Revista aresta - 2ª edição

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Arquitetura para quem? Cameron Sinclair, fundador da organização Arquitetura para Humanidade, em entrevista afirma terse tornado arquiteto por engano. Em meio ao espaço acadêmico encontrouse na obrigação de aprender a projetar museus e galerias de arte, mas não a como mobilizar comunidades e transformar ambientes. É nesse espaço reducionista, de uma arquitetura des nada às camadas sociais de alta renda, que muitos arquitetos e urbanistas se veem predes nados a trabalhar. Com o intuito de se produzir edi cios icônicos, o significado de sucesso passou a ser a possibilidade de se construir joias isoladas em meio a cidade, enquanto na verdade o ideal seria antes saber lapidar todo o resto. O rumo pelo qual a arquitetura tem trilhado nos úl mos anos, acaba em um campo de atuação extremamente reduzido, levando estudantes e profissionais a um distanciamento da realidade urbana. Daí temos um ques onamento a fazer: estamos pensando e fazendo uma arquitetura para quem? Existe uma outra face da arquitetura e do urbanismo, que apesar de menos celebrada e evidente nas grandes mídias, trata-se de algo de grande importância em um país onde quase metade da população não tem acesso à casa própria, quanto menos a uma arquitetura digna. Nessa esfera, o arquiteto não é capa de revista, mas

trabalha junto à sociedade, e não alheio a ela. Aqui iremos ver arquitetos e escritórios que buscam conceber projetos para além da arquitetura como objeto, arquitetos que buscam não priorizar o edi cio, mas sim o espaço como um todo de determinada comunidade, que é onde a vida acontece. No mais, propomos aqui reflexões que revejam a ideia por trás do endeusamento do arquiteto que acredita que ‘‘ ... um croqui, uma frase de efeito e uma bela assinatura é o suficiente para exemplificar uma boa arquitetura ’’ ¹. Serão discussões sobre essa temá ca que a Revista Aresta propõe nessa 2 edição. Envolvendo questões sobre Lei da assistência técnica, destaque para produção de arquitetos como Júlia King, Alejandro Aravena, Terra e Tuma bem como a experiência d o p ro j eto U S I N A . A l é m d i s s o, queremos dividir com vocês um breve panorama do que rolou no Prosa, e o que está acontecendo de eventos por aí no país. A equipe Aresta deseja uma boa leitura com direito a boas reflexões nas salas de aulas, corredores, pra dentro e fora dos muros da universidade! 1 WHITAKER. João Se e. Perspec vas e desafios para o jovem arquiteto no Brasil. Julho/2011 Tainara Diniz - UEG Arquitetura e Urbanismo - 8° período. 1


nada mais nada menos

Imagine-se nessa seguinte situação: um cliente chega em seu escritório e pede um projeto de uma bancada. Você, arquiteto capacitado inicia com um levantamento de dados, cálculos de resistência da bancada, pega 1 ou 2 estudos de casos, faz um estudo preliminar, espera a aprovação do cliente, parte para o projeto exe c u vo, d e d i c a - s e a o d e ta l h a m e n to constru vo, apresenta o orçamento e por fim, o cliente, em meio a todo esse processo, o que queria era apenas uma bancada. Essa foi a maneira que os arquitetos Danilo Terra, Pedro Tuma e Fernanda Sakano, integrantes do escritório Terra e Tuma, introduziram algumas grandes reflexões presentes na Aula Magna promovida pelo CAU/GO em março deste ano. I n i c i a n d o u m d e b ate a c e rca d a importância ou não do desenho nas rigorosas etapas de projeto e da relação da arquitetura com a arte, os arquitetos apresentaram o projeto que ganhou o prêmio internacional de prédio do ano na categoria residências pelo site Archdaily. A Casa da Vila Ma lde. A casa da Dona Dalva. A casa aclamada pela publicidade por ser a prova de que a boa arquitetura pode ser acessível a todos. Assim como o hipoté co cliente acima, o que Dona Dalva queria era apenas uma casa. Não uma obra de arte, uma casa. E assim o foi. Com um projeto de apenas 2 folhas, u lizando estrutura de blocos aparentes, gerando um baixo custo, maior segurança quanto ao método constru vo e agilidade, a casa de solução simples atendeu aos anseios da cliente na proporção do que ela precisava. Nada mais. Nada menos. Não quero aqui me perder em detalhes técnicos do projeto, os quais podem facilmente ser encontrados no site oficial do escritório. Vamos nos atentar aos novos ventos que o 2


