Revista Cidade Verde 194

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HOUS PUBLIC


SE D1 CIDADE


Índice CAPA: Crimes na Rede 05. Editorial 08. Páginas Verdes Padre Vicente Palotti concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 14. POLÍTICA O poder de uma eleição 18. GERAL Na Palma da Mão 22. POLÍTICA PT veta Themístocles e esquenta campanha 30. INDÚSTRIA

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Páginas Verdes

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Pe. Vicente Palotti

Alerta verde!

64. ECONOMIA Vai ficar mais caro cuidar da saúde 68. EDUCAÇÃO Bibliotecas Vivas 71. SAÚDE Mitos e verdades sobre reposição hormonal 76. GERAL Alta do dólar não é empecilho para intercâmbio

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Invenção para baixar a temperatura

28. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

32. Economia e Negócios Jordana Cury 61. Tecnologia Marcos Sávio 82. Passeio Cultural Eneas Barros 86. Perfil Péricles Mendel

80. GERAL Hospital Veterinário é alvo de disputa na UFPI

Articulistas 13

Jeane Melo

21

Cecília Mendes

COLUNAS

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Zózimo Tavares


O perigo que vem da Rede O advento da internet revolucionou a comunicação humana. A rede mundial de computadores abriu um leque inimaginável de possibilidades de interação entre pessoas, lugares e instituições, ignorando a barreira do tempo e da distância. Uma invenção fantástica que facilitou a vida a tal ponto que, hoje, é difícil para as novas gerações imaginarem como era o mundo antes disso tudo.

cidadão também precisa ficar atento para não cair em armadilhas virtuais. O compartilhamento de notícias falsas, ou fake news, é uma das formas mais comuns. Na pressa de passar uma notícia adiante, geralmente um escândalo, as pessoas nem sempre têm o cuidado de checar a veracidade da fonte e acabam compartilhando mentiras, embora não tenham esta intenção.

Como toda novidade, porém, ela traz os seus efeitos colaterais. Pessoas mal-intencionadas, e até mesmo bandidos, também descobriram na internet um meio para praticarem crimes e condutas ilícitas que prejudicam inocentes ao redor do planeta. São os chamado crimes digitais, que crescem a cada dia, fazendo vítimas das mais diversas formas.

Por se tratar de um fenômeno presente na vida moderna, com impacto sobre toda a sociedade, a Revista Cidade Verde traz uma ampla reportagem sobre o assunto, assinada pela jornalista Caroline Oliveira, que ouviu vários depoimentos de pessoas que foram vítimas dos ciberataques ou crimes cibernéticos.

O problema atingiu tamanha dimensão, que já existe uma Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos. Atualmente, essa Central recebe uma média de 2.500 denúncias por dia de crimes das mais diversas naturezas, como estelionato, furtos, invasão de dispositivos eletrônicos, extorsão, calúnia, injúria e infâmia. Só em Teresina, são registrados cerca de 100 a 120 boletins de ocorrência por mês.

Nas páginas verdes, uma análise bem realista da educação nos tempos atuais com o Pe. Vicente Zorzo, atual diretor do colégio Diocesano. Ele revela a preocupação com a mercantilização do ensino e a superficialidade das relações na sociedade moderna, resultando em uma geração de jovens insatisfeitos e carentes. Uma reflexão que merece ser lida por pais, mestres e alunos.

Os internautas precisam estar atentos para não caírem nas armadilhas que surgem nos computadores, especialmente em sites não confiáveis. Eles podem ser a porta de entrada para que indivíduos, agindo sozinhos ou em quadrilhas, se apropriem dos dados bancários da vítima e causem um prejuízo incalculável. Outro crime comum é a montagem de perfis falsos usando o nome de pessoas conhecidas para obter vantagens indevidas.

Nesta edição, publicamos o último caderno especial da Copa do Mundo 2018, com detalhes, fotos, curiosidades e fatos que marcaram o Mundial. Ao todo, oito fascículos foram editados pelo jornalista Fábio Lima para serem lidos e guardados por quem, como a maioria dos brasileiros, é apaixonado por futebol. Parabéns à França! Agora, só nos resta torcer para que o Brasil volte a ser campeão em 2022.

