas Eckschimidt concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão

56. Geral Saneamento reduz gastos com saúde

14. Geral Pista interditada

66. Administração Receita Federal mira nas redes sociais

24. Economia Finanças: os 7 erros que você não deve cometer em 2019 40. Geral Você sabe guardar os alimentos na geladeira?

Jeane Melo

28. Economia e Negócios Jordana Cury

70. Geral Santa Arte

75. Tecnologia Marcos Sávio 82. Playlist Rayldo Pereira 86. Perfil Péricles Mendel

76. Esporte Uma semente na barragem do Bezerro

21

Cineas Santos

O risco está de volta

22. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

Articulistas 13

30

COLUNAS

48

63

Fonseca Neto

90

Tony Batista


Tempo de Austeridade 2018 já caminha para o final e, desta vez, o clima de festa que costuma marcar a despedida de um ano vem acompanhado da preocupação com as dificuldades a serem enfrentadas em 2019. O Estado do Piauí, a exemplo de outros estados brasileiros, está em uma situação financeira bem delicada, que o coloca diante de uma realidade nua e crua: ou faz cortes drásticos nas suas despesas ou não irá conseguir pagar a folha de pessoal e, ao mesmo tempo, manter os serviços básicos e realizar as obras necessárias ao seu desenvolvimento. O próprio governador Welllington Dias (PT), reeleito no primeiro turno da eleição para o seu quarto mandato, reconhece que a situação é grave e que precisa cortar na própria carne. Partidos aliados, como o Progressista e o MDB, encaminharam recomendações ao governador para diminuir o tamanho da máquina pública, hoje inchada com 56 órgãos com status de secretaria. Como se não bastasse, o déficit com a Previdência só aumenta a cada ano. Atualmente, o governo tira R$ 73 milhões dos cofres públicos, todos os meses, só para pagar a diferença entre o que arrecada e o que paga para os aposentados. Com o envelhecimento da população, essa conta tende a piorar. Hoje, são 45 mil servidores na ativa para cerca de 42 mil inativos. É uma conta que não tem como fechar. As reformas administrativas precisam ser duras e urgentes. Se chegar ao ponto de ultrapassar o limite de despesas com pessoal imposto pela Lei de Responsabi-

lidade Fiscal, o Estado fica impossibilitado, entre outras coisas, de contrair novos empréstimos junto à União e, com isso, não tem como realizar obras importantes para a população. O próximo ano precisará ser administrado com absoluta austeridade, portanto. Na reportagem de capa desta edição, a Revista Cidade Verde mostra os números atuais e os caminhos a serem tomados para que o Estado não perca o controle. Em outra reportagem, apresentamos mais um desafio a ser enfrentado pelo poder público no Piauí: a falta de saneamento básico, responsável por dezenas de doenças que poderiam ser evitadas se o estado contasse com esgotamento sanitário, coleta de lixo e fornecimento de água tratada. Além de proporcionar saúde, o saneamento gera economia. Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que para cada R$ 1 investido na área são economizados R$ 4 em despesas com saúde. E, para completar, uma entrevista com o empreendedor Thomas Eckschimidt, autor do livro sobre capitalismo consciente, uma nova forma de praticar esse modelo econômico, utilizando uma equação na qual todas as partes envolvidas no processo são beneficiadas. Sonho? É o que você vai descobrir na entrevista das Páginas Verdes. Boa leitura!

Cláudia Brandão Editora-chefe

REVISTA CIDADE VERDE | 25 DE NOVEMBRO, 2018 | 5


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Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Thomas Eckschimidt

claudiabrandao@cidadeverde.com

O que há de novo no mundo capitalista

Não basta produzir, é preciso distribuir. Essa é uma das lógicas do capitalismo consciente, movimento que vem crescendo no mundo inteiro. foto Wilson Filho

O modo de fazer negócios está passando por várias transformações. A ideia de que é preciso fortalecer a economia local, criando um ecossistema no qual todas as partes envolvidas são beneficiadas, é a base do capitalismo consciente. Filosofia que surgiu por volta de 2006, nos Estados Unidos, e vem se espalhando pelos outros países. Aqui no Brasil, um dos maiores estudiosos da área e autor de mais de sete livros publicados, com dez prêmios conquistados e três patentes depositadas é o empreendedor Thomas Eckschimidt, que esteve recentemente em Teresina para divulgar suas ideias, quando concedeu a seguinte entrevista à Revista Cidade Verde.