sucesso desse projeto parece ter anunciado. Segundo Danilo Terra “essa ideia de que nós, futuros arquitetos, somos especiais, ar stas, seres incompreendidos, levando-nos a uma possível frustração, revela apenas o nosso distanciamento com a sociedade que é como é. Se você quer trocar a sociedade, troque. Mas saiba que você é que está perdendo. ” Daí vem esse anseio de muitas vezes querermos sair da facilidade querendo projetar grandes aeroportos e museus, desvirtuando-se da ideia de que a arquitetura é feita para que nela aconteçam coisas, e não para que seja ela o acontecimento.¹ Foi esse o raciocínio u lizado na casa da vila Ma lde. Um projeto que a ngiu uma proporção enorme, mesmo sem possuir um desenho virtuoso e com um orçamento limitado a 150 mil reais. Uma casa para uma domés ca, de classe média que exemplifica a situação financeira de grande parte da população brasileira. “Dona Dalva nha um problema e resolvemos esse problema”, ressalta Danilo Terra. Não arriscar em novos sistemas constru vos nem inventar modismos. Resolver apenas o que era para ser resolvido. Enfim, um projeto que revelou a necessidade que a arquitetura tem de ser o que é pedido. Arquitetura que é o que é. Nesse caso, ser apenas o lar de Dona Dalva. Informações do projeto Arquitetura: Terra e Tuma Arquitetos Danilo Terra, Pedro Tuma e Fernanda Sakano Bruna Hashimoto, Giulia Sofia Galante, Jéssica Zanini, Lucas Miilher, Zeno Muica Paisagismo: Gabriella Ornaghi Arquitetura da Paisagem Estrutura: Megalos Engenharia Construção: Valdionor Andrade de Carvalho e equipe 1 CAPELA, José. Arquitectura pela Arquitectura (Laca- ton et Vassal: Mode d’Emploi). Tainara Diniz - UEG Arquitetura e Urbanismo - 8° período. 3


Não é só arquitetura para todos

inglês para Arquitetura para as Mudanças Rápidas e Recursos Escassos) se mudou para a Índia onde ingenuamente esperava construir habitações de interesse social. Chegando lá, logo percebeu que em primeiro lugar aquele povo não precisava de casas, pois isso eles s a b i a m fa ze r, e ra m e s p e c i a l i sta s e m construção. A necessidade primordial ali era o saneamento básico, redes de esgoto. O que deveria ser feito não era o que normalmente se vê por arquitetura, mas algo que está num campo mais amplo dessa visão. Em parceria com a ONG CURE(sigla em inglês para Centro para Excelência Urbana e Regional) começou então a trabalhar em prol do desenvolvimento do saneamento básico em favelas próximas a região do Taj Mahal. Desde então já realizou vários projetos, alguns acabaram sendo 4


habitações, mas a grande maioria foram esses projetos de saneamento. Dessa experiência de Júlia King podemos rar uma grande lição, quando pensamos em arquitetura para todos devemos primeiramente nos ques onar sobre como deve ser essa arquitetura, como deve ser sua forma de atuação nos diferentes âmbitos da sociedade e como ela vai a ngir a esses “todos”. Pois isso nos leva a entender que a arquitetura não deve e não vai atuar de uma mesma forma em todos os âmbitos sociais, cada camada, cada região e cada comunidade possuem demandas diferentes e

caracterís cas culturais e ambientais diferentes e no caso de King isso fica claro, por mais que ela tenha levado arquitetura para certa camada da população isso aconteceu de uma forma diferente do que ela imaginava, pois a demandas locais não eram as demandas que ela acreditava exis r. E se a arquitetura deve ser para todos, porque ela não a nge a todos? A demanda existe e isso fica claro quando olhamos para nossas próprias cidades, porém a profissão não tem suprido essa demanda. A causa disso pode estar no conjunto de diversas variáveis, desde a falta da divulgação da profissão até falta de interesse em fazer arquitetura fora dos padrões “capa de revista”. Fato é que arquitetos estão sendo formados por todo mundo e nem sempre estão percebendo que o leque de atuação que a profissão permite está muito além do que eles sonham para sua carreira, logo exemplos como o de Júlia King servem para es mular uma mudança nessa percepção. Le cia Freitas - UEG Arquitetura e Urbanismo - 7°período.

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O social elemental Os recentes programas des nados à habitação social apesar de sofrerem crí cas acerca de suas qualidades urbanas e espaciais, ainda se cons tuem como uma esperança a quem nunca teve condições de morar dignamente na cidade. A construção em massa desses conjuntos comumente financiada por recursos públicos, na maioria das vezes escassos, dependem de uma infinidade de prazos e limites que podem provocar restrições na cria vidade do arquiteto. No entanto, tais restrições podem ser vantajosas quando se passa a deixar de lado todo o supérfluo, valorizando os fatores elementares de uma boa habitação. O arquiteto chileno, Alejandro Aravena, líder do escritório Elemental é o recente ganhador do prêmio Pritzker e atual curador da 15ª edição da Bienal de Veneza. Seus projetos abrangem diferentes pos de classes sociais, mas sempre levando em consideração espaços públicos e estratégias sustentáveis para o maior aproveitamento de recursos naturais, além disso é um dos exemplos de como projetar para classes mais 6

desfavorecidas tendo como preocupação, além dos fatores arquitetônicos, a consideração com o bem estar e o modo de vida dos moradores. Antes mesmo do processo projetual começar, é realizado o que se denomina Design Par cipa vo, nele, a população o qual será des nada a habitação é convocada e em conjunto com os arquitetos, discutem as m e l h o r e s fo r m a s d e i n t e r v e n ç ã o . A necessidade em ouvir as demandas sociais é uma forma de intervir a vamente em toda a comunidade, comunicando as restrições existentes e ampliando a tomada das decisões para as famílias. O resultado é uma transferência de critérios e conhecimentos técnicos sobre o gênero da habitação que irão receber já que, nas palavras do arquiteto, “Par cipar é, antes de mais, informar”. O diferencial resultante dessa par cipação é um planejamento mais adequado ao po de moradores que além das


suas caracterís cas comuns apresentam ainda suas iden dades pessoais, iden dades estas ressaltadas na forma de Habitação Progressiva onde o morador recebe sua casa como “parte” construída, contendo todo o programa necessário, e parte vazia reservada para ampliação. Dessa forma, os moradores têm a vantagem de expressar sua iden dade e configurar a habitação de acordo com a necessidade pessoal de cada família. A racionalização das ampliações se dá pela repe ção das estruturas formais impedindo que essas alterações comprometam a qualidade arquitetônica do projeto, problema recorrente em projetos de habitação social. O escritório mostra que projetar pensando no social é pensar levando a

sociedade como preocupação inicial. Ideias simples mas eficazes se tornam preponderantes na hora de preferir as bases para a edificação, tal preferência também escolhida pelos moradores. Assim, a localização privilegiada dos conjuntos em grandes centros urbanos, a prévia consulta às famílias determinando suas necessidades básicas, assim como a flexibilização do espaço habitado mostra que, apesar de simples, a arquitetura depende de um público que busca respostas adequadas e necessárias a sua condição de vida, e nas palavras do arquiteto: “não há nada pior do que responder certo às perguntas erradas.” Matheus Amorim - UEG Arquitetura e Urbanismo - 7°período. 7


Muito se fala no papel social da arquitetura, mas de fato pouco se estuda sobre isso na universidade ou pouco se vê do assunto nas capas de revista. Certo é que a temá ca existe tornando-se extremamente necessária e precisa, além de ser extensivamente deba da, ser também executada. Podemos entender que a vontade por uma arquitetura de qualidade a todos surgiu junto aos CIAM’s (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna), onde consideravam a arquitetura um instrumento polí co e econômico, que deveria servir de ferramenta ao poder público para garan r uma melhoria social. Porém ao longo do tempo essa temá ca perdeu ênfase, resis ndo na arquitetura entre alguns movimentos e arquitetos que não deixavam de lado a utopia de promover principalmente moradias de qualidade a todos. No Brasil, uma das ferramentas para o exercício dessa vontade é a Lei nº 11.888, sancionada no dia 24 de dezembro de 2008 pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva, que seria responsável por garan r as famílias de baixa renda acesso a assistência técnica gratuita para projeto e construção de habitação de interesse social. A criação dessa lei é resultado de uma grande trajetória de luta dos arquitetos para garan r arquitetura a todos e da população pelo direito a moradia e a cidade. Passando pela criação de programas dentro dos conselhos profissionais, o surgimento de movimentos sociais que, em regime de autogestão e assessorados por equipes técnicas, realizaram conjuntos habitacionais e aprovação de algumas leis municipais em prol da garan a a assistência técnica a população de baixa renda. Outro fato importante foi a inclusão de um capítulo que tratava da polí ca urbana na Cons tuição de 1988 e que posteriormente foi regulamentado pelo Estatuto da Cidade. A temá ca então ganhou forças e c o n s o l i d o u a p ro m o ç ã o d e d i v e rs a s experiências nas escolas de arquitetura pelo 8

Assistência Técnica gratuita como direito


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A lei funcionaria a par r da criação de um serviço de financiamento público que seria o responsável por remunerar arquitetos, urbanistas e engenheiros envolvidos em projetos e administração de habitações para famílias de baixa renda. A prefeitura deveria dar o pontapé inicial para regularizar a implantação da lei, neste caso recorreria ao Ministério das Cidades para estabelecer um convênio de repasse de recursos e depois realizaria o cadastro das famílias que poderiam ser beneficiadas. As en dades profissionais 10


firmariam convênio com a prefeitura para selecionar e cadastrar os profissionais interessados. A par r daí a família poderia procurar a en dade profissional e fazer a solicitação de um profissional que seria indicado pela en dade. O contrato seria firmado e o profissional realizaria o projeto a ser fiscalizado pela en dade profissional, depois disso a família recorreria aos sistemas de financiamento para obter recursos e a par r daí a segunda etapa da obra seria realizada com acompanhamento do profissional, que seria remunerado pela ins tuição ao final de cada etapa. No fim, seriam elaborados relatórios e avaliações de todo o processo. Tudo isso parece muito bom, porém a realidade é diferente, desde a implantação da lei em 2008 e a disponibilização do manual para implantação em 2010 pouco se melhorou em relação à construção no país. Na verdade o CAU/BR divulgou uma pesquisa em 2015 onde pouco mais de 14% de toda a população Brasileira havia construído com a par cipação de um arquiteto. O que é um número alarmante se considerarmos que segundo a legislação brasileira é obrigatória a presença de um responsável técnico para construir. Na pesquisa também foi constatado que há uma falha na ideia geral que as pessoas têm pelo trabalho do arquiteto acreditando que este só faz encarecer a obra e também, além de quase não possuir conhecimento sobre a lei de assistência técnica e os direitos que ela garante a população de baixa renda.

A s o m a d o s fato re s : fa l ta d e divulgação da arquitetura, falta do interesse dos profissionais e principalmente falha na execução da lei pelo poder público, permitem a criação desse quadro que assusta quanto a quan dade de moradias irregulares e provavelmente de baixa qualidade que são construídas a todo momento. Portanto, a arquitetura de qualidade se tornou um privilégio para a minoria da população, e quanto mais o índice de população de baixa renda cresce, mais ocupações informais e auto-construídas vão surgir. A moradia de qualidade deveria ser para além de se ter um teto pra viver, um meio de assegurar a inclusão dessas parcelas na sociedade e firmar o seu direito a cidade que é fundamental, uma vez que as suas relações e aprendizados dependem disso. Para que se altere esse quadro é necessário formar arquitetos que vão além da esté ca e do status que a profissão pode proporcionar e que olhem pra onde a arquitetura se faz mais necessária. Outro fator que dificulta esse acesso é o fato de que a população não conhece esses serviços que lhe são oferecidos por direito, portanto não podem lutar por ele. A lei de assistência técnica só funcionará bem quando houver a par cipação efe va de profissionais arquitetos e moradores pensando e lutando por uma cidade mais justa e inclusiva e principalmente do poder público, que detém as principais ferramentas para a sua execução. Deve-se deixar de lado a construção como um meio de dominação e exclusão de populações, alterando desde a graduação o olhar do futuro arquiteto, assim como o olhar de toda a população para a profissão e para os bene cios que ela pode trazer, fazendo valer os direitos que lhes foram concedidos a base de muita luta, como a assistência técnica.

Danielle Moreira e Le cia Freitas - UEG Arquitetura e Urbanismo - 7°período. 11


o processo da usina A Usina é um escritório de arquitetura que efetua sua atuação através de processos de auto-gestão –compreendendo planejar, projetar e construir –de grupos subsidiados por fundos públicos. Fundada em julho de 1990, pelas mãos de profissionais mul disciplinares, vem atuando desde de então nas áreas relacionadas às reformas urbanas e agrárias. Como reflexo de seu interesse no papel social da arquitetura e de sua mul disciplinaridade, o seu processo projetual se diferencia associando um processo de ressocialização, com base na organização e no pensamento cole vo e polí co, como elemento de apoio a base de projeto. A iniciação de uma análise crí ca gerando discussões sobre a qualidade da habitação gera uma troca de experiências e recordações pessoais relacionadas ao sen do de morar e habitar. Após a fomentação crí ca se dá a introdução das discussões influenciadoras das diretrizes que nortearam o projeto, logo esses debates englobam temas como o funcionalismo do ambiente, o apego afe vo dos envolvidos e das relações entre gênero e idade. São questões como essas que evidenciam a reprodução de relações sociais nega vas pelo espaço. As discussões direcionadas à inserção urbana realizadas são geralmente separadas do primeiro momento do debate, pois é nesse momento que os valores pressupostos de individualidade e comunidade, público x privado, são postos em mesa, sendo portanto momentos mais delicados (tangendo temas como a relação da habitação que será inserida com o urbano do entorno, o conflito do automóvel com o 12

pedestre e o pertencimento e direito à cidade). A capacidade de comunicação e a “dida cidade” da abordagem do grupo do escritório se destaca na etapa de projetação (tanto do ambiente interno quanto do urbano), através da u lização de recursos gráfico impressos em escala generosa. Tais ferramentas são usadas para se iniciar o projeto, que se dá através da definição dos espaços por meio do mobiliário, pois são figuras de maior relação cogni va do usuário, favorecendo assim a visualização de um espaço que ainda é abstrato. Não é somente a proximidade do Usina com os movimentos e causas sociais que o distancia da homogenia esmagadora do mercado. É também a relação in mista desenvolvida pelo escritório com a comunidade para desenvolver o projeto, como se rompesse com a pica ideia de relação burguesa entre cliente e prestador de serviço e se assemelhar com a proposta de “extensão” universitária (de Paulo Freire), oferecendo não somente um projeto, mas também uma construção de iden dade da comunidade e um reconhecimento do direito à cidade. Outro ponto também relacionado a esta questão é a escala de interação, enquanto a maioria dos grupos e escritórios atendem apenas a um ou alguns representantes, o Usina interage


