Revista Cidade Verde 163

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CLAU PUBLIC


UDINO CIDADE


Índice Capa

A ameaça da baleia azul chega ao Piauí

Páginas Verdes José Arimatéia Dantas

5. Editorial 08. Páginas Verdes José Arimatéia Dantas concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 15. Palavra do leitor 16. Indústria 34. Sem recursos, Luz para Todos deixa 20 mil famílias no escuro 38. 10 escândalos que abalaram o Brasil

Articulistas 14

Jeane Melo

08

22

Obra parada atrasa saneamento

30

Estradas que matam

COLUNAS

48

56. O perfil do trabalhador piauiense

20. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

62. As mudanças aprovadas na aposentadoria

28. Economia e Negócios Jordana Cury

66. Trombose causada por anticoncepcional

36. Tecnologia Marcos Sávio

70. O perigo escondido no aparelho de ar condicionado 74. Caminhada da Fraternidade terá novo percurso este ano 80. Livro destaca a importância da regionalização da mídia

77

Fonseca Neto

61. Chão Batido Cineas Santos 82. Playlist Rayldo Pereira 84. Perfil Péricles Mendel

90

Tony Batista


foto Manuel Soares

O perigo que vem das redes Vez por outra, surgem modismos e ondas que costumam influenciar as pessoas, sobretudo os adolescentes, ainda em fase de formação. Agora, uma dessas ondas vem sob a forma de perigosa ameaça à saúde e à própria vida de meninos e meninas no mundo inteiro. Trata-se do desafio assustador disseminado pelas redes sociais com o inocente nome de Baleia Azul. Não é um jogo, como alguns sugerem. É uma ameaça velada, disparada por pessoas maquiavélicas que se aproveitam da fragilidade dos adolescentes para atormentá-los até a morte. Segundo se sabe, o suposto desafio surgiu na Rússia e, rapidamente, disseminou-se por outros países, chegando ao Brasil e, também, ao Piauí. Funciona da seguinte maneira: alguém se faz passar por um “curador” e começa a ditar castigos e tarefas penosas aos jovens. Provas aterrorizantes e cada vez mais complexas que vão enredando as vítimas em um círculo macabro de atividades, culminando com o fim da própria vida. É comum que os participantes desse desafio automutilem-se, cortando braços, mãos e pernas com lâminas. O quadro é devastador. Aos poucos, os adolescentes que se deixam levar pelo tal curador começam a apresentar um comportamento diferente, isolando-se dos grupos sociais e até mesmo da família. O rendimento escolar também fica comprometido. A última tarefa da Baleia Azul é o suicídio.

Em todo o Brasil, as autoridades estão preocupadas com o avanço dessa temeridade. O Ministro da Justiça, Osmar Serraglio, determinou que a Polícia Federal investigue as ações da Baleia Azul, após apelos feitos pelo prefeito de Curitiba, Rafael Greca, e por parlamentares dos estados mais afetados pelo problema, como Paraná, Minas Gerais, Pernambuco, Maranhão e Amazonas. Aqui no Piauí, a primeira resposta veio das escolas. Preocupados com o que poderia acontecer com seus alunos, alguns colégios de Teresina começaram a trabalhar preventivamente, realizando palestras sobre o tema e enviando cartas aos pais com orientações sobre como observar os filhos e conversar com eles. No último dia 11, o Ministério Público do Piauí promoveu uma palestra, dentro da Roda de Diálogos do MP, sobre o mesmo tema. Nós, da Revista Cidade Verde, resolvemos abordar o assunto dentro da ótica profissional de psicólogos e pedagogos para contribuir com essa discussão, que não pode ser ignorada, mas tratada abertamente para evitar que os jovens entrem nessa ciranda autodestrutiva, com prejuízos físicos e emocionais para eles e para toda a família. Cláudia Brandão Editora-chefe