Com a proximidade da eleição, esse tipo de crime tende a aumentar. E a Justiça Eleitoral já está de olho, mas o

Cláudia Brandão Editora-chefe

REVISTA CIDADE VERDE | 22 DE JULHO, 2018 | 5


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SE D2 CIDADE


Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Padre Vicente Palotti Zorzo

claudiabrandao@cidadeverde.com

“A educação se tornou uma mercadoria”

O Padre Vicente Palotti Zorzo é um gaúcho descendente de italianos e alemães, dedicado à educação jesuíta no Brasil. Desde janeiro deste ano, ele assumiu a direção do Colégio Diocesano em Teresina, com a preocupação de proporcionar uma educação mais inclusiva e voltada para o pensamento crítico do aluno. O Padre propõe mudanças para que a educação da escola se adapte à evolução da sociedade sem que, contudo, tenha de abrir mãos dos valores tradicionais que a consagraram ao longo de mais de cem anos de história. Para o educador, a escola precisa contribuir para que os alunos façam a diferença no Piauí. Ele gosta de citar a frase do também padre, Adolfo Nicolás, que diz: “Não formamos os melhores alunos do mundo, mas formamos as melhores pessoas para o mundo”. Pe. Vicente foi professor de Língua Portuguesa em Moçambique, na África, antes de se tornar sacerdote. Já ordenado no Brasil, cursou mestrado em educação pela Universidade da Paraíba e, desde então, vem se dedicando à educação, com o propósito de preparar os jovens para um 8 | 22 DE JULHO, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE

foto Wilson Filho

O Padre Vicente Zorzo, atual diretor do Colégio Diocesano, está preocupado com a mercantilização do ensino. Ele diz que o papel da escola é formar cidadãos éticos, capazes de transformar o mundo em um lugar melhor.


mundo mais ético e solidário. Na entrevista a seguir, ele critica o modelo mercadológico de educação que está invadindo o país e propõe uma nova forma de interagir com as crianças e adolescentes.

RCV – Que tipo de aluno nós devemos preparar para o futuro? VZ – É uma pergunta bem complexa.

Na realidade, eu diria: ‘que sociedade nós queremos para o futuro?' Eu creio que hoje nós temos uma preocupação muito grande com essa questão da educação, que é um problema que perpassa toda a humanidade, desde os gregos, que questionavam o que é um cidadão virtuoso. Hoje, uma instituição educacional deveria dizer que deseja homens e mulheres virtuosos, preocupados com o bem comum, pessoas que saibam cuidar de si, dos outros.

RCV – A sociedade moderna exige pessoas capazes de resolver problemas complexos, mas, ao mesmo tempo, forma filhos dependentes e mimados. Como superar essa contradição? VZ – A crise da modernidade impac-

tou muito o mundo inteiro e, hoje, a pós-modernidade, como diz Zygmunt Bauman (filósofo polonês), formou uma geração mais líquida e essa liquidez vai mudando a mentalidade. Eu creio que o grande problema da sociedade pós-moderna é que ela gera a insatisfação nas pessoas. Nós vivemos em um cenário sóciopolítico no qual as pessoas estão muito insatisfeitas. E as pessoas não conseguem ler o real e ver o que é um avanço, uma conquista.

A educação se tornou uma mercadoria. Hoje, você vê grandes grupos econômicos investindo no Brasil, no mercado da educação, mas a sala de aula não é a preocupação. Elas só conseguem ver o que não têm, o que perderam ou não conseguem se alegrar com o que ganham. Isso fica bastante complexo no cenário da educação dessas novas gerações. Como possibilitar que essas pessoas tenham lucidez, discernimento, ponderação? As crianças e adolescentes têm de aprender a fazer suas escolhas em um mundo diverso e fragmentado. Hoje, as instituições estão fragmentadas, há uma crise nos estados. Vivemos a imaterialidade do comércio. A Uber é uma empresa imaterial, um aplicativo. A música que você compra já não tem materialidade. A sociedade tem de se descobrir: quem é, onde está e que mundo quer.

RCV – Dentro desse cenário, quando vamos sair do modelo de escolas que ensinam a memorizar para escolas que ensinam a pensar? VZ – Hoje você tem vários métodos.

O que a gente percebe, atualmente, no país com a nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular) é focar mais

no aprendizado e no aluno. De maneira geral, nós vemos uma preocupação pedagógica de fortalecer o aprendizado e a formação integral. Então, se nós formos ver os últimos anos, em todo o país, se dá um suporte para fortalecer a formação integral, que seja intelectual, física, psíquica, ética e estética. Agora, as concretizações são mais complexas.