RCV – Fazer o bem é um bom negócio? TE – Fazer o bem não é só um bom ne-

gócio, mas é o melhor negócio. Quando a gente vê os resultados financeiros das empresas que aplicam esses fundamentos do capitalismo mais consciente, a gente percebe que, no longo prazo - quinze anos - o resultado financeiro delas é dez vezes maior do que a média do mercado quando você compara com a bolsa de valores, levando em 8 | 25 DE NOVEMBRO, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE


conta o quanto a bolsa valorizou em quinze anos e o quanto as ações dessas empresas valorizaram no mesmo período. Então, é muito evidente que fazer o bem é o melhor negócio.

RCV – E por que tantas empresas ainda resistem em praticar essa filosofia, diante de números que comprovam o que o senhor acaba de citar? TE – Eu acho que a gente vive um mo-

mento de transição. A gente saiu de um mundo onde havia muita escassez e, quando você vive em mundo de escassez, a primeira coisa que você faz é acumular. A partir do momento em que você começa a criar gerações em um ambiente de um mundo com mais abundância, você começa a mudar essa mentalidade. Então, a gente está exatamente nessa transição muito grande dos empresários, dos empreendedores antigos, que trabalharam muito duro, de um mundo onde não existia absolutamente nada, era tudo escasso, para um mundo em que, hoje, se você tiver um celular, uma bateria e internet, você tem acesso a carro, a comida, a educação, a tudo.

RCV – Como você define o capitalismo consciente? TE – O capitalismo consciente é uma

filosofia de negócio baseado em quatro fundamentos. O primeiro fundamento é que todo negócio pode e deve ter uma causa. Não é exclusividade de uma ONG ter uma causa, mas um negócio pode ter uma causa, que é: qual é o problema que esse negócio está resolvendo na sociedade? É fundamental que a gente tenha muita clareza disso e possa expressar isso em

líder deixa de ser o cara que comanda e controla para ser o cara que inspira e educa. E tudo isso precisa gerar valor.

O resultado financeiro das empresas que aplicam o capitalismo consciente é dez vezes maior do que a média do mercado.

RCV – Essa filosofia do capitalismo consciente surgiu quando e onde? TE – Essa filosofia surgiu através de

palavras porque, muitas vezes, a causa é um sentimento. E se você não consegue traduzir isso em palavras fica muito difícil para o outro entender. O segundo fundamento é reconhecer a interdependência, a integração de todas as partes envolvidas. Quando a gente cria um negócio no qual uma das partes envolvidas não percebe valor é quando o seu negócio pode começar a quebrar. Se o seu fornecedor está financeiramente estressado, se o seu cliente está moralmente afetado ou se seu funcionário está emocionalmente deprimido por um ambiente de incerteza, esses são os pontos de vulnerabilidade do seu negócio. Então, a gente tem de reconhecer a interdependência, que nós somos o que somos porque somos juntos e, não, individualmente. O terceiro fundamento é a cultura responsável, que nada mais é que a expressão coletiva de um grupo de pessoas em prol de uma causa, é o DNA de uma organização. E o quarto é liderança, que deixa de ser uma liderança egocêntrica para ser uma liderança ecocêntrica. O

um professor chamado Raj Sisodia, que é coautor comigo de um livro prático de capitalismo consciente, em 2006. Ele foi para os Estados Unidos e fez uma pesquisa, buscando identificar por que determinadas empresas têm alta reputação. E aí ele identificou que algumas empresas têm uma alta reputação porque gastam muito dinheiro em promoção, e outras têm alta reputação porque gastam nada em marketing e promoção. Olhando para as empresas que não gastam dinheiro para se promover, ele identificou esses quatro fundamentos citados antes. E, a partir daí, lançou o movimento do capitalismo consciente internacional nos Estados Unidos.