REVISTA CIDADE VERDE | 14 DE MAIO, 2017 | 5


HOUS PUBLIC


SE D1 CIDADE


Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

José Arimatéia Dantas

claudiabrandao@cidadeverde.com

Derrubando os muros da UFPI A Universidade Federal do Piauí é uma instituição de números gigantescos. Se comparada a uma cidade piauiense, seria a sexta maior, levando em conta o tamanho da população. O reitor José Arimatéia Dantas administra um orçamento de R$ 775,8 milhões (2017). Boa parte desses recursos (R$ 500,9 milhões) é destinada ao pagamento de pessoal. O que sobra para investimentos é pouco e, ainda assim, esse dinheiro vem sendo contingenciado nos últimos dois anos. A crise financeira atingiu em cheio a Universidade, que tem procurado economizar de todas as maneiras para manter em funcionamento os seus cursos, programas e núcleos de pesquisa. Apesar disso, o reitor é otimista e não perde o entusiasmo ao falar da expansão dos cursos, especialmente os de pós-graduação. Hoje, a UFPI conta com 42 cursos de mestrado e 10 de doutorado. Nesta entrevista à Revista Cidade Verde, o reitor, que é formado em Farmácia e Química, e é doutor em Química pela Unicamp, fala das dificuldades provocadas pela crise econômica e dos projetos para aproximar a universidade da comunidade. Ele desta8 | 14 DE MAIO, 2017 | REVISTA CIDADE VERDE

foto Wilson Filho

O reitor José Arimatéia Dantas costuma dizer que está derrubando os muros acadêmicos para aproximar a instituição cada vez mais da comunidade. Muitos projetos, no entanto, estão esbarrando na falta de recursos.


ca que pretende implantar um novo modelo de ensino, voltado para o empreendedorismo dos alunos.

RCV – Como a UFPI está administrando a crise financeira para não comprometer a qualidade dos cursos e programas desenvolvidos pela instituição? AD – Sem dúvida, todas as universidades estão sendo afetadas por esta crise, e a UFPI não ficou de fora. No entanto, nós temos feito um trabalho que tem resultado no menor impacto possível da crise dentro da universidade, tanto que a comunidade acadêmica praticamente não tem percebido os efeitos dela aqui. Todas as obras em andamento estão com orçamento 100% empenhado, e fechamos o ano sem nenhuma dívida.

RCV – E como isso tem sido possível? AD – Com uma administração “pé

no chão”, sem dar passos maiores do que nós podemos dar. Por exemplo, nós não licitamos nenhuma obra que não tivesse orçamento garantido naquele ano. Então, nós tivemos todo cuidado para que não assumíssemos compromissos que não pudessem ser honrados. E fizemos alguns cortes. Nós passamos um ano sem telefone celular institucional. Essa medida incluiu o reitor e todos os pró-reitores e gerou uma economia significativa porque, quando nós assumimos, havia uma quantidade razoável de celulares. Depois de um ano totalmente sem telefone, eu reduzi agora o aparelho apenas para o reitor, pró-reitores, chefe de

Nós temos alunos do século XXI assistindo a aulas do século XX. Então, nós precisamos realmente avançar.

gabinete, segurança e superintendência, e, ainda assim, com crédito limitado. No caso do reitor, o crédito é de R$ 300 por mês; e nos demais, R$ 200. Também cortamos alguns telefones fixos que tinham autonomia para ligar para celular. Pra você ter ideia, só na telefonia nós economizamos quase R$ 1 milhão em um ano. Procuramos cortar aquilo que não refletia no dia a dia da comunidade e que trazia economia para a instituição, para utilizar esse recurso na atividade-fim.

RCV – Diante dessa dificuldade econômica, a UFPI tem conseguido manter atualizados os laboratórios e as bibliotecas? AD – Nós temos conseguido adqui-

rir equipamentos, mas nunca vamos ficar atualizados 100%, porque sempre há novidades, sempre há novas demandas. Além disso, tivemos alguns cursos novos que foram criados, especialmente na área de engenharia, e nós temos que comprar os equipamentos agora. Então, nós temos alguns déficits de equipamen-

tos, mas com estrutura suficiente para uma boa qualidade de ensino, tanto de graduação quanto de pós.

RCV – Qual o impacto dessa recessão nos núcleos de pesquisa da universidade? AD - Além da questão orçamentária,

que nós administramos, há também os recursos que vêm de fora, de outras fontes, dos órgãos de fomento. Esses foram reduzidos e, realmente, estão impactando nos trabalhos de pesquisa e nas atividades de pós-graduação. Tivemos redução de bolsas, de recursos do programa de apoio à pós-graduação, e nós não temos como compensar tudo isso com nosso próprio orçamento, que já foi diminuído também. Estamos, de fato, passando por um momento de dificuldade, apesar de termos tido um avanço muito grande na pós-graduação da universidade. Hoje, nós temos 42 cursos de mestrado e 10 de doutorado. Mas teremos dificuldade de continuar com essa expansão por escassez de recursos. Esperamos que essa crise seja temporária.

