Amazônia em Debate

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mesma e nem ao país. A história da Amazônia é totalmente diferente da história do Brasil e encontra-se muito mais ligada à do Caribe. O novo padrão é crucial porque, além de sustar a perda de riqueza da região, também supera riscos relativos ao exercício da soberania. Está tudo interligado. Se a Amazônia não se desenvolve, não se integra; se não se integra, não se desenvolve. É um círculo vicioso que precisa ser rompido. Ou seja, precisamos gerar riqueza, emprego e renda. Não adianta falar de desenvolvimento simplesmente, há necessidade de geração de emprego e renda. A população, obviamente incluindo os índios, demanda isso, demanda cidadania. O consumo faz parte da cidadania, hoje. Por essa razão, necessitamos de um novo padrão que gere riqueza, emprego e renda, que seja capaz de utilizar os recursos regionais sem destruí-los. Acho que esse é o grande desafio da Amazônia. É preciso um novo olhar para o território. Um olhar próximo às situações vividas pela população. Isso nos levará a reconhecer a enorme diversidade da região. Acho fundamental deter-me nesse ponto, porque ainda perdura no imaginário nacional e internacional a imagem de uma Amazônia homogênea, mas que não corresponde, absolutamente, à realidade atual. O reconhecimento da diversidade é crucial para termos um projeto de desenvolvimento articulado. Talvez o zoneamento ecológico econômico – com o qual estou agora desafiada a colaborar – possa servir a esse propósito. Vou dizer algo que pode ser um choque para os colegas: grande parte da Amazônia, uns 18%, já foi desmatada. É uma realidade. E isso mostra a importância enorme do que chamo de “coração florestal”, que é a floresta ombrófila densa, ainda relativamente íntegra, uma imensa extensão florestal que exige medidas urgentes para seu uso não destrutivo. Precisamos privilegiar uma ação de proteção nesse coração florestal. Evidentemente, isso não significa abandonar as áreas que têm potencialidades e vão requerer ações diversificadas e complementares. Tal diferenciação para mim é fundamental. Não faz o menor sentido o Serviço Florestal parar a exploração do coração da floresta. Portanto, defendo medidas urgentes para o seu uso não destrutivo, porque ele pode representar uma grande oportunidade de desenvolvimento de novo padrão produtivo e tecnologicamente avançado, verdadeiro modelo para regiões tropicais florestais.

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