RCV – Em um mundo competitivo, no qual se busca a todo custo a conquista dos primeiros lugares, como conciliar essa pressão com o ensino de respeito aos valores éticos? VZ – Eu acho que o mundo está

manipulando as pessoas. Se tu fores fazer uma leitura do movimento, a educação se tornou uma mercadoria. Hoje, você vê grandes grupos econômicos investindo no Brasil, no mercado da educação, mas a sala de aula não é a preocupação. Isso acaba sendo até um subproduto, porque eles estão vendendo livros, aplicativos, ferramentas. O aprendizado do aluno acaba sendo um subproduto. Aí tem um elemento que eu acho muito complicado que é a tensão, principalmente das famílias, entre perspectiva e expectativa. Perspectiva é o que tu projeta no futuro que pode vir a acontecer, o que Paulo Freire chama de ‘inédito viável’. As expectativas são as concretizações históricas e, quando se confunde perspectiva com expectativa, há uma frustração. Às vezes, se pensa que a escola tem de resolver todos os problemas. Não! Se o aluno adquire uma nota mediana quer dizer que ele não sabe? Não. Ele sabe e vai crescendo. É imporREVISTA CIDADE VERDE | 22 DE JULHO, 2018 | 9


tante que a família tenha presente que o processo de aprendizagem é gradual e cada um tem o seu tempo, o seu contexto e as suas virtudes. E a educação tem de contemplar isso. A nova BNCC, com todo o debate que há em torno da politização da educação, traz uma preocupação em formar habilidades, de desenvolver conhecimentos e competências. Então, há um movimento da formação integral e isso é importante. Mas, por outro lado, há uma tendência de criar aqueles que são os melhores. Nunca serão os melhores.

É preocupante ver crianças com uma agenda como se fossem o presidente de uma empresa multinacional, com um nível de ansiedade, de doenças, próprio de um adulto.

RCV – Qual a sua visão de um aluno bem-sucedido? VZ – Um aluno bem-sucedido, para

idade, o que é natural e nos deixa tranquilos. Agora, um pai imaturo que não consegue ser o adulto da relação é muito complicado porque você acaba tendo uma inversão de papéis. Nesse sentido, o que nós teríamos de ter: pessoas maduras e equilibradas, com cada uma respondendo e reagindo conforme a fase da sua vida. Hoje, vemos crianças com uma sobrecarga muito grande de adultos. É preocupante ver crianças com uma agenda como se fossem o presidente de uma empresa multinacional, com um nível de ansiedade, de doenças próprio de um adulto, como também pais que querem que o filho viva seu sonho. O pai tem de possibilitar que o filho descubra e construa o sonho dele. Toda vez que uma família projeta um sonho de futuro para o filho, a possibilidade de frustração, principalmente do jovem, é grande.

mim, é aquele que consegue desenvolver o máximo das suas competências e habilidades. É aquele que aprende a conhecer a si, o seu entorno, e que possa ter uma incidência positiva em tudo que ele fizer e onde ele estiver. O aluno bem-sucedido não é aquele que tem os resultados acima dos outros, mas aquele que, cada vez mais, se conhece e está realizado e satisfeito com o que é e busca ser mais.

RCV – Na sua experiência como educador, quem dá mais trabalho: os alunos ou os pais dos alunos? VZ – O que me preocupa é que, mui-

tas vezes, você encontra alunos imaturos e pais imaturos. O que é um aluno imaturo? É aquele que vem com um nível de preocupação de adultos. E um pai imaturo é aquele que vem com um nível de preocupação de criança ou de adolescente. Um aluno maduro vai te gerar preocupações da própria dinâmica da 10 | 22 DE JULHO, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE

RCV – Esta poderia ser uma das explicações para o alto índice de suicídios entre jovens em Teresina?

VZ – A gente põe cargas muito gran-

des sobre os jovens e promete, às vezes, soluções simples para a realização deles. Tem um filósofo que eu gosto muito, o Edgar Foster, que diz que o jovem tem de estar muito atento ao que venera. Se tu veneras o sucesso, sempre vai te sentir fracassado; se tu veneras o dinheiro, sempre vai te sentir pobre; se tu veneras a beleza, sempre vai te sentir feio. Se tu coloca que, ao atingir uma meta, serás feliz, não vai conseguir. Daí, vem a decepção, a frustração. Isso é negar a vida, porque se tu estás vivendo o sonho de outro, vai chegar o momento em que tu vais ter de sair. E há um elemento também preocupante da nova mentalidade dessa sociedade líquida: é que o pessoal aprende a deletar e excluir tudo com muita facilidade. E quando se trata da tua existência, vai chegar um momento em que você diz: eu não quero, porque a carga é muito grande.

RCV – Como inserir temas como inteligência emocional, sociabilidade e compaixão em uma agenda extremamente sobrecarregada de disciplinas técnicas, com excesso de provas e tarefas? VZ – Uma instituição educacional

precisa trabalhar muito a interdisciplinaridade, respeitar o tempo da criança e do jovem e perceber que o foco principal é o sujeito que está aprendendo. E deixar que a criança aprenda no tempo e na forma dela. Nesse sentido, as salas de aula passam a ser secundárias. A escola, a cidade, tudo se torna um lugar privilegiado de aprendizagem. Os professores devem ser, mais do que


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