O Alternativo não é uma alternativa

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O ALTERNATIVO NÃO É UMA ALTERNATIVA Eloy Santos Vieira* Desde a industrialização, iniciada na Europa no século XVIII, podemos observar o advento da Indústria Cultural, fabricando produtos a fim de fazer da cultura uma mercadoria. Sob a ótica preponderantemente maniqueísta dos teóricos de Frankfurt (filósofos da Escola de Frankfurt, autores da Teoria Crítica e de termos como ‘Indústria Cultural’ e ‘Cultura de Massa’), notamos que o imenso desenvolvimento tecnológico que nossa sociedade alcançou vem legitimando a onipresença da Indústria Cultural na vida de todos nós. Os produtos culturais estão em todos os lugares, do jornal impresso a mensagens no celular, passando pelas novelas, filmes, seriados, revistas, etc. É por meio destes que a Indústria Cultural tem sua complexa relação com cada indivíduo da massa, mas como distinguir um indivíduo em meio à massa? Sob olhares Frankfurtianos, podemos constatar que o conceito de individualidade que temos hoje na verdade é uma sensação de pseudo-individualidade, ou seja, a individualidade tal como conhecemos não passa de uma falácia. Tendo em vista o poder da Indústria Cultural e a questão da individualidade na nossa sociedade, podemos observar que, sobretudo com o advento da Internet no mundo globalizado, encontramos cada vez mais freqüentemente, o surgimento do termo ‘alternativo’ em diversas situações, seja em relação à música, à literatura, à arte, ao cinema, à moda, etc. Tomando ‘alternativo’ como aquele “que adota uma posição independente em relação a tendências dominantes”. Logo, vemos que o que se convencionou chamar de ‘alternativo’, na verdade é não é tão alternativo assim. Com um olhar bastante crítico, é possível afirmar ainda que, na verdade, o ‘alternativo’ que nos está exposto, nada mais é do que mais uma opção do menu da Indústria Cultural, pois está aí para que o consumidor tenha mais uma opção de ‘compra’. Essa opção, na verdade vem de uma necessidade intrínseca derivada da própria Indústria Cultural, pois o indivíduo é instigado a consumir a pseudo-individualidade, ou seja, o consumidor deve comprar mais um item disponível a partir dos produtos culturais, que se encontram praticamente onipresentes na mídia. Isso tem dado certo desde a literatura romântica européia, com seus romances que retratavam o ‘homem-massa’ na sociedade industrial. Na verdade o termo correto não seria ‘retratar’, pois essa é uma relação muito complexa onde não se sabe se a Indústria Cultural reflete o homem, ou se o homem reflete o que absorve da Indústria Cultural. O fato é que o indivíduo, privado de sua individualidade, precisa que ela (a Indústria Cultural) preencha esse vazio dentro dele. Mesmo de forma inconsciente, o indivíduo atende às necessidades de consumir o que lhe foi ‘oferecido’, na tentativa de preencher o ‘vazio’ dentro de si, tornando-se um eterno consumidor de produtos culturais. É exatamente quando a Indústria Cultural se sente ameaçada nessa relação que ela lança mão de mais produtos que atendam à sua demanda, é aí que se encaixa o ‘alternativo’, como mais uma opção de consumo. O indivíduo sente-se mais confortável quando se vê representado, e, se o indivíduo sentese ‘alternativo’, a Indústria Cultural tem que estar pronta para atender a essa demanda a fim de manter tudo do jeito como estava. * Estudante do 3º período do curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe O presente artigo foi escrito como exigência parcial para a disciplina “Teoria da Comunicação II”, ministrada em 2009 pelo prof. Matheus Felizola


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