diretamente com a comunidade na maior parte do tempo, dando a ela um maior número de nuances, bem mais do que seria transmi a por uma representação. O processo adotado não é recente, ele é o resultado de um trabalho dotado de percepção e cedente de experimentação, sendo bem mais humanizado, logo propõe não só fazer o projeto para o cliente e sim com o usuário. Sthefano Vieira- UEG Arquitetura e Urbanismo - 8°período. 13


experiências do prosa

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O prosa nasce de uma proposta de reflexão sobre a extensão universitária. Proporcionando um espaço de diálogo entre a comunidade, os estudantes e os professores, as discussões abordaram questões sobre extensão e também qual o papel de atuação dos EMAUS como extensão no curso de Arquitetura e Urbanismo. Nas primeiras discussões es veram em voga o PRISMA, desde sua criação e reestruturação, a sua atuação e relação com a comunidade. Em um segundo momento, após a estreia da revista Aresta, houve uma palestra sobre “Extensão Universitária Popular”, apresentando questões que vão da questão linguís ca implicada no termo e ao papel da extensão como diálogo com a comunidade. Os debates do segundo dia c o n s i s ra m e m u m a b re v e t ro c a d e experiências entre en dades vinculadas à universidades que realizam extensão e assistência técnica. Após termino dos debates, ocorreu uma palestra que relacionava a atuação dos EMAUS com a função social da arquitetura e urbanismo, usando experiências vividas pelo AMA (Ateliê Modelo de Arquitetura - UFSC). Durante o úl mo dia do evento houve uma vivência em um bairro periférico de Anápolis, Leblon, presenciando assim o resultado de algumas questões que tornam o programa “Minha Casa Minha Vida” frágil. No início da tarde, executou-se o Cine Prisma – Olhar na Periferia, onde gerou debates com os diretores dos curtas exibidos. Para o encerramento do evento aconteceu um Sarau Cultural. Tainara Diniz e Sthefano Vieira - UEG Arquitetura e Urbanismo - 8°período.


‘‘Muito orgulho de ter feito parte desse seminário organizado pelo PRISMA. Que venham muitos frutos e espero que tenha sido transformador para quem par cipou. E que a prosa nunca acabe... #prisma #emau #extensaouniversitaria #1prosa’’ Amanda Cou nho, UEG ‘‘Par cipei de uma vivência que me encheu o peito de palavra e uma penca de (?) sobre como proceder. Agradeço ao escritório PRISMA - Prisma - pela inicia va linda e bem sucedida que foi o PROSA, através dele es ve na comunidade do Leblon em GO, ali firmei mais uma vez que minha faculdade me somou muito ao longo dos anos. Hoje concluindo as ul mas disciplinas eu lembro das vezes que eu pensei "não sei se nasci pra isso" e enfim, tá aqui minha ferramenta de trabalho pra quanto ser social fazer o que se deve ser feito. Arquitetos sim, proje stas também, mas para além disso, seres humanos, e nessa condição responsáveis pelo próximo. Todos nós somos. Conversar com a comunidade me chamou atenção que muito do que falta nessa profissão é contato, é prosa. Saí desse trabalho sabendo que muito devia ser feito, e sem saber por onde começar: começo então com a minha consciência de que é com essa ferramenta, com a proposta de divulgar o diálogo sociedade <> arquiteto e com a divulgação dessa ideia que vou chegar a solução. Convoco vocês, que assim como eu, muitas vezes estamos em frente aquela tela preta do autocad pensando a melhor posição para que a piscina do cliente receba sol, e esquecemos dessa parcela (que puxa vida, é bem grande) que não é nosso cliente, muitas vezes por não nos conhecer, não terem noção da função de um arquiteto, e que precisam de soluções prioritárias diante da questão do sol na piscina de luxo. > segue o trabalho que coletei durante a vivência. Much love +1vez.’’ Renata Goulart, UEG [SIC] 15


