Revista Cidade Verde 184

Page 1


HOUS PUBLIC


SE D1 CIDADE


Índice 48

08

Capa: Mulheres no comando

Páginas Verdes Luiz Ayrton

34

60

Sem descer do salto

Pérola Negra

44. Industria

08. Páginas Verdes Luiz Ayrton Santos concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão

66. Comércio Piauí 68. Sob medida

40. Economia e Negócios Jordana Cury

14. Fiscalização vigiada

72. Por que elas sofrem mais com dor de cabeça?

76. Tecnologia Marcos Sávio

78. Uma estrela em campo

82. Passeio Cultural Eneas Barros

20. A política ainda não é para mulheres 26. Tempo de conversão

18. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

86. Perfil Péricles Mendel

30. Sementes no prato

Articulistas 29

Cecília Mendes

42

COLUNAS

05. Editorial

Zózimo Tavares


foto Manuel Soares

O que querem as mulheres? Eis uma pergunta sempre presente no universo masculino. O austríaco Sigmund Freud, pai da psicanálise, chegou a dizer que, apesar dos seus trinta anos de pesquisa sobre a alma feminina, não era capaz de respondê-la. Ao longo dos anos, os desejos femininos foram ganhando novas cores e contornos, incluindo aí o direito de votar, o acesso ao mercado de trabalho, salários justos, liberdade, enfim, uma pauta que vai mudando de acordo com a evolução da sociedade. No entanto, lá no fundo, a resposta é sempre a mesma. O que as mulheres querem, e têm direito de exigir, é respeito. Respeito para abraçar a profissão que desejam seguir, respeito ao seu corpo, respeito aos seus direitos como ser humano, independente do gênero. Em 2018, em pleno século XXI, alguns desses direitos ainda precisam ser reivindicados em alto e bom som, como na campanha que viralizou no carnaval, com o slogan “não é não”, para barrar o assédio sexual. Neste mês dedicado a elas, a Revista Cidade Verde circula com um caderno especial apresentando reportagens que tratam de saúde, estética, carreira, política, esporte e moda. Diferentes abordagens sobre questões que fazem parte do dia a dia das mulheres, famosas ou anônimas.

É o caso da cefaleia, a famosa dor de cabeça que, ao contrário do que muitos homens pensam, não é apenas uma desculpa da mulher para ficar quieta em seu canto. A ciência comprova que, realmente, as mulheres sofrem mais com a doença do que os homens, devido às alterações de hormônios registradas ao longo do mês. E apesar de sofrer com os transtornos hormonais, elas conseguem trabalhar em diferentes atividades profissionais, mostrando brilho e competência. Algumas no comando de organizações complexas, exercendo a função de líderes, com desenvoltura, sensibilidade e firmeza. Sim, porque, quando necessário, as chefes levantam a voz e mostram quem está no controle da situação. Infelizmente, não se pode dizer o mesmo quando o assunto é política. Nesse campo, ainda impera o machismo, como mostra a reportagem assinada pelo jornalista Fenelon Rocha, que retrata a evolução, bastante tímida, da participação feminina nas urnas. Um caminho que precisa ser conquistado para que, espera-se, sejam implantadas leis e políticas públicas mais justas. Cláudia Brandão Editora-chefe

REVISTA CIDADE VERDE | 4 DE MARÇO, 2018 | 5


HOUS PUBLIC


SE D2 CIDADE


Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Luiz Ayrton Santos

claudiabrandao@cidadeverde.com

O futuro é promissor Para o mastologista Luiz Ayrton Santos, apesar das dificuldades enfrentadas hoje pelas mulheres, o futuro promete grandes novidades no diagnóstico e tratamento do câncer de mama.

foto Wilson Filho

O diagnóstico do câncer de mama ainda é assustador para as mulheres. Apesar de todas as campanhas de prevenção, a doença continua se alastrando no mundo inteiro. Aqui no Brasil, a estimativa , segundo o Instituto Nacional do Câncer, é de 59 mil novos casos para este ano. Uma estatística assustadora. A boa notícia é que os avanços, tanto no diagnóstico quanto no tratamento, não param de crescer. Com a experiência acumulada de 33 anos de medicina, o mastologista Luiz Ayrton Santos Júnior é otimista com relação ao futuro. Nesta entrevista, o médico que criou e preside a Fundação Maria Carvalho Santos fala das novidades da ciência no combate à doença e da importância de movimentos como o Outubro Rosa.

