Livro zero 7

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IV. O desejo do analista opera como causa Este desejo, posto assim em jogo, lhe deu um tremendo impulso analítico: começou a operar como poderosa causa, começou a causar a análise. Àquela mesma época encontra-se com uma mulher de uns cinquenta e seis anos, que fora sua empregada e era presa de uma marcada depressão, quase uma melancolia, e lhe diz para ir ao seu consultório, coisa que não tinha. Seu segundo analista tinha seu consultório no estúdio de seu apartamento, pelo qual lhe resultou natural acondicionar assim o seu próprio. Duas poltronas, um sofá convertido em divã, uma mesinha e uma grande janela de lindo panorama conformaram seu improvisado dispositivo. O melhor que pôde, agora a plena consciência e sob supervisão, começou a exercer como analista. Pouco a pouco foram chegando novos pacientes. Uns meses depois a analista responde ao emergente e sustido desejo do analisante recém-tornado analista com um movimento dialético. Diz-lhe que torcia pela chegada de um novo paciente para encaminhá-lo. Respondeu com o silêncio, mas sem contar o impacto subjetivo e o poderoso impulso que lhe deu, com todas as dúvidas imagináveis: Falaria sério? Ou dizia só para estimular-me? Me estará enganando/provocando? As formações do inconsciente não se fizeram esperar, refletindo a aceleração do trabalho do inconsciente e anunciando a resolução da análise. •

Uma fantasia ou sonho diurno. Está em sua casa, no cair da noite, fazendo exercícios. Refletem-se no vidro de uma janela em frente a ele umas sombras na tênue luz que vem da sala, posicionada atrás dele. Umas sombras que o veem. São sua mãe (severa), e seu pai (benévolo). São os dois. Afastam-se. Interpretação: uma tentativa de síntese das figuras paterna e materna dentro de si.

Sonho da caneta (la penna) no fundo da piscina. Sonha com uma piscina profunda. Cai a caneta e deve buscá-la na água, que deveria estar suja (e lhe dar asco), mas na verdade está limpa e cristalina. Há no fundo um desaguamento “ao alcance de sua mão”. Caneta, pluma, pen, pene, penna, pena… Interpretação: o erotismo (penna- pênis) e o trabalho (penna-caneta) estão ao seu alcance, é ele quem os mantém afastados, inacessíveis.

Articulação do passe e o fim da análise: marcos e atos

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