MEU HABITAT, MINHA VIDA

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O recém governo interino ao propor uma serie de cortes e medidas para dificultar o avanço do Minha casa, Minha vida deixa em dúvida se a con nuidade do projeto será um dia retomada ou se já devemos nos considerar em luto pelo fim do programa de habitação. Apesar das crí cas e falhas presentes na gestão e execução do projeto, a ex nção das medidas sociais a qual o programa ofereceu pode ser uma ó ma ferramenta para corte de gastos, mas o prejuízo gerado leva o pais à um retrocesso já superado. Nos úl mos anos, o MCMV se tornou o maior programa habitacional do país. A terceira fase pode fazê-lo superar os números do BNH (Banco Nacional da Habitação), criado durante a ditadura. O MCMV se tornou um instrumento capaz de dar oportunidade para famílias de baixa renda concre zarem o que antes só se era possível conceber em sonho: A moradia própria e um local para se chamar de lar. A velocidade a qual o programa se desenvolveu, muitas vezes com as construtoras usando mão de obra própria, acelerou o processo de construção das m o ra d i a s r e d u z i n d o o e n t ã o d é fi c i t habitacional, (herdado historicamente após reformas urbanas que não visavam uma locação apropriada de classes mais baixas), além disso, o fácil subsídio gerado, onde até

90% do valor do imóvel poderia ser financiado pelo governo, fez do programa um forte aliado no combate as questões sociais do país. Entretanto, por mais que um lar se restrinja à habitação familiar, a cidadania depende de outros fatores e demais relações que se estendem para além do quintal de cada casa. A localização distante dos conjuntos habitacionais, principalmente aqueles des nados a população de renda mais baixa, é um dos fatores que dificulta o acesso aos grandes centros, onde boa parte da população se desloca todos os dias. A escolha dos terrenos, geralmente feita pelas próprias construtoras, leva em conta a lógica financeira: construir em lotes periféricos onde o preço é menor. Além disso, a padronização das edificações não leva em conta o tamanho das famílias e suas especificidades, além de não possuírem alterna vas de expansão. O predomínio do po residencial não deixa espaço para comércio ou serviços, quanto menos para espaços públicos. No fim das contas, falta arquitetura nos conjuntos. Dessa forma, a melhor solução não é a ex n ç ã o d o p ro g ra m a , m a s o s e u aprimoramento levando em conta questões além do material das paredes e do reboco empregado, mas também a escala humana. Na ecologia, existe o conceito de habitat, que é o espaço onde os seres vivos se desenvolvem dentro de uma comunidade oferecendo condições climá cas, sicas e alimentares adequadas. Talvez essa seja a melhor maneira de, talvez futuramente, aperfeiçoar o programa: pensar além de números e esta s cas, mas nas relações humanas existentes e em como os moradores podem habitar de maneira mais eficaz o seu espaço natural de convívio, no caso, a cidade. Matheus Amorim - UEG Arquitetura e Urbanismo - 7°período.

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O direito à cidade se restringe ao Perímetro urbano?

Inserido em Mato Grosso, estado com grande número de comunidades rurais, ribeirinhas, indígenas e quilombolas e em meio à um curso de Arquitetura e Urbanismo, que trata com grande distanciamento as questões do campo, foi proposto o XX Seminário Nacional de Escritórios Modelos de Arquitetura e Urbanismo. Sob a temá ca “O direito à cidade para além do perímetro urbano”, buscaram-se discussões sobre as relações de trabalho no campo; produção de alimentos e agronegócio; emponderamento e resistência; permanência e preservação do modo de vida dos grupos sociais do campo; direito à cidade e relações entre a universidade e o campo. O evento aconteceu entre os dias 20 e 27 de junho no Assentamento rural São Miguel, localizado no município de Várzea Grande – MT. Foi organizado pelo Mo rô – Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo da UFMT, e contou com a par cipação de 18