RCV – Por que, mesmo depois de tantas campanhas educativas, o câncer de mama ainda tem uma incidência tão alta entre as mulheres? LA – Eu não tenho dúvida que dois fenômenos aconteceram no mundo em relação ao passado. Primeiro, a industrialização baseada nesses

8 | 4 DE MARÇO, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE


produtos químicos que geram risco à nossa vida. Eles solucionaram o problema da fome no mundo, mas trouxeram agrotóxicos, amiantos, o próprio cigarro, plásticos, todos os produtos que terminam em ‘antes’, e que são suspeitos – corantes, acidulantes, conservantes, aromatizantes. Todos eles aumentam nosso risco, produzindo grande quantidade de lixo. Então, a gente tem o lixo e esses produtos que entraram na nossa vida sem pedir licença, deixando a entender que eles estão ligados a uma solução para nós, mas não se pensou nas consequências deles. E tudo tem um custo.

RCV – O estilo de vida moderna adotado pela mulher, que inclui estresse, ansiedade, insônia, gravidez tardia, também contribui para o aumento do número de casos de câncer? LA – Sim. Tudo que for impactar so-

bre a modificação de hábitos vai ter um custo. Isso a gente tem que ter como princípio. Então, esses exemplos que você citou são a nossa modernidade. Nós podemos viver com tudo isso, apenas temos de saber as consequências do excesso disso tudo. A cura é muito impactante na nossa vida, tanto para o cientista, como para os médicos e também para os pacientes. A gente quer a cura a qualquer custo. Mas a prevenção, um olhar sobre o meio ambiente, o que nós estamos fazendo com esse planeta pode nos dar a resposta sobre a cura do câncer, porque aí está a verdadeira prevenção. Eu cito o exemplo

O câncer de mama é curável em 95% das vezes, se for diagnosticado no início. do canudo.Eu preciso usá-lo? Não. E hoje ele ainda vem embrulhado em mais um pedacinho de plástico. Mas só quem precisa de canudo são as pessoas que têm dificuldade de deglutição. O plástico é útil à nossa vida, mas precisamos saber como usá-lo. A população produz um lixo desnecessário e contamina o meio ambiente. Os bodes do Piauí comem plástico e nós comemos o bode. A gente precisa ter uma consciência maior.

RCV – Por falar em produtos nocivos, circula na internet a informação de que determinado produto utilizado no desodorante poderia causar câncer de mama. Isso é só mito ou tem algum fundo de verdade? LA – Eu chamo atenção para o fato

de que a cura do câncer não vai vir no seu WhatsApp. Ela vai ser informada em um congresso médico, por médicos e cientistas. Quantas vezes já mataram nossos artistas pela internet, apesar de eles continuarem vivos? A internet é fonte de informação ruim.

RCV – O exame da mamografia ajuda no diagnóstico precoce de mama, que é decisivo para o sucesso do tratamento. Mas ele já se tornou acessível para as pacientes do SUS? LA – Não, pra você ter uma ideia,

nós temos aproximadamente 41% de cobertura mamográfica a cada dois anos no Piauí, no universo daquelas mulheres que estavam previstas para fazer o exame. O que a gente deseja é que este percentual seja alcançado a cada ano. Nós estamos dando uma cobertura de apenas 20%. E a cobertura do Estado é bem menor que a de Teresina. O que salva o Piauí ainda é a cobertura da capital. Então, imagine os grotões piauienses. Nós podemos encontrar uma mulher com câncer em fase terminal que nunca teve uma assistência médica no Piauí de hoje.

RCV – Quando o tumor é diagnosticado precocemente, qual a taxa de cura para o C.A. de mama? LA – O câncer de mama é curável

em 95% das vezes, se for diagnosticado no início. E você também gasta menos no tratamento das pacientes. Se você institui, por exemplo, uma cirurgia que possa retirar o tecido glandular, que é a parte da mama onde nasce o câncer, você tem uma resposta sobre isso. Cirurgia como a da atriz Angelina Jolie, por exemplo, que não é novidade, repercutiu no mundo todo. Mas uma simples plástica de mama já é uma oportunidade do controle do câncer de mama. Quando você tira o tecido glandular REVISTA CIDADE VERDE | 4 DE MARÇO, 2018 | 9


e reconstrói, ou faz a plástica, com gordura, peles ou outros tecidos, já melhora, porque o câncer não nasce na gordura, mas na glândula.