RCV – O público já consegue distinguir a empresa que, de fato, tem responsabilidade social daquela que está apenas investindo em marketing social? TE – Esse tema da responsabilidade

social corporativa é muito interessante porque muitas empresas atuam com responsabilidade social corporativa e toda vez que elas fazem alguma ação nesse sentido fora da sua área de atuação é um investimento perdido, porque a comunidade não reconhece aquele benefício. Então é como se uma empresa aqui de Teresina fizesse um trabalho com os patos do pampa

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gaúcho porque eles estão em extinção. Ninguém aqui vai reconhecer esse trabalho de impacto ambiental. É importante que a responsabilidade social corporativa seja diferenciada do que é capitalismo consciente. Este último está preocupado com a interdependência, qual o seu ecossistema, onde você está inserido, onde você cria valor em um círculo virtuoso para depois expandir para um círculo maior. Nossa preocupação no capitalismo consciente é saber como a gente fortalece a nossa comunidade. É um movimento global, mas sempre com atuação local.

RCV – Dentro dessa perspectiva, qual o valor de comprar de cooperativas locais? TE – Nossa! Aí é o poder da inter-

dependência, porque quanto mais a gente compra localmente, mais a gente fortalece as nossas relações locais. E quanto mais forte a gente está localmente, mais preparado a gente está para sair, porque na hora em que você começa a produzir e a consumir localmente você dá a oportunidade para as organizações locais melhorarem, se desenvolverem, se aprimorarem, ficarem mais eficientes e, potencialmente, mais competitivas para a hora em que elas começarem a sair. Achar que o melhor está sempre fora é a pior coisa que se pode imaginar.

RCV – O capitalismo tal qual nós o conhecemos hoje está fadado a ser extinto? TE – O interessante da história do capitalismo é que ele surgiu com a Revolução Industrial, quando as pessoas físicas começaram a juntar talentos

Nossa preocupação no capitalismo consciente é saber como a gente fortalece a nossa comunidade.

pessoais para produzir excedente de riqueza. E o que é muito bacana na ideia de capitalismo é que todas as trocas são voluntárias, ninguém entra em uma loja e experimenta roupa e, na hora da saída, o vendedor bloqueia, dizendo que só pode sair se comprar. Diferente de outros sistemas que não são voluntários, nos quais você só tem de um para vender, só tem de um para comprar e só tem de um para trabalhar, então você não tem opção. E o capitalismo só começou a ficar extremo quando a Revolução Industrial começou a usar os recursos de maneira intensa e a tentar extrair o máximo do sistema. E aí, automaticamente, surgiu o socialismo como contraposição ao capitalismo. O que a gente precisa olhar nesse movimento é parar de andar que nem siri, de lado, para esquerda ou para a direita. A gente tem de começar a andar para frente. A gente olha para o capitalismo e vê que ele foi muito bom para produzir e não foi bom para distribuir. O socialismo foi muito bom para distribuir, mas não deu muito bem para produzir. O ideal é andar para frente, juntos, e

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reconhecer que todo mundo tem alguma coisa boa para contribuir.

RCV – O consumo é a base do capitalismo. Mas, quanto mais consumimos, mais esgotamos os recursos do planeta. Como equacionar essa questão? TE – O capitalismo consciente é um dos movimentos de grande transformação. Existe capitalismo criativo, inclusivo, economia circular, sistema B, economia do propósito, economia colaborativa, economia do compartilhamento, tudo isso, nada mais são do que modelos que praticam, com maior ou menor profundidade, aqueles quatro fundamentos dos quais eu falei no início da entrevista. Certamente, daqui a vinte anos, a gente vai olhar na data de hoje e dizer “o que o pessoal falava daqueles capitalismos novos tem um outro nome, não é mais capitalismo”, porque também não é só produzir e consumir indiscriminadamente. É produzir e distribuir, porque a ideia de progresso é muito limitada, individual. A gente tem de sair do ego para um lado de prosperidade. Assim, não fica ninguém para trás.

RCV – Empresas que incentivam o trabalho voluntário entre seus funcionários conseguem maior engajamento? TE – Conseguem. Hoje, o que a gente

percebe é que o trabalho voluntário é uma válvula de escape para o que o trabalho não oferece. Então, cada vez tem mais gente fazendo trabalho voluntário. A ONU estima que são 140 milhões de voluntários no mundo. Se a gente juntasse tudo isso em


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