diversos escritórios modelos do país, assim como estudantes e professores de arquitetura e urbanismo de todo o Brasil. O assentamento rural São Miguel fica a aproximadamente 40km da cidade de Cuiabá e abriga a Escola Municipal Bianka Lorena da Rocha Capilé, onde desde outubro de 2015 o Mo rô se aproxima da escola, principalmente das crianças, na busca de um entendimento do espaço de brincar. As a vidades de extensão universitária realizadas com os alunos se desdobraram em um projeto par cipa vo de um parque recrea vo concre zado durante o SeNEMAU. A escola rural é um elemento de


coesão da comunidade, atuando como uma centralidade no assentamento, ocorrendo por intermédio dela, a aproximação do Mo rô. Os moradores e a comunidade da escola es veram presentes durante a construção do evento (viabilizando espaço, material e alimento para a realização do seminário) e também durante o seminário, par cipando dos grupos de discussão, vivências e do mu rão. Essa par cipação permi u a troca de diferentes conhecimentos e experiências,

desde as a vidades de construção de brinquedos e plan o de mudas até as brincadeiras juninas e quadrilha, que celebraram a construção do parque recrea vo e encerraram o evento. A experiência do SeNEMAU buscou colocar as questões e demandas do território rural, pouco deba das na academia, frente aos estudantes de arquitetura e urbanismo. Para tanto, foi essencial que o seminário fosse realizado na zona rural, junto com a comunidade do assentamento São Miguel. Ao longo da semana, ques onamos como a atuação do estado, da universidade e do arquiteto-urbanista estão limitadas às zonas urbanas e às classes mais abastadas, e de quais maneiras esses agentes, juntamente com os movimentos sociais, podem se ar cular para permi r que o direito à cidade extrapole os limites urbanos e alcance também a população do campo. EMAU Mo rô - UFMT.

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põe a cara no prisma resumo

gatuno S.A

Realizado pelo Cole vo MapaXilográfico, o documentário-ficção "GATUNOS S.A” trás de forma irônica o modo de operação das grandes empreiteiras e construtoras presentes em todo Brasil. A empresa fic cia leva o lema “Expulsando o passado e concretando o futuro”, e investe em grandes empreendimentos que atuam no espaço urbano de forma sele va que visam apenas o lucro, criando uma arquitetura excludente e não representa va. Em um vídeo curto traz diversas reflexões e crí cas acerca desse po de ação que segrega classes e deteriora o espaço público em função do privado, e se relaciona com o tema “arquitetura pra quem?”, que no caso desta, funciona apenas pra quem pode pagar. Título: GATUNOS S.A Produção: Cole vo MapaXilográfico Montagem e edição: Mirrah Iãnez Duração:28'55'' Ano: 2015 Luanna Lourenço Morais - UEG Arquitetura e Urbanismo - 4°período. 20


criações

Marco Aurélio Moreira Silva - UEG Arquitetura e Urbanismo - 7°período.

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Cidade pra Quem? (Allyne LaĂ­s) Curi ba - 2016

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me chama que eu vou enea - sampa

Encontro Nacional de Arquitetura e Urbanismo São Paulo 18 a 24 de Agosto

ereA - sampa

Encontro Regional de Arquitetura e Urbanismo 04 a 07 de Setembro

cbeu

7°Congresso Brasileiro de Extensão Universitária Ouro Preto / MG 07 A 09 de Setembro

erea - chapada Encontro Regional de Arquitetura e Urbanismo Chapada dos Guimarães / MT 09 a 15 de Outubro

X Encontro Internacional Paulo Freire San ago /Chile 07 A 09 de Setembro

prosa

senemau 2017 anápolis

2º Seminário de Extensão Universitária em Arquitetura e Urbanismo /Anápolis Novembro

schindler global award Concurso - 7° edição 16/06/2016 a 30/12/2016

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Legal, como posso participar? Se você se interessou pela temática e quer contribuir, seja bem-vindo/a! Participe das reuniões do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo - PRISMA (Projetos de Interesse Social e Meio Ambiente) para conhecer a estrutura do escritório e as atividades planejadas para 2016!

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equipe aresta Redação e Edição: Letícia Freitas Matheus Amorim Tainara Diniz Sthefano Vieira Desing Gráfico: Sthefano Vieira

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