RCV – Os programas de expansão também foram prejudicados? AD – Também. Este ano, por exem-

plo, ainda não saíram os recursos do Proext, que é um programa de apoio à extensão. Isso tem feito com que o financiamento dos programas de extensão tenha sido menor, embora nós continuemos com um trabalho junto à comunidade, com um número significativo de ações. REVISTA CIDADE VERDE | 14 DE MAIO, 2017 | 9


RCV – Diante dessas dificuldades, como a UFPI vem mantendo o contato com a comunidade? AD – Desde que nós assumimos a

reitoria, eu costumo dizer que nós derrubamos os muros e construímos as pontes. Primeiro, internamente, entre a reitoria e a comunidade acadêmica. Hoje, existe uma relação muito boa entre a reitoria e os servidores, sindicatos, DCE (Diretório Central dos Estudantes). Além de refazer essas pontes com a comunidade interna, nós procuramos também fazer isso com a comunidade externa, por meio de convênios e parcerias com diversos órgãos públicos e privados, fazendo com que a UFPI esteja mais presente fora dos seus muros, e captando recursos para nossas atividades. Trouxemos alguns eventos para dentro da universidade, como o SALIPI (Salão do Livro do Piauí).

RCV – Apesar dessa tentativa de “construir pontes”, no ano passado, um grupo de alunos invadiu a reitoria e ocupou o salão por vários dias. A polarização política no país está dificultando o diálogo com alunos e professores? AD - Aquela ocupação foi um caso

pontual, que estava inserido no contexto nacional. E nós conduzimos de forma dialógica. A ocupação durou um mês até a votação da PEC do teto dos gastos, que era a principal causa do protesto. Nós fizemos um acordo na Justiça Federal para garantir a desocupação dos espaços da reitoria em troca de um auditório até o dia da votação. Depois, eles ocuparam de forma pacífica e nós não tivemos

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Antigamente, a universidade formava pessoas para serem empregadas. Hoje, o foco é formar para serem empreendedoras.

nenhum confronto. Fomos criticados por alguns, que diziam não haver comando na universidade, mas eu acho exatamente o contrário. Usar a força é a coisa mais fácil que há; o interessante é você conseguir enfrentar a dificuldade na base do diálogo, como nós fizemos. Não perdemos o contato com nenhum dos segmentos da universidade.

RCV – Nas últimas décadas, as greves de professores e servidores passaram a fazer parte do calendário letivo da universidade. Isso arranha a imagem das instituições públicas de ensino superior? AD – Sem dúvida, houve uma época

em que nós tínhamos praticamente uma greve por ano. Passamos um período em que esses movimentos diminuíram. Agora, estamos por conta das circunstâncias, do quadro político e econômico atual. Algumas pessoas tentaram usar isso para macular a imagem das instituições públicas, mas eu acredito que, no fundo, isso não deva acontecer, porque nós não tivemos perda de período letivo — só uma vez, há muito tempo atrás. Nós temos conseguido su-

perar as dificuldades para que não haja perda de período. Agora mesmo, tivemos paralisações diferenciadas em diversos campi, como Picos, Bom Jesus e em alguns cursos de Teresina. E o que nós fizemos? Acrescentamos alguns dias letivos ao calendário para que, naqueles lugares onde houve paralisação, pudesse haver o ajuste. Nós temos conseguido trabalhar para que esses movimentos não afetem tanto a vida acadêmica dos nossos estudantes.

RCV – O modelo de ensino desenvolvido hoje na UFPI está preparando os alunos para a realidade do mercado de trabalho lá fora ou ainda é centrado apenas na teoria? AD – Nós já começamos a mudar

isso. Nós temos alunos do século XXI assistindo a aulas do século XX. Então, nós precisamos realmente avançar e aprimorar essa relação com os estudantes, para motivá-los em sala de aula. Mas já aconteceram algumas mudanças, no sentido de que haja o entendimento de que, antigamente, a universidade formava pessoas para serem empregadas. Hoje, o foco é formar para serem empreendedoras. E isso nós estamos começando a fazer, ainda de forma incipiente. Precisamos crescer muito. Eu nomeei agora a nova coordenadora de Desenvolvimento do Ensino e já conversei com ela sobre um indicador que não nos agrada, que é a taxa de sucesso: a relação entre a quantidade de alunos que saem e que entram na universidade, que, em média, está em torno de 60%. É algo preocupante, que leva em conta o alto índice de evasão e de reprovação.


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