RCV – E por falar em cirurgia mamária, a prótese de silicone pode dificultar o diagnóstico do câncer de mama? LA – Os primeiros profissionais a

colocar prótese de silicone foram os cirurgiões plásticos. Eles colocavam dentro da mama. A maioria das mulheres tem cicatriz na pele areolar. Depois, outros profissionais começaram a estudar essa área, e os mastologistas estão incluídos nisso, e perceberam que a prótese não tem impacto sobre a saúde da mama, desde que a prótese fique embaixo da mama. Então, você tem pele, mama, prótese, músculo e costela, nessa ordem. Quando o tecido mamário fica por trás da prótese, se ele desenvolve um câncer, a gente tem dificuldade de diagnóstico, porque aí pode não ser apalpado e pode não ser visto nos exames de rotina. Mas hoje a prótese é colocada de forma a empurrar a mama pra cima, facilitando a apalpação e o diagnóstico. Existe uma ínfima possibilidade de a prótese dar uma doença nas mulheres, um linfoma, que é um provável câncer gerado por uma prótese. Ele é extremamente raro, portanto não podemos pensar nisso como um problema.

RCV – Mulheres que já tiveram um câncer de mama podem amamentar no futuro? LA – Podem e devem, porque a amamentação protege a mama. Tudo que você fizer para diminuir o tecido

10 | 4 DE MARÇO, 2018 | REVISTA CIDADE VERDE

O Brasil tem 59 mil casos para este ano e 14 mil mulheres ainda vão morrer, vítimas da doença. No Piauí, são 38 casos por 100 mil mulheres /ano. glandular na mama ajuda no controle da doença. A amamentação é um desses casos. Uma mulher que amamenta vinte filhos, por exemplo, a cada amamentação, ela diminui o número de glândulas. Já uma mulher que utiliza hormônio estimula o tecido glandular.

RCV – Além do tratamento estritamente médico, qual o impacto do suporte psicológico e espiritual para mulheres que estão enfrentando um câncer? LA – Todo o apoio psicológico é ne-

cessário. É preciso que a população entenda que, assim como nós adoecemos dos nossos órgãos, também adoecemos da mente. A manifestação da doença da mente pode ser uma má reação às adversidades da vida e, quando você é submetido a um trauma que impacta sobre sua vida, o apoio psicológico é fundamental.

RCV – Quais são as chances de recidiva em um tumor mamário? LA – O câncer de mama está extrema-

mente ligado ao seu estadiamento e ao fator de defesa do próprio organismo. Se você pega uma mulher que tem um tumor inicial pequeno, a chance de tratar é maior e a chance de a doença voltar depois do tratamento é menor. Um tumor de dois centímetros, por exemplo, é muito mais fácil de voltar do que um tumor de 0,3 cm. Um tumor grande exige até uma cirurgia mais radical para extrair a mama inteira, no tumor pequeno você pode tirar apenas um pedaço da mama.

RCV – Como surgiu a Fundação Maria Carvalho Santos? LA – Quando eu era estudante de me-

dicina em São Paulo, eu conheci uma judia alemã, chamada Helga Flatauer, que foi uma das minhas inspiradoras, e eu descobri o trabalho que ela fazia no Hospital Albert Einstein. Com um carrinho de mão, ela ia de sala em sala vendendo lanche e, com esse dinheiro, fazia próteses e dava para as mulheres. Ela havia recebido o diagnóstico de câncer em 1981 e foi um caso bem emblemático para aquela época. Ela estava no centro cirúrgico para tirar um caroço, o cirurgião percebeu que era um câncer e chamou o marido para perguntar se tirava ou não o seio. O marido decidiu por ela e, quando ela acordou, estava mastectomizada ( havia extraído a mama). Depois, ela trouxe a experiência de um projeto desenvolvido em Nova York e introduziu no Brasil, do qual eu me tornei voluntário. Em 1991, eu talvez tenha feito o maior congresso